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🧸 Infecção do Trato Urinário (ITU) Feito por Evelyn Autran Medicina 154 em 2025.1 Foram usadas como referências: a aula da Drª Emilía e o Manual de Condutas em Pediatria da UFPE O termo Infecção do Trato Urinário ITU compreende as infecções baixas (cistites) e altas (pielonefrites), muitas vezes difíceis de distinguir clinicamente em crianças, sobretudo lactentes jovens. Presença de um germe patogênico único (se for mais de um, é contaminação) no sistema urinário, associada a um processo inflamatório sintomático. Epidemiologia ITU é responsável por 20% dos casos de febre sem sinais localizados em lactentes Risco de recorrência na faixa etária pediátrica chega a 50%. A cicatriz renal é uma complicação potencial da ITU Cada área de cicatriz cursa com perda da função renal As consequências a longo prazo incluem hipertensão, proteinúria e doença renal em estágio terminal. ITU é a segunda infecção bacteriana mais prevalente em pediatria Atinge 8,4% das meninas e 1,7% dos meninos menores de 7 anos de idade Prevalência dois picos: Primeiro ano de vida e na fase pré-escolar Infecção do Trato Urinário ITU 1 🧸 Essa infecção no primeiro ano de vida, pensa-se em más formações congênitas, enquanto que, na fase pré-escolar, a partir do processo de aprendizagem do controle esfincteriano, algumas crianças acabam retendo a urina e essa estase é um contribuinte para a infecção urinária. No primeiro ano de vida: 0,7% em meninas E até 2,5% em meninos não circuncidados Até a adolescência: 7% no sexo feminino 1,7% no masculino. 🧸 Para que ocorra a infecção, precisa haver o desbalanço entre a defesa do hospedeiro e a virulência bacteriana: Defesa do Hospedeiro Virulência Bacteriana IgA da mucosa do trato urinário Fimbria tipo 1, P, S, F1C (conseguem ascender ao trato urinário) Receptores toll-like (liberam citocinas quando são ativados) Flagelo Fluxo unidirecional da urina (por isso, a estase corrobora a infecção) Cápsula (mais imunogênicas do que outras) Lipopolissacarídeo LPS Adesinas Hemolisinas (quebra a defesa) Infecção do Trato Urinário ITU 2 🧸 Mais de 90% dos casos de ITU ocorrem por via ascendente e estão relacionadas com a colonização periureteral nas meninas e prepucial nos meninos. A via hematogênica, entretanto, é mais frequente no período neonatal. Fatores Predisponentes Idade, sexo Colonização (fecal, periuretral, prepucial) Litíase Genética (receptores uroepiteliais, grupo sanguíneo) Anormalidade genitourinária, neurológica Lactente jovem com infecção urinária e febre Tem-se que pensar logo em má formação! Disfunção vesical Obstipação intestinal 🧸 “Quem segura coco, segura xixi!ˮ Fatores iatrogênicos Atividade sexual Agentes Etiológicos Infecção do Trato Urinário ITU 3 As bactérias mais comuns são as gram-negativas e, dentre elas, a E. Coli é a mais prevalente. A Escherichia coli uropatogênica UPEC é responsável por cerca de 80% das infecções do trato urinário fora do período neonatal. Manifestações clínicas da ITU na Infância Grupo Etário Sinais e Sintomas Mais Comuns Sinais e Sintomas Intermediários Sinais e Sintomas Menos Comuns 3 meses Os sintomas são mais inespecíficos Febre Vômito Letargia Irritabilidade Recusa alimentar Baixo ganho ponderoestatural BGPE Dor abdominal Icterícia (direta) Hematúria 3 meses Pré- verbal Febre Dor abdominal Dor em flancos Vômitos Diminuição do apetite Letargia Irritabilidade Hematúria BGPE 3 meses Verbal Disúria Polaciúria Alteração do padrão de micção Incontinência Dor abdominal Dor em flanco Febre Mal-estar Vômitos Urina turva Sintomas mais frequentes: Sintomas Urinários Sintomas em Lactentes Disúria Principal sintoma: febre Polaciúria Irritabilidade Urgência miccional Recusa alimentar Retenção urinária Icterícia Incontinência Distensão abdominal Enurese Baixo ganho ponderal Como a anamnese e o exame físico podem auxiliar no diagnóstico? Importante e muitas vezes esquecida, é a pergunta sobre o padrão miccional e intestinal. (ˮQuem prende xixi, prende cocoˮ). Infecção do Trato Urinário ITU 4 Se atentar às manobras realizadas pelas crianças, pois podem indicar ITU. Sempre perguntar do jato urinário, visto que alguns meninos podem ter a síndrome da válvula da uretra posterior. Além disso, é importante questionar sobre perdas involuntárias de urina em crianças que já adquiriram o controle esfincteriano. Diagnóstico de DRC Doenças Renais Crônicas) Avaliar presença de: Massa abdominal Estigmas sacrais Apêndice auricular Observar a persistência de bexiga palpável ou percutível após a micção, que pode sugerir processo obstrutivo ou disfunção do trato urinário inferior. Diagnóstico: Infecção do Trato Urinário ITU 5 Precisa-se colher o sumário de urina e realizar a cultura. Entretanto, não espera- se o resultado da cultura para iniciar o antibiótico, realiza-se a conduta empírica. A sondagem vesical ou punção suprapúbica PSP: são os métodos preferidos para crianças sem controle esfincteriano, tendo em vista a menor taxa de contaminação: Punção supra-púbica Cateterismo vesical Coleta de jato urinário após assepsia (clean-catch, Quick-Wee): defendido por alguns guidelines internacionais, pode ser aplicado em Da-se bastante líquido, palpa-se o abdome e fura onde estiver mais rígido. Pega-se uma sonda uretral, retifica o pênis, lubrifica e insere. Precisa ter cuidado com a infecção. Infecção do Trato Urinário ITU 6 crianças sem controle esfincteriano. No entanto, estudo recente mostrou taxa de contaminação em até 20% dos casos Coleta de jato urinário intermediário: deve ser o método de escolha em crianças com controle esfincteriano. Maior de 23 anos Jato médio ou intermediário O jato médio refere-se aquele que é coletado enquanto a criança faz xixi, sem realizar interrupções no fluxo. Lactentes Coleta por PSP ou Sondagem Vesical Saco coletor: para coleta de urina e diagnóstico apresenta alta taxa de contaminação. É um método útil como triagem, caso a urina não apresente alterações. Portanto, é importante ressaltar que quando há achados sugestivos de ITU, por urina colhida por saco coletor, deve-se refazer a coleta por método com baixa taxa de contaminação. O risco de contaminação é muito alta Ou seja, se o exame laboratorial der negativo, a criança não tem infecção, mas, se der positivo, precisa-se refazer a coleta com o método adequado. Antes de iniciar qualquer antibiótico em lactente febril, com suspeita de ITU, o pediatra deverá obter a amostra de urina por PSP ou Sondagem Vesical, porque o diagnóstico não pode realmente ser estabelecido por saco coletor. Súmário de urina: Não dá sozinho o diagnóstico de ITU urocultura – "gold standard" punção suprapúbica: qualquer número de colônias cateterismo: 10.000 UFC/mL jato médio: 100.000 UFC/mL Diferença entre Sumário de Urina e Urocultura Característica Sumário de Urina EAS Urocultura Tipo de exame Físico-químico e microscópico Microbiológico Tempo de resultado Rápido (algumas horas) Mais demorado 1 a 3 dias) Infecção do Trato Urinário ITU 7 Característica Sumário de Urina EAS Urocultura Detecta infecção? Sugere (leucócitos, nitrito, bactérias) Confirma e identifica o agente Identifica a bactéria Não Sim Mostra antibiótico ideal Não Sim (com antibiograma) Indicado para Avaliação inicial Confirmação de infecção urinária Exame Sensibilidade Especificidade Esterase leucocitária 83% 78% Nitritos positivos 50% 92% Contagem leucocitária 73% 81% Bacterioscopia 81% 83% Gram 93% 95% Mostra o padrão de sensibilidade e especificidade de elementos do sumário de urina, que podem sugerir ITU. 🧸 Se a esterase leucocitária ou os nitritos derem positivos, já pode-se iniciar a antibioticoterapia, enquanto aguarda-se a urucultura. Principal erro no Diagnóstico Clínico: Não valorizar a febre de origem indeterminada 4872 hs), principalmente em lactentes. A infecção urinária é responsável por quase20% dos casos de febre sem sinais em lactentes Tratamento Não serão cobrados os medicamentos e a posologia de modo direto. Antimicrobianos para uso endovenoso Antimicrobianos para uso oral Infecção do Trato Urinário ITU 8 Medicamento Posologia cefuroxima 150 mg/kg/dia (a cada 8h) gentamicina 57,5 mg/kg/dia, 1x ao dia, IV ou IM amicacina 15 mg/kg/dia, 1x ao dia cefotaxima 100200 mg/kg/dia (a cada 6h ou 8h) piperacilina/tazobactam 300 mg/kg/dia (a cada 6h ou 8h) Medicamento Posologia cefuroxima 30 mg/kg/dia (a cada 12h) cefaclor 40 mg/kg/dia (a cada 12h) amoxicilina- clavulanato 2040 mg/kg/dia (a cada 8h) ciprofloxacina 20 a 30 mg/kg/dia (a cada 12h) nitrofurantoína 57 mg/kg/dia (a cada 6h) cefalexina 50 mg/kg/dia (a cada 6h ou 8h) sulfametoxazol- trimetoprima 612 mg de TMP/kg/dia (a cada 12h) 🧸 No tratamento da E. Coli um dos principais problemas acerca da resistência bacteriana é a produção de betalactamases. Investigação radiológica Após toda a verificação do processo de ITU e o posterior tratamento com a antibioticoterapia, inicia-se o processo de investigação, para evitar as provavéis recidivas. A investigação radiológica tem como base descartar malformações do trato urinário que possam implicar em piores desfechos no futuro Ultrassonografia dos rins, da bexiga e de vias urinárias Deve ser realizado em todas as crianças com ITU confirmada, com o intuito de detectar malformações. Lembrar que este exame apresenta baixa sensibilidade para diagnóstico de refluxo vesicoureteral e o resultado depende da expertise do operador; Infecção do Trato Urinário ITU 9 Uretrocistografia miccional Na última década, as indicações para realização da uretrocistografia miccional após uma UTI inicial, mudaram drasticamente, com muito menos crianças realizando tal exame. A razão para isso é que menos de um terço das crianças com sua primeira ITU têm refluxo vesicoureteral RVU, e dessas, menos de 10% têm RVU grave (grau IV e V. Assim, a UCM deve ser considerada após a primeira ITU em crianças que apresentam disfunção miccional, patógeno atípico, cicatriz renal, pacientes com história familiar de RVU ou malformações do trato urinário, ou quadros de infecção urinária de repetição. A SBP sugere realizar UCM naqueles pacientes que apresentam USG de rins e vias urinárias e/ou cintilografia com DMSA alterada e/ou quadros recorrentes de ITU; Infecção do Trato Urinário ITU 10 Cintilografia renal estática DMSA A cintilografia renal estática com DMSA (ácido dimercaptosuccínico marcado com tecnécio-99m, ou 99mTc-DMSA é um exame de imagem da medicina nuclear usado para avaliar a função e estrutura dos rins É o padrão ouro atual para avaliação de cicatriz do parênquima renal em criança com história de ITU febril. A SBP sugere realizar o exame em todos os lactentes com ITU febril, crianças que apresentaram quadro clínico de pielonefrite Avalia se há filtração glomerular (fase glomerular do contraste), indicando se o rim ainda está funcional, e também o quanto ele está excretando (fase de excreção do contraste) Refluxo vesicoureteral Válvula da uretra posterior Imagem de um “piãoˮ Infecção do Trato Urinário ITU 11 Estudo renal dinâmico com DTPA indicado quando há suspeita de patologia obstrutiva com retardo importante do fluxo urinário. Quimioprofilaxia Indicação reservada para situações específicas Alterações na ultrassonografia (antenatal ou atual), ITU com RVU graus IV ou V, Uropatias obstrutivas, ITU recorrentes Conduzindo e conhecendo a ITU Orientação familiar Controle clínico laboratorial periódico Tratar constipação intestinal Diagnosticar e tratar distúrbios miccionais Tratar vulvovaginite, balanopostite e oxiuríase A criança, suas eliminações e a ITU Síndrome das Eliminações Disfunção do Trato Urinário inferior DTUI Incontinência Urinária Diurna e/ou Noturna Essa região esmaecida refere-se a uma cicatriz Infecção do Trato Urinário ITU 12 Problemas funcionais do TGIConstipação Conclusão: Necessidade de tratamento precoce e completo Seguimento a longo prazo Possibilidade de infecção recorrente e importância da vigilância e contato imediato com o médico Reconhecer os sintomas rapidamente Coleta adequada de urina, armazenamento e testes Individualização do seguimento de acordo com as características da criança e da família Infecção do Trato Urinário ITU 13