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Que é história E. H. Carr O que é história. Cambridge Modern History. Lord Acton “a abundância de conhecimentos que o século XIX está em vias de legar ... Levar ao conhecimento de todos o documento mais recente e as conclusões mais amadurecidas da pesquisa internacional” Acton acredita em uma história total, acabada e definitiva? “não podemos ter nesta geração a história definitiva, mas podemos dispor da história convencional e mostrar o ponto a que chegamos entre uma e outra, agora que todas as informações estão ao nosso alcance e que cada problema tem possibilidade de solução”. Sir George Clark “Historiadores de uma geração posterior [à de Acton e à dele, Clark] não parecem desejar qualquer perspectiva desse tipo. Ele espera que seu trabalho seja superado muitas e muitas vezes... A pesquisa parece interminável, e alguns eruditos impacientes refugiam-se no ceticismo, ou pelo menos na doutrina segundo a qual, desde que todos os julgamentos históricos envolvem pessoas e pontos de vista, um é tão bom quanto o outro, e não há verdade histórica ‘objetiva’ (12). O que expressa essa contradição entre Acton e Clark? Trata-se de um “ponto de vista”? Como se posicionar na perspectiva temporal? A resposta à pergunta formulada por Carr, a contradição entre as opiniões, reflete a “mudança de nossa visão global da sociedade no intervalo entre dois pronunciamentos” (12). Nossa visão da história reflete “nossa própria posição no tempo, e faz parte da nossa reposta a uma pergunta mais ampla: que visão nós temos da sociedade em que vivemos?”. Visão positivista, escola metódica Século XIX = século dos fatos = passíveis de ser apreendidos sem a interferência do sujeito. “A história consiste num corpo de fatos verificados. Os fatos estão disponíveis para os historiadores nos documentos, nas inscrições e assim por diante, como os peixes na tábua do peixeiro” (13). Nesse sentido, cabe ao historiador reuni-los numa narrativa. O que são fatos? Fatos no passado e fatos históricos; Cesar cruzando o Rubicão (49 A. C), Batalha de Hasting (1066), Independência do Brasil (1808, 1822, 1831, 1840), são fatos históricos? Esses fatos, iguais para todos os historiadores, são a matéria-prima do historiador, mas não é sua função principal elencar esses fatos “Os fatos falam apenas quando o historiador os aborda: é ele quem decide quais os fatos que vêm à cena e em que ordem ou contexto” (14). O que é mais importante, a Independência do Brasil ou a Abolição Escravidão; O fato, para ser histórico, precisa ser construído pelo historiador. É da sua interpretação que surgirá a importância relativa dos fatos, dos eventos; Como os fatos históricos chegam até nós? A Grécia nos legou uma visão baseada unicamente no cidadão ateniense, livre e possuidor de bens e terras; A Idade Média nos legou uma imagem religiosa, pois a única classe letrada eram os religiosos; O Historiador moderno “tem a dupla tarefa de descobrir os poucos fatos importantes e transformá-los em fatos da história e de descartar os muitos fatos insignificantes como não históricos” (17). Acton, atrás, elogiava a proximidade de uma história total... O Fracasso da história positivista, metódica, decorreu de seu próprio preciosismo em recolher os fatos, não estabelecendo uma hierarquia de importância, não os questionando para introduzi-los numa problemática “convicção numa incansável e interminável acumulação de fatos difíceis como fundamento da história, a convicção de que os fatos falam por si mesmos e nós não podemos ter fatos demais” (18). Fatos = Documentos “Documentos de chancelaria: decretos, tratados, registros de arrendamento, publicações parlamentares, correspondência oficial, cartas e diários particulares” (18); Como selecionar esses documentos, como reuni-los, o que as reuniões representam. Monumenta Germaniae Historica (1819) Patrologia Latina (1844), 217 volumes; Monumenta Historica Societatis Iesu (1892); A concepção da história baseada na compilação de documentos e no estabelecimento de fatos, deu ao século XIX a sensação de “confiança e otimismo” (20); “Os fatos eram em conjunto satisfatórios; a inclinação para perguntar e responder questões difíceis sobre eles era respectivamente fraca” (20); Século XIX na Inglaterra, concepção da História de cunho liberal, baseado na evolução e no progresso (interpretação Whig da história); A desconstrução da Escola metódica, positiva Benedito Croce: “toda história é história contemporânea” (22); “a história consiste essencialmente em ver o passado através dos olhos do presente e à luz de seus problemas, que o trabalho principal do historiador não é registrar mas avaliar; porque se ele não avalia, como pode saber o que merecer ser registrado” (22); Os fatos são criados pelo historiador a partir de sua problemática; “o processo de reconstituição [narração ordenada dos fatos] governa a seleção e interpretação dos fatos” (22); O historiador e os fatos: Trevelyan escreve a história do passado para justificar sua visão do presente. “estude o historiador antes de estudar os fatos” (24); “Compreensão com imaginação” dos indivíduos históricos = Idade Média, Idade das Trevas; A compreensão do passado é feita com os olhos no presente; Historicidade dos termos = Da liberdade dos antigos comparada a dos modernos (1819), por Benjamin Constant. Onde está a objetividade da história? A história é de cada historiador individual, com suas crenças, seus preconceitos, suas posições políticas?; “não podemos concluir que, porque a interpretação desempenha um papel necessário no estabelecimento dos fatos da história e porque nenhuma interpretação é completamente objetiva, qualquer interpretação é tão boa quanto outra e que os fatos da história não são, em princípio, responsáveis pela interpretação objetiva” (26). A relação entre interpretação e fato é dialética, e se faz a partir do equilíbrio e das interferências mútuas entre os fatos e a interpretação. A interpretação orienta a procura e a seleção dos fatos, mas os fatos calibram, lapidam a interpretação ou, em alguns casos, podem contradizê-la, sendo necessário outra interpretação. “um processo contínuo de interação entre o historiador e seus fatos, um diálogo interminável entre o presente e o passado” (29).
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