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1 ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE Graduação ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE 25 U N ID A D E 2 INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O SEDENTARISMO E A OBESIDADE Nesta unidade estudaremos a bases epidemiológicas da atividade física relacionada à saúde e contextualizaremos o sedentarismo e a obesidade enquanto problema de saúde pública. Identificaremos também a influência destes fenômenos com o surgimento das doenças crônicas mais comuns. OBJETIVO DA UNIDADE: • Conhecer a epidemiologia enquanto ciência. • Analisar os aspectos teóricos e metodológicos da epidemiologia da atividade física. • Contextualizar sedentarismo e obesidade como problemas epidemiológicos, identificando sua influência no surgimento das doenças crônicas degenerativas. PLANO DA DISCIPLINA: • Conceito e a abrangência do termo epidemiologia. • Epidemiologia da Atividade Física e sua relação com o sedentarismo e a obesidade. • Composição corporal, sobrepeso e obesidade. • Influência do sedentarismo e da obesidade no surgimento das doenças crônicas. Bons estudos! UNIDADE 2 - INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O SEDENTARISMO E A OBESIDADE 26 Prezado aluno, você já estudou os conceitos de saúde, atividade física e qualidade de vida. Pode perceber, mesmo que de forma introdutória, o papel da atividade física na melhoria destes aspectos estudados. Conheceu também as principais componentes da aptidão física relacionada à saúde. E agora vamos estudar a inserção da atividade física nos problemas epidemiológicos e seu papel no combate ao sedentarismo e a obesidade. Fenômeno recente que deu grande status a Educação Física. Você vai entender como isso aconteceu. Então, vamos em frente. CONCEITO E A ABRANGÊNCIA DA EPIDEMIOLOGIA Conhecida como a ciência que busca investigar e quantificar os vários fatores que determinam a ocorrência e os padrões das doenças dentro de um determinado grupo ou comunidade, a epidemiologia busca generalizar estas informações para uma população maior, a fim de compreender melhor, modificar ou controlar o padrão das doenças ou problemas de saúde (McARDLE; KATCH; KATCH, 1998). O termo epidemia remonta à Grécia antiga e significa, em linhas gerais, doença que surge em um determinado local ou região e acomete rapidamente e simultaneamente um grande número de pessoas. Já o termo epidemiologia aparece pela primeira vez em um texto espanhol sobre a peste no século XVI e também, em linhas gerais, significa o estudo do que afeta a população (PEREIRA, 2002). Compete, então, à Epidemiologia, estabelecer a magnitude de um dado problema de saúde, identificar os fatores causadores deste problema, as formas pelas quais esses fatores são transmitidos e, ainda, desenvolver bases científicas para implementação de ações preventivas. Sendo assim, podemos destacar a epidemiologia descritiva que tem como preocupação o acompanhamento da ocorrência de algumas doenças, correlacionando-as a dados como: idade, sexo, etnia, ocupação profissional, classe social e localização geográfica. Estudos sobre a epidemiologia associam o seu surgimento aos escritos vinculados a Hipócrates. Foi no século XIX que se estabeleceram as bases da epidemiologia moderna, pois nessa época com o advento da revolução industrial, as cidades cresceram e se agravaram as doenças oriundas da Hipócrates (460-377 a.C.) - grego que é considerado o pai da medicina. ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE 27 falta de saneamento, surgindo, assim, a era das doenças infecciosas, que perdurou até meados do século XX. Entre os vários objetos de estudo da epidemiologia o processo saúde-doença, suas causas e determinantes, configuram-se como os principais (PITANGA, 2004). Nesta perspectiva precisamos entender também a relação entre taxa de morbidade e mortalidade (morbimortalidade). A taxa de morbidade expressa o número de casos de doenças não-fatais em uma dada população de risco durante um determinado tempo. Por exemplo: a incidência de caso de hipertensão em brasileiros do sexo masculino com mais de 50 anos e IMC maior que 35 kg/m2, entre as décadas de 80 e 90. Já a taxa de mortalidade expressa a incidência de óbitos em uma dada população durante determinado período de tempo. Pode ser apresentada de forma total (todas as causas) ou específica (relativa a uma determinada doença quando comparada com as outras). Por exemplo: mortes entre brasileiros do sexo masculino hipertensos com mais de 50 anos e IMC maior que 35 kg/m2, entre as décadas de 80 e 90. A partir da década de 60 no Brasil observou-se uma transição epidemiológica, a exemplo do que já acontecia em outros países industrializados, assim o perfil epidemiológico começou a mudar. As doenças transmissíveis deixaram de ser a primeira causa de morte para dar lugar às doenças crônicas não-transmissíveis, em especial, as cardiovasculares. Na figura abaixo podemos entender melhor esta transição. Mortalidade Proporcional Segundo Grupos de causas selecionadas em capitais brasileiras, entre 1930 a 1994 DIP Doenças Infecto-parasitárias; DCV Doenças Cardiovasculares; NEO Neoplasias; CE Causas Externas. (BARBOSA; BARCELO; MACHADO, 2001. p. 325). Começava, então, a era das doenças crônicas, aquelas denominadas “não-transmissíveis” ou degenerativas, o que fez crescer bastante a preocupação com os fatores de riscos, que de forma isolada ou associada, predispunham as pessoas às doenças e a conseqüente morte. IMC: O Índice de Massa Corporal (IMC), ou sim- plesmente índice de Quetelet é igual a divisão da massa corporal (kg) pela estatura em metro elevado ao quadrado (kg/m²). Tem sido bastante utilizado em estudos nacionais e inter- nacionais, que buscam monitorar o estado de nu- trição e crescimento sadio (obesidade x desnutrição). O IMC pode classificar o avaliado em condição de baixo peso (<18,5), faixa normal (18,5 - 24,9), sobrepeso (³ 25), obeso I (30 - 34,9), obeso II (35 - 39,9), obeso III (> 40). Fatores de riscos: são vári- os os fatores de riscos para o desenvolvimento de do- enças crônicas. Mas pode- mos organizá-los em dois grandes grupos: os ligados aos fatores biológicos e os ligados aos fatores comportamentais. Este úl- timo recebe status, pois está diretamente ligado ao estilo de vida das pessoas, assunto já estudado antes, lembra? UNIDADE 2 - INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O SEDENTARISMO E A OBESIDADE 28 Este fenômeno social ficou conhecido como transição epidemiológica e caracterizou-se especialmente pela queda da taxa de mortalidade, pelo aumento da expectativa de vida ao nascer, pelo conseqüente envelhecimento da população e, principalmente, pela mudança do padrão nosológico que passou a apresentar uma predominância das doenças crônicas não-transmissíveis em detrimento das doenças infecto- contagiosas. Tudo isso desencadeou a necessidade de diálogo entre os especialistas das diversas áreas de conhecimento, buscando a compreensão dos novos problemas para a elaboração de programas mais eficazes de combate a estas doenças. Nesta época o sedentarismo e as demais atitudes negativas para a saúde começam a merecer mais atenção dos organismos governamentais no Brasil e no resto do mundo. Este problema também vem sendo tratado com muito cuidado e empenho na União Européia (U.E.), através de programas como o Health- Enhancing Physical Activity (HEPA) de promoção da saúde, que tem como estratégia o monitoramento e o fomento às atividades físicas e desportivas. Percentual de adultos fisicamente inativos durante uma semanatípica: (FOSTER, 2000 p. 7). Nosológico: referente à nosologia, que representa o estudo das moléstias. Comportamento positivo com a saúde: está relacio- nado aos bons hábitos ali- mentares, ao controle do estresse, ao não-tabagismo e ao menor consumo de be- bidas alcoólicas, controle da composição corporal e, ob- viamente, ao aumento do gasto energético através das atividades físicas regu- lares. ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE 29 Podemos perceber que dentre as comunidades monitoradas pela U.E. a Finlândia se destaca como a mais ativa e Portugal como a mais sedentária com valores próximos aos encontrados no Brasil. EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O SEDENTARISMO E A OBESIDADE Em nosso país, estima-se que cerca de 70% da população apresente um estilo de vida sedentário. Como você pode observar este quadro predispõe nosso povo às mazelas oriundas deste estilo de vida, especialmente, no que concerne à predisposição elevada aos fatores de riscos para as doenças crônicas não- transmissíveis, com destaque para as cardiovasculares, colocando o sedentarismo como problema de âmbito epidemiológico e, conseqüentemente, problema de saúde pública (BRASIL, 2001). Verificamos claramente que a cada dia que passa diminuímos nossos movimentos seja nos serviços domésticos, no trabalho ou nos momentos de lazer. Isto tem influenciado na diminuição do gasto energético, que, por conseguinte, tem repercutido no aumento da epidemia de obesidade. Este fenômeno tem sido potencializado, entre outros aspectos, pela insegurança, pela falta de um ambiente propício para a prática de atividades físicas e pelo advento tecnológico. A atividade física vem diminuindo gradativamente entre as pessoas e este fenômeno não poupa nem os mais jovens que estão cada vez mais expostos ao lazer sedentário, passando longas horas do dia em frente à TV, aos computadores e/ou aos jogos eletrônicos. Afinal, quem não gosta de descansar um pouquinho? O problema é o exagero. Cuide-se! Pelo exposto, podemos definir que a epidemiologia da atividade física busca aplicar as estratégias gerais das pesquisas epidemiológicas no entendimento da relação entre o estilo de vida e processo saúde/ doença. Observamos que há uma forte relação entre epidemiologia da atividade física, saúde e qualidade de vida, em que a associação da atividade física com a saúde vem determinando a mudança de hábitos e atitudes levando as pessoas a um comportamento positivo com a saúde. Comportamento positivo com a saúde: está relacio- nado aos bons hábitos ali- mentares, ao controle do estresse, ao não-tabagis- mo e ao menor consumo de bebidas alcoólicas, contro- le da composição corporal e, obviamente, ao aumento do gasto energético atra- vés das atividades físicas regulares. UNIDADE 2 - INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O SEDENTARISMO E A OBESIDADE 30 Este comportamento positivo desencadeia outros comportamentos saudáveis que, por sua vez, melhoram e aumentam a qualidade e a expectativa de vida. É fácil encontramos na literatura resultados de investigações que evidenciam a forte contribuição positiva do treinamento com exercícios envolvendo resistência aeróbia, resistência muscular, flexibilidade e força, no combate às doenças crônicas. Nesta linha de pensamento, deve-se dar ênfase ao autogerenciamento da atividade física e à mudança do estilo de vida sedentário para o ativo, objetivando que esta mudança seja para toda a vida. Renomados pesquisadores vinculados ao Colégio Americano de Medicina do Esporte publicaram um consenso sobre a atividade física no combate as doenças cardiovasculares, em que ficou definido que todas as pessoas deveriam envolver-se em atividades físicas de moderada a intensa (60-80% da freqüência cardíaca máxima) de forma a acumular pelo menos 30 minutos diários, preferencialmente, todos os dias da semana (PATE, et. al., 1995). Não podemos falar de epidemiologia da atividade física sem citar os estudos clássicos de Morris e Raffer, tão amplamente citados na literatura, publicados no início da década de 50. Estes pesquisadores puderam constatar a íntima relação entre sedentarismo e doenças cardiovasculares, através de investigações com indivíduos que, no seu cotidiano profissional, eram mais ou menos ativos. Eles investigaram dois grupos de profissionais da mesma área, mas de atividades distintas, a exemplo dos carteiros que caminhavam e/ou pedalavam e seus colegas dos serviços burocráticos, como também, entre os cobradores que subiam e desciam diariamente as escadas dos ônibus londrinos de dois andares e seus colegas motoristas que passavam o mesmo tempo dirigindo. Fica fácil imaginar os resultados destes estudos, pois a incidência de doenças era muito maior entre os trabalhadores cuja atividades despedia pouca energia. Posteriormente, aos estudos de Morris e Raffer, outro clássico foi apresentado à comunidade científica da área, apresentado pelo Dr. Paffenbarger e seus colaboradores. Este estudo envolveu 16.936 ex-alunos de Harvard e ratificou os achados de Morris, demonstrando que um gasto energético voluntário igual ou superior a 2.000 Kcal por semana estaria relacionado a uma menor incidência de morte por todas as causas, especialmente, por problemas cardiovasculares. Encontramos vasto material na literatura que confirmam a atividade física como um importante fator de melhoria da saúde e da longevidade, diminuindo os riscos para doenças coronarianas (PAFFENBARGER, HYDE & WING, 1986; PAFFENBARGER & LEE, 1996). Gasto energético voluntário: são as atividades físicas que realizamos voluntariamente além daquelas necessárias para nossa sobrevivência. Como por exemplo: ir a pa- daria caminhando em vez de ir de carro, subir as escadas do prédio em vez de ir pelo elevador, ou seja, estão li- gadas ao quanto somos ati- vos nos dias da semana. In- clui-se aí atividades espor- tivas e recreativas. Kcal: É uma unidade de me- dida de energia que equivale a quantidade de calor neces- sária para se elevar em um grau centígrado um grama de água. Na nossa área é im- portante sabermos que para reduzirmos um grama de gor- dura corporal, precisamos “queimar” 7,7 Kcal. Assim, um gasto voluntário superi- or a 2.000 Kcal reduziria aproximadamente 260 gra- mas de gordura corporal. ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE 31 Dentre os vários problemas desencadeados pelo estilo de vida negativo e o sedentário, temos o aumento da obesidade. Este fenômeno será melhor entendido no próximo tópico de estudo. COMPOSIÇÃO CORPORAL, SOBREPESO E OBESIDADE. Vários estudiosos e institutos de pesquisa confirmam que a epidemia de obesidade tornou-se um dos principais desafios de saúde pública, em que o principal objetivo é tentar prevenir o previsível aumento da prevalência de diversas doenças degenerativas, especialmente, as cardiovasculares e metabólicas. Como já estudamos antes, a preocupação em determinar a composição corporal surge da necessidade de melhor entendermos a distribuição e a quantificação dos principais componentes estruturais do corpo, principalmente, a massa muscular e a massa gorda. Do ponto de vista da saúde, ao acompanharmos esta última componente, precisamos monitorar suas concentrações e distribuição. Vamos ver porquê. A preocupação com o sobrepeso e a obesidade torna-se legítima quando observamos os resultados de pesquisas longitudinais (1960 a 1991) realizadas nos Estados Unidos. Nesta pesquisa ficou constatado um aumento notável de sobrepeso durante a última década, o que fez o governo norte- americano projetar, através do Programa “Pessoas Saudáveis 2000” (Health People 2000), a reduçãodo sobrepeso nos adultos. A prevalência da obesidade juvenil aumentou nos Estados Unidos em mais de 20% nas duas últimas décadas, principalmente, entre hispânicos e meninas afro-americanas, reforçando a tese de que este fenômeno tem relação direta com os baixos níveis socioeconômicos. Situação que também observamos aqui no Brasil, onde as classe populares apresentam maior nível de sobrepeso e obesidade. Pesquisas recentes publicadas pelo IBGE dão conta de que 38,6 milhões (40%) dos brasileiros adultos, estão acima do peso ideal (IMC entre 25 – 29 kg/m2 ), deste contingente, 10,5 milhões são considerados obesos (IMC e” 30 kg/m2 ). A divulgação dos resultados da POF trouxe à tona um fato curioso, se não para os especialistas da área, ao menos para a maioria dos brasileiros, de que não somos um país de desnutridos, mas, ao contrário, de obesos. Exatamente no momento em que os esforços do Governo Federal se concentravam no combate à fome através do Programa “Fome Zero”. A pesquisa destaca também que a desnutrição diminuiu em nosso país. Entre 1974 e 1975, 7,2% da população masculina e 10,2% da população feminina sofriam com o baixo peso (desnutrição). Em 1989 estes números Pesquisas longitudinais: pesquisas longas em que o resultado encontrado apresenta mais confiabilidade e respeito. IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística POF: Pesquisa de Orça- mentos Familiares, realiza- da entre 2002-2003 e di- vulgado pelo IBGE em dez. 2004. UNIDADE 2 - INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O SEDENTARISMO E A OBESIDADE 32 mudaram para 3,8 e 5,8%, respectivamente, e mais recentemente (2002- 03), estas taxas ficaram entre 2,8 e 5,2% (RADIS, 2005). Projeções da OMS para o ano de 2025 já apontavam que o Brasil entraria no rol dos países considerados obesos, porém os resultados divulgados na 2ª parte da Pesquisa de Orçamentos Familiares divulgada pelo IBGE antecipam estas previsões. Já podemos considerar o Brasil um país com alto nível de sobrepeso e obesidade! Quanto à distribuição da gordura corporal, temos dois modelos tradicionalmente conhecidos: o andróide, modelo predominantemente masculino, em forma de maçã com concentração de gordura no tronco e abdómen e o ginóide, modelo predominantemente feminino, em forma de pêra com concentração de gordura nos quadris e nas coxas. Em termos de risco à saúde, o tipo andróide está mais associado às doenças cardiovasculares (Howley e Franks, 2000). Destacamos que a gordura visceral, localizada no abdômen e no tronco, tem maior relação com o desenvolvimento de doenças crônicas. É importante salientarmos que assim como o excesso de gordura corporal pode ser prejudicial à saúde, sua escassez pode comprometer o bem-estar das pessoas especialmente de jovens iniciando a fase de maturação sexual principalmente quando nos referimos à gordura essencial responsável pelo bom funcionamento fisiológico e à gordura de reserva responsável, entre outros fatores, pela proteção aos órgãos internos de possíveis traumatismos. Para o sexo feminino a demanda de gordura é relativamente maior que para o sexo masculino; conhecida como gordura específica, estes depósitos adicionais nas mulheres estão biologicamente associados à procriação e ao bom funcionamento dos hormônios (McARDLE, KATCH & KATCH, 1998). É por esse motivo que as mulheres sempre apresentaram, em média, uma maior concentração de gordura quando comparadas aos homens. A boa notícia em tudo isso é que a atividade física sistematizada e regular, aliada a uma reeducação alimentar, pode trazer bons resultados no combate e, principalmente, na prevenção do sobrepeso e da obesidade. O maior beneficio da atividade física reside na capacidade para mobilizar e metabolizar gordura, bem como diminuir os níveis de gordura (triglicérides e colesterol) circulantes no sangue. Mas, é importante destacarmos que a puberdade representa o principal período etário na definição da composição corporal principalmente quando nos referimos ao risco desses adolescentes tornarem-se adultos obesos. Puberdade: período de ado- lescência em que acontece a principal fase de maturação sexual já abor- dado na unidade 1. ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE 33 Intervenções positivas durante este período podem reduzir este risco em cerca de 30 a 45% (GUEDES & GUEDES, 2006). Isto demonstra que as tentativas de se instalar hábitos de estilo de vida saudáveis devem começar o mais cedo possível, pois serão sempre mais eficazes nesta fase que na fase adulta. Veja só a responsabilidade do profissional de Educação Física com este problema. Que outro profissional teria mais facilidade de estimular a juventude a aderirem ao estilo de vida ativo? Vamos entender um pouco do que acontece a nível celular. As células adiposas que são formadas ainda no período fetal podem aumentar de tamanho a qualquer momento do nascimento até a morte. Cientistas acreditam que a manutenção de um conteúdo baixo de gordura corporal total durante o período inicial do desenvolvimento reduz a quantidade geral de células adiposas, diminuindo, em muito, a obesidade na vida adulta. Aparentemente, quando as células adiposas tornam-se cheias de gordura, desencadeiam a criação de novas células adiposas (WILMORE & COSTIL, 2001). Em geral, o excesso de peso e de gordura corporal nesta fase é identificado como precursor de inúmeros fatores de riscos que levam a disfunções crônico-degenerativas em idades mais avançadas, elevando os índices de morbidade e mortalidade. O traço mais característico do jovem obeso é sua hipoatividade, que, num ciclo vicioso, deixa-o desmotivado para as práticas esportivas, tornando-o cada vez mais hipoativo. Período fetal: vida intra- uterina, quando ainda so- mos apenas um feto em for- mação. Hipoatividade: pouca ou ne- nhuma atividade física vo- luntária. Só para lembrá-lo, atividade física voluntária é aquela que fazemos além das atividades extrema- mente necessárias. UNIDADE 2 - INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O SEDENTARISMO E A OBESIDADE 34 Então, vamos movimentar essa juventude! Vamos resumir! Para que a pessoa possa permanecer dentro da faixa ideal de percentual de gordura, deve equilibrar o consumo dietético de calorias com o gasto energético, através do equilíbrio da balança calórica. Essa idéia da balança calórica facilita muito nosso entendimento, quando queremos perder peso a balança tem que ficar negativa (diminui o consumo calórico e aumenta o gasto energético) e para ganharmos peso ela deve ficar positiva (aumenta o consumo calórico e diminui o gasto energético). Entendeu? INFLUÊNCIA DO SEDENTARISMO E DA OBESIDADE NO SURGIMENTO DAS DOENÇAS CRÔNICAS. Quando recorremos à literatura, verificamos que os baixos níveis de atividade física, associados à obesidade e ao estilo de vida negativo, configuram-se como importantes fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas. Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS (2004), as doenças crônicas não transmissíveis aumentaram rapidamente em escala mundial. Em 2001, estas doenças foram responsáveis por 47% da carga mundial de mortalidade, constituindo-se num grande desafio para a saúde pública mundial. Esta entidade tão respeitada informou que são poucos os fatores de risco importantes que influenciam na morbimortalidade geral para as doenças não-transmissíveis, destacando: • a hipertensão arterial; • a hipercolesterolemia; • a pouca ingestão de frutas e hortaliças na dieta diária; • o excesso de peso e a obesidade; • a falta ou a pouca atividade física diária; e • o consumo de tabaco. Podemos observarque cinco dos seis fatores aqui apontados estão estreitamente associados à má alimentação e ao sedentarismo. É possível imaginarmos inclusive que até o tabagismo diminua à medida que a pessoa adote um estilo de vida mais ativo. No Brasil, como já foi possível observar, o sedentarismo já é considerado um dos principais inimigos da saúde pública e está presente em cerca de 70% da população, sendo responsabilizado por 54% do risco de morte por infarto e por 50% do risco de morte por derrame cerebral. Estes dados já seriam mais que suficiente para justificarmos uma ação coletiva em prol do combate ao sedentarismo, mas é sempre bom reforçá- ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE 35 los. Veja as recomendações da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte – SBME para o combate ao sedentarismo junto aos mais jovens e entenda melhor a responsabilidade do profissional de Educação Física neste processo. Para SBME as atividades físicas e esportivas devem ser consideradas prioridade para crianças e adolescentes, desta forma destaca: 1 – Os profissionais da área de saúde devem combater o sedentarismo na infância e na adolescência, estimulando a prática do exercício físico no cotidiano e/ou de forma estruturada através de modalidades desportivas, mesmo na presença de doenças, visto que são raras as contradições absolutas ao exercício físico; 2 – Os profissionais envolvidos com crianças e adolescentes que praticam atividade física devem priorizar seus aspectos lúdicos sobre os de competição e evitar a prática em temperaturas extremas; 3 – A educação física escolar bem aplicada deve ser considerada essencial e parte indissociável do processo global de educação das crianças e adolescentes (LAZZOLI et. al., 1998). Sendo assim, parece-nos óbvio que a responsabilidade de elevarmos os níveis de atividade física e saúde em nossa população e em especial junto aos mais jovens, não pode ser entendida como uma ação isolada do professor de Educação Física, dos pais ou até mesmo das instituições governamentais e não-governamentais. Estas ações devem buscar a parceria de todos para reversão dos atuais quadros de baixa atividade física da população brasileira. Então, mãos à obra e vamos estudar um pouco mais para melhoramos nossa ação profissional. Nesta unidade você estudou sobre a epidemiologia e sua relação com o estilo de vida sedentário e a obesidade, que deu origem a uma área de estudo conhecida como epidemiologia da atividade física. Viu, ainda, que estes fatores quando associados podem predispor o surgimento de algumas doenças crônicas, são o que chamamos de fatores de riscos associados, que serão melhor estudados na próxima unidade. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Na próxima unidade, estudaremos também algumas doenças crônicas relacionadas à obesidade e ao estilo de vida sedentário, sua etiologia e relação com a atividade física. Mas, antes, vamos ver o que você aprendeu.
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