Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONTRATO DE SEGURO 1.CONCEITOS: Contrato de seguro é aquele pelo qual uma das partes (o segurador) se obriga para com outra (o segurado), mediante o pagamento de um prêmio, a indenizá-la de prejuízo decorrente de riscos futuros, previsto no contrato. Segurador é aquele que suporta o risco assumido, mediante o recebimento do prêmio, devendo ter capacidade financeira e ter o funcionamento autorizado pelo Poder Público. Sua atividade é sujeita à fiscalização pela SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) e exercida apenas por Sociedades Anônimas, que obedecerão às regras ditadas pelo Conselho Nacional de Seguros Privados. O segurado é o que tem interesse direto na conservação da coisa ou da pessoa, fornecendo uma contribuição periódica e moderada, isto é, o prêmio, em troca do risco que o segurador assumirá de, em caso de incêndio, abalroamento, naufrágio, furto, falência, acidente, morte, perda das faculdades humanas, etc., indenizá-lo pelos danos sofridos. 2. NATUREZA JURÍDICA: O seguro é um contrato “bilateral”, porque gera obrigações para o segurado e para o segurador (que pagam, respectivamente, o prêmio, sempre, e a indenização, em caso de sinistro); “oneroso”, porque ambos os contratantes visam obter vantagens patrimoniais e ambos se responsabilizam por prestações e contraprestações; “aleatório” porque não há equivalência entre as prestações, ou seja, o sinistro pode ocorrer ou não, podendo o segurador ganhar muito ou perder muito; “formal” porque não terá validade se não for pactuado pela forma escrita; “de execução continuada” porque visa subsistir durante um período de tempo, por menor que seja, pois visa proteger o bem ou a pessoa, sendo necessário o cumprimento da obrigação do segurado neste intervalo de tempo, sob pena de rescisão, embora com permanência dos efeitos passados do contrato; “de adesão” porque se forma com a aceitação pelo segurado, sem qualquer discussão, das cláusulas impostas ou previamente estabelecidas pelo segurador na apólice impressa, e modificações especiais lhe serão introduzidas apenas eventualmente, por carimbo ou justaposição (destaque-se que os detalhes do contrato de seguro, por esse motivo, são padronizados com detalhes por meio do CNSP, podendo-se, em virtude disso, se falar em ‘adesão bilateral’); “de boa-fé” porque exige-se sinceridade e lealdade por parte do segurado em suas declarações a respeito do conteúdo do contrato, do objeto e dos riscos, sob pena de receber sanções se proceder com má-fé em circunstâncias em que o segurador não puder fazer diligências (vistorias, inspeções e exames médicos), fiando-se apenas nas declarações do segurado, que devem ser verdadeiras e completas (também o segurador deve agir com boa-fé, evitando continuar o contrato quando souber que o risco já passou, sendo obrigado, neste caso a devolver o prêmio em dobro ao segurado -- ressalte-se que a má-fé de ambos deve ser comprovada). 3. REQUISITOS: A) SUBJETIVOS: a) só poderá contratar como segurador a pessoa jurídica devidamente autorizada pelo governo federal para operar no ramo e há presunção legal (art. 775 do CC) de que seus agentes são seus representantes, pois atuam em seu nome e em seu interesse; b) deverá o segurado ter capacidade civil, respondendo pelas obrigações que contrair, bem como o procurador, que também se responsabilizará perante o segurador pelas inexatidões e lacunas do contrato (o segurado também responde perante o segurador pelo descumprimento de normas e conclusão do contrato e questões relativas ao pagamento do prêmio por parte do estipulante em seguro à conta de outrem); c) nem todos poderão ser beneficiários ( no seguro de coisas ou de prejuízo é necessário provar o interesse em relação à coisa segurada; no seguro de vida o beneficiário não pode ser o cúmplice ou concubina de pessoa adúltera – não separada de fato - ; diferente ocorre se o segurado já era separado judicialmente, podendo instituir benefício em prol de sua companheira; não poderá também ser beneficiário o que estiver impedido de suceder, na forma do Código Civil, bem como se o beneficiário for o causador da morte do segurado por meio doloso); d) funda-se no consentimento de ambos os contraentes (o contrato é consensual, por meio do qual o segurador aceitará ou não a proposta, preestabelecida já por este, dentro de 15 dias); e) não há, em regra, solidariedade entre os cosseguradores (apenas um deles será o administrador do contrato, representando os demais apenas nestas questões administrativas, não podendo representar judicialmente os demais, nem ser acionado individualmente, exceto se os outros cosseguradores forem expressamente solidários com aquele perante o segurado, caso em que haverá ação regressiva contra eles; obs: o que é o cosseguro? Nele os cosseguradores repartem entre si as responsabilidades perante o risco assumido, o que é comum quando esse risco for grande – ex: seguro do World Trade Center); f) não há vínculo entre o segurado e o órgão ressegurador (mas o Instituto de Resseguros do Brasil deve ser citado pelo segurado obrigatoriamente, nas suas ações contra a seguradora, por medida processual que tem o objetivo de evitar problemas relativos à existência do litisconsórcio necessário que é formado nesses casos). B) OBJETIVOS: o objeto do contrato, que é o risco descrito na apólice, assumido pelo segurador, deve ser lícito – não se admitindo, p. ex., um contrato de seguro sobre operações de contrabando – e possível. Nulo será o contrato que admitir a cobertura de atos dolosos por parte do segurado, do beneficiário ou de representante de um ou de outro (art.. 762 do CC). Além do mais, o valor do objeto deve ser determinado, para que se possa estipular o valor do prêmio a ser pago (a desproporcionalidade quanto a isso resultaria em locupletação ílícita). Diz o art. 778 do CC que o valor da indenização não será superior ao do interesse garantido e, se houver declarações inverídicas do segurado, este perderá o direito à garantia e pagará o prêmio vencido (o segurador terá o direito de cobrar a diferença do prêmio, mesmo após o sinistro, ou resolver o seguro, desde que não haja má-fé do segurado, perdendo este o prêmio desembolsado). O valor do prêmio será definido consensualmente pelas partes, mas não poderá ser superior ao do interesse segurado, exceto se se tratar de seguro de pessoa, cujo valor do bem segurado, e consequentemente, da indenização e do prêmio, é definido pelo segurado (arts. 778 e 779 do CC). O evento segurado deve ser futuro e incerto, independente da vontade dos interessados. C) FORMAIS: o contrato de seguro exige instrumento escrito, que é a “apólice”, a qual conterá o nome do segurado, o do segurador, bem como todas as condições em que o contrato está sendo pactuado, incluindo o risco que está sendo coberto, o intervalo de tempo, a extensão daqueles riscos (pois, se os limitar ou particularizar, o segurador não responderá por outros), etc. Ressalte-se que não poderá haver prorrogação tácita do prazo estipulado no contrato por mais de uma vez, isto em nome da necessidade de se reavaliar o risco, visto que o objeto segurado pode ter sofrido, com o passar do tempo, alguma modificação. Podemos classificar as apólices em: nominativas (quando mencionam o nome do segurador, o do segurado e o de seu representante, se houver, ou do terceiro em cujo nome se faz o seguro, sendo apenas transmissível por cessão ou alienação mediante aviso escrito assinado pelo cedente e pelo cessionário), à ordem (transmissíveis por endosso em preto, ou seja, no qual se indica o nome do beneficiário – o endossatário –, que será o novo dono da apólice e assumirá os direitos e obrigações relativos à mesma) e ao portador (transmissível por tradição simples e inadmissíveis em se tratando de seguro sobre a vida ou de pessoas); a apólice pode ser ainda: específica (ocupa-seapenas de um certo risco) ou plúrima (dizendo respeito a vários riscos dentro do contrato), aberta (dizendo respeito a um ou mais risco que vão se individualizando ao longo da vigência do contrato e aos quais corresponderá um prêmio inicial e outro ou outros posteriores ao início do mesmo, os quais refletirão o desenrolar dos acontecimentos; tal tipo de apólice é comum no seguro de transporte), simples (o objeto do seguro é determinado precisamente, sem que seja possível a sua substituição) e flutuante (em que o valor garantido pode ser substituído a qualquer momento, a pedido do segurado). Ressalte-se ainda que as apólices terão duração de um a cinco anos. 4. MODALIDADES: A) Quanto às normas que os disciplinam: a) comerciais (regidos pelo Código Comercial, que trata dos seguros marítimos de transporte e de casco) e b) civis (disciplinados pelo Código Civil, atinentes aos seguros de dano e aos de pessoa); B) Quanto ao número de pessoas: a)individuais (compreendem um só segurado) e b) coletivos ou em grupo (abrangem várias pessoas); C) Quanto ao meio em que se desenrola o risco: a)terrestres, b)marítimos e c)aéreos; D) Quanto ao objeto que visam garantir: a)patrimoniais (se se destinam a cobrir as perdas resultantes de obrigações, p. ex. o seguro de responsabilidade civil), b)reais (se se objetivarem os prejuízos sofridos por uma coisa, p. ex. o seguro de dano) e c)pessoais ( se disserem respeito às faculdades humanas, à saúde e à vida) ou ainda, de acordo com o CC, “de dano” e “de pessoa”; E)Quanto à prestação dos segurados: a) a prêmio (se se referirem aos que obrigam o contratante a pagar uma parcela fixa convencional), b)mútuo (admitidos pelo CC de 1916, mas não havendo correspondente no atual código de 2002; nele, as obrigações eram recolhidas em função dos riscos verificados, repartindo-se as consequências, a posteriori, entre os associados mutualistas; os segurados contribuíam, em lugar do prêmio, com as cotas necessárias para fazer frente às despesas de administração e aos prejuízos verificados, daí a variabilidade de sua contribuição; eles eram seguros cíveis, não havendo a participação de uma empresa, visto que eram os próprios interessados que constituíam a sociedade seguradora, a qual não teria fim lucrativo) e c) mistos (que determinam um pagamento fixo e outro variável, sendo este último dividido entre os mutualistas, como ocorria no CC-16); F)Quanto às obrigações do segurador: a) de ramos elementares (abrangendo o seguro de dano e o de responsabilidade civil – onde o segurador se responsabiliza pelos danos causados não ao segurador, mas pelo segurador, como ocorre no seguro que cobre prejuízos causados por funcionários ou empregados que lidam com dinheiro, como caixas, cobradores, tesoureiros, etc.) e b)de pessoa ou de vida (aqueles que garantem o segurado contra riscos a que estão expostos sua existência, sua integridade física e sua saúde, não havendo reparação de dano nem indenização de fato –envolvendo os seguros de vida propriamente ditos e os seguros contra acidentes, os quais compreendem o seguro contra acidentes de trabalho, que é obrigatório a todo empregador e o seguro contra acidentes pessoais); G) Seguro de dano: neste seguro, a garantia não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no instante da conclusão do contrato (p. ex., no seguro de veículo, o valor do prêmio e o da indenização basear-se-ão no ano de sua fabricação, no seu estado de conservação, na sua quilometragem, no risco a que está exposto, etc.), sob pena de perda do direito à garantia, além do segurado ficar obrigado ao prêmio vencido. Se não houve má-fé do segurado na informação equivocada, o segurador pode rescindir o contrato ou cobrar a diferença, mesmo após o sinistro (art. 778 c/c 766 e parágrafo único). Apenas será permitida a indenização excedente ao valor da coisa no instante do sinistro ou ao limite máximo fixado na apólice se o segurador estiver em atraso no pagamento da verba indenizatória. O art. 783 diz que se se fizer, salvo disposição em contrário, seguro de um interesse por menos do que valha, ter-se-á redução proporcional da indenização no caso de sinistro parcial (p. ex. se se segurou um automóvel que vale R$ 80.000,00 por R$ 40.000,00, ocorrido um acidente que lhe causa dano de R$ 1.000,00, o segurador pagará R$ 500,00 pois a proporção entre o valor do veículo e o que lhe foi dado para fins securitários é de 50%). O art. 779 diz que o risco de seguro compreenderá todos os prejuízos advindos, inclusive estragos ocasionados para evitar o sinistro, diminuir o dano ou salvar a coisa segurada (p. ex. demolição de certas partes do prédio para evitar que o fogo se propague. Contudo o art. 784 e parágrafo único preceitua que não estará incluído na garantia o sinistro causado por vício intrínseco que seja um defeito próprio, que não se encontre normalmente em outros da mesma espécie, e que não tenha sido declarado previamente pelo segurado. O art. 782 diz que não se poderá fazer um seguro com outro segurador com base no mesmo interesse e contra o mesmo risco sem que se comunique previamente o primeiro, inclusive para que se possa observar o limite máximo previsto no artigo 778, que é o valor do interesse segurado no momento da conclusão do contrato. No seguro de dano, ao contrário do de pessoa, não se pode cobrir integralmente o valor de um bem por um seguro e depois cobri- lo com outro. O caput do art. 785 preceitua que se o segurado alienar o bem, com ele será transferido o direito de receber a indenização em caso de sinistro para o terceiro, mas, conforme o parágrafo primeiro, se o apólice era nominativa, a transferência apenas produzirá efeito relativamente ao segurador se houver aviso escrito assinado pelo cedente e cessionário. O caput do art. 786 afirma que o segurador se sub-roga nos direitos e obrigações do segurado relativos ao causador do dano, mas o parágrafo primeiro diz que não haverá sub-rogação, salvo dolo, se o dano for causado pelo cônjuge do segurado, seus descendentes ou ascendentes, consanguíneos ou afins, evitando-se assim que a sub-rogação venha a inutilizar a vantagem do seguro conferida ao segurado com a incidência da ação regressiva. Já no parágrafo segundo consta que será ineficaz ato do segurado que venha a diminuir ou extinguir, em prejuízo do segurador, os seus direitos de sub-rogação nos direitos e ações cabíveis ao segurado contra o autor da lesão. H) Seguro de pessoa: contra riscos de morte, sobrevida após certo prazo, comprometimento de saúde, incapacidade, invalidez ou de acidentes. De acordo com o art. 798, “o beneficiário não tem direito ao capital estipulado quando o segurado se suicida nos 2 primeiros anos de vigência inicial do contrato, ou da sua recondução depois de suspenso”, devendo o segurador devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica já formada, conforme o parágrafo único do artigo anterior (exceto nesses casos, nula será a cláusula contratual que excluir o pagamento de capital por suicídio do segurado). Já o art. 799 diz que “o segurador não pode se eximir do pagamento do seguro, ainda que da apólice conste a restrição, se a morte ou incapacidade do segurado provier da utilização de meio de transporte mais arriscado, da prestação de serviço militar, da prática de esporte ou de atos de humanidade em auxílio de outrem”. Competirá neste caso à seguradora comprovar que houve premeditação de suicídio, no caso de ter acontecido nos primeiros dois anos do contrato. Se o beneficiário for o assassino do segurado, não terá direito ao seguro. Conforme o art. 797, poderá ser estipulado um prazo de carência durante o qual a seguradora não se obrigará a cobrir o sinistro, mas, nesses casos, deverá devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica (parcela do prêmio pago pelo segurado, imobilizado pelo segurador para garantir a obrigação por ele assumida)já formada, evitando assim seu enriquecimento indevido. Conforme o art. 792, “na falta de indicação da pessoa ou beneficiário ou, se por qualquer motivo não prevalecer a que foi feita, o capital segurado será pago por metade ao cônjuge não separado judicialmente e o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem de vocação hereditária” (já o parágrafo único afirma que, na falta destes, será beneficiário quem provar que a morte do segurado o privou de meios necessários à subsistência). Espécies de seguro de vida (Washington de Barros Monteiro): a)seguro de vida inteira (com prêmio fixo pago pelo segurado, enquanto vivo, para que o segurador pague a indenização aos beneficiários, após a sua morte); b) seguro de vida inteira com prêmios temporários, em que o segurado só paga o prêmio avençado durante certo número de anos, ficando depois remido; c)seguro de capital diferido (se o segurado tiver direito à soma do seguro se ainda estiver vivo ao fim de certo número de anos); d) seguro misto (se houver uma combinação do seguro de vida inteira com o seguro de capital diferido); e)seguro sobre duas vidas (geralmente marido e mulher, em que a indenização é paga ao sobrevivente; f) seguro com participação nos lucros do segurador; g) seguro dotal (por cumprimento de alguma finalidade, pela ocorrência de um evento, como a maioridade, bem como por sobrevivência). No seguro de vida, ou de pessoa (relativo à integridade física ou à saúde) o segurado pode fazer quantos seguros quiser, com o mesmo ou com diversos seguradores, sendo livre para fixar o valor respectivo, porém a apólice não poderá ser ao portador, por ser importante a identidade do beneficiário. O seguro pode compreender a vida do próprio segurado ou a de outrem; todavia, nesta última hipótese, dever-se-á justificar o seu interesse jurídico, moral ou econômico (p. ex. gratidão, afetividade, conveniência profissional, amizade, etc.) pela preservação da vida que segura, sob pena de falsidade do motivo alegado, mas se dispensa a justificação se o beneficiário for descendente, ascendente ou cônjuge ou companheiro, exceto, neste último caso, em caso de segurado não separado judicialmente, extrajudicialmente ou de fato. Ressalte-se que também é proibida a estipulação de qualquer contrato de seguro sobre a vida de menores de quatorze anos de idade (Decreto-Lei 2063/40, art. 109). Conforme o art. 791, o seguro pode ser efetuado livremente, caso em que o segurado poderá substituir ad nutum o beneficiário, por ato inter vivos ou mortis causa , desde que não renuncie a tal faculdade ou o seguro não tenha por causa declarada a garantia de uma obrigação; entretanto o parágrafo único esclarece que o segurador deve ser cientificado, e caso isso não ocorra, poderá liberar-se pagando o capital segurado ao antigo beneficiário. Diz o art. 794 que o benefício no seguro de vida ou de acidentes pessoais não se sujeita às dívidas do segurado, nem se considera herança, não integrando espólio , nem pode ser penhorada. Será nula qualquer transação para pagamento reduzido do capital segurado (art. 795) ou a substituição da vontade do falecido segurado. O Conselho de Justiça Federal, pelo Enunciado 542, diz que “a recusa de renovação das apólices de seguro de vida pelas seguradoras em razão da idade do segurado é discriminatória e atenta contra a função social do contrato, a qual só poderá ser respeitada se o risco agravado pela idade do idoso for diluído entre todas as faixas de idade. Além disso, essa prática é atentatória contra o Estatuto do Idoso. Há também o enunciado 543 que diz ser abusiva a prática por parte das seguradoras de modificar acentuadamente as condições do seguro de vida e de saúde quando da renovação do contrato, desrespeitando-se com isso o princípio da boa-fé objetiva. O art. 801 diz que o seguro de pessoas pode ser estipulado por pessoa natural ou jurídica em proveito de grupo que a ela, de qualquer modo, se vincule. O estipulante não representa o segurador perante o grupo segurado e é o único responsável , para com o segurador, pelo cumprimento das obrigações contratuais assumidas por aquele grupo, inclusive arrecadação do prêmio a ser entregue ao segurador (ressalte-se que a modificação da apólice em vigor dependerá da anuência expressa de segurados que representem ¾ do grupo) – parágrafos. Diz o art. 802 que o seguro de pessoa não garante o reembolso de despesas hospitalares ou de tratamento médico, nem o custeio das despesas de luto e de funeral do segurado, devendo-se ressaltar que estas despesas poderão ser objeto do seguro de dano. Não tendo o seguro de pessoa natureza de reparação de danos, não ocorre aqui a sub-rogação do segurador nos direitos e obrigações do segurado frente ao causador da lesão, mantendo-se com o segurado o direito de pleitear em juízo a indenização a que faz jus contra o referido lesante. 5. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO SEGURADO: A) Direitos: a) Receber a indenização e a reparação do dano, equivalente a tudo aquilo que esteja dentro do risco assumido, exceto se estiver em mora no pagamento do prêmio; b) Reter os prêmios atrasados e fazer outro seguro pelo valor integral, se o segurador estiver insolvente (ou seja, se suas dívidas superarem os seus bens); c) Não ver aumentado o prêmio, mesmo agravados os riscos assumidos pelo segurador em razão de fato alheio à sua vontade, dado o caráter aleatório do contrato; d) Abandonar a coisa segurada, se entender que o capital segurado lhe é mais conveniente do que sua recuperação ou indenização parcial; e) Exigir revisão do prêmio ou resolução contratual se a redução do risco for considerável (art. 770 do CC). B) Obrigações: a) pagar o prêmio; b) Abster-se de tudo que possa aumentar ou agravar o risco, objeto do contrato, sob pena de perder o direito à garantia securitária (art. 768 CC)(p. ex. segurado não pode, após segurar sua residência, nela instalar um depósito de inflamáveis); c) Comunicar ao segurador todo incidente que possa agravar o risco, para que ele possa tomar alguma providência, como rescindir o contrato, reclamar perante autoridade administrativa, etc., sob pena de perder o direito ao seguro, demonstrado que silenciou de má-fé; d) Levar, sob pena de perder o direito à indenização, ao conhecimento do segurador a ocorrência do sinistro, assim que souber da sua verificação e tomar as providências necessárias para minorar-lhe as consequências, correndo as despesas deste esforço por conta do segurador; e) Ser leal, respondendo com sinceridade às perguntas necessárias à avaliação do risco e ao cálculo do prêmio (contudo, cabe à seguradora exigir exames médicos para verificar estado de saúde do segurado antes de firmar contrato, sob pena de ter que pagar a indenização, caso ocorra o sinistro). Se a inexatidão ou omissão nas declarações não resultarem de má-fé do segurado, o segurador pode resolver o contrato ou cobrar, mesmo depois do sinistro, a diferença do prêmio (art. 766); f) Abster-se de transacionar com a vítima, com o responsável pelos danos, sem o prévio consentimento do segurador (nulo será qualquer transacionamento para pagamento reduzido do capital segurado. 6. DIREITOS E DEVERES DO SEGURADOR: A) Direitos: a) Receber o prêmio a que o segurado se obrigou, durante a vigência do contrato; b) Isentar-se de pagar a indenização em caso de dolo do segurado ou se o segurado deu à coisa segurada valor superior ao real, estava em mora no pagamento do prêmio (já tendo sido decidido, apesar disso, que nem sempre haverá essa perda do direito à indenização, devendo-se analisar caso a caso com base na função social dos contratos, na boa-fé objetiva e no equilíbrio contratual), se existe no contrato algum vício capaz de lhe tirar a eficácia ou a apólice caducou por não terem sido pagos os prêmios conforme estipulado; c) Responder exclusivamente pelos riscos que assumiu, em dinheiro, salvose convencionada a reposição da coisa; d) Opor, havendo seguro á conta de outrem, ao segurado-beneficiário, todos os meios de defesa que tiver contra o estipulante; e) Sub-rogar- se, se pagar indenização, no direito respectivo contra o autor do sinistro, podendo reaver o que desembolsou, exceto se pagou voluntariamente e fora dos termos da apólice (mas tal sub- rogação não se dará se o causador do dano foi cônjuge, ascendente ou descendente do segurado, só se dando se o dano foi causado com dolo) e não será eficaz ato do segurado que venha a diminuir ou extinguir, em prejuízo do segurador, os direitos de reembolso e das ações cabíveis contra o autor da lesão dentro dos limites do valor do seguro; além disso, na hipótese de seguro de pessoa, não há sub-rogação do segurador nos direitos e ações do segurado ou do beneficiário contra o causador do sinistro, pois o ofendido continua legitimado para pleitear o quantum indenizatório a que faz jus contra o lesante; f) Reajustar o prêmio para que corresponda ao risco assumido; g) Comunicar ao segurado alterações havidas com o risco ou com a titularidade da apólice; h) Exonerar-se de suas responsabilidades no caso de mora no pagamento do prêmio se ocorrer o sinistro antes de sua purgação (purgação é ato do devedor que satisfaz prestação vencida com o acréscimo de acessórios e prejuízos que resultam do atraso); B) Deveres: a) Indenizar pecuniariamente o segurado, salvo se convencionada a reposição da coisa (se a perda for parcial, a indenização corresponde apenas aos prejuízos apurados; o segurador arca com a valorização do bem desde a ocasião do contrato até a do sinistro, que é o momento em que se apura o valor da indenização); o pagamento ocorrerá em até 10 dias nos seguros obrigatórios e até 15 dias nos demais, exceto para o de responsabilidade civil, que tem prazo de 5 dias; b) Pulverizar o risco sob a forma de cosseguro e resseguro; c) Constituir reservas técnicas, fundos especiais e provisões para garantia das obrigações assumidas; d) Cumprir as obrigações provenientes da mora ou da desvalorização da moeda no que tange ao pagamento das indenizações; e) Restituir o prêmio em dobro se, ao tempo da celebração do contrato, já sabia que o risco havia passado e mesmo assim expediu a apólice; f) Pagar diretamente , ao terceiro prejudicado a indenização por sinistro em caso de seguro de responsabilidade legalmente obrigatório, como é o caso do seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres (DPVAT); a seguradora não poderá opor a exceção de contrato não cumprido, podendo apenas exercer o direito de regresso contra o segurado inadimplente. 7. EXTINÇÃO DO CONTRATO DO SEGURO: a) Pelo decurso do prazo estipulado (mas o mesmo poderá ser reconduzido ou prorrogado tacitamente pelo mesmo prazo apenas uma vez), sendo vedada reiterada sucessividade, ante a necessidade de nova avaliação de riscos ou a possibilidade de ter havido, com o passar do tempo, alguma mudança no objeto segurado; b) Pelo distrato, se ambos os contraentes concordarem em dissolver os vínculos que os sujeitavam (observe-se que veda-se a inscrição nas apólices de cláusulas que permitam a rescisão unilateral dos contratos de seguro); c) Por inadimplemento de obrigação legal ou de cláusula contratual, que por ter efeitos ex nunc não afetará as situações já consumadas e os riscos verificados: d) pela superveniência do risco (mas se a indenização for parcial, o contrato terá vigência apenas pelo saldo da indenização); e) Pela cessação do risco, em seguro de vida, se o contrato se configurar sob a forma de seguro de sobrevivência; f) Pela nulidade, que não é causa extintiva, mas que torna ineficaz o contrato por força de lei. #
Compartilhar