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Linguagem Aula 2 Bárbara Matos CONCEITOS – LINGUAGEM → FUNÇÃO CORTICAL SUPERIOR Processo de simbolização → atribuição de símbolos; um código construído culturalmente e repassado através da comunicação; transmissão de ideias; Transmissão de pensamentos Acumulação de conhecimento O QUE É LINGUAGEM? Consiste em símbolos que contém significados, mais regras para combinar esses símbolos, que podem ser usados para gerar uma infinita variedade de mensagens. Exemplos de linguagem: língua de sinais, expressões faciais, alfabeto... SIGNOS (SEGUNDO SAUSSURE) Linguagem é um sistema de signos Teoria do valor: um signo só tem seu valor na medida que não é outro. São a base da comunicação, unidade portadora de sentido Trata-se de um sinal que ocupa o lugar de qualquer coisa que é conhecida pela experiência Aquilo que representa algo diferente de si. Por exemplo: a letra A é um monte de riscos, nós atribuímos significado a esses riscos. Uma pessoa que não conhece esse significado, só vê um conjunto de traços e não a letra “A” Existem dois componentes do signo: Significante: essencialmente sonoro, parte material (som, letras, imagem) Significado: parte abstrata, conceito, representação mental (ideias) LINGUAGEM Integrada ao funcionamento cognitivo É produto da história evolutiva da espécie Aumenta a capacidade de: 1. Comunicação 2. Troca de informações 3. Compartilhamento de experiências privadas (opiniões, crenças, desejos e valores) Existem produtos cognitivos não linguísticos. Ex: falar de sentimentos Falha no processo de reconhecimento dos pais gera patologias. Ex: autismo FATORES PSICOSSOCIAIS E AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM Qualidade dos estímulos: Condições da comunidade verbal. Relações existentes entre a criança e seus familiares geram desenvolvimento melhor da linguagem Quantidade de estímulos: Crianças criadas com muitos adultos e outras crianças → quanto mais pessoas se comunicando com a criança, melhor; Diversidade de estímulos de comunicação. Fatores de risco: geram atraso e embotamento afetivo Privação econômica Ausência de estimulação ambiental e social Linguagem Aula 2 Bárbara Matos DIFERENÇAS INDIVIDUAIS E DE GRUPO Diferenças na taxa Grande variabilidade linguística em relação à quando a criança fala a primeira palavra O tamanho do vocabulário aos 2 anos varia de 10 palavras a centenas Mais da metade das crianças que começam a falar mais tarde emparelham com as outras. As que não emparelham: Tem linguagem receptiva pobre → entendem com dificuldade Podem estar atrasadas no desenvolvimento cognitivo DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM Basicamente: Chomsky → temos um dispositivo interno que nos permite desenvolver a linguagem e em contato com o meio esse dispositivo “se ativa”. Ele levou à proposição bastante aceita atualmente de que, embora existam muitas línguas, a linguagem humana é universal, isto é, existem características universais comuns a todos os idiomas, que seriam derivadas da capacidade biológica inata do cérebro humano. Skinner → A linguagem é adquirida e é produto da interação com os pais. Os pais dão reforços como sorrisos e comemorações das primeiras palavras da criança e isso estimula o desenvolvimento da linguagem. Linguagem Aula 2 Bárbara Matos Trata-se de teorias contrárias, mas sabe-se que é um pouco das duas. Teoria nova: Neurônios espelhos → Interesse em reproduzir comportamentos ao redor. Exemplo: uma criança vê pessoas falando e assim ela se interessa em aprender a falar. Esses neurônios existem em várias partes do cérebro. Piaget → a linguagem se desenvolve a partir de processos cognitivos por assimilação e acomodação. Vygotsky → Estímulos do meio promovem um processo de ressignificação interno. ABORDAGEM SOCIOHISTÓRICA De acordo com Luria: Cérebro: “Sistema Funcional Complexo”. Sistema dinâmico, plástico, produto de evolução sócio histórica e da experiência social do indivíduo, internalizada, sedimentada no cérebro Enfatiza a natureza subjetiva e social desse funcionamento → O cérebro é um órgão moldado pelas experiências externas que, por sua vez, transformam o funcionamento cognitivo. Respaldo em Vygotsky – “organização extracortical” → relativo à influência que as atividades sociais e intersubjetivas desempenham na organização neuronal e neurofuncional do cérebro Método dialético de Luria: a natureza exerce ações sobre o homem e influencia seu comportamento e desenvolvimento, mas o homem também é capaz de agir sobre a natureza e modificá-la. As funções superiores ocorrem por meio da participação de grupos de estruturas cerebrais operando em conjunto, cada uma concorrendo com a sua própria contribuição para a organização desse sistema funcional → Lesões cerebrais podem ocasionar uma desorganização do sistema. O trabalho conjunto de todas as áreas possibilita rearranjos neurofuncionais em caso de desorganização do sistema, buscando o restabelecimento ou a reorganização das funções comprometidas (princípio da solidariedade) → Base para a plasticidade neuronal. Linguagem Aula 2 Bárbara Matos NEUROANATOMIA DA LINGUAGEM Lateralização da linguagem 99% dos indivíduos destros → hemisfério esq. 60 – 70% dos indivíduos canhotos → hemisfério direito Hemisfério esquerdo Áreas perissilvianas (compreensão, expressão da linguagem) Hemisfério direito Leitura de mapas, relação espacial e formas geométricas complexas Reconhecimento do tom emocional da voz Prosódia NATUREZA SOCIOHISTÓRICA DO SER HUMANO O homem não só se adapta ao ambiente em que vive mas precisa dele para se constituir. Através da relação com o ambiente, o indivíduo se transforma em sujeito. A condição humana não passa de uma matéria prima flexível que só adquire uma forma através da cultura. Isto implica em uma diferença dos homens no espaço e no tempo, o onde e o quando eles se transformam de acordo com a sociedade; Cultura: Conjunto de saberes, fazeres, regras, normas, proibições, estratégias, crenças, ideias, valores e mitos, que se transmite de geração em geração, reproduzem-se em cada indivíduo, controlam a existência da relação psicossocial entre os homens. Não há sociedade desprovida de cultura (Morin, 2000). Os instintos não estão inseridos na definição de cultura, pois são uma herança puramente biológica Seres humanos apresentam um modelo de transmissão cultural singular. Transmissões e artefatos culturais acumulam modificações ao longo do tempo. Não ocorre em outras espécies. Seres humanos são capazes de combinar os seus recursos cognitivos de uma maneira não encontrada em outras espécies. Constituição de uma ordem simbólica de comunicação e compartilhamento de sentidos diante do mundo. Importância da dimensão semiótica. → estudo dos signos Selvagem: nasce, cresce e vive sem cultura, sem cuidados especiais. Ou se desenvolve de forma indisciplinada ou sem controle, sem regras, sem orientação prévia. Bárbara Riscado Bárbara Máquina de escrever Bárbara Máquina de escrever esquerdo Bárbara Máquina de escrever Bárbara Máquina de escrever Bárbara Máquina de escrever Bárbara Máquina de escrever Bárbara Máquina de escrever Bárbara Máquina de escrever Bárbara Máquina de escrever Bárbara Máquina de escrever Bárbara Máquina de escrever Bárbara Máquina de escrever Bárbara Máquina de escreverLinguagem Aula 2 Bárbara Matos Crianças selvagens teceram teias de significado diferentes daquela rede simbólica da sociedade (não utilizam os mesmos signos) Para aquisição de linguagem deve haver um sistema coletivo de significados (cultura). Crianças selvagens não tiveram a oportunidade de interagir com outros seres humanos no espaço constituinte da cultura (privação cultural). É possível educar a criança → Teoria de um período sensível para o desenvolvimento. Privação sociocultural, pode levar a um déficit no desenvolvimento da linguagem (sistema simbólico), levando a um déficit cognitivo (Vygotsky, 1991). Entretanto, são necessários estudos que levem em conta outros fatores, como o local e a extensão da lesão, a etiologia, etc. O meio ambiente e as interações influenciam diretamente a organização cerebral. A plasticidade cerebral está longe de reduzir-se a fatores meramente neurofisiológicos e bioquímicos; LINGUAGEM E PENSAMENTO Raízes genéticas diferentes Desenvolvem-se ao longo de trajetórias diferentes e independentes Na filogênese: NATUREZA SOCIOHISTÓRICA DO SER HUMANO Hiperatividade, impulsividade, desorganização, egocentrismo são termos que aparecem na literatura, geralmente aplicados à criança surda. Portanto, a aquisição da linguagem tem um papel significativo também na socialização da emoção da criança. O atraso de linguagem pode impedir o desenvolvimento da habilidade planejadora que está associada à função do córtex frontal (maturação “social”) (Santana, 2004). Um cérebro maduro não implica ausência de plasticidade cerebral. A plasticidade e a reorganização cognitiva continuam além da infância. Linguagem Aula 2 Bárbara Matos LINGUAGEM (Ítalo) A fala para ser emitida ou compreendida depende da consulta a sofisticados dicionários mentais, os léxicons, em busca do som dos fonemas, das sílabas e das palavras, da organização gramatical que lhes confere sentido, e do seu conteúdo final. Além disso, um conjunto de modulações de voz, mímica facial e gestos corporais dá colorido afetivo à fala humana. Os homens se comunicam de várias maneiras, utilizando todos os sistemas sensoriais para perceber e interpretar os sinais que o sistema motor (de outro) produz. A comunicação humana, e dos animais, tem sempre dois lados: um que emite, outro que recebe. Linguagem → sistemas de comunicação com regras definidas que devem ser empregadas por um emissor para que a mensagem possa ser compreendida pelo receptor. Quando a expressão é oral ou vocal (fala), a compreensão ocorre principalmente pelo sistema auditivo; Quando a expressão é gestual, a compreensão é realizada pelo sistema visual. Da mesma forma, quando a expressão é escrita, é o sistema visual que possibilita a leitura. Quando a escrita é Braille, a compreensão é realizada pelo sistema somestésico. LÉXICON SEMÂNTICO Pode constar de 50 mil palavras e expressões idiomáticas. Os mecanismos de consulta a esse dicionário mental permitem o reconhecimento e a produção de até três palavras por segundo, ou seja, quase 200 palavras por minuto. Para falar, o indivíduo consulta o léxicon em busca de informações semânticas, sintáticas e fonológicas necessárias à expressão verbal de seus pensamentos. Como o léxicon estaria organizado no cérebro? Não seria em ordem alfabética Primeiro, porque essa ordem é arbitrária, de natureza cultural. Linguagem Aula 2 Bárbara Matos Segundo, porque seria mais difícil encontrar e emitir palavras iniciadas por letras do meio do alfabeto (J, L, M etc.) Terceiro, porque é mais fácil compreender e emitir as palavras que usamos frequentemente. As palavras que não usamos podem ser esquecidas (excluídas do dicionário...) O conteúdo do léxicon é flexível e dinâmico → depende do uso. ORGANIZAÇÃO DO LÉXICON Hipótese: Pode ser organizado segundo redes semânticas, de acordo com categorias de significado semelhante. Quando nos escapa uma palavra (ex: caminhão), ao buscá-la na memória lembramos mais facilmente de carro, semanticamente próxima, do que de cereja, que nada tem a ver com ela. Pacientes portadores de lesões cerebrais localizadas que apresentam distúrbios da linguagem cometem erros de compreensão e de expressão relacionados com o significado das palavras ou conceitos que querem emitir ou compreender (parafasias semânticas). Ex: Ao ver um cavalo dizem boi (ambos são animais de porte e aspecto semelhante); ou dizem bicho (categoria genérica a que pertencem os cavalos). As redes semânticas reúnem categorias específicas: animais, instrumentos, pessoas, cores, plantas etc. Em um estudo reunindo pacientes com distúrbios linguísticos, os erros semânticos referentes a pessoas foram típicos de pacientes com lesões rostrais do lobo temporal esquerdo; os erros relativos a animais eram mais comuns em doentes com lesões intermediárias no córtex inferotemporal; e os enganos sobre instrumentos e objetos em geral ocorriam quando se tratava de lesões caudais do lobo temporal. Obs.: rostral → em direção ao rosto ÁREAS CEREBRAIS DA LINGUAGEM Existem várias áreas ativas em torno do sulco lateral de Sylvius (regiões perissilvianas) do hemisfério esquerdo, envolvendo o córtex parietal inferior, os giros angulares e supramarginal da região que fica entre o lobo parietal e o lobo occipital, o córtex frontal lateral inferior, o córtex temporal superior, e também a região de representação da face em M1 (área motora primária). A linguagem está na região perissilvianas do hemisfério esquerdo (o direito é ativado em menor intensidade). O lado direito está mais relacionado à prosódia (emoção da linguagem). Linguagem Aula 2 Bárbara Matos O processamento fonológico se mostra lateralizado à esquerda em homens, mas bilateral nas mulheres → diferentes estratégias de busca do léxicon fonológico empregadas pelas mulheres, em comparação com os homens. SISTEMA LINGUÍSTICO HUMANO A construção das frases começa com a fase de conceitualização (1ª etapa), que ocorre quando planejamos o conteúdo da mensagem, uma ação mental conhecida como macroplanejamento da fala. Áreas conceitualizadoras: macroplanejamento do conteúdo da fala e a compreensão do que é ouvido → busca dos léxicons semânticos para encontrar os conceitos apropriados que desejamos veicular. → áreas desconhecidas 2ª etapa: busca da forma da mensagem (formulação) → busca de fonemas, palavras e regras sintáticas (microplanejamento) e associação destas. Áreas formuladoras: microplanejamento com associação das letras em palavras e estas em frases → Área de Broca. 3ª etapa: emissão da fala → planejamento da sequência de movimentos necessários à emissão da voz, e finalmente o envio de comandos a partir de Ml para os núcleos motores do tronco encefálico, que por sua vez comandam a musculatura facial, a língua, as cordas vocais na laringe, a faringe e também os músculos respiratórios. Áreas articuladoras: comandam os movimentos necessários à fala → M1, núcleos do tronco cerebral. Outras regiões corticais envolvidas: crita; COMPREENSÃO Para compreender o que se ouviu será preciso proceder passo a passo, quase no sentido inverso ao da emissão da fala: Identificação fonológica → identificação léxica → compreensão sintática → compreensão semântica. Obs.: Área 8 → responsável pelos movimentos oculares Polo temporal → responsável pela tentativa de entendimento Área de broca (frontal interior) → Planejamentoda resposta Temporal inferior (Wernicke) → compreensão da fala Bárbara Riscado Bárbara Máquina de escrever superior Bárbara Máquina de escrever Bárbara Máquina de escrever Bárbara Máquina de escrever Linguagem Aula 2 Bárbara Matos Observação 2: Como o estudo é francês, esse idioma é o considerado “entendível”, por isso, a listagem de palavras em francês ativa também a área de Broca. No entanto, as histórias em tâmil (língua estrangeira e “inentendível”) ativa apenas a área temporal. PROSÓDIA São as inflexões de voz, a mímica facial e os gestos das mãos e do corpo enquanto falamos. Permite que o emissor e o receptor diferenciem uma afirmação de uma interrogação e de uma exclamação. Na escrita as palavras são separadas por espaços. Na fala as palavras são separadas por inflexões e entonações características da voz → frequentemente não há pausas entre as palavras. São essas nuances de tons de voz, acompanhadas de gestos e expressões faciais, que dão a coloração emocional da fala. Pacientes com lesões do hemisfério direito apresentam o sintoma conhecido como aprosódia (ausência de prosódia). Esses pacientes, quando a lesão é rostral, não conseguem modular a fala convenientemente, e ela emerge monótona, sem modulações. Quando a lesão atinge regiões mais posteriores do hemisfério direito, os pacientes tornam-se incapazes de compreender as modulações prosódicas de alguém que lhes fala. Disprosódia → não ocorre essa variação de nuances. O paciente fala da mesma forma diferentes notícias. Por exemplo: a entonação atribuída à uma notícia alegre é a mesma de uma notícia triste. Afasia de prosódia → o indivíduo não consegue interpretar/identificar entonações MODELO DE PROCESSAMENTO NEURAL DA LINGUAGEM Se a expressão da fala é função da área de Broca, e se a compreensão é função da área de Wernicke, então ambas devem estar conectadas para que os indivíduos possam compreender o que eles mesmos falam e responder ao que os outros lhes falam. Existem conexões entre essas duas áreas linguísticas através de um feixe de fibras imerso na substância branca cortical chamado feixe arqueado. A lesão desse feixe deveria provocar uma afasia de condução, na qual os pacientes seriam capazes de falar espontaneamente, embora cometessem erros de repetição e de resposta a comandos verbais. Linguagem Aula 2 Bárbara Matos MODELO DE WERNICKE O modelo neurolinguístico de Wernicke considerava que a área de Broca conteria os programas motores da fala, ou seja, as memórias dos movimentos necessários para expressar os fonemas, compô-los em palavras, e estas, cm frases. A área de Wernicke, por outro lado, conteria as memórias dos sons que compõem as palavras, possibilitando a compreensão. Bastaria que esta área fosse conectada com a primeira para que o indivíduo pudesse associar a compreensão das palavras ouvidas com a sua própria fala. A ideia inicial de que a área de Wernicke conteria as memórias dos sons para a compreensão do significado das palavras e das frases teve que ser corrigida quando se observou que os pacientes com lesões bem restritas à porção posterior do giro temporal superior (a área de Wernicke stricto sensu) apresentavam na verdade uma surdez linguística, e não uma verdadeira afasia de compreensão. → eram incapazes de identificar os sons verbais como palavras, e por isso não conseguiam repeti-las. Mas quando testados se as compreendiam (apontando as figuras), eram capazes de fazê-lo. Logo: Área de Wernicke → identificação das palavras como símbolos linguísticos (não como sons quaisquer). O modelo de Wernicke ainda será expandido já que a linguagem é o modo de expressão e de compreensão do pensamento, o que exige que as áreas linguísticas interajam com todas as demais áreas cerebrais. Um exemplo desse conceito conexionista da neuroanatomia da linguagem é a prosódia. Para emitir uma fala que contém os elementos afetivos da prosódia, as áreas linguísticas do hemisfério esquerdo precisam buscá-los nas áreas correspondentes do hemisfério direito, e isso se dá através das comissuras cerebrais. O modelo deve adicionar, assim, um circuito inter- hemisférico. A Figura 19.15 apresenta uma amostra dos dados obtidos por Posner e seus colaboradores, com indivíduos solicitados a ler uma palavra e descrever a sua função por meio de um verbo. O córtex cingulado anterior é o primeiro a ser ativado, seguindo-se a área de Broca e depois a área de Wernicke. O experimento, assim, permite atribuir uma sequência temporal ao Linguagem Aula 2 Bárbara Matos processamento linguístico realizado nas diversas áreas cerebrais, o que levou Posner a propor um modelo de processamento para a leitura. De acordo com Posner, menos de 100 ms após a fixação ocular da palavra escrita ocorre a ativação da área visual primária (V1). Entre 100 e 200 ms ocorrem a identificação da forma dos grafemas e das palavras no córtex associativo visual, bem como a focalização da atenção para as computações subsequentes (córtex cingulado anterior). O envolvimento do setor mais anterior da área de Broca pode revelar a realização de uma análise sintática do que foi lido (substantivo ou verbo?), e subsequentemente o início da elaboração do programa motor para a vocalização da palavra lida (no setor posterior da área de Broca). Entre 200 e 300 ms após afixação ocorreria a interpretação semântica e fonológica da palavra (na área de Wernicke), e logo a seguir os olhos se movem em nova sacada para a palavra seguinte. O sentido da frase só é compreendido depois. (Abaixo, imagem que ilustra esse processamento) RESUMO ARTIGO – Idade crítica para aquisição da linguagem A teoria do período crítico para aquisição da linguagem baseia-se no desenvolvimento neurológico e na importância do input para a aquisição da linguagem. Enquanto o sistema neurológico está imaturo, a natureza do input determinará o seu desenvolvimento. Mas se a maturidade já foi alcançada, é improvável que o sistema possa ser modificado por influências ambientais. Linguagem Aula 2 Bárbara Matos A maturação faz parte do desenvolvimento biológico do indivíduo e se realiza por etapas, atingindo sua evolução máxima na idade adulta. Como a maturação atinge seu ápice após os doze anos, a linguagem e a cognição também teriam uma etapa de desenvolvimento máximo, haveria um início, um meio e um fim, até alcançar “platô”. Por isso, se a criança não recebe o input linguístico do meio, perde a capacidade de adquirir linguagem, já que seu cérebro já está maduro e sua maturação se deu sem o estímulo linguístico. Argumentos para formulação da hipótese: 1) Dificuldade de aquisição de linguagem em indivíduos privados da experiência linguística e interacional. 2) Diferença de prognóstico da afasia em crianças e adultos. O tipo de alteração linguística apresentada e a rapidez na melhora dos sintomas seriam as bases desse argumento. 3) Diferenças linguísticas (o sotaque, por exemplo) na aquisição de uma segunda língua por crianças e adultos. 4) Dificuldade de aquisição da linguagem em crianças surdas congênitas expostas à língua de sinais depois da puberdade. Alguns autores afirmam que essas crianças não têm a mesma proficiência na língua de sinais que um falante nativo. O isolamento social pode fazer com que as crianças jamais aprendam a falar “normalmente” → déficit decompetência linguística, em particular da sintaxe, para adquirir a linguagem após a infância. Obs.: O déficit linguístico de crianças com privação social se assemelha a adultos submetidos a uma operação cirúrgica com ablação do hemisfério esquerdo. Esses indivíduos poderiam recuperar a linguagem através do hemisfério direito, que acabaria por incumbir-se das funções visuoespaciais passadas e das novas funções verbais. O hemisfério direito perderia, contudo, suas características específicas, relativas ao controle de aspectos emotivos, afetivos da linguagem. Para Lanneberg, a linguagem não pode se desenvolver até um certo nível de maturação física cerebral, e isso ocorreria principalmente entre as idades de dois e três anos, quando há uma interação entre a maturação e a aprendizagem autoprogramada. Após esse período, haveria uma diminuição progressiva dessa capacidade, que se extinguiria na puberdade. Segundo Barbizet e Duizabo, a maturação cerebral que a criança atinge logo após o nascimento não serve de nada sem a intervenção de fatores adquiridos, vindos do ambiente social sob a forma de estímulos que atingem seus órgãos sensoriais. A criança adquire conhecimento por meio de contatos com a mãe e familiares. O fator crucial para o desenvolvimento linguístico das crianças não é primariamente o canal sensóriomotor, e, sim, a abundância e a riqueza do input acessível e disponível para a criança durante toda a sua infância O atraso de linguagem pode impedir o desenvolvimento da habilidade planejadora que está associada à função do córtex frontal. Em outras palavras, a comunicação é o “catalisador” da maturação “social”. O desenvolvimento da maturação é atrasado em consequência do atraso de desenvolvimento da linguagem. Há “evidências” que questionam essa teoria do período crítico para desenvolvimento da linguagem: os surdos que aprendem língua de sinais em idade adulta, os adultos que aprendem uma segunda língua em sua forma sem sotaque, a evolução das afasias em adultos (aprendem a falar...), as dificuldades de evolução em crianças afásicas (algumas não aprendem a falar...), a plasticidade audiológica, etc.
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