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Aula 7 - Recuperação Extrajudicial

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RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL 
Prof. Dr. Silvio Aparecido Crepaldi
Arts. 161 a 167, LFR
Não há intervenção judiciária no pacto, que deve envolver exclusivamente as partes.
É um procedimento especial de jurisdição voluntária. Permite um acordo, fora do âmbito judicial, proposto pela empresa em momento de crise financeira.
Apenas após o entendimento é que o Plano de Recuperação se submete a homologação do juiz, a fim de provocar os requisitos de validade e eficácia.
A lei não exclui outras modalidades de acordos privadas entre devedor e credores (art. 167, LFR), pois o mais importante deve ser a resolução das pendências com um mínimo de interferência possível no desenvolvimento da atividade econômica do devedor.
 
O devedor que preencher os requisitos da LFR poderá propor e negociar com credores o Plano de Recuperação Extrajudicial, art. 161, LFR.
Caracterização da Recuperação Extrajudicial
 
As características principais necessárias a instalação do processo, na conformidade do que dispôs a LFR, são:
 
a) facultativa (art. 162, LFR): é a homologação do plano que conta com a adesão da totalidade dos credores.
 
Motivos: dar maior solenidade ao ato e possibilitar a alienação por hasta judicial das unidades produtivas isoladas quando prevista a medida, art. 166, LFR.
Prazo para impugnação: 30 dias seguintes à publicação do edital.
Matérias que podem ser suscitadas - § 3º, art. 164, LFR.
 
b) obrigatória (art. 163, LFR): ocorre quando uma minoria discorda com o plano proposto. Deve ser assinada por 3/5 de todos os créditos de cada espécie por ele abrangido.
Assim, para caracterização da Recuperação Extrajudicial,
faz-se necessário:
  
DEVEDOR EMPRESÁRIO
 
Só pode celebrar o acordo aquele devedor qualificado como empresário.
 
O devedor tem a faculdade de escolher os credores com quem deseja negociar no plano, que poderão aceitar ou não o acordo (diferente da Recuperação Judicial, em que não há opção de escolha).
 
Os credores que não aceitarem a proposta de recuperação extrajudicial e os que se encontram legalmente excluídos desta, mantêm seus direitos de ações e execuções e pedido de falência contra o devedor.
Os requisitos são:
 
Subjetivos, art. 161 c/c art 48, LFR:
Exercer regularmente suas atividades há mais de 2 anos;
Não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
Não ter, há menos de 5 anos, obtido concessão de Recuperação Judicial;
Não ter, há menos de 8 anos, obtido concessão de Recuperação Judicial com base no Plano Especial de Recuperação Judicial para Micro e Pequena Empresa;
Não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos na LFR.
Objetivos:
 
não pode haver previsão de pagamento antecipado de dívidas (art. 161, § 2º, primeira parte, LFR);
Tratamento paritário a todos os credores (art. 161, § 2º - segunda parte, LFR);
Não pode abranger senão os créditos constituídos até a data do pedido de homologação (art. 163, § 1º, LFR);
na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua substituição somente serão admitidas mediante a aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia (art. 163, § 4º, LFR);
O plano não pode estabelecer o afastamento da variação cambial nos créditos em moeda estrangeira, sem contar com a anuência do respectivo credor (art. 163, § 5º, LFR).
PLANO DE RECUPERAÇAO EXTRAJUDICIAL
Não podem participar do plano, conforme a combinação dos arts. 161 § 1º, 49, § 3º, e 86, II, LFR:
 
créditos de natureza tributária;
créditos da legislação do trabalho;
créditos decorrentes de acidente do trabalho;
créditos com garantia fiduciária;
créditos com reserva de domínio;
titulares de contratos irrevogáveis ou irretratáveis;
titulares de contratos de arrendamento mercantil;
adiantamentos de contrato de câmbio.
As previsões dos arts. 162 e 163, LFR permitem defender as exigências de dois tipos de procedimento de Recuperação Extrajudicial:
 
tendo por base o art. 162, LFR, onde se submetem apenas os credores que assinem o Plano de Recuperação;
baseado no art. 163, LFR, possibilita a imposição do Plano de Recuperação Extrajudicial à minoria.
Assim, o Plano de Recuperação Extrajudicial pode ser imposto aos credores minoritários dissidentes do plano proposto pelo devedor se firmado por credores que representem mais de 3/5 de todos os créditos de cada espécie por ele abrangidos, art. 163, LFR.
O devedor pode ajustar um Plano de Recuperação abrangendo a totalidade de uma ou mais espécies de créditos previstos no art. 83, LFR:
 
inciso II – créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
inciso IV – créditos com privilégio geral;
inciso VI – créditos quirografários;
inciso VIII – créditos subordinados.
Frise-se que para fins exclusivos de apuração do percentual de 3/5 citado devem ser seguidas as seguintes regras:
 
não são considerados os créditos não incluídos no Plano de Recuperação Extrajudicial, art. 163, § 2º, LFR;
o crédito em moeda estrangeira é convertido para moeda nacional pelo câmbio da véspera da data da assinatura do plano, art. 163, § 3º, I, LFR;
não são computados os créditos detidos pelos sócios do devedor, bem como pelas sociedades coligadas, controladoras e controladas ou as que tenham sócio ou acionista com participação superior a 10% do capital social do devedor ou em que o devedor ou algum dos seus sócios detenham participação superior a 10% do capital social, art. 163, § 3º, II, LFR.
O PEDIDO E A SENTENÇA DE HOMOLOGAÇÃO DO PLANO
 
Acordada com os credores as condições do plano, compete ao devedor requerer ao juiz do local do principal estabelecimento do devedor, ou da filial da empresa que tenha sede no Brasil, a sua homologação.
Se homologado (via sentença) o acordo constituirá lei entre as partes, que deverão respeitá-lo em sua integridade.
Não produz, contudo, outros efeitos mantendo-se o devedor a testa do negócio, a fim de proporcionar-lhe novamente saúde financeira.
Sujeitos Passivos da Recuperação Extrajudicial
 
Só empresários regularmente constituídos há mais de 2 anos podem obter a homologação, art. 48 caput, combinado com o art. 161, § 1º, LFR. 
Sujeitos Ativos da Recuperação Extrajudicial
 
O pedido de homologação judicial para o Plano de Recuperação da empresa compete exclusivamente ao devedor empresário, nunca aos credores.
Logo, o sujeito ativo em Processo de Recuperação Judicial será sempre o devedor empresário que preencher os seguintes requisitos (que são os mesmos para o Pedido de Recuperação Judicial), art. 161 c/c art. 48, LFR.
A Recuperação Extrajudicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente, arts. 161 e 48, parágrafo único, LFR.
Órgãos da Recuperação Extrajudicial
 
Na Recuperação Extrajudicial não há obrigatoriedade da participação do Ministério Público, da mesma forma que não se exige a nomeação de um Administrador Judicial.
O Ministério Público, contudo, atuará na hipótese de se verificarem indícios de crime falimentar, conforme a combinação dos arts 179, 180, 183 e 187, § 2º, LFR, quando poderá oferecer denúncia.
Também o Comitê de Credores e a Assembléia Geral de Credores são órgãos exclusivos da Falência e da Recuperação Judicial.
 
Portanto, somente a autoridade judiciária encarregada da homologação do plano de recuperação é que pode ser considerada órgão no processo.
Os envolvidos são devedor e credores.
O Juízo de Recuperação Extrajudicial
 
A escolha do juiz designado para homologação do Plano de Recuperação Extrajudicial deve seguir a prescrição do art. 3º, LFR recaindo naquele onde se situe o principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.
Enquanto o juízo da Falência atrai todas as outras questões de caráter econômico envolvendo o falido, com algumas exceções, o mesmo não se da no
Processo de Recuperação Extrajudicial.
A participação da autoridade judiciária é bem mais restrita, limitando-se praticamente a homologação, ou não, do plano previamente acordado entre devedor e credores. 
Efeitos jurídicos da Recuperação Extrajudicial
 
A homologação do Plano de Recuperação Extrajudicial altera as relações econômicas das partes envolvidas, mas de forma restrita.
Isso quer dizer que a sentença de homologação funciona como uma espécie de referendo legal para devedor e credores colocarem em prática aquilo que eles próprios combinaram.
A sentença não tem o condão de provocar, por exemplo, a suspensão do curso da prescrição das outras ações e execuções em face do devedor, da forma como acontece na Falência ou na Recuperação Judicial, ou mesmo a rescisão de contratos bilaterais que envolvam o devedor.
Igualmente continua a possibilidade de outro credor, não envolvido no plano, requerer a Falência do devedor.
O mesmo pode ser repetido tanto para o negócio como para os bens do devedor, pois a homologação da Recuperação Extrajudicial em nada deverá afetar o funcionamento da empresa, muito menos a disponibilidade do devedor sobre seus bens.
O objetivo esperado é contornar uma situação de falta de liquidez enfrentada pelo empresário, sem afetar o curso regular de suas atividades econômicas.
O Processo de Recuperação Extrajudicial
 
Devem ser analisadas as duas fases componentes do processo:
o pedido,
a sentença de homologação, 
obedecendo à mesma didática empregada no estudo da Falência.
O PEDIDO
 
Depois de distribuído o pedido à autoridade judiciária, não podem os credores desistir da adesão ao plano, salvo com a anuência dos demais signatários do pacto, incluindo os outros credores e o devedor, art. 161, § 1º, LFR.
É justamente por essa conseqüência impositiva que
o plano previsto no art. 163, § 6º, LFR enseja a apresentação de outros documentos, além dos previstos no art. 162, LFR, quais sejam:
 
exposição da situação patrimonial do devedor;
demonstrações contábeis do último exercício;
demonstrações contábeis especialmente levantada para o pedido acompanhadas do balanço patrimonial, da demonstração de resultados acumulados, da demonstração do resultado do último exercício social e do relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;
relação nominal dos credores, com endereço, natureza e classificação do crédito, assim como seu valor atualizado, origem, regime dos vencimentos e a indicação dos registros contábeis das transações;
documentos que comprove os poderes de transigir outorgado aos subscritores do plano.
A SENTENÇA
 
Recebido o pedido, o juiz ordenará a publicação de edital no órgão oficial e em jornal de circulação nacional ou das localidades da sede e das filiais do devedor, quando os credores terão um prazo de 30 dias para impugnar o plano, contados da publicação do referido edital. Para tanto, não poderão alegar mais do que:
 
não-preenchimento do percentual mínimo previsto no caput do art.163, LFR (assinatura de credores representativos de mais 3/5 de todos os créditos de cada espécie);
prática, por parte do devedor, de qualquer dos atos de falência a que se refere no art. 94, III, LFR, assim como se restar comprovada a intenção de fraudar credores, na forma prescrita no art. 130, LFR;
descumprimento de qualquer outra exigência legal.
Apresentada a impugnação restrita ao conteúdo do § 3º do art. 164 da LFR, será aberto prazo de 5 dias para manifestação do devedor, após o que o juiz decidirá, no prazo de 5 dias, a respeito da homologação do plano, que será feita via sentença.
Na hipótese de não-homologação, não há prazo carencial para novo pedido, art. 164, § 8º, LFR.
Da sentença cabe Recurso de Apelação sem efeito suspensivo.
A sentença de homologação do Plano de Recuperação Extrajudicial constituirá título executivo judicial, nos termos do CPC.
Assim, seu descumprimento enseja execução específica, o que afasta o cabimento de pedido de falência com base no descumprimento de Plano de Recuperação Extrajudicial.
Diverso do que ocorre na Recuperação Judicial: a decisão que concede a Recuperação Judicial também constitui título executivo judicial, art. 59, § 1º, LFR, no entanto, a própria lei dispõe que o descumprimento de qualquer obrigação prevista neste plano acarretará a convolação da Recuperação em Falência, art. 61, § 1º, LFR.
Efeitos da Recuperação Extrajudicial
 
O Plano de Recuperação Extrajudicial produzirá efeitos após sua homologação judicial.
A lei permite, entretanto, a produção de efeitos anteriores à homologação, desde que exclusivamente em relação à modificação do valor ou da forma de pagamento dos credores signatários, art. 165, LFR.
 
Rejeitado o plano pelo juiz, devolve-se aos credores signatários o direito de exigir seus créditos nas condições originais, deduzidos os valores efetivamente realizados.
Em relação à ordem de prioridade no recebimento dos créditos, deve prevalecer o que foi acordado no plano, não existindo imposição legal a respeito.
 
Na hipótese de não homologação do plano o devedor poderá, cumpridas as formalidades, apresentar novo pedido de homologação de Plano de Recuperação Extrajudicial.
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Prof. Dr. Silvio Aparecido Crepaldi
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