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CONTEÚDO, METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA
AULA 1- INTRODUÇÃO GERAL À DISCIPLINA
Nesta primeira aula, vamos chamar a atenção para a relevância do conteúdo, da metodologia e da prática do ensino de língua portuguesa através do desenvolvimento de competências e habilidades de leitura, escrita e oralidade a partir da diversidade social e cultural do aluno e dos diferentes saberes linguísticos.
A língua portuguesa
O trabalho com a língua portuguesa sempre foi motivo de divergências, discussões e de problematização acerca dos conceitos, normas e práticas que devem ser estabelecidos como fundamentais no exercício de interação da língua e de seu aprendizado em sala de aula.
A questão do trabalho com a gramática como norteadora dos princípios da língua e de suas implicações no desenvolvimento das práticas orais e de leitura e escrita na formação linguística do aluno torna-se complexa quando desconhecemos o sentido e o conceito de língua e linguagem.
Segundo os PCNS (2000):
“A importância e o valor dos usos da linguagem são determinados historicamente segundo as demandas sociais de cada momento. Atualmente exigem-se níveis de leitura e escrita diferentes e muito superiores aos que satisfizeram as demandas sociais até bem pouco tempo atrás – e tudo indica que essa exigência tende a ser crescente. Para a escola, como espaço institucional de acesso ao conhecimento, a necessidade de atender a essa demanda implica uma revisão substantiva das práticas de ensino que tratam a língua como algo sem vida e os textos como um conjunto de regras a serem aprendidas, bem como a constituição de práticas que possibilitem ao aluno aprender a linguagem a partir da diversidade de textos que circulam socialmente.” (p.30)
De acordo com os resultados da Prova Brasil e do Saeb, que avaliam a competência leitora dos estudantes brasileiros de 5º e 9º anos do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio, menos de um terço dos alunos alcança o nível adequado de leitura e a produção escrita, o que é algo de grande preocupação.
Os índices brasileiros de repetência nas séries iniciais estão diretamente ligados à dificuldade que a escola tem de ensinar o aluno a ler e a escrever.
O professor atual domina as técnicas e teorias do ensino da língua além dos conteúdos a serem trabalhados, mas desconhece a relevância do conhecimento que garanta ao aluno os saberes linguísticos necessários para a sua participação social e cultural efetiva, garantindo ao aluno que saiba se comunicar que tenha acesso à informação de textos diversos, saiba defender diferentes pontos de vistas, produza conhecimento, construa sua própria visão de mundo.
Dentre os vários motivos para termos um quadro tão desolador, configura-se como aspectos negativos duas situações:
O não entendimento pelo professor que o objetivo do ensino da língua portuguesa é formar um cidadão com posicionamento crítico, responsável e construtivo a partir da utilização de sua língua materna nas várias situações sociais e culturais (formal e informal).
A má formação do professor no que se refere ao seu domínio da própria língua, demonstrando grande dificuldade não apenas em alfabetizar como também em promover e garantir o uso eficaz da linguagem.
Segundo Marchusi (2003):
“o aprendizado e o uso da língua natural é a forma de inserção cultural e de socialização.”(p.18).
Pensar num professor ou futuro professor que:
Não leia. Não goste de literatura. Não tenha em seu cotidiano espaços para a leitura. Que não compre livros e nem os tenha em casa como uma pequena biblioteca particular.
É perceber o quanto a língua portuguesa está dissociada de seu mundo, o quanto este professor não percebe que a leitura e outras formas de contato com a língua devem ser uma constante em sua vida.
Talvez muitas destas perguntas não sejam respondidas satisfatoriamente acerca do ensino e da aprendizagem da língua. Muitos de nós fomos apresentados à língua como se ela fosse algo dissociado de nós, como se fosse um corpo estranho que somente com a nossa inserção no espaço escolar é que tomaríamos conhecimento.
E mesmo assim, a sua apresentação se deu de forma destacada, diferenciada da língua falada e escrita do cotidiano.
O aprendizado da língua ocorreu, e ainda ocorre, como se existisse o “certo” e o “errado”, como se algumas práticas fossem consideradas deficientes e uma outra “língua” mais eficiente, social e culturalmente mais privilegiada tivesse que ser “aprendida” e o conhecimento da língua que você construiu desde seu nascimento fosse descartado para assimilar a língua de maior valor em razão de seu poder político e social.
Para que você entenda melhor os pressupostos citados, cabe a você, aluno, tentar responder a algumas questões e refletir:
Suas aulas de Português eram mais focadas no ensino da leitura e escrita ou da gramática?
Como foi a sua trajetória na aprendizagem em língua portuguesa no ensino fundamental?
A prática de leitura de livros literários foi desenvolvida por seu professor? Havia espaços de leitura e contação de histórias?
O gosto pela leitura foi despertado por seu professor?
Havia, na sua família, práticas de leitura? O livro se fazia presente no seu espaço familiar? Ouvia histórias em casa?
Costuma comprar livros para você ou presentear amigos e familiares com livros?
Ainda hoje, você possui práticas de leitura e escrita? Lê livros literários por seu próprio interesse?
Sente dificuldades na prática de leitura e escrita até hoje?
Você se considera um leitor pleno? Lê livros com frequência?
O professor deve tornar-se um leitor efetivo de jornais, revistas, obras literárias, ter acesso aos meios eletrônicos de informação. 
Somente assim a escola estará contribuindo para o aperfeiçoamento pleno do indivíduo na construção de uma visão de mundo melhor e maior.
Nesta aula, você:
- Compreendeu a relevância do conteúdo, da metodologia e da prática do ensino de língua portuguesa através do desenvolvimento de competências e habilidades de leitura, escrita e oralidade a partir da diversidade social e cultural do aluno e dos diferentes saberes linguísticos.
- Aprendeu sobre a importância da formação do professor e o seu papel no desenvolvimento das competências e habilidades.
- Aprendeu também sobre os aspectos negativos com relação ao ensino de Língua Portuguesa, quais sejam:
1.       A má formação do professor no que se refere ao seu domínio da própria língua. 
2.       O não entendimento pelo professor que o objetivo do ensino da língua portuguesa é formar um cidadão com posicionamento crítico, responsável e construtivo a partir da utilização de sua língua materna nas várias situações sociais e culturais (formal e informal).
AULA 2 - LÍNGUA, LINGUAGEM E CULTURA
Desde os primórdios da existência humana, podemos vislumbrar os primeiros passos do ser humano na tentativa de estabelecer a comunicação de modo único, uniforme e especial a fim de que o diálogo e a interação entre os seres humanos fossem capazes de produzir sentido e entendimento.
Na necessidade de o ser humano se fazer entender e transmitir uma ideia, a busca pela organização das palavras em frases estruturadas ocorre inicialmente com muito esforço e exercício de entendimento.
Primeiramente, o ser humano, para se comunicar, fez uso de:
Gestos /expressões faciais e corporais /sons /desenhos
até que conseguisse produzir a palavra que dá sentido, que interage e estabelece um melhor e maior contato com o outro.
Nesse sentido, a esse conjunto de representações que a atividade humana construiu através de uma organização de símbolos verbais ou não verbais, resultado do seu contato com o outro e de suas experiências com o objeto, dá-se o nome de Linguagem.
A linguagem se constrói através de símbolos e de signos que, ao longo de aspectos históricos, sociais e culturais, se organizaram dando sentido à comunicação humana.
Segundo Irandé (2009):
“A troca dos bens simbólicos, que constituem o patrimônio cultural dos grupos humanos,passa irremediavelmente pela mão dupla da interação verbal. Quer dizer, a linguagem é o suporte, a mediação pela qual tudo passa de um indivíduo a outro, de um grupo a outro, de uma geração a outra. E é também o meio pelo qual se criam e se instauram os valores que dão sentido a todas as coisas, inclusive ao próprio homem.” (p22).
Você sabia: Assim, o homem foi distanciando-se dos animais por ser capaz de se comunicar, de expressar sensações, emoções, sentimentos e ideias de modo organizado e, cada vez mais, coerente na interação com o outro.
Mas anterior ao conceito, à ideia de linguagem e de língua, devemos pensar na palavra, na palavra primeira que dá nome às coisas e a tudo aquilo que o homem confronta. É pela palavra que iniciamos os princípios da língua e pela palavra ainda livre, leve e solta é que a linguagem começa a se organizar e fazer sentido.
Segundo o escritor e poeta Bartolomeu Campos de Queirós, em sua obra, Para ler em silêncio, “... A palavra realizou o que anunciava e transformou a desordem em beleza e movimento.” (p.11)
E é a partir da palavra que o ser humano nomeia e constrói signos que são representações das coisas, dos objetos, da natureza que circunda a experiência e o cotidiano das pessoas.
Essa necessidade de estabelecer uma unidade de sentido para o que se pretendia falar se constitui na Língua em que cada membro de um determinado grupo busca se expressar de modo semelhante através de um conjunto de palavras que transmite uma ideia, uma organização, da expressão dos sentidos que o homem atribui às coisas.
Cabe ressaltar que a Língua não existe como uma unidade concreta. Na verdade, ela existe em razão da fala, da comunicação, da expressão que os seres humanos realizam através da interação entre uns com os outros.
Assim, também, devemos compreender que a Língua não é uma unidade única e particular dentro de uma mesma comunidade. Pensar em sua variedade, em sua transformação e diferenças em razão de processos sociais, culturais e históricos, torna-se relevante para entender que a língua, mesmo dando sentido a um determinado grupo, possui níveis de “falares” dos seus diversos contextos de uso.
Segundo Saussure (p.22): 
Considerando os aspectos iniciais, percebe-se que a língua é uma criação social, parte social da linguagem, “...exterior ao indivíduo, que, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude duma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade.”
Assim, pode-se entender por:
Linguagem: é a capacidade do ser humano de se comunicar, isto é, processo comunicativo pelo qual ocorre a interação social e depende da existência de pessoas para que se estabeleça.
Língua: é um conjunto de sinais (palavras) e de um sistema convencional organizado e  estabelecido pelo grupo social que se comunica e interage dentro de uma uniformidade de sentido e contexto.
Considerando tais aspectos, podemos observar que a língua é patrimônio social e cultural de cada sociedade. Cada comunidade se organiza através da unidade em que a língua se apresenta de modo que cada indivíduo se reconhece e interage por meio de códigos convencionados.
Segundo os PCNs (2000),
“Dessa perspectiva, a língua é um sistema de signos histórico e social que possibilita ao homem significar o mundo e a realidade. Assim, aprendê-la é aprender não só as palavras, mas também os seus significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio social entendem e interpretam a realidade e a si mesmas.” (p.24)
Imaginar um povo sem língua, ou seja, sem uma unidade de signos e símbolos, é pensar na ausência de identidade, na desestruturação de ideias e regras sociais que possibilitam a organização de algum modo dos atributos que se impõem ao homem.
Desde que o homem se organizou em grupo, transformando-se numa sociedade para se preservar e construir um sentido para o grupamento de seres humanos, a língua passou a ser o meio de trajetória coletiva, um meio de interagir com o mundo e as coisas em torno dessa comunidade.
Perini (2006) afirma que,
“Cada língua é um retrato do mundo, tomado de um ponto de vista diferente, que revela algo não tanto sobre o próprio mundo, mas sobre a mente do ser humano. Cada língua ilustra uma das infinitas maneiras que o homem pode encontrar de entender a realidade.” (p. 52)
Você sabia: É através da língua, desse sistema particular de representações de signos de um mesmo espaço social e cultural que nós, seres humanos, selamos nossa adesão a um determinado grupo.
Nesse sentido, ao dominar a língua do ambiente no qual se está inserido social e culturalmente, o indivíduo se encontra, se percebe, atua e modifica os espaços que circula. 
Ao dominar os sistemas de signos de uma mesma língua, o ser humano constrói a sua identidade, o seu sentido de pertencimento e permanência na comunidade linguística. Isso garante a qualquer pessoa o seu acesso à informação, à produção também de conhecimento e ao exercício da cidadania.
Ao ressaltarmos tal aspecto do indivíduo em relação à sua língua e à sua interação com o meio, lembramos de uma das mais importantes obras da literatura brasileira: Vidas secas, obra do fantástico Graciliano Ramos. 
A obra foi publicada em 1938 e trata da trajetória de retirantes de uma mesma família, fugindo da seca e buscando um local para viver. Seus personagens são brutos, rudes, quase animalizados pelas condições mínimas de sobrevivência no sertão nordestino. 
O livro é dividido em treze capítulos e nota-se, ao longo deles, a marca social dos sujeitos através da ausência da palavra, ou melhor, do silêncio que se constituem os personagens diante da miséria, do sofrimento e da incapacidade de dizer o que sente por não conseguir “arrumar as ideias na cabeça”. 
O enredo organiza-se em torno de seis personagens: Fabiano, a esposa Sinhá Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo, o Soldado Amarelo e a cachorra Baleia.
O personagem Fabiano se constitui pela carência da palavra ou, em alguns momentos, de poucas palavras. Na discordância de sua condição, muitas vezes, sons, grunhidos e gritos são o meio de expressão desse personagem que na dificuldade da linguagem se animaliza e se submete ao poder. 
 “...não sabia falar [...] Não podia arrumar o que tinha no interior. Se pudesse...Ah! Se pudesse, atacaria os soldados amarelos que espancam as criaturas inofensivas.” (p. 36)
Apesar disso, Fabiano e todos os personagens desejavam se constituir como possuidores de palavras, de oportunidades, de poder, de dizer o que sente em razão da opressão, da miséria e da angústia de se viver na incerteza.
O domínio da palavra, nessa obra, demonstra uma posição de poder, de ser parte de uma sociedade mais privilegiada das condições sociais, políticas e culturais de um grupo. Em contrapartida, a ausência da palavra, a inabilidade de fazer uso da sua própria língua constitui-se como alguém ausente, sem identidade, sem o caráter de pertencimento da sociedade e de suas atribuições nos níveis sociais, culturais e políticos.
Você sabia: Fabiano era familiarizado com a comunicação gestual e sabia interagir com os indivíduos dentro do mesmo espaço social. Mas quando se tratava de se comunicar com palavras, de estruturar frases, de transmitir a sua discordância de algo, o seu posicionamento crítico com estranhos, Fabiano ficava confuso, inseguro, “monomudo”.
Guimaraes Rosa, outro autor da literatura brasileira, gostava de falar sobre as pessoas que tinham dificuldades de expressar adequadamente a língua que falava.
Você sabia: Percebe-se, assim, que o domínio da linguagem, da palavra, é sinônimo de poder, de liberdade, de não ser excluído e nem oprimido por saber que a palavra é força, é a arte de construir ideias, conceitos e posições sobre si mesmo, a vida e o mundo. Não se é escravo, não se é miserável quando sabemos os sentidos das palavras, quando conhecemos os signos e símbolos que cada língua estabelece para as coisas e as pessoas.
Na obra em questão, Fabiano conhecia o seu mundo, conhecia as pessoas,mas não sabia articular o seu pensamento em palavras, não sabia externalizar conceitos sobre sua condição, muito embora, tinha noção de sua adversidade.
Saiba mais: ...Fabiano queria berrar para a cidade inteira, afirmar ao doutor juiz de direito, ao delegado, a seu vigário e aos cobradores da prefeitura que ali dentro ninguém prestava para nada. Ele, os homens acocorados, o bêbado, a mulher das pulgas, tudo era uma lástima, só servia para aguentar facão. Era o que ele queria dizer.” (p.36)
Atenção: Com esta breve reflexão sobre o domínio da palavra e da língua a partir de um olhar da obra Vidas secas, nós, professores, devemos ter consciência de quanto é de fundamental importância o ensino da língua portuguesa nas escolas. E também de como a produção e o desenvolvimento de competências e habilidades da língua se fazem necessários na formação do indivíduo.
Segundo os PCNs (2000), 
“O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento. Assim, um projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos.” (p.23)
Dessa forma, cabe ao professor assumir que a língua possui um caráter político, histórico e sociocultural.
Perceber que a língua movimenta-se continuamente, fazendo-se, construindo-se em novos e diferentes sentidos conforme o tempo e o espaço.
Ensinar língua portuguesa é muito mais do que regras gramaticais, do que formalização de frases e períodos, é com a exploração dos sentidos, dos símbolos diversos e dos espaços socioculturais que o indivíduo faz uso da língua.
Ensinar língua portuguesa é confrontar-se com a realidade social e cultural do país, perceber que a língua é um sistema que sofre constantes mutações e, conforme as necessidades do falante, ela se modifica para que a interação ocorra efetivamente.
Segue abaixo as palavras de Guedes (2006) com relação ao papel do professor no desenvolvimento das competências e habilidades em língua portuguesa:
“Do mesmo modo, não se propõe que a aula de português se transforme numa grande oficina de criação literária; pelo contrário, a aula de português vai  transformar-se no lugar em que todos assumirão sua palavra para dizer de si e de todos nós, vai transformar-se num lugar onde o reconhecimento de algum artista pelos artesãos seus leitores vai comprometer o reconhecido com o crescente nível de exigência dos artesãos-leitores que se aperfeiçoam com ele e, principalmente, em vez de dividir a turma entre a casta dos que têm misteriosos dons e, por isso, direito à fala, e dos que calam ante sua voz, vai atribuir ao artista o compromisso de na sua voz ecoar a voz de todos.” (p.56)
Nesta aula, você:
Compreendeu o conceito de língua, linguagem e cultura.  Além de aprender que a língua como identidade de um povo forma-se através da atribuição de sentidos e das relações que o homem estabelece com as diversas situações da vida.
Aprendeu também que as representações simbólicas e concretas que a linguagem é capaz de produzir estabelecem a interação do indivíduo com o outro e o mundo que o circunda.
Assimilou também que o ensino da língua portuguesa é condição essencial para garantir ao indivíduo o contato privilegiado com o meio social diverso, pois somente com o desenvolvimento das competências e habilidades da língua que fala, é que podemos conquistar a inserção em espaços sociais, culturais e políticos diversos com os quais o falante está acostumado a interagir.
AULA 3 - CONHECIMENTO DE MUNDO E A LEITURA
Esta aula se propõe, inicialmente, a destacar a importância do conhecimento e da leitura de mundo. Portanto, vejo que é oportuno apresentarmos um texto do grande pedagogo Paulo Freire retirado de sua obra, A importância do ato de ler para que possamos refletir e nos posicionar a respeito de seu texto, além de ampliar nosso olhar diante do trabalho do professor com as práticas de leitura em sala de aula.
Vamos, a partir de trechos do texto, conversar um pouco sobre as práticas sociais de leitura através das experiências familiar e escolar, e depreender como o conhecimento de mundo se constrói ao longo das experiências de vida do indivíduo, fazendo o que Freire afirma sobre aprender a ler primeiro através da “leitura do mundo”, além de destacar o papel do professor como mediador e incentivador da leitura.
A Importância do ato de ler*Paulo Freire
“Aceitei vir aqui para falar um pouco da importância do ato de ler.”
Me parece indispensável, ao procurar falar de tal importância, dizer algo do momento mesmo em que me preparava para aqui estar hoje; dizer algo do processo em que me inseri enquanto ia escrevendo este texto que agora leio, processo que envolvia uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo.
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto (grifo nosso).
Ao ensaiar escrever sobre a importância do ato de ler, eu me senti levado - e até gostosamente - a "reler" momentos fundamentais de minha prática, guardados na memória, desde as experiências mais remotas de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim constituindo.
Ao ir escrevendo este texto, ia "tomando distância” dos diferentes momentos em que o ato de ler se veio dando na minha experiência existencial. Primeiro, a “leitura” do mundo, do pequeno mundo em que me movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo de minha escolarização, foi a leitura da “palavramundo”.
Neste trecho inicial, notamos que aprender a ler é algo muito maior, muito mais complexo do que simplesmente a decodificação das palavras, da interpretação nua e crua das frases e períodos que compõem muitas vezes um texto.
Freire demonstra que ler é, antes de tudo, uma conquista realizada a partir da vivência, da troca que se faz com o mundo em suas mais diversas situações que o indivíduo deve confrontar-se. Antes de aprender a leitura escolarizada, a leitura que, muitas vezes, é condicionada por padrões que a sociedade e a escola determinam como cultura letrada, de prestígio, o indivíduo aprende a ler o mundo, aprende a olhar o mundo e as palavras sentidas e ouvidas antes da decodificação em conceitos gramaticais.
Muito do conhecimento de mundo, da capacidade crítica, da produção de conceitos que o indivíduo realiza advém de sua interação com os espaços sociais diversos e com o outro.
Ler é um processo de construção contínuo de nosso relacionamento com a realidade, e a forma como pensamos e transformamos essa realidade. Estar no mundo é viver a cultura, adentrar no conhecimento de mundo que é complexo e dinâmico, pois os valores de um grupo, de uma sociedade determinam muito o nosso conceito de vida, a nossa leitura de mundo.
Por esta razão, ler o mundo é conhecer os valores e ideias que circulam num espiral contínuo de uma determinada sociedade. Logo, é imprescindível entender que ler pressupõe não apenas decodificar esta realidade, mas sim, ser capaz de apropriar-se dos valores de uma determinada cultura e de pensar e produzir também conhecimento.
Antes da palavra dicionarizada, normatizada, o indivíduo descobre que a linguagem produzida pelo ser humano requer o valor simbólico de seus signos que determinam a interação e o entendimento dos usuários de uma língua.
Se pensoe falo a palavra casa, você não apenas reconhecerá os sons que a formam por ser falante da mesma língua, como também, visualizará a ideia casa.
E mesmo que pensemos em diferentes estilos, tamanhos e lugares de uma casa, a ideia da palavra casa será sempre a mesma para cada indivíduo. Isso acontece porque houve um acordo estabelecido entre os falantes de uma mesma língua para determinar um valor, conceito e associação entre a palavra casa e a sua representação.
Se não houvesse este acordo, não haveria possibilidade de entendimento, não seríamos capazes de identificar a relação de uma palavra com a sua imagem. Ou seja, a linguagem ficaria prejudicada. A esse mecanismo que o ser humano estabelece como valor simbólico, as coisas e pessoas que circundam seu mundo dá-se o nome de signo.
Signo liguístico: Unidade de significação de tudo aquilo que há no mundo e se relaciona com o homem.
Mas também é relevante considerar que os signos carregam duas partes:
O significante: Significante - sequência sonora (o nome) Signo lingüístico
O significado: Significado - a ideia, o conceito que se tem do que se ouve. A ideia correspondente ao nome.    
Por exemplo, as palavras  não são meros nomes, elas representam a junção entre o nome e o seu significado (sentido). Quando dizemos: “carro, flor, chuva, amor .....", associamos o nome da palavra com a ideia e quando ouvimos, fazemos a mesma associação.
VEJA BEM  :
O conhecimento de mundo de cada um, a percepção da realidade, a cultura em que o indivíduo está inserido etc  são fundamentais  para  este indivíduo fazer a junção entre nome e sentido, pois quando há desconhecimento do nome, não é possível encontrar o sentido do que se ouve ou do que se lê.  O que se ouve ou se lê é compreendido quando  a junção entre o nome e o sentido ocorre. 
EXEMPLO:
Ao pensar na palavra amor, muitos teriam a ideia de uma relação entre namorados, marido e mulher, outros associariam a relação entre uma mãe e seus filhos, ou ainda alguém faria associação da palavra amor com a ideia de DEUS. Poderíamos também pensar no amor bandido, amor filial, amor traído, amor perdido, amor espiritual e em tantas outras leituras de mundo a partir dos diversos valores simbólicos e ideológicos que poderíamos associar a este signo.
Logo, a linguagem e a realidade estão intimamente interligadas na interação do indivíduo com o mundo através de sentidos convencionados ou diferentes a partir de processos que são social, cultural e historicamente mutáveis.  
Permitir que a criança e o jovem viva, constantemente, experiências ricas, produtivas, diversas e instigantes nas suas relações com o outro, com as coisas e o mundo, é torná-los mais sensíveis e produtores da palavra mundo, da leitura de mundo.
Viver sensações, emoções diferentes é promover na criança e no jovem a capacidade de externalizar seus pensamentos, de emitir opiniões, de produzir visões de mundo em razão de uma participação social mais efetiva.
Neste momento do texto de Freire, percebe-se como o espaço familiar é de fundamental importância na construção do olhar, na percepção de mundo que se constrói a partir das experiências vivenciadas e dos registros que realizamos em nossa memória intuitiva e perceptiva.
O contexto social e as diversas implicações que se estabelecem em nosso mundo infantil e juvenil será registrado, organizado e armazenado em nossa memória e transformado em conhecimento. Como Freire afirma, “o texto”, “as palavras”, surgem antes no pensamento, na expressão de nossa fala acerca do que observamos do que na produção escrita e leitura formal que iremos mais tarde aprender.
Nesse sentido, a linguagem será cada vez mais elaborada, mais reflexiva, mais particular e percebida como processo de “ler o mundo”. Para isso, o ambiente precisa ser natural e rico em experiências.
Saiba mais: Assim, observa Eric H. Lennerberg:
“Desde que a criança seja rodeada de um ambiente falante, a linguagem se desenvolverá automaticamente, com uma rígida história de desenvolvimento, uma forma altamente específica de comportamento de generalização, e uma relativa dependência da história maturacional da criança.” (In. Chomsky et alii, 1970: 86-7)‏
Luft fortalece esta ideia quando diz,
“A linguagem da criança, quanto ao nível cultural e vocabulário, dependerá naturalmente do meio em que ela vive, dos modelos a que é exposta para liberar suas próprias capacidades.” (p.56)
Mais uma vez, notamos o quanto a família é importante na construção de estímulos à prática da língua. A família é o primeiro contato do indivíduo com a sua língua, com as palavras, e ter neste ambiente um local propício ao aprendizado adequado e rico da língua é de extrema relevância.
Continuando neste esforço de “re-ler” momentos fundamentais de experiências de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim constituindo através de sua prática, retomo o tempo em que, como aluno do chamado curso ginasial, me experimentei na percepção crítica dos textos que lia em classe, com a colaboração, até hoje recordada, do meu então professor de língua portuguesa.
Não eram, porém, aqueles momentos puros exercícios de que resultasse um simples dar-nos conta de uma página escrita diante de nós que devesse ser cadenciada, mecânica e enfadonhamente “soletrada” e realmente lida. Não eram aqueles momentos “lições de leitura”, no sentido tradicional desta expressão. Eram momentos sem que os textos se ofereciam à nossa inquieta procura, incluindo a do então jovem professor José Pessoa.
Mais tarde, se percebe que a inserção do menino no espaço escolar, longe de afugentar das aulas de língua portuguesa, promoveu a sua proximidade com a língua em razão de Freire ter uma professora que respeitava a competência linguística que o aluno já trazia, além de provocar e valorizar o desenvolvimento de novas e complexas práticas de leitura e escrita.
Tudo isso contribuiu, ao longo do tempo, com a formação de Freire como professor de português. O seu papel no ensino da língua tem caráter inovador e crítico com relação às práticas costumeiras do ensino da língua e de suas regras. A leitura dos textos, e de algumas obras, tinha como critério avaliar as diferenças da língua produzida no país, como incentivar a leitura crítica, questionadora e formadora de opinião nos exercício pleno dos saberes linguísticos.
Algum tempo depois, como professor também de português, nos meus vinte anos, vivi, intensamente, a importância elo de ler e de escrever, no fundo indicotomizáveis, comos alunos das primeiras séries do então chamado curso ginasial. A regência verbal, a sintaxe de concordância, o problema da crase, o sinclitismo pronominal, nada disso era reduzido por mim a tabletes de conhecimentos que devessem ser engolidos pelos estudantes. Tudo isso, pelo contrário, era proposto à curiosidade dos alunos de maneira dinâmica e viva, no corpo mesmo de textos, ora de autores que estudávamos, ora deles próprios, como objetos a serem desvelados e não como algo parado, cujo perfil eu descrevesse.
Os alunos não tinham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a sua significação profunda. 
Só apreendendo-a seriam capazes de saber, por isso, de memorizá-la, de fixá-la. A memorização mecânica da descrição do elo não se constitui em conhecimento do objeto. Por isso, é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto, é feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala.
Creio que muito de nossa insistência, enquanto professoras e professores, em que os estudantes “leiam”, num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea que às vezes temos do ato de ler. Em minha andarilhagem pelo mundo, não foram poucas às vezes em que jovens estudantes me falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a serem muito mais “devoradas" do que realmente lidas ou estudadas. Verdadeiras “lições de leitura"no sentido mais tradicional desta expressão, a que se achavam submetidos em nome de sua formação científica e de que deviam prestar contas através do famoso controle de leitura.
Em algumas vezes cheguei mesmo a ler, em relações bibliográficas, indicações em torno de que páginas deste ou daquele capítulo de tal ou qual livro deveriam ser lidas: "Da página 15 a 37".
A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com a quantidade de páginas escritas. No entanto, um dos documentos filosóficos mais importantes de que dispomos, As teses sobre Feuerbach, de Marx, tem apenas duas páginas e meia...
Parece importante, contudo, para evitar uma compreensão errônea do que estou afirmando, sublinhar que a minha crítica a magicização da palavra não significa, de maneira alguma, uma posição pouco responsável de minha parte com relação à necessidade que temos, educadores e educandos, de ler, sempre e seriamente, os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos adentrarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa prática enquanto professores e estudantes.
Continuando neste esforço de “re-ler” momentos fundamentais de experiências de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim constituindo através de sua prática, retomo o tempo em que, como aluno do chamado curso ginasial, me experimentei na percepção crítica dos textos que lia em classe, com a colaboração, até hoje recordada, do meu então professor de língua portuguesa.
Creio desnecessário me alongar mais, aqui e agora, sobre o que tenho desenvolvido, em diferentes momentos, a propósito da complexidade deste processo. A um ponto, porém, referido várias vezes neste texto, gostaria de voltar, pela significação que tem para a compreensão crítica do ato de ler e, consequentemente, para a proposta de alfabetização a que me consagrei. Refiro-me a que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele.
Na proposta a que me referi acima, este movimento do mundo à palavra e da palavra ao mundo está sempre presente. Movimento em que a palavra dita flui do mundo mesmo através da leitura que dele fazemos. De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de transformá–lo através de nossa prática consciente.
A palavra tijolo, por exemplo, se inseriria numa representação pictórica, a de um grupo de pedreiros, por exemplo, construindo uma casa. Mas, antes da devolução, em forma escrita, da palavra oral dos grupos populares, a eles, para o processo de sua apreensão e não de sua memorização mecânica, costumávamos desafiar os alfabetizandos com um conjunto de situações codificadas de cuja decodificação ou “leitura” resultava a percepção crítica que é cultura, pela compreensão da prática ou do trabalho humano, transformador do mundo. No fundo, esse conjunto de representações de situações concretas possibilitava aos grupos populares uma "leitura” da "leitura” anterior do mundo, antes da leitura palavra.
Paulo Freire 12 de novembro de 1981.
Ensinar a língua portuguesa, para Freire, não era exatamente, a demonstração de um conjunto de conceitos, nomenclaturas, regras e exceções.
Ensinar a ler, a escrever e a falar era algo muito mais inerente ao ser humano, muito mais inerente a sua capacidade de transformar-se e de transformar o ambiente.
Ensinar a palavra não era um processo de dicionarização da mesma, mas a construção de saberes, de construção crítica da palavra dentro de um contexto e de uma realidade social, política e cultural do indivíduo.
Para Freire ensinar a ler, era garantir ao aluno seu acesso pleno ao exercício da cidadania direito inalienável de todos.
Nesta aula, você:
- Compreendeu o conceito de leitura do mundo a fim de promover e ampliar o mundo da leitura do aluno.
- Aprendeu também que o conhecimento de mundo é fundamental para tornar o indivíduo mais crítico e produtor de suas práticas discursivas em contextos sociais e culturais distintos.
- Assimilou também que, as experiências de vida do indivíduo possibilitam a leitura do mundo de um modo particular, promovendo a percepção de si mesmo e das manifestações simbólicas e concretas na sua interação com o mundo.
- Percebeu que o papel da escola e do professor, no ensino da língua portuguesa, é importante na construção, mediação e incentivo das práticas sociais de leitura.
AULA 4 - LINGUÍSTICA E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Para que você entenda melhor os objetivos do ensino de língua portuguesa e a importância do estudo da linguística na formação do professor, iniciaremos a aula com a definição do termo linguística. Podemos dar duas definições para o termo:
Linguística
A primeira seria o estudo da linguagem. Ciência que se ocupa do estudo da linguagem humana manifestada pelas diferentes línguas.
A segunda definição é o estudo da faculdade humana de linguagem e das línguas que existem ou existiram, historicamente.
Sendo assim, precisamos ter um breve histórico do campo da linguística.
Em seu ensaio “Erros de Escolares como Sintomas de Tendências do Português no Rio de Janeiro”, Mattoso afirmava que muitos dos erros e desvios na produção oral e escrita dos alunos, das escolas de ensino fundamental e médio, que eram observadas pelos professores não era nada mais do que mudanças e adaptações que a língua estava fazendo conforme as regiões e grupos distintos.
Saiba mais: Foi com Joaquim Mattoso Câmara Jr., linguista brasileiro, que os primeiros estudos sobre o ensino da língua ocorreram.
Pensar então na ideia do erro ou incapacidade do aluno de usar a sua língua era um equívoco. Assim, Mattoso sugeria que os professores começassem a se interessar pela diversidade linguística da língua em nosso país em razão de suas dimensões geográficas e práticas sociais e culturais tão particulares. Ao rever seu conceito de língua, os professores começariam a compreender melhor os procedimentos de ensino da língua materna.
Saiba mais: Refazer a ideia de unidade da língua seria inicialmente confuso e complicado, pois ao longo de nossa história, a gramática sempre foi considerada um veículo norteador de nossa língua, ou seja, sempre foi caracterizada como padrão normativo de como as pessoas falantes do português deveriam se expressar corretamente.
Compreender um pouco a contribuição da linguística no estudo da língua torna-se fundamental para que a aprendizagem tenha sentido para o aluno e que o professor compreenda os meios pelos quais ele deve iniciar o estímulo ao aprimoramento da competência e habilidade no uso da língua.
Obviamente que toda língua necessita de normas que estabeleçam um padrão para que todos compreendam o que falamos ou escrevemos, pois sem um princípio norteador dessa produção todos não conseguiram se entender.
GRAMÁTICA
Nesse sentido, poderíamos conceituar o termo como um conjunto de regras determinadas da língua de um mesmo povo a fim de estabelecer um único padrão oficial de produção oral e escrita dentro do conceito de “expressividade correta e elegante”.
Atenção: Se consideramos este conceito de gramática como determinante da produção oral e escrita do falante, não saberíamos analisar as diferenças que ocorrem na língua em regiões diversas ou até mesmo entre os falantes num mesmo espaço.
Falando um pouco de história...
Em 1957, um grupo de estudiosos da língua, após estudos sistematizados, aprovaram em caráter de recomendação a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), e muitos compêndios de gramáticaque utilizavam a nomenclatura recomendada foram publicados na esteira desse processo.
Baseado nisso, até o final do século XX, nas escolas, estudar língua portuguesa na verdade, consistia no estudo da gramática, no estudo de conceitos, regras e listas de exceções da língua através de frases ou períodos sem o menor sentido. Não havia o estudo ou análise de textos, de palavras que fizessem algum sentido ou remetessem a algum texto para o debate e a produção oral e escrita a partir do texto.
Estudar acentuação gráfica, ortografia, estudo das listas de verbos e a prática constante da análise sintática se faziam presente em frases desconexas. O objetivo na construção de frases ou períodos, ou até mesmo, na apresentação de trechos de parágrafos era exemplificar a aplicação das regras apresentadas pelo professor.
Assim, ao apresentar as regras e análise da língua, o falante que adentrava a escola percebia que aprender uma outra língua seria algo difícil por ser  esta “limpa, correta”, sem desvios ou erros como o professor apresentava em sala de aula.
Para que o aprendizado ficasse mais complicado, o professor de língua portuguesa apresentava textos do Barroco ou Arcadismo como primores da beleza da língua. Além de falar de autores como Camões ou o Padre Vieira que tinham construções complexas e com uma linguagem cheia de duplo sentido.
Desse modo, a criança que chegava a primeira vez na escola percebia que esta existia apenas para apresentar, ensinar e fazer praticar o português culto. Notava também que a língua que ela trazia era ignorada e a diversidade não deveria ser fruto de estudo e manutenção porque definir uma pronúncia ou estrutura padrão era a regra.
Entretanto, para aqueles que estudam a língua, os linguistas, a língua não se confunde com frases soltas, com “seleção vocabular adequada” no comportamental verbal do dia a dia. Ao contrário, a língua é fruto de uma produção muitas vezes abstrata, subjetiva e diversa pelo contexto histórico, temporal, social e cultural. Cada comunidade possui um conhecimento socializado da língua que produz diversidade, mas também sentido e funcionalidade no uso da língua.
Estudar com o conceito de língua padrão seria um procedimento preconceituoso e inadequado. Afinal, estudar apenas os textos antigos, de escritores famosos, textos de produções acadêmicas e livros como determinantes de um padrão da língua seria desconsiderar toda a diversidade de produção oral e escrita nos lugares mais distantes de nosso país.
Percebe-se que os falantes de uma mesma língua gostam de compartilhar, de demonstrar sua riqueza e diversidade cultural. Os estudiosos perceberam que havia muito mais diversidade e variantes da língua do que a construção da ideia de uniformidade.
Como não perceber e não estudar o dialeto caipira, o jeito mineiro de se expressar, o modo ‘paulistês’, o ‘gauchês’, o falar do sertanejo, as gírias e chiados do carioca assim como tantas outras variedades regionais em nosso país.
Necessário perceber que, de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que a língua é usada, há variações que esta apresenta ao qual os estudiosos acabaram de nomear como variedades linguísticas.
Desse modo, estudar a língua por suas variedades deveria ser o modo mais comum e abrangente.
Estudar as diferenças e diversidades de produção oral da língua não deveria, então, se constituir meios de apontar algumas variedades como corretas e outras erradas, mas, sim, descrever suas características particulares e as regularidades presentes em cada variedade de modo que o conceito de “erro” seria, na verdade, uma diferença entre os diferentes sistemas linguísticos que convivem no mesmo país.
Aliás, cabia ao aluno apenas decorar as regras e exceções da língua através de sua norma e que assim seria capaz de compreender, falar e escrever corretamente e adequadamente. Mas o que notamos é que a gramática normativa descrevia e avaliava uma língua distante do texto, longe das diversas produções concretas, reais do cotidiano.
Estudar o texto deveria ser o mais importante, perceber as diferenças de sentido para uma mesma palavra em razão de sua variante regional também tornaria a aula mais produtiva, mais próxima de uma realidade, além de promover ao aluno a compreensão de que os “falares” distintos são parte de um mesmo país, de um mesmo povo.
Por estas razões, a prática do ensino gramatical nas escolas começou a ser questionada em razão de que este ensino estava centrado em normas e padrões de prestígio determinados por um grupo socialmente distante da realidade regional e cultural do país.
O modo como o estudo da gramática se baseava nas salas de aula estava dicotomizado, ou seja, dividido em frases, expressões isoladas de uma realidade, de um contexto e que não traziam nada de relevante e significativo ao aluno.
Um exemplo muito simples dessa nossa diversidade regional é o caso do famoso pãozinho francês e como este é conhecido em diferentes lugares:
Rio Grande do Sul: cacetinho
Ceará: carioquinha
Interior do Nordeste: pão aguado
Região Norte: carequinha
Rio de Janeiro: pão de sal
Há na linguística duas correntes importantes que definiram o rumo do ensino de língua portuguesa em nosso país.
A primeira é conhecida como a linguística estruturalista que tinha como defensores o suíço Ferdinand de Saussure e o russo-americano Roman Jakobson que pensaram a língua como um sistema e o modo como o indivíduo realizava a aquisição da linguagem.
A segunda é conhecida como a gramática gerativa de Noam Chomsky que perdura até hoje.
As diferenças entre as linguísticas são grandes:
A linguística estruturalista alinhava seus conceitos sobre linguagem em bases behavioristas, sugerindo que a língua é assimilada por um processo indutivo, no qual a exposição constante a uma grande quantidade de dados era fundamental, ou seja, a língua era concebida como um objeto matemático, quanto mais interação, quanto mais envolvimento, mais assimilação e aprendizado efetivo.
Chomsky afirma que mesmo todo indivíduo, já possuindo essa capacidade inata de aprendizagem da língua, a aquisição da linguagem se dá dentro de um período e prazo determinado pelas condições do ambiente e, mais precisamente, na primeira infância.
Chomsky afirma que o aprendizado da linguagem deve ser baseado não apenas no aspecto social, mas principalmente na esfera do psicológico e do biológico. A produção da linguagem ocorre em razão de uma capacidade inata que é a mesma para todos os indivíduos da espécie humana. Logo, todos são capazes de aprender uma língua e se adaptar com as suas diferenças em razão dessa aptidão inata.
Por esta razão, podemos perceber que a uma criança com pouco mais de 3 anos já domina cerca de 5000 palavras do vocabulário da sua língua e produz frases com sentido (não estamos falando aqui de situações complexas e de expressões e palavras pouco comum no dia a dia).
É importante compreender que na infância os estímulos ao uso da língua permitem que a criança assimile rapidamente ou que até mesmo aprenda outro idioma com uma facilidade que não será mais a mesma na fase adulta.
Primeiro, a língua não é algo a ser ensinada no seu sentido normativo gramatical, mas, sim, deve-se dimensionar ao aprendizado da língua a partir de uma exposição constante de dados significativos da fala e da escrita em suas mais diversas situações e especificidades, demonstrando ao aluno que as práticas sociais da língua perpassam pela noção do uso funcional e de certas particularidades da cada grupo ou comunidade falante de uma mesma língua.
Não se trata aqui de afirmar o abandono do ensino da gramática, mas fazer uso dela como instrumento norteador para uma melhor adequação das práticas orais e escritas da língua em situações mais formais como, por exemplo, a linguagem técnica e a científica.
Nesse sentido, o professor de língua portuguesa, ao compreender que as crianças já são falantes de sua língua quando chegam à escola, deve redirecionar a especificidade do seu papel no ensino da língua materna.
Outraquestão a ser estudada no campo da linguística é o do funcionalismo. A denominação “funcionalismo” se dá em razão de seu objetivo ser explicar as características formais da língua através das funções que exerce.
“Os estudos linguísticos também precisam ser considerados na linha da Sociolinguística e do Funcionalismo."
A Sociolinguística  considera a língua  em seu aspecto social, assinalando as variações.
Outra questão a ser estudada no campo da linguística é o do funcionalismo. A denominação “funcionalismo” se dá em razão de seu objetivo ser explicar as características formais da língua através das funções que exerce.
Funcionalismo
Promover um estudo abrangente da língua com relação aos significados e competência para interagir em diversos aspectos da interlocução é um princípio do funcionalismo.
Essa concepção remota à chamada “Escola Linguística de Praga”, particularmente a seus representantes anteriores à Segunda Guerra Mundial e retomada na segunda metade do século XX.
O linguista inglês Halliday demonstrou que qualquer sentença cumpre simultaneamente três funções, que ele chamou de:
Ideacional: Fornecer representações do mundo.
Interpessoal: Monitorar o fluxo de informação nova num contexto dado.
Textual: Instaurar diferentes formas de interlocução como perguntar, afirmar, ordenar, assumir graus diferentes de comprometimento em relação àquilo que se diz.
Um importante aspecto a considerar é o princípio de escolha. Para o funcionalismo, cada pessoa pode utilizar a língua de seu grupo social de uma maneira particular que, em alguns casos, pode se configurar a um estilo pessoal, personalizado, ou seja, o falante constrói seus enunciados, escolhendo simultaneamente em vários conjuntos de alternativas proporcionados pelo sistema linguístico.
Exemplo: Você, ao falar ou escrever, dá preferência a determinadas palavras, expressões ou construções que se incorporam ao seu modo de usar a língua, seja em decorrência de sua comunidade mais próxima (família, grupo de amigos, ambiente de trabalho, escola etc.) ou por uma opção consciente, decorrente de suas leituras ou experiências linguísticas (ao produzir qualquer frase, escolhemos não apenas as palavras, mas também a construção gramatical, a entonação etc.).
O papel do falante e as particularidades da mensagem produzida por ele são fundamentais não apenas para se entender os motivos de certas escolhas, mas também para o estudo dos diversos gêneros textuais e do estilo.
Nota-se assim que a linguística é uma ciência teórica e descritiva, e a sua função não é apenas compreender o que é a língua, mas, sim, compreender as variantes que a linguagem produz na diversidade social, regional e histórica.
Compreender isso é permitir ao aluno não apenas conhecer estas diferenças, mas também respeitar e valorizar a diversidade regional e cultural de um país.
O ensino da língua portuguesa em nossas escolas não pode se caracterizar como opressor e repressor dessas diferenças. Não deve impor uma língua “livresca”, uma língua apenas produzida pela gramática.
Em uma obra de grande importância para o nosso estudo, Língua e Liberdade, de Celso Luft (2004), este afirma:
“O que me preocupa profundamente é a maneira de se ensinar a língua materna, as noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramaticalista, a distorcida visão de que ensinar uma língua seja ensinar uma língua ensinar a escrever o certo, o esquecimento a que se relega a prática da língua, e, mais que tudo: a postura opressora e repressiva, alienada e alienante desse ensino, como em geral de todo o nosso ensino em qualquer nível e disciplina.” (p.12)
Infelizmente, ainda há uma forte corrente de professores que pensam que o ensino de língua portuguesa deve ser estruturado através do aprendizado de um compêndio de regras que definem o funcionamento de determinada norma, além da exposição constante de exercícios de classificação e identificação de termos da língua.
É inegável que repensar o conceito de ensino da língua é fator primordial para que possamos dar sentido, relevância às produções orais e escritas advindas inicialmente dos alunos e, ao mesmo tempo, apresentar uma diversidade de gêneros textuais que circulam no dia a dia nos mais diferentes níveis de interlocução, sejam estes formais ou informais.
Olhar para a língua como construção de competência e habilidade aos saberes linguísticos no campo social, regional, cultural e histórico é permitir olhar para o aprendizado sob o ângulo do possível, do aceitável, do permitido, do diverso, da simples e criteriosa imposição da correção e do que é gramaticalmente correto.
Alguns professores já perceberam que o ensino de língua portuguesa é muito mais do que ensinar gramática, mas, sim, ensinar as diversas possibilidades que a língua permite fazer uso e mostrar que o domínio da língua é promover a inserção e participação social efetiva do indivíduo em diferentes situações de exposição.
Apesar de todos os estudos da linguística, com o objetivo de demonstrar a realidade da diversidade da língua em nosso país e da percepção de alguns professores de sua importância no ensino da língua portuguesa, ainda notamos resistência de professores mais arraigados a questão da gramática normativa, assim como, de grupos socialmente de prestígio.
Além da mídia, falada ou escrita, que corrobora com a ideia de uniformidade linguística em detrimento de características e particularidades de cada região, estigmatizando as formas populares, tornando a língua um fator mais de exclusão social do que um instrumento de inserção e participação social efetiva na produção do conhecimento e ao exercício da cidadania.
Nesta aula, você: 
- Compreendeu o conceito de linguística e sua aplicação no ensino de língua portuguesa.
- Aprendeu também que o conceito de erro e certo pressupõe o estudo das variedades linguísticas.
- Assimilou também que aprender gramática não se faz apenas como um conjunto de regras e nomenclaturas fixas a partir de   frases e períodos desconexos com a realidade.
- Percebeu que cabe ao professor compreender os conceitos linguísticos para que efetivamente o ensino de língua portuguesa possa ocorrer de modo claro, objetivo e valorativo da diversidade linguística do aluno.
AULA 5 -MITOS DA LÍNGUA PORTUGUESA E O PRECONCEITO LINGUÍSTICO
Nesta aula, tentaremos desmistificar alguns conceitos, alguns mitos que nós, falantes da língua portuguesa, e até mesmo os próprios professores da cadeira criaram ao longo de muitos anos.
Dentre os mitos que compõem o preconceito na nossa cultura, temos dois:
O primeiro diz que o “brasileiro não sabe português” e isso parece tão comum e verdadeiro quando se nota o alto índice de analfabetos em nosso país (cerca de 20 milhões de brasileiros) e ainda o de analfabetos funcionais (são alfabetizados, sabem ler e escrever, mas possuem extrema dificuldade de interpretação e de produzir textos próprios).
O outro afirma que “português é muito difícil”. Este mito surge porque na fala do brasileiro se percebe, em suas várias regiões, uma diversidade linguística muito grande que muitas vezes não é prevista ou aceita na gramática normativa da língua, pois não está inserida dentro da língua de prestígio. Logo, as diferenças e ou exceções são tratadas como erradas ou de difícil compreensão. Além disso, o “falar diferente” é visto como um empecilho para a ideia de uniformidade linguística que muitos gostam de apregoar.
Outra questão importante a considerar logo de início em nossa aula é a ideia do termo preconceito linguístico.
Por preconceito linguístico entende-se:
O julgamento negativo que é feito dos falantes em função da variedade linguística que utilizam.
De fato, tais mitos e o preconceito surgiram quando estudiosos da língua determinaram a necessidade de uma língua padrão ou uma norma culta que deveria permear as relações de comunicação tanto oral quanto escrita.
Acontece que isso passou a considerar uma língua de prestígio social somente baseada na cultura livresca, em textostécnicos e científicos, além de práticas orais de grupos socioculturais favorecidos.
Uma das variantes que mais denota preconceito é a variante regional.  
Denominam-se variante regional as falas das diferentes regiões de um país.
Assim, como este é diferente da fala dos Estados do Nordeste.
A fala do carioca é diferente da fala do paulista.
A fala nordestina é diferente da fala dos Estados do Sul.
Percebe-se assim que cada região geográfica possui diferenças linguísticas.
Apesar das distinções da fala dessas regiões, todos que nasceram e aprenderam a língua portuguesa são falantes de uma mesma língua, pois a ela se caracteriza por uma estrutura de signos e significados semelhantes.
Logo, a diversidade regional não deve se caracterizar como impedimento na compreensão entre os falantes do mesmo país. Assim, não se pode produzir uma visão preconceituosa das diferenças de vocabulário e pronúncia.
Obviamente, qualquer país precisa construir uma unidade de entendimento e a língua deve ser e sempre será o meio mais adequado para que todos que residam no mesmo país possam se comunicar e se fazer entendido.
Logo, quando se pensa na língua como unidade padrão nas relações sociais e culturais de um povo, estabelecer uma forma, uma norma padrão deve ser o canal de interlocução mais usado e importante a todos os falantes. Mas, para isso, é necessário garantir o acesso aos saberes linguísticos em todos os níveis sociais de modo que o modelo de língua padrão estabelecido seja determinado com clareza a fim de que os grupos sociais a compreendam e empreguem adequadamente sem que se estabeleçam critérios de desvalorização de formas e usos da língua em diferentes grupos.
Na verdade, se entendermos que toda língua apresenta variações que são determinadas e condicionadas por aspectos sociais, culturais e regionais, não teríamos uma visão preconceituosa. Afinal, cada indivíduo ou grupo se expressa conforme o ambiente em que está inserido.
Sendo assim, todas as variedades representam sistemas linguísticos adequados para a expressão das necessidades comunicativas e cognitivas dos falantes.
Não se pode determinar uma variedade como a única correta e considerar as outras como desvios, vícios da norma padrão.
Saiba mais: Tal posição se faz relevante para que se entenda que, nos bancos escolares, o ensino da língua portuguesa deve pressupor, sim, uma unidade padrão como critério de conhecimento e aprendizagem com o objetivo de fazer o falante adentrar nos espaços socioculturais de prestígio e ter acesso mais amplo aos textos científicos, acadêmicos, literários e culturais.
O aprendizado da língua deve ser baseado no uso que os diversos grupos sociais fazem da língua que circula na mídia oral e escrita, garantindo ao aluno o acesso aos diversos gêneros textuais, assim como, permitindo que saiba reconhecer e empregar a língua na circulação e elaboração de textos apropriados às interações profissionais e sociais ou na prática oral em situações:
Formais: Palestras, seminários, reuniões de trabalho e casamento.
Informais: Grupo de amigos em clubes, festas ou em situações de descontração e diversão.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de língua portuguesa declara:
“O problema do preconceito disseminado na sociedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado, na escola como parte do objetivo educacional mais amplo de educação para o respeito à diferença. Para isso e também para poder ensinar língua portuguesa, a escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma “certa” de falar — a que se parece com a escrita — e o de que a escrita é o espelho da fala — e, sendo assim, seria preciso “consertar” a fala do aluno para evitar que ele escreva errado.
A questão não é falar certo ou errado, mas saber qual forma de fala utilizar, considerando as características do contexto de comunicação, ou seja, saber adequar o registro às diferentes situações comunicativas. É saber coordenar satisfatoriamente o que falar e como fazê-lo, considerando a quem e por que se diz determinada coisa.
É saber, portanto, quais variedades e registros da língua oral são pertinentes em função da intenção comunicativa, do contexto e dos interlocutores a quem o texto se dirige. A questão não é de correção da forma, mas de sua adequação às circunstâncias de uso, ou seja, de utilização eficaz da linguagem: falar bem é falar adequadamente, é produzir o efeito pretendido.” (p.31)
Essas duas crenças produziram uma prática de mutilação cultural que, além de desvalorizar a forma de falar do aluno, tratando sua comunidade como se fosse formada por incapazes, denota desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum de seus dialetos, por mais prestígio que um deles tenha em um dado momento histórico.
É saber, portanto, quais variedades e registros da língua oral são pertinentes em função da intenção comunicativa, do contexto e dos interlocutores a quem o texto se dirige. A questão não é de correção da forma, mas de sua adequação às circunstâncias de uso, ou seja, de utilização eficaz da linguagem: falar bem é falar adequadamente, é produzir o efeito pretendido.” (p.31)
Um aspecto importante a se considerar no ensino da língua portuguesa é que trazer para a sala de aula a diversidade linguística é reconhecer o valor das diferenças e a sua importância cultural na região na qual esta ocorre.
Veja dois exemplos bem interessantes de demonstração e valorização da língua considerada não padrão, mas que através da literatura de cordel e da música mostram a riqueza de nossa língua:O 
POETA DA ROÇA
Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío.
Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argummenestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia se cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.
Meu verso rastêro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
Só canto o buliço da vida apertada,
Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.
Eu canto o cabôco com sua caçada,
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.
Eu canto o vaquêro vestido de côro,
Brigando com o tôro no mato fechado
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.
Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.
E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.
(ASSARÉ, Patativa do. Cante lá que eu canto cá. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 1980.)
A Gíria É A Cultura Do Povo
Bezerra da Silva
Toda hora tem gíria no asfalto e no morro
porque ela é a cultura do povo
Pisou na bola conversa fiada malandragem
Mala sem alça é o rodo, tá de sacanagem
Tá trincado é aquilo, se toca, vacilão
Tá de bom tamanho, otário fanfarrão
Tremeu na base, coisa ruim não é mole não
Tá boiando de marola, é o terror alemão
Responsa catuca é o bonde, é cerol
Tô na bola corujão vão fechar seu paletó
“Toda hora tem gíria...
Se liga no papo, maluco, é o terror
Bota fé compadre, tá limpo, demorou
Sai voado, sente firmeza, tá tranquilo
Parei contigo, contexto, baranga, é aquilo
Tá ligado na fita, tá sarado
Deu bode, deu mole qualé, vacilou
Tô na área, tá de bob, tá bolado
Babou a parada, mulher de tromba, sujou
“Toda hora tem gíria...
Sangue bom tem conceito, malandro e o cara aí
Vê me erra boiola, boca de sirí
Pagou mico, fala sério, tô te filmando 
É ruim hem! O bicho tá pegando
Não tem caô, papo reto, tá pegadoTá no rango mané, tá lombrado
Caloteiro, carne de pescoço, paga pau
Tô legal de você sete-um, gbo, cara de pau 
“Toda hora tem gíria...
A gíria é cultuta do popular
Se liga amizade
Tá certíssimo 
(Letra: Alves, Elis e Júnior)
Através desses textos, percebe-se que refletir sobre as formas e usos da língua portuguesa deve ser um processo contínuo de aumentar a eficiência do aluno na produção e interpretação dos textos orais e escritos, ampliando a sua fruição dos diversos gêneros textuais de modo que possibilite a sua capacidade crítica, sensível e inteligente no uso da língua.
Conhecer bem a língua em que se vive e pensa é investir no ser humano, investir na capacidade de se viver bem individual e socialmente.
Nesta aula, você: 
- Compreendeu o conceito de preconceito linguístico e a sua implicação no aprendizado.
- Aprendeu também que a variante regional determina as diferenças na produção da fala por razões sociais, culturais e   temporais.
- Assimilou também que o professor deve valorizar tais diferenças a fim de preservar a cultura e a identidade de cada   indivíduo assim como garantir o acesso à produção oral e escrita de maior prestígio com o intuito de garantir a inserção   daquele aos saberes de toda uma comunidade.
- Percebeu que o aprendizado da língua deve ser baseado no uso que os diversos grupos sociais fazem da língua que circula   na mídia oral e escrita.
AULA 6 - VARIAÇÕES DIALETAIS E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Nesta aula, vamos chamar a atenção para o conceito de dialeto e destacar as diferenças dialetais em razão dos aspectos regionais e socioculturais. Vamos ressaltar a questão do certo, do errado e do diferente sob o ponto de vista dialetal na fala e na escrita. Em seguida, analisar o papel do professor no tratamento das diferenças dialetais na construção linguística do aluno.
É importante iniciar esta aula dizendo que todos nós, falantes da língua portuguesa no Brasil, possuímos diferenças na fala e, em algumas situações, até mesmo na escrita, em decorrência das questões geográficas, sociais, históricas, de grupos e familiares que irão determinar um estilo, um perfil no modo de falar de cada membro. Desse modo, cada brasileiro fala do jeito próprio da região onde vive, a nossa Língua Portuguesa é composta por vários dialetos.
Entende-se por dialeto não apenas as variações de pronúncia, vocabulário e gramática, pertencentes a uma determinada língua, mas também, as variedades regionais originadas das diferenças de região ou território, de faixas etárias, de sexo, de aspectos sociais, históricos e, também, estilísticas.
Segundo Cagliari (2003): “Todo falante nativo usa sua língua conforme as regras próprias de seu dialeto, espelho da comunidade linguística a que está ligado” (p. 18)1.
Ou seja, cada falante constrói e segue as regras próprias de sua comunidade linguística.
Essas diferenças e mudanças no modo de falar de cada grupo social e ou regional tem também relações temporais, conforme afirma Cagliari (2003):
“Os modos diferentes de falar acontecem porque as línguas se transformam ao longo do tempo, assumindo peculiaridades características de grupos sociais diferentes, e os indivíduos aprendem a língua ou dialeto da comunidade em que vivem”. (p. 81)²
Por também termos as diferenças entre os sotaques regionais, Lyons afirma que:
“A questão é que certas diferenças fonéticas entre sotaque podem ser estigmatizadas pela sociedade, da mesma forma como certas diferenças lexicais e gramáticas entre os dialetos o são. O sotaque e o dialeto de uma pessoa varia sistematicamente segundo a formalidade ou informalidade da situação em que se encontra”. (Linguagem e linguística. Uma introdução - John Lyons). 
Para ilustrar o que citamos, segue o texto: Língua Brasileira, de Kledir Ramil. Clique no item em destaque para visualizar o texto.
No texto Língua Brasileira, o autor, através do humor, busca demonstrar as diferenças dialetais e de sotaques entre as regiões do Brasil. Mas, de modo algum, deve-se pressupor uma ideia de que há lugares que se fala e se pronuncia melhor esta ou aquela expressão ou palavra.
Devemos considerar estas diferenças dialetais com o objetivo de não apenas buscar entender e aprender tais peculiaridades de cada grupo ou região, mas também, assumir uma postura de respeito e permitir que cada indivíduo fale do modo que é próprio ao grupo que pertence sem que a comunicação torne-se prejudicada pelo preconceito do interlocutor. O que deve ser considerado em questão é o valor da transmissão da informação e da compreensão desta no contexto estabelecido.
Um aspecto que também devemos mencionar com relação ao dialeto é referente ao estilo, ou a questão estilística que é determinada pelo contexto de uso da língua. Quanto maior o conhecimento ou domínio da língua, a produção do falante pode ser de modo coloquial ou formal conforme o ambiente inserido.
Por exemplo, em situações familiares ou em grupos de amigos, a linguagem coloquial seria a mais oportuna.
Já em grupos acadêmicos, reuniões empresariais, palestras técnicas e audiências jurídicas, por exemplo, a linguagem formal seria a mais apropriada.
Somente para ilustrar a questão da linguagem formal ou informal, veja abaixo o quadrinho de Calvin:
Neste quadrinho, podemos notar a irreverência do personagem Calvin que critica a forma pela qual o seriado policial apresenta a linguagem. Percebe-se o uso da língua de modo inadequado ao contexto (televisivo, seriado policial), assim como o seriado faz uso de uma linguagem fora da época e do cotidiano no qual Calvin está inserido.
Logo, devemos saber que, para cada momento, para cada espaço social, a fala deve ser produzida adequadamente ao contexto de modo que o interlocutor compreenda e possa ter sentido para a situação.
Por isso, o conceito de certo, errado e diferente deve pressupor a relação do falante com os espaços sociais, regionais e os níveis formais e informais por ele inserido para que este use adequadamente a produção oral sem que estabeleça uma inadequação de sentido.
É preciso, para isso, que a escola seja o espaço da diversidade, do entendimento, do aprendizado dos diferentes modos de produção da fala em seus níveis sociais, regionais e históricos para que cada indivíduo, ao conhecer a linguagem própria de cada grupo, saiba que todos possuem uma riqueza em sua diferença e característica própria.
Assim, mais do que aprender a falar a língua portuguesa, o aluno aprenderá a ser um falante competente e habilitado a transitar oralmente em todos os grupos sociais.
Pois, como Freire já dizia, um indivíduo pode até falar “pra mim fazer”, mas cabe à escola e ao professor apresentar também o nível formal da língua oral para que, mais tarde, este, ao estar em outros grupos de maior prestígio, possa ter o domínio da fala “para eu fazer”, entendendo deste modo que a língua e a sua produção têm um caráter também político e social, sem que este mesmo falante perca as suas origens e deixe de produzir “pra mim fazer” quando estiver de volta ao seu grupo.(ESCOLA/PROFESSOR/ALUNO).
Para aquele que aprende a língua portuguesa, as palavras devem ter a dimensão de liberdade de escolha e adequação conforme as necessidades de que o falante tenha para suprir a sua comunicação com o interlocutor. Fazer uso da palavra de modo que caiba ao falante a sua liberdade pressupõe domínio das estruturas e diversidades para que expresse seus pensamentos, ideias, sentimentos, sensações.
Para expressar-se de forma plena com todas as palavras, o indivíduo deve ser inserido ao mundo com toda liberdade, mas também, consciência e criticidade de modo a ser coerente e ter clareza na transmissão e construção das frases e ideias.
Afinal, de acordo com Luft (1993)1, a língua “não é propriedade privada de gramáticos ou linguistas, professores, doutores ou escritores” (p.66).
LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade. Ática, 1993.
Logo, o falante nativo da língua não deve ser proibido, cerceado, ou policiado no uso das palavras.Nesse sentido, a escola não pode ser um espaço de repressão na fala do aluno. Ela deve, sim, considerar que o uso da língua e o aprendizado de outros níveis da língua, sejam eles, formais ou informais, pressupõem liberdade de expressão.
Em contrapartida, com relação à escrita, nós temos regras normativas padronizadas e que devem, sim, serem respeitadas e seguidas na construção de textos diversos, pois, num país de dimensões continentais como o Brasil e com tanta diversidade regional e social, se tivéssemos diferenças nos textos escritos, teríamos muita dificuldade de compreensão das informações, principalmente, em situações formais da língua, como por exemplo:
Livros didáticos, técnicos, literários (estes têm a liberdade de poder representar os espaços sociais, históricos e regionais de seus personagens);
Receituários, cartas e documentos de órgãos públicos e privados;
Além dos textos jurídicos e outras situações que requerem a produção formal da língua escrita.
“Para facilitar a leitura, a sociedade achou por bem decidir em favor de um modo ortográfico de escrever as palavras, independente dos modos de falar dos dialetos, mas que pudesse ser lido por todos os falantes, cada qual ao modo de seu dialeto” 
(Luiz Carlos Cagliari. 2003. 32)
Na verdade, ao estabelecer um padrão convencional para a escrita, não se pretendia e não devemos prever um cerceamento e controle social da língua e determinar o que é certo ou errado na fala e na escrita. Convencionou-se assim, na escrita, por uma questão de facilitar a todos os falantes uma forma de escrita que evite desentendimento, incoerência e inexatidão nas informações que se quer transmitir.
Nesse sentido, a escola tem um papel importante na definição das diferenças entre a produção oral e escrita. Ao professor cabe informar e apresentar ao aluno as diferenças entre a fala e a escrita, demonstrando que cada um pode sim produzir conforme a sua comunidade linguística na qual ele está inserido, mas que ao escrever deve saber que precisa obedecer uma regra – a da escrita – para não cometer erros de coerência e coesão que tornam o texto de difícil leitura e entendimento.
Devemos nos lembrar de que a forma de escrever precisa ser uniforme, homogênea, mesmo existindo tantas variedades linguísticas.
Para entender melhor tudo o que foi dito em nossa aula, finalizaremos com uma citação do professor e filólogo Celso Cunha. Clique no livro em destaque e confira.
Neste aula, você: 
- Compreendeu o conceito de dialeto e destacou as diferenças dialetais em razão dos aspectos regionais e socioculturais.
- Aprendeu também o quanto é relevante o critério de adequação e uso da língua e sua repercussão sociocultural na aprendizagem da fala e da escrita.
- Assimilou também a importância de se compreender  a questão do certo, do errado e do diferente sob o ponto de vista dialetal na fala e na escrita. 
- Percebeu o papel do professor no tratamento das diferenças dialetais na construção linguística do aluno.
AULA 7 - VARIEDADE DE GÊNEROS DISCURSIVOS COMO OBJETO DE ENSINO
Nesta aula, vamos chamar a atenção para importância de trabalhar a leitura de gêneros variados de textos na formação do leitor competente. Vamos ressaltar a questão da diversidade de enunciados nas modalidades de usos da língua portuguesa. 
Em seguida, analisar o papel do professor na apresentação dos gêneros textuais.
A diversidade de textos escritos que circulam, antes de ser um empecilho e uma dificuldade para o professor em apresentar e elaborar atividades significativas ao aluno, deve ser um estímulo e uma fonte de pesquisa tanto da parte do professor como do aluno, pois ao longo do tempo tem surgido novas práticas textuais em nosso ambiente.
Com o advento da Internet, todos nós podemos acessar diversos tipos de informações através de janelas que se abrem denominadas homepages, dentro desta janela qualquer pessoa pode acessar textos, parágrafos, trechos, páginas, ou apenas palavras num processo que vai formando uma cadeia ou links que tecem o caminho para mais informações e vamos, assim, ampliando as informações num encadeamento de textos no qual denominamos a todo este processo de hipertexto. Ou seja, o hipertexto permite produzir e interpretar as informações de modo não linear, pois simultaneamente acessamos uma diversidade de textos a partir de um único e primeiro texto que foi o ponto de partida para esta série de operações e de interações pela Internet.
Aliás, nesses novos espaços, muito tem se discutido o nível e a forma de se escrever a língua portuguesa. Muitos gramáticos, estudiosos, professores, além de pessoas comuns criticam o formato e dizem que muitas crianças e jovens estão desaprendendo o “português”, pois escrevem de modo “errado”.
Se lembrarmos de nossas últimas aulas, a noção de certo e errado, e a questão dos níveis formais e informais dependem muito dos diversos contextos situacionais, assim como a capacidade de discernimento do falante da língua.
Devemos recordar que cada momento social de uma comunidade falante, as crianças e os jovens sempre inovam, criam e burlam, de modo criativo e diferente, as normas da língua. Sempre teremos inovações tanto na fala quanto na escrita, já que a língua é fruto dos aspectos sociais e geográficos que modificam-se ao longo do tempo.
O que devemos levar em consideração no trabalho com a produção de gêneros discursivos é criar condições necessárias e ambiente adequado para que os textos surjam em cada fase do aprendizado do aluno de modo que este possa construir a partir das diversas leituras de textos e da sua produção uma maior e melhor capacidade linguística e ter uma visão de mundo mais ampla e crítica.
Para tal fim, é necessário que o professor seja um leitor efetivo, que goste de ler e produzir textos, que estude e conheça os diversos gêneros textuais e saiba o lugar de cada um conforme a necessidade de comunicação.
Este professor tem que ser um atuante pleno do que chamamos de “práticas de letramento”, ou seja, mais do que apenas alfabetizar por códigos e sinais gráficos de letras, palavras e através dos sons, ou ainda, de apenas transmitir as regras gramaticais na construção de frases e períodos, faz-se necessário a divulgação, apresentação e produção dos diversos gêneros textuais que circulam em nosso cotidiano. Gêneros estes que, muitas vezes, já fazem parte do mundo da criança e do jovem, e que somente cabe ampliar a produção, organizar as estruturas discursivas adequadas ao ambiente e aumentar o olhar crítico e reflexivo na produção de textos autorais.
De acordo com Koch (2002: 53): 
O contato com os textos da vida cotidiana, como anúncios, avisos de toda a ordem, artigos de jornais, catálogos, receitas médicas, prospectos, guias turísticos, literatura de apoio à manipulação de máquinas, etc., exercita a nossa capacidade metatextual para a construção e intelecção de textos.(Grifos nossos). 
KOCH, Ingedore G. Villaça. Os gêneros do discurso e a produção textual na escola. Campinas: UNICAMP, [mimeo].
Nessa perspectiva, é função do professor, enquanto agente de letramento, criar situações de familiarização ou inserção dos alunos nas práticas de usos da escrita que informam ou integram esses mais diversos espaços ou situações interativas da vida diária.
Antes de continuarmos com a nossa aula, é relevante definirmos aquilo que é o tema de nosso assunto: Gêneros discursivos.
O escritor russo Mikhail Bakhtin foi o primeiro autor a fazer uso do conceito de “gênero” com o objetivo de definir todas as práticas orais e escritas da linguagem. Num de seus textos, Bakhtin apresentou a seguinte definição para os “gêneros discursivos”:
Desse modo, aprendemos que:
Para cada momento da comunicação, seja verbal ou escrito, o indivíduo precisa saber que há uma especificidade, um gênero discursivo que determina os contextos interacionais.
Os espaços sociais (família, clubes, escolas, parques, além de outros) promovem e estimulam a interação de gêneros

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