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O_Estado_Brasileiro_e_o_Sistema_Internacional_de_Proteo_dos_Direitos_Humanos

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CAPÍTULO VIII 
O Estado Brasileiro e o Sistema Internacional de Proteção dos Direitos 
Humanos 
 
 A meta do estudo desenvolvido é avaliar a relação do Estado Brasileiro 
com o Direito Internacional dos Direitos Humanos, através da contribuição que 
este último pode oferecer vindo a reforçar a proteção sistemática dos direitos 
no país. 
 Esse encontro interessa ao exame da forma pela qual a União se abre à 
ordem internacional, sendo analisados instrumentos que são incorporados pela 
ordem interna bem como a sua repercussão. 
 
 - A agenda internacional do Brasil a partir da democratização e a 
afirmação dos Direitos Humanos como tema global 
 É perceptível a partir de 1985, quando iniciou o processo de 
democratização (mais tarde culminando como marco jurídico referencial a 
CF/88), que o Brasil sofreu transformações em sua agenda internacional, 
contribuindo para a reinserção do mesmo no contexto global de direitos 
humanos, com a presença de valores democráticos em debates nacionais, que 
deram fim ao ciclo do autoritarismo que o país enfrentou anteriormente. 
 No transcorrer do processo de democratização, o Brasil passou a aderir 
a importantes instrumentos internacionais de direitos humanos. O fim da 
Guerra Fria contribuiu consideravelmente para essa ideia, pois a partir dela, os 
direitos humanos passaram a ser considerados como tema global, trazendo 
esperança ao persuadir os governos a fortalecer seu comprometimento para 
com os parâmetros da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aderindo a 
Pactos ou Convenções até então recusados, e a abandonar reservas que 
esvaziavam o conteúdo dos instrumentos ratificados, na avaliação de Louis 
Henkin. 
 Se o fim da Segunda Guerra Mundial significou a primeira revolução no 
processo, o fim da Guerra Fria significou a segunda revolução no processo de 
internacionalização dos direitos humanos. 
 A Declaração de Viena recomendou como prioridade à adoção de 
medidas tanto nacionais como internacionais de estímulo a promoção da 
democracia, do desenvolvimento e dos direitos humanos, sendo ela o primeiro 
documento das Nações Unidas a endossar expressamente a democracia como 
forma de governo mais favorável a respeito dos Direitos Humanos e liberdades 
individuais. 
 
 
- O Brasil e os tratados internacionais de direitos humanos 
 
 Desde a CF/88, o Brasil adotou importantes tratados internacionais 
voltados à proteção dos Direitos Humanos, a saber: 
 
 a) Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1989); 
 b) Convenção sobre os Direitos da Criança (1990); 
 c) Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 
(1992); 
 d) Protocolo à Convenção Americana referente a abolição da Pena de 
Morte (1996); 
 e)Convenção Interamericana para Eliminação de todas as formas de 
Descriminalização contra Pessoas Portadoras de Deficiência (2001); 
 
 Outro importante fator foi a necessidade da União em reorganizar sua 
agenda internacional no processo de democratização, assegurando uma 
imagem mais positiva, respeitadora e garantidora dos direitos humanos para o 
país no contexto internacional. 
 A reinserção do Brasil na sistemática dos direitos humanos 
redimensionou o próprio alcance do termo “cidadania”, uma vez que os 
indivíduos passam a ser titulares de direitos internacionais, assumindo o país, 
em face da interação entre o Direito Internacional e o Direito Interno, a 
obrigação de manter e desenvolver o Estado Democrático de Direito. 
 Em 1992, ao aderir à Convenção Americana e a dois pactos de Direitos 
Humanos das Nações Unidas, definitivamente o Estado Brasileiro passou a 
integrar o sistema de proteção integral de Direitos Humanos. 
 
 - Pela plena vigência dos tratados internacionais de direitos 
humanos: a revisão de reservas e declarações restritivas, a reavaliação 
da posição do Brasil quanto a cláusulas e procedimentos facultativos e 
outras medidas 
 
 Para haver a plena vigência dos direitos humanos, é necessário a 
adoção de providências adicionais pela União. A Declaração de Viena, de 
1993, §26, aconselha os Estados a evitar formulação de reservas aos 
instrumentos de proteção dos Direitos Humanos. O Programa de Ação de 
Viena, §5º, recomenda aos Estados que limitem o alcance de quaisquer 
reservas. 
 Ainda, cabe a União rever declarações restringindo o alcance de 
mecanismos que constem nos tratados de direitos humanos, como por 
exemplo, a Convenção sobre a eliminação de todas as formas de 
discriminação contra a Mulher, em que o Brasil declarou não estar vinculado ao 
art. 29 da Convenção, evitando a competência jurisdicional da Internacional de 
Justiça para a solução do conflito. 
 É preciso reavaliar também o posicionamento do Brasil a cláusulas e 
procedimentos facultativos dos D.H., no qual o Programa de Ação de Viena, 
§90, recomenda aos Estados-membros a aceitarem todos os procedimentos 
facultativos para apresentação e exame de comunicações. 
 
 -Procedimentos Facultativos que o Brasil ratificou: 
 1)Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de todas as 
formas de discriminação contra a Mulher(2002); 
 2)Cláusula facultativa das petições individuais, art. 14, Discriminação 
Racial(2002); 
 3)Cláusula facultativa das petições individuais, art 22, Tortura e outros 
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes; 
 
 O Estado deve ainda encaminhar relatórios concernentes às medidas 
legislativas, administrativas e judiciárias adotadas, atendendo as obrigações 
internacionais dela decorrentes. 
 
 Outros avanços significativos que o país adquiriu ao longo do processo 
de democratização para a proteção dos Direitos Humanos: 
 -Reconhecimento quanto a competência jurisdicional da Corte 
Interamericana de Direitos Humanos (1998) 
 -Aceitação de competência do Tribunal Internacional Penal, Estatuto de 
Roma em 1998(reconhecido em 2002) 
 -Lei Maria da Penha nº11. 340 (2006) 
 
 A autora finaliza o capitulo afirmando que não bastasse os avanços que 
o Brasil adquiriu ao longo da democratização para a proteção do Direitos 
Humanos, resta saber quanto a eficácia do pleno e total comprometimento que 
o Estado brasileiro no futuro irá se ater a causa destes. 
 
 
 
A ADVOCACIA DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS: 
CASOS CONTRA O ESTADO BRASILEIRO PERANTE O SISTEMA 
INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS 
 
 Neste subtítulo, conta a autora que, no ano de 1998, o Brasil reconhece 
a competência jurisdicional da Corte Interamericano de Direitos Humanos, 
corte esta que surgiu com o intuito de analisar comunicações ou petições 
individuais que venham denunciar violação a direito internacionalmente 
assegurado. 
 Desde o referido reconhecimento por parte do Brasil, tem-se a notícia de 
que vários casos foram encaminhados à Corte contra o Estado brasileiro. Cabe 
ressaltar que desses casos, três (até o ano de 2008), envolveram medidas 
provisórias. Dentre eles, destaca-se o famoso caso Damião Ximenes Lopes, 
portador de deficiência mental que foi vítima de maus-tratos em clínica 
psiquiátrica no Ceará, onde a Corte condenou o Brasil pela violação aos 
direitos à vida, à integridade física e à proteção judicial, já que a vítima faleceu 
três dias após a sua internação. O Brasil, em cumprimento à decisão, publicou 
a sentença da Corte no Diário Oficial da União e assegurou o pagamento de 
indenização aos familiares da vítima. 
 Explica a autora que, ao ratificar a Convenção Americana, “o Estado 
signatário aceita automaticamente a competência da Comissão Interamericana 
para examinar denúncia de violação de preceito constante na Convenção, 
dispensando-se qualquer declaração expressa por parte do Estado”. 
 No tocante à responsabilidade pelas violações de direitos humanos, de 
acordo com o Direito Internacional é da União, uma vez que possui 
personalidade jurídica na ordem internacional. Cabe ressaltarque os princípios 
federativos da separação de poderes, por exemplo, não podem ser invocados 
para que seja afastada a responsabilidade da União em face das obrigações 
contraídas em âmbito internacional. 
 No que tange a federalização das violações de direitos humanos, já 
havia a previsão desde 1996 como meta do Programa Nacional de Direitos 
Humanos, porém, na data de oito de dezembro do ano de 2004 é que houve a 
introdução através da Emenda Constitucional n.45. 
 Ante o exposto, passa-se à análise dos casos contra o Estado brasileiro 
perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, durante o período de 
1970 a 2004, alguns já findos, outros, entretanto, ainda pendentes 
(processados em regime confidencial). Separados pela autora pela natureza do 
direito violado, são os que seguem: 
1. CASOS DE DETENÇÃO ARBITRÁRIA, TORTURA E ASSASSINATO 
COMETIDOS DURANTE O REGIME AUTORITÁRIO MILITAR 
 
Dos casos analisados, dez deles foram cometidos durante o regime militar 
autoritário, de 1970 a 1974, com exceção do caso da Guerrilha do Araguaia, 
que foi encaminhado em 1997. 
Todas essas ações são fundamentadas na Declaração Americana dos 
Direitos e Deveres do Homem, uma vez que o Brasil, nessa época, não era 
signatário da Convenção Americana. A Comissão teve o conhecimento da 
violação cometida pelo Estado brasileiro, dos direitos à vida, à liberdade, à 
segurança, ao devido processo legal e à proteção contra a detenção arbitrária, 
previstos nos arts. I, XXV e XXVI da Declaração Americana. 
Desses casos dessa natureza inferidos, cabe destaque o Caso 1684. Neste, 
três comunicações foram enviadas ao conhecimento da Comissão, que 
apreciou, em 1970, denunciando a prática de detenção ilegal e tortura nos anos 
de 1969 e 1970. A primeira comunicação feita (25 de julho de 1970) denunciou 
o assassinato de um padre no Recife (as vítimas das violações perpetradas 
eram lideranças da Igreja Católica, líderes de trabalhadores, estudantes, 
professores universitários, advogados, economistas...), a segunda, ocorrida na 
mesma data, denunciou a tortura de sete pessoas na cidade de Belo Horizonte 
e, a terceira (25 de julho do mesmo ano), alegou existir, em média, 12.000 
presos políticos no País. Pediam as comunicações, uma investigação 
cautelosa dos fatos das práticas delituosas. 
Nos votos, conforme mostra a autora, a Comissão Interamericana aprovou 
a seguinte resolução: “as provas coletadas nestes casos levam à forte 
presunção de que no Brasil há sérios casos de tortura, abuso e tratamento 
cruel de pessoas de ambos os sexos, que foram privadas de sua liberdade”. 
Explica a autora que a resposta do Brasil à Comissão, limitou-se a 
considerar que “as bases da presunção da violação dos direitos humanos no 
País eram insuficientes e frágeis, não apresentando consistência. Acrescentou 
que a Comissão, de acordo com o art. 50 da Convenção, deveria atuar com 
discrição no procedimento de coleta de informações necessárias para o exame 
da de núncia oferecida e que a possibilidade de realizar a observação in loco 
das denúncias, por parte da Comissão, deveria ser considerada medida 
excepcional, por ser mais custosa e depender do consentimento do Governo 
referido.” 
A Comissão Interamericana, então, resolveu publicar em seu relatório anual 
recomendações ao Governo brasileiro, mostrando as provas das denúncias e 
adicionou que o Governo brasileiro se recusou a adotar as medidas 
recomendadas pela Comissão. Importante ressaltar que a resolução foi 
aprovada durante a 31ª Sessão da Comissão Interamericana, sendo 
comunicada ao Brasil no dia 8 de janeiro de 1974. 
A referida autora mostra outros casos ocorridos da mesma natureza, 
obtendo o mesmo resultado por parte da Comissão e por parte do Governo 
brasileiro e ainda ilustra que, em 1977, o caso da “guerrilha do Arguaia”, 
referente ao desaparecimento de mais de vinte integrantes na década de 70, 
em que os familiares ainda tentam, sem sucesso algum, obter informações 
sobre o desaparecimento das vítimas. 
 
2. CASOS DE VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS 
 
Destaca-se o caso 7615, relativo à violação dos direitos dos povos 
indígenas, principalmente da comunidade Yanomami, na década de 80, que 
por sua vez se distingue sobre os demais, uma vez que foi o primeiro caso 
submetido por organizações não governamentais de âmbito internacional 
contra o Governo brasileiro. 
Entidades denunciaram à Comissão Interamericana alegando que os 
direitos dessas populações à vida, à liberdade, à segurança, à igualdade 
perante a lei, à saúde e bem estar, à educação, ao reconhecimento da 
personalidade jurídica e à propriedade não haviam sendo respeitadas pelo 
Governo brasileiro, ou seja, o Estado brasileiro descumpria obrigações 
decorrentes da Declaração Americana em seus arts. I, II, XI, XII, XVII e XXIII. 
Conta a autora que na década de 60 foi aprovado um plano de exploração 
das riquezas naturais na área desses grupos indígenas o que proliferou a 
chegada de garimpeiros, construção de novas estradas, etc. Por pressões, 
principalmente internacionais, o Brasil em 1982 demarcou o território dos índios 
Yanomamis. 
Para os peticionários, os fatos narrados colaboraram para com a violação 
de direitos fundamentais do povo indígena, já que a devastação deixou 
sequelas tanto físicas quanto psicológicas, além de doenças e mortes,o que 
poderia causar até a extinção daquela comunidade. 
O Brasil respondeu, dessa vez, através das notas n.127, de 13.5.1981, 
n.316, de 3.11.1981, n.101, de 14.4.1982, e n.38, de 32.2.1985. 
 
3. CASOS DE VIOLÊNCIA RURAL 
 
A maioria desses casos encontram-se ainda pendentes para a apreciação 
da Comissão, que apontam para quatro áreas de preocupação, tais como: 
execução extrajudicial de crianças e adolescentes pela polícia; abuso em 
estabelecimentos penitenciários; violência rural e trabalho forçado. 
Entre os casos narrados, estão os famosos casos do “massacre de 
Eldourado de Carajás” e o caso “Corumbiara”. 
Nos casos dessa natureza, alguns foram pelo Governo brasileiro 
indenizados, outros, a resposta governamental foi inefetiva, senão inexistente, 
o que para o pensamento dos peticionários pode sugerir até a cumplicidade 
dos responsáveis com as autoridades policiais locais, por exemplo. 
 
4. CASOS DE VIOLÊNCIA POLICIAL 
 
Aqui, narram-se casos ocorridos no Brasil a partir do ano de 1992, portanto, 
todos fundamentados na Convenção Americana de Direitos Humanos, já que 
ratificada pelo País no mesmo ano. Parte deles ainda encontram-se pendentes 
para a apreciação da Comissão Interamericana, ou seja, a autora analisa a 
denúncia oferecida, uma vez existente o regime de confidencialidade acolhido 
pela Comissão, conforme já se informou. 
Em todos os casos, referentes à essa natureza, que foram peticionados, 
todos fazem referência ao abuso e a violência policial que, por sua vez, implica 
o assassinato, sem justificativa, de vítimas inocentes e ainda, denunciam a 
insuficiência de resposta do Estado brasileiro, ou mesmo a inexistência de 
qualquer resposta, em face da falta de punição dos responsáveis pelas 
violações cometidas. 
Informa a autora que em todo esses casos que denunciam a violência 
cometida pela polícia militar o pedido é o mesmo: a condenação do Estado 
brasileiro a processar e punir os agentes responsáveis pelas violações 
cometidas, bem como a indenizar as vítimas das violações nos caso em que 
isso ainda não tenha ocorrido. 
A Corte Interamericana decidiu da seguinte forma: “se o aparato do Estado 
atua de modo a que uma violação permaneça impune, não restaurando, à 
vítima, a plenitude dos direitos, pode-se afirmar que o Estado está a 
descumprir o dever de garantir o livre e pleno exercício de direito às pessoas 
sujeitas à sua jurisdição. Com respeito à obrigação de investigar, deve ser 
assumida pelo Estado comoum dever jurídico próprio e não como uma simples 
gestão de interesses particulares, que depende da iniciativa processual da 
vítima ou de seus familiares, sem que a autoridade pública busque 
efetivamente a verdade...” 
 
 5. Casos de violação dos direitos de crianças e adolescentes: 
 
CASO11993: Caso “candelária” onde oito crianças e adolescentes foram 
encontrados mortos em volta da igreja da Candelária no Rio de Janeiro, em 
julho de 1993, a petição alega que os autores dessa barbárie são policiais 
militares. Foi solicitada a Comissão que seja declarada a violação pelo Estado 
brasileiro do direito à vida e direito de proteção especial e judicial para com a 
criança, previsão art. 4º, 9º e 25 da Convenção Americana, os peticionários 
requerem também que os autores desse terrível fato, sejam investigados, 
processados, punidos e consequentemente aplicadas as sanções necessárias, 
e mais a indenização aos familiares dessas crianças vitimas. 
 
CASO 11702: solicitação de medidas cautelares de proteção dos direitos a 
vida e integridade física de adolescentes internos em três estabelecimentos no 
Rio de Janeiro. Alega-se uma violação ao Estatuto da Criança e do 
Adolescente como: adolescentes não sendo separados por idade, compleição 
física e gravidade de infração, superlotação, condições desumanas para os 
mesmos como: espancamentos, maus tratos e violência sexual por parte dos 
funcionários desses estabelecimentos. 
 
CASO 12328: denuncia de tortura e maus tratos sofridos por adolescentes 
internos no estabelecimento da Febem do complexo Tatuapé em São Paulo, a 
Comissão Interamericana solicitou adoção de medidas cautelares também. 
 
CASO 12426 e 12427: “meninos emasculados do Maranhão”, onde crianças e 
adolescentes têm sido vitimas de assassinatos, violência, abuso sexual e mais 
extração de órgãos genitais das vítimas, no Estado do Maranhão. Entre 1991 e 
2000 entre nove e catorze anos foram vítimas dessas atrocidades, nesses 
casos foi alcançada solução como: reconhecimento da responsabilidade 
internacional do Estado Brasileiro, julgamento e conseqüentes punições, 
adoção de medidas de reparação, não-repetição e de seguimento. 
 
 6. Casos de violência contra a mulher: 
 
CASO 11996: Márcia Cristina Rigo Leopoldi, estudante de Arquitetura, foi 
morta em 10 de março de 1984, em Santos, estrangulada em sua casa pelo ex-
namorado, assim condenado a quinze anos de reclusão por decisão do 
Tribunal do Júri de Santos, teve concessão de habeas corpus, afastada pelo 
Tribunal de Justiça, mas após isso ele encontra-se foragido, é o primeiro caso 
contra o Estado Brasileiro que se baseou em dispositivos da Convenção 
Interamericana para punir, prevenir, afastar a violência contra a mulher. Os 
peticionários requerem proteção a vida da mulher, colocando isso como dever 
do Estado e pedem também indenização aos familiares da moça. 
 
CASO 12051: violência contra Maria da Penha Maia Fernandes por parte de 
seu companheiro, com as tentativas de homicídio e agressões constantes 
provocaram paraplegia irreversível na mesma. O réu foi condenado a quinze 
anos de prisão mas ainda permanece em liberdade, consequência de muitos 
recursos do Tribunal do Júri. 
Em 1998 houve a apresentação do caso à Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos por causa da impunidade e inefetividade do sistema judicial 
diante da violência contra as mulheres no Brasil, em 2001 a Comissão 
Interamericana condenou o Estado brasileiro por negligência e omissão em 
relação a violência doméstica, foi a primeira vez que um caso desse tipo de 
violência levou a condenação de um pais no âmbito do sistema interamericano 
de proteção dos direitos humanos. 
O cumprimento a essa decisão levou a adoção da Lei 11.340/2006 (Lei Maria 
da Penha) que coibi e previne a violência doméstica e familiar contra mulher, 
mais o pagamento de indenização à vítima. 
 
CASO 12263: assassinato da estudante Márcia Barbosa de Souza, em João 
Pessoa no Paraíba, em 18 de junho de 1988, o principal acusado é um 
deputado estadual, e a chamada imunidade parlamentar permite que ele seja 
processado judicialmente somente com a prévia licença da Assembléia 
Legislativa do Estado, pedido indeferido e assim enviado para a Comissão 
Interamericana, em face da impunidade. 
 
CASO 12378: denúncia de discriminação contra mães adotivas e seus 
respectivos filhos, em face de decisão definitiva pelo STF, que tinha negado o 
direito à licença gestante à mãe adotiva. 
 
 7. Caso de discriminação racial 
 
CASO 12001: caso apreciado e em destaque, pois é o único que envolve 
denúncia de discriminação racial. Trata-se de discriminação racial por vítima 
que perdeu uma oportunidade de emprego em virtude de ser negra. 
Os peticionários solicitaram à Comissão Interamericana a responsabilização do 
Governo brasileiro pela violação do dever de garantir o livre e pleno exercício 
dos direitos previstos na Convenção Americana sem discriminação nenhuma e 
pediram junto o pagamento de indenização à vitima pelos danos sofridos, e que 
sejam tornadas públicas as providências, para prevenir futuras discriminações 
raciais. 
A Comissão Interamericana reconheceu a responsabilidade internacional do 
Estado, nesse contexto determinou: 
- reparar a vítima tanto pelo dano moral como o material; 
- Reconhecer publicamente a responsabilidade internacional; 
- Estabelecer em valor pecuniário a ser pago a vítima a titulo de indenização 
por danos morais; 
- Investigação completa para sancionar a responsabilidade concernente à 
discriminação racial sofrida pela vítima; 
- reformas legislativas e administrativas; 
- solicitação de governos estaduais a criação de delegacias especializadas em 
crimes de racismo; 
- promover campanhas publicitárias contra o racismo; 
 
 8. Casos de violência contra defensores de direitos humanos 
 
CASO 12058: brutal assassinato desse defensor de direitos humanos, segundo 
denuncia ele tinha destacada atuação em defesa das vítimas de violência 
policial na região, atuava também como assistente do Ministério Público. A 
Comissão Interamericana encaminhou o caso à corte, e em sentença a mesma 
decidiu arquivar o expediente por insuficiência de provas. 
 
CASO 12397: denúncia de ameaça de morte recebida por histórico defensor 
de direitos humanos de São Paulo. 
 
Outros casos parecidos: CASO 12212 em Minas Gerais, CASO 12213 no Rio 
de Janeiro, e CASOS 12308 e 12309 na Bahia. 
 
d) Análise dos casos – limites e possibilidades da advocacia do Direito 
Internacional dos Direitos Humanos no Brasil 
 
 Os 78 casos citados foram admitidos pela Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos contra o Estado Brasileiro até 2004. A análise do quadro das 
ações internacionais elucidadas no caso adotará dois períodos distintos na 
história política brasileira: período do regime repressivo militar ( vigente no 
Brasil de 1964 a 1985) e o período da transição democrática (a partir de 1985) 
= novo padrão de conflituosidade. 
 No primeiro período 90% dos casos denunciaram a prática de violência 
do regime militar no segundo 50% denunciaram violência policial, com isso fica 
claro que o processo de democratização no Brasil não rompeu absolutamente 
com as práticas do regime repressivo militar, dessa forma havendo um padrão 
de violência praticada pela policia onde o Estado não tem o controle = marcas 
de um continuísmo autoritário. 
 No primeiro período essa violência era direta, por ação do regime militar 
já no processo de democratização há uma violência indireta, onde não se 
consolida ação, mas sim omissão do Estado que não é capaz de deter nem 
seus agentes. Há uma insuficiência, inexistência de resposta por parte do 
Estado brasileiro e é isso que enseja a denúncia de violações de direitos 
perante a Comissão Interamericana. As denuncias concentram-se em casos de 
violações a direitos civis e/ou políticos. 
 As pessoasvítimas no primeiro período eram mais dos setores de classe 
média, já no segundo período são pessoas mais pobres, as vezes excluídas 
socialmente e integrantes de grupos vulneráveis. Importante ressaltar que 97% 
dos casos que integram o período de democratização foram sujeitos à 
Comissão a partir de 1992 e apartir da ratificação da Convenção Americana de 
Direitos Humanos pelo Estado Brasileiro, a ratificação da Convenção 
Americana estimulou e propiciou a propositura de ações internacionais junto à 
Comissão Interamericana. 
 Os casos submetidos á Comissão Interamericana têm apresentado 
impacto nas mudanças de legislação e de políticas públicas de direitos 
humanos com significativos avanços internos como: transferência da Justiça 
Militar para a Justiça Comum do julgamento de crimes dolosos contra a vida 
cometidos por policiais militares (Lei 9299/96); Emenda Constitucional n. 
35/2001 que restringe o alcance da imunidade parlamentar; Lei “Maria da 
Penha” n. 11340/2006. O sistema interamericano de proteção dos direitos 
humanos oferece estratégias de ação capazes de contribuir para o reforço da 
promoção dos direitos humanos no Brasil, publicidade de violação de direitos 
humanos, pressões internacionais para compelir o Estado, fazer ele se 
desinibir e apresentar justificativas a respeito de sua prática, assim podendo 
transformar uma prática governamental especifica. 
 Dessa forma, com o grande envolvimento das organizações não 
governamentais, a partir de articuladas e competentes estratégias os 
instrumentos internacionais constituem mecanismos para o fortalecimento da 
proteção dos direitos humanos no âmbito social. 
 
 
 
O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E A 
REDEFINIÇÃO DA CIDADANIA NO BRASIL 
 
O movimento de internacionalização do Direitos Humanos 
O direito internacional dos direitos humanos é um movimento recente 
na história, surgido a partir do pós-guerra num esforço para reconstruir os 
direitos humanos como referencial ético à nova ordem internacional 
contemporânea. Desse modo, uma das principais preocupações é converter os 
direitos humanos em tema de legítimo interesse da comunidade internacional, 
resultando em processos de universalização e internacionalização desses 
direitos. 
A universalização permitiu a formação de um sistema normativo 
internacional de proteção de direitos humanos, transpondo-se ao direito 
internacional a evolução já ocorrida no âmbito interno. O sistema internacional 
de proteção dos direitos humanos apresenta instrumentos de âmbito global e 
regional, como também geral e específico a fim de adotar o valor da primazia 
da pessoa humana, interagindo com sistema nacional de proteção em busca 
de proporcionar maior efetividade na tutela e promoção dos direitos 
fundamentais. 
Dessa forma, quando o Estado acolhe o sistema internacional de 
proteção, bem como as obrigações que dele decorrem, passa a consentir o 
monitoramento internacional, controle e fiscalização do modo de como são 
respeitados os direitos fundamentais em seu território. Contudo, essa ação 
internacional é sempre suplementar, sendo uma garantia adicional de proteção 
aos direitos. 
A internacionalização contribui ainda para o processo de 
democratização do cenário internacional, já que além do Estado, outros atores 
passam a participar, com os próprios indivíduos e as ong’s. Claro que ainda se 
faz necessário uma maior democratização de determinados instrumentos e 
instituições internacionais para que possam promover um espaço participativo 
mais eficaz. 
 
O Direito Internacional dos Direitos Humanos e o seu impacto no 
Direito Brasileiro 
Iniciado em 1985, o processo de democratização possibilitou a 
reinserção do Brasil na arena internacional de proteção dos direito humanos. 
Percebe-se que o processo de democratização permitiu a ratificação de 
relevantes tratados internacionais de direitos humanos, e a incorporação 
desses, permitiu o fortalecimento do processo democrático, pela ampliação e 
reforço dos direitos por ele assegurado. 
A Constituição Federal de 1988, com um sistema misto, acolhe os 
tratados internacionais de forma diferenciada, onde os que tratam de direitos 
humanos apresentam status de norma constitucional e os tratados tradicionais 
possuem um status infraconstitucional. O direito internacional dos diretos 
humanos, por força do princípio da norma mais favorável à vitima, que 
assegura a prevalência da norma melhor e mais eficazmente proteja os 
direitos humanos, apenas vem aprimorar e fortalecer, jamais debilitar ou 
restringir os grau de proteção no plano constitucional. Assim como permite a 
tutela, supervisão e o monitoramento dos direitos por organismos 
internacionais, apresentado, dessa forma, o duplo impacto dos tratados 
internacionais. De um lado consolidam parâmetros protetivos mínimos voltados 
à defesa da dignidade da pessoa humana, capazes de impulsionar avanços e 
impedir retrocessos, por outro lado, constituem instância internacional de 
proteção dos direitos humanos, quando as instituições nacionais mostram-se 
falhas ou omissas. 
 
A redefinição da Cidadania no Brasil 
O conceito da cidadania tem se alargado na medida em que passa a 
incluir não apenas direitos previstos no plano nacional, mas também 
internacionalmente enunciados. Como consequência o desconhecimento dos 
direitos e garantias internacionais se traduzem na privação do exercício de 
direitos acionáveis na arena internacional. Assim, a realização plena dos 
direitos da cidadania, envolve o exercício efetivo e amplo dos direitos humanos, 
nacional e internacionalmente assegurados. 
 
 
 
 
 REFERÊNCIAS: 
 
PIOVESAN, Flávia (Orgs). Direitos Humanos e o Direito Constitucional 
Internacional p.256-334;

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