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262 Revisões e Ensaios Reviews and Essays Revisiones y Ensaios Doença celíaca: uma visão contemporânea* Celiac disease: a contemporary view Enfermedad celiaca: una visión contemporánea Márcia Luiza Baptista1 Unidade de Gastroenterologia do Instituto da Criança/Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) 1Mestre em Ciências pelo Departamento de Pediatria da FMUSP *Baseado na Dissertação de Mestrado “Prevalência da doença celíaca em crianças e adolescentes com diabetes mellitus tipo 1”, 2004, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Apresentado no XI Congresso Brasileiro de Gastroenterologia Pediátrica, Hepatologia e Nutrição, Bahia, 2003 e no XI Congreso Latinoamericano y VI Congreso Ibero-americano de Gastroenterología, Hepatología y Nutricion Pediátrica, Espanha, 2003 Resumo Objetivo: revisar os aspectos clínicos e diagnósticos da doença celíaca. Fontes pesquisadas: foi realizada revisão bibliográfica com a palavra chave – doença celíaca, na base de dados Medline, referente ao período de 1993 a 2006, e selecionados artigos relevantes e publicações de congressos nacionais e internacionais dos últimos cinco anos. Síntese dos dados: mudanças epidemiológicas e clínicas na DC puderam ser reconhecidas por meio de estudos de triagem sorológica na população geral e em grupos de risco, como familiares de celíacos e pacientes com doenças auto-imunes. O modelo de um iceberg celíaco tem sido usado para mostrar que formas assintomáticas e atípicas da doença são mais freqüentes que as formas sintomáticas gastrointestinais, e podem permanecer subdiagnosticadas. Houve avanço importante na investigação diagnóstica da DC, inicialmente com a identificação sorológica dos anticorpos antigliadina, e atualmente com os anticorpos anti-endomísio e anti-trans- glutaminase que, em conjunto, atingem praticamente 100% de sensibilidade e especificidade. A biópsia intestinal permanece imprescindível para o diagnóstico. O achado de um amplo espectro de alterações histológicas na mucosa celíaca foi melhor compreendido devido aos avanços no conhecimento imunopatológico da resposta intestinal ao glúten. Conclusões: os testes sorológicos são ferramentas valiosas para triagem diagnóstica da DC em casos suspeitos e grupos de risco, sendo a biópsia intestinal necessária para confirmação diagnóstica. A ampla expressão clínica da doença, com a constatação de formas silenciosas e atípicas, deve alertar pediatras e clínicos em geral para o risco de subdiagnóstico e complicações relacionadas a DC não tratada. Descritores: Doença celíaca. Manifestações clínicas. Triagem sorológica. Diagnóstico. Pediatria (São Paulo) 2006;28(4):262-71. 263 Doença celíaca: uma visão contemporânea Baptista ML Abstract Objective: to review the clinical and diagnostic aspects of the celiac disease (DC). Data source: a literature review was carried out with the keyword celiac disease, in the Medline database, regarding the 1993-2006 period, and selected important articles publications from national and international meetings of the last five years. Data synthesis: DC epidemiological and clinical changes could be identified through serological screening studies in the general population and at-risk groups, such as patients’ relatives and those with autoimmune diseases. The celiac iceberg model has been used to show that non typical and asymptomatic forms are more frequent than the gastrointestinal symptomatic forms and that they can remain underdiagnosed. The advances in the identification of serological markers, initially with the antigliadin antibodies and currently with antiendomysium and transglutaminase antibodies, which together reach almost 100% of sensitivity and specificity. The intestinal biopsy remains necessary for the diagnosis. The finding of a wide spectrum of histological alterations in the celiac mucosa has been better understood due to the advances in the immunopathological knowledge of intestinal gluten sensitivity. Conclusions: the serological tests are valuable tools for DC diagnostic screening in suspected cases and at-risk groups, with the intestinal biopsy being necessary for diagnosis confirmation. The wide clinical spectrum of the disease must make pediatricians and general practitioners aware of the risk of underdiagnosis and untreated DC-associated complications. Keywords: Celiac disease. Clinical manifestations. Serological screening. Diagnosis. Resumen Objetivo: revisar los aspectos clínicos y diagnósticos de la enfermedad celíaca (DC). Fuentes pesquisadas: una revisión bibliografica fué realizada com la palavra clave – enfermedad celíaca, en la base de datos Medline, referente al periodo de 1993 a 2006, y artigos relevantes y publicaciones de recientes congresos nacionales e internacionales de los ultimos cinco años. Síntesis de los datos: cambios epidemiologicos y clínicos en la DC puderan ser reconocidos por medio de estudios de screening serológicos en la población general y en los grupos de riesgo, como los familiares de celíacos y enfermos portadores de enfermedades autoinmunes. El modelo de un iceberg celíaco han sido utilizado para mostrar que las formas asintomaticas y atípicas de la enfermedad son más frecuentes que las formas sintomáticas gastrointestinales, y pueden permanecer subdiagnosticadas. El avanzo en la identificación de marcadores serológicos empezaran con los anticuerpos antigliadina para los antiendomísio y antitransglutaminasa, que asociados llegan casi a 100% de sensibilidad y especificidad. La biopsia intestinal permanece imprescindible para el diagnóstico. El hallazgo de un amplo espectro de alteraciones histológicas en la mucosa celíaca fué mejor comprendido por los avanzos en el co- nocimiento inmunopatologico de la respuesta intestinal al gluten. Conclusiones: los testes serológicos son herramientas valiosas para el screening diagnostico de la DC en los casos sospechos y grupos de riesgo, pero la biopsia intestinal es necesaria para la confirmación diagnostica. La ampla expresión clínica de la enferme- dad, con constatación de formas silentes y atípicas, deve alertar los pediatricos y los clínicos en general para el riesgo de subdiagnostico y complicaciones relacionadas a la DC que no es tratada. Palabras clave: Enfermedad celíaca. Manifestaciones clínicas. Screening serológico. Diagnóstico. Pediatria (São Paulo) 2006;28(4):262-71. 264 A doença celíaca (DC) é uma enteropatia imu- no-mediada que ocorre pela ingestão do glúten em indivíduos geneticamente susceptíveis1. A porção antigênica da proteína do glúten para os pacientes celíacos é predominantemente a gliadina do trigo, que apresenta alto teor dos aminoácidos glutamina e prolina, bem como a hordeína da cevada e a se- calina do centeio. Também há potencial antigênico da avenina da aveia, que apresenta um teor inter- mediário dos aminoácidos glutamina e prolina, e que pode determinar DC em casos de ingestão intensiva do cereal2. Houve uma mudança radical no conceito da DC, tanto no que se refere ao conhecimento da história natural da doença como da sua prevalência, a partir da utilização de marcadores sorológicos de alta sen- sibilidade em estudos de rastreamento populacional pediátrico, que possibilitou o seguimento dos casos positivos e a realização de biópsia intestinal em crianças assintomáticas2. O conhecimento dos diversos perfis de apresen- tação clínica da DC por pediatras e clínicos em geral é importante, uma vez que as formas oligossintomá- ticas mostram-se mais freqüentes do que a forma clássica da doença. Isto tem sido observado em diferentes países, com início dos sintomas na idade escolar, adolescência, ou na vida adulta, e manifes- tações gastrointestinais leves ou intermitentes. Estes aspectos contrapõem-se ao conceito clássico, em que a DC origina diarréia/esteatorréiaprecoce – no lactente, gradualmente após a introdução do glúten na alimentação3-5. Os estudos epidemiológicos na Europa, América do Sul, Austrália, EUA mostram uma prevalência da DC de 0,5 a 1% nestas populações, o que a torna uma das doenças crônicas de maior prevalência na infância4,5. No entanto, a grande maioria dos casos permanece não diagnosticada (Tabela 1)6-14. Tabela 1 – Prevalência da doença celíaca não diagnosticada em estudos populacionais País Nº de casos Faixa etária Prevalência Itália6 17.201 crianças 1:210 Hungria7 427 crianças 1:85 Suécia8 690 crianças 1:77 Finlândia9 3.654 crianças 1:99 Saara10 989 crianças 1:18 Portugal11 536 adolescentes 1:134 Israel12 1.571 adultos e crianças 1:157 EUA13 4.126 adultos e crianças 1:133 Brasil14 2.371 adultos e crianças 1:474 e 1:169 A patogênese da doença celíaca Recentes avanços têm sido obtidos no conhecimento da resposta inflamatória intestinal na DC4,15-22. A DC tem mecanismo auto-imune, e é das poucas na qual são conhecidos o fator ambiental desencadeante - o glúten, e o auto-antígeno envolvido - a transglutaminase15,16. Descoberta em 1997, a transglutaminase (TGt) é o prin- cipal antígeno endomisial alvo na lesão tecidual. Partes do glúten resistentes à digestão das enzimas do lúmen intestinal são transportadas através da barreira epitelial como polipeptídeos. Estes peptídeos do glúten funcionam como substrato para a enzima tecidual TGt, que se localiza predominantemente na região extracelular subepitelial da mucosa; a enzima modifica os peptídeos do glúten por processo de desamidação. Estes são conformados em neoepítopos que se ligam às moléculas HLA-DQ2 ou HLA- DQ-8 na superfície das células apresentadoras de antíge- nos, na lâmina própria. A mucosa intestinal de pacientes com DC apresenta uma população de linfócitos T CD4 que reconhece estes peptídeos quimicamente modificados por meio de receptores de célula T complementar (TCR) e emite resposta do tipo Th1 e/ou do tipo Th2 com secreção de citocinas, que causam a lesão intestinal15-20. A alta prevalência (10%) da DC entre parentes de primeiro grau de pacientes celíacos indica importante participação de fatores genéticos na gênese da do- ença. Aproximadamente 98% dos pacientes celíacos apresentam os antígenos de histocompatibilidade (heterodímeros) HLA-DQ2 (codificado pelo DQA1*05 e DQB1*02) ou HLA-DQ8 (DQA1*03 e DQB1*0302), percentual elevado quando comparado com 30%, verificado nas populações caucasianas. A susceptibilidade à DC é determinada pelo heterodí- mero HLA-DQ2, porém isto não é suficiente para o desen- volvimento da DC. Observa-se também que o HLA não está relacionado com apresentações clínicas específicas da doença, não obstante todos os portadores de DC, in- Doença celíaca: uma visão contemporânea Baptista ML Pediatria (São Paulo) 2006;28(4):262-71. 265 dependente das manifestações clínicas, compartilharem a mesma fisiopatogenia. Portanto, fatores individuais e ambientais e outros genes fora da região do HL, devem modular a expressão clínica da doença21-25. Os estudos clínicos e experimentais têm descoberto novos epítopos críticos de peptídeos do glúten ricos em glutamina e prolina, que podem exercer ação tóxica na mucosa de celíacos18,19,26. Recentemente, foi sugerido um mecanismo de agressão direto ao epitélio intestinal pelo peptídeo 31-43 da gliadina, que induz à produção de interleucina-15 (IL-15). A IL-15 promoveria a estimulação das propriedades citotóxicas dos linfócitos intra-epiteliais e ativaria receptores imunes inatos como o NKG2D-MICA, provocando dano às células epiteliais da mucosa17. A identificação de peptídeos tóxicos e o melhor conheci- mento de mecanismos imunológicos da doença, trazem perspectivas na elaboração de variedades não tóxicas de glúten, bem como da possibilidade de tratamento imunoterápico por meio de vacina17,18. Manifestações clínicas: o “iceberg” celíaco Durante as duas últimas décadas tem sido observa- da ampla variação nas formas de apresentação clínica da DC, tornando seu diagnóstico um desafio. A forma clássica da DC que conhecemos, na qual há sintomas gastrointestinais intensos, constitui apenas a parte visí- vel de um “iceberg”, enquanto a parte oculta abrange a maioria dos pacientes que apresentam a DC nas formas silenciosa e atípica, ou seja, DC não diagnosticada3,27-30. Possivelmente, fatores como tempo de aleitamento materno mais prolongado, introdução mais tardia do glúten na dieta e, sobretudo, variações quantitativas e qualitativas na ingestão do glúten, têm influenciado na mudança da apresentação clínica da DC28. Na forma clássica da DC, as manifestações são gastrointestinais e começam entre 6 e 24 meses de idade, após a introdução do glúten na dieta. Tipi- camente, as crianças apresentam diarréia crônica, distensão abdominal, hipotrofia muscular, irritabili- dade. Nos casos com grave má-absorção intestinal ocorre a desnutrição. A crise celíaca é caracterizada por diarréia aquosa explosiva, distensão abdominal importante, desidratação, desequilíbrio eletrolítico, hipotensão e letargia, porém, raramente é observada. Não obstante a ampla variabilidade de manifestação da DC relatada em diversas publicações, a forma clás- sica ainda constitui uma apresentação comum da DC no Brasil em crianças com até dois anos de idade. A DC com sintomas não-clássicos, ou atípica, tem tendência a um início mais tardio dos sintomas, acomete crianças geralmente entre 5 e 7 anos. Estas podem apresentar queixas intestinais - dor abdomi- nal recorrente, náuseas, vômitos, empachamento, e constipação, no entanto, as manifestações extra-in- testinais são predominantes, e podem ser explicadas pelos déficits nutricionais ou por reações imunológicas acometendo outros órgãos3,32. Está bem estabelecido que a baixa estatura pode ser a única manifestação clínica da DC. Destaca-se a prevalência de 10 % entre as crianças que fazem investigação para baixa esta- tura isolada, o que é de longe mais freqüente que a deficiência de hormônio de crescimento (GH). Outras manifestações atípicas da DC são a anemia ferropri- va sem causa aparente e resistente à reposição de ferro, defeitos do esmalte dentário, estomatite aftosa recorrente e elevação das transaminases. Dermatite herpetiforme, uma doença vesiculosa da pele, é con- siderada até o momento como uma variante da DC que raramente afeta a população pediátrica32. A DC silenciosa é encontrada em indivíduos aparentemente assintomáticos, que apresentam sorologia positiva e padrão histológico idêntico à forma clássica, com atrofia parcial ou subtotal da mucosa intestinal, e que respondem à dieta isenta de glúten. Estudo multicêntrico com triagem sorológica em 17.201 crianças italianas escolares saudáveis mostrou que a freqüência de DC silenciosa é cinco vezes mais alta do que a DC sintomática6. Um grande número de casos de DC silenciosa tem sido verificado em grupos de risco - indivíduos com diabetes mellitus tipo 1 e parentes de primeiro grau de pacientes com DC. Alguns pacientes referem sensação de bem estar geral e melhora no rendimento escolar após a dieta isenta de glúten, o que mostra que não se trata de casos totalmente assintomáticos. As formas potencial e latente da DC apresentam testes sorológicos positivos e biópsia intestinal normal, portanto sem manifestações da doença. Os estudos Doença celíaca latente ou potencial Susceptibilidade genética: DQ2 e/ou DQ8 Sorologia positiva Alteração da mucosa Doença celíaca silenciosa Doença celíaca clássica Mucosa normal Figura 1 – Manifestações clínicas da doença celíaca: o iceberg, adaptado6 Doença celíaca: uma visão contemporânea Baptista ML Pediatria (São Paulo)2006;28(4):262-71. 266 de triagem populacional têm permitido a detecção e o reconhecimento destas formas pré-clínicas da DC. O encontro dos marcadores sorológicos em indivíduos com perfil de HLA DQ2 ou DQ8 torna muito provável o desenvolvimento posterior de lesões na mucosa intes- tinal compatíveis com DC30,31. Estes conceitos de DC potencial e latente são relativamente recentes, e ainda não há um consenso por parte dos autores quanto ao uso destes novos termos para as formas clínicas da DC. Troncone et al. (1996) descreveram a forma potencial para indivíduos com sorologia positiva para o anticorpo antiendomísio e que podem apresentar na mucosa intestinal um aumento de linfócitos intra- epiteliais que expressam receptor gama delta, porém, sem alteração na arquitetura vilositária da mucosa31. A evolução dos indivíduos com DC potencial não é de todo conhecida, em especial quanto ao percentual de alterações histológicas evolutivas e de quadros clínicos sintomáticos. A forma latente refere-se a indivíduos que estão assintomáticos e têm histologia intestinal normal à bióp- sia, sob dieta regular com glúten, mas que já apresen- taram em algum momento de suas vidas alterações da mucosa características da DC que normalizaram com a dieta31. Alguns autores ponderam que este critério pode ser impreciso, uma vez que a biópsia normal pode não ser representativa de todo o intestino, em virtude da natureza focal das lesões (em patchy) da mucosa intestinal em estágio precoce. A forma latente, após a recuperação da mucosa intestinal com a dieta isenta de glúten, pode persistir por anos antes do desenvol- vimento de uma recidiva histológica32. Doenças associadas à DC Um número significativo de complicações está relacionado com a DC não tratada, como a osteo- porose3,32,33. Inclusive, na avaliação sorológica de crianças com osteoporose cerca de 2% têm DC32. A baixa densidade de mineralização óssea é explicada pela deficiência secundária de cálcio e vitamina D oriunda da má absorção intestinal e, recentemente, foi sugerida a influência das citocinas sobre a formação e reabsorção óssea. Alguns estudos mostram que a recuperação da densidade óssea é completamente obtida com a dieta de exclusão do glúten. Ao contrário dos casos pediátricos, adultos afetados por osteo- porose secundária à DC não mostram recuperação óssea espontânea, o que destaca a necessidade do diagnóstico precoce3. A existência de complicações neurológicas e psiquiátricas é descrita, como a síndrome caracte- rizada por epilepsia e calcificações occipitais, ataxia, depressão, bem como distúrbios comportamentais como o autismo. As complicações relacionadas ao sistema reprodutivo abrangem a puberdade atrasa- da, infertilidade, abortos e neonatos de baixo peso. Vários autores relatam neoplasias associadas à DC não tratada3,32-34. Uma das questões mais controvertidas das apre- sentações clínicas da DC em Pediatria é a associa- ção com outras doenças auto-imunes. A DC tem sido encontrada em concomitância com diversas do- enças auto-imunes – diabetes mellitus tipo 1 (DM 1), tireoidite auto-imune, doença de Addison, hepatite auto-imune, cirrose biliar primária, colangite escle- rosante, gastrite crônica atrófica, anemia perniciosa e doenças do colágeno35-37. Existe a possibilidade destes quadros auto-imunes também serem causados pelo glúten, ao menos parcialmente. Esta hipótese para o desenvolvimento de doenças auto-imunes tem sido defendida por alguns autores que constatam vários auto-anticorpos no soro de pacientes com DC não tratada. Também, tem sido observado que a dieta isenta de glúten promove nos pacientes celíacos com doenças endócrinas auto-imunes associadas uma diminuição ou desaparecimento dos auto-anticorpos órgãos específicos38-41. A associação entre várias doenças auto-imunes e a DC pode ser explicada, ao menos em parte, por alguma alteração similar no sistema imune e/ou através de base genética comum. A prevalência da DC em pacientes com DM 1 nos estudos de triagem populacional pediátrica de vários países situa-se entre 1,1 e 16,4%, com predomínio da forma silenciosa da DC42,43. Recentes estudos em crianças diabéticas mostram associação com DC em 6,2% na Itália44, 10,4% na Dinamarca45, 3,0% na Áus- tria46, 4,6% nos EUA (Wisconsin)47, 7,7% no Canadá48, 10,3% na Líbia49 e 4,5% no Brasil (Paraná)50. Também, há associação importante entre DC e doença auto-imune da tireóide, com prevalência de até 7,8% nas tireoidites e doença de Graves51. Várias outras condições clínicas têm sido associadas à DC, como a síndrome de Down, síndrome de Turner, sín- drome de Sjogren e deficiência de IgA. A prevalência de DC em pacientes com síndrome de Down situa-se entre 4 e 6%, e é de aproximadamente 3% naqueles com deficiência de IgA27. Devido a estas associações, tem sido recomendada a realização de testes de tria- gem sorológica para DC nas crianças que pertencem a grupos de risco, após os três anos de idade, e na vigência de dieta com glúten por período não inferior a um ano (Tabela 2). Os pacientes com testes sorológi- cos negativos podem apresentar a DC posteriormente, o que recomenda repetir a triagem sorológica após alguns anos32,44. Doença celíaca: uma visão contemporânea Baptista ML Pediatria (São Paulo) 2006;28(4):262-71. 267 Diagnóstico da doença celíaca Testes sorológicos Inúmeros estudos têm evidenciado, de forma crescente, a aplicabilidade de testes sorológicos na seleção de pacientes para realização posterior de biópsia intestinal. Devem ser avaliados os pacientes assintomáticos dos grupos de risco, como os familiares de celíacos e pacientes com doenças auto-imunes. Também prestam-se para controle do paciente sob dieta isenta de glúten6,9,46,47,52,53. Os anticorpos antigliadina (AAG) foram os pri- meiros marcadores sorológicos descritos na DC e são dirigidos à proteína cereal absorvida pela mucosa intestinal. São predominantemente das classes IgA e IgG, detectados por meio da técnica imunoenzimática (ELISA). São de fácil execução e baixo custo, porém têm sensibilidade (50-60%) e especificidade (60-70%) reduzidas para o diagnóstico da DC. Níveis elevados destes anticorpos podem ser encontrados em pacien- tes com outras doenças gastrointestinais e também podem ser detectados em indivíduos normais. O anticorpo anti-endomísio (AAE), constituído primariamente por IgA, tem sido considerado como o marcador de eleição para a triagem da DC, pois apresenta sensibilidade de 90% e especificidade de praticamente 100%, em estudos realizados em diversas populações53,54. É reconhecido que a presença dos AAE é preditiva de progressão para atrofia de vilosidades, provando ser, inclusive, um efetivo teste de triagem para as formas atípica, latente e potencial da DC52,54. O AAE é detectado por imunofluorescência indireta, podendo ser utilizado substrato de cordão umbilical humano ou esô- fago de macaco. É um método observador-dependente e requer profissional experiente para a realização. Recentemente foi introduzido o anticorpo anti- transglutaminase (AATGt), o qual tem mostrado ser adequado para a detecção da DC9,48,53. Este anticorpo pode ser avaliado por ELISA utilizando-se a proteína de porco guinea (primeira geração) ou recombinante humano (segunda geração), comercialmente disponí- vel. O AATGt pode ser utilizado para triagem popula- cional, por ser um ensaio quantitativo que independe do observador, além de ser de fácil execução. Há elevada correlação entre o AAE e o AATGt, com ade- quada confiabilidade para o rastreamento diagnóstico e a monitorização da doença9. No entanto, alguns trabalhos relatam maior especificidade do AAE para detecção da DC, em relação ao AATGt, uma vez que este pode estar presente em doenças como o DM1, doençacrônica do fígado, artrite reumatóide e insu- ficiência cardíaca53. Estes testes de triagem para DC detectam pri- mariamente anticorpos da classe IgA e, desta forma, é recomendável investigar a eventual deficiência de IgA, simultaneamente, a fim de se evitar resultados falso-negativos. Em situações de deficiência de IgA, pode se determinar os anticorpos AAE e AATGt da classe IgG. Observa-se também que, em crianças menores de dois anos de idade, há menor sensibili- dade e especificidade do AAE e AATGt, sendo uma faixa etária onde o AAG pode ser vantajoso. Apesar dos marcadores sorológicos serem de grande utilidade para rastreamento de DC, o resultado positivo não faz por si só o diagnóstico de DC, pois podem ocorrer resultados falso-positivo e falso-negativo. Tipagem de HLA Atualmente, os marcadores genéticos têm sido um critério importante em casos de diagnóstico difícil, e podem auxiliar no reconhecimento da DC potencial Tabela 2 – Indicações clínicas para testes de triagem sorológica para doença celíaca Parentes de primeiro grau de paciente celíaco Anemia ferropriva inexplicada Baixa estatura Osteoporose Elevação das transaminases inexplicada Doenças auto-imunes - diabetes melitus tipo 1, cirrose biliar primária, tireoidite, etc. Síndromes de Down e Turner Desordens neurológicas - epilepsia e ataxia inexplicadas Doença celíaca: uma visão contemporânea Baptista ML Pediatria (São Paulo) 2006;28(4):262-71. 268 ou latente, que apresenta sorologia positiva e resulta- do de biópsia intestinal normal. Em caso suspeito de DC, a avaliação do HLA do heterotipo DQ2 e DQ8 tem alto valor preditivo negativo, isto é, a ausência destes marcadores torna muito improvável a presença ou o desenvolvimento da DC, enquanto o achado positivo é de limitada importância, pela elevada freqüência na população3,8,25. Biópsia e histologia A avaliação da histologia intestinal obtida por biópsia permanece imprescindível para o diagnós- tico da DC de um paciente sob dieta com glúten1,53. Várias biópsias, coletadas no mesmo procedimento, devem ser realizadas no duodeno descendente para o diagnóstico da DC, devido à ocorrência de áreas alteradas em meio a outras com mucosa íntegra (padrão em patchy). Classicamente, o diagnóstico histológico é baseado no encontro de alteração estrutural da mucosa duodeno-jejunal com atrofia vilositária e hiperplasia de criptas, aspectos morfo- lógicos característicos55. Porém, mais recentemente, com um maior escla- recimento da fisiopatogenia da DC, houve o reconhe- cimento de um espectro mais amplo de alterações histológicas em pacientes celíacos. Alterações menos intensas da mucosa puderam ser associadas à DC, o que possibilitou um avanço no diagnóstico da doen- ça56,57. Segundo a classificação proposta por Marsh (1992), a mucosa na doença celíaca apresenta vários estágios evolutivos com aspecto diverso, variando desde um aumento de linfócitos intra-epiteliais (LIE) até o completo achatamento da mucosa56. A lesão infiltrativa (Marsh I) é caracterizada pelo aumento do número dos linfócitos intraepiteliais (LIE) - mais de 40 linfócitos por 100 enterócitos contados; é o primeiro e o mais sensível indicador que traduz os efeitos imunológicos desencadeados pelo glúten na mucosa do trato gastrointestinal58. A linfocitose intraepitelial, entretanto, não é específica da DC e pode ser encontrada no sprue tropical, giardíase, enteropatias infecciosas, doença de Crohn e várias outras doenças auto-imunes59. A lesão hiperplástica (Marsh II) é identificada quando a mucosa apresenta linfocitose intraepitelial acompanhada de hiperplasia e, finalmente, a lesão destrutiva (Marsh III) é reco- nhecida frente à moderada ou intensa redução da altura vilositária, e constitui a mais grave alteração da mucosa intestinal56,58,59. O diagnóstico da DC tornou-se menos definido quando foram reconhecidos pacientes com sensibilida- de ao glúten, manifestação de doença extra-intestinal e aumento dos LIE na mucosa, porém, sem haver alteração na arquitetura vilositária56-60. Em uma série de 10 pacientes adultos com suspei- ta de DC, foram evidenciadas alterações inflamatórias pequenas da mucosa e aumento de LIE, sem a presen- ça de atrofia vilositária. No soro, o AAE foi detectado em 8 pacientes, AGA em 7, AATGt em 9; e a tipagem do HLA DQ2 foi encontrada em todos os pacientes. Apesar de não ter sido encontrada alteração estrutural da mucosa intestinal, havia osteopenia em 8 dos 10 casos. Todos mostraram melhora clínica, histológica e sorológica com a dieta sem glúten60. Frente a estes e outros achados semelhantes, o diagnóstico da DC, estabelecido a partir da atrofia vilositária, talvez deva ser alterado, por não abranger todo o espectro clínico da alergia ao glúten. Atualmente, é reconhecida a necessidade de um novo critério diagnóstico para a DC que possa incluir indivíduos com sorologia positiva e sem a típica lesão da mucosa intestinal1,57,59. A implicação destas mu- danças no critério diagnóstico atinge a terapêutica. A indicação da dieta isenta de glúten para estes in- divíduos suscita controvérsias, não só por não haver um critério diagnóstico adequado, mas também pela dificuldade de indivíduos assintomáticos aderirem à dieta isenta de glúten. É importante enfatizar que a conduta pediátrica de prescrever dieta isenta de glúten a pacientes com suspeita de DC é uma prática freqüente e equivocada que compromete a interpretação dos exames soroló- gicos e da biópsia intestinal, e dificulta a confirmação diagnóstica. Continua necessária a comprovação pela avaliação histológica da mucosa intestinal, mesmo nos casos com marcadores séricos alterados. Isto se deve à necessidade da dieta isenta de glúten ser mantida por toda a vida. Esta exclusão do glúten da dieta não cura a alergia, mas remite a alteração intestinal e suas complicações. Os pacientes e familiares devem ser alertados quanto a transtornos clínicos e histológicos com o consumo esporádico de glúten. Considerações finais Os testes sorológicos que avaliam o anticorpo anti- endomísio (AAE) e o anticorpo anti-transglutaminase (AATGt) constituem importante avanço na investigação diagnóstica da DC, no entanto, há necessidade da biópsia intestinal para os casos suspeitos. Para alguns casos, com mínimas alterações na biópsia intestinal, o critério diagnóstico, inclusive, está em questionamento. Pacientes com sorologia positiva e biópsia normal ne- cessitam acompanhamento devendo ser periodicamen- te reavaliados, pois são celíacos latentes ou potenciais, Doença celíaca: uma visão contemporânea Baptista ML Pediatria (São Paulo) 2006;28(4):262-71. 269 com risco de lesão progressiva da mucosa intestinal. O reconhecimento da elevada prevalência da DC, assim como da ampla expressão clínica da doença, inclusive com a constatação de formas silenciosas e atípicas, deve alertar pediatras e clínicos para o risco de sub- diagnóstico e complicações da DC não tratada. 1. 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