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m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ MALÁRIA P R O F . S É R G I O B E D U S C H I F I L H O m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Estratégia MED Prof. Sergio Beduschi Filho | Malária 2INFECTOLOGIA PROF. SÉRGIO BEDUSCHI FILHO APRESENTAÇÃO: @estrategiamed /estrategiamed Estratégia Med t.me/estrategiamed Malária é um tema que pode ser considerado extenso e complexo, especialmente quando nos aprofundamos no ciclo de vida do parasita e em suas características microbiológicas. No entanto, a engenharia reversa auxilia-nos a focar nas áreas que realmente são cobradas em provas de Residência Médica. Lembre-se: o objetivo deste capítulo não é tornar você, candidato à vaga de Residência Médica, um especialista em malária, mas sim garantir a sua aprovação. Este capítulo otimiza o seu tempo, trazendo de forma direta e objetiva as informações necessárias para acertar as questões sobre malária. A engenharia reversa mostra que as questões sobre malária são mais frequentes nas regiões em que essa doença é mais comum: ou seja, são mais cobradas nas provas dos estados da região Norte e aparecem pouco nas provas da região Sul. Veja na tabela abaixo a distribuição de tópicos sobre malária, de acordo com a frequência que ocorrem nas provas. TÓPICO FREQUÊNCIA (%) Tratamento 35 Epidemiologia 10 Fisiopatologia 25 Manifestações clínicas 10 Critérios de gravidade 9 Diagnóstico 6 Prevenção 5 Tabela 1 - Distribuição de temas por questões – malária @profsergioinfecto m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ https://www.instagram.com/estrategiamed/ https://www.facebook.com/estrategiamed1 https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw?sub_confirmation=1 https://t.me/estrategiamed https://www.instagram.com/profsergioinfecto/ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 3 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária SUMÁRIO 1.0 MALÁRIA - CARACTERÍSTICAS GERAIS 6 1.1 EPIDEMIOLOGIA 6 1.2 TRANSMISSÃO 6 2.0 FISIOPATOLOGIA 9 2.1 CICLO BIOLÓGICO 9 2.1.1 ESQUIZOGONIA EXOERITROCÍTICA (HEPÁTICA) 9 2.1.2 ESQUIZOGONIA ERITROCÍTICA 10 2.2 BASES DA PATOGENIA DA MALÁRIA 10 2.3 CONDIÇÕES ASSOCIADAS À GRAVIDADE 11 3.0 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 14 3.1 MALÁRIA NÃO COMPLICADA 14 3.2 MALÁRIA COMPLICADA 14 3.3 COMPLICAÇÕES 16 3.3.1 MALÁRIA CEREBRAL 16 3.3.2 SÍNDROME DE ESPLENOMEGALIA TROPICAL 16 3.3.3 ACOMETIMENTO RENAL 16 3.3.4 ACOMETIMENTO PULMONAR 16 4.0 DIAGNÓSTICO 19 5.0 TRATAMENTO 21 m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 4 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária 5.1 TRATAMENTO DE MALÁRIA NÃO COMPLICADA 21 5.1.1 MALÁRIA POR P. VIVAX OU P. OVALE 21 5.1.2 MALÁRIA POR P. MALARIAE 22 5.1.3 MALÁRIA POR P. FALCIPARUM 22 5.1.4 MALÁRIA MISTA 23 5.2 TRATAMENTO DE MALÁRIA GRAVE (COMPLICADA) 23 5.2.1 TRATAMENTO ANTIPARASITÁRIO 23 5.2.2 TRATAMENTO DE SUPORTE E DE COMPLICAÇÕES 24 5.3 QUIMIOPROFILAXIA E OUTRAS MEDIDAS DE PREVENÇÃO 26 5.3.1 ANÁLISE DE RISCO PARA VIAJANTES 26 5.3.2 PREVENÇÃO DE EXPOSIÇÃO A MOSQUITOS 27 5.3.3 QUIMIOPROFILAXIA 27 5.4 EFEITOS ADVERSOS DE ANTIMALÁRICOS 29 5.5 DOSES DE ANTIMALÁRICOS 30 5.6 CONTROLE DE CURA 30 6.0 REVISÃO FINAL 31 7.0 LISTA DE QUESTÕES 32 8.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 33 9.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 34 m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 5 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária CAPÍTULO 1.0 MALÁRIA - CARACTERÍSTICAS GERAIS 1.1 EPIDEMIOLOGIA Malária é uma doença infectocontagiosa causada por um protozoário unicelular do gênero Plasmodium, que atinge milhões de pessoas anualmente em todo o mundo. As principais espécies que causam doenças em humanos são: P. falciparum, P. vivax, P. malariae e P. ovale. Desses, apenas o P. ovale não causa doença autóctone no Brasil, sendo encontrado no continente africano. A espécie P. vivax é a mais prevalente no Brasil, sendo responsável pela maioria dos casos de malária, seguida por P. falciparum. Além das espécies citadas, há outras duas que podem, mais raramente, causar doença em seres humanos: P. knowlesi e P. simium. Essas espécies infectam mais frequentemente macacos. A primeira é encontrada na Ásia, enquanto a segunda já foi identificada no Brasil. Provas de Residência Médica não costumam cobrar questões incluindo essas duas espécies. No Brasil, a transmissão da grande maioria dos casos (cerca de 99%) ocorre na região da Amazônia Legal, constituída pelos seguintes estados: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. A transmissão em área extra-amazônica é rara e acontece em áreas de Mata Atlântica. Figura 1 – A maioria dos casos de malária no Brasil ocorre na Amazônia Legal. (Fonte: Trello) Em questões sobre malária em provas de Residência Médi- ca, a banca pode expor a informação de que o paciente vive ou esteve em área de risco, como o continente africano ou a Amazônia Legal. 1.2 TRANSMISSÃO Malária é transmitida através da picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles infectado pelo Plasmodium spp. O principal reservatório com importância epidemiológica é o próprio ser humano. Não existe a transmissão direta de pessoa a pessoa. Casos raros de infecção por meio de transfusão de derivados de sangue ou por via transplacentária já foram descritos. O período de incubação varia de acordo com a espécie de Plasmodium: • P. falciparum – 8 a 12 dias; • P. vivax – 13 a 17 dias; • P. malariae – 18 a 30 dias. É importante saber o período de incubação! Além de ser cobrado em questões de prova, auxilia no diagnóstico diferencial com outras doenças infecciosas agudas. Com base nos dados acima, podemos concluir que só é possível considerar um paciente como caso suspeito de malária se esteve em área de risco para transmissão entre 8 e 30 dias antes. Veja alguns exemplos a seguir: m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 6 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária 1. “Indivíduo morador de São Paulo viaja ao interior do Acre e, após 5 dias, inicia quadro de febre, cefaleia e mialgia”. Note que esse paciente não pode ter malária, pois não houve tempo suficiente para completar o período de incubação! Dengue, por outro lado, não pode ser descartada, já que seu período de incubação é mais curto. 2. “Paciente morador de Porto Alegre apresenta febre, mal- estar e cefaleia 45 dias após voltar de viagem à Tanzânia”. Esse paciente também não adquiriu malária em sua viagem, pois o período máximo de incubação dessa doença é de 30 dias. Veja abaixo alguns exemplos de questões que envolvem conceitos sobre epidemiologia e transmissão da malária CAI NA PROVA (MS - CLÍNICA DE CAMPO GRANDE – CCG 2015) Sobre a malária, podemos afirmar que: A) As espécies mais prevalentes no Brasil são P. falciparum e P. malariae. B) A transmissão vetorial ocorre pela picada de mosquitos do gênero Lutzomyia. C) O período de incubação é inferior a 7 dias, independente da espécie de plasmódio. D) O homem é o único reservatório com importância epidemiológica. E) Mato Grosso do Sul é considerada área endêmica. COMENTÁRIO: Esta questão aborda aspectos epidemiológicos e de transmissão da malária. Incorreta a alternativa “A” As espécies mais prevalentes no Brasil são P. vivax e P. falciparum. Incorreta a alternativa “B” Malária é transmitida através da picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles infectado pelo plasmódio. Lutzomya é o mosquito transmissor da leishmaniose. Incorreta a alternativa “C” O período deincubação varia de acordo com a espécie de Plasmodium: • P. falciparum – 8 a 12 dias; • P. vivax – 13 a 17 dias; • P. malariae – 18 a 30 dias. Correta a alternativa “D” A participação de primatas no ciclo da malária é pouco impactante na transmissão da doença. Incorreta a alternativa “E”. No Brasil, a transmissão da grande maioria dos casos (cerca de 99%) ocorre na região da Amazônia Legal, constituída pelos seguintes estados: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. A transmissão em área extra-amazônica é rara e acontece em áreas de Mata Atlântica. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 7 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária (RJ - SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE - SES RJ 2014) Um turista volta de um lugar onde há endemia de malária falciparum. Alertar os médicos em caso de febre é de suma importância para o diagnóstico e instituição precoce do tratamento, o que melhora o prognóstico da malária por Plasmodium falciparum. Deve-se ter forte suspeita desta doença em pessoas que se apresentem febris após retornaram de zona endêmica em até: A) 1 ano. B) 7 dias. C) 2 meses. D) 6 meses. COMENTÁRIO: O período de incubação da malária pode variar de acordo com a espécie de plasmódio. P. falciparum tem o período mais curto, variando entre 8 e 12 dias. Já o período para P. vivax é de 13 a 17 dias, e 18 a 30 dias para P. malariae. Incorreta a alternativa “A”. Um ano é um período muito longo para início de sintomas de malária por Plasmodium falciparum. Incorreta a alternativa “B”. Sete dias não seria tempo suficiente para início do quadro de malária. Correta a alternativa “C” Considerando que o período de incubação do P. falciparum é de cerca de oito a doze dias, dois meses seria a resposta mais adequada para essa questão. Incorreta a alternativa “D”. Seis meses seria um período exageradamente longo para observação de sintomas de malária por P. falciparum. CAPÍTULO 2.0 FISIOPATOLOGIA Neste tópico, serão abordados conceitos básicos para o entendimento dessa doença, além de algumas informações importantes que já foram cobradas em provas passadas. 2.1 CICLO BIOLÓGICO Para entender a fisiopatologia e as manifestações clínicas da malária, é essencial conhecer um pouco sobre o ciclo de vida do Plasmodium. Esse intrincado ciclo será apresentado aqui de forma simples e descomplicada. O ciclo de vida do plasmódio ocorre de forma sexuada em mosquitos e assexuada (esquizogônica) em seres humanos. Vamos analisar com mais detalhes apenas o ciclo em seres humanos, já que esse é o que importa para o entendimento da doença. A figura 2 traz um panorama das fases do ciclo do plasmódio.m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 8 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária Figura 2 – Visão geral do ciclo do plasmódio. As figuras 3 e 4 e os itens 3.1.1 e 3.1.2 ilustram, de maneira sintética, as duas principais etapas do ciclo de vida do plasmódio. Leia com atenção! 2.1.1 ESQUIZOGONIA EXOERITROCÍTICA (HEPÁTICA) Ao alimentar-se de sangue, a fêmea infectada do mosquito Anopheles inocula com a saliva o plasmódio na forma de esporozoíto (1), que circula pela corrente sanguínea até atingir os hepatócitos. Dentro dos hepatócitos, os esporozoítos diferenciam- se em trofozoítos (2), que em seguida iniciam a esquizogonia (divisão nuclear sem divisão da membrana celular), resultando em estruturas chamadas de esquizontes (3). A seguir, ocorre a ruptura dos esquizontes, liberando merozoítos para a corrente sanguínea (4). Nessa etapa da infecção, também conhecida como pré-eritrocítica, o paciente ainda encontra-se assintomático. Figura 3 – Ciclo hepático do plasmódio. Em infecções por P. vivax e P. ovale, alguns esporozoítos assumem forma de hipnozoítos, que permanecem em estado de latência nos hepatócitos por períodos prolongados (meses ou anos), sendo responsáveis pela recaída da doença. A recaída não é uma reinfecção, mas sim uma reativação destas células latentes. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 9 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária 2.1.2 ESQUIZOGONIA ERITROCÍTICA Os merozoítos lançados na corrente sanguínea ao final da fase exoeritrocítica invadem os eritrócitos circulantes, dando início à fase eritrocítica da reprodução assexuada. Esse ciclo possui algumas semelhanças ao anterior (hepático): no interior das hemácias, os merozoítos diferenciam-se em trofozoítos (1), que iniciam o processo de esquizogonia, resultando em esquizontes (estruturas multinucleadas) (2). Ao final, o esquizonte divide-se em merozoítos e ocorre o rompimento da hemácia (3), liberando essas formas celulares livres para infecção de novas hemácias (4). O rompimento das hemácias é um evento de suma importância, pois é o que causa os sintomas da malária. O ciclo eritrocitário repete-se a cada 48 horas nas infecções por P. vivax e P. falciparum e a cada 72 horas nas infecções por P. malariae, o que explica o perfil de febre recorrente dessa doença. Após algumas repetições do ciclo eritrocitário, alguns merozoítos se diferenciam em gametócitos (5), que podem infectar mosquitos, iniciando o ciclo no hospedeiro invertebrado (reprodução sexuada) e concluindo, assim, o ciclo biológico completo do plasmódio. Figura 4 – Ciclo eritrocítico do plasmódio. 2.2 BASES DA PATOGENIA DA MALÁRIA Os sintomas da malária iniciam no ciclo eritrocítico, quando a ruptura de esquizontes libera antígenos, como o pigmento malárico, e desencadeia a liberação de citocinas pró-inflamatórias. Uma das particularidades mais importantes da fisiopatologia da malária é a capacidade de citoaderência. Essa é uma característica das infecções por P. falciparum: hemácias parasitadas por essa espécie formam protuberâncias em sua superfície (knobs – figura 5) que aderem ao endotélio de pequenos vasos, causando obstruções na microvasculatura e complicações da doença (figura Figura 5 – Note as protuberâncias na superfície celular do eritrócito parasitado. 6). Esse fenômeno, também conhecido como sequestro, pode ser agravado pela formação de rosetas (hemácias parasitadas aderidas a hemácias saudáveis), e impede o clareamento de eritrócitos parasitados pelo baço. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 10 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária Figura 6 – Representação gráfica de obstrução da microvasculatura por hemácias parasitadas aderidas (sequestro). 2.3 CONDIÇÕES ASSOCIADAS À GRAVIDADE Algumas condições ou fatores estão relacionados ao maior risco de doença grave. As manifestações clínicas e laboratoriais de malária grave serão abordadas em detalhes posteriormente, no item 4. Dentre essas condições, podemos citar: • Infecção por P. falciparum: essa espécie é a responsável pelos casos mais graves de malária, em especial, devido ao fenômeno da citoaderência e à formação de rosetas. Para lembrar que P. falciparum é a causa mais comum de malária grave, pense na regra mnemônica a seguir: Falciparum? Ferrou! • Hiperparasitemia: pode ser descrita como número de formas assexuadas superior a 250.000/mm3, ou mais de 5% das hemácias parasitadas. Outro sinal indireto pode ser a presença de pigmento malárico fagocitado em mais de 5% dos neutrófilos. • Gestação. • Primeira infecção: pacientes com infecções repetidas tendem a ter doenças menos graves, devido ao desenvolvimento de anticorpos. • Imunodeprimidos (incluindo asplenia). • Crianças com idade inferior a 5 anos. Por outro lado, hemoglobinopatias (em especialanemia falciforme) e infecção prévia por malária são fatores de proteção contra a doença grave. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 11 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária COMENTÁRIO: Note que essa questão aborda detalhes da fisiopatologia da malária, além de dados epidemiológicos. Afirmativa 1 está correta. Malária é uma doença infectocontagiosa causada por um protozoário unicelular do gênero Plasmodium, que atinge milhões de pessoas anualmente em todo o mundo. Afirmativa 2 está incorreta. O item 3.1.1 deste livro resume o ciclo exoeritrocítico. Em infecções por P. vivax e P. ovale (e não P. falciparum), alguns esporozoítos assumem forma de hipnozoítos, que permanecem em estado de latência nos hepatócitos por períodos prolongados (meses ou anos), sendo responsáveis pela recaída da doença. Afirmativa 3 está incorreta. O ciclo de vida dos plasmódios caracteriza-se por processos de reprodução sexuada (e não sexuada e assexuada) no vetor e assexuada no homem. Os esporozoítos (e não trofozoítos) são a forma parasitária de transmissão da doença do mosquito para o homem. Afirmativa 4 está incorreta. Quatro espécies de plasmódios podem ocasionar a malária. No Brasil, são encontradas as espécies P. vivax, P. malariae e P. falciparum, sendo a malária vivax (e não falciparum) a mais frequentemente descrita. (REVALIDA UFMT 2016) Sobre a infecção pelo Plasmodium, é CORRETO afirmar que: A) A gravidade da malária depende da relação do hospedeiro (vulnerabilidade e estado imunológico) com o Plasmodium sp. (espécie infectante e densidade parasitária). B) A concentração elevada de lactato e amônia na circulação é responsável pelos sintomas neurológicos na malária grave. C) A forma grave da doença está relacionada somente à infecção pelo Plasmodium falciparum e independe da densidade parasitária. D) A citoaderência e o processo de formação de rosetas são fenômenos presentes na infecção pelo Plasmodium falciparum, porém não estão relacionados às formas graves da infecção. CAI NA PROVA (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ - HC - UFPR 2011) Com relação à malária, considere as seguintes afirmativas: 1. A malária é uma doença causada por um parasita unicelular que ocorre nas regiões subtropicais e tropicais do mundo, sendo transmitida prioritariamente pela picada do mosquito do gênero Anopheles. 2. Durante a esquizogonia pré-eritrocítica, são originadas formas hepáticas latentes (hipnozoítos), que são responsáveis pela recaída da doença, que pode ocorrer durante a infecção pelos P. vivax e P. falciparum. 3. O ciclo de vida dos plasmódios se caracteriza por processos de reprodução sexuada e assexuada no vetor e assexuada no homem. Os trofozoítos são a forma parasitária de transmissão da doença do mosquito para o homem. 4. Quatro espécies de plasmódios podem ocasionar a malária. No Brasil, são encontradas as espécies P. vivax, P. malariae e P. falciparum, sendo a malária falciparum a mais frequentemente descrita. Assinale a alternativa correta. A) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. B) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. C) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras. D) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. E) Somente a afirmativa 3 é verdadeira. Questão anulada pois apenas a alternativa 1 está correta. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 12 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária COMENTÁRIO: Essa questão tem seu foco em características da malária grave. Correta a alternativa “A”. Imunodeprimidos, gestantes, crianças com idade inferior a cinco anos estão mais sujeitos à malária grave. Além disto, Plasmodium falciparum é a espécie mais relacionada aos casos graves, especialmente quando há elevada densidade parasitária. Incorreta a alternativa “B”. A malária cerebral é causada pelo sequestro encefálico de hemácias parasitadas e pela hipoglicemia. Incorreta a alternativa “C”. pois a hiperparasitemia é uma condição que eleva o risco de malária grave. Incorreta a alternativa “D”. A citoaderência e o processo de formação de rosetas são justamente os principais fenômenos relacionados à malária grave, pois resultam em obstrução microvascular. CAPÍTULO 3.0 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 3.1 MALÁRIA NÃO COMPLICADA As manifestações clínicas da malária consistem em quadro febril agudo com sudorese e calafrios, conhecido como acesso malárico, que inclui sintomas sistêmicos e inespecíficos, como cefaleia, fadiga e mialgia. Essa crise aguda de malária geralmente tem duração de até 12 horas e a temperatura corporal pode atingir 40°C ou valores ainda mais elevados. Regra mnemônica: lembre-se de que o plasmódio que causa os acessos maláricos com maior intervalo de tempo é o P. malariae (febre quartã − a cada 72 horas). P. MALARIAE = MAIS LONGO! Outros sintomas que podem estar presentes são: hepatomegalia, esplenomegalia, anemia e icterícia. Uma característica clássica (porém não tão comum na prática clínica) é a febre recorrente terçã (a cada 48 horas), causada por P. falciparum e P. vivax, e a febre quartã (a cada 72 horas), decorrente de infecção por P. malariae. Lembre-se de que esse padrão de febre é resultante da ruptura de esquizontes no ciclo eritrocítico (item 3.1.2). DICA PARA PROVA! Há um padrão em questões de provas que cobram malária como diagnóstico diferencial de outras doenças febris agudas. A resposta deve ser malária quando no caso clínico da questão há: 1. Quadro febril agudo com outros sintomas associados, como mal-estar, sudorese, astenia, mialgia, hepatomegalia, esplenomegalia ou icterícia; 2. Ausência de sinais ou sintomas que caracterizem outra doença, como exantema ou conjuntivite; 3. Referência à procedência de área de risco (continente africano ou Amazônia Legal). m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 13 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária 3.2 MALÁRIA COMPLICADA Como já vimos no item 3.3, casos de malária grave são muito mais comuns em pacientes com infecção por P. falciparum. É muito importante que o aluno saiba identificar os sinais (tanto clínicos como laboratoriais) que indicam malária grave e complicada. MALÁRIA GRAVE MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Dor abdominal intensa (por ruptura esplênica, mais comum em P. vivax) • Icterícia • Mucosas descoradas • Oligúria ( 250.000/mm3 para P. falciparum) Para entender os critérios de malária grave, não decorá-los apenas, note que seguem alguns padrões: • Sinais indiretos de hemólise: icterícia, anemia (mucosas descoradas); • Sinais de deterioração orgânica sistêmica: oligúria (insuficiência renal), taquicardia, cianose, sangramentos, vômitos persistentes, comorbidades descompensadas, hiperlactatemia, acidose metabólica; • Sinais de lesão de órgãos: dor abdominal intensa (ruptura esplênica), convulsão ou desorientação (malária cerebral); • Sinais de parasitemia elevada: hiperparasitemia e hipoglicemia. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 14 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária 3.3 COMPLICAÇÕES Abordaremos aqui algumas das complicações mais importantes da malária. 3.3.1 MALÁRIA CEREBRAL É uma complicação grave, responsável por grande parte dosóbitos. Resulta tanto do sequestro encefálico de hemácias parasitadas como da hipoglicemia. Pode manifestar-se com amplo espectro clínico, desde cefaleia, confusão mental, até sinais focais, crises convulsivas e coma. 3.3.2 SÍNDROME DE ESPLENOMEGALIA TROPICAL É uma doença crônica resultante da exposição repetida ao plasmódio, também conhecida como esplenomegalia hiper- reativa da malária. É mediada por anticorpos, causando elevação de IgM específica antiplasmódio no soro. Faz parte do diagnóstico diferencial de esplenomegalias de grande monta, como linfoma esplênico e leishmaniose visceral. 3.3.3 ACOMETIMENTO RENAL A nefropatia malárica pode desenvolver-se como doença renal aguda ou crônica. • Aguda: relacionada à infecção por P. falciparum, pode ocorrer devido à necrose tubular aguda (NTA) ou à glomerulonefrite aguda por depósito de complexos imunes. Costuma ter bom prognóstico, com resposta satisfatória à terapia antimalárica. • Crônica: associada à infecção crônica ou reinfecções por P. malariae, manifesta-se tardiamente como síndrome nefrótica e, frequentemente, evolui para doença renal crônica, apesar do tratamento antimalárico. É causada por deposição de imunocomplexos circulantes. 3.3.4 ACOMETIMENTO PULMONAR Pacientes com malária grave por P. falciparum podem sofrer comprometimento pulmonar grave, caracterizado por edema pulmonar. É causado por uma série de fatores, como aumento da permeabilidade capilar e alterações hemodinâmicas, podendo manifestar-se como síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 15 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária Questões sobre quadro clínico da malária costumam ser cobradas com enfoque em diagnóstico diferencial ou sinais de gravidade. CAI NA PROVA (MT - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO – UFMT 2019) Paciente do sexo feminino, 38 anos, previamente hígida, apresentando há cinco dias febre, calafrios, mal-estar, mialgia, astenia e sudorese fria. Mora em Rondônia, trabalha em escritório de advocacia e não teve viagens recentes. Conforme os dados clínicos e epidemiológicos, a principal hipótese diagnóstica é: A) Malária. B) Pneumonia. C) Infecção do trato urinário. D) Gripe. COMENTÁRIO: Essa é uma questão em que a banca testa sua habilidade em diagnosticar síndromes febris agudas com base em dados clínicos e epidemiológicos. Correta a alternativa “A” Paciente com febre de início agudo que mora em zona de risco de transmissão de malária, essa deve ser nossa principal hipótese diagnóstica. Incorreta a alternativa “B”. A paciente não apresenta sintomas sugestivos de pneumonia, como tosse produtiva, dor ventilatório-dependente ou dispneia. Incorreta a alternativa “C”. A paciente não apresenta sintomas de infecção do trato urinário como disúria, polaciúria, dor em flancos ou relato de sinal de Giordano positivo. Incorreta a alternativa “D”. Não há relato de sintomas sugestivos de gripe (influenza) como rinorreia, tosse e dispneia. (RJ – REDE D’OR 2013) Mulher, 30 anos, recebe o diagnóstico de malária por Plasmodium falciparum após viagem à Tanzânia. A parasitemia é de 7%, o hematócrito de 20%, a bilirrubina total de 8 mg/dL e a creatinina de 2,8 mg/dL. Há redução do nível de consciência com necessidade de Intubação Orotraqueal. O tratamento de escolha é: A) Cloroquina B) Quinino venoso C) Artesunato venoso D) Mefloquina m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 16 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária COMENTÁRIO: Perceba que essa paciente tem sinais de malária grave, como anemia e redução do nível de consciência. Incorreta a alternativa “A”. Cloroquina faz parte do tratamento de malária não complicada por P. malariae, P. vivax ou P. ovale. Incorreta a alternativa “B”. Quinino venoso não faz parte do tratamento preconizado pelo Ministério da Saúde para nenhuma forma de malária. Correta a alternativa “C” O tratamento da malária grave (complicada) deve ser realizado inicialmente com artesunato intravenoso ou intramuscular, sendo que essa etapa inicial do tratamento deve durar no mínimo 24 horas, e deve ser mantido por via parenteral até que o paciente possa ingerir comprimidos. Incorreta a alternativa “D”. Mefloquina faz parte do tratamento de malária não complicada por P. falciparum. CAPÍTULO 4.0 DIAGNÓSTICO O diagnóstico de malária consiste em detectar o plasmódio (ou seu antígeno ou material genético) em sangue periférico. O método diagnóstico mais sensível, mais utilizado e considerado padrão-ouro é a microscopia de gota espessa de sangue, corada pelo método de Walker (azul de metileno e Giemsa). A técnica da gota espessa consiste em realizar uma punção digital para coleta de sangue com preparo de um esfregaço em lâmina de microscópio. Em seguida, a amostra é corada pelo método de Walker e analisada em microscopia. Caso seja evidenciada a presença de algum plasmódio, o resultado é positivo. A microscopia de lâmina delgada (ou esfregaço delgado) apresenta menor sensibilidade que de gota espessa, mas pode ser vantajosa para a identificação da espécie de plasmódio. Outro método diagnóstico que pode ser empregado é o teste rápido por imunocromatografia. Possui a vantagem de não necessitar de microscópio, nem de técnico experiente para leitura da lâmina, mas sua sensibilidade é inferior àquela da microscopia de gota espessa. Além disso, esse teste diferencia apenas P. falciparum de não P. falciparum (é incapaz de identificar especificamente as outras espécies). Biologia molecular é um método pouco utilizado como rotina, pois é uma técnica de custo elevado e que necessita de laboratório especializado. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 17 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária A maioria das questões sobre o diagnóstico de malária refere-se à técnica da gota espessa. CAI NA PROVA (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ - HC - UFPR 2011) Um paciente retorna de viagem a trabalho em Angola e, em poucas semanas, desenvolve quadro de febre e calafrios. Evolui com piora do estado geral e é internado no CTI com hipotensão e hipoxemia. Relata uso profilático de doxiciclina durante sua estadia no país. Suspeita-se que ele esteja com malária. Nesse caso, o melhor método diagnóstico para confirmar essa suspeita é: A) Gota fina B) Hemocultura C) Gota espessa D) Pesquisa de antígeno COMENTÁRIO: Temos aqui um paciente com malária. A questão quer saber qual é o melhor exame para seu diagnóstico. Incorreta a alternativa A. Gota fina ou esfregaço delgado é um exame com menor sensibilidade que gota espessa para o diagnóstico de malária. A vantagem da gota fina é sua superioridade no estudo da morfologia e identificação da espécie. Incorreta a alternativa B, pois Plasmodium é um protozoário e não cresce nas hemoculturas tradicionais. Correta a alternativa “C”. A gota espessa é considerada o padrão ouro para diagnóstico da malária. A técnica consiste em realizar uma punção digital para coleta de sangue com preparo de um esfregaço numa lâmina de microscópio. Em seguida, a amostra é corada e visualizada em microscopia. Caso seja evidenciada a presença do Plasmodium, o resultado é positivo. Incorreta a alternativa D. Os testes que pesquisam antígenos do Plasmodium são recomendados onde o teste da gota espessa não está disponível. São testes rápidos e de fácil execução, mas não definem bem a espécie (apenas identificam se é P. falciparum ou não), nem a quantidade de parasitas. Veja a seguir dois exemplos de microscopia de sangue de pacientes com malária: Figura 7 – Trofozoítos em hemácias (note a forma em anel – carac- terísticadesta fase evolutiva do plasmódio). Fonte: Shutterstock Figura 8 – Esquizonte em hemácia. Fonte: Shutterstock m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 18 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária CAPÍTULO 5.0 TRATAMENTO O tratamento da malária deve ser eficaz para interrupção do ciclo eritrocítico da malária em infecções por qualquer espécie de plasmódio, assim como do ciclo exoeritrocítico (hepático), quando a infecção ocorre por P. vivax e P. ovale. O tratamento da malária varia de acordo com os seguintes elementos: • Espécie de plasmódio; • Gravidade da doença; • Particularidades do paciente, como idade e gestação. 5.1 TRATAMENTO DE MALÁRIA NÃO COMPLICADA 5.1.1 MALÁRIA POR P. VIVAX OU P. OVALE P. vivax e P. ovale são as duas espécies que formam hipnozoítos no ciclo hepático. Essas são as formas latentes que podem ser reativadas tardiamente se não tratadas com medicamento específico (primaquina ou tafenoquina), levando à recaída da doença. Atenção! Não confunda recaída com recrudescência ou reinfecção! Recaída: reativação de hipnozoítos latentes em hepatócitos (apenas em P. vivax e P. ovale) Recrudescência: recorrência da doença a partir das formas sanguíneas, por não eliminação do ciclo eritrocítico. Reinfecção: novo quadro de malária a partir de nova exposição ao plasmódio. O tratamento dessas espécies exige, portanto, o uso de duas drogas: uma com ação para o ciclo eritrocítico (cloroquina), e outra eficaz contra o hipnozoíto (primaquina). A cloroquina é administrada durante três dias, enquanto a primaquina é preferencialmente utilizada durante sete dias ou, alternativamente, durante 14 dias (com metade da dose). Gestantes, puérperas (até um mês de lactação) e crianças com idade inferior a 6 meses não devem usar primaquina. Esta contraindicação existe devido ao risco de hemólise fetal ou na criança. Em casos de malária por P. vivax ou P. ovale: - Gestantes devem ser tratadas com cloroquina durante 3 dias, e receber em seguida cloroquina em dose profilática (uma vez por semana) até completar um mês após o parto. - Criançasquestão para reforçar o aprendizado, pois aborda diversas peculiaridades do tratamento da malária. Afirmativa I é falsa: gestantes com malária vivax grave deverão ser tratadas com artesunato IV ou IM até que possam tomar medicação oral. Afirmativa II é considerada verdadeira pela banca, porém é polêmica. Na verdade, a recaída de malária vivax ocorre após a reativação de hipnozoítos. Parece-me que quem elaborou a questão considerou que hipnozoíto seria simplesmente uma forma dormente de esporozoíto. Caberia recurso? Em meu entendimento, sim! Mas, atenção: a questão não foi anulada. Ao deparar-se com uma questão semelhante dessa banca, use o bom senso para não errar. Afirmativa III é verdadeira, pois crianças menores de 6 meses de idade (assim como gestantes) não podem usar primaquina. Afirmativa IV é verdadeira, pois é recomendado que casos graves da malária sejam tratados com artesunato intravenoso, sendo a clindamicina intravenosa terapia alternativa. Afirmativa V é falsa. O uso da primaquina em pessoas com deficiência de G6PD pode resultar em manifestações clínicas de hemólise, como anemia grave, urina escura, fadiga e icterícia. Em caso de icterícia durante o tratamento de malária vivax, deve-se suspender a primaquina, e não a cloroquina. Correta a alternativa “C” (AM - COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO AMAZONAS – CERMAM 2017) Artemeter e lumefantrina são tratamentos de escolha para malária por: A) Plasmodium vivax formas graves. B) Plasmodium falciparum e P. vivax. C) Plasmodium ovale e P. vivax. D) Plasmodium falciparum. COMENTÁRIO: Essa questão sobre o tratamento da malária é útil para revisarmos o tratamento da doença causada por diferentes espécies. Incorreta a alternativa “A”. Toda forma de malária grave deve iniciar tratamento com artesunato intravenoso ou intramuscular por no mínimo 24 horas, até que o paciente possa tomar medicação oral, não importando a espécie de plasmódio. Assim que o paciente tolerar terapia por via oral e após ao menos 24 horas de terapia injetável, deverá receber três dias de terapia combinada com artesunato (artemeter/ lumefantrina ou artesunato/mefloquina). No caso de infecções graves por Plasmodium vivax, o tratamento oral poderá ser efetuado com terapia combinada com artesunato ou com cloroquina e sempre deverá conter primaquina (desde que não contraindicada) para erradicação de hipnozoítos. Incorreta a alternativa “B”. O tratamento para malária por Plasmodium falciparum de primeira escolha deve ser realizado com artesunato/ mefloquina e artemeter/lumefantrina. No entanto, o tratamento para P. vivax de primeira escolha é realizado com cloroquina e primaquina. Incorreta a alternativa “C”, pois o tratamento para P. vivax e P. ovale de primeira escolha é realizado com cloroquina e primaquina. Correta a alternativa “D”. casos de malária por P. falciparum sem sinais de gravidade devem ser tratados com terapia combinada com artesunato (artemeter/lumefantrina ou artesunato/mefloquina). m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 23 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária 5.3 QUIMIOPROFILAXIA E OUTRAS MEDIDAS DE PREVENÇÃO Não há vacina contra malária. As medidas de prevenção são baseadas principalmente em medidas de redução de risco de exposição ao vetor. 5.3.1 ANÁLISE DE RISCO PARA VIAJANTES Habitantes de áreas não endêmicas devem tomar alguns cuidados em viagens para áreas onde há transmissão da malária. O primeiro passo na avaliação de risco para malária é conhecer o itinerário do viajante. Com essa informação, é possível definir se ele frequentará área com níveis elevados de transmissão dessa doença, além de identificar quais são as espécies de plasmódio mais comuns naquela região. Caso seja identificado que o destino da viagem inclui área de risco, devem ser observadas outras situações que se relacionam com maior risco: 1. Realização de atividades entre o pôr do sol e o amanhecer (lembre-se de que o mosquito transmissor da malária tem hábitos noturnos); 2. Acomodação sem proteção contra mosquitos (acampamentos, dormir ao ar livre); 3. Permanência no local de destino por tempo superior ao período mínimo de incubação (sete dias); 4. Viagem em época próxima ao início ou fim de estação chuvosa; 5. Viagem a destinos com altitude inferior a mil metros de altitude (Anopheles é um mosquito que habita baixas altitudes); 6. Viagem a regiões remotas com acesso a atendimento em serviço de saúde distante mais de 24 horas. 5.3.2 PREVENÇÃO DE EXPOSIÇÃO A MOSQUITOS As medidas para prevenção de picadas de mosquitos são essenciais para a redução do risco de malária. Veja a seguir quais são as principais recomendações. 1. Evitar atividades no horário de maior risco de exposição ao Anopheles: do pôr do sol ao amanhecer; 2. Usar roupas claras e com manga longa durante atividades com maior risco de exposição (roupas escuras atraem o mosquito); 3. Utilizar barreiras para evitar contato com mosquitos: janelas e portas com telas, mosquiteiros impregnados com inseticida; 4. Aplicar repelente à base de N,N-dietilmetatoluamida (DEET) em áreas expostas da pele (não há contraindicação para gestantes). 5.3.3 QUIMIOPROFILAXIA A quimioprofilaxia consiste no uso de antimaláricos para reduzir o risco de infecção ou de malária grave. A quimioprofilaxia não é recomendada rotineiramente no Brasil, devido ao predomínio de casos de malária por P. vivax, já que a profilaxia é pouco eficaz contra essa espécie. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 24 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária Pode ser indicada em caso de viagem a áreas de elevada transmissão de malária por P. falciparum, especialmente quando há exposição de alto risco (vide item 6.3.1) e/ou com fator de risco para malária grave (item 3.3). É importante ressaltar que o principal papel da quimioprofilaxia não é evitar a infecção, mas sim reduzir o risco de malária grave. Um detalhe importante sobre a profilaxia da malária é que ela deve ser iniciada antes do início da viagem e mantida por um período após o retorno. Veja a seguir algumas opções para quimioprofilaxia e detalhes sobre a prescrição. Atenção: os esquemas de profilaxia não são habitualmente cobrados em provas de Residência Médica. São mais comuns questões que abordam as situações de risco e medidas preventivas de forma geral. CAI NA PROVA (REVALIDA NACIONAL - INEP DF 2014) Um homem com 24 anos de idade, geólogo, irá viajar em expedição na Amazônia Legal daqui a 20 dias, onde deverá passar cerca de dois meses em localidades diferentes, coletando amostras de solo para sua tese de doutorado. Ele procurou a Unidade Básica de Saúde do seu bairro para orientações sobre a profilaxia da malária. Qual é a conduta adequada neste momento para garantir a segurança do paciente? A) Solicitar ao paciente o seu itinerário e pedir que ele retorne em dois dias para que seja informado acerca da conduta adequada, pois a estimativa do risco do viajante adquirir malária no destino deve levar em consideração a Incidência Parasitária Anual (IPA). B) Orientar o paciente a vacinar-se pelo menos dez dias antes da viagem, tendo em vista que, apesar de a malária ser uma doença grave sem tratamento específico, possui uma vacina segura e eficaz. Informar que não é necessário tomar a vacina se ele já foi vacinado nos últimos dez anos e orientá-lo a levar o cartão de vacinação na bagagem. C) Orientar o paciente a tomar as seguintes medidas de proteção contra picadas de mosquitos: uso de roupas claras e com manga longa; uso de mosquiteiro impregnado com piretroides e uso de repelentes à base de dietilmetaloamida (DEET), principalmente ao amanhecer e ao pôr do sol. A) Informar ao paciente que a medida de prevenção mais segura contra a maláriaé a quimioprofilaxia (QPX), que consiste no uso de drogas antimaláricas em doses subterapêuticas. O esquema não previne, no entanto, infecção pelo Plasmodium sp ou recaídas por P. vivax ou P. ovale. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 25 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária COMENTÁRIO: Essa questão é um bom exemplo de como a prevenção da malária é cobrada em provas. Correta a alternativa “A”. Na maioria das regiões do Brasil, a Incidência Parasitária Anual (IPA) é baixa, o que limita a indicação da quimioprofilaxia. No entanto, é essencial conhecer o itinerário do viajante, pois a quimioprofilaxia poderá ser indicada caso: ele frequente áreas de alto risco de transmissão de P. falciparum na Amazônia Legal; permaneça na região por tempo maior que o período de incubação da doença; e em locais cujo acesso ao diagnóstico e tratamento de malária estejam a mais de 24 horas. Incorreta a Alternativa “B”, pois não há vacina disponível para malária. Incorreta a Alternativa “C”. A orientação de medidas de proteção de picadas de mosquitos deve ser realizada para todos os viajantes. A conduta mais adequada nesse momento é conhecer o itinerário do viajante, para definir a necessidade de quimioprofilaxia. Incorreta a Alternativa “D”. A prevenção da malária consiste em um conjunto de ações que inclui a prevenção contra picadas de mosquitos, além de diagnóstico e tratamento precoces. A quimioprofilaxia é uma medida que pode ser empregada quando o risco de malária grave é elevado. 5.4 EFEITOS ADVERSOS DE ANTIMALÁRICOS A tabela 2 resume os principais efeitos adversos dos medicamentos utilizados no tratamento da malária. MEDICAMENTO EFEITO ADVERSO Primaquina Hemólise – icterícia, anemia, colúria (principalmente com deficiência de G6PD) Cloroquina Prurido Artesunato / artemeter Anemia (tardia) Mefloquina Eventos neuropsiquiátricos Tabela 2 – Efeitos adversos de antimaláricos Os efeitos adversos da primaquina são os mais cobrados em provas! Lembre-se de que essa medicação deve ser suspensa em caso de icterícia e é contraindicada para gestantes; puérperas até completar 30 dias após o parto; e crianças com idade inferior a 6 meses (sim, você já leu isso antes neste capítulo, mas é algo que deve ser reforçado!). 5.5 DOSES DE ANTIMALÁRICOS As doses dos tratamentos não são rotineiramente cobradas em provas. Caso você queira consultar, a tabela 3 exibe as doses dos principais antimaláricos que são administrados de acordo com o peso corporal. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 26 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária MEDICAMENTO DOSE Cloroquina 1º dia: 10mg/kg 2º e 3º dias: 7,5mg/kg Primaquina 0,5 mg/kg/dia por 7 dias ou 0,25mg/kg por 14 dias Artesunato injetável Peso 20kg: 2,4mg/kg por dose Clindamicina injetável 20mg/kg/dia, dividido em 3 doses por 7 dias Tabela 3 – Doses de antimaláricos 5.6 CONTROLE DE CURA Embora seja indicado para todos os casos de malária, o controle de cura não é um tópico frequente em provas de Residência Médica. É realizado através de lâmina espessa, chamada de lâmina de verificação de cura (LVC). Preconiza-se a verificação de cura nos seguintes dias após o início do tratamento: 1. P. falciparum: dias 3, 7, 14, 21, 28 e 42; 2. P. vivax ou mista: dias 3, 7, 14, 21, 28, 42 e 63. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 27 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária 6.0 REVISÃO FINAL CAPÍTULO O mapa mental a seguir resume informações importantíssimas sobre as espécies de Plasmodium spp. Leia-o com atenção! Figura 9 – Mapa mental: espécies de plasmódio. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 28 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária Baixe na Google Play Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ou busque na Google Play (disponível em breve na App Store) Baixe o app Estratégia MED Preparei uma lista exclusiva de questões com os temas dessa aula! Acesse nosso banco de questões e resolva uma lista elaborada por mim, pensada para a sua aprovação. Lembrando que você pode estudar online ou imprimir as listas sempre que quiser. Resolva questões pelo computador Copie o link abaixo e cole no seu navegador para acessar o site Resolva questões pelo app Aponte a câmera do seu celular para o QR Code abaixo e acesse o app https://bit.ly/3rQDBXj m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ https://bit.ly/3rQDBXj m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 29 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária CAPÍTULO CAPÍTULO 8.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS Malária é um assunto complexo e cheio de detalhes. Porém, a engenharia reversa é nossa aliada e permite simplificar o tema, otimizando assim o seu aprendizado. Foque seus estudos no conteúdo apresentado neste capítulo e atinja seu objetivo! 9.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis. Guia de tratamento da malária no Brasil [recurso eletrônico] Brasília, 2020. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_tratamento_malaria_ brasil.pdf. Acesso em: 14 out. 2020. 2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Diretoria Técnica de Gestão. Guia para profissionais de saúde sobre prevenção da malária em viajantes. Brasília, 2008. Disponível em: https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2014/maio/30/Guia-para- profissionais-de-sa--de-sobre-preven----o-da-mal--ria-em-viajantes.pdf. Acesso em: 14 out. 2020. 3. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines for the treatment of malaria. 3rd ed., 2015. Disponível em: https://www.who.int/docs/default- source/documents/publications/gmp/guidelines-for-the-treatment-of-malaria-eng.pdf. Acesso em: 14 out. 2020. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_tratamento_malaria_brasil.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_tratamento_malaria_brasil.pdf https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2014/maio/30/Guia-para-profissionais-de-sa--de-sobre-preven----o-da-mal--ria-em-viajantes.pdf https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2014/maio/30/Guia-para-profissionais-de-sa--de-sobre-preven----o-da-mal--ria-em-viajantes.pdf https://www.who.int/docs/default-source/documents/publications/gmp/guidelines-for-the-treatment-of-malaria-eng.pdf https://www.who.int/docs/default-source/documents/publications/gmp/guidelines-for-the-treatment-of-malaria-eng.pdf m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Prof. Sérgio Beduschi Filho | Curso Extensivo |2023 30 Estratégia MED INFECTOLOGIA Malária m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 1.0 MALÁRIA - CARACTERÍSTICAS GERAIS 1.1 EPIDEMIOLOGIA 1.2 TRANSMISSÃO 2.0 FISIOPATOLOGIA 2.1 CICLO BIOLÓGICO 2.1.1 ESQUIZOGONIA EXOERITROCÍTICA (HEPÁTICA) 2.1.2 ESQUIZOGONIA ERITROCÍTICA 2.2 BASES DA PATOGENIA DA MALÁRIA 2.3 CONDIÇÕES ASSOCIADAS À GRAVIDADE 3.0 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 3.1 MALÁRIA NÃO COMPLICADA 3.2 MALÁRIA COMPLICADA 3.3 COMPLICAÇÕES 3.3.1 MALÁRIA CEREBRAL 3.3.2 SÍNDROME DE ESPLENOMEGALIA TROPICAL 3.3.3 ACOMETIMENTO RENAL 3.3.4 ACOMETIMENTO PULMONAR 5.0 TRATAMENTO 5.1 TRATAMENTO DE MALÁRIA NÃO COMPLICADA 5.1.1 MALÁRIA POR P. VIVAX OU P. OVALE 5.1.2 MALÁRIA POR P. MALARIAE 5.1.3 MALÁRIA POR P. FALCIPARUM 5.1.4 MALÁRIA MISTA 5.2 TRATAMENTO DE MALÁRIA GRAVE (COMPLICADA) 5.2.1 TRATAMENTOANTIPARASITÁRIO 5.2.2 TRATAMENTO DE SUPORTE E DE COMPLICAÇÕES 5.3 QUIMIOPROFILAXIA E OUTRAS MEDIDAS DE PREVENÇÃO 5.3.1 ANÁLISE DE RISCO PARA VIAJANTES 5.3.2 PREVENÇÃO DE EXPOSIÇÃO A MOSQUITOS 5.3.3 QUIMIOPROFILAXIA 5.4 EFEITOS ADVERSOS DE ANTIMALÁRICOS 5.5 DOSES DE ANTIMALÁRICOS 5.6 CONTROLE DE CURA 6.0 REVISÃO FINAL 7.0 lista de questões 8.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS