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PRICÍPIOS GERAIS DO TREINAMENTO DESPORTIVO Sumário INTRODUÇÃO...................................................................................................................1 1 CONCEPÇÃO MODERNA DO TREINAMENTO DESPORTIVO..................................2 1.1 O treinamento como processo de adaptação.....................................................................3 1.2 Adaptação ao treinamento................................................................................................. 5 1.3 Homeostase e atividade física............................................................................................5 1.4 Estado Estável.....................................................................................................................6 1.5 Adaptações biológicas e esportivas gerais para o desempenho esportivo por meio do treinamento...................................................................................................................................6 1.6 Adaptções cardiovasculares e respiratórias ao treinamento…………………………................7 1.6.1 Tamanho do coração...................................................................................................8 1.6.2 Frequêcia Cardíaca (FC)...............................................................................................8 1.6.3 Volume Sistólico de Ejeção (VSE)................................................................................8 1.6.4 Débito Cardíaco (DC)...................................................................................................8 1.6.5 Fluxo saguíneo............................................................................................................9 1.6.6 Retorno do sangue ao coração...................................................................................9 1.6.7 Pressão Arterial (PA)..................................................................................................10 1.7 Adaptções cardiovasculares e respiratórias ao treinamento…………………………..............11 1.8 Bioenergética..........................................................................................................14 1.8.1 Sistema ATP- CP........................................................................................................14 1.8.2 Sistema glicolítico......................................................................................................15 1.8.3 Sistema oxidativo......................................................................................................16 1.9 Particularidades etárias no desenvolvimento das qualidades motoras e suas adaptações.........................................................................................................................18 1.9.1 Formas de adaptação das capacidades físicas..........................................................21 1.9.2 Fatores de influência no treinamento......................................................................21 1.9.3 Fatores endógenos...................................................................................................22 1.9.4 Fatores exógenos......................................................................................................23 1.9.5 Rítmo Circadiano.......................................................................................................24 1.9.6 Rítmo semanal, mensal e anual ................................................................................26 1.9.7 Crescimento, desenvolvimento e adaptação............................................................26 2. PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO DESPORTIVO......................................................29 2.1 Respostas metabólicas após o exercício..............................................................................29 2.2 Respostas metabólicas após o exercício..............................................................................31 2.3 Respostas metabólicas após o exercício..............................................................................32 2.4 Respostas metabólicas após o exercício..............................................................................34 2.5 Respostas metabólicas após o exercício..............................................................................35 2.6 Respostas metabólicas após o exercício..............................................................................36 2.7 Respostas metabólicas após o exercício..............................................................................37 3. PERIODIZAÇÂO DO TREINAMENTO DESPORTIVO................................................39 3.1 Estruturas do modelo de periodização em função das formas de aplicação das cargas de treinamento...................................................................................................................................39 3.2 Tipos de periodização........................................................................................................40 3.2.1 Periodização clássica ou tradicional.............................................................................40 3.2.2 Estrutura pendular do treinamento desportivo...........................................................42 3.2.3 Estrutura do treinamento em blocos...........................................................................44 3.2.4 Estrutura do treinamento de alto rendimento.............................................................45 3.2.5 Os sinos estruturais......................................................................................................46 3.3 Ciclos de treinamento.......................................................................................................47 3 .3.1 Unidade de treino.......................................................................................................48 3 .3.2 Microciclo...................................................................................................................49 3.3.2.1 Modelos de microciclos............................................................................................51 3.3.2.2 Caracterização gráfica das formas de intensidade do microciclo............................52 3.3.3 Mesociclo....................................................................................................................54 3.3.4 Macrociclo..................................................................................................................55 3.3.4.1 Forma de agrupamento de mesociclos e proporção da carga..............................56 3.3.4.2 Forma de periodização descrita com proporção da carga....................................58 4 CAPACIDADES FÌSICAS,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,........................................................60 4.1 Treinamento da coordenação motora........................................................................ ...60 4.2 Classificação da coordenação........................................................................................61 4.2..1 Coordenação geral...................................................................................................624.2.2 Coordenação específica............................................................................................62 4.3 Treinamento da força....................................................................................................62 4.3.1 A ação ou ativação muscular....................................................................................63 4.3.2 Tipos de tensão muscular.........................................................................................66 4.3.3 Tipos de treinamento de força.................................................................................67 4.3.4 Coordenação intermuscular....................................................................................67 4.3.5 Coordenação intermuscular....................................................................................68 4.3.6 Processos reflexos....................................................................................................68 4.4 Métodos e sistemas de treinamento da força...............................................................69 4.4.1 Power lifting............................................................................................................69 4.4.2 Alterofilismo............................................................................................................69 4.4.3 O método búlgaro (método de contraste)..............................................................69 4.4.4 O método russo.......................................................................................................70 4.4.5 Métodos de Zatsiorsky.............................................................................................70 4.4.5.1 Métodos de esforço máximo..............................................................................70 4.4.5.2 Métodos de esforço repetido.............................................................................70 4.4.5.3 Métodos de esforço dinâmico ...........................................................................71 4.4.6 Método pirâmide ....................................................................................................71 4.4.7 Pirâmide clássica ascendente...................................................................................72 4.4.8 Pirâmide clássica descendente.................................................................................73 4.4.9 Pirâmide clássica dupla............................................................................................73 4.4.10 Pirâmide Skewed.................................................................................................74 4.4.11 Pirâmide truncada................................................................................................74 4.4.12 Pirâmide plana ou estável...................................................................................75 4.5 Treinamento de flexibilidade.........................................................................................75 4.5.1 Métodos de treinamento da flexibilidade.................................................................76 4.5.2 Frequência semanal, intensidade e volume .............................................................78 4.6 Treinamento de resistência...........................................................................................79 4.6.1 Fatores que afetam a resistência.............................................................................80 4.6.2 Classificação da resistência......................................................................................81 4.6.3 Resistência aeróbia..................................................................................................82 4.6.4 Tipos de métodos de desenvolvimento da resistência............................................83 4.6.5 O método Fartlek.....................................................................................................86 4.6.6 Método intervalado (interval training)...................................................................87 4.6.7 Resistência anaeróbia..............................................................................................88 4.7 Treinamento de velocidade...........................................................................................89 4.7.1 Desenvolvimento da velocidade.............................................................................90 4.7.2 Agilidade.................................................................................................................92 5 VARIÁVEIS DO TREINAMENTO,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,....................................................93 5.1 Volume...........................................................................................................................93 5.1.1 Noção de volume no ciclo anual...............................................................................94 5.2 Intensidade..................................................................................................................94 5.3 Densidade......................................................................................................................97 5.4 Complexidade................................................................................................................98 6 MEIOS E MÉTODOS DE PREOARAÇÃO FÍSICA,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,..............................99 7 EXERCÍCIOS DE POTÊNCIA ANAERÓBIA................................................................101 7.1 Exercícios de potência anaeróbia mista........................................................................101 7.2 Exercícios de potência anaeróbia-aeróbia.................................................................... 101 8 EXERCÍCIOS DE POTÊNCIA AERÓBIA....................................................................103 8.1 Exercícios de potência aeróbia média...........................................................................103 8.2 Exercícios de potência aeróbia submáxima..................................................................103 8.3 Exercícios de potência aeróbia quase máxima..............................................................103 8.4 Exercícios de potência aeróbia máxima........................................................................104 9 TREINAMENTO EM CIRCUITO (CIRCUIT TRAINING),,,,,,,,,,,,,,,,.............................. 105 9.1 Estrutura e montagem do circuito...............................................................................107 9.2 Tipos de circuito...........................................................................................................108 10 AVALIAÇÂO E MONITORAMENTO DO TREINAMENTO.........................,,,,,,,,,,,....110 10.1 Principais métodos de avaliação e monitoramento......................................................110 10.1.1 Mensuração da frequência cardíaca (manual) ........................................................110 10.1.2 Monitoramentoe controle feito por recursos telemétricos (frequencímetro) ......111 10.2 Nível de lactato sanguíneo e muscular..........................................................................111 10.3 Teste de VO2 Máx.........................................................................................................113 10.3.1 Teste de campo (Cooper 12 minutos)......................................................................113 10.3.2 Teste de laboratório – teste submáximo de Bruce para esteira, 1992....................113 10.4 Teste de 1 RM................................................................................................................114 10.5 Teste de 40m e 60m......................................................................................................114 10.6 Teste de Cooper............................................................................................................114 10.7 Teste de Conconi...........................................................................................................115 10.8 Teste de 300m...............................................................................................................116 REFERÊNCIAS.......................................................................................................................... 117 1 INTRODUÇÃO O treinamento é a base do sucesso, seja ele desportivo ou estético. Entretanto, as várias linhas de planejamento se divergem, e muitas vezes, concepções errôneas expõem o atleta a risco de lesão, over training ou insucesso. No mesmo sentido, em praticantes de atividade física ocorre desânimo pela falta de resultados aparentes. Devido a esse fato, há necessidade do conhecimento amplo dos principais métodos de planificação de treino. Um dos processos de montagem de treino mais popular é, sem dúvida, a periodização do treinamento. Um treinamento eficaz deve ser baseado em alguns princípios do treinamento desportivo, como os princípios da individualidade biológica, da adaptação, da especificidade, da sobrecarga, da interdependência volume versus intensidade, da continuidade e da periodização. Assim como, também deve se basear nos períodos do treinamento, onde o dividimos em fases, que se subdividem em médios e pequenos ciclos. Na periodização é onde se traçam objetivos e métodos de treinamento diferenciados e específicos para cada fase do treinamento, independente do objetivo individual de cada atleta. No capítulo 1 será abordada a temática das concepções modernas do treinamento esportivo e forma de adaptações. No capítulo 2 falaremos dos princípios científicos do treinamento desportivo. No capítulo 3 faremos uma breve análise sobre periodização no treinamento desportivo, suas implicações, formas estruturais, tipos de periodização, montagem de periodização descritiva e gráfica, ciclos de treinamento e caracterização dos ciclos numa periodização. No capítulo 4 está o estudo das capacidades físicas, classificação da coordenação, tipos de flexibilidade, fatores que influenciam na flexibilidade, resistência aeróbia e anaeróbia, modelos e métodos de treinamento de resistência. As análises contidas nesta obra viabilizam o conhecimento de como devemos empregar métodos, avaliar e monitorar o treinamento físico das várias modalidades esportivas, porque este estudo agrega conceitos atualizados de autores apropriados e experiências esportivas dos escritores. Desse modo, o produto dessas vivências facilitou na elaboração deste livro e quem vai se apropriar dela não poderá dizer que não há possibilidade de aplicação dos conteúdos nele disponível. Nesse sentido, estudos acerca da preparação física baseado nas concepções modernas do treinamento esportivo no mundo, vêm enriquecer o Curso de Educação Física e acadêmicos de nosso Estado, auxiliado pelas experiências dos professores Rildo F. Pinheiro e Márcio Soares. 2 CAPÍTULO 1 1 CONCEPÇÃO MODERNA DO TREINAMENTO DESPORTIVO O treinamento desportivo apresentou através do tempo, evolução sempre correlacionada com a história e realização dos Jogos Olímpicos. Esta conexão se sustenta no fato de serem estes eventos, uma excelente vitrine de evidência e propaganda de sucessos ou fracassos, de métodos, novas tecnologias, pesquisas ou filosofia de treinamento, sendo assim conhecida pela mídia e por treinadores (PEREIRA DA COSTA, 1972). Desse modo, os processos abordados neste capítulo irão determinar os rumos dos conteúdos que poderão ser usados ou não em programas de treinamentos por professores e treinadores, reconhecendo que a ciência auxilia cada parte do cotidiano esportivo, desvinculando- se do empirismo e apresentando resultados frutos da produção do conhecimento científico e tecnológico. O desporto oferece um campo desafiador porque encoraja atletas a severas horas de treino diário. Um sistema esportivo é um conjunto metodologicamente organizado de idéias, teorias e hipóteses, que envolve a experiência acumulada e os resultados das pesquisas aplicadas, não devendo ser importado. É preciso levar em consideração a experiência sociocultural do país onde ele está implantado. Portanto, em primeiro lugar, deve-se elaborar um sistema esportivo nacional que deva definir metas, se estruturar, conjugando seqüência lógica em todos os escalões e unidades. A Educação Física e a organização do país têm que levar em consideração programas esportivos escolares e de recreação em clubes, confederações esportivas e programas esportivos voltados para o alto rendimento (tabela 01). 3 TABELA 01. Modelo de sistema esportivo nacional potencial Nível Organização e unidade de competição Objetivos Alto rendimento Obtenção de alto desempenho e recordes Bom desempenho atlético Manter alto nível de preparação e promoção de atletas ao êxito Base para o aperfeiçoamento atlético Treinar em conjunto com as necessidades de alto rendimento; simulações para o alto rendimento Recreacional Desenvolve habilidades e capacidades biomotroras Fonte: Bompa, 2001. 1.1 O Treinamento como processo de adaptação Numa perspectiva inspirada na biologia esportiva e na fisiologia da performance1 humana vale-se dizer, que este aspecto deve estar em primeiro plano. O treinamento é em termos gerais, um esforço permanente de adaptação às cargas de trabalho (figura 01). Os estímulos de treinamento, como perturbações da homeostase2, são causas de modificações adaptativas dos sistemas participantes. Por isso, na biologia, entende-se adaptação como uma reorganização orgânica e funcional do organismo, frente a exigências internas e externas. As adaptações são reversíveis e precisam constantemente avaliadas (WEINECK, 2000). Figura 01. Hipótese da reorganização biológica e funcional do organismo sob influência do treinamento físico. 1 Zakharov (1992), a descreve como forma física e retrata a correlação ótima de todos os aspectos da preparação do desportista, levando e conta os aspectos físicos e psicológicos. 2 É a manutenção do estado bioquímico do meio interno do organismo; estado de equilíbrio. Equipesnacionais Participação em competições nacionais importantes Indivíduos e equipes de menores e juvenis que pertençam a clubes e escolas de forma organizada Pessoas que participam de estruturas que não objetivam o alto rendimento Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce 4 A forma orgânica determina a função e a função por sua vez, desenvolve forma e especializa o órgão. Sem esta estrutura funcional de efeito, não seria possível ao organismo humano adaptar-se a variadas necessidades que lhe impõe o meio ambiente. O princípio das exigências de funcionamento perfeito dos órgãos, sistemas orgânicos ou do organismo inteiro, representa o pressuposto essencial para a eficácia do desempenho e assume um papel central no campo esportivo. Por isso assume-se, que adaptações biológicas apresentam-se como mudanças funcionais e estruturais em quase todos os sistemas. Adaptações biológicas abrangem sistemas neuromusculares e centro-nervosos, assim como outros tecidos, elementos celulares e subcelulares, capazes de se adaptarem. As adaptações biológicas no esporte precedem de processos de aprendizagem, que assegura o domínio das seqüências do movimento, que sua vez influencia na capacidade de desempenho do organismo. Isto posto, nos levar a crer que um treinamento causa, adaptações energético- metabólicas, e que por falta de exercícios são logo anuladas (WEINECK, 2000). A informação genética (genótipo) manifesta-se no fenótipo, que é a forma de manifestação externa, onde apenas uma parte das características possíveis consegue realmente formar-se, sob a influência de fatores do meio ambiente (figura 02). Fenótipo Genótipo Meio ambiente Figura 02. Representação esquemática da relação organismo e meio ambiente. Fonte: Weineck, 2000. No esporte raramente o genótipo é completamente transformado em fenótipo, mesmo com um treinamento mais duro. A influência da orientação, por exemplo, treino de resistência, força ou velocidade, juntamente com o processo de desenvolvimento e manutenção em fases críticas de diferenciação (período sensitivo), possivelmente até a puberdade, determina o tipo de reação do organismo adulto. Período de maior adaptabilidade encontra-se em diferentes fases para os fatores de desempenho de coordenação e flexibilidade. A Zona Limite do período sensitivo, isto é, o período em que justamente ainda é possível uma melhor expressão das características, geralmente é chamado de “Período Crítico”. Se Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce 5 deixarmos esta fase ótima de adaptação inutilmente, a expressão genética, isto é, a realização do potencial genético não encontrará a sua melhor forma de expressão (ZAKHAROV, 1992). 1.2 Adaptação ao treinamento Com o objetivo de entendermos a adaptação do organismo ao treinamento desportivo, é importante uma abordagem profunda em relação ao corpo do atleta. O aumento na performance e estímulos direcionados ao desenvolvimento das habilidades motoras são reflexos dessa adaptação. Está estabelecido que o treinamento regular seja determinante para melhoria do desempenho. Mas, como o treinamento melhora a performance e quais os elementos essenciais à essa adaptação? O exercício físico produz diferentes tipos de estímulos, incluindo hormonal, metabólico, bioquímico e estímulo mecânico. Para um organismo sobreviver, as células tem que responder às mudanças no meio ambiente de uma maneira que mantenha a homeostase. 1.3 Homeostase e atividade física Homeóstase pode ser definida como o equilíbrio interno do corpo, que é mantido apesar de mudanças no ambiente externo. Os principais sistemas responsáveis pela manutenção da homeostase são os sistemas nervosos e endócrinos. Os estresses do exercício causam mudanças no ambiente interno e as respostas fisiológicas subseqüentes tentam recuperar o equilíbrio do ambiente interno (BARBANTI, 2003). A homeostase, contudo, não é uma condição constante. Existe um equilíbrio dinâmico nas funções corporais para manter a homeostase. Como exemplo, podemos citar a pressão arterial e freqüência cardíaca, que sofrem pequenas variações durante as horas do dia. Através de evidências científicas, o treinamento tem se constituído em uma forma de alterar a homeostase, induzindo a adaptações capazes de prevenir e contribuir para a melhoria do desempenho desportivo. Neste caso, o princípio da adaptação é fundamental no estudo do treinamento desportivo, permitindo o entendimento da aplicação de stress (estímulos) e melhoria na condição física do indivíduo. O treinamento é benéfico quando induz o organismo a adaptar-se ao estresse provocado pelo esforço. Se o estresse não é suficiente, então a adaptação não ocorre. Por outro lado, se o estresse é muito forte, podem ocorrer lesões ou supertreinamento. Portanto, torna-se evidente a necessidade da análise do indivíduo quanto a sua tolerância a determinada sobrecarga. As adaptações ao organismo humano são influenciadas por fatores exógenos e endógenos (BOMPA, 2002). Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce 6 1.4 Estado estável O estado estável no treinamento desportivo é definido como uma condição em que certas funções corporais atingem uma constância dinâmica em um novo nível. Quando um indivíduo passa do estado de repouso para o exercício de baixa intensidade, ocorrem várias alterações fisiológicas, entre elas o aumento do consumo de oxigênio. Considerando a manutenção da intensidade do exercício constante, o organismo atingirá um consumo de oxigênio relativamente uniforme, porém, acima do consumo de oxigênio observado durante o repouso. Durante exercícios contínuos prolongados, a capacidade da manutenção de um estado estável para uma determinada intensidade de exercício vai ser determinante para o tempo total no qual o indivíduo poderá se exercitar (Robert & Robergs, 2002). QUADRO 01. Correlação de parâmetros fisiológicos entre homeóstase e steady-state3 HOMEOSTASE STEADY – STATE Freqüência cardíaca 70 bpm 120 bpm Temperatura 370 C (360 C interna) 37.50 C Pressão sangüínea 120 X 80 mmHg 140 - 150 X 80 mmHg Glicemia 60 - 110 mg / dl 60 - 110 mg / dl VO2 0.3 l / min 2.0 - 2.5 l / min Lactato 0.3 - 1 mmol / l 2.5 - 4 mmol / l Ventilação 4-5 mov / min 15 mov / min Fonte: vetorialnet.com, 2009. 1.5 Adaptações biológicas e esportivas gerais para o desempenho esportivo por meio do treinamento. A capacidade do desempenho esportivo é resultado de uma determinada sequência de movimentos, observando-se a qualidade (aspecto coordenativo) e a quantidade (aspecto energético) que são aprimorados através de estímulos específicos do treinamento. Bompa (2002) afirma que “adaptação ao treinamento é a soma das transformações estruturais e fisiológicas em virtude da repetição sistemática de exercícios, que resultam de uma exigência específica que os atletas impõem aos seus organismos, dependendo do volume, da intensidade e da freqüência do treinamento”.3 Estado estável; estado de equilíbrio nos diferentes parâmetros fisiológicos. Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce 7 Além das alterações relativas nos níveis morfológicos e funcionais, modificações neuromusculares, alterações bioquímicas e psicológicas também estão presentes no treinamento desportivo. No treinamento de força, por exemplo, a hipertrofia é caracterizada pelo aumento da secção transversa do músculo (aspecto morfológico), aumento da capacidade de gerar força (aspecto funcional) e aumento da capacidade de síntese protéica (aspecto bioquímico). O aumento da força em indivíduos jovens, nos quais ainda não há produção de hormônios na fase da puberdade, ocorre pela estimulação neural (aspecto neuromuscular), assim como no início da fase de um treinamento de força para adultos. A melhoria na forma e função muscular no treinamento de força induz aumento na auto-estima do indivíduo, caracterizando influência no aspecto psicológico. Há uma reação adaptativa característica nos sistemas neuromusculares (coordenação) e energéticos (condicionamento) de acordo com o tipo de desempenho esportivo motor. Desta maneira, o aprimoramento coordenativo desenvolve-se mais rápido que o condicionamento. Esse aspecto é mais visível em crianças e jovens. Exemplificando, podemos citar a fase de adaptação anatômica, onde ocorre adaptação neuromuscular e, posteriormente o aumento da carga na periodização do treinamento de força. Existe uma relação próxima entre fenômenos de adaptação morfológicos e funcionais, uma vez que estrutura e função condicionam-se reciprocamente (WEINECK, 2005). 1.6 Adaptações cardiovasculares e respiratórias ao treinamento O sistema cardiovascular inclui o coração, vasos sanguíneos e o sangue, possuindo a função de atingir as células do organismo, sendo capaz de responder imediatamente a qualquer alteração na homeostase, como as alterações decorridas do exercício físico, caracterizadas por demandas maiores e mais urgentes no sistema cardiovascular. As demandas energéticas para exercitar o músculo humano podem aumentar substancialmente na transição do repouso para o esforço físico máximo. A produção de energia depende diretamente dos sistemas respiratório e cardiovascular para o suprimento de oxigênio e nutrientes e para a remoção dos resíduos metabólicos, fato importante para rendimento no desporto. Entre os mecanismos hemodinâmicos importantes para atender as maiores demandas características do treinamento desportivo podemos citar: •Tamanho do coração, Freqüência Cardíaca (FC), Volume Sistólico de Ejeção (VSE), Débito Cardíaco (DC), Fluxo Sanguíneo, Pressão Arterial (PA). Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce 8 1.6.1 Tamanho do coração Em consequência do aumento da demanda de trabalho, a massa e o volume do coração aumentam com o treinamento. A hipertrofia cardíaca induzida pelo treinamento, conhecida como “coração de atleta” podia ser confundida com um fenômeno patológico, como ocorre na hipertensão. A hipertrofia cardíaca induzida pelo exercício é atualmente reconhecida como uma adaptação crônica normal em treinamento de exercícios de longa duração. Em contraste, no treinamento resistido, ocorre um aumento da massa do ventrículo esquerdo, devido à maior contração muscular em função da necessidade de vencer a alta pressão sanguínea durante o treinamento resistido. Em conseqüência, a parede muscular do ventrículo torna-se mais espessa se comparada à espessura da parede do ventrículo inerente ao treinamento aeróbio. Em contrapartida, o volume do ventrículo é maior quando submetido a exercícios aeróbios (WILMORE & COSTILL, 2001). 1.6.2 Frequência Cardíaca (FC) Aumenta em função a intensidade do exercício e consumo de oxigênio, está sujeita à influência da temperatura e medicamentos. Em indivíduos treinados observa-se uma diminuição da frequência cardíaca (FC) repouso quando comparada a FC antes do início do treinamento. 1.6.3 Volume Sistólico de Ejeção (VSE) Volume de sangue ejetado do ventrículo por batimento cardíaco. O volume sistólico de ejeção aumenta em função do aumento da intensidade do exercício, considerando um maior aporte de sangue (oxigênio). Aumenta mais em exercícios aeróbios que em exercícios treinamento em intensidades máximas e submáximas, como em sprinters e no treinamento resistido. 1.6.4 Débito Cardíaco (DC) É o produto do VSE pela FC. Em adultos sadios, o DC aumenta linearmente com um maior ritmo de trabalho, variando de aproximadamente 5l/minuto em repouso podendo atingir cerca de 20l/minuto. O aumento do DC ocorre em um primeiro momento pelo aumento da FC e VSE, em seguida, aumenta em função da FC. 9 1.6.5 Fluxo Sanguíneo Em repouso, 15 a 20% do DC são distribuídos aos músculos esqueléticos; o restante vai para os órgãos viscerais, o coração e o cérebro. Porém, durante o exercício, até 85 a 90% do DC são enviados para os músculos metabolicamente ativados (ROWELL, apud ACSM, 2003). Figura 03. Distribuição do sangue durante repouso e exercício. Fonte: Robert & Robergs, 2002. 1.6.6 Retorno do sangue ao coração Além do auxílio das válvulas para o retorno do sangue ao coração, o nosso organismo possui um mecanismo conhecido como “bomba muscular”. Quando ocorre a contração dos músculos esqueléticos dos membros inferiores, as veias das áreas onde os músculos estão se contraindo são comprimidas, facilitando o retorno do sangue venoso. Por exemplo, após um treino ou competição de atletismo, é importante que o indivíduo continue correndo em uma velocidade mais lente ou mesmo caminhando, fato que provocará a contração dos músculos gastrocnêmio e sóleo, caracterizando a “bomba muscular”. 10 1.6.7 Pressão Arterial (PA) A Pressão Arterial Sistólica (PAS) aumenta de acordo com maiores níveis de exercício. Esse aumento é resultante do DC, que acompanha o aumento da taxa de trabalho. A Pressão Arterial Diastólica (PAD) é pouco alterada, permanecendo no mesmo valor de repouso ou apresentando uma leve diminuição. Como adaptação crônica ao treinamento, existe uma tendência na diminuição da PA, principalmente em exercícios aeróbios. A respiração pulmonar, também denominada respiração externa, se refere à ventilação (respiração) e a troca de gases (O2 e CO2) nos pulmões. A respiração celular (respiração interna) se refere à utilização de O2 e à produção de CO2 pelos tecidos (células). Os objetivos da respiração são prover oxigênio aos tecidos e remover o dióxido de carbono, através da interação entre ambiente externo e o corpo. A fim de alcançar tais objetivos, a respiração pode ser dividida em quatro funções principais: •Ventilação pulmonar - que significa o influxo e o efluxo de ar entre a atmosfera e os alvéolos pulmonares; •Difusão pulmonar- troca de oxigênio e dióxido de carbono entre os alvéolos e o sangue; •Transporte de oxigênio e dióxido de carbono no sangue e líquidos corporais; •Troca gasosa capilar – troca de oxigênio e dióxido de carbono entre o sangue capilar e os tecidos metabolicamente ativos e suas trocas com as células de todos os tecidos do corpo. A ventilação pulmonar em repouso está numa média de dez a doze movimentos respiratórios por minuto, a ventilação no exercício varia de acordo com a intensidade. A taxa respiratória pode aumentar cinco a seis vezes durante um exercício máximo, com 50 a 60 ciclos respiratórios por minuto. Nesse contexto, os músculos intercostais internos e externos, principalmente,têm uma participação intensiva, o que pode causar dores subsequentes aos exercícios intensos (MAUGHAN; GLEESON; GREENHAFF, 2000). A ventilação através das vias aéreas pode ser obtida por meio da inspiração através das narinas, com fluxo de ar suficiente quando em repouso ou em exercícios de intensidade leve à moderada. Com o aumento da intensidade, a cavidade nasal torna-se limitada na capacidade de criar um fluxo de ar adequado. O diâmetro relativamente pequeno das narinas aumenta a resistência ao ar. Com essa limitação, o indivíduo poderá fazer uso da cavidade oral para a compensação, objetivando uma maior ventilação. Em um indivíduo que passa respirar de forma oro - nasal, a entrada de ar pelo nariz pode contribuir com 40 a 60% do total de fluxo de ar existente. Desta maneira ocorre maior participação da cavidade oral no processo da ventilação. A produção de CO2 tem comportamento similar ao do lactato, ou seja, tem aumento linear e progressivo, até certo ponto quando então perde essa condição de linearidade e passa a Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce 11 ter um aumento mais acentuado. Essa produção de CO2 tem relação de causa e efeito (que não está bem estabelecida) para com o ácido lático, ou seja, quando existe aumento acentuado da produção de ácido lático os níveis do pH sanguíneo são alterados produzindo acidose metabólica. Com as taxas de produção de ácido lático excedendo as taxas de remoção, o tamponamento do ácido lático (pelo nitrato de sódio) torna-se necessário para a manutenção da homeostase. Mediante essa condição os mecanismos de homeostase tentam tamponar (equilibrar) essa acidez metabólica promovendo hiperventilação como forma de eliminar o CO2 que foi produzido, para que as condições orgânicas voltem ao normal. Verificou-se que o comportamento da produção de CO2 é igual ao comportamento do ácido láctico, e o que mais chama a atenção é que o aumento mais acentuado desses dois elementos ocorre na mesma carga, no mesmo VO2 e com o mesmo nível de FC, é o que justifica muitos autores utilizarem do Limiar Ventilatório com prognóstico para determinação do Limiar de Lactato ou Limiar Anaeróbio. A ventilação pulmonar (Ve) aproxima-se de 6 l/min em repouso, podendo atingir patamares 15 a 20 vezes acima dos valores de repouso. Aumenta de acordo com o O2 consumido e CO2 produzido, com exceção do momento em que ocorre a hiperventilação, condição característica de intensidade alta, como no limiar anaeróbio. Nessa situação o seu aumento é desproporcional ao aumento do ácido lático. Isso sugere que a Ventilação Pulmonar (Ve) é regulada mais pela necessidade de remoção do dióxido de carbono do que pelo consumo de oxigênio e que a ventilação normalmente não constitui um fator limitante para a capacidade aeróbia (POWERS; HOWLEY, 2003). 1.7 Respostas musculares ao treinamento Os músculos possuem alta capacidade de adaptação, manifestados pelas mudanças induzidas pelo exercício. Essas adaptações ocorrem a nível celular, tendo as células que responder às mudanças no meio ambiente de uma maneira que mantenha a homeostase. O exercício físico provoca diferentes tipos de estímulos, incluindo hormonal, metabólico, bioquímico e estímulo mecânico. A célula sob a ação de estímulos, responde através de seus componentes e organelas, adaptando-se nos diversos níveis. O sistema circulatório representa o sistema auxiliar que supre a célula com substratos necessários e oxigênio, sendo também responsável pelo transporte de produtos indesejáveis do metabolismo celular até a excreção (WEINECK, 2000). Entre os componentes celulares mais marcantes no processo adaptativo destaca-se o citoplasma, local de obtenção de energia através de processos anaeróbios (glicólise), da síntese do glicogênio (reserva intracelular) e degradação do glicogênio e ácidos graxos. Nas mitocôndrias Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce 12 ocorre a degradação oxidativa dos substratos para a obtenção de energia, sendo considerada a “casa de força” celular, tendo seu número e tamanho aumentados com o treinamento, especialmente em exercícios aeróbios (POWERS; HOWLEY, 2003). O núcleo celular possui o material genético e é responsável pela síntese de proteína. Os nossos genes são programados para uma vida ativa como os nossos antepassados viviam, caçando e escapando de predadores, mas, não para uma vida sedentária, resultado da fixação do homem a terra e da modernização. Nos dias atuais, as alterações induzidas pelo exercício em relação à síntese e degradação protéica são importantes no processo de adaptação fisiológica no sentido de lidar com agentes estressores. Existe um mecanismo intracelular que permite a interação entre a função celular no exercício e o mecanismo genético celular. Através desse mecanismo, um intenso funcionamento da estrutura celular aumenta a síntese de proteína, especialmente as relacionadas às manifestações funcionais como a contração muscular. Como resultado, as estruturas celulares envolvidas aumentam e as ações enzimáticas aumentam devido ao aumento do número de enzimas (VIRU, 2001). Em decorrência do treinamento, a influência hormonal parece ser maior para o aumento da taxa da síntese protéica se comparada às taxas de repouso. O exercício físico causa significantes mudanças no sistema endócrino, sendo o metabolismo protéico influenciado fortemente pelo fator hormonal. Muitos estudos relacionam um aumento da taxa de síntese protéica nos músculos durante o processo de hipertrofia (WILMORE & COSTILL, 2001). Os músculos são compostos de células (fibras musculares). Cada fibra muscular individual é um cilindro fino e alongado que possui o comprimento do músculo. A membrana celular que envolve a célula muscular é denominada sarcolema. Abaixo do sarcolema encontra-se o sarcoplasma (também denominado citoplasma), o qual contém proteínas celulares, organelas e miofibrilas. As miofibrilas são numerosas estruturas fusiformes que contêm as proteínas contráteis. Em geral, as miofibrilas são compostas por dois importantes filamentos protéicos filamentos espessos formados pela proteína miosina e filamentos finos compostos pela proteína actina. O arranjo desses filamentos protéicos confere aspecto estriado ao músculo esquelético. Localizadas na própria molécula de actina existe duas outras proteínas, a troponina e a tropomiosina. Elas representam uma pequena parte do músculo, mas, possuem importante papel na regulação do processo contrátil. Cada músculo contém uma combinação de diferentes tipos de fibras, classificadas como fibras de contração rápida ou lenta. Os tipos de fibras são importantes na área do metabolismo muscular e consumo de energia, tornando-se um fator determinante no desempenho esportivo Ligeane Leal Realce 13 quando relacionado às características do evento selecionado. Existem diferenças mecânicas na resposta das fibras musculares de contração lenta e rápida que justificam o nome de cada tipo. Fibras de contração lenta – As fibras musculares oxidativas de contração lenta ou Tipo I são encontradas em maiores quantidades nos músculos posturais do corpo, como os músculos da parte superior das costas. As fibras são vermelhas devido ao alto conteúdo de mioglobina no músculo. Essas fibras são adequadas para trabalhos prolongados de baixa intensidade. Fibras de contração rápida e intermediária - As fibras de contração rápida ou Tipo II são subdivididos em Tipo IIA, oxidativas-glicolíticas, e Tipo IIX, glicolíticas. O Tipo IIA é um músculo vermelho (ou rosa) conhecido como fibra de contração rápida intermediária porque pode sustentaratividade por longos períodos ou pode contrair-se com um disparo de força e fadigar-se. De acordo com o treinamento a qual esse tipo de fibra é submetido, poderá ocorrer uma adaptação do tipo de fibra, porém, um determinado tipo de fibra não se “transforma” em outro tipo de fibra. A fibra branca, Tipo IIX, proporciona rápida produção de força e fadiga-se rapidamente. Os corredores de velocidade e saltadores geralmente têm maiores concentração de fibras de contração rápida. A maioria dos músculos, se não todos, contém os dois tipos de fibras. Um exemplo é o vasto lateral, que possui tipicamente metade de suas fibras rápidas, e metade lenta. O tipo de fibra influi em como o músculo será treinado e desenvolvido, assim como quais técnicas serão adequadas para indivíduos com tipos de fibras específicos (KOMI, 1984, apud POWERS & HOWLEY, 2003). QUADRO 02. Caracterização e tipo das fibras musculares Fonte: Powers & Howley, 2003. Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce 14 1.8 BIOENERGÉTICA Os sistemas energéticos dizem respeito à produção de energia através do ATP, a partir de diferentes substratos energéticos e estão relacionados com a intensidade e duração do exercício (gráfico 01). Cada um dos processos metabólicos que serve de fonte energética para o trabalho muscular dispõe de características cinéticas próprias e diferencia-se pela especificidade peculiar da velocidade das correntes metabólicas e da reserva dos substratos utilizados. Portanto, o tipo de treinamento a ser realizado deverá considerar as fontes energéticas existentes, visando o aporte de energia necessário ao desporto bem como a restauração dos níveis de reservas dos diversos substratos energéticos. Existem três métodos pelos quais a ATP é produzida nas células: Sistema ATP-CP, Sistema Glicolítico e Sistema Oxidativo. Os primeiros dois mecanismos – ATP-CP e glicolítico, funcionam segundo o sistema aneróbio, o terceiro (de oxidação) pelo aeróbio. Nesses mecanismos são usados vários substratos energéticos para ressíntese do adenosinatrifosfato. Gráfico 01. Participação dos sistemas energéticos em função do tempo. Fonte: Viru, 2001. 1.8.1 Sistema ATP-CP Também conhecido como sistema anaeróbio alático, é considerado como o sistema energético mais simples. Além da ATP, as células possuem outra molécula de fosfato que armazena energia. Essa molécula é denominada creatina fosfato ou CP (também chamada fosfocreatina). Ao contrário da ATP, a energia liberada pela degradação da creatina fosfato não é Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce 15 utilizada diretamente para a realização do trabalho celular. Em razão disso, ela forma ATP para manter um suprimento relativamente constante. A energia produzida pela molécula de ATP não pode ser transferida de um tecido para o outro, como a própria molécula também não pode ser transportada pela corrente sanguínea. Como as reservas intracelulares de ATP são muito reduzidas, o funcionamento da célula, mesmo durante um curto espaço de tempo, exige a existência de mecanismos biológicos de repontecialização das moléculas de ATP no próprio local onde serão utilizadas. Nesse sistema, quando a energia é liberada da ATP por meio da separação de um grupo fosfato, as células podem impedir a depleção de ATP através da redução da creatina fosfato, fornecendo a energia para a formação de mais ATP. Esse processo é rápido e pode ser obtido sem qualquer estrutura especial no interior da célula. Esse processo não exige oxigênio, por essa razão considera-se o ATP-CP como sendo anaeróbio (VERKHOSHANSKI, 2001). Já que os músculos podem armazenar apenas uma pequena quantidade de ATP, a depleção energética ocorre rapidamente em uma atividade vigorosa. Como o CP é armazenado em quantidades limitadas na célula muscular, esse sistema pode suprir as demandas energéticas por somente 8 a 10 segundos. Essa é a fonte principal de energia para atividades extremamente rápidas e explosivas, como os 100m rasos, saltos e arremessos no atletismo e salto sobre o cavalo (BOMPA, 2002). Por meio da restauração de fosfagênios, o organismo recupera os estoques de energia em níveis iguais aos da condição pré-exercício. Com a utilização de meios bioquímicos, o organismo tenta retornar ao equilíbrio fisiológico (homeostase) quando se encontra na mais alta eficiência. A restauração dos fosfagênios ocorre rapidamente, em 30 segundos, atinge 70% de seu nível normal e, em 3 a 5 minutos, está totalmente recuperada (100%). Em comparação com outros mecanismos, o creatinafosfato possui maior potência, pois supera em três vezes mais a potência máxima do mecanismo glicolítico e em 4-6 vezes a do mecanismo de oxidação. O mais rápido padrão de ressíntese de ATP é o mecanismo de fosfocreatina, e o mais lento é o de fosforilação oxidativa. 1.8.2 Sistema glicolítico Outro meio de produção de ATP envolve a liberação de energia através da degradação da glicose. Esse sistema é denominado sistema glicolítico por envolver a glicólise, que é a degradação da glicose por meio de enzimas glicolíticas especiais. A glicose representa aproximadamente 99% de todos os açúcares circulantes no sangue. A glicose sanguínea é originária da digestão de carboidratos e da degradação do glicogênio hepático. O glicogênio é sintetizado a partir da glicose por meio de um processo denominado Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce 16 glicogênese. O glicogênio é armazenado no fígado ou no músculo até que seja solicitado. Nesse momento, o glicogênio é quebrado em glicose através do processo da glicogenólise. A glicólise, em última instância, produz ácido pirúvico (piruvato). Esse processo não exige oxigênio, mas o uso deste determina o destino do ácido pirúvico formado pela glicólise. O ácido pirúvico pode ser oxidado, transformado em lactato ou usado para a ressíntese de glicogênio. Nesse estudo, contudo, quando nos referirmos ao sistema glicolítico, abordaremos o processo de glicólise anaeróbia, sem a necessidade de oxigênio. Nesse caso, o ácido pirúvico é convertido em lactato. Esse sistema energético não produz grandes quantidades de ATP. Apesar dessa limitação, as ações combinadas entre dos sistemas glicolítico e ATP-CP permite que os músculos gerem força mesmo quando o suprimento de oxigênio é limitado. Esses dois sistemas predominam durante os minutos iniciais do exercício de alta intensidade. Outra limitação importante da glicólise anaeróbia é que ela causa um acúmulo de lactato nos músculos e nos líquidos corporais. Contudo, a remoção do nível de lactato dos músculos e do da corrente sanguínea ocorre até 2 horas após o exercício, sendo mais efetiva ser for realizando exercícios em baixa intensidade no processo de volta ao estado de repouso. Nos eventos de explosão máxima durando um a dois minutos, o sistema glicolítico é altamente solicitado e as concentrações de lactato podem aumentar de um valor de repouso de cerca de 1mmol/kg de músculo para mais de 25mmol/kg. Essa acidificação das fibras musculares inibe ainda mais a degradação do glicogênio, uma vez que ela compromete a função da enzima glicolítica (BOMPA, 2002). Uma explicação possível para essa limitação é que a concentração intracelular de íons de hidrogênio aumenta (o pH cai), resultando em um acúmulo de ácido lático no músculo, inibindo a atuação da enzima fosfofrutocnase e diminuindo o ritmo (velocidade) das reações na via da glicose anaeróbia. Este processo diminuirá a velocidade da glicólise e a quantidade da energia a ser criada (ATP)em uma unidade de tempo. Por isso, o volume da fonte glicolítica não é limitado pelo teor dos respectivos substratos, mas, sim, pela concentração de lactato (SAHLIN, 1878, apud POWERS & HOWLEY, 2000). Hultman e Sjholhm (1983) apud Viru (2001) mostraram que a taxa da glicogenólise alcança o máximo entre 40 e 50 segundos, quando o músculo é submetido a um esforço de alta intensidade muscular. Desta maneira, um teste para a avaliação do sistema glicolítico deve durar de 20 a 50 segundos. 1.8.3 Sistema oxidativo É o terceiro sistema energético. O sistema final de produção de energia é o sistema oxidativo. Esse é o mais complexo dentre os três sistemas energéticos. As reações químicas do Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce Ligeane Leal Realce 17 sistema oxidativo ocorrem nas mitocôndrias e constitui-se de diversas reações químicas. O processo através do qual o organismo separa substratos com o auxilio do oxigênio para gerar energia é denominado respiração celular. Como o oxigênio é empregado, trata-se de um processo aeróbio. A produção oxidativa de ATP ocorre no interior das organelas celulares especiais: as mitocôndrias. Os músculos necessitam de um suprimento constante de energia para produzir continuamente a força necessária durante a atividade de longa duração. Ao contrário da produção anaeróbia de ATP, o sistema oxidativo possui uma enorme capacidade de produção de energia e, por essa razão, o metabolismo aeróbio é o principal método de produção de energia durante os eventos de longa duração (resistência aeróbia). Esse processo impõe considerável demanda sobre a capacidade do organismo de liberar oxigênio aos músculos ativos. É importante enfatizar que a interação das vias metabólicas aeróbias e anaeróbias na produção de ATP durante o exercício. Embora seja comum definir exercício aeróbio e anaeróbio, na realidade, a energia para realizar a maioria dos tipos de exercício é originária de uma combinação de fontes anaeróbias e aeróbias. A contribuição da produção anaeróbia é maior em atividades de curta e alta intensidade, enquanto o metabolismo aeróbio predomina em atividades mais longas. Por exemplo, aproximadamente 90% da energia para realizar uma corrida de 100 metros, devem ser originários de fontes anaeróbias, com maior parte vinda do sistema ATP-CP. Similarmente, a energia para correr 400 m, com duração de, em média 55 segundos, é, em grande parte anaeróbia (70 a 75%). No entanto, os estoques de ATP e de creatina fosfato são limitados e, por isso, a glicólise deve suprir boa parte dos ATPs nesse tipo de evento (SPRIET, 1988, apud POWERS & HOWLEY, 2003). Gráfico 02. Contribuição dos sistemas aeróbios e anaeróbios em função do tempo de exercício. Fonte: Wilmore & Costill, 2001. 18 1.9 Particularidades etárias no desenvolvimento das capacidades motoras e suas adaptações Numerosas pesquisas de ontogênese permitiram descobrir determinadas heterossincronia na formação de diferentes órgãos e sistemas do organismo, característica de diversos períodos etários. As particularidades etárias do amadurecimento de diferentes sistemas funcionais refletem-se na eficiência do ensino da técnica das ações motoras e no aperfeiçoamento das capacidades físicas. A prática pedagógica mostrou, faz muito tempo, que o efeito do ensino, além de outros fatores, depende da idade dos alunos. Na infância é mais fácil ensinar a andar de bicicleta, nadar, executar exercícios de acrobacia do que na idade adulta (figura 04), pois justamente na idade infantil é que se desenvolvem ativamente as estruturas psicofisiológicas do organismo, que asseguram a revelação das capacidades de coordenação e, simultaneamente, ainda são pouco expressas reações de defesa relacionadas com o sentido do medo (ZAKHAROV, 1992). Figura 04. Uso das habilidades nos esporte. Fonte: O Globo, 2008. A dependência entre a idade e a eficiência do ensino se altera na medida da alternância na ontogênese dos períodos, que se distinguem pelo nível diferente de ensinabilidade, aceitação de influências de treino e de processamento da informação. O mesmo se vê também quanto ao aperfeiçoamento das capacidades motoras físicas (ver quadro 03). Ligeane Leal Realce 19 QUADRO 03. Períodos sensitíveis do desenvolvimento das capacidades físicas Capacidades Idade 7 8 8 9 9 10 10 11 11 12 12 13 13 14 14 15 15 16 16 17 Físicas Sexo H M H M H M H M H M H M H M H M H M H M Velocidade Força/Velocidade Força Coordenação Flexibilidade Resistência Fonte. Zakharov, 1992. Os períodos etários em que as influências específicas de treino no organismo humano provocam elevadas reações de resposta asseguram os ritmos consideráveis de crescimento da função em treinamento. Se, no processo de preparação de muitos anos do atleta, não se utilizam os períodos favoráveis para o aproveitamento e aperfeiçoamento das capacidades motoras, frequentemente é impossível recuperar o que se perdeu. Diversas capacidades motoras atingem o seu desenvolvimento máximo em diferentes idades, dependendo dos ritmos de amadurecimento dos sistemas funcionais que asseguram sua manifestação. É com este fator que se relacionam, em grande medida, a idade ótima para o início dos treinos, nesta ou naquela modalidade, e a orientação predominante dos efeitos de treinos, assim como os limites aproximados (orientadores) dos resultados superiores. 20 Segundo Campos (2000), a altura aumenta rapidamente durante os primeiros dois anos de vida. Do segundo ano em frente, o crescimento já é mais lento e progressivo, com um novo aumento na fase de pré-puberdade, seguido de um decréscimo até que a altura total é adquirida por volta dos dezoito anos para os meninos e dezesseis a dezoito para as meninas. O progresso manifesto (expresso) no aperfeiçoamento das capacidades de coordenação e flexibilidade está relacionado com a idade de 6 a 10 anos, entre as moças, e um ou dois anos mais tarde, entre os rapazes. O maior acréscimo de velocidade influenciado pelos treinos verifica-se na idade de 9 a 12 anos e, na idade de 13 a 15 anos, segundo algumas manifestações, atinge os níveis máximos. Neste período, a vantagem das crianças treinadas em relação às que não tiveram treinos é relativamente grande. Se, nesta idade, não for dedicada atenção ao aperfeiçoamento da velocidade, nos anos posteriores será difícil superar o atraso que surge. As capacidades de força dos jovens atletas estão intimamente ligadas ao crescimento dos tecidos ósseo e muscular, ao desenvolvimento do aparelho articulador de ligamento. O maior acréscimo da força de certos músculos ocorre no período entre 14 a 17 anos. Em geral força muscular e resistência ao trabalho dinâmico podem aumentar após os 25 anos, indo até 30 anos ou mais. A direção diferente das alterações das capacidades motoras, no período de amadurecimento sexual, constitui uma particularidade do desenvolvimento etário. As capacidades de força e velocidade e força, neste período, crescem intensamente, sendo que as capacidades de coordenação podem até diminuir. Isto se deve à reestruturação hormonal observada neste período, no organismo dos jovens (adolescência), a qual leva ao crescimento daexcitação e ao crescimento da mobilidade dos processos nervosos. Convém também ressaltar as mudanças anátomo-morfológicas que se efetuam no organismo neste período. O crescimento do comprimento do corpo e dos membros leva à alteração da estrutura biomecânica dos movimentos, exige novas coordenações, o que é acompanhado da deterioração da proporcionalidade e concordância dos movimentos. Assim, por exemplo, a diminuição da capacidade de salto, entre as moças de entre 15 e 17 anos, explica-se pelo fato de se suspender a rapidez dos movimentos, por um lado, e, por outro, de aumentar o peso, o que se deve essencialmente ao aumento da massa passiva (gordura), isto leva à diminuição de força nas moças (ZAKHAROV, 1992). 21 1.9.1 Formas de adaptação das capacidades físicas Os fenômenos de adaptação podem ser considerados sob vários aspectos. Conforme a forma de observação, diferenciamos diferentes tipos de adaptações, considerando aspectos das estruturas do corpo humano e da pedagogia do treinamento. Aspectos anatômicos e fisiológicos - Não é possível uma separação muito rígida destes aspectos, uma vez que estrutura e função condicionam-se reciprocamente. Segundo às alterações fisiológicas - Adaptações: biopositivas e bionegativas. Sob o aspecto tempo - Adaptação: Rápida e Lenta. Sob o aspecto da adaptação específica da atividade e específica da capacidade- diferenciamos em adaptação especial e adaptação geral. Sob o aspecto da sequência de adaptação - desadaptação – readaptação Segundo Gurtler (1982) apud Campos (2000), entende-se por desadaptação as involuções de processos estruturais e funcionais de adaptação, assim como a perda de estabilidade do sistema regulador, quando os estímulos não são mais efetuados. Se a desadaptação não for passiva através da suspensão eficaz dos estímulos, mas ativa, como é o caso em atletas com alto treino em resistência no final de sua carreira esportiva, por exemplo, então se fala no esporte, de um detraining4 ou destreinamento. Uma desadaptação deste tipo serve para evitar a chamada Síndrome Aguda de Descarga (SAG). É caracterizada por pontadas no coração, ou sensação de pressão na região do mediastino, distúrbios no ritmo cardíaco, inquietação, transpiração e apetite (DANTAS, 1998). 1.9.2 Fatores de influência no treinamento A adaptação do organismo humano ou de seus sistemas parciais nem sempre apresentam uniformidade de manifestação (figura 04). Elas são influenciadas por fatores exógenos (ex. alimentação, medicamentos, estresse) e endógenos (ex. idade, sexo). 4 Segundo Weineck, após o término do ciclo de treinamento de alto nível, ou seja, quando o atleta pára realmente de treinar, processos metabólicos e psicológicos surgem neste período. O corpo necessita passar por processos de involuções e desadaptações voltando à homeostase inicial. 22 Espectro dos fatores de influência Tipo de Carga Clima Estação do Ano Biorritmo Idade Recuperação Sexo Fatores Sociais Conteúdo do Treinamento Fatores Psicológicos Figura 05 – Principais fatores que influenciam os processos de adaptação. Fonte: Weineck, 2000. 1.9.3 Fatores endógenos Idade - O organismo humano impressiona pela grande capacidade de adaptação. Para as adaptações das capacidades físicas a fase da pré-puberdade representa o melhor período para o seu desenvolvimento. Porém, com o avanço da idade, diminui a capacidade de adaptação do organismo humano; em princípio, mantém-se até a idade avançada. O desenvolvimento do nível de adaptação (condição de treinamento) ocorre de forma muito rápida no início do treinamento e torna-se depois cada vez mais lento e difícil (gráfico 03). (a) (b) (c) Tempo Gráfico 03. Apresenta o aumento do nível de adaptação e desempenho através do tempo. Fonte: Weineck, 2000. As varáveis que impõem dificuldades no caminho seguido pelo treinamento são aquelas oriundas dos fatores que influenciam diretamente ou indiretamente o treinamento. Mas, o fator idade parece ser aquele que maior determina o declínio da performance. Processo de adaptação 23 Sexo - A capacidade de adaptação de certos sistemas do organismo depende do sexo. Deste, modo tomaremos como exemplo, a capacidade de adaptação, de treino da musculatura na mulher é menor, devido à menor quantidade de testosterona que no homem. Estímulos de treinamento, ou de sobrecarga, unilaterais, levam a uma “estagnação” precoce do progresso do desempenho. 1.9.4 Fatores exógenos Quantidade e Qualidade da Carga- Sequência correta de estímulos, observando os princípios científicos, intensidade, duração, volume e frequência do treinamento, decide a forma e a abrangência do Processo Adaptativo. Alimentação - Os processos de adaptação só são garantidos quando forem colocados pela alimentação, os elementos necessários para a formação em quantidade suficiente e qualidade necessária. A maioria das funções biológicas está sujeitas a evoluções rítmicas; como no relógio, podem-se diferenciar períodos de segundos, minutos, horas e ainda de dias, meses e anos (FARIA & ELLIOT, 1980 apud WEINECK, 2000). Diferenciamos entre oscilações rítmicas espontâneas (endógenas) e oscilações induzidas externas (exógenas). Além do ritmo sono-vigília, existem mais de cem outros parâmetros fisiológicos e bioquímicos que demonstram uma função rítmica. Por este motivo, um grande número de trabalhos mais atuais e científicos, discute diversos parâmetros psicofísicos com desenvolvimento cíclico, sua influência e manifestação sobre a capacidade de desempenho humano. Geralmente descrevem pesquisas no âmbito: Medidas fisiológico-bioquímicas – Temperatura corporal, frequência cardíaca, pressão sanguínea, hormônios e outros. Medidas Motoras - Forças, resistência, coordenação e reação. Medidas Psicológicas - Atenção, concentração, percepção e emoções. Estes estudos são realizados de forma isolada ou sobreposta na dinâmica temporal (em função do fator tempo). Para área esportiva, principalmente os ritmos de curva de curta duração (diário), de média duração (semanal/mensal) e de longa duração (anual), são os mais importantes. 24 1.9.5 Ritmo circadiano A este ritmo mantém uma dependência periódico-diária e estão relacionados com as capacidades psiconervosas e física do ser humano. Devido ao desenvolvimento ontogenético5, que é próprio de cada indivíduo, pode-se determinar muitas diferenças interindividuais.Assim, cada ser humano tem seu ritmo individual de desenvolvimento ou um sistema de ritmos sobrepostos que determinam sua capacidade de desempenho com abrangência diferenciada. O ritmo diário da temperatura corporal parte da simulação de um valor ideal, que se baseia em um período endógeno (temperatura corporal), que é sincronizado com a rotação da terra (hora da localidade). Nas alterações de horários através de um vôo internacional, o ritmo diário da temperatura se ajusta novamente à nova fase (temperatura) dentro de alguns dias. No caso da freqüência cardíaca e pressão sanguínea, a curva diária se assemelha à da temperatura corporal. Essas alterações são conseqüências ocasionadas pelo fuso horário ou pela altitude. Mudanças de localidades superiores a cinco horas, necessitam que o corpo possam ser adaptados a este novo estado. (° C) 38 - 37 - 36 - 6 12 18 24 (h) Gráfico 04 – Dinâmica da temperatura corporal no desenvolvimento periódico-diário. Fonte: Weineck, 2000. Alterações diárias são freqüentes e o atleta deverá submeter-se a um treinamento no melhor período, aquele em que poderá tirar melhor proveito e desempenho. Os diferentes períodos do dia oferecem várias manifestações no organismo estando a pessoa em atividade ou 5 Relativo ao desenvolvimento do indivíduo desde a fecundação até a maturidade para a reprodução (HOLANDA FERREIRA, 2001). 25 não, sendo que estando ele sob um rigoroso treinamento essas variações irão determinar um estado de treino profundo (gráfico 05). % Manhã Tarde Noite 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 2 4 6 Gráfico 05. Oscilações e percentuais da prontidão de desempenho fisiológico durante 24 horas. Fonte: Weineck, 2000. Diversos testes psicofisiológicos mostram que existem diferenças específicas entre os sexos nas curvas biorrítmicas. Segundo Lipitak (1982) apud Zakharov (1992), as mulheres têm seu melhor desempenho nas últimas horas da manhã (com mais um pequeno pico entre as 18 e 20 horas); os homens apresentam seu melhor desempenho à noite. Podemos observar desta forma que as diferenças do desenvolvimento ontogenético e endógeno assumem papel diferenciados quando se aplica estímulos em períodos diferentes (tipo matinal/tipo noturno). Nível de Desempenho Manhã Tarde Noite 100 - Fx - F – V- C – R 90 - 80 - Fx - C 70 - 60 - 50 - H 6 8 10 12 14 16 18 20 Gráfico 06. Indica a otimização das capacidades motoras e intelectuais nos períodos diários. Fonte: Zakharo, 1992. 140 - - 120 - - 100 - – 80 – – 60 – – – 20 – + _ HORAS Ativ. intelectuais 26 As capacidades motoras e intelectuais atingem um nível ótimo no período entre as 10 e 12 horas, e se estende até 15 horas. Neste sentido, se propõe o desenvolvimento das capacidades de flexibilidade e coordenação nos demais períodos. 1.9.6 Ritmo semanal, mensal e anual Com referência aos ciclos semanais poderemos citar como exemplo o ciclo menstrual da mulher (ciclo fisiológico). Como exemplo de um ciclo anual, citamos as funções individuais (freqüência cardíaca, temperatura corporal, e pressão sanguínea) que mostram oscilações não só diárias, mas também anuais (ZAKHAROV, 1992). 1.9.7 Crescimento, desenvolvimento e adaptação Vários termos são utilizados para descrever as mudanças que ocorrem no corpo desde a concepção até a maturidade, como: o crescimento refere-se ao aumento, em tamanho, do corpo ou de qualquer uma de suas partes. O desenvolvimento refere-se às mudanças funcionais que ocorrem com o crescimento. Já a maturação, refere-se ao processo de aquisição da forma adulta e torna-se totalmente funcional (CAMPOS, 2000). Enquanto o corpo cresce no seu conjunto, nem todos os segmentos crescem na mesma proporção. O corpo cresce com o crescimento dos diferentes segmentos do corpo em tempos distintos (figura 06). Figura 06: Diferentes tempos de crescimento segmentar. Fonte: IAAF, 2006. Picos de crescimento em termos de altura para meninos e meninas, podem existir diferenças de até quatro anos no desenvolvimento de crianças da mesma idade (figura 07). Os 27 ossos crescem em comprimento e tamanho de áreas especiais chamadas placas de crescimento, as placas de crescimento são a parte mais débil dos ossos das crianças e podem-se ferir facilmente com a prática da atividade física. Logo, exercícios de alto impacto devem ser dirigidos de acordo com a fase de crescimento. Figura 07. Áreas especiais da estrutura óssea, as chamadas placas de crescimento. Fonte: IAAF, 2006. Na pubescência são melhoradas principalmente as capacidades condicionantes. As coordenativas, ao contrário, somente são estabilizadas e, quando possível gradualmente formada na sua estrutura. A adolescência pode ser considerada a “segunda idade de ouro da aprendizagem” deve ser aproveitada, portanto, para o aperfeiçoamento de técnicas específicas da modalidade esportiva escolhida pela criança. Esta fase deverá usar nos conteúdos desportivos de forma aprofundada (quadro 04). QUADRO 04. Forma de crescimento no gênero humano. Fonte: IAAF, 2006. As meninas não têm a mesma aceleração no desenvolvimento muscular na puberdade porque apresentam secreção hormonal menor que os meninos. Mas, elas continuam 28 desenvolvendo massa muscular progressivamente, e por volta dos dezesseis a vinte anos atingem o ápice da massa muscular, os meninos atingem o ápice um pouco mais tarde, entre os dezoito e vinte e cinco anos. O aumento da massa muscular com a idade é devido ao aumento dos miofilamentos e miofibrilas. O aumento do comprimento do músculo é resultado do aumento no número de sarcômeros e aumento do comprimento dos sarcômeros já existentes. A deposição de gordura nas células adiposas começa no desenvolvimento fetal. Cada célula adiposa pode aumentar em tamanho (hipertrofia) e também em número de células adiposas (hiperplasia). Se uma criança é obesa, ela está mais suscetível a ser obesa na fase adulta, por possuir mais células adiposas que uma pessoa adulta, que não teve hiperplasia na infância. Na idade pré-escolar a criança apresenta uma acentuada alegria de movimentos e prontidão para o aprendizado, portanto, deve-se possibilitar as crianças diversidades de movimentos que estimulem, de forma fantasiosa e variável, o correr, saltar, subir, balançar, empurrar, etc. Na primeira infância as condições psicofísicas são extremantes favoráveis
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