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- Capítulo 1 - REOLOGIA DE ALIMENTOS 1. Introdução A reologia pode ser estabelecida como a ciência que lida com a deformação e o escoamento dos corpos. Como regra prática, os materiais podem ser classificados em: - Sólidos: associados com a deformação do material. Ex: queijo parmesão. - Líquidos: associados com o deslocamento da matéria líquida. Ex: suco de fruta. As medidas ou predições das propriedades reológicas em alimentos são muito importantes em: - Cálculos de engenharia de processos que envolvem uma grande quantidade de equipamentos tais como tubulações, bombas, extrusores, agitadores, trocadores de calor, homogeneizadores e viscosímetros em linha. - Determinar a funcionalidade de ingredientes em desenvolvimentos de processos - Controle de Qualidade do produto intermediário ou final - Verificação da vida de prateleira - Avaliação da textura de alimentos através na correlação com dados sensoriais. 2. Conceitos fundamentais e nomenclatura As definições de tensão, deformação e taxa de deformação devem ser feitas para que se possa fazer uma apropriada descrição da cinemática da deformação e escoamento. Nesse caso, uma análise tensorial é necessária. Considere um elemento de volume com a forma de um cubo e consideremos a resposta do material a uma força externa aplicada. Sob estas condições se desenvolverá uma força externa agindo sobre esta área (F/A) que é denominada tensão. Assim, a tensão é uma função da direção e magnitude da força aplicada e do plano de ação. Existem dois tipos básicos de tensão que podem ser exercidas sobre qualquer material neste elemento de volume. Tensões Normais: que agem perpendicularmente à face do cubo. Tensões de Cisalhamento: que agem tangencialmente às faces do cubo. 3. Medida Reológica baseada no cisalhamento: No caso de líquidos, a maior parte das medidas reológicas é feita com base nas tensões de cisalhamento. A figura 1 mostra o que ocorre quando uma tensão de cisalhamento simples é aplicada a um líquido. Como a figura mostra, um líquido é mantido entre duas placas paralelas infinitas e a placa superior se move a uma velocidade relativa à placa inferior. A força por unidade de área é necessária para manter este movimento resultando em uma tensão de cisalhamento sobre o prato superior produzirá um escoamento viscoso e um gradiente de velocidade será desenvolvido, que é equivalente à taxa de deformação Figura 1. Modelo de placas paralelas utilizadas por Newton para explicar a viscosidade de um líquido. Taxas de Deformação típicas de processo Situação Taxa de deformação (s -1 ) Aplicação Sedimentação de partículas em um meio líquido 10 -6 – 10-3 Medicamentos, tintas, condimentos em molhos de saladas. Nivelamento devido à tensão superficial. 10 -2 – 10-1 Coberturas de bolo, tintas, tintas de impressora Drenagem sob gravidade 10 -1 – 10-1 Balde, pequenos recipientes de alimentos, tintura e cobertura Extrusão 10 0 – 103 Snacks, comida de cachorro, pasta de dente, cereais, massa polímeros Calandrar 10 1 – 102 Estiramento do glúten Derramar de uma garrafa 10 1 – 102 Alimentos, cosméticos artigos de toalete Mastigar e engolir 10 1 – 102 Alimentos Recobrimento por imersão 10 1 – 102 Tintas, confeitaria Mistura e agitação 10 1 – 103 Processamento de alimentos Escoamento em tubo 10 0 – 103 Processamento de alimentos, circulação de sangue Esfregar 10 2 – 104 Aplicação de cremes e loções Escovar 10 3 – 104 Pintura, batom, esmalte de unha Atomizar 10 3 – 105 Secagem por atomização, pintura “spray” Recobrimento a alta velocidade 10 4 – 106 Papel Lubrificação 10 3 – 107 Engrenagens, motores As condições necessárias para a realização de um ensaio reológico são: Aderência entre o fluido e a parede da geometria: garante que a velocidade do fluido é a mesma que a da parede e que a tensão de cisalhamento corresponde à verdadeira. Regime laminar: a transferência da quantidade de movimento é feita por atrito interno entre as camadas de fluido. 4. Classificação Reológica dos Fluidos Os fluidos podem ser classificados quanto à relação existente entre a taxa de deformação e a tensão de cisalhamento Fluidos Newtonianos O comportamento newtoniano indica que a viscosidade do alimento é independente da taxa de deformação a que ele está sendo submetido. Neste caso, um fluido newtoniano mostra um único valor de viscosidade, em uma dada temperatura. Exemplos de fluidos alimentícios que exibem comportamento newtoniano são: água, soluções de açúcares e óleos vegetais. Nessas condições: Onde: Tensão de cisalhamento (Pa) µ viscosidade newtoniana (Pa.s) taxa de deformação (s-1) Fluidos não-newtonianos A maioria dos alimentos de interesse mostra uma relação mais complicada entre taxa de deformação e tensão de cisalhamento. Neste caso, já não se pode falar em termos de viscosidade, porque esta varia com a taxa de deformação. Em geral, os líquidos não- newtonianos poderiam ser classificados em: Aqueles que possuem propriedades independentes do tempo de cisalhamento; Aqueles que possuem propriedades dependentes do tempo de cisalhamento; Aqueles que exibem muitas características de sólido 4.1 Fluidos não-newtonianos e independentes do tempo A maioria dos alimentos é independente do tempo e podem ser classificados em duas categorias principais: a) Fluidos que não necessitam de tensão inicial ( 0) para escoar: Nessa categoria pode-se citar como o modelo mais comum aquele descrito pela lei da potência ou equação Ostwald de Waelle, o qual fica: Definição de viscosidade aparente: calculada como a viscosidade newtoniana. Onde: k= índice de consistência n = índice de comportamento do fluido Podem ser classificados em pseudoplásticos e dilatantes conforme o valor de n. Pseudoplástico: nesse caso, o valor de n é menor do que 1 (n <1). A viscosidade aparente decresce com a taxa de deformação. A maior parte dos alimentos não- newtonianos apresenta este comportamento. Na figura abaixo, pode-se citar como exemplo: a. Orientação de partículas: típico em polpas de frutas e vegetais b. Estiramento: soluções macromoleculares, que tenham grande quantidade de espessantes. Caldas, produtos com substituição de gordura. c. Deformação de gotas: ocorre em emulsões, onde existe uma fase dispersa em uma fase contínua: maionese, molho de saladas, chantilly, etc. d. Destruição de agregados: na homogeneização de produtos. Dilatantes: o comportamento reológico é oposto ao pseudoplástico, ou seja, o valor de n é maior que 1 (n >1). Somente encontrado em soluções muito concentradas de amido. b) Fluidos que necessitam de tensão inicial para escoar: Plásticos de Bingham: o mais simples dessa categoria. Mostram relação linear entre tensão de cisalhamento e taxa de deformação, porém possuem uma tensão de cisalhamento inicial ou residual para que possa escoar. Onde: µp = viscosidade plástica (Pa.s) Herschel-Bulkley: esses fluidos apresentam comportamento do tipo lei da potência com tensão de cisalhamento inicial. Equação de Casson: muito utilizada na caracterização de chocolate fundido e foi adotado pela International Office of Cocoa and Chocolate. A figura abaixo descreve os tipos de fluidos geralmente descritos para cálculos de engenharia. Figura 2. Comportamento reológico de diferentes tipos de fluidos. 4.2 Fluidos não-newtonianose dependentes do tempo Essas propriedades não são levadas em consideração para os cálculos de engenharia e desde um ponto de vista prático, elas só são realmente importantes em tubulações curtas. Podem ser classificadas basicamente em: A) Tixotrópicos: esse grupo inclui aqueles alimentos que possuem uma estrutura que é quebrada em função do tempo e da taxa de deformação. . A um valor constante da taxa de deformação, o valor de tensão de cisalhamento decresce com o tempo, enquanto que a estrutura colapsa. Pode ser descrito pelo modelo de Tiu-Borger: B) Reopéticos: inclui poucos materiais que são capazes de desenvolver ou rearranjar uma estrutura enquanto são submetidos a uma tensão de cisalhamento a uma taxa de deformação constante. Não foi encontrado nenhum alimento que siga esse comportamento. Figura 3. Comportamento reológico de fluidos dependentes do tempo. 4.3 Fluidos Viscoelásticos Muitos alimentos mostram comportamento de sólido (elasticidade) e de líquido (viscosidade). A determinação do comportamento viscoelástico exige equipamentos mais custosos e é objeto de muita pesquisa na atualidade no desenvolvimento de produtos. Os problemas que eles podem apresentar em processos são principalmente: Inchamento do fluido: isso pode ser um grande problema em extrusão e em enchedeiras Escoamento de Weissemberg: aparece na agitação de fluidos altamente viscoelásticos como é o caso de massa de pão e biscoito. À altas taxas de deformação, as tensões normais superam as tangências, invertendo o fluxo. IMPORTANTE: Todos os comportamentos podem ocorrer simultaneamente. 5. Propriedades reológicas: dependência de temperatura e pressão A dependência da temperatura da viscosidade pode ser representada por uma equação do tipo Arrhenius: ln µ = A - Ea/RT Onde A = parâmetro de ajuste Ea = energia de ativação para a viscosidade (J/kgmol K) R = constante universal dos gases (1,987 cal/gmol K) T = temperatura absoluta (K) Em fluidos lei da potência, o índice de consistência segue a lei de Arrhenius, porém o valor de n deve ser praticamente constante com a temperatura. Portanto: ln k = k0 - Ea/RT Em alguns processamentos, os alimentos são submetidos a altas pressões, como é o caso da extrusão. Portanto, a viscosidade pode ser relacionada com a pressão como: μ = μ0 . e aP Onde: μ0 =viscosidade a uma pressão de referência; a=parâmetro de ajuste;
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