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Crimes contra a vida - Direito Penal

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Estudo Direito Penal III – M1
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
Conceito: Os crimes contra a vida estão dispostos do art. 121 à 148 do CP. Exceto os crimes contra a vida considerados culposos e expressamente previstos em lei, todos são dolosos e estes são levados ao Tribunal do Júri. 
Homicídio - “Hominis Excidium” – matar o homem
A conduta de um crime doloso poderá ser comissiva (quando há a pratica de uma ação) ou omissiva (quando a ausência de uma ação levou ao crime). 
Os crimes dolosos previstos no art. 121 são: 
Simples “caput” 
Privilegiado § 1º 
Qualificado §2º 
Doloso indireto: produção de um resultado
Dolo indireto – Alternativo: quando o agente deseja e se satisfaz com um resultado ou outro. Ex: atirar em uma pessoa querer matar ou ferir (tanto faz)
Dolo Indireto – Eventual: não quer o resultado, mas assume o risco de produzir
Já os culposos estão dispostos no art. 121, §§ 3º e 4º e podem ser: 
Simples 
Qualificado 
HOMICÍDIO SIMPLES 
Conceito: O homicídio simples é a eliminação da vida extrauterina praticada por outrem, atingindo bem-jurídico tutelado pelo ordenamento jurídico que é a eliminação da vida humana extrauterina. Tal conceito é importante para diferenciar o homicídio do aborto (vida endo-uterina) e do suicídio (que não é praticado por outrem).
Objeto jurídico: Protege-se a vida humana extrauterina, que passa a existir depois do parto, que é o bem jurídico mais importante, sendo imperativo da ordem constitucional (art. 5º, caput). A morte é hoje entendida, como certeza da parada encefálica geral e irreversível (Leis 9.434/1997, art. 3º e 10.211/2001, art. 16- “morte encefálica”).
É a vida extrauterina, previsão art. 5º, caput, da CF. Basta o início da passagem à luz para caracterizar o homicídio. O parto cessa após a expulsão secundinas (esvaziado o útero e expulsa a placenta), mesmo que não tenha sido cortado o cordão umbilical. Terminada a vida intrauterina, matar o recém-nascido é homicídio.
Sujeito ativo (comum – pois qualquer pessoa pode cometer): é crime comum e de forma livre, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa em grupo ou não, empregando ou não armas. Qualquer pessoa pode praticar homicídio. Trata-se de crime comum. O crime é unissubjetivo, ou seja, basta uma pessoa para o crime seja caracterizado, a pluralidade de sujeitos não integra o tipo. Permite concurso eventual de agentes tanto na co-execução (coautoria) quanto na participação.
Ex: Assassinato da irmã Doroty – há um mandante (partícipe) e um executor (autor realizou atos de execução), ambos respondente pelo crime na medida de sua culpabilidade.
Sujeito passivo (pj não pode ser sujeito passivo): é alguém, qualquer ser humano, sem distinções, que seja a partir do início do parto. Alguém que tenha vida humana extrauterina.
Consumação e Tentativa: A consumação é dada sempre com a morte da vítima. Sempre que age dolosamente o autor quer atingir o núcleo, seja esta intenção direta ou indireta. A tentativa ocorre quando, iniciado o ataque a pratica seja interrompida por circunstâncias alheias à vontade do agente. Caso contrário, seria desistência voluntária. 
Desistência voluntária - Se o agente que efetua vários disparos contra a vítima e cessa voluntariamente a execução antes da morte da vítima, estando a arma ainda carregada. É entendimento predominante que responde pelas lesões que resultarem, não incluindo nesse caso se o agente deixa de atirar por economia de munição ou por imaginar que a vítima já estava morta.
Tentativa Branca: Vítima não sofre nenhuma lesão
Tentativa Vermelha: Vitima tem sequelas mas permanece viva.
Quando ocorre o crime na sua forma tentada ocorre a diminuição de pena (minorante) = 1/3 a 2/3
Elementos objetivos: A conduta típica é matar alguém, é o núcleo do tipo. O homicídio pode ocorrer por meios diretos (quando a ação pretende a morte imediata como disparo de arma de fogo) ou indiretos (quando a ação é mediata como incitar um cão para atacar alguém). Os meios podem ser físicos (armas), patológicos (transmissão de moléstia por meio de vírus ou bactéria) ou psíquicos e morais (provocação de emoção violenta a um cardíaco). 
Ele também pode ser praticado por ação ou omissão: 
Trata-se de crime comissivo praticado, em regra por ação. O verbo matar, ou seja, provocar a cessação da atividade encefálica, exige uma ação, uma conduta. No entanto, pode ser, excepcionalmente, praticado por omissão, como prevê o artigo:
“Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.”
Porque quando uma pessoa deixa de alimentar uma criança de rua não responde por homicídio, mas se é a mãe dessa criança quem deixa de fazê-lo, ela responde por homicídio. A diferença entre elas é que a mãe tem o dever de cuidar do filho.
O homicídio, assim, pode excepcionalmente ser praticado por omissão (Comissivo por Omissão, ou Omissivo Impróprio), quando quem se omite tinha o dever de agir para impedir a morte. Neste crime, só quem tem o dever de agir, quem se encontra em posição de garante é quem tem de evitar o resultado.
Somente o garante pode responder pelo crime de homicídio por omissão e é a situação fática quem determina se o agente se encontra ou não nessa posição. Essa questão pode ser observada claramente no célebre caso do Réveillon, onde uma garota levou um tiro na cabeça, e, ao chegar ao hospital, descobriu-se que o neurologista de plantão não se encontrava no hospital. Pelo o que a mídia noticiou, o médico fora indiciado preliminarmente no delito de homicídio, não ter agido quando tinha o dever de fazê-lo. Juridicamente, tal situação é um absurdo, visto que o médico não estava presente no local, e, inclusive, avisou que não estaria lá, podendo ter cometido uma falta administrativa, trabalhista, ou o que seja, mas ele certamente não figurava na posição de garante. Não havia expectativa de que o bem jurídico estaria tutelado pelo médico naquele momento. O diretor do hospital, sabendo que não haveria médico, deveria ter tomado uma atitude rápida, fosse convocando outro médico, fosse encaminhando a garota para outro hospital, mas o médico que não estava lá, e avisou que não estaria, não pode ser punido por homicídio comissivo por omissão.
Alguns livros declaram expressamente que não há crime comissivo por omissão quando a pessoa não está fisicamente presente, com algumas exceções. Por exemplo, se a pessoa liga para o médico, fala com ele pelo telefone e, nessa conversa, ele disse que estaria presente, mas, mesmo assim, não comparece ao hospital. Nesse caso, o médico tinha condição de estar presente, pois ele sabia do perigo e tinha condições de estar presente.
Elemento subjetivo é o dolo consubstanciado na vontade livre e consciente de tirar a vida de alguém (animus necandi ou occidendi).
Dolo eventual pode ocorrer quando se assume o risco de produzir a morte de alguém por brincadeira de mau gosto (álcool em alguém dormindo) excesso de velocidade, dirigindo embriagado ou mediante “pega” de veículos em via pública. (Júri).
Hediondo, mesmo no tipo simples e por só um agente, quando praticado a serviço de grupo de extermínio (Lei 8.072/1990, art. 1º, I).
Eutanásia no Brasil é homicídio, embora possa ser considerado privilegiado quando visa encurtar o sofrimento de pacientes incuráveis.
Para analisar o tipo subjetivo, em geral, analisar-se-á se ele admite dolo e dolo eventual, se se exige um elemento subjetivo especial e se existe previsão na modalidade culposa.
Admite tanto o dolo direto quanto o eventual, que se dá quando o sujeito assume o risco de produzir o resultado.
Exige o “animusnecandi” do agente, a intenção e vontade de matar alguém.
Não exige nenhum elemento subjetivo especial, que se caracteriza pela existência de uma intenção específica para o agir. Existem alguns crimes que exigem, além do dolo, uma intenção específica para o agir, como o crime de abandono de recém-nascido com o fim de ocultar desonra própria, por exemplo.
Prevê modalidade culposa. No caso de Santa Maria, por exemplo, o delegado tipificou a conduta dos integrantes da banda e dos donos da boate Kiss, como homicídio doloso. O primeiro BO foi lavrado como homicídio culposo. Para analisar a existência de dolo ou culpa, há de se verificar o caso concreto, mas não são todos os casos em que isso fica claro, como acontece no caso de Santa Maria. A atitude dos donos da boate foi de: “Dane-se, por mim se morrerem 300 pessoas tudo bem, construímos outro. Afinal, ainda existirão muitas pessoas querendo dançar”. Ou será que a conduta dele estava mais voltada para: “Tomara que não aconteça”. A razão de o delegado ter alterado a espécie de homicídio neste caso é claramente processual, pois não haveria modo de mantê-los presos por um delito culposo.
Erro de Tipo é uma classificação que exclui o dolo, pois constitui a falta de consciência e a falta de vontade de preencher os elementos do tipo. Haverá erro de tipo se o agente matar alguém sem consciência de fazê-lo.
Ex.: Certa noite o sujeito estava caçando um jacaré, em seu meio natural, e atira em um deles. Quando chega perto com uma lanterna, ele se surpreende ao perceber que não atirara num jacaré, mas em uma mulher que mantinha conjunções carnais no local. Por qual crime este agente deveria ser punido?
A clássica questão da caçada trata de erro de tipo. Objetivamente, ele matou alguém. Mas ele sabia que estava matando alguém? Esse alguém estava na sombra, ele olhou e viu um jacaré, que posteriormente constatou ser uma mulher.
O erro de tipo pode ser de duas espécies, que dependem do caso concreto para sua determinação: o erro de tipo evitável, que exclui o dolo, mas permite a punição por crime culpo, se previsto; e o erro de tipo inevitável, que tem como consequência excluir o dolo e a culpa, pois o juiz entende que qualquer um o teria cometido.
Homicídio Privilegiado
O homicídio privilegiado é aquele que, em virtude de certas circunstâncias subjetivas, conduzem a uma menor reprovação social da conduta do homicida e, por este motivo, a pena é atenuada.
Art. 121
Privilegiado = § 1º - Pena diminuída em 1/6 a 1/3.
A forma privilegiada do homicídio tem por natureza jurídica causas de diminuição de pena aplicada na 3ª fase.
As três formas privilegiadas são subjetivas, ou seja, ligadas à motivação do crime.
São excludentes entre si. Não existe homicídio duplamente ou triplamente privilegiado.
Formas do crime privilegiado
Relevante valor social - é um valor que reflete o interesse da coletividade, que revela menor desajuste e diminuta periculosidade do homicida.
Relevante valor moral – refere-se a um interesse de cunho pessoal, que afeta particularmente o agente e que abriga a chamada moralidade media. São motivos considerados nobres e altruístas. Ex: pai que mata o estuprador da filha. Curiosidade: Eutanásia e Ortoeutanásia, na doutrina e na jurisprudência, recebem o tratamento de homicídio privilegiado pelo relevante valor moral.
Homicídio privilegiado (definição doutrinária) – “Caso de diminuição de pena: §1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.”
Também se o agente mata sob o domínio concomitante e inexorável de violenta emoção, logo em seguida a injustificável provocação da vítima. Aí ocorre o privilégio. Ressalvado o estabelecido no art. 28, I, CP: “Não excluem a imputabilidade penal:
I – a emoção ou a paixão; (...)
No privilégio a atuação é dominada pela violenta emoção. Já na atenuante genérica (art. 65, III, “c” CP) basta a influência de violenta emoção. Todas são subjetivas e não se comunicam aos co-autores e partícipes que tenham agido por outro motivo.
Domínio de violenta emoção logo em seguida a injusta provocação da vítima
Elementos
Emoção – é um estado de ânimo ou de consciência caracterizada por uma viva excitação do sentimento. É um estado de espírito que altera momentaneamente a capacidade de querer, entender, se determinar.
Violenta – emoção forte que atrapalha o pensamento.
Atuar sobre o domínio – Domínio ≠ Influência à influência atrapalha o pensamento, o recurso às faculdades mentais. A mera influência de violenta emoção é simples circunstancia atenuante da pena (art. 65 – III, c). Domínio é subtração, a pessoa perde momentaneamente a capacidade de querer entender e determinar-se.
Provocação – a vítima inicia a cena, é a provocação capaz de dominar a emoção do homicida.
Logo em seguida – imediatamente. Se for momentaneamente = domínio de violente emoção. Se tiver espaço de tempo é influencia.
Homicídio Privilegiado x Homicídio Minorado
Embora a doutrina chame essa figura de homicídio privilegiado, trata-se, na verdade, de causa de diminuição de pena. Consiste em uma fração aplicada pelo juiz na terceira fase da dosimetria e que pode conduzir a pena abaixo do mínimo legal.
Homicídio Qualificado
Homicídio qualificado – Art. 121 § 2º- Se o crime é cometido:
I – mediante paga, ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe;
II – por motivo fútil;
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena – reclusão, de doze a trinta anos.
As circunstâncias que qualificam o crime se dividem em:
Motivos: paga, promessa de recompensa ou outro motivo torpe ou fútil (incisos I e II):
Mediante paga ou promessa de recompensa: pode ser um pagamento em dinheiro ou qualquer outra vantagem econômica (bem, promoção no emprego, ou até, promessa de casamento, sexo etc.).
A paga é anterior à realização do homicídio e a promessa é para pagamento posterior ao crime consumado, mesmo que o mandante não cumpra a promessa haverá a qualificadora para ambos os envolvidos, pois a razão do executor ter matado foi a promessa.
Grande corrente acha ser elementar do crime o motivo da vantagem, por isso face à teoria monista ou unitária do nosso Código Penal (art.30), estende-se a qualificadora ao mandante e ao executor.
Podem os jurados por sua vez reconhecer um relevante valor social ou moral por parte do mandante como o que manda executar o estuprador da sua filha, aí prejudicaria a votação das qualificadoras subjetivas podendo o mandante ser condenado por homicídio privilegiado e o executor por homicídio qualificado (hediondo).
Motivo torpe: é o homicídio praticado por um sentimento vil, repugnante, que demonstra imoralidade do agente (por herança, por inveja, inconformidade por ter sido abandonado, por preconceito de sexo, cor, religião, etnia, raça. O ciúme não é considerado sentimento vil. Vingança já se enquadra se é decorrente de uma antecedente torpe.
Motivo fútil: (inciso II), de pequena importância, insignificante, desproporcional entre a causa e o crime perpetrado. (Brincadeira etc.). Ausência de motivo não é motivo fútil que deve ser comprovado. O ciúme não é considerado fútil e a vingança só é fútil se é decorrente de uma agressão também por este motivo. Quando há discussão entre partes antes do crime, em geral é retirada a qualificadora da futilidade, pois a troca de ofensas supera a pequena importância. O mesmo crime não pode ser qualificado por motivo fútil e torpe ao mesmo tempo. A acusação deve escolher a que melhor se enquadre ao caso em apreço.
Meios: veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio de que possa resultarperigo comum (Inciso III):
Veneno: Segundo Delmanto: “É o chamado venefício, que só qualifica, porém, se praticado com dissimulação, insídia. Não há a qualificadora se o veneno é administrado à força ou com conhecimento da vítima.” O veneno é toda substância química ou biológica que, introduzida no organismo, pode causar a morte. Havendo a inoculação com violência a qualificadora passa a ser do meio cruel. No caso da tentativa há de se provar que a substância conduziria à morte caso não houvesse o socorro. Pois se resta provado que o veneno não levaria à morte em hipótese alguma, haveria então o crime impossível por absoluta ineficácia do meio empregado e o agente poderia responder eventualmente por lesões corporais resultantes. Se a morte não sobreveio pela insuficiência da quantidade inoculada, aí trata-se de ineficácia relativa, respondendo por homicídio qualificado tentado. Quanto a certas substância neutras para umas pessoas, todavia, letais para outras em virtude de doenças ou rações alérgicas, se o agente tem conhecimento dessas reações por parte do ofendido comete o homicídio ou tentativa com o dolo eventual (assume o risco de produzir- art. 18, I).
A qualificadora deve ser comprovada por perícia toxicológica do IML.
Fogo ou explosivo: Ateando combustível jogado sobre a vítima e o explosivo como a dinamite ou substâncias similares. Além do homicídio pode haver o crime de dano qualificado a terceiros. Todavia neste caso o artigo 163, § único, II é absorvido pelo delito maior pois, só se aplica, quando não constitui crime mais grave (subsidiariedade expressa).
Asfixia: “É o impedimento da função respiratória” Gonçalves. A lei nº 7.209/84 (nova parte geral) retirou a asfixia das circunstâncias agravantes (art. 61-CP), todavia, permanece como qualificadora:
- As asfixias de origem mecânica podem ocorrer por:
- Esganadura: constrição do pescoço da vítima efetuada pelo próprio corpo do agente (com as mãos ou os pés etc.).
- Estrangulamento: constrição do pescoço da vítima com fios, arames ou cordas que são apertados pelo agente.
- Enforcamento: causado pelo próprio peso da vítima, que tem seu pescoço envolto em cordas ou similar.
- Sufocação: uso de objetos que impedem a entrada do ar pelo nariz ou pela boca, como, por exemplo, introdução de pano na garganta da vítima ou colocação de travesseiro no seu rosto.
- Afogamento: submersão em meio líquido.
- Soterramento: submersão em meio sólido.
- Imprensamento: impedimento do movimento respiratório pela colocação de peso sobre a região do diafragma da vítima, de forma que, em face do peso ou da exaustão, ela não mais consiga fazer o movimento respiratório. É também chamado de sufocação indireta.
De outro lado, há a asfixia tóxica pode ocorrer por:
-Uso de gás asfixiante.
- Confinamento: colocação da vítima em recinto fechado onde não há renovação do oxigênio. Se a vítima, por exemplo, é trancada dentro de um caixão e “enterrada”, existe a asfixia tóxica por confinamento e não a asfixia mecânica por soterramento.” (Gonçalves).
Meio insidioso: (dissimulação mediante fraude, armadilha ou estratagema para atingir a vítima sem que ela perceba a ocorrência do crime (sabotagem no freio, direção ou no motor de veículo, avião etc.).
Qualquer meio que possa causar perigo comum: Além de causar a morte da vítima o meio utilizado possibilita situação de perigo à vida ou integridade corporal de elevado número de pessoas (desabamento, inundação, disparos em meio à multidão independente do resultado).
 
Tortura ou qualquer outro meio cruel: Ocorre quando o agente submete a vítima a graves sofrimentos físicos e ou mentais (apedrejamento, pisoteamento, espancamento, choque elétrico, reiterados golpes (quando resultante e sofrimento) ou ainda por sede, fome insolação etc. Aí a crueldade é utilizada para causar a morte. Se for posterior não existe a qualificadora e se for por sadismo (só para ver sofrer) então pode-se enquadrar na atual Lei nº 9.455/97 (Lei dos crimes contra a tortura) cujo artigo 1º assim prescreve:
“I – Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
II – Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena – reclusão de dois a oito anos”.
No § 3º deste mesmo artigo é prevista a pena de oito a dezesseis anos se, da tortura aplicada, resulta morte. (Pena inferior ao homicídio qualificado, porque aqui a morte faz parte do preterdolo) queria a tortura, mas, assume o evento morte como crime na forma culposa.
Modos: traição, emboscada, mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido (inciso IV):
Traição: Na traição existe o aproveitamento de prévia confiança do ofendido no agente por amizade, parentesco, casamento e outros quando este procura alvejá-la desprevenida (matar o amigo dormindo). Se o agente busca adquirir a confiança para poder se aproximar e matá-la aí prevalece a qualificadora da dissimulação moral que veremos adiante.
Emboscada: Equivale a tocaia. O agente se esconde e aguarda a passagem da vítima para alvejá-la pode ser na área urbana ou rural.
Dissimulação: Qualquer recurso é utilizado para enganar a vítima, aproximar-se dela e executá-la. Pode ser material como disfarce para facilitar a aproximação ou moral falsas demonstrações de amizade, amor etc. (bandido do parque em São Paulo).
Qualquer outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima Surpresa. Disparo pelas costas (diferente de nas costas). Vítima dormindo. Em coma alcoólico. Algemada. Linchamento e outros modos. A jurisprudência conclui que não incide a qualificadora o fato de o agente estar armado e a vítima desarmada.
Finalidade: para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime (inciso V). Conexão entre delitos que será:
Teleológica: O homicídio é praticado para assegurar a execução de outro crime. (Mata marido para estupra a esposa ou mata o segurança para sequestrar o empresário e outros casos). Responde pelo homicídio qualificado e pelo outro crime subsequente em concurso material. Se o segundo crime foi frustrado, responde só pelo homicídio qualificado.
Consequencial: Visa assegurar ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime. Ele pratica o outro crime e depois o homicídio – Ocultação (queima de arquivo). Se mata alguém e esconde o cadáver aí é concurso material com o artigo 211 (ocultação de cadáver).
- Impunidade: Não se esconde a ocorrência do crime anterior, mas a punição do autor do delito (estuprar e depois matar a mulher. Testemunha de crime praticado anteriormente.
Vantagem de outro crime: Matar co-autor de roubo para ficar com todo o dinheiro. (Não vale para se beneficiar em processo contravenção)
Observações: Matar o próprio pai (parricídio) ou mãe (matricídio) não qualifica (agravante genérica Art. 61, II, e, CP). Os partícipes têm de ter conhecimento da qualificadora. Crime multiplamente qualificado só basta uma para tipificá-lo, as demais ou o juiz pode considerá-las como agravantes genéricas (art. 61, II, a a d) ou como circunstâncias judiciais.
A lei 8.930/94 inseriu o homicídio qualificado no rol dos hediondos.
Homicídio Culposo
Art. 121, § 3º - Se o homicídio e culposo:
Pena – detenção, de um a três anos.
Homicídio culposo tem a previsibilidade
Quando o agente não queria causar a morte, nem assumiu o risco de produzi-la, mas ela ocorre por imprudência, imperícia ou negligência.
Imprudência: Praticar ato perigoso: impar arma de fogo, velocidade etc.
Negligência: Ausência de precaução: arma ao alcance de criança etc.
Imperícia: falta de aptidão para determinada função (não conhece). Não existecompensação de culpa. O agente só não responde se a culpa foi exclusivamente da vítima. Se duas ou mais causam a morte respondem como co-autores por homicídio culposo. Na culpa consciente o agente vê o risco de causar a morte mas acredita que dada a sua destreza o fato não ocorrerá e no dolo eventual o agente vê o mesmo risco mas a ocorrência do evento morte lhe é indiferente (faço, dê no que der).
Aumento da pena: “Art. 121 §4º. No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 anos ou maior de 60 (sessenta) anos.” A primeira parte trata:- da inobservância de regra técnica de profissão, arte e ofício (agente conhece as regras, mas não as segue); - da omissão de socorro que só é exigível se não houver risco pessoal, todavia existe decisão contrária ao receio de linchamento pois quem provoca situação de perigo no mínimo por culpa “não pode com êxito invocar estado de necessidade real ou putativo”. Não incide na morte instantânea ou ferimentos leves sem necessidade de socorro. Leigo pode perceber de imediato.
O Código de Trânsito Brasileiro - CTB (Art.304 § único) impõe contrariamente o socorro à vítima com morte instantânea ou ferimentos leves e o art.304 CTB determina o aumento mesmo com o socorro de terceiros. Absorve o crime de omissão de socorro que também não subsiste à absolvição do homicídio. – Não procurar diminuir a consequências do ato (acham que se confunde com a omissão de socorro. Segundo Führer: “parece, o texto se refere àquele que, não podendo prestar o socorro diretamente, também não tenta de outra forma auxiliar a vítima (ex: chamar ambulância, enviar médico, trazer medicamento)”
Fuga para evitar prisão em flagrante (fim especial elemento subjetivo do injusto) cai com o risco de linchamento (Damásio, Smanio). Já o artigo 301 CTB estabelece que não há prisão em fragrante se o condutor presta socorro pronto e integral à vítima.
Na segunda parte do art. 121 §4º é previsto que no homicídio doloso a pena é aumentada de um terço se o crime é praticado contra menor de 14 anos (ECA)
Perdão Judicial: “§ 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.” Realmente se as consequências do crime culposo já puniram o agente pelo sofrimento da morte de um ente querido (moral) ou ferimentos em si próprio (físico) o legislador concedeu ao juiz o poder de comprovada a punição pela vida extinguir a punibilidade concedendo o perdão judicial. Aplica-se ao CTB.
Uma pessoa responsável pelo homicídio culposo de um ente querido receberá uma pena tão brutal, que nenhuma sanção penal a ela se equipara, tornando-se desnecessária. Por exemplo, o pai que esqueceu a criança no carro, o sofrimento provocado pela perda do filho será tão grave que qualquer pena jurídica se tornará irrisória. Nesses casos, o juiz pode deixar de aplicar a pena.
‘Excepcionalidade do crime culposo: A conduta culposa só será considerada típica quando houver expressa previsão legal. O homicídio é o único crime contra a vida que prevê modalidade culposa.
Uma gestante, com sete meses, que desejava intensamente ser mãe, decidiu praticar rafiting, esporte radical, que resultou no abortamento do feto. O aborto foi provocado pela conduta imprudente da mãe. Por qual crime está mãe deveria ser punida? Homicídio, Aborto Doloso, Aborto Culposo, Nada? Primeiramente, há de se analisar o tipo objetivo. A interrupção da gravidez antes do parto, com a morte do produto da concepção, caracteriza aborto. Não caberia homicídio, uma vez em que este só se configura após o início do parto. Outra alternativa a se descartar de pronto seria o Aborto Culposo, pois o aborto não admite a modalidade culposa, sendo esta atípica. Como o enunciado não descreve o dolo da gestante, esta não responderia por crime algum, justamente pela ausência da modalidade culposa do crime de aborto. O que aconteceu, na realidade, foi um aborto culposo, mas este não é típico, então a gestante não deve ser punida por nada.
“Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de um terço à metade, se o agente:
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente;
IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.
V - estiver sob a influência de álcool ou substância tóxica ou entorpecente de efeitos análogos.
Culpa Consciente: Acredita que pode conseguir fazer tal ato antes de ocasionar o ‘acidente’
Induzimento, instigação ou auxílio ao Suicídio
Conceito: o suicídio é a eliminação da própria vida. Por razões óbvias, preso a impossibilidade de punição e que por razões políticas e éticas o Estado não pode punir o suicida, mesmo quanto à sua tentativa. O suicídio, porém, atinge um bem indisponível e não é o exercício de nenhum direito subjetivo (não há “direito de morrer”), por isso, é fato ilícito e a lei consta de normas para impedi -lo.
Objeto jurídico: a vida humana 
Sujeito ativo: qualquer pessoa que pratica um dos atos previsto para colaborar com o evento morte. 
Sujeito passivo: homem capaz de ser induzido, aquele que tem alguma capacidade de resistência à conduta do sujeito ativo. Ressalte-se que quando o suicida é inimputável, apresenta capacidade de resistência nula sendo mero instrumento do agente, por isso não se caracterizaria o crime do art. 122, e sim homicídio típico. 
Elemento objetivo: (núcleo do tipo): Induzir, instigar ou auxiliar (são os núcleos do tipo) alguém a suicidar-se é crime. 
Induzir: é criar, fazer florescer a ideia de suicídio em outra pessoa. Participação moral. 
Instigar: ocorre quando a pessoa já tem vontade de se suicidar e é estimulada a concretizar o que quer fazer. Participação moral 
Auxiliar: significa ajudar a pessoa com todos os meios possíveis para que se retire a vida. É diferente de interferência, pois quem interfere atua diretamente no evento morte. Quem auxilia, por exemplo, dá a arma para a pessoa, a corda para que ela se enforque e etc.
Elemento subjetivo: o dolo é a vontade de induzir, instigar ou auxiliar alguém à prática do suicídio. 
Desde que se tenha, comprovadamente, um nexo de causalidade entre a conduta do agente e o resultado suicídio. Lembrando-se que não há forma culposa para este crime. 
Consumação e tentativa: O crime consuma-se se houver o suicídio ou, não logrando o suicida concluí-lo, uma lesão corporal de natureza grave. A tentativa seria se o agente instigou, induziu ou auxiliou, mas o sujeito passivo não se matou. Esta situação, no entanto, não tem punição. O Código Penal brasileiro somente pune o agente se a vítima morrer ou sofrer lesão corporal grave, se não sofrer nada, não haverá punição. 
Formas qualificadoras: ele será qualificado pela pena duplicada se for realizado: 
Motivo Egoístico: é elemento subjetivo do tipo, composto por finalidade que relava profundo desprezo do autor pela vida alheia, sendo superior a esta seus interesses individuais. Ex.: instigar alguém a se matar para receber herança ou seguro, por vingança, ódio ou mesmo maldade. 
Vítima menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência: quanto a vítima menor, alguns entendem que seriam entre 14 e 18 anos, pois menor de 14 anosqualifica capacidade nula de resistir a instigação, induzimento ou auxilio, entretanto, é muito relativo. Quanto a diminuição na capacidade de resistência, pode ser por embriaguez ou desenvolvimento mental incompleto.
O suicídio é a deliberada destruição da própria vida. Suicida, segundo o Direito, é somente aquele que busca direta e voluntariamente a própria morte.
Tratando-se de doente mental, sem capacidade de discernimento, ou menor sem compreensão, haverá homicídio, falando-se no caso de autoria mediata. A pessoa que tenta suicídio não pode ser responsabilizada criminalmente.
O crime consuma-se com o resultado naturalístico, ou seja, a morte ou lesão corporal de natureza grave.
A tentativa no crime, aqui exposto, é inadmissível, embora, em tese, fosse possível. Se não ocorrer a morte ou lesão corporal de natureza grave, o fato é atípico.
Pode ser praticado de forma simples ou qualificada. Na primeira, é a figura descrita no caput do artigo 122 do Código Penal. Na segunda, é a figura prevista no parágrafo único do artigo 122, onde a pena será duplicada nos seguintes casos:
a) Motivo egoístico: elemento subjetivo que demonstra interesses personalíssimos no evento morte (herança, competição nos negócios etc).
b) Vítima menor: em termos de outros dispositivos, seria a pessoa entre os 14 e 18 anos. Apesar de não haver indicação expressa na Lei indicando a menoridade a que ela se refere, funda-se a agravante em tela na menor capacidade de resistência moral da vítima à criação ou estímulo do propósito suicida por parte do agente.
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único - A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
INFANTICÍDIO (Art.123)
É a vida do ser nascente ou neonato ceifada pela própria mãe, que encontra-se sob influência do estado puerperal.
Trata-se de uma espécie de homicídio doloso privilegiado, cujo privilegium é concedido em virtude da “influência do estado puerperal” sob o qual se encontra a parturiente. É que o estado puerperal, por vezes, pode acarretar distúrbios psíquicos na genitora, os quais diminuem a sua capacidade de entendimento ou auto inibição, levando-a a eliminar a vida do infante.
Conforme Mirabete, “o estado puerperal é o período que vai do deslocamento e expulsão da placenta à volta do organismo materno às condições normais, havendo discordância quanto a seu limite de duração (de 6 a 8 dias a 6 semanas)”.
Não se trata, especificamente, de uma perturbação psíquica, mas de eventual diminuição da capacidade de a parturiente determinar-se, livremente, causa de sua incriminação por infanticídio e não homicídio, fundando-se o tipo especial em um critério psicofisiológico,
Tutela o artigo 123 do Código Penal o direito á vida, contudo, a vida humana extrauterina, assim como no delito de homicídio.
Por ser um crime próprio, somente a mãe puérpera pode praticar o crime em tela, porém, nada impede que terceiro responda por este delito na modalidade de concursos de pessoas: a) mãe que mata o próprio filho com, contando com o auxílio de terceiro; b) o terceiro mata o recém-nascido, contando com a participação da mãe; c) mãe e terceiro executam e coautoria a conduta principal, matando a vítima.
O sujeito passivo do crime é, somente, o filho “durante o parto ou logo após”.
Por se tratar de crime de execução de forma livre, pode ser praticado por qualquer meio comissivo (enforcamento, estrangulamento, afogamento...) ou omissivo (deixar de amamentar a criança, abandonar recém-nascido em lugar ermo com o fim de praticar sua morte - animus necandi)
O elemento subjetivo do crime de infanticídio é o dolo, ou seja, a vontade consciente e voluntária de produzir o resultado. Não existe a modalidade culposa neste crime.
Sobre esta questão, há duas posições na doutrina:
a) O fato será penalmente atípico (posição adotada por Damásio E. De Jesus)
b) Responderá pelo delito de homicídio culposo (posição adotada por Nélson Hungria, Julio Fabbrini Mirabete, Cezar Roberto Bitencourt e E. Magalhães Noronha)
Vale citar a posição de Fernando Capez que entende que o tipo se amolda à segunda conduta (homicídio culposo), pois a capacidade pessoal de previsão do agente (afetada pelo estado puerperal) pertence ao terreno da culpabilidade e não do fato típico.
A consumação do delito se dá com a morte do neonato ou nascente. Por se tratar de um crime plurissubsistente, admite a tentativa quando, por circunstâncias alheias a sua vontade, não logra eliminar a vida do ser nascente ou neonato.
Infanticídio
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
Aborto
O termo aborto deriva de “abortus” e significa interrompido desde o início.
É a interrupção da gravidez com a morte do produto da concepção. Não há necessidade de expulsar o feto do corpo da mãe, basta a interrupção da gravidez. Há procedimento de mumificação do feto (consolidação) e até absolvição, isso quando a gravidez é interrompida de pronto.
A conduta é o abortamento e o resultado é o aborto. Alguns doutrinadores dizem que o crime é o de abortamento. A conduta de interromper a gravidez pode ser realizada em qualquer fase da gravidez (óvulo fecundado, embrião e feto).
Objetividade jurídica
É a vida intra-uterina. Os arts. 1609, 1611 e 1799 do CC demonstram de forma clara que a lei protege o nascituro.
Classificação
A regra é a não punição do aborto. Esse crime tipificado é exceção.
Aborto atípico
Quando não há a descrição do fato típico do aborto.
Aborto natural ou espontâneo: é o oriundo de causas patológicas decorrentes de um processo fisiológico espontâneo do organismo feminino. Ex: choque de PH.
Aborto acidental: deriva de causas exteriores e traumáticas. Ex: queda de escada.
Aborto culposo: é o que resulta de culpa stricto sensu, ou seja, conduta imprudente, negligente ou imperita. O que ganha destaque é o dolo eventual (há crime) e a culpa consciente (não há crime). Não se pune aborto culposo.
Aborto típico ou jurídico – art. 128 (excludentes de ilicitude)
Quando o fato é típico e lícito – aborto legal ou permitido. O fato é típico, porém é lícito/jurídico. Logo não há crime. Além das 4 excludentes de ilicitude, a lei pode criar excludentes específicas a um artigo específico. A finalidade deste artigo é excluir o caráter ilícito do artigo, porém a redação leva a interpretar que a finalidade seria excluir a tipicidade e punibilidade.
1. Aborto terapêutico ou necessário (inciso I): quando não há outro meio de salvar a vida da gestante. A vida da mãe é uma realidade, a vida da criança é uma possibilidade. Opta-se a vida da mãe para não perder as duas, logo não há nada inconstitucional neste aborto.
Há dois estados de necessidade a serem analisados. O que gera a excludente de ilicitude em geral (um dos 4 casos previstos no CP) e o estado de necessidade que gera está excludente, específica do crime de aborto.
Aqui o aborto só pode ser realizado por médico, mais ninguém. O estado de necessidade geral pode ser qualquer pessoa. No estado de necessidade geral é requisito o perigo atual. O perigo atual não é necessário nesta excludente de ilicitude específico do aborto.
2. Aborto humanitário ou sentimental (inciso II): quando o aborto resulta de estupro, com o consentimento da gestante. A lei faculta à gestante o aborto nesta situação. Não é necessário permissão judiciária. O caminho normal é abrir inquérito policial, a modo de garantir a não punibilidade do medito e da gestante que consente.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vidada gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Aborto típico, antijurídico e culpável
É o aborto criminoso. É o aborto realizado pela própria gestante, ou por terceiro, com ou sem o seu consentimento. O aborto criminoso é o aborto doloso, com ressalva do art. 128.
1. Aborto eugênico ou eugenésico: realizado quando o feto apresenta graves e irreversíveis defeitos genéticos. Ex: aborto de feto anencefálico.
2. Aborto econômico ou social: realizado para que não se agrave a situação de penúria ou miserabilidade da gestante.
3. Aborto “honoris causa”: praticado para ocultar desonra própria.
Exceção pluralística à teoria unitária:
Quando houver concurso de pessoas, no crime do aborto, os crimes cometidos são diferentes para os intervenientes. Ex: gestante permite aborto e o medito, com o consentimento, pratica o crime. A gestante responderá pelo crime tipificado no art. 124 o medito responderá pelo crime do art. 126, ambos do CP.
Auto aborto – art. 124, 1ª parte
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Praticar aborto em si mesma. A objetividade jurídica é a vida intra-uterina. Sujeito ativo é a gestante. O crime é próprio e unissubjetivo que admite concurso de pessoas, exclusivamente na modalidade participação. Só há concurso de pessoas quando o terceiro é partícipe. A participação pode ser material/auxilio ou moral/indução/instigação. Não pode ter ato de execução por parte de terceiro, pois assim a gestante apenas dá o consentimento e não pratica o crime. O sujeito passivo é o feto.
O tipo objetivo é praticar aborto em si mesma. O verbo é aborto, praticar manobras abortivas. É necessário que o verbo esteja vivo. Se estiver morto, não há objetividade jurídica. Ex: deixar de tomar medicamente e provocar aborto (crime comissivo por omissão).
O tipo subjetivo é o dolo, pode ser direto ou indireto eventual.
Consumação: consuma-se o auto-aborto com a interrupção da gravidez e a conseqüente morte do produto da concepção.
Admite-se a tentativa de aborto.
Consentimento para abortar – art. 124, 2ª parte
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
A objetividade jurídica é a vida intra-uterina. O sujeito ativo, neste artigo, é a gestante, trata-se de crime de mão própria. Não admite concurso de pessoa, pois o consentimento é ato personalíssimo.
O tipo objetivo: aluir, permitir, concordar. O consentimento traz dois elementos indispensáveis: consentimento válido (a gestante tem condições de consentir e sabe o que está fazendo) e passagem da verbalização à ação (“o consentimento precisa vir vestido”), ou seja, falar e pesquisar sobre o aborto não leva ao crime, deve haver a materialização das ações, como ir à clínica para fazer o aborto com data agendada (conduta deixa claro e inequívoco o consentimento do aborto).
O tipo subjetivo é o dolo, direito ou indireto eventual.
Quanto à tentativa de consentimento de aborto, há dois entendimentos:
Basta que se passe da verbalização à ação. Para esta parte da doutrina, basta ter consentido.
Outra parte da doutrina diz que se consuma quando o consentimento se torna irreversível. Se a gestante se arrepende e impede a consumação do aborto. Assim, só é considerada a tentativa quando há interrupção do aborto, e a gestante não pôde voltar atrás no seu consentimento, estando impedida ou sedada.
Neste crime, não é admitido a tentativa de consentimento/permissão. Ou há consentimento ou não. A gestante deve concordar e consentir a pratica de aborto para tipificar, deve ser um consentimento perfeito, se haverá aborto ou não, deve-se analisar a ação do terceiro. Se não houver aborto, ele comete tentativa de homicídio; se houve o aborto, ele responderá pelo crime de aborto.
A gestante pode até desistir de permitir o aborto, porém é ato de preparação, não entra na fase de execução. Não se considera tentativa.
Aborto sem o consentimento da gestante – art. 125
É a forma mais grave de aborto. A objetividade jurídica fundamental/principal é a vida ultra-interina, é a preocupação principal. Porém há uma secundária objetividade jurídica que é a incolumidade pessoal da gestante/da vida da gestante. Logo, há dupla objetividade.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, exceto a gestante. Logo o crime é comum e admite todos os concursos de pessoas entre executores e participes.
Sujeito passivo: a primeira vítima é o feto, a segunda vítima é a gestante.
O tipo objetivo é o verbo provocar, realizar manobrar abortivas. É crime de forma livre, qualquer meio idôneo para realizar o aborto. É material, plurissubsistente, de dano, instantâneo e progreessivo. A estrututra típica é semelhante ]á primeira parte do caput.
Consumação: consuma-se com a interrupção da gravidez. Admite tentativa.
Não deve ter o consentimento da gestante.
Aborto provocado por terceiro
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos.
Aborto com consentimento da gestante – art. 126
É o mesmo caso do art. 125. A diferença é que neste caso há o consentimento da gestante. A partir do consentimento, deve-se analisar se este é válido ou não.
Válido – art. 126 com a pena do art. 126: se o consentimento for considerado válido, sai do art. 125 e vai para o art. 126, sendo aplicada a pena deste.
Não válido – art. 126 com a pena do art. 125, por força do parágrafo único do art. 126: se o consentimento for não for considerado válido, permanece no art. 126, com a pena do parágrafo único.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Parágrafo único - Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 (quatorze) anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Dissentimento - parágrafo único do art. 126
(Aborto praticado por terceiro, com o CONSENTIMENTO NÃO VÁLIDO da gestante)
Real
É o consentimento real, admitido pela gestante.
Fraude: enganar, levar ao erro.
Grave ameaça: ameaça verossímel, realizável, causa medo a ponto de levar ao consentimento. A violência não é física, é “vis relativa”/violência moral. Não se confunde com grave ameaça o temor reverencial. Neste caso, a gestante responde pela parte final do art. 124 e quem abortar responde pelo art. 126 (consentimento válido).
Violência: é a violência física, a “vis absoluta”.
Ficto
É o consentimento presumido, não válido.
Menor de 14 anos:
Alienada: não tem compromisso com a realidade, não se confunde com o rebaixamento mental.
Débil mental: expressão antiga (parte especial do código) – desenvolvimento mental incompleto ou retardado, pessoa com o rebaixamento mental
Resumão
Auto aborto X Aborto com ou sem consentimento
A estrutura típica é a mesma. O verbo é o mesmo. O que muda são os agentes.
Causas de aumento de pena
Não é forma qualificada.
A lesão grave está no art. 129, parágrafos 1º e 2º.
Há três coisas a serem analisadas:
São preterdolosas: dolo no aborto e culpa no resultado lesão ou morte. O aborteiro quer ou assume o risco de provocar o aborto, entretanto, causa lesão grave ou morte da gestante, por imperícia, negligencia ou imprudência.
As causa de aumento de pena são aplicam exclusivamente nos arts. 125 e 126, ou seja, só poderá aumentar a pena no aborto cometido por terceiro, com ou sem o consentimento da vítima. A gestante é vítima, logo a objetividade jurídica, mesmo que secundária, é a incolumidade pessoal
Há dois resultados: um resultado pode ocorrer durante o aborto, o outro resultado pode ocorrer depois de realizado o aborto, mas por causa dele.
Se o aborteiro quiser lesar ou matar a gestante, eleagirá com dolo e serão aplicados os arts. 126 + 121. Não aplicar-se-á o art. 127.
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Aborto de feto anencefálico
Não há lei que permita o aborto de feto anencefálico.
Liminar foi cassada: delicadeza do tema (decidido apenas por uma única pessoa e órgão colegiado) e liminar satisfativa (após o aborto, não há mais interesse – satisfaz a autora).
O julgamento demora, basta uma lei federal para definir este assunto. Porém, o legislador tem receio de enfrentar questões polêmicas, deixando para o Judiciário julgar casos concretos, criando uma jurisprudência sobre o assunto.
LESÕES CORPORAIS(art.129)
Há 11 resultados que qualificam a lesão corporal.
Art. 129 caput – lesão leve ou simples
§ 1º - doutrinária e jurisprudencialmente lesões graves
§ 2º - doutrinária e jurisprudencialmente lesões gravíssimas
Obs: a lei não distingue a lesão grave da gravíssima nos parágrafos
§ 3º - lesão corporal seguida de morte
§ 4º - lesão corporal privilegiada
§ 5º - substituição de pena
§ 6º - lesões culposas (exceto decorrente de acidente de trânsito)
§ 7º - causas de aumento de pena
§ 8º - perdão judicial
§ 9º - lesão qualificada pela violência doméstica
§ 10º - causas especiais de aumento de pena dos parágrafos 1º a 3º
§ 11 – causas especiais de aumento de pena da lesão qualificada pela violência doméstica
Conceito de Lesão corporal: É crime de dano, ataque, enfrentamento do bem jurídico.
Doutrina: Lesão corporal é todo e qualquer dano ocasionado à normalidade funcional do corpo humano, quer do ponto de vista anatômico, quer do ponto de vista fisiológico ou mental. Não é qualquer coisa que causa a alteração dos tecidos. Engloba proteção da integridade física e saúde. Causar doença ou moléstia é lesão corporal.
Objetividade jurídica: Incolumidade física e saúde, física e mental.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa pode praticar lesão corporal. É crime comum, unisubjetivo, admite concurso de pessoa em todas as modalidades.
Sujeito passivo: Qualquer pessoa pode ser vítima (ser humano vivo).
Tipo objetivo: O verbo é o ofender, empregado como lesar, causar mal, macular a integridade física. Vide tipo objetivo do art. 121.
Tipo subjetivo: Admite forma: doloso, culposa e preterdolosa.
A forma dolosa esta no caput e nos parágrafos: 1º, 2º, 3º e 9º. No dolo, poder ser direito ou indireto (eventual ou alternativo).
A lesão culposa está no parágrafo 6º, exceto decorrente das leis de trânsito (CTB)
A lesão preterdolosa está no parágrafo 3º.
“Laedendi animus” ou “Animus nocendi”
Expressões utilizadas para identificar a intenção de lesionar.
Consumação e tentativa: Consuma-se com a ofensa a integridade física, ou seja, impedimento ao normal funcionamento do corpo. É muito comum encontrar a tentativa de lesão corporal.
Lesão leve: deve estar qualificada no caput do artigo.
Tentativa de lesão corporal grave
Se o resultado for culposo ou preterdolo – não admite-se a tentativa de lesão corporal grave
Se o resultado for doloso – admite-se a tentativa de lesão corporal grave
Lesão corporal grave
Esses fatos qualificadores são admitidos nas seguintes formas: não há duvida que nesses 4 resultados podem ser admitidos por culpa. Admite-se a forma preterdolosa: dolo na lesão, culpa no resultado. Porém esse resultado pode ser por conduta imperita, negligente ou imprudente. Nada impede que a pessoa queira lesionar para conseguir o resultado da qualificadora. Ex: atleta contrata alguém pra lesionar concorrente por longo período. Assim o resultado é doloso.
Lesão corporal de natureza grave
§ 1º - Se resulta:
I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias;
Resulta em incapacidade, impossibilidade, habitual ou realizar ao menos uma atividade (rotineira, tem que ter periodicidade). Não cabe a redução da habilidade ou dificuldade para realizar atividades, deve haver a incapacidade por mais de 30 dias (contados a partir da lesão e não do laudo pericial). A pessoa é submetida a novo exame no 31º dia após a lesão para concluir se há lesão corporal de natureza grave, tipificada no § 1º, I.
Base na conclusão/laudo pericial: Objetiva: constatação da lesão -Subjetiva: valoração de que a lesão incapacitou a vítima.
O laudo pode ser discutido em juízo somente em sua parte subjetiva (se efetivamente a lesão incapacitou a pessoa nas suas atividades). Não se discute a parte objetiva do laudo de corpo de delito. Afastada a qualificadora, a lesão é leve.
II - perigo de vida;
Perigo de vida é a probabilidade concreta e presente do resultado letal. É um conceito objetivo-subjetivo porque é um trecho da realidade que demanda valoração. Parto de um fato concreto, que aconteceu e não de uma coisa conceitual, esse acontecimento é valorado e coloca em risco de morte a vitima. Ex: fato causa parada cardíaca na vítima e no laudo consta que a pessoa correu perigo de vida. No laudo deve apresentar as causas que levaram ao perigo de vida, o fato e a valoração devem ser descrito, possibilitando a defesa, contraditório e devido processo legal. A valoração pode ser discutida. A prova é técnica, não serve a opinião de leigo ou de testemunhas.
O dolo de dano é o confronto, ataque do bem jurídico (homicídio)
Dolo de perigo é conduta que apenas expõe bem jurídico a situação capaz de causar um dano.
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
Debilidade significa diminuição, redução, decréscimo. Não se confunde com o inciso III do § 2º (perda do membro). Irreversível pelo atual estágio da medicina. Considera-se no dispositivo: braços, mãos, pernas e pés. Os sentidos são os cinco: paladar, audição, tato, olfato e visão. Função é a destinação principal de um órgão. Ex: função digestória, respiratória, circulatória.
Caso a pessoa fosse cega de um olho e perca a visão por terem lesionado seu outro olho. Não se encaixa neste inciso, pois a pessoa perdeu a visão por completo.
Jamais qualifica por esse inciso a inutilização ou perda. É a debilidade.
A colocação de prótese não afasta a incidência da qualificadora.
IV - aceleração de parto:
É o parto antecipado, fora de hora. Não se confunde com o abortamento (interromper gravidez). Neste caso, o feto tem meios de viver fora do útero (condições de sobrevida fora do útero).
§ 2º - Se resulta:
I - incapacidade permanente para o trabalho;
A vítima perde a capacidade de trabalhar – mitigada sua dignidade (motivo que agrava a conduta). Trabalho = exclusivamente atividade laborativa remunerada. Atividade filantrópica não se inclui. A incapacidade deve se atentar ao que é faticamente impossível – impossibilidade de trabalhar factual/na prática, não em tese. “Se levar ao pé da letra, sempre há a possibilidade de vender bilhetes de loteria”. Ex: pianista perde o dedo – não poderá mais trabalhar profissionalmente – poderá trabalhar ainda, mas não mais como um pianista virtuoso.
II - enfermidade incurável;
É a doença ou moléstia, grave e incurável. É a transmissão dessa doença. Ex: transmissão do vírus HIV.
III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
Da perda à amputação. Exige a perda ou inutilização, ou seja, a eliminação e não apenas a debilidade ou a redução do membro, sentido ou função.
IV - deformidade permanente;
Atrelada à idéia de dano estético. Conceito objetivo (existência da lesão) subjetivo (valoração da lesão como de cunho estético – local visível/perceptível/vexatório). Ex: cicatriz no rosto, queimadura.
V - aborto:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
Interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção. Para que seja imputado esse resultado, é indispensável que ele soubesse ou pudesse saber da gravidez da vítima.
Resumindo o § 1º - agravantes da lesão corporal grave
Inciso I – admite os resultados dolosoou culposo;
Inciso II – admite o resultado culposo e possibilidade de discutir o resultado doloso (risco de vida – possível tentativa de homicídio);
Inciso III - admite os resultados doloso ou culposo;
Inciso IV - admite os resultados doloso ou culposo.
Resumindo o § 2º - agravantes da lesão corporal gravíssima
Todas as cinco agravantes da lesão corporal gravíssima admitem os resultados preterdolo e o dolo eventual. Os incisos I a IV também admitem o resultado doloso. O Aborto é exclusivamente culposo, se for doloso, responderá pelo art. 125, aborto sem o consentimento da gestante.
Inciso I – admite os resultados doloso ou culposo;
Inciso II – admite os resultados doloso ou culposo;
Inciso III- admite os resultados doloso ou culposo;
Inciso IV – admite os resultados doloso ou culposo;
Inciso V – não admite o resultado doloso, apenas culposo.
Conflito entre agravantes
É possível que haja mais de um resultado, tipificando inciso do § 1º e também do § 2º - aplicar-se-á a agravante mais grave.
É possível haver mais de uma agravante dentro do mesmo parágrafo – aplicar-se-á a agravante mais importante (mais relevante/principal).
Tentativa de lesão corporal grave e gravíssima
Se o resultado qualificador for doloso, admite-se a tentativa de lesão corporal. Quando o resultado qualificador for culposo ou preterdoloso, não há possibilidade de tentativa.
Preterdolo e concurso material
Art. 129, § 2º, IV àLesão corporal dolosa com resultado aborto com qualificador culposo. Ex: marido se descontrola e empurra esposa grávida. Ele não quis assumir o risco de causar o aborto, apenas lesão. Age com imprudência, culpa.
Art. 126 c/c art. 127, 1ºª parte (causa de aumento de pena) - Aborto doloso com resultado de lesão culposa.
Aborto + lesão corporal. Aplica-se as penas dos dois crimes, em concurso material de crimes. Ex: marido empurra dá um soco no olho da esposa grávida e chuta sua barriga. Ela perde o bebe e a visão.
Lesão corporal seguida de morte
§ 3º - Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
É lesão preterdolosa. Dolo na lesão corporal - culpa no resultado morte.
Lesão Corporal Leve, Grave (DEBILIDADE), Gravíssima (PERDA OU INUTILIZAÇÃO E DEFORMIDADE) – Diferença resumida
No caso da lesão corporal de natureza grave, tem-se que sua pena base é de reclusão, de 1 a 5 anos, enquanto a pena base da lesão corporal simples é de detenção, de 3 meses a 1 ano.
Ainda neste diapasão, são 4 as possibilidades que ensejam a incidência desta modalidade qualificada: (I) incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias; (II) perigo de vida; (III) debilidade permanente de membro, sentido ou função; ou (IV) aceleração de parto.
Com efeito, em havendo lesão corporal de natureza gravíssima, a pena base evidentemente aumenta ainda mais, passando a ser de reclusão, de 2 a 8 anos. No tocante ao número de cenários que culminam com sua aplicação, são 5 os casos: (I) incapacidade permanente para o trabalho; (II) enfermidade incurável; (III) perda ou inutilização do membro, sentido ou função; (IV) deformidade permanente; ou (V) aborto.
Diante do que foi exposto até então, são imprescindíveis algumas considerações. A primeira delas diz respeito à debilidade permanente de membro, sentido ou função. A observação a ser feita é referente a casos onde a debilidade ocorre em órgão que possui um par, como é o caso dos rins e dos olhos. Dito isto, ocorre lesão corporal gravíssima ainda que o agente somente cause a deterioração do órgão remanescente, como quando a vítima apenas tem um rim ou um olho.
Ora, é evidente que a perda de um olho não acarreta na perda da visão como um todo. É igualmente incontestável que, caso a vítima dependa apenas de um olho para enxergar e venha a perdê-lo, ocorre uma lesão corporal gravíssima, pois não houve apenas debilidade, mas sim a perda total da função. Na situação em tela, pouco importa se o agente concorreu para a perda da visão dos dois olhos, pois a perda do sentido ocorreu com a eliminação do olho remanescente.
O segundo e último adendo versa acerca da incapacidade permanente para o trabalho. Há divergência doutrinária neste tópico, pois parte da doutrina se posiciona no sentido de que apenas há o enquadramento da lesão corporal gravíssima se houver inaptidão para qualquer modalidade laborativa.

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