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Adriana Martins Daniele Cristina Vânia Goudin Nathália Genilda Rita Tavares Érica Tiago 2013 Direito Empresarial e Sanitário Transfusão sanguínea em Testemunhas de Jeová. 1 Sumário TRANSFUSÃO DE SANGUE E TESTEMUNHAS DE JEOVÁ ....................................................................................... 2 1ª Corrente ........................................................................................................................................................... 2 2ª Corrente ........................................................................................................................................................... 2 Capitulo I - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS .............................................................................................................. 3 Capítulo II-DIREITOS DOS MÉDICOS ...................................................................................................................... 3 Capítulo III – RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL ................................................................................................ 4 Capitulo IV - DOS DIREITOS HUMANOS ................................................................................................................ 4 Capitulo V - RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES ......................................................................................... 4 CONCLUSÃO: ......................................................................................................................................................... 5 Bibliografia ........................................................................................................................................................... 6 2 TRANSFUSÃO DE SANGUE E TESTEMUNHAS DE JEOVÁ No que se refere à delicada situação da transfusão se sangue como único meio terapêutico para salvar a vida de paciente adepto da religião “Testemunhas de Jeová”, existem duas correntes doutrinárias: 1ª Corrente Sustenta que à luz da dignidade da pessoa humana e do princípio da liberdade de consciência e crença, afirma que a vontade contrária do paciente deverá ser respeitada. É preciso ressalvar que o pai nunca poderá embasar a recusa da transfusão para seu filho menor. A ninguém é dado poder renunciar a direito da personalidade de outrem. 2ª Corrente Para os adeptos desta corrente com base no principio da proporcionalidade, defende a supremacia do direito à vida, apta a justificar a necessária intervenção médica (ver antiga Resolução 1.021/1980 do CFM – Conselho Federal de Medicina). Assim, de um lado figura a autonomia do paciente em recusar o tratamento médico por crença religiosa; e de outro lado figura a autonomia do médico em atuar de forma a zelar pela vida e saúde do paciente. Primeiramente, cabe mencionar o artigo 5º da Constituição Federal, que trata dos direitos e garantias fundamentais do indivíduo, sendo o principal deles a vida, da qual decorrem todos os demais, inclusive a garantia à liberdade de crença religiosa. Denota-se, assim, um conflito de dois princípios fundamentais consagrados em nosso ordenamento jurídico-constitucional: de um lado, o direito à vida e, de outro, a liberdade de crença. Convicções religiosas não podem prevalecer perante o bem maior tutelado pela Constituição federal que é a vida - pois o direito à vida antecede o direito à liberdade de crença. A convicção religiosa seja qual for não pode induzir alguém ao suicídio nem permitir que o médico, ou qualquer outro cidadão, seja cúmplice na destruição do bem maior que a natureza concedeu ao homem, que é a sua vida. Pode-se afirmar, apesar de toda controvérsia alimentada no mundo jurídico e em especial pelos indivíduos Testemunhas de Jeová que questionam a matéria, que é permitido ao profissional médico atuar em favor do paciente, submetendo-o à transfusão de sangue, apenas em casos de iminente risco de morte, mesmo contrariando a vontade do paciente ou de seu representante legal. Havendo respaldo para tanto da legislação pátria, do entendimento jurisprudencial, e, finalmente, o enfoque especial gerado pelo Código de Ética Médica e pelo entendimento dos Conselhos Federal e Regionais de Medicina. O problema criado, para o médico, pela recusa dos adeptos da Testemunha de Jeová em permitir a transfusão sanguínea, deverá ser encarada sob duas circunstâncias: 3 1 - A transfusão de sangue teria precisa indicação e seria a terapêutica mais rápida e segura para a melhora ou cura do paciente. Não haveria, contudo, qualquer perigo imediato para a vida do paciente se ela deixasse de ser praticada. Nessas condições, deveria o médico atender o pedido de seu paciente, abstendo-se de realizar a transfusão de sangue. 2 - O paciente se encontra em iminente perigo de vida e a transfusão de sangue é a terapêutica indispensável para salvá-lo. Em tais condições, não deverá o médico deixar de praticá-la apesar da oposição do paciente ou de seus responsáveis em permiti-la. O Conselho Federal de Medicina assim se posiciona: Em caso de haver recusa em permitir a transfusão de sangue, o médico, obedecendo a seu Código de Ética Médica, deverá observar a seguinte conduta: 1º - Se não houver iminente perigo de vida, o médico respeitará a vontade do paciente ou de seus responsáveis. 2º Se houver iminente perigo de vida, o médico praticará a transfusão de sangue, independentemente de consentimento do paciente ou de seus responsáveis. (CFM. Resolução nº 1.021/80). O médico deverá sempre orientar sua conduta profissional pelas determinações de seu Código. No caso, o Código de Ética Médica assim prescreve: Capitulo I - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS I- A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza. II - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional. VI - O médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e atuará sempre em seu benefício. Jamais utilizará seus conhecimentos para causar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade”. (Código de Ética Médica, 2009). Capítulo II-DIREITOS DOS MÉDICOS É direito do médico: I - Exercer a Medicina sem ser discriminado por questões de religião, etnia, sexo, nacionalidade, cor, orientação sexual, idade, condição social, opinião política ou de qualquer outra natureza 4 Capítulo III – RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL É vedado ao médico: Art. 1º Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência.(...) Capitulo IV - DOS DIREITOS HUMANOS É vedado ao médico: Art. 22. Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte.(...) Art. 24. Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo.(...) Capitulo V - RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES É vedado ao médico: Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte. Art. 32. “Deixar de usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento, cientificamente reconhecidose a seu alcance, em favor do paciente”. (Código de Ética Médica, 2009). Por outro lado, ao praticar a transfusão de sangue, na circunstância em causa, não estará o médico violando o direito do paciente? Realmente, a Constituição Federal determina em seu artigo 153, Parágrafo 2º que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”. Aquele que violar esse direito cairá nas sanções do Código Penal quando este trata dos crimes contra a liberdade pessoal e em seu artigo 146 preconiza: "Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda". Contudo, o próprio Código Penal no parágrafo 3º desse mesmo artigo 146, declara ser lícita a intervenção médica/cirúrgica: Não se compreendem na disposição deste artigo: 5 “I - a intervenção médica ou cirúrgica sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida”. A recusa do paciente em receber a transfusão sanguínea, salvadora de sua vida, poderia, ainda, ser encarada como suicídio. Nesse caso, o médico, ao aplicar a transfusão, não estaria violando a liberdade pessoal, pois o mesmo parágrafo 3º do artigo 146, agora no inciso II, dispõe que não se compreende, também, nas determinações deste artigo: "a coação exercida para impedir o suicídio". Através da legislação acima analisada, apesar de haver no âmbito constitucional uma aparente colisão entre dois princípios fundamentais consagrados, em casos de iminente risco de morte, resta reconhecida a prevalência do direito à inviolabilidade da vida, com o intuito de evitar a concretização de um dano irreparável ao paciente. Os dispositivos supracitados resguardam o respeito e a defesa da vida do paciente, sendo dever do profissional médico atuar em seu favor. Ao mesmo tempo, deixam claro que a vontade do paciente ou de seu representante legal não tem guarida em casos de iminente risco de morte. CONCLUSÃO: Após todo o estudo realizado, desde a legislação constitucional, infraconstitucional e ética até o posicionamento jurisprudencial e o posicionamento do CFM e dos Conselhos Regionais, nos casos em que o paciente ou seu representante legal se negar à realização de transfusão de sangue por convicções religiosas (a exemplo dos Testemunhas de Jeová), conclui-se que apenas em caso de iminente risco de morte o profissional médico pode contrariar a vontade do paciente ou de seu representante legal. Tendo em vista que, apesar de constranger o paciente, contrariar sua vontade e ferir frontalmente o seu direito, o profissional médico está atuando em benefício e na proteção da vida deste indivíduo, garantia fundamental diametralmente superior à liberdade de crença religiosa. 6 Bibliografia http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12304 http://www.bioetica.ufrgs.br/transfus.htm http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/1980/1021_1980.htm http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=22068:juiz-defende- direito-de-testemunhas-de-jeova-a-recusa-de-transfusao-de-sangue&catid=3
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