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08 47 18 PRATICAS EDUCATIVAS HUMANIZADORAS UM DESAFIO PARA A FORMACAO INICIAL DE PROFESSORES

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PRÁTICAS EDUCATIVAS HUMANIZADORAS: UM DESAFIO PARA A 
FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES 
Juliana Goelzer – Universidade federal de Santa Maria, Santa Maria, RS 
Celso Ilgo Henz – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS 
 
 
Esta pesquisa é fruto de resultados de outras pesquisas realizadas com alguns 
professores de escolas de Educação Básica do município de Santa Maria – RS, nas 
quais percebeu-se o quanto estes julgam seus cursos de formação inicial por não 
saberem lidar com o lado humano dos alunos. Diante desta constatação, esta 
pesquisa voltou seu foco à formação inicial de professores e buscou investigar, com 
acadêmicos do 7º semestre do Curso de Pedagogia de duas instituições de Ensino 
Superior do município de Santa Maria – RS, em que medida estes acadêmicos 
sentem-se preparados para enfrentar os mais variados desafios do cotidiano 
escolar, relacionados às práticas educativas humanizadoras. A coleta de dados foi 
realizada através de entrevista semi-estruturada com seis acadêmicos de cada uma 
das instituições. Vem sendo constatado que enquanto muitos desses acadêmicos 
afirmam não se sentir preparados para tais desafios, argumentando que recebem 
uma grande bagagem teórica no curso e pouca atividade prática, outros, ao 
afirmarem estarem sim preparados, encontram dificuldades em conceituar o que é 
uma educação humanizadora. 
 
Palavras-chave: Práticas educativas, Humanização, Formação Inicial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 2
A ESCOLA NO CONTEXTO ATUAL: UM DESAFIO 
Podemos afirmar que poucas vezes na história da humanidade a escola foi 
incumbida de tantas responsabilidades e desafios como na atualidade. Isso pode ser 
explicado pelo fato de que a sociedade vem ao longo do tempo passando por sérias 
e profundas transformações. Acontecimentos que há bem pouco tempo pareciam 
distantes demais da nossa realidade, ou diríamos que até mesmo inimagináveis 
para ela, hoje estão aí, na porta de nossas casas e até mesmo dentro delas. O 
reconhecimento dos direitos sociais da mulher, acompanhado da entrada da mesma 
no mercado de trabalho; o crescente processo de industrialização e urbanização, 
assim como o grande avanço da tecnologia que vem alcançando patamares cada 
vez mais elevados são algumas das transformações mais significativas que vêm 
ocorrendo. 
Isso tudo vem gerando o progresso de nossa sociedade e colaborando com a 
busca de uma melhor qualidade de vida. Porém essas mudanças também vêm 
trazendo consigo a competitividade, o individualismo e a busca constante pelo “ter”. 
Além disso, o grande avanço da tecnologia tem feito com que as informações 
cheguem a nós de forma cada vez mais rápida, sem ao menos dar-nos tempo de 
processá-las de maneira adequada e crítica. As pessoas então tentam se manter 
“conectadas” o maior espaço de tempo possível, com receio de não se manterem 
atualizadas. 
Com isso, percebemos que as relações humanas têm sido cada vez mais 
deixadas de lado. A maioria das pessoas não encontra mais tempo para conversar 
face a face, para fazer visitas umas às outras, para estar ao lado de pessoas 
queridas. Dessa forma as relações entre familiares, amigos e vizinhos têm se 
tornado superficiais e isso tem nos tornado cada vez mais egoístas e insensíveis ao 
“outro”. Para conversar, fazer convites, dar recados ou simplesmente dar um “oi” 
usamos o “msn”, o e-mail, o telefone celular. O “toque” do celular vem tomando o 
lugar do toque humano; o som do “mp3” vem tomando o lugar do diálogo; o abraço, 
o aperto de mão, o carinho, vêm sendo esquecidos. 
Concomitantemente a isso, nos deparamos a cada dia com inúmeras notícias 
de assaltos, mortes de inocentes por balas perdidas, violência de toda natureza, 
degradação e destruição da vida humana. Convivemos com a injustiça, a 
discriminação, a exploração e, como resultado dessa sociedade capitalista, com a 
 3
dominação de uns sobre os outros. Segundo Sampaio (2004, p. 30), “estamos 
vivendo uma crise global profunda, onde o vazio existencial e afetivo, provocado 
pela manipulação e desmandos, favorece a miséria, a violência, a corrupção, o 
medo, a insegurança, resultado da fragilidade das relações e dos valores humanos”. 
Parece que as pessoas esqueceram-se que todos somos seres humanos, 
que todos somos “gente” que precisa de vida. As emoções têm estado sempre em 
segundo plano e vive-se a supervalorização da racionalidade. A razão vem a cada 
dia controlando mais nossos sentimentos e tomando o lugar de tudo aquilo que faz 
com que sejamos reconhecidos como seres humanos e não como máquinas. E 
diante desse contexto de desvalorização das emoções e das relações humanas, a 
escola está tendo de enfrentar um grande desafio: o desafio de ensinar a ser 
humano, pois “não nascemos humanos, nos fazemos. Aprendemos a ser. Todos 
passamos por longos processos de aprendizagem humana. Se preferirmos, toda 
criança nasce humana, mas isso não basta: temos que aprender a sê-lo. Podemos 
acertar ou fracassar. Nessa aprendizagem também há sucesso e fracasso” 
(ARROYO, 2004, p. 53). 
Percebemos que a cada ano chegam à escola crianças cada vez mais 
carentes de carinho, de diálogo. O mundo delas muitas vezes não lhes permite que 
vivam sua infância de forma digna, que sejam respeitadas e tratadas de forma 
humana. Muitas vezes a maioria dessas crianças vem à escola somente em busca 
de um lugar onde não lhe agridam e em busca de pessoas que lhe vejam e que lhe 
dêem atenção. O que essas crianças encontram na sala de aula muitas vezes é tudo 
aquilo que não encontram em casa: outras crianças, livros, um ambiente de cores, 
de sonhos e, principalmente, de afeto e atenção. Muitas vezes a escola é o único 
lugar onde essas crianças podem se portar como crianças e viverem com alegria. 
Apesar disso, muitos ainda encaram a escola como uma instituição que têm 
unicamente a função de ensinar, de transmitir conteúdos, esquecendo que a escola 
é lugar de gente (FREIRE, 2002); logo, o professor também ainda é visto por muitos 
como aquele que tem unicamente a função de transmitir esses conteúdos aos 
alunos. Porém se pararmos para refletir sobre as condições desumanas a que 
muitas de nossas crianças têm sido submetidas, entenderemos que essa maneira 
de encarar o papel da escola e dos professores não se encaixa mais no contexto em 
que vivemos. Nas palavras de Freire (2002, p. 69-70), 
 
 4
o mundo afetivo desse sem-número de crianças é roto, quase esfarelado, 
vidraça estilhaçada. Por isso mesmo, essas crianças precisam de 
professores profissionalmente competentes e amorosos e não puros tios e 
tias. É preciso não ter medo do carinho, não fechar-se à carência afetiva 
dos seres interditados de estar sendo. Só os mal-amados e as mal-amadas 
entendem a atividade docente como um que-fazer de insensíveis, de tal 
maneira cheios de racionalismo que se esvaziam de vida e de sentimentos. 
 
 
Quantas de nossas crianças vêm à escola sem ter tido o que comer em casa, 
sem terem tomado um banho com água quente ou sem terem tido uma boa cama 
para dormir durante a noite. Quantas crianças sofrem agressão em casa, são 
abusadas sexualmente (às vezes por alguém da própria família), e não têm o direito 
de dizerem o que estão sentindo. E quantas ainda não recebem um conselho dos 
pais em casa, não recebem nem a educação necessária para conviver com os 
outros. E quando chegam à escola acreditando que lá encontrarão um mundo um 
pouco diferente, são vistas com indiferença pelos colegas e professores. 
Deparamo-nos freqüentemente com meninas adolescentes grávidas, com 
crianças fugidas de casa ou sendo levadas para um orfanato. E freqüentemente 
também encontramos pessoas que insistem em tapar os olhos para isso, se 
trancando em seu mundo. E o pior de tudo é que muitas vezes essas pessoas são 
os próprios professores. Que mundo é esse que estamosconstruindo? Um mundo 
de indiferença, de violação à dignidade humana? Se nós professores, que lidamos 
com seres humanos em formação, não acreditarmos que um mundo diferente é 
possível, ele realmente não o será. 
 
O DIÁLOGO COM PROFESSORES E PROFESSORAS: O PRIMEIRO PASSO 
 
A partir desse pressuposto, o Projeto de Pesquisa intitulado “Desafios e 
perspectivas na formação inicial de professores para as práticas educativas 
humanizadoras”, vem sendo realizado com vistas a trazer ao debate educacional 
essa questão tão séria que diz respeito à humanização da educação e sua 
abordagem em alguns cursos de formação inicial de professores. 
Partimos da constatação, construída no decorrer de outras pesquisas 
juntamente com colegas professores e professoras, de que a maioria destes 
profissionais, em seus processos de formação inicial, aprendeu somente a ensinar 
conteúdos, informar, e aplicar procedimentos metodológicos; não lhes foi 
proporcionada uma reflexão acerca das relações humanas que perpassam o 
 5
ambiente escolar, talvez porque há algum tempo esse assunto não tinha tanta 
relevância como nos dias atuais. Por isso esses professores, embora se sintam 
competentes em suas áreas, entendem que no contexto no qual vivemos isso já não 
é mais suficiente, pois a necessidade está em saber articular os conteúdos 
sistematizados à vida de seus alunos, fazendo com que a aprendizagem destes seja 
simultânea a outras aprendizagens essenciais ao processo de humanização. Afinal, 
 
No tempo escolar os mestres têm de dar conta de pessoas, que não estão 
unicamente em permanente estado de relação com os conteúdos do 
currículo, com suas mudanças, mas que se relacionam, convivem entre 
iguais e diversos, sentem, fantasiam, valorizam, dançam, se expressam na 
totalidade de sua condição humana. As crianças, adolescentes e jovens não 
ficam no tempo de escola fixos no papel de adulto-trabalhador-cidadão que 
serão quando crescerem. Ingenuidade nossa de docentes. Eles e elas 
explodem na totalidade de suas vivências no presente. (ARROYO, 2004, p. 
232) 
 
 
E quando se dão conta de toda essa vida que perpassa o ambiente escolar, e 
do quanto são em parte responsáveis pela humanização dessas crianças, 
adolescentes e jovens, esses profissionais julgam seus cursos de formação inicial 
como ineficientes. E isso fica muito claro nas diversas falas desses educadores, 
quando estes argumentam: “nós não fomos preparados para isso; é no peito e na 
raça”. Além disso, eles têm muito clara a idéia de que o “tipo” de professor que a 
escola precisa hoje é outro: “precisamos de professores mais humanos, que 
convivam e partilhem dos problemas de seus alunos”. Eles afirmam que se o 
professor de hoje não for “humano” o suficiente para entender o quanto o seu aluno 
precisa dele, a educação estará fadada ao fracasso, pois “de professores 
competentes em suas áreas a escola está cheia, e o problema não se resolveu”. 
Esses profissionais, na maioria das vezes emocionados, nos relatam o quanto 
é angustiante ouvir de seus alunos desabafos de que foram maltratados em casa, de 
que em pleno inverno tiveram que tomar banho frio porque haviam desligado a luz 
por falta de pagamento ou então de que não haviam tomado café da manhã e nem 
almoçado porque o pão e o leite haviam terminado. Relatam-nos também que por 
muitas vezes alguns alunos chegaram a pedir que o professor o levasse consigo 
para casa porque não queria voltar para a sua. 
Relatos como estes vêm sempre acompanhados da expressão “nossa 
licenciatura não nos preparou para lidar com isso” ou então “agora percebemos as 
tantas falhas na nossa formação”. E eles afirmam que devido a essa falta de 
 6
preparo, não se sentem hoje capazes de realizar seu papel de educadores por 
completo porque sentem que precisam de alguma forma ajudar essas crianças 
enquanto “seres humanos”, mas que não sabem como. Sentimos o quanto eles 
estão angustiados e o quanto isso têm desmotivado esses profissionais na 
realização de seu trabalho e, por conseqüência, tem se tornado um empecilho para 
a realização de um trabalho pedagógico de qualidade. 
O conhecimento e a reflexão sobre tantas questões colocadas pelos atuais 
profissionais da educação, levou-nos ao foco dessa pesquisa: os cursos de 
formação inicial de professores. Afinal, ao nos depararmos com tantas inquietações 
pelos corredores das escolas de Educação Básica, futuro campo de trabalho da 
maioria dos atuais acadêmicos dos Cursos de Pedagogia, julgamos importante 
investigar como esses futuros educadores vêem seu campo de trabalho atualmente. 
Portanto, essa pesquisa teve como objetivo principal o de pesquisar em que 
medida alguns acadêmicos do Curso de Pedagogia de uma universidade federal e 
de uma universidade particular do município de Santa Maria – RS, sentem-se 
preparados para enfrentar os mais variados desafios do dia-a-dia do cotidiano 
escolar, relacionados às práticas educativas humanizadoras. 
Dentro desse objetivo maior, foram elencados alguns objetivos específicos: 
pesquisar com os acadêmicos se estes consideram que durante o seu curso de 
formação inicial, foi-lhes possibilitado um maior conhecimento acerca da educação 
humanizadora; pesquisar quais são os maiores desafios que os acadêmicos 
acreditam que irão enfrentar na sala de aula, enquanto professores; compreender 
que importância os acadêmicos atribuem às práticas pedagógicas humanizadoras 
no contexto escolar; pesquisar com os acadêmicos que “tipo” de professores eles 
acreditam que serão levando em consideração a formação que estão recebendo em 
seus cursos. 
Metodologicamente a pesquisa tem caráter qualitativo, uma vez que a ênfase 
está no processo e não em seu produto final. O tipo de pesquisa utilizado foi a 
pesquisa bibliográfica e a pesquisa tipo estudo de caso, uma vez que a investigação 
ocorreu em duas instituições de Ensino Superior do município de Santa Maria – RS, 
uma instituição federal e uma particular. Foram realizadas entrevistas semi-
estruturadas com seis acadêmicos do 7º semestre de cada uma das instituições 
referente ao tema investigado e essas entrevistas foram gravadas em áudio e em 
seguida transcritas e separadas em categorias para uma melhor análise. 
 7
FORMADORES DE SERES HUMANOS, NÓS? 
 
Quando o assunto é educação, formação de professores, estamos tão 
habituados a pensar em escola, em alunos, em professores, em desenvolvimento, 
em currículo, em didática, que quando ouvimos o termo seres humanos, parece que 
algo nos imobiliza. Talvez susto? Ou uma indignação do tipo “e eu nem havia 
pensado nisso”? As reações são sempre diversas, mas a realidade é clara: 
professores, esses amantes, e por vezes sofredores da arte de educar, antes de 
trabalharem em escola, antes de trabalharem com currículo, antes de serem 
professores de Matemática ou professores de Ciências, são professores de gente, 
que trabalham, acima de tudo, com seres humanos, com vidas. 
O problema, nesse caso, é que por vezes os cursos de formação inicial de 
professores deixam essa “pequena” lacuna no decorrer da formação: a de informar 
que iremos trabalhar com pessoas, e pessoas cheias de vida, que têm sentimentos 
e emoções tão diversos quanto os nossos, com pessoas em processo de 
humanização, afinal, como diz Arroyo (2004), não nascemos gente; nos tornamos. 
Talvez seja essa a justificativa para no decorrer dessa pesquisa, a atitude de 
alguns acadêmicos durante as entrevistas terem sido de alguma forma cobertas de 
insegurança ao tentar conceituar o que é uma educação humanizadora. Eram 
freqüentes perguntas do tipo “como assim educação humanizadora?”, ou “tô falando 
bobagem?”, ou então “não sei se é isso que tu procura”. Parecia que esse assunto 
estava um pouco distante de seus diálogos habituais. 
Além disso, falar sobre nossa formação também não se constitui tarefa fácil.São tantos anos, tantos livros, tantas disciplinas, tantos professores, tantos colegas, 
que certamente aprendemos um pouco de cada experiência que vivenciamos no 
decorrer deste ou daquele curso. Este é também um processo de formação de 
pessoas, de profissionais, o qual vai se constituindo na interação entre 
conhecimentos e experiências, em um espaço de múltiplas expressões, afinal, 
“somos o lugar onde nos fizemos, as pessoas com quem convivemos. Somos a 
história de que participamos. A memória coletiva que carregamos” (ARROYO, 2004, 
p. 14). 
As opiniões dos acadêmicos referentes às mais diversas questões abordadas, 
foram por vezes bastante parecidas, e em outras completamente opostas. Quando 
questionados se foram ou não preparados para trabalhar com uma educação 
 8
humanizadora no decorrer do curso, as respostas foram bem divergentes. Houve 
quem afirmou com certeza que sim e justificou “sim... acredito que sim... devido ao 
curso ser das Ciências Humanas e alguns professores terem trabalhado essa 
questão humanizadora durante as disciplinas”. Já outros afirmaram que em partes o 
curso trabalhou sim, mas que depende muito da busca pessoal de cada um: “eu diria 
que basicamente sim... mas que depende mais de mim ir buscar do que o curso 
oferece porque o que ele oferece é mais amplo... não é profundo... então acho que 
se tu quer entender melhor... buscar sobre isso... eu acho que tu tem que partir de ti 
mesmo e buscar tentar entender melhor”. 
 De fato, a busca pessoal de cada um é tão importante quanto os demais 
conhecimentos adquiridos no decorrer do curso. Cada realidade é única e cada ser 
humano conhece suas deficiências, suas dificuldades. No livro Pedagogia da 
Autonomia, ao alertar para a importância da reflexão crítica sobre a prática, da qual 
decorrem nossos anseios e percepções da realidade, Paulo Freire coloca que: 
 
é fundamental que, na prática da formação docente, o aprendiz de educador 
assuma que o indispensável pensar certo não é presente dos deuses nem 
se acha nos guias de professores que iluminados intelectuais escrevem 
desde o centro do poder, mas, pelo contrário, o pensar certo que supera o 
ingênuo tem que ser produzido pelo próprio aprendiz em comunhão com o 
professor formador (FREIRE, 2005, p. 38-39). 
 
 
Mais importante do que ter a consciência de que a busca parte principalmente 
de nós, de nossa curiosidade epistemológica, e de que verdades únicas não podem 
ser encontradas em nenhum grande quintal do conhecimento, é partir em busca 
desse conhecimento próprio. 
Alguns acadêmicos entrevistados relataram o quanto esse “ir atrás do 
conhecimento” os tornou mais bem preparados para a profissão, tanto como 
pessoas quanto como profissionais. Grande parte deles disse que no decorrer do 
curso sentiu a necessidade de confrontar os livros com a realidade, e por isso hoje 
muitos trabalham em escolas, principalmente realizando trabalhos voluntários, por 
atribuírem uma importância crucial à união da teoria com a prática. 
E são geralmente esses próprios acadêmicos, os que vivenciam de fato a 
realidade como ela é, que se queixam da falta de preparo advinda do curso no que 
se refere às práticas educativas humanizadoras: “eu vejo... aqui no curso que a 
gente tem muita teoria em cima de autores que falam coisas muito bonitas... que é 
 9
uma educação que é uma maravilha... só que quando a gente chega lá fora a gente 
se depara com uma coisa muito diferente... ahn... acho que o curso em si ele não tá 
preparado pras crianças que tem lá fora... pra nos preparar... pro que a gente vai 
encontrar lá fora... então acho que não... na verdade não... Essa educação 
humanizadora... ela não tá acontecendo”. E alguns desses mesmos acadêmicos 
ainda propõem: “em primeiro lugar eu acho que os professores... eles deveriam 
estar mais situados assim com o dia-a-dia da sala de aula... com a prática... o que 
eu vejo é que os professores eles estão muito ligados ainda na questão de autores... 
de bibliografias... e ai é muito bonito o discurso só o que os autores escrevem é 
muito bonito também... eu acho que a gente precisa disso mas a gente precisa muito 
mais... da realidade que a gente vai encontrar lá fora... porque o que a gente vê aqui 
dentro não tem muita coisa a ver com o que a gente vê lá na sala de aula”. 
 Essa realidade, esse contraste entre teoria e prática, sempre foi amplamente 
debatido por muitos autores preocupados com a formação desses futuros 
formadores. Adelar Hengemühle, ao voltar seu olhar sobre essa temática em seu 
livro Gestão de Ensino e Práticas Pedagógicas, alerta que as práticas dos 
professores do Ensino Superior precisam ser repensadas, pois “é certo que, a partir 
dos textos teóricos, o futuro professor pode buscar e qualificar a sua prática, mas 
seria ideal se no Ensino Superior os acadêmicos pudessem exercitar esses 
fundamentos” (HENGEMÜHLE, 2004, p. 153). 
 Muitos dos acadêmicos que têm contato mais freqüente com escolas 
públicas, relatam o quanto por vezes é difícil realizar um trabalho pedagógico em 
consonância com o que aprendem em seus cursos de formação, e relatam sua 
indignação: “às vezes é chocante sabe... porque eu tenho contato com escola 
pública e ela é uma realidade muito... que a gente não tem noção aqui dentro...como 
a universidade não prepara a gente... porque nunca aqui dentro da universidade 
alguma professora me disse... “vocês vão se deparar com situações que vocês vão 
ter que ver... que vocês vão ter que pensar... que vocês vão ter que observar qual a 
melhor forma”... eu não ia saber... se eu fosse a professora que fosse alfabetizar 
aquelas crianças... elas iam sair... eu ia reprovar todas na primeira série porque 
nenhuma ia saber ler... porque eu ia ir pelo método que a universidade me ensinou... 
e que não ia dar em nada”. Outros ainda desafiam: “quem não conhece... quem 
ainda não teve a prática... costuma dizer ‘ai... eu vou mudar muita coisa’... só que tu 
chega na hora... é muito difícil” 
 10
 Essa prática, quando realizada concretamente, apresenta-se sim, repleta de 
desafios, pois como dito anteriormente, é uma prática realizada com seres humanos 
em formação, e por isso, “educar educadores desse dever-ser é mais do que 
dominar técnicas, métodos e teorias, é manter-se numa escuta sempre renovada 
porque essa leitura nunca está acabada. [...] Um saber pedagógico para ser vivido 
mais do que transmitido” (ARROYO, 2004, p. 46). E esta aprendizagem pedagógica 
vai se dando através de muita reflexão, leitura, convívio, diálogo e atenção ao 
movimento de humanização e afirmação de homens e mulheres. Professores e 
professoras vamos aprendendo a ser educadores pelo diálogo e interação com as 
diferentes pessoas, nos diferentes tempos e espaços. 
Vivendo esse contexto, encarando essas tantas e muitas vezes cruéis 
realidades que existem em nossa sociedade, percebemos o quanto nossa tarefa de 
educadores torna-se, de fato, complexa nessa trama de relações que perpassam o 
ambiente escolar. Isso porque devido a nossa sociedade estar em constante 
transformação, muitas vezes esquecemos o significado das palavras afeto e diálogo, 
esquecendo-se assim que somos seres que têm sentimentos próprios. Nesse 
mundo capitalista, quando não representamos nenhuma forma de lucro para nossa 
sociedade, muitas vezes somos vistos como “coisas” absolutamente sem 
importância. Acabamos por nos tornar seres demasiadamente racionais e 
esquecemos inclusive de manifestar nossas emoções. 
 
Nós, seres humanos modernos, do mundo ocidental, vivemos numa cultura 
que desvaloriza as emoções em favor da razão e da racionalidade. Em 
conseqüência, tornamo-nos culturalmente limitados para os fundamentos 
biológicos da condição humana. Valorizar a razão e a racionalidade como 
expressões básicas da existência humana é positivo, mas desvalorizar as 
emoções – que também são expressõesfundamentais dessa mesma 
existência, não o é. (MATURANA; ZÖLLER, 2004, p. 221) 
 
 
Muitos dos acadêmicos envolvidos nessa pesquisa têm noção do quanto 
esses fatores afetam a vida de nossas crianças, e por isso encaram as práticas 
humanizadoras como peças-chave para a preservação da vida: “hoje em dia... a 
educação em si também ela tá voltada muito pro... a sociedade tá muito 
competitiva... e às vezes a educação... ela se volta muito pra isso e a gente esquece 
do lado humano... a gente esquece que uma criança... ela tudo bem... ela tem que 
ser preparada pro futuro... preparada pro mercado... mas ela é humana... ela tem 
que ser preparada também pra:: cuidar do colega dela... pra amar o colega dela... 
 11
pra respeitar o colega dela... então eu acho que às vezes... muitas vezes a gente 
esquece isso... e os professores... eles estão sendo formados pra às vezes 
esquecer isso e pra ir pro conteúdo direto” . E alguns ainda são bastante radicais: “a 
gente tá sendo preparado pra ir lá e dar conteúdo”. 
De fato, a educação não pode mais limitar-se à mera transmissão de 
conteúdos; não pode ignorar essas tantas crianças e esses tantos adolescentes que 
vivem sem perspectivas. Por isso, o interesse do educador pelos educando deve ser 
primeiramente humano; deve estabelecer laços de amizade, de afeto, de confiança e 
dialogicidade. Afinal, o processo educativo não tem meios de acontecer sem a 
criação desses vínculos entre professor e aluno, pois, segundo Arroyo (2004, p. 58), 
“os processos de desumanização a que são submetidos desde a infância levam à 
perda de horizontes, à perda da vontade de ir além de seus limites. A vontade de ir 
além como sonho que deveria ser de toda criança, jovem e adulto. Sonhos triturados 
e abandonados pelas necessidades permanentes da sobrevivência”. 
Fica muito claro também nas falas de muitos acadêmicos, uma grande 
preocupação com o futuro da vida humana. Eles têm muito clara a noção de que se 
não fizermos algo agora por essas milhares de crianças em processo de 
humanização, que vão à escola com o intuito de “ser mais” (FREIRE, 2005), o futuro 
da humanidade estará em consonância com a completa desvalorização da vida 
humana: “eu acho que é muito importante... eu acho assim que as crianças vêm pra 
escola também querendo o carinho... não só querendo aprender... e muitas vezes 
eles não têm o carinho que eles procuram na escola... e é isso que a gente como 
futuras professoras têm que também mostrar... porque uma criança que não tem o 
afeto ela não vai dar também... e se ela não ter aquele aquele contato do ser 
humano mesmo... ela não vai dar depois... e aí... o que que vai ser amanhã depois 
da humanidade se for pensar assim?”. 
Quando questionados a respeito do “tipo” de professor que eles consideram 
que serão, a partir da formação que estão recebendo em seus cursos, as opiniões 
também divergiram: “eu acho que a mais tradicional possível... aquela tipo assim 
oh... que... exatamente aquela que o curso condena... [...] nas nossas experiências 
como acadêmica... o que a gente viu... é exatamente o que a gente vai ser se a 
gente for ver com o curso que a gente teve” . Outros argumentaram “eu acho que eu 
pretendo ser uma professora... que valorize muito a particularidade de cada aluno... 
sabe... que tem que valorizar eles como eles são... pretendo também ser muito 
 12
amiga deles... muito próxima deles... e entender... sabe... ao mesmo tempo... que 
também tu tem que cobrar... tu tem que ser exigente... mas tem um nível pra isso... 
tem uma sensibilidade pra isso... eu pretendo ser assim... em uma palavra... uma 
professora sensível”. 
 Sabemos que não nos constituímos professores apenas no decorrer do Curso 
de Pedagogia. Trazemos muito de nossas vivências enquanto alunos, de nossos 
antigos professores; constituímo-nos educadores na pluralidade de dimensões e 
experiências que acumulamos ao longo da vida enquanto discentes. “Na verdade, 
não nasci marcado para ser um professor a esta maneira, mas me tornei assim na 
experiência de minha infância, de minha adolescência, de minha juventude” 
(FREIRE, 1995, p. 84). 
 Uma das acadêmicas, quando interrogada, comentou: “quando eu penso 
como é que eu vou ser professora... eu venho... eu trago a minha professora da pré-
escola que foi maravilhosa comigo... eu trago a minha professora... sabe... da 
terceira série que foi maravilhosa comigo... eu trago... dos professores de toda a 
minha escolarização... e eu acho que eles... eles nos constituem como profissionais 
sabe... porque são nossas referências... os professores daqui também... eu não 
posso dizer como eu vou ser... posso dizer como eu pretendo ser”. 
 Entre o processo de ensino-aprendizagem e o processo de aprendermos a 
ser humanos não há dicotomia; são processos que ocorrem concomitantemente, 
pois ensinamos e aprendemos na convivência com os demais, e nessa inter-relação 
também aprendemos a ser humanos através do diálogo, do respeito, da afetividade 
e amorosidade para com o outro. E são essas as dimensões que juntas formam o 
processo humanizador, indispensável ao processo educativo. 
 
É preciso que saibamos que, sem certas qualidades ou virtudes como 
amorosidade, respeito aos outros, tolerância, humildade, gosto pela alegria, 
gosto pela vida, abertura ao novo, disponibilidade á mudança, persistência 
na luta, recusa aos fatalismos, identificação com a esperança, abertura à 
justiça, não é possível a prática pedagógico-progressista, que não se faz 
apenas com ciência e técnica. (FREIRE, 2005, p. 120) 
 
 
Há, também, diferentes formas de se compreender como se dá esse processo 
humanizador. Para alguns inclusive, não é possível falar ao mesmo tempo em 
conhecimento e humanização. Foi diagnosticado, no decorrer dessa pesquisa, que 
para alguns dos acadêmicos entrevistados, as dimensões humanizadoras 
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correspondem sim ao diálogo, à afetividade, à amorosidade, ao respeito: “eu acho 
que é justamente isso... é a questão do professor entender o aluno... escutar o 
aluno... ele ver as necessidades do aluno sabe... porque muitas vezes aquela 
criança... ela não aprende... simplesmente pela falta de um abraço... de um beijo... 
de tu chegar e conversar com ela... [...] só conversando mesmo... só no diálogo... só 
tu tentando te aproximar dos teus alunos que tu vai perceber isso... as 
particularidades de cada um”. 
Enquanto isso, outros entendem que humanizar seria apenas aproximar-se do 
outro, ter mais contato, sem levar em conta as dimensões fundamentais desse 
processo: “eu acho que agora mais no final do curso... a gente tá vendo isso... 
porque eu acho que eles ficam mais próximos da gente... até pelo estágio... eu acho 
que eles ficam mais próximos... eles têm mais contato com a gente... mas no início 
do curso eu não vi... não vi mesmo... de ter aquela coisa assim de preocupação”. 
Os atuais e futuros professores precisam ter muita clareza do papel que lhes 
está sendo posto hoje em uma sala de aula. Estabelecer laços de carinho com os 
educandos e tratá-los com sensibilidade e respeito se faz essencial se quisermos 
que o processo de ensino-aprendizagem seja realizado com qualidade, uma vez que 
essas dimensões têm grande influência no processo educativo. Rossini coloca que 
“a afetividade é a base sobre a qual se constrói o conhecimento racional” (ROSSINI, 
2007, p. 9), e continua dizendo que “a falta de afetividade leva à rejeição aos livros, 
à carência de motivação para a aprendizagem, à ausência de vontade de crescer. 
Portanto, uma das nossas máximas é: aprender deve estar ligado ao ato afetivo, 
deve ser gostoso, prazeroso” (Ibidem, p. 15-16). E isso é também percebido por 
muitos acadêmicos quando estes citam que (a afetividade) “vai ajudar em tudo... na 
aprendizagem... o aluno vai ter vontade de ir pra escola... vai ter vontade de 
aprender”; além disso, “o aluno vai teruma interação maior contigo... porque ele tá 
vendo que tu tá se importando com ele”. 
O que a maioria dessas crianças busca na escola é muito mais que 
conteúdos e matérias; estas desejam encontrar na escola primeiramente um toque, 
um carinho, um lugar onde olhem em seus olhos e lhe escutem. Talvez o maior 
desafio que hoje se coloca para a escola e seus profissionais seja o de ser capaz de 
voltar a seus alunos um olhar mais humano e não tão técnico, de criar um vínculo 
afetivo entre aqueles que nela estão inseridos, e que formem talvez a “única família” 
de muitas crianças e adolescentes. 
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O desafio hoje está em pensar e construir uma escola que faça da prática 
educativa uma ação que humanize esses sujeitos fazendo com que se sintam seres 
humanos valorizados, amados, “gostando de ser gente” e, ao mesmo tempo que 
sabendo-se inconclusos, sentindo-se capazes de “ser mais”, em todas as dimensões 
do humano (FREIRE, 2005). Nesse sentido, Paulo Freire, em seu livro ”Educação e 
Mudança”, nos coloca que: 
 
 Não haveria educação se o homem seria um ser acabado (...).O homem 
pode refletir sobre si mesmo e colocar-se num determinado momento,numa 
certa realidade: é um ser na busca constante de ser mais e, como pode 
fazer esta auto-reflexão, pode descobrir-se como um ser inacabado, que 
está em constante busca. Eis aqui a raiz da educação (FREIRE, 1979, p. 
27). 
 
 Esse processo de “ser mais”, de se fazer “mais gente” só pode ser realizado 
na convivência com outros que aprenderam e vem aprendendo essa difícil tarefa. O 
que realmente educa as crianças, tornando-as mais humanas, é muito mais do que 
simples informações. É tudo aquilo que elas vivem e convivem na escola, como as 
alegrias, as tristezas, as idéias e as experiências que compartilham na interação 
com os outros, permitindo que estes também as toquem pelos seus sentimentos e 
vivências. Não se aprende a ser humano se não se puder compartilhar a vida com 
outros seres humanos. E esse espaço é fundamental que seja proporcionado na 
escola; sentimentos e emoções não podem ficar no portão na escola, mas tem de 
ser vividos em toda a sua intensidade. É através dessas experiências que vamos 
nos constituindo pessoas cheias de vida. Inclusive, 
 
O espaço educacional como espaço de convivência na biologia do amor, 
deve ser vivido como um espaço amoroso e, como tal, no encanto do ver, 
ouvir, cheirar, tocar e refletir que permite ver, ouvir, cheirar, tocar o que há 
ali no olhar que abrange o seu meio ambiente e o situa adequadamente. 
(MATURANA; REZEPKA, 2002, p. 17). 
 
Em relação ao fato dos acadêmicos sentirem-se ou não preparados a esses 
desafios, a maioria sente a necessidade de uma maior preparação: “eu acho que... 
há uma preparação... mas não uma preparação assim específica... que no caso eu 
acho que deveria ter uma disciplina... alguma coisa assim mais voltada pra isso... 
pra trabalhar com a questão da humanização... que muitas vezes assim tu fala... 
mas no momento de aplicar é deixado de lado... tu não aplica aquilo que tu aprende 
em sala de aula”. 
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Enquanto isso, muitos afirmam “não... não me sinto (preparado) porque eu 
acho que eu tive muito embasamento teórico... que às vezes ele foi bem dado e às 
vezes teve professores que não deram isso muito bem... mas assim... eu não tive 
uma prática disso... eu não sei como colocar isso em prática”; ou então “o estágio eu 
ainda posso escolher... ahn... numa escola particular... numa... agora se um dia eu 
passar num concurso e me colocarem numa escola... sei lá aonde... com sei lá que 
tipo de criança... eu não vou saber o que fazer... eu não fui preparada pra isso... eu 
até entendo que a universidade não precisa... não consegue preparar pra tudo... 
mas eu acho que o... pelo menos uma base ela tem que dar” 
Há também quem diga que a preparação nunca se acaba: “eu acho que a 
gente nunca tá preparada... eu acho que a preparação... é no decorrer da tua 
vivência... da tua vida... da tua maturidade profissional... a gente se considera 
pessoas preparadas... mas quando nós nos deparamos com situações que nós não 
conhecemos... que são situações distantes daqui da academia a gente acaba vendo 
que... estamos despreparados”; e há também quem atribua sua segurança ao fato 
de já ter atuado em sala de aula: “eu não sei se eu tivesse saído crua da faculdade e 
entrasse... provavelmente eu teria bastante dificuldade... mas por já ter dado aula 
quase três anos... hoje me sinto preparada por eu já ter enfrentado... agora uma 
colega que nunca pisou numa sala de aula... só nos estágios obrigatórios... eu 
acredito que ela vá ter um pouco de dificuldade”. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS (NUNCA ACABADAS...) 
 
Com esta pesquisa podemos concluir que as opiniões dos acadêmicos são 
bastante divergentes. Alguns acadêmicos se julgam preparados para a prática 
educativa, enquanto outros mostram muita indignação pelo fato de sentirem-se tão 
despreparados; e ainda constatou-se que aqueles que se julgam mais preparados já 
tiveram uma maior experiência docente em salas de aula de Educação Básica. 
Ao mesmo tempo, enquanto muitos dos pesquisados discorriam sobre o tema 
com muita clareza e objetividade, outros afirmavam terem sido preparados para 
desenvolver práticas educativas humanizadoras, porém demonstravam não saber 
com clareza aspectos importantes sobre o tema em questão, nem sequer citar 
algum autor importante na área. 
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Pode-se dizer que os acadêmicos reconhecem os desafios que os esperam, 
reconhecem que o mundo lá fora é sim em grande parte cruel com nossas crianças, 
porém alguns se preocupam mais, outros menos. Talvez seja hora dos cursos de 
formação inicial de professores se prepararem mais também para mostrar aos seus 
acadêmicos a vida como ela é. O fato, que tem que ser percebido por todos e todas 
comprometidos com o ato educativo, é que temos em mãos a chance de gerar 
mudanças em nossas escolas e torná-las um espaço de vida no qual todos possam 
viver e compartilhar suas alegrias e tristezas, no qual todos possam ter a chance de 
sonhar, de amar, de se emocionar e de ser feliz. Não é tarefa fácil tornar mais 
humana a vida daqueles que a tanto sofrem por serem humilhados e desprezados, 
ainda mais se pensarmos no pouco tempo que passamos com eles; no entanto, 
alguma coisa sempre é possível fazer. Nas palavras de Arroyo (2004, p. 59), 
 
como ensinar-aprender a ser humanos os desumanizados? Começar por 
equacionar pedagogicamente os limites, as possibilidades vividas pelos 
educandos que temos, não que sonhamos e gostaríamos de ter. Se esses 
limites raiam as fronteiras da desumanização, entender que a primeira 
tarefa da escola e nossa tarefa é que o pouco tempo de escola não seja 
uma experiência a mais de desumanização, de trituração de suas 
esperanças roubadas de chegar a ser alguém. A escola pode ser menos 
desumanizadora do que a rua, a moradia, a fome, a violência, o trabalho 
forçado, mas reconheçamos, ainda, as estruturas, rituais, normas, 
disciplinas, reprovações e repetências na escola são desumanizadores. 
 
A busca por uma educação humanizadora somente se consolidará no 
momento em que entendermos que a ação educativa não se realiza em sua 
totalidade sem a presença do domínio afetivo. Humanizar deve ser o objetivo 
primeiro da escola se quisermos construir um futuro mais digno para essas tantas 
crianças que hoje vivem sem infância. Não há outra forma de se fazer do mundo um 
lugar melhor pra se viver se não apostarmos na educação. E essa aposta deve partir 
de nós, educadores conscientes de nosso papel humano, conscientes de que nossa 
docência é uma humana docência (ARROYO, 2004). 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre: imagens e auto-imagens. 7. ed. Petrópolis, 
Rio de Janeiro: Vozes, 2004. 
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CHALITA, Gabriel. Educação:a solução está no afeto. São Paulo: Editora Gente, 
2001. 
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Tradução: Moacir Gadotti e Lilian Lopes 
Martin. 15. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. 
FREIRE, Paulo. Professora Sim, Tia Não. Cartas a quem ousa ensinar. 11. ed. São 
Paulo: Olho d'Água, 2002. 
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 
31. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005. 
FREIRE, Paulo. Política e Educação. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 1995 (Coleção 
Questões da Nossa Época, v. 23). 
HENGEMÜHLE, Adelar. Gestão de ensino e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: 
Vozes, 2004. 
MATURANA, Humberto; REZEPKA, Sima Nisis de. Formação Humana e 
Capacitação. Tradução: Jaime A. Clasen. 3. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 
2002. 
ROSSINI, Maria Augusta Sanches. Pedagogia Afetiva. 9. ed. Petrópolis, Rio de 
Janeiro: Vozes, 2007 
SAMPAIO, Dulce Moreira. A pedagogia do Ser: educação dos sentimentos e dos 
valores humanos. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2004.