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CAPÍTULO VIII O Estado Brasileiro e o Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos A meta do estudo desenvolvido é avaliar a relação do Estado Brasileiro com o Direito Internacional dos Direitos Humanos, através da contribuição que este último pode oferecer vindo a reforçar a proteção sistemática dos direitos no país. Esse encontro interessa ao exame da forma pela qual a União se abre à ordem internacional, sendo analisados instrumentos que são incorporados pela ordem interna bem como a sua repercussão. - A agenda internacional do Brasil a partir da democratização e a afirmação dos Direitos Humanos como tema global É perceptível a partir de 1985, quando iniciou o processo de democratização (mais tarde culminando como marco jurídico referencial a CF/88), que o Brasil sofreu transformações em sua agenda internacional, contribuindo para a reinserção do mesmo no contexto global de direitos humanos, com a presença de valores democráticos em debates nacionais, que deram fim ao ciclo do autoritarismo que o país enfrentou anteriormente. No transcorrer do processo de democratização, o Brasil passou a aderir a importantes instrumentos internacionais de direitos humanos. O fim da Guerra Fria contribuiu consideravelmente para essa ideia, pois a partir dela, os direitos humanos passaram a ser considerados como tema global, trazendo esperança ao persuadir os governos a fortalecer seu comprometimento para com os parâmetros da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aderindo a Pactos ou Convenções até então recusados, e a abandonar reservas que esvaziavam o conteúdo dos instrumentos ratificados, na avaliação de Louis Henkin. Se o fim da Segunda Guerra Mundial significou a primeira revolução no processo, o fim da Guerra Fria significou a segunda revolução no processo de internacionalização dos direitos humanos. A Declaração de Viena recomendou como prioridade à adoção de medidas tanto nacionais como internacionais de estímulo a promoção da democracia, do desenvolvimento e dos direitos humanos, sendo ela o primeiro documento das Nações Unidas a endossar expressamente a democracia como forma de governo mais favorável a respeito dos Direitos Humanos e liberdades individuais. - O Brasil e os tratados internacionais de direitos humanos Desde a CF/88, o Brasil adotou importantes tratados internacionais voltados à proteção dos Direitos Humanos, a saber: a) Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1989); b) Convenção sobre os Direitos da Criança (1990); c) Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1992); d) Protocolo à Convenção Americana referente a abolição da Pena de Morte (1996); e)Convenção Interamericana para Eliminação de todas as formas de Descriminalização contra Pessoas Portadoras de Deficiência (2001); Outro importante fator foi a necessidade da União em reorganizar sua agenda internacional no processo de democratização, assegurando uma imagem mais positiva, respeitadora e garantidora dos direitos humanos para o país no contexto internacional. A reinserção do Brasil na sistemática dos direitos humanos redimensionou o próprio alcance do termo “cidadania”, uma vez que os indivíduos passam a ser titulares de direitos internacionais, assumindo o país, em face da interação entre o Direito Internacional e o Direito Interno, a obrigação de manter e desenvolver o Estado Democrático de Direito. Em 1992, ao aderir à Convenção Americana e a dois pactos de Direitos Humanos das Nações Unidas, definitivamente o Estado Brasileiro passou a integrar o sistema de proteção integral de Direitos Humanos. - Pela plena vigência dos tratados internacionais de direitos humanos: a revisão de reservas e declarações restritivas, a reavaliação da posição do Brasil quanto a cláusulas e procedimentos facultativos e outras medidas Para haver a plena vigência dos direitos humanos, é necessário a adoção de providências adicionais pela União. A Declaração de Viena, de 1993, §26, aconselha os Estados a evitar formulação de reservas aos instrumentos de proteção dos Direitos Humanos. O Programa de Ação de Viena, §5º, recomenda aos Estados que limitem o alcance de quaisquer reservas. Ainda, cabe a União rever declarações restringindo o alcance de mecanismos que constem nos tratados de direitos humanos, como por exemplo, a Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a Mulher, em que o Brasil declarou não estar vinculado ao art. 29 da Convenção, evitando a competência jurisdicional da Internacional de Justiça para a solução do conflito. É preciso reavaliar também o posicionamento do Brasil a cláusulas e procedimentos facultativos dos D.H., no qual o Programa de Ação de Viena, §90, recomenda aos Estados-membros a aceitarem todos os procedimentos facultativos para apresentação e exame de comunicações. -Procedimentos Facultativos que o Brasil ratificou: 1)Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de discriminação contra a Mulher(2002); 2)Cláusula facultativa das petições individuais, art. 14, Discriminação Racial(2002); 3)Cláusula facultativa das petições individuais, art 22, Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes; O Estado deve ainda encaminhar relatórios concernentes às medidas legislativas, administrativas e judiciárias adotadas, atendendo as obrigações internacionais dela decorrentes. Outros avanços significativos que o país adquiriu ao longo do processo de democratização para a proteção dos Direitos Humanos: -Reconhecimento quanto a competência jurisdicional da Corte Interamericana de Direitos Humanos (1998) -Aceitação de competência do Tribunal Internacional Penal, Estatuto de Roma em 1998(reconhecido em 2002) -Lei Maria da Penha nº11. 340 (2006) A autora finaliza o capitulo afirmando que não bastasse os avanços que o Brasil adquiriu ao longo da democratização para a proteção do Direitos Humanos, resta saber quanto a eficácia do pleno e total comprometimento que o Estado brasileiro no futuro irá se ater a causa destes. A ADVOCACIA DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS: CASOS CONTRA O ESTADO BRASILEIRO PERANTE O SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS Neste subtítulo, conta a autora que, no ano de 1998, o Brasil reconhece a competência jurisdicional da Corte Interamericano de Direitos Humanos, corte esta que surgiu com o intuito de analisar comunicações ou petições individuais que venham denunciar violação a direito internacionalmente assegurado. Desde o referido reconhecimento por parte do Brasil, tem-se a notícia de que vários casos foram encaminhados à Corte contra o Estado brasileiro. Cabe ressaltar que desses casos, três (até o ano de 2008), envolveram medidas provisórias. Dentre eles, destaca-se o famoso caso Damião Ximenes Lopes, portador de deficiência mental que foi vítima de maus-tratos em clínica psiquiátrica no Ceará, onde a Corte condenou o Brasil pela violação aos direitos à vida, à integridade física e à proteção judicial, já que a vítima faleceu três dias após a sua internação. O Brasil, em cumprimento à decisão, publicou a sentença da Corte no Diário Oficial da União e assegurou o pagamento de indenização aos familiares da vítima. Explica a autora que, ao ratificar a Convenção Americana, “o Estado signatário aceita automaticamente a competência da Comissão Interamericana para examinar denúncia de violação de preceito constante na Convenção, dispensando-se qualquer declaração expressa por parte do Estado”. No tocante à responsabilidade pelas violações de direitos humanos, de acordo com o Direito Internacional é da União, uma vez que possui personalidade jurídica na ordem internacional. Cabe ressaltarque os princípios federativos da separação de poderes, por exemplo, não podem ser invocados para que seja afastada a responsabilidade da União em face das obrigações contraídas em âmbito internacional. No que tange a federalização das violações de direitos humanos, já havia a previsão desde 1996 como meta do Programa Nacional de Direitos Humanos, porém, na data de oito de dezembro do ano de 2004 é que houve a introdução através da Emenda Constitucional n.45. Ante o exposto, passa-se à análise dos casos contra o Estado brasileiro perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, durante o período de 1970 a 2004, alguns já findos, outros, entretanto, ainda pendentes (processados em regime confidencial). Separados pela autora pela natureza do direito violado, são os que seguem: 1. CASOS DE DETENÇÃO ARBITRÁRIA, TORTURA E ASSASSINATO COMETIDOS DURANTE O REGIME AUTORITÁRIO MILITAR Dos casos analisados, dez deles foram cometidos durante o regime militar autoritário, de 1970 a 1974, com exceção do caso da Guerrilha do Araguaia, que foi encaminhado em 1997. Todas essas ações são fundamentadas na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, uma vez que o Brasil, nessa época, não era signatário da Convenção Americana. A Comissão teve o conhecimento da violação cometida pelo Estado brasileiro, dos direitos à vida, à liberdade, à segurança, ao devido processo legal e à proteção contra a detenção arbitrária, previstos nos arts. I, XXV e XXVI da Declaração Americana. Desses casos dessa natureza inferidos, cabe destaque o Caso 1684. Neste, três comunicações foram enviadas ao conhecimento da Comissão, que apreciou, em 1970, denunciando a prática de detenção ilegal e tortura nos anos de 1969 e 1970. A primeira comunicação feita (25 de julho de 1970) denunciou o assassinato de um padre no Recife (as vítimas das violações perpetradas eram lideranças da Igreja Católica, líderes de trabalhadores, estudantes, professores universitários, advogados, economistas...), a segunda, ocorrida na mesma data, denunciou a tortura de sete pessoas na cidade de Belo Horizonte e, a terceira (25 de julho do mesmo ano), alegou existir, em média, 12.000 presos políticos no País. Pediam as comunicações, uma investigação cautelosa dos fatos das práticas delituosas. Nos votos, conforme mostra a autora, a Comissão Interamericana aprovou a seguinte resolução: “as provas coletadas nestes casos levam à forte presunção de que no Brasil há sérios casos de tortura, abuso e tratamento cruel de pessoas de ambos os sexos, que foram privadas de sua liberdade”. Explica a autora que a resposta do Brasil à Comissão, limitou-se a considerar que “as bases da presunção da violação dos direitos humanos no País eram insuficientes e frágeis, não apresentando consistência. Acrescentou que a Comissão, de acordo com o art. 50 da Convenção, deveria atuar com discrição no procedimento de coleta de informações necessárias para o exame da de núncia oferecida e que a possibilidade de realizar a observação in loco das denúncias, por parte da Comissão, deveria ser considerada medida excepcional, por ser mais custosa e depender do consentimento do Governo referido.” A Comissão Interamericana, então, resolveu publicar em seu relatório anual recomendações ao Governo brasileiro, mostrando as provas das denúncias e adicionou que o Governo brasileiro se recusou a adotar as medidas recomendadas pela Comissão. Importante ressaltar que a resolução foi aprovada durante a 31ª Sessão da Comissão Interamericana, sendo comunicada ao Brasil no dia 8 de janeiro de 1974. A referida autora mostra outros casos ocorridos da mesma natureza, obtendo o mesmo resultado por parte da Comissão e por parte do Governo brasileiro e ainda ilustra que, em 1977, o caso da “guerrilha do Arguaia”, referente ao desaparecimento de mais de vinte integrantes na década de 70, em que os familiares ainda tentam, sem sucesso algum, obter informações sobre o desaparecimento das vítimas. 2. CASOS DE VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS Destaca-se o caso 7615, relativo à violação dos direitos dos povos indígenas, principalmente da comunidade Yanomami, na década de 80, que por sua vez se distingue sobre os demais, uma vez que foi o primeiro caso submetido por organizações não governamentais de âmbito internacional contra o Governo brasileiro. Entidades denunciaram à Comissão Interamericana alegando que os direitos dessas populações à vida, à liberdade, à segurança, à igualdade perante a lei, à saúde e bem estar, à educação, ao reconhecimento da personalidade jurídica e à propriedade não haviam sendo respeitadas pelo Governo brasileiro, ou seja, o Estado brasileiro descumpria obrigações decorrentes da Declaração Americana em seus arts. I, II, XI, XII, XVII e XXIII. Conta a autora que na década de 60 foi aprovado um plano de exploração das riquezas naturais na área desses grupos indígenas o que proliferou a chegada de garimpeiros, construção de novas estradas, etc. Por pressões, principalmente internacionais, o Brasil em 1982 demarcou o território dos índios Yanomamis. Para os peticionários, os fatos narrados colaboraram para com a violação de direitos fundamentais do povo indígena, já que a devastação deixou sequelas tanto físicas quanto psicológicas, além de doenças e mortes,o que poderia causar até a extinção daquela comunidade. O Brasil respondeu, dessa vez, através das notas n.127, de 13.5.1981, n.316, de 3.11.1981, n.101, de 14.4.1982, e n.38, de 32.2.1985. 3. CASOS DE VIOLÊNCIA RURAL A maioria desses casos encontram-se ainda pendentes para a apreciação da Comissão, que apontam para quatro áreas de preocupação, tais como: execução extrajudicial de crianças e adolescentes pela polícia; abuso em estabelecimentos penitenciários; violência rural e trabalho forçado. Entre os casos narrados, estão os famosos casos do “massacre de Eldourado de Carajás” e o caso “Corumbiara”. Nos casos dessa natureza, alguns foram pelo Governo brasileiro indenizados, outros, a resposta governamental foi inefetiva, senão inexistente, o que para o pensamento dos peticionários pode sugerir até a cumplicidade dos responsáveis com as autoridades policiais locais, por exemplo. 4. CASOS DE VIOLÊNCIA POLICIAL Aqui, narram-se casos ocorridos no Brasil a partir do ano de 1992, portanto, todos fundamentados na Convenção Americana de Direitos Humanos, já que ratificada pelo País no mesmo ano. Parte deles ainda encontram-se pendentes para a apreciação da Comissão Interamericana, ou seja, a autora analisa a denúncia oferecida, uma vez existente o regime de confidencialidade acolhido pela Comissão, conforme já se informou. Em todos os casos, referentes à essa natureza, que foram peticionados, todos fazem referência ao abuso e a violência policial que, por sua vez, implica o assassinato, sem justificativa, de vítimas inocentes e ainda, denunciam a insuficiência de resposta do Estado brasileiro, ou mesmo a inexistência de qualquer resposta, em face da falta de punição dos responsáveis pelas violações cometidas. Informa a autora que em todo esses casos que denunciam a violência cometida pela polícia militar o pedido é o mesmo: a condenação do Estado brasileiro a processar e punir os agentes responsáveis pelas violações cometidas, bem como a indenizar as vítimas das violações nos caso em que isso ainda não tenha ocorrido. A Corte Interamericana decidiu da seguinte forma: “se o aparato do Estado atua de modo a que uma violação permaneça impune, não restaurando, à vítima, a plenitude dos direitos, pode-se afirmar que o Estado está a descumprir o dever de garantir o livre e pleno exercício de direito às pessoas sujeitas à sua jurisdição. Com respeito à obrigação de investigar, deve ser assumida pelo Estado comoum dever jurídico próprio e não como uma simples gestão de interesses particulares, que depende da iniciativa processual da vítima ou de seus familiares, sem que a autoridade pública busque efetivamente a verdade...” 5. Casos de violação dos direitos de crianças e adolescentes: CASO11993: Caso “candelária” onde oito crianças e adolescentes foram encontrados mortos em volta da igreja da Candelária no Rio de Janeiro, em julho de 1993, a petição alega que os autores dessa barbárie são policiais militares. Foi solicitada a Comissão que seja declarada a violação pelo Estado brasileiro do direito à vida e direito de proteção especial e judicial para com a criança, previsão art. 4º, 9º e 25 da Convenção Americana, os peticionários requerem também que os autores desse terrível fato, sejam investigados, processados, punidos e consequentemente aplicadas as sanções necessárias, e mais a indenização aos familiares dessas crianças vitimas. CASO 11702: solicitação de medidas cautelares de proteção dos direitos a vida e integridade física de adolescentes internos em três estabelecimentos no Rio de Janeiro. Alega-se uma violação ao Estatuto da Criança e do Adolescente como: adolescentes não sendo separados por idade, compleição física e gravidade de infração, superlotação, condições desumanas para os mesmos como: espancamentos, maus tratos e violência sexual por parte dos funcionários desses estabelecimentos. CASO 12328: denuncia de tortura e maus tratos sofridos por adolescentes internos no estabelecimento da Febem do complexo Tatuapé em São Paulo, a Comissão Interamericana solicitou adoção de medidas cautelares também. CASO 12426 e 12427: “meninos emasculados do Maranhão”, onde crianças e adolescentes têm sido vitimas de assassinatos, violência, abuso sexual e mais extração de órgãos genitais das vítimas, no Estado do Maranhão. Entre 1991 e 2000 entre nove e catorze anos foram vítimas dessas atrocidades, nesses casos foi alcançada solução como: reconhecimento da responsabilidade internacional do Estado Brasileiro, julgamento e conseqüentes punições, adoção de medidas de reparação, não-repetição e de seguimento. 6. Casos de violência contra a mulher: CASO 11996: Márcia Cristina Rigo Leopoldi, estudante de Arquitetura, foi morta em 10 de março de 1984, em Santos, estrangulada em sua casa pelo ex- namorado, assim condenado a quinze anos de reclusão por decisão do Tribunal do Júri de Santos, teve concessão de habeas corpus, afastada pelo Tribunal de Justiça, mas após isso ele encontra-se foragido, é o primeiro caso contra o Estado Brasileiro que se baseou em dispositivos da Convenção Interamericana para punir, prevenir, afastar a violência contra a mulher. Os peticionários requerem proteção a vida da mulher, colocando isso como dever do Estado e pedem também indenização aos familiares da moça. CASO 12051: violência contra Maria da Penha Maia Fernandes por parte de seu companheiro, com as tentativas de homicídio e agressões constantes provocaram paraplegia irreversível na mesma. O réu foi condenado a quinze anos de prisão mas ainda permanece em liberdade, consequência de muitos recursos do Tribunal do Júri. Em 1998 houve a apresentação do caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos por causa da impunidade e inefetividade do sistema judicial diante da violência contra as mulheres no Brasil, em 2001 a Comissão Interamericana condenou o Estado brasileiro por negligência e omissão em relação a violência doméstica, foi a primeira vez que um caso desse tipo de violência levou a condenação de um pais no âmbito do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos. O cumprimento a essa decisão levou a adoção da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) que coibi e previne a violência doméstica e familiar contra mulher, mais o pagamento de indenização à vítima. CASO 12263: assassinato da estudante Márcia Barbosa de Souza, em João Pessoa no Paraíba, em 18 de junho de 1988, o principal acusado é um deputado estadual, e a chamada imunidade parlamentar permite que ele seja processado judicialmente somente com a prévia licença da Assembléia Legislativa do Estado, pedido indeferido e assim enviado para a Comissão Interamericana, em face da impunidade. CASO 12378: denúncia de discriminação contra mães adotivas e seus respectivos filhos, em face de decisão definitiva pelo STF, que tinha negado o direito à licença gestante à mãe adotiva. 7. Caso de discriminação racial CASO 12001: caso apreciado e em destaque, pois é o único que envolve denúncia de discriminação racial. Trata-se de discriminação racial por vítima que perdeu uma oportunidade de emprego em virtude de ser negra. Os peticionários solicitaram à Comissão Interamericana a responsabilização do Governo brasileiro pela violação do dever de garantir o livre e pleno exercício dos direitos previstos na Convenção Americana sem discriminação nenhuma e pediram junto o pagamento de indenização à vitima pelos danos sofridos, e que sejam tornadas públicas as providências, para prevenir futuras discriminações raciais. A Comissão Interamericana reconheceu a responsabilidade internacional do Estado, nesse contexto determinou: - reparar a vítima tanto pelo dano moral como o material; - Reconhecer publicamente a responsabilidade internacional; - Estabelecer em valor pecuniário a ser pago a vítima a titulo de indenização por danos morais; - Investigação completa para sancionar a responsabilidade concernente à discriminação racial sofrida pela vítima; - reformas legislativas e administrativas; - solicitação de governos estaduais a criação de delegacias especializadas em crimes de racismo; - promover campanhas publicitárias contra o racismo; 8. Casos de violência contra defensores de direitos humanos CASO 12058: brutal assassinato desse defensor de direitos humanos, segundo denuncia ele tinha destacada atuação em defesa das vítimas de violência policial na região, atuava também como assistente do Ministério Público. A Comissão Interamericana encaminhou o caso à corte, e em sentença a mesma decidiu arquivar o expediente por insuficiência de provas. CASO 12397: denúncia de ameaça de morte recebida por histórico defensor de direitos humanos de São Paulo. Outros casos parecidos: CASO 12212 em Minas Gerais, CASO 12213 no Rio de Janeiro, e CASOS 12308 e 12309 na Bahia. d) Análise dos casos – limites e possibilidades da advocacia do Direito Internacional dos Direitos Humanos no Brasil Os 78 casos citados foram admitidos pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos contra o Estado Brasileiro até 2004. A análise do quadro das ações internacionais elucidadas no caso adotará dois períodos distintos na história política brasileira: período do regime repressivo militar ( vigente no Brasil de 1964 a 1985) e o período da transição democrática (a partir de 1985) = novo padrão de conflituosidade. No primeiro período 90% dos casos denunciaram a prática de violência do regime militar no segundo 50% denunciaram violência policial, com isso fica claro que o processo de democratização no Brasil não rompeu absolutamente com as práticas do regime repressivo militar, dessa forma havendo um padrão de violência praticada pela policia onde o Estado não tem o controle = marcas de um continuísmo autoritário. No primeiro período essa violência era direta, por ação do regime militar já no processo de democratização há uma violência indireta, onde não se consolida ação, mas sim omissão do Estado que não é capaz de deter nem seus agentes. Há uma insuficiência, inexistência de resposta por parte do Estado brasileiro e é isso que enseja a denúncia de violações de direitos perante a Comissão Interamericana. As denuncias concentram-se em casos de violações a direitos civis e/ou políticos. As pessoasvítimas no primeiro período eram mais dos setores de classe média, já no segundo período são pessoas mais pobres, as vezes excluídas socialmente e integrantes de grupos vulneráveis. Importante ressaltar que 97% dos casos que integram o período de democratização foram sujeitos à Comissão a partir de 1992 e apartir da ratificação da Convenção Americana de Direitos Humanos pelo Estado Brasileiro, a ratificação da Convenção Americana estimulou e propiciou a propositura de ações internacionais junto à Comissão Interamericana. Os casos submetidos á Comissão Interamericana têm apresentado impacto nas mudanças de legislação e de políticas públicas de direitos humanos com significativos avanços internos como: transferência da Justiça Militar para a Justiça Comum do julgamento de crimes dolosos contra a vida cometidos por policiais militares (Lei 9299/96); Emenda Constitucional n. 35/2001 que restringe o alcance da imunidade parlamentar; Lei “Maria da Penha” n. 11340/2006. O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos oferece estratégias de ação capazes de contribuir para o reforço da promoção dos direitos humanos no Brasil, publicidade de violação de direitos humanos, pressões internacionais para compelir o Estado, fazer ele se desinibir e apresentar justificativas a respeito de sua prática, assim podendo transformar uma prática governamental especifica. Dessa forma, com o grande envolvimento das organizações não governamentais, a partir de articuladas e competentes estratégias os instrumentos internacionais constituem mecanismos para o fortalecimento da proteção dos direitos humanos no âmbito social. O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E A REDEFINIÇÃO DA CIDADANIA NO BRASIL O movimento de internacionalização do Direitos Humanos O direito internacional dos direitos humanos é um movimento recente na história, surgido a partir do pós-guerra num esforço para reconstruir os direitos humanos como referencial ético à nova ordem internacional contemporânea. Desse modo, uma das principais preocupações é converter os direitos humanos em tema de legítimo interesse da comunidade internacional, resultando em processos de universalização e internacionalização desses direitos. A universalização permitiu a formação de um sistema normativo internacional de proteção de direitos humanos, transpondo-se ao direito internacional a evolução já ocorrida no âmbito interno. O sistema internacional de proteção dos direitos humanos apresenta instrumentos de âmbito global e regional, como também geral e específico a fim de adotar o valor da primazia da pessoa humana, interagindo com sistema nacional de proteção em busca de proporcionar maior efetividade na tutela e promoção dos direitos fundamentais. Dessa forma, quando o Estado acolhe o sistema internacional de proteção, bem como as obrigações que dele decorrem, passa a consentir o monitoramento internacional, controle e fiscalização do modo de como são respeitados os direitos fundamentais em seu território. Contudo, essa ação internacional é sempre suplementar, sendo uma garantia adicional de proteção aos direitos. A internacionalização contribui ainda para o processo de democratização do cenário internacional, já que além do Estado, outros atores passam a participar, com os próprios indivíduos e as ong’s. Claro que ainda se faz necessário uma maior democratização de determinados instrumentos e instituições internacionais para que possam promover um espaço participativo mais eficaz. O Direito Internacional dos Direitos Humanos e o seu impacto no Direito Brasileiro Iniciado em 1985, o processo de democratização possibilitou a reinserção do Brasil na arena internacional de proteção dos direito humanos. Percebe-se que o processo de democratização permitiu a ratificação de relevantes tratados internacionais de direitos humanos, e a incorporação desses, permitiu o fortalecimento do processo democrático, pela ampliação e reforço dos direitos por ele assegurado. A Constituição Federal de 1988, com um sistema misto, acolhe os tratados internacionais de forma diferenciada, onde os que tratam de direitos humanos apresentam status de norma constitucional e os tratados tradicionais possuem um status infraconstitucional. O direito internacional dos diretos humanos, por força do princípio da norma mais favorável à vitima, que assegura a prevalência da norma melhor e mais eficazmente proteja os direitos humanos, apenas vem aprimorar e fortalecer, jamais debilitar ou restringir os grau de proteção no plano constitucional. Assim como permite a tutela, supervisão e o monitoramento dos direitos por organismos internacionais, apresentado, dessa forma, o duplo impacto dos tratados internacionais. De um lado consolidam parâmetros protetivos mínimos voltados à defesa da dignidade da pessoa humana, capazes de impulsionar avanços e impedir retrocessos, por outro lado, constituem instância internacional de proteção dos direitos humanos, quando as instituições nacionais mostram-se falhas ou omissas. A redefinição da Cidadania no Brasil O conceito da cidadania tem se alargado na medida em que passa a incluir não apenas direitos previstos no plano nacional, mas também internacionalmente enunciados. Como consequência o desconhecimento dos direitos e garantias internacionais se traduzem na privação do exercício de direitos acionáveis na arena internacional. Assim, a realização plena dos direitos da cidadania, envolve o exercício efetivo e amplo dos direitos humanos, nacional e internacionalmente assegurados. REFERÊNCIAS: PIOVESAN, Flávia (Orgs). Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional p.256-334;
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