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O tabuleiro de xadrez mutilado como ferramenta para o ensino sobre a matemática e a ciência II: resolução por analogia de um problema sem solução matemática 1 Ronaldo Luiz Nagem - PhD ronaldonagem@gmail.com Adelson Fernandes Moreira – Dr. adelson@deii.cefetmg.br Evandro Caldeira - evandrocaldeira@yahoo.com.br Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - Av. Amazonas, 7675 Belo Horizonte – MG Modalidade: Comunicação Científica. Resumo O presente trabalho é resultado de uma experiência de ensino realizada durante a disciplina Metodologia Científica para alunos do primeiro ano de graduação em Engenharia de Computação, no ano de 2009. Para diferenciar o fazer científico do fazer matemático foi utilizado o tabuleiro de xadrez mutilado proposto por Singh. Foram apresentados outros modelos análogos ao tabuleiro, reconstruídos a partir do modelo original. Os 42 alunos foram desafiados a resolver o problema proposto que era cobrir as 62 casas do tabuleiro de xadrez com 31 peças de dominó, sendo que no mesmo, faltavam duas casas brancas localizadas em extremos da mesma diagonal. Na caracterização do fazer científico, ficou evidente o empirismo da Ciência, sua transitoriedade, bem como a importância do uso de modelos análogos para o desenvolvimento do pensamento científico. O fazer matemático indicava impossibilidade de solução para o problema. Um dos alunos indicou a solução por meio de um raciocínio analógico. A solução por analogia de um problema sem solução matemática gera, a nosso ver, um novo problema. A solução para o novo problema caberá agora à matemática: criar um modelo matemático para a solução proposta, valendo-se de ‘lentes’ diferentes daquelas usadas por Euclides. Palavras-chave: Modelos, Analogias, Ensino de Ciências, Matemática. 1 Trabalho realizado, em parte, com auxílio da Fundação Cefetminas e da Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais – FAPEMIG, Brasil. Abstract This work is a result of an experience teaching on a discipline named Scientific Methodology offered to first year students of Computer Engineering, in 2009. To differentiate the scientific work of mathematical doing was used mutilated chessboard proposed by Singh. Other models analogous to board, rebuilt from the original, were presented. The 42 students were challenged to solve the problem it was proposed to cover the 62 houses of the chessboard with 31 dominoes, with the same, missing two white houses located at different ends of the same diagonal. In doing science characterization was evident empiricism, its transitory dimension, and the importance of using analogical models to scientific thought development. Mathematical doing indicated as impossible the solution problem. One student indicated a solution by means of analogical reasoning. The solution by analogy to a mathematical problem without solution created a new problem. A new solution to the problem it is now up to mathematics: to create a mathematical model for the proposed solution, taking advantage of 'lenses' different from those used by Euclid. Key words: Models, Analogies, Science Teaching, Mathematics Introdução Os processos de aprendizagem e desenvolvimento do indivíduo no contexto atual, no qual a difusão de informações e a apropriação do conhecimento ocorrem de forma acelerada e eficiente em consequência dos grandes avanços nos setores científico e tecnológico, têm revelado novas estratégias, necessidades e desafios à prática pedagógica. Tais estratégias baseadas no desenvolvimento de ideias consistentes com o ponto de vista científico utilizam modelos, analogias e metáforas, pretendendo o aumento da aplicação (e uso) da intuição e a mudança conceitual daquelas concepções nas quais os estudantes podem dar sentido intuitivo a aspectos de uma teoria científica, anteriormente considerados contraintuitivos - processo de “ancoragem de intuições“ (CLEMENT, J., BROWN, D. & ZIETSMAN, 1989). O uso de pontes construídas através de analogias, “bridging analogies” (BROWN, 1994), pretende que os estudantes possam ser capazes de estender suas intuições inicialmente válidas para situações-alvo ainda mais difíceis. Para Vygotsky (2008), os processos mentais superiores têm sua origem nos processos sociais e na constatação de que os processos mentais só podem ser compreendidos pelo estudo da mediação de instrumentos e de signos. As relações sociais são, portanto, fontes de informações para o estabelecimento de relações entre domínios. Aprendizagem e desenvolvimento mental ocorrem juntos, porém não são coincidentes, pois a aprendizagem ocorre a todo instante enquanto os processos de desenvolvimento mental podem ser favorecidos pelas experiências de aprendizagem. A evolução intelectual é caracterizada por saltos qualitativos de um nível de conhecimento para o outro. A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) – distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial – explica esse processo. Na ZDP, o aprendiz utiliza o raciocínio analógico. Ele compara o estranho (potencial=alvo) com o familiar (real=veículo), estabelecendo semelhanças e diferenças entre ambos e favorecendo os saltos qualitativos entre os níveis de conhecimento real e potencial. Esse processo de comparação se faz em meio a interações com colegas mais experientes ou com o professor, em determinado ambiente de aprendizagem. Em decorrência de tais fatos, Nagem, Carvalhaes & Dias (2001) propõem uma metodologia de ensino com analogias (MECA) na qual contempla em seu último passo, avaliação, um modelo de estruturas comparativas de semelhanças e diferenças entre o alvo e o veículo em um processo de estabelecimento de uma analogia. Nagem & Carvalhaes (2002) consideram que a construção ou reconstrução do modelo deve ser feita em uma relação dialógica aberta entre os atores do processo. Uma analogia sem a complementação de explanações acerca do que se quer realmente destacar e/ou comparar pode gerar dúvidas e confusões, uma vez que a sua interpretação fica inteiramente a cargo do receptor. Bachelard (1996) ao analisar exemplos do pensamento, no período pré- científico - Antiguidade Clássica até fins do séc. XVIII, em que havia o predomínio da linguagem metafórica e do uso de imagens, afirmou: “uma ciência que aceita as imagens é, mais que qualquer outra, vítima das metáforas”. Portanto, “o espírito científico deve lutar sempre contra as imagens, contra as analogias, contra as metáforas”. Para Bachelard, o uso de metáforas poderia levar o pensamento para construções mais metafóricas que reais, impedindo o pensamento abstrato necessário ao pensamento científico. Consideram que, na verdade, Bachelard, era contrário ao emprego equivocado das analogias e metáforas que poderia reforçar os obstáculos epistemológicos. Dreistadt (1968) afirmou que, segundo psicólogos, frequentemente as analogias e metáforas eram utilizadas em descobertas, pois cientistas afirmaram terem obtido insigths com a ajuda desses recursos. São exemplos que ilustram: A teoria ondulatória da luz; A tabela periódica; A árvore da vida. Em relação ao ensino de ciências, destacamos os trabalhos de: Driver et al, (1999) ao tratar da construção do conhecimento científico em sala de aula de química; Laburu, Arruda & Nardi (1998) quando utilizam Lakatos para o entendimento da construção do conhecimento em sala de aula em situações de contradição e controvérsia. Esses mesmos autores, em 2003, abordam a questão do pluralismo metodológico no ensino de Ciências. Modelos O trabalho de Gutierrez (2005)aborda com intensidade a questão da polissemia atual para o conceito de modelo mental definido como um termo técnico no âmbito da Ciência Cognitiva. Ao examinar a literatura didática dos últimos dez anos, adverte que essa polissemia vem atuando como um obstáculo na atividade docente e que impede a abertura para novas formas de compreender o pensamento espontâneo dos alunos. Mayer (1989) afirma que o uso de modelos melhora a recuperação de informações conceituais sobre o entendimento do discurso científico, diminui a memorização, incrementa soluções criativas e pode levar ao pensamento sistemático sobre o material científico em estudo e destaca ainda: …um modelo conceitual é definido como palavras e / ou diagramas que são utilizados para ajudar os aprendizes a construírem modelos mentais... É interessante notar as questões propostas por Max Wertheimer, citadas no texto de Mayer: Por que algumas pessoas, quando estão diante de um problema, têm ideias inteligentes, realizam invenções e descobertas? O que acontece? Quais são os processos que levam uma pessoa para tais soluções? O que pode ser feito para ajudar pessoas a serem criativas quando eles estão diante de problemas? (MAYER, 1989). Moreira, Greca & Palmero (2002) assim conceituam os modelos mentais e os diferenciam dos modelos conceituais: Los modelos mentales son análogos estructurales de estados de cosas, eventos u objetos, del mundo. Las personas operan cognitivamente con modelos mentales. Entender un sistema físico o un fenómeno natural, por ejemplo, implica tener un modelo mental del sistema que le permite a la persona que lo construye explicarlo y hacer previsiones con respecto a él... (MOREIRA, GRECA & PALMERO 2002). Analogias Considerada como mero ornamento linguístico próprio da linguagem literária e poética, a analogia vem ganhando status cognitivo nas últimas décadas. Vários autores se referem a elas como facilitadoras da aprendizagem, uma vez que estabelecem relações entre o conhecimento já existente – o veículo – com o novo conhecimento – o alvo –, possibilitando um melhor entendimento e assimilação do novo. Nesse aspecto, as analogias e metáforas podem significar uma expansão das perspectivas cognitivas, facilitando os procedimentos heurísticos. As novas funções decorrem de pesquisas realizadas, principalmente, nas áreas de Ciências e do Ensino de Ciências. O termo analogia aqui utilizado, é caracterizado pelo processo comparativo de semelhanças e diferenças entre dois domínios diferentes (o desconhecido e o conhecido). O termo análogo corresponde ao objeto conhecido que será comparado com o desconhecido. O reconhecimento da importância da analogia no processo de ensino e de aprendizagem levou e tem levado muitos autores a considerarem as potencialidades das analogias na Educação e no Ensino de Ciências, sem desconhecerem algumas dificuldades/obstáculos que podem ocorrer com o uso desse recurso como ferramentas no processo de ensino e de aprendizagem. O termo analogia aqui utilizado é caracterizado pelo processo comparativo de semelhanças e diferenças entre dois domínios diferentes (o desconhecido e o conhecido). O termo análogo corresponde ao objeto conhecido que será comparado com o desconhecido. Os trabalhos de Duit, (1991) e Duarte (2005), destacam algumas potencialidades das analogias no ensino de ciências: raciocínio analógico; percepção; criatividade entre outros. O presente trabalho é uma tentativa de estabelecer conexões entre raciocínio analógico e a construção de modelos, sejam eles mentais ou conceituais. Tanto o processo de reconstrução de modelos – desenvolvido por meio da proposição de um novo modelo análogo e o estabelecimento de semelhanças e diferenças entre eles, proposto por Nagem et al. 2009 – bem como o processo de resolução de problemas por analogias, ampliam as possibilidades de despertar o interesse dos alunos por estarem diante de um desafio. Procedimentos Para desenvolver uma atividade sobre a diferença entre o fazer matemático e o fazer científico, foi utilizado a proposta do xadrez mutilado de Simon Singh (2008) ;foram também mostrados aos alunos outros modelos de tabuleiros semelhantes ao de Singh, reconstruídos por analogia. A realização dessa experiência se desenvolveu também norteada por uma pesquisa qualitativa cujo objetivo era identificar relações entre o raciocínio analógico desenvolvido pelos estudantes e os modelos conceituais compartilhados nesse processo. Segundo ALVES-MAZZOTI & GEWANDSZNAJDER (1998, p.162), a escolha do campo e dos participantes de um estudo qualitativo não ocorre aleatoriamente: o pesquisador os escolhe em função das questões de interesse de estudo e também das condições de acesso e permanência no campo e disponibilidade dos sujeitos”. Desse modo, acredita-se que o desempenho dos professores/pesquisadores será influenciado pela maneira como os mesmos percebem a situação de aprendizagem. Além disso, a pesquisa qualitativa oferece maior grau de flexibilidade ao pesquisador para adequação da estrutura teórica ao estudo do pensamento e linguagem no ensino de ciências. Desenvolvimento da experiência: 1. Apresentação do tabuleiro de xadrez mutilado; 2. Apresentação do problema: Seria possível cobrir todas as casas do xadrez mutilado (agora com 62 casas) com 31 peças de dominó? 3.questões a serem respondidas: a. Como o matemático resolveria o problema? b. Como o cientista resolveria o problema? c. Seria possível um diálogo entre os dois? Os alunos foram orientados a anotarem todos os passos dados e após essa etapa, foram incentivados a buscarem possibilidades de solução do problema e fazer a exposição das mesmas. As discussões encorajaram os alunos a apresentarem suas dificuldades em estabelecer semelhanças e diferenças entre Ciência e Matemática. Delas também surgiram reflexões sobre o tema, tais como: A matemática é uma ciência ou uma linguagem? A ciência é a única fonte de produção do conhecimento? O que caracteriza uma abordagem matemática e uma abordagem científica diante de um mesmo problema? É possível um diálogo entre as duas abordagens para a produção do conhecimento? Que contribuição pode dar o pensamento analógico e os modelos na construção do conhecimento científico ou no reconhecimento do mesmo? Se for possível pensar em um tabuleiro de xadrez diferente do tradicional, seria possível pensar também em uma solução para o problema, diferentemente da abordagem científica ou matemática? Os resultados das atividades desenvolvidas foram avaliados por meio de um questionário aplicado aos alunos. As respostas a esse questionário e as produções dos estudantes, ao longo de todo o processo, constituíram a base de dados a partir da qual se buscou identificar as relações entre pensamento analógico e modelos conceituais. Resultados e discussão Embora os resultados em relação às questões apresentadas tenham sido semelhantes aos de Nagem et al (2009), será destacado o relato de um aluno apresentado em seu trabalho final da disciplina em relação à solução apresentada. Relato: Problema do Tabuleiro de Xadrez Incompleto Coberto por 31 Peças de Dominó. O estudante, cujo relato é apresentado a seguir, mostra uma visão de conhecimento como produção coletiva e como algo em constante modificação. Essa perspectiva confere ao aluno a possibilidade de utilizar criativamente seu raciocínio analógico na produção da solução do problema. A utilização do raciocínio analógico e a consciência de seu uso, ainda que ele não utilize essa denominação, é também evidenciada na transcrição abaixo.Nada surge do Nada A ideia de dobrar o tabuleiro não foi criação espontânea. Lembro- me que durante a aula, surgiu o assunto do telescópio Hubble e as diversas galáxias por ele descobertas. Essa informação aliada ao meu conhecimento prévio (conhecimento básico, não é nada avançado) sobre a distorção do espaço-tempo foi base para juntar as duas informações. É interessante notar que a frase “juntar as duas informações” pode evidenciar uma aproximação entre o conhecido e o desconhecido, entre o familiar e o não familiar que é uma característica do processo analógico onde se compara dois domínios diferentes. Esse processo de criação leva a um pensamento curioso: “Até que ponto somos os únicos autores de nossas descobertas?” Por que eu tive a ideia de dobrar o tabuleiro, mas o professor seria co- autor por ter me guiado, mesmo que de forma inconsciente, à resolução desse problema? Se a resposta para a última pergunta for sim, acho que poderíamos dizer que influenciamos na produção de conhecimento até quando destruímos algo, porque quando fazemos isso, alguém pensará numa forma de evitar que a destruição ocorra novamente. Um exemplo disso, são os vários tipos de tinta inventados para dificultar o trabalho dos pichadores. O parágrafo anterior mostra o aluno questionando a autoria e parte de um processo de construção de um conhecimento como um processo coletivo Para que esse processo funcione, o observador deve saber como relacionar o problema atual com a sua bagagem de conhecimentos aparentemente sem nenhuma relação com a questão a ser resolvida. O que eu tentei dizer aqui é que quanto mais conhecimento se possui, maiores são as possibilidades de “combinação” para a produção de um novo conhecimento. O “quanto mais conhecimento” deve ter um limite para o processo começar a se degradar, mas não sei dizer nada sobre esse limite. A importância da imagem na transmissão da informação O subtítulo acima poderia ser complementado da seguinte forma: A importância da imagem na transmissão da informação e da experiência sensório- social na construção de modelos mentais e conceituas. A experiência do estudante com tabuleiros dobráveis foi também uma condição para solucionar o problema. A construção de modelos mentais se vale de nossas experiências sensoriais e sociais. Elas podem levar a modelos mentais difíceis de serem alterados, tendo como referências os modelos conceituais científicos. No entanto, podem também ser fontes de rica produção de modelos explicativos e de soluções criativas, como será mostrado mais à frente. Uma imagem congrega os aspectos relevantes de uma experiência. Uma imagem pode ser a expressão de um modelo mental, não acessível diretamente, tampouco comunicado em toda sua estrutura e composição. Para transmitir a minha ideia da resolução do tabuleiro de Xadrez - porque ela admite menos interpretações do que a palavra - a imagem básica que as pessoas têm do tabuleiro de Xadrez é parecida com as 64 casas claras e escuras. Alguns pensam em um tabuleiro preto e branco, outros em vidro polido e lustrado. A ideia é semelhante,mas o uso de um pode ser completamente inviável no caso em que o outro seria. Para quem conhece Xadrez como sendo algum prêmio de bingo, o tabuleiro pode ser de papel e quem joga Xadrez enquanto dirige, nem tabuleiro usa; apenas memoriza a posição das peças. Do texto acima, pode-se aferir a diversidade dos modelos mentais e a dificuldade em expressá-los de forma completa. Embora diferentes, os modelos - como no caso o modelo de tabuleiro de xadrez - , apresentam vários elementos em comum ou pontos em comum expressos na frase “... Alguns pensam em um tabuleiro preto e branco, outros em vidro polido e lustrado. A ideia é semelhante, mas o uso de um pode ser completamente inviável no caso em que o outro seria... Uma mesma realidade não é apreendida da mesma forma por diferentes sujeitos. Essa visão mostrada pela transcrição abaixo, destaca mais uma característica desse estudante que amplia as possibilidades de aplicação de seu raciocínio analógico. Solução Encontrada A transcrição a seguir mostra como o estudante utilizou um modelo conceitual de espaço-tempo para, por meio de um raciocínio analógico, elaborar a solução para um problema matemático ‘insolúvel’. Essa transcrição mostra as possibilidades decorrentes de se provocar os estudantes com um problema que os mobilize, colocando à disposição dos mesmos , instrumentos de pensamento como as analogias. A solução trivial seria distribuir as peças linearmente pelo tabuleiro até que se encontre uma solução. No entanto, isso é impossível porque qualquer peça de dominó irá sempre ocupar uma casa preta e outra branca que sejam vizinhas. Na figura 1, foi feita uma distribuição com 30 peças de dominó e restaram duas casas brancas nas vizinhanças das casas pretas que foram removidas. Figura 1 Para colocar mais uma peça no tabuleiro, as duas casas brancas que restaram teriam que ser vizinhas. Para criar essa situação, pode-se dobrar o tabuleiro nas diagonais que ainda contêm casa vazias. Como o problema não especificou o material do tabuleiro, a solução ainda é válida. A figura 2 ilustra como a dobra deve ser feita, sendo que a parte mais clara seria a parte de trás do tabuleiro. Figura 2 Na figura 2, é visto que os dois espaços removidos estão sobrepostos. Como eles são apenas espaços vazios, é possível aproximar mais os lados para que as duas casas brancas fiquem vizinhas, conforme ilustra a figura 3. Figura 3 Agora, com duas casas brancas vizinhas, basta colocar a 31ª peça de dominó que falta. A ideia de dobrar o papel veio de um conceito de Curvatura do Espaço-tempo [1] utilizado na teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein. A figura 4 ilustra como o fenômeno em presença de objetos que possuem grande Massa. Lentes Gravitacionais [2] ilustram com os cientistas utilizam a distorção do espaço-tempo para observar estrelas e tentar localizar a presença de buracos negros. Nos links de referências [2] tem uma animação que ilustra bem sem a necessidade de muita leitura. Figura 4 Considerações finais O raciocínio analógico se faz presente ao longo de todo o relato do estudante, interligando modelos conceituais que ele já conhece com a solução por ele proposta. Na proposição da solução, desempenha um importante papel o modelo conceitual da curvatura do espaço-tempo, apropriada pelo estudante que leva à construção de um novo modelo para a solução do problema. Certamente, as possibilidades abertas para esse estudante têm também relação com seus compromissos epistemológicos e ontológicos, isto é, com sua compreensão do conhecimento como provisório e resultante de uma produção coletiva, bem como sua compreensão da realidade como passível de entendimento e representação de formas variadas e da constatação pessoal de que, dada uma realidade, diferentes sujeitos terão dela representações também diferentes. A metodologia aplicada não nos permitiu buscar elementos dos modelos mentais subjacentes às diferentes soluções apresentadas,ou mesmo subjacente aos argumentos matemáticos da impossibilidade de solução. Entretanto, o relato destacado evidencia as potencialidades do raciocínio analógico na produção, explicação e apropriação de modelos conceituais. Portanto, evidencia as possibilidades educativas de uma prática que desafia os estudantes com um problema eos incentiva a aplicar o raciocínio analógico com a apresentação e discussão crítica coletiva de diferentes modelos. A solução por analogia de um problema sem solução matemática gera, a nosso ver, um novo problema. A solução para o novo problema, caberá agora à matemática: criar um modelo matemático para a solução proposta, valendo-se de ‘lentes’ diferentes daquelas usadas por Euclides. Referências ALVES - MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER, F. (1998). O Método nas Ciências Naturais e Sociais; pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. 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