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DIREITO CIVIL PARTE GERAL 10ª AULA

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DIREITO CIVIL – PARTE GERAL – 10ª AULA
DAS PESSOAS JURÍDICAS
O homem é ser social, que vive em grupo. Mas, ao mesmo tempo, tem a sua individualidade e interesses próprios que às vezes não consegue alcançar isoladamente, ou por falta de recursos ou de tempo de vida suficiente. Por isso, associa-se e cria entidades coletivas que lhe permitem alcançar certos objetivos. Essas entidades são denominadas: pessoas morais (França e Suíça), pessoas coletivas (em Portugal), entes de existência ideal (Argentina), e pessoa jurídica (Brasil, Alemanha), etc.
Carlos Roberto Gonçalves diz-nos que as “pessoas jurídicas são entidades a que a lei confere personalidade capacitando-as a serem sujeitos de direitos e obrigações,”� tendo como principal característica atuarem na vida jurídica com personalidade diversa da dos indivíduos que compõem.
A pessoa jurídica por ter personalidade jurídica própria, distinta da dos seus integrantes, é sujeito de direito e, como tal, pode ser sujeito ativo e passivo de atos civis e criminais. Todavia, quanto aos atos criminais só pode praticar aquelas condutas típicas compatíveis com a sua personalidade jurídica, p. ex. a sonegação fiscal, crimes contra o meio ambiente, etc., e só pode sofrer as sanções compatíveis com a sua condição. Realmente, a pessoa jurídica não pode ser condenada a uma pena privativa de liberdade, mas pode sofrer penalidades de natureza administrativa, multas, etc. 
1 - Natureza Jurídica da P.J 
Em que categoria do direito se enquadra a pessoa jurídica? Podemos dizer que a pessoa jurídica é uma pessoa, um sujeito de direito capaz de contrair obrigações e adquirir direitos por si, com personalidade jurídica diferente da dos seus membros.
O fenômeno foi objeto de grandes discussões com teorias a favor e contra. As teorias negativistas negavam a possibilidade da existência da pessoa jurídica. As afirmativistas, ao contrário, aceitavam a sua existência. As primeiras, as teorias negativistas, não interessam.
As teorias afirmativistas dividem-se em dois grupos: Teorias da ficção e da realidade. 
Teorias da ficção. Dividem-se em teorias da ficção legal e doutrinária. Para a ficção legal a pessoa jurídica é um ente fictício, uma criação artificial da lei, pois só a pessoa natural pode ser sujeito da relação jurídica e titular de direitos subjetivos. A teoria da ficção doutrinária é uma variação da anterior. Para esta teoria a pessoa jurídica não tem existência real, mas apenas intelectual decorrente da inteligência dos juristas é, portanto, uma mera ficção criada pela doutrina. A crítica a estas teorias é a de que não conseguem explicar o Estado enquanto pessoa jurídica, pois dizer-se que o Estado é uma ficção é um absurdo.
Teorias da realidade. Para estas teorias as pessoas jurídicas são realidades vivas e não mera abstração da lei ou da doutrina, pois tem existência própria como a pessoa humana. As divergências são relativas apenas ao modo em como essa realidade da pessoa jurídica é encarada. As teorias da realidade dividem-se em: 
Teoria da realidade objetiva ou orgânica. Para esta teoria a pessoa jurídica é uma realidade sociológica, ser com vida própria, que nasce por imposição das forças sociais, representadas pela vontade privada ou pública. Crítica: Esta teoria não esclarece como esses entes sociais podem adquirir vida e personalidade que são próprios do ser humano. Por outro lado reduz o papel do Estado a mero conhecedor da realidade social já existente, sem maior poder criador, o que é falso, pois o Estado, em muitos casos, interfere diretamente no surgimento da pessoa jurídica. 
Teoria da realidade jurídica ou institucionalista. Esta teoria é semelhante à anterior, pois considera as pessoas jurídicas como organizações sociais destinadas a um serviço útil à sociedade e, por isso, com personalidade. Desconsidera a vontade humana na criação da pessoa jurídica, para estabelecer que ela surge de grupos organizados para a realização de uma idéia socialmente útil. A crítica é a mesma feita à teoria anterior, porque não justifica os grupos que se formam sem terem uma finalidade social. 	
Teoria da realidade técnica. A personificação das pessoas jurídicas é expediente técnico, isto é, a forma encontrada pelo direito para reconhecer a existência de indivíduos, que se unem para alcançar determinados fins, nas mesmas condições em que o fariam as pessoas naturais. A personalidade da pessoa jurídica é, portanto, uma atribuição estatal em certas condições. Esta é a teoria adotada pelo direito brasileiro e a que melhor explica a personalidade jurídica das pessoas jurídicas. Maria Helena Diniz denomina esta teoria de teoria da realidade das instituições jurídicas.�
Flávio Tartuce� de forma didática afirma que as pessoas jurídicas surgem no mundo jurídico em decorrência da união de teoria da ficção e da realidade orgânica ou objetiva. De fato, são elas “criadas por uma ficção legal’, mas não se pode “esquecer que a pessoa jurídica tem identidade organizacional própria, identidade essa que deve ser preservada”. Dessa forma cabe o seguinte esquema:
	Teoria da ficção + teoria da realidade orgânica = teoria da realidade técnica.
Definido que a pessoa jurídica é uma pessoa e possui personalidade jurídica própria não há como negar-lhe a possibilidade de ser titular de alguns direitos. Assim, pode ser proprietária ou possuidora; tem plena liberdade de contratar, regra geral; possui direitos quanto às marcas e nomes comerciais das quais é titular (art. 5º, XXIX da CF/88); pode ser beneficiada com direitos sucessórios, via testamento. Na área de direitos da personalidade admite-se que possa sofrer dano moral (art. 52 do CC) de conformidade com a súmula 227 do STJ que diz:
	Súmula 227. “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.”
O dano moral sofrido pela pessoa jurídica, por óbvio, atinge a sua honra objetiva (reputação social) e não a honra subjetiva, pois a pessoa jurídica não possui autoestima.�
2 - Requisitos de formação da P. J
Para que se constitua uma pessoa jurídica, exigem-se os seguintes requisitos: a) manifestação de vontade de uma pluralidade pessoas (ou de uma só pessoa, no caso de empresa individual de responsabilidade limitada, art. 44, inciso VI/CC) ou um conjunto de bens destinados a uma finalidade específica (elemento de ordem material); b) um ato de constituição – estatuto ou contrato social - e respectivo registro no cartório competente (elemento formal); e c) que o objetivo da pessoa jurídica seja lícito.
A vontade humana que cria a pessoa jurídica de direito privado deve apresentar-se por escrito e ser proveniente de mais de uma pessoa com objetivos comuns ou de apenas uma pessoa, no caso de empresa individual de responsabilidade limitada. O ato constitutivo pode ser estatuto (para a associação); contrato social (empresa, sociedades); escritura pública ou testamento no caso de fundação. Em seguida o ato constitutivo deve ser levado a registro, sob pena de a pessoa jurídica não existir por falta de personalidade, ou seja, ser simples sociedade de fato. Por fim, a liceidade do objeto é indispensável. A pessoa jurídica de direito público decorre de outros fatores, como a lei e o ato administrativo, previsão constitucional, além de tratados internacionais.
	Até ao advento da lei 12.441 de 2011 que introduziu o inciso VI no artigo 44 do CC, a pessoa jurídica de direito privado só podia ser constituída por duas ou mais pessoas. Sobre essa figura jurídica, criada para diminuir a burocracia para a constituição de empresas, estabeleceu o enunciado 469 do CJF a empresa individual de responsabilidade limitada passou a ter responsabilidade distinta da do seu proprietário.
Enunciado 469 – “A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) não é sociedade, mas novo ente jurídico personificado.”
3 - Começo da existência legal. 
“Apesar da origem da P.J se situar na vontade humana, expressa em estatuto ou em contrato social (em forma pública ou particular, salvo as fundações que exigemescritura pública ou testamento), a sua existência legal só surge quando o seu ato constitutivo é registrado no órgão competente, no caso o Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, no caso de sociedades civis ou associações. Quando a PJ é sociedade comercial ou microempresa precisa ser registrada na Junta Comercial. Se a PJ é sociedade simples de advogados também deve ser registrada na OAB. Partidos políticos também precisam ser registrados junto ao TSE, além do registro no Cartório das PJ. A natureza do registro do ato constitutivo da P.J é constitutiva, isto é, é o registro que cria a personalidade que inexistia antes disso. Ao contrário o registro da pessoa natural é de natureza declaratória, pois a pessoa natural ganha personalidade jurídica ao nascer com vida.
Em certas situações a P. J. , além do registro, ainda precisa de autorização do governo, sem a qual não poderá ser registrada. É o caso de Seguradoras, Bancos, etc. O art. 121 da Lei de Registro Público trata do procedimento a seguir no registro da P.J. A personalidade da pessoa jurídica só é extinta depois da liquidação. As pessoas jurídicas são representadas pelas pessoas mencionadas nos seus estatutos ou contrato social.
Sociedades de fato ou irregulares. São aquelas que não tem personalidade jurídica, por falta de registro. Na realidade, são mera relação contratual societária (ver art. 986 do CC), que regula a espécie e se aplica às associações. Segundo o art. 990 do CC, os sócios da sociedade de fato respondem solidariamente e ilimitadamente pelas obrigações sociais, muito embora se utilize primeiro o patrimônio da P.J. irregular para fazer o pagamento dos credores. Se a P.J. é regular a responsabilidade do seu sócio é subsidiária.
Os sócios nas relações entre si ou com terceiros só podem fazer prova da existência da sociedade por escrito, os terceiros por qualquer meio de prova. A P.J. irregular será representada em Juízo pela pessoa a quem couber a administração de seus bens, podendo dessa forma cobrar os seus créditos. Por não terem personalidade jurídica estas sociedades não podem contratar a compra e nem alienar bens imóveis.
4 - Grupos despersonalizados
Nem todo o grupo social constituído para alcançar fins de interesse comum tem personalidade. Às vezes até tem características semelhantes às da P.J e pode agir em Juízo ativa e passivamente. Esses grupos não têm personalidade jurídica, mas tem legitimidade processual. São entidades que se formam independentemente da vontade de seus membros, em alguns casos, como o condomínio.
Podemos incluir nesse rol a massa falida, a herança jacente e vacante (art. 1819 e 1823 CC), o espólio, o condomínio (há dúvidas se o edilício a tem ou não, por causa da Lei 4.591, art. 63 § 3º) e até mesmo a sociedade sem personalidade jurídica (art. 12 do CPC). A jurisprudência também entende que consórcios e os vários fundos existentes no mercado de capitais, como fundos de pensão, de ações e de imóveis possam ser representados em Juízo pelos seus administradores. A família também é uma entidade não-personificada, como diz Carlos Roberto Gonçalves.�
5 – Capacidade e representação da pessoa jurídica
A P.J. tem uma capacidade especial, pois não pode praticar todos os atos que a pessoa natural pratica (p. exp. casar, constituir família, ser colocado sob tutela ou curatela) e nem tem a proteção que a lei dispensa aos direitos da personalidade, apenas alguns como: o direito à imagem, ao segredo, etc. (art. 52 do CC). A capacidade especial da PJ está ligada à sua finalidade social, prevista no contrato social ou estatuto.
A PJ exige órgãos de representação para exercer os atos que a sua capacidade especial permite, pois não podendo estar presente por si mesma se faz presente pelos seus representantes que praticam os atos como se fosse a própria entidade. Pontes de Miranda diz que as pessoas que agem pela PJ na verdade não são representantes legais desta, pois ela não é incapaz e os atos são dela mesma, só que realizados por pessoas físicas que a fazem presente. O art. 47 não fala em representante, mas em administrador.
6 – Classificação da pessoa jurídica
As PJ podem ser classificadas quanto à sua nacionalidade: nacionais e estrangeiras; quanto à sua estrutura interna: corporação (sociedade, associação, partido político, entidades religiosas) e fundação; e quanto à sua função: em PJ de direito público e de direito privado. As corporações têm características pessoais, pois representam uma reunião de pessoas voltadas para fins comuns. Já a fundação constitui-se de um patrimônio destinado a um determinado fim. As corporações perseguem fins internos e comuns aos seus integrantes enquanto as fundações têm objetivos externos, estabelecidos pelo instituidor e de interesse social.
As corporações dividem-se em associações e sociedades, sendo que estas podem ser simples e empresárias, em substituição à velha denominação de sociedades civis e comerciais. As associações não visam o lucro e tem fins morais, culturais, desportivos, de assistência, etc. As sociedades simples e as empresárias tem fins econômicos e visam o lucro, só que as primeiras são constituídas, em geral, por profissionais como advogados, médicos, etc., enquanto as segundas tem uma atividade própria de empresário e estão sujeitas ao registro a ser feito no registro público das empresas mercantis, como determina o artigo 967 do CC.
As pessoas jurídicas de direito privado são as elencadas no art. 44, e também os sindicatos. Para o nosso estudo interessam apenas as associações, as sociedades e as fundações. Vejamos.
7. Associações: São P.J. de direito privado constituídas de pessoas que reúnem seus esforços na procura de fins não econômicos (art. 53), tem aspecto eminentemente pessoal voltado para os interesses exclusivos dos seus integrantes. Entre os membros da associação não há direitos e deveres recíprocos, como existe nas sociedades. Os fins são culturais, artísticos, religiosos, beneficentes, etc. Desde que a associação tenha fins lícitos a CF art. 5º, XVII, garante plena liberdade na sua formação. Eventuais negócios que a associação faça para aumentar ou manter o seu patrimônio (vedado o ganho pelos seus associados) não a descaracteriza como associação.
Art. 54 CC. Estabelece o conteúdo do estatuto da associação sob pena de nulidade. Nesta parte deve merecer especial destaque o procedimento para a exclusão de associados. A exclusão só poderá ser feita após ampla defesa do associado. O motivo para exclusão só pode ser fundado em justa causa (quebra da affectio societatatis), previsto no estatuto. Na omissão deste a exclusão só se poderá fazer baseada em motivo grave (crime, ofensas morais, conduta inadequada, etc.,) deliberado pela decisão da maioria de assembléia convocada para esse fim específico (art. 57), sendo que dessa decisão caberá recurso para a assembléia geral. O associado a qualquer tempo pode desligar-se da associação, sem necessidade de justificativa. Art. 59 do CC, estabelece a competência da assembléia geral. Não podendo haver delegação. 
Quanto à qualidade de associado ela não pode ser transferida, salvo se o estatuto estabelecer o contrário. Assim, se algum associado de uma determinada associação falecer a transferência da sua quota ao seu herdeiro’ não implica obrigatoriamente a transferência da qualidade de associado, que pertencia ao falecido (previsão do artigo 56 CC).
Os bens da associação, em caso de extinção desta, terão o destino previsto no artigo 61 do CC, podendo os associados deliberar no sentido de receberem a restituição atualizada das contribuições que fizeram para o patrimônio da associação.
QUESTIONÁRIO
1.- Como você classifica as pessoas jurídicas? 
2.- O que diferencia a sociedade da associação?
3.- Quais os requisitos para que se constitua a pessoa jurídica?
4.- Qual o procedimento a adotar quando se quiser excluir um associado de uma associação?
5.- Qual o destino do patrimônio da associação quando esta se dissolve?6.- O que são sociedades irregulares ou de fato? 
� GONÇALVES. Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro.1. v. Rio de Janeiro: Saraiva, 2003, p. 182
� DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, v.1, p. 230
� TARTUCE, Flávio, op.cit, p. 127.
� TARTUCE, Flávio, op. cit. p. 128.
� Gonçalves, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. V. 1, Rio de Janeiro:Forense, 2003, pg. 193.

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