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Ensino da Matemática na Educação Infantil O pensamento de Jean Piaget1 Em nossos encontros anteriores, analisamos algumas metodologias adequadas para o trabalho com matemática na Educação Infantil. Lembramos de que nessa fase de ensino, é primordial que o professor conheça e respeite as características de cada fase de desenvolvimento do aluno. Somente a partir desse conhecimento, é que o professor da Educação Infantil pode proporcionar aos seus alunos atividades que os auxiliem na construção do conhecimento lógico-matemático. A construção do conhecimento lógico-matemático, nessa fase, irá subsidiar a aprendizagem futura dos alunos em matemática, ou seja, essa fase, quando bem trabalhada pelo professor, constitui um alicerce que sustentará o desempenho subsequente dos outros níveis de ensino. Como vimos durante as aulas, a criatividade do professor, aliada ao conhecimento teórico, é o diferencial que pode garantir aos alunos o acesso a uma escolha de qualidade, almejada por todos os profissionais comprometidos com a Educação. Por isso, o objetivo dessa Web-aula é proporcionar a vocês acesso às discussões acerca das fases de desenvolvimento cognitivo dos alunos na Educação Infantil, complementando alguns aspectos já abordados durante as tele-aulas. Vamos iniciar conhecendo um pouco mais a respeito das idéias de Piaget. Piaget tinha formação de biólogo. Essa formação influenciou seu trabalho no sentido de procurar as explicações biológicas para o desenvolvimento da inteligência nos sujeitos. Seus estudos estavam baseados na concepção de que os atos biológicos dos seres humanos são atos de adaptação ao meio físico e as atividades mentais dos seres humanos também são atividades biológicas, portanto, submetem-se às mesmas leis que governam a atividade física. Assim, as atividades mentais também buscam a adaptação do sujeito ao meio físico que os ajudam a organizar o ambiente. Nesse processo de organização e adaptação ao ambiente, é que o sujeito desenvolve sua inteligência. Para refletir: Esse é um ponto muito importante a ser considerado por nós, professores: Quanto mais diversificadas, desafiadoras e inovadoras forem as atividades que propomos aos nossos alunos, maiores serão as oportunidades de desenvolvimento cognitivo. Embora Piaget não tenha desenvolvido sua teoria voltada para o processo de ensino e aprendizagem do ponto de vista educacional, foi a partir de sua epistemologia genética, que o construtivismo emergiu como uma tendência pedagógica. Nessa perspectiva, o construtivismo teve uma influência positiva sobre a prática mecânica da matemática, pois o conhecimento é obtido a partir da interação do sujeito com o objeto e o meio. O construtivismo sofreu críticas, foi se transformando devido à contribuições de outras áreas, ampliando seus pressupostos. Muitas dessas críticas partiram de interpretações equivocadas da Teoria de Piaget, que não era vinculada à Educação. Mas, muitas contribuições foram sendo incorporadas ao construtivismo, chegando a uma forma menos radical. Nos itens abaixo, você poderá observar os pressupostos básicos que pontuam a tendência pedagógica alicerçada no construtivismo: O conhecimento é ativamente construído pelo sujeito e não passivamente recebido do ambiente. O vir a conhecer é um processo adaptativo que organiza o mundo experiencial de uma pessoa. De acordo com esses pressupostos básicos, o professor da Educação Infantil precisa ter uma postura pedagógica que contribua para que a criança, na Educação Infantil, construa conhecimento lógico-matemático. Assim, apresento para vocês, algumas reflexões para análise. São apontamentos necessários para a compreensão do papel do professor e de sua prática pedagógica para o ensino de matemática: A criança precisa alfabetizar-se matematicamente. Esse processo de alfabetização é um processo gradativo de construção de noções lógico-matemáticas, que servirão como embasamento para as futuras construções formais desse conhecimento; A criança precisa ser respeitada em sua forma de pensar, de registrar e de comunicar seu pensamento. Muitas vezes, a criança expressa seu pensamento de uma forma diferente da do adulto, mas isso não significa que ela esteja errada. Lembre-se: a criança está em fase de construção, de alfabetização matemática; Não podemos conceber a matemática como uma construção teórica, sem qualquer relação com a prática social. Ao contrário, nesse processo de alfabetização, a matemática está presente em nosso cotidiano, de muitas formas diferentes. Cabe ao professor, aproveitar essas oportunidades como possibilidades de construção de conhecimento pelo aluno; O ensino de matemática deve desenvolver o raciocínio, a criatividade, o espírito crítico, pois aprender matemática é muito mais que manejar fórmulas e fazer cálculos. Em se tratando da Educação Infantil, a experiência, a investigação, a descoberta são os contextos em que devem ser desenvolvidos os conhecimentos matemáticos. Atividade de fórum: Diante de toda essa discussão e de tudo que você desenvolveu nessa aula, vá ao fórum e faça a postagem das suas conclusões acerca da questão a seguir: Tendo em vista os dois pressupostos básicos que pontuam a tendência construtivista, qual deve ser a postura de um professor da Educação Infantil ao planejar as atividades de matemática para seus alunos? Para saber mais: Para encerrar a nossa Web-aula, convido vocês para assistirem a um vídeo que conta um pouco da história e o pensamento de Piaget. É um vídeo de qualidade, organizado por pesquisadores da área. Vale a pena conferir! Avaliação: A avaliação será composta pela participação no fórum e por uma prova,composta de questões objetivas e dissertativas no final da unidade. Conclusão: Como vocês puderam perceber durante essa Web-aula, o pensamento de Jean Piaget, a respeito do desenvolvimento cognitivo dos indivíduos, influenciou o contexto educacional no sentido de proporcionar aos estudantes metodologias que colaborassem para a construção do conhecimento de forma ativa. Nesse contexto, a “transmissão” de conhecimento do professor passa a ser considerada uma prática obsoleta. É importante que o professor da Educação Infantil conheça as metodologias mais atuais para melhorar a sua prática pedagógica. Conceitos fundamentais da teoria piagetiana Anteriormente, nós conhecemos um pouco do estudo de Piaget e de sua aplicação na educação. Nessa Web-aula, nosso objetivo é estudar alguns conceitos básicos da teoria de Piaget. Evidentemente, o que apresento para vocês é uma síntese desses conceitos principais. Para um melhor aprofundamento, é interessante a leitura das obras de Piaget. Para compreender como se dá o processo de organização e adaptação do indivíduo, Piaget estabeleceu quatro conceitos cognitivos básicos: Esquema: são estruturas mentais ou cognitivas pelas quais os sujeitos, intelectualmente, adaptam-se e organizam o meio. Os esquemas podem se compreendidos como conceitos ou categorias que se adaptam e modificam-se com o desenvolvimento mental, tornando-se cada vez mais refinadas; Assimilação: este processo se dá quando o sujeito relaciona um estímulo que recebe do meio a esquemas já existentes, ou seja, é um processo cognitivo de colocar novos eventos em esquemas que o sujeito já possui. A assimilação ocorre continuamente e o ser humano consegue assimilar um grande número de estímulos ao mesmo tempo. A acomodação não gera mudança nos esquemas; Acomodação: quando uma pessoa recebe um novo estímulo, é natural que ela tente assimilá-lo a esquemas já existentes. Quando um novo estímulo não se adéqua a nenhum dos esquemas disponíveis, é necessário que o sujeito crie um novo esquema, no qual possa encaixar o novo estímulo ou, modifique um esquema prévio, de modo que o novo estímulo possa ser incluído. O processo de acomodação promove uma mudança na estrutura cognitiva do sujeito; Equilibração: é um processo de passagem do desequilíbrio para o equilíbrio. O equilíbrio é o balanço entre os processos de assimilaçãoe acomodação. Já o desequilíbrio pode ser considerado como um estado de conflito cognitivo, quando a criança espera que algo aconteça de uma determinada forma e isso não ocorre. A equilibração permite que a experiência externa seja incorporada na estrutura interna. Em todos esses processos, para que a criança se desenvolva cognitivamente, é necessário que ela receba estímulos do meio, ou seja, as ações físicas e mentais da criança sobre o meio são uma condição necessária para o seu desenvolvimento cognitivo. Para assimilar e acomodar novos estímulos, a criança precisa estar em contato com objetos, com o meio, ou seja, é necessária ação. E essa ação, como vimos, é necessária para a construção de três tipos de conhecimento: conhecimento físico, conhecimento lógico-matemático e conhecimento social. Para refletir: Os esquemas das crianças, às vezes, não estão em harmonia com os esquemas dos adultos. Por isso, os professores devem estar atentos: a organização da criança é sempre adequada ao seu nível de desenvolvimento. Não há organizações erradas, mas sim, organizações cada vez melhores. Atividade de fórum: Após a leitura e a análise do que foi exposto até o momento, vá ao fórum e faça a postagem das suas conclusões a respeito da seguinte questão: As atividades repetitivas ou de memorização contribuem para o desenvolvimento cognitivo da criança? Por quê? Outro aspecto importante para considerarmos a respeito dos estudos de Piaget, diz respeito aos estágios de desenvolvimento cognitivo da criança. De maneira geral, ele reuniu os estágios de desenvolvimento cognitivo da seguinte forma¹: Sensório-motor: de 0 a 2 anos. Pré-operatório: de 2 a 7 anos. Operações concretas: de 7 a 11 anos. Operações formais: de 11 a 15 anos. É importante esclarecer que, nesses estágios, o desenvolvimento é contínuo e cumulativo. Cada nova etapa é fundamentada nas anteriores e toda criança passa por estes níveis de desenvolvimento nessa mesma ordem, porém, em ritmos diferentes. Vamos nos concentrar agora um pouco no estágio pré-operacional, pois, é nesse estágio, que se encontram a maioria das crianças da Educação Infantil. Esse estágio foi subdividido em três subestágios: De 2 a 3 anos e meio ou 4 anos: é marcado pelo aparecimento da função simbólica, com a linguagem, os jogos simbólicos e a imitação deferida. Nessa etapa, a criança só consegue operar com o que está próximo e no tempo presente; De 4 a 5 anos e meio: inicia o processo de representação por meio de desenhos do que pensa. A criança começa a usar símbolos mentais, imagens ou palavras para representar objetos ausentes. Livra-se do pensamento “aqui” e “agora”; De 5 anos e meio a 7 anos: é a fase intermediária, entre a conservação e a não-conservação. Ocorre também a articulação entre a classificação e seriação. É o período de preparação para as operações concretas, em que a criança forma o conceito de número e suas relações. ¹ Piaget já distribuiu esses estágios de outras formas em diferentes ocasiões. As idades também podem oferecer uma pequena variação. O quadro, a seguir, apresenta uma síntese de algumas outras características do estágio pré-operacional: PERÍODO PRÉ-OPERACIONAL Centralizadoras Não pensam, simultaneamente, em diversos aspectos de uma mesma situação. Não imaginam que um copo de água alto possa conter a mesma quantidade de água que um copo baixo e largo. Diferenciam precariamente a realidade e a fantasia. Irreversíveis Revelam a incapacidade de perceber que uma ação ou uma operação pode tomar ambas as direções. Parece-lhes que a mesma quantidade de água contida em dois copos iguais não seja a mesma quando transvasa para dois copos diferentes. Distinguem a mão direita da esquerda, mas não compreendem que um mesmo objeto possa estar, simultaneamente, à direita em relação a uma coisa e à esquerda em relação à outra. Antitransformadoras Concentram-se na sucessão de diferentes quadros, mas não conseguem entender o estado e o significado da transformação de um para outro estado. Não conseguem pensar de maneira lógica e em seu diálogo misturam causa e efeito. (Exemplo: A menina caiu do cavalo porque... quebrou uma perna). Transdutivas Vão do particular para outro particular, sem levar em conta o geral. Não associam: tomei chuva=fiquei resfriado, mas refletem que se dois fatos ocorrem na mesma época entre um causa o outro. Egocêntricas Incapacidade de ver as coisas do ponto de vista do outro. É a compreensão centrada em si próprio. Fonte: baseado em Antunes, 1999 Aprofundando o conhecimento: Leia o texto e, em seguida, responda as seguintes questões: Clique sobre o link para ver o texto: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_02_p047-051_c.pdf Faça uma síntese das principais idéias abordadas no texto lido, nos aspectos destacados a seguir: a) Diferença entre desenvolvimento e aprendizagem. b) O que caracteriza o período da Educação Infantil. c) Algumas características do período sensório-motor. d) O que caracteriza a função simbólica para Piaget. e) O que o autor aponta como aplicações da teoria de Piaget na prática pedagógica. Conclusão: Como vimos, o período pré-operacional é fundamental para o desenvolvimento de noções lógico-matemáticas, que serão necessárias para o desenvolvimento da criança nas etapas seguintes. Nessa fase, o professor não deve se esquecer de que a criança necessita de ação, de manipulação, do uso de materiais concretos para o seu desenvolvimento. Lembramos, ainda, de que é, a partir da ação física sobre o objeto, que criança começa a estabelecer as ações mentais, que dar-se-ão a partir das relações que a criança vai estabelecendo entre o que vivencia e experimenta.
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