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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Direito Civil Professor: José Simão Aula: 05 | Data: 02/03/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO Negócio Jurídico 1. Existência 2. Validade Negócio Jurídico 1. Existência No passado discutiu-se se o plano da existência estaria ou não presente no código de 1916. Silvio Rodrigues dizia que não. No atual código, doutrina majoritária admite o plano – Moreira Alves, Nelson Neri Junior e todos os autores de manual. Exceção: Flávio Tartuce. O negócio jurídico para existir deve ter elementos mínimos que componham o seu suporte fático. Elementos de existência: partes, objeto, forma e vontade. Obs: são substantivos que não necessitam de adjetivos para configurarem o mínimo. Exemplo da adoção da inexistência é a reserva mental de não querer (artigo 110, CC). Se a pessoa declara o que não quer, tecnicamente vontade não existe e inexiste o próprio negócio. Contudo, como a lei protege a boa-fé, a reserva mental pode gerar dois efeitos: 1) o declarante declara e a outra parte percebe a reserva mental, nesta hipótese o negócio não existe; 2) o declarante declara e o destinatário não percebe a reserva mental, nesta hipótese o negocio existe (exemplo: pessoa visita amigo endividado que está muito doente e promete emprestar dinheiro, se o doente percebeu que se trata de mero conforto espiritual a reserva mental foi notada e o negócio inexiste). Obs: o código civil resolve a reserva mental no plano da existência e não da validade. Conclusão: o negócio jurídico inexistente é o nada jurídico que portanto, não produz qualquer efeito. O instituto da putatividade só se aplica aos casamentos inválidos, pois o inexistente não pode produzir qualquer efeito. 2. Validade Existindo o negócio cabe então indagar se este fere ou não a lei. São as hipóteses de nulidade (absoluta, artigo 166 ou anulável – anulabilidade, artigo 171). Requisitos de validade (artigo 104, CC): 1) partes capazes e legítimas; Como já dito, a legitimação ou legitimidade é própria para certos negócios praticados por certas pessoas. Dois exemplos relacionados a família trazem hipóteses de falta de legitimidade ou legitimação: Página 2 de 3 a) o artigo 496 exige na venda de ascendente para descendente a concordância dos demais descendentes e do cônjuge do vendedor. Razão da regra: a venda pode prejudicar os demais descendentes e o cônjuge do vendedor em matéria sucessória, isso porque descendentes e cônjuge, em regra, concorrem na herança do falecido. O parágrafo único do artigo 496 dispensa a concordância do cônjuge se casado por separação obrigatória (artigo 1641, CC), pois neste regime todos os bens do falecido ficam com os descendentes (artigo 1829, I, CC); b) outra regra de falta de legitimação está no artigo 1647, os cônjuges não podem praticar certos negócios jurídicos sem a concordância do outro. A razão da regra é evitar prática de negócios que prejudiquem a família. Contudo, o código libera os casados no regime de separação total/absoluta de bens da autorização do outro cônjuge (outorga conjugal). A razão da regra é que o CC confere total autonomia às pessoas casadas por este regime. 2) objeto lícito, possível, determinado ou determinável; Não pode ser objeto de contrato herança de pessoa viva, são os chamados pactos sucessórios ou pacta corvina. A locução “não pode” implica nulidade absoluta, artigo 166, VII, CC. É a chamada nulidade virtual. Exemplo: contrato de cessão de direito hereditários antes do falecimento do “de cujus”. A razão da regra é a proteção do futuro herdeiro e não despertar desejo de morte. 3) forma prescrita ou não defesa (não proibida) em lei; Em regra, o negócio jurídico tem forma livre, mas se a lei exigir forma e esta não for observada o negócio é nulo, da mesma forma, se as solenidades não forem observadas, artigo 166, IV e V, CC. Exemplo: a fiança dar-se-á por escrito, artigo 819, sendo nula a fiança verbal. Exemplo: artigo 108 – o negócio jurídico que visa a constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis cujo valor exceda 30 salários mínimos, tem como requisito de validade a escritura pública (forma escrita e solene). Obs: locação e comodato não transferem propriedade, logo, a forma é livre. Exemplo: o testamento no Brasil é negócio jurídico formal, pois será sempre por escrito na presença de duas testemunhas (testamento público ou cerrado) ou de três testemunhas (testamento particular). A inobservância da forma implica nulidade do testamento. Duas exceções: 1) o testamento militar pode ser feito de forma verbal, é o chamado testamento nuncupativo; 2) artigo 1879, o testamento particular, mesmo sem testemunhas, em circunstâncias especiais declaradas na própria cédula, pode ser considerado válido pelo juiz, ou seja, a lei dispensa o rigor formal para seguir a vontade do morto (exemplo: pessoa que passará por cirurgia imediata com risco de morte). Obs: pelo artigo 1859 o prazo para impugnar a validade do testamento é de 5 anos contados do seu registro. Assim, parte da doutrina entende que a nulidade absoluta se convalida após tal prazo. 4) vontade livre. Se a vontade não for livre existem os vícios do consentimento. Página 3 de 3 Negócio jurídico nulo X Negócio jurídico anulável: - conhecimento de ofício pelo juiz: o juiz deve conhecer de ofício a nulidade absoluta e deve ser provocado para conhecer a anulabilidade; - legitimidade para propor ação: o MP pode promover ação em caso de nulidade e só os interessados em caso de anulabilidade; - convalidação: o nulo não se convalida, logo, não há prazos para se declarar a nulidade (é nulo para todo o sempre); a anulabilidade se convalida com o decurso do tempo, logo, a ação de anulabilidade se sujeita a prazos decadenciais. Os prazos variam de acordo com o instituto (exemplo: no casamento temos diversos prazos para as diversas hipóteses, artigo 1560, CC). Há um prazo geral para as hipóteses de inexistência de prazo específico, artigo 179, CC que é 2 anos contados de conclusão do negócio; - confirmação pela vontade (ratificação): a vontade das partes não pode convalidar o que nasceu nulo, contudo, o negócio jurídico anulável pode ser convalidado pela vontade das partes (confirmação expressa) ou por atos que indicam a confirmação (exemplo: parte descobre que foi enganada (dolo), mas mesmo assim, continua a executar o contrato); - efeitos da sentença: na hipótese de nulidade absoluta, a sentença retroage, ou seja, seus efeitos são “ex tunc”. No caso de anulabilidade a sentença é desconstitutiva e seu efeito “ex nunc”. Obs: Zeno Veloso entende que na realidade ambas as hipóteses levam à retroatividade dos efeitos, pois no plano da validade os efeitos desaparecem naturalmente. Conclusão: as hipóteses de anulabilidade estão no artigo 171 e as hipóteses de nulidade no artigo 166. A diferença entre elas é a ordem pública, ou seja, na hipótese de nulidade absoluta fere-se a ordem pública e na anulabilidade o interesse é apenas dos particulares. Próxima aula: eficácia.
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