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RESUMO MEDIAÇÃO

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Acadêmica: Letícia Feijó
Turno: Matutino 
Mediação de Conflitos
Aula – 1 
Acesso à justiça
O acesso à justiça é direito fundamental do ser humano, reconhecido pelas declarações de Direitos Humanos, como a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) e a Convenção Europeia de Direitos Humanos.
É direito fundamental não apenas o simples acesso ao Poder Judiciário, mas também, e principalmente, a tutela jurisdicional efetiva, rápida e sem demoras indevidas. Isto significa dizer que o Estado deve ser considerado responsável pelos prejuízos que causa quando não presta a eficiente tutela jurisdicional, ou seja, quando não respeita, por omissão, o direito humano fundamental de real acesso à justiça.
O aumento da demanda de processos no Judiciário foi fruto de uma ampliação dos direitos dos cidadãos, entre eles, o direito do acesso à justiça do período após a Constituição de 1988.
O que percebemos, na atualidade, é que os limites do Judiciário, que eram organizados buscando uma precisão, estão com seu alcance diminuído. A expansão da informática, dos meios de comunicação e dos transportes vão estabelecendo múltiplas redes de relacionamento. O formalismo demanda tempo para a solução dos litígios, e o tempo é inimigo da efetividade da função pacificadora.
O Judiciário foi estruturado para atuar sob a orientação de Códigos, cujos prazos e procedimentos tornaram-se incompatíveis com as várias lógicas, processos decisórios, ritmos e tempos, presentes em nosso mundo globalizado.
Estamos no tempo da simultaneidade, com um Judiciário ainda sem meios materiais e técnicos para acompanhar esse contexto cada vez mais complexo.
A garantia ao acesso à justiça deve ser entendida, então, como uma garantia que vai além do simples ingresso no Poder Judiciário. Nesse contexto, tendem a se desenvolver outros procedimentos jurisdicionais como a negociação, a conciliação, a mediação e a arbitragem, como formas alternativas para alcançar a informalidade, a celeridade e a praticidade.
Mecanismos alternativos de resolução de conflitos
É de fato, uma realidade, que devemos recorrer, só em casos indispensáveis, aos tribunais para resolver nossas controvérsias. Não apenas pela demora, pela falta de eficiência, mas, sobretudo para alcançar outros objetivos. É necessário modernizar a prestação jurisdicional, adequando-a a nossa realidade. Isto quer dizer, torná-la mais democrática, mais justa, mais humana. E para isso devemos mudar nossas mentalidades em relação aos conflitos entre nós mesmos e a maneira de solucioná-los. Aceitar a possibilidade de, através da utilização de métodos alternativos e pacíficos de resolução desses conflitos, conciliarmos nossos interesses e alcançarmos a paz tão desejada. É, sem dúvida, resolvendo nossas controvérsias pacificamente, conciliando nossos interesses e conquistando a paz, que teremos a certeza de sempre estarmos alcançando a verdadeira justiça.
Vamos então ver os principais métodos já citados quando vimos o Acesso à justiça.
Você, possivelmente, já participou de uma negociação no decorrer de sua vida. Concorda que a negociação é o caminho natural nas relações humanas para a resolução de conflitos?
Com frequência, em nossas vidas, temos de negociar algumas questões, Tais situações tornaram-se tão comuns que, algumas vezes, não percebem que estamos diante de uma negociação. Em vários momentos, sejam eles no convívio social e familiar, em uma loja, na Universidade, no trânsito ou no trabalho, estamos vivenciando com contínuas propostas e contrapropostas. 
Definição
A negociação pode ser definida como uma relação que duas ou mais pessoas estabelecem a respeito de um assunto, visando encontrar posições comuns e chegar a um acordo que seja vantajoso para todos. 
Dinâmica 
A negociação inicia-se quando há diferença de posições entra as partes. No entanto, ela só existe se houver interesse das partes em tentar chegar a um acordo. Dessa forma, respeitar o outro é uma norma que existe em qualquer negociação.
As partes 
É preciso ficar claro que as pessoas não são consideradas inimigas em uma negociação. Muito pelo contrário, são vistas como colaboradores, trabalhando para eliminar as diferenças existentes e chegar a um acordo aceitável por todos. Quando negociamos, enfrentamos os problemas e não as pessoas. 
Meta de negociação 
Buscar um acordo que satisfaça as necessidades de todos os envolvidos. Deve-se tentar chegar a uma solução equitativa que inclua os pontos de vista e interesses de todos os envolvidos
Assim, todos os envolvidos considerarão o acordo como algo construído por todos, e não como uma solução imposta. 
Enfim, todos sairão satisfeitos de uma negociação, com a intenção de cumprir o que foi combinado e como interesse de manter essa relação que teve um resultado tão vantajoso para ambos. 
Conciliação
Conciliar, se olharmos os dicionários, significa harmonizar-se, alcançar pacificação. A tentativa de conciliação prevê, portanto, a expressão maior do pacto social entre as partes. 
Conceito
Conciliação é uma forma de resolução de controvérsias na relação de interesses administrada por um Conciliador (investido de autoridade ou indicado pelas partes), a quem compete: aproximar as partes, controlar as negociações, aparar as arestas, sugerir e formular propostas, apontar vantagens e desvantagens. O objetivo do conciliador é sempre o de estabelecer uma composição do litígio pelas partes.
O Conciliador
A participação ativa do conciliador, como instrumento e garantia de possibilidade de acordo, a renovação da proposta pelo juízo e o bom senso das partes e dos advogados são questões fundamentais. Empenho e técnica, assim como o tratamento respeitoso, farão com que as partes, diante da resposta rápida e eficiente através da conciliação, sejam vistas como o próprio fim da prestação jurisdicional.
Características da Conciliação
A conciliação tem suas próprias características. Além da administração do conflito por um terceiro imparcial, esse conciliador tem a prerrogativa de poder sugerir um possível acordo, após avaliar as vantagens e desvantagens que tal proposta acarretaria para as pessoas.
Amparo legal
Em resposta aos anseios sociais e em atendimento ao mandamento constitucional, contido no artigo 98 da Constituição da República Federativa do Brasil (1988), o Legislativo editou e aprovou a Lei 9.099/95. Os Juizados Cíveis e Criminais, de que trata essa lei, são órgãos da Justiça criados para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência, disciplinadas por essa lei. O processo, nesses Juizados, orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade.
Juizados e Justiça do Trabalho
O Juizado Especial Cível (JEC) tem competência para a conciliação, processo e julgamento de causas cíveis de menor complexidade. O Juizado Especial Criminal (JECRIM) também tem competência para a conciliação, julgamento e execução de infrações penais de menor potencial ofensivo, tais como as contravenções penais e os crimes que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com multa, excetuando os casos em que a lei prevê legislação especial.
ATENÇÃO: A conciliação é também consagrada na Justiça do Trabalho para prestigiar o espaço de autonomia das vontades individuais, buscando uma solução negociada de conflitos entre patrão e empregado. 
Arbitragem
A arbitragem já estava prevista em nossas leis há muito tempo, e, segundo alguns autores, ganhou força apenas em 1996, quando foi editada a Lei 9.307 – Lei de Arbitragem.
A arbitragem é um meio privado e alternativo de solução de controvérsias extrajudiciais de direito patrimonial disponível nas áreas cível, comercial e trabalhista. Ela pode ser usada para resolver problemas jurídicos sem a participação do Poder Judiciário. É um mecanismo voluntário: ninguém pode ser obrigado a se submeter à arbitragem contra sua vontade.
Instrumentos da arbitragem
Os instrumentos que podem ser utilizadosna arbitragem são a cláusula compromissória e o compromisso arbitral.
Esses dois instrumentos levam as partes para a arbitragem e excluem a participação do Judiciário, desde que a escolha pela arbitragem tenha sido feita livremente por todos os envolvidos.
Adesão das partes
É importante destacar que ninguém pode ser obrigado a assinar um compromisso arbitral ou um contrato que contenha a cláusula compromissória.
Contudo, se os envolvidos já fizeram livremente a opção pela arbitragem no passado, não poderão voltar atrás no futuro e desistir dela, caso surja algum problema. Somente será possível recorrer ao Judiciário se tiver ocorrido uma violação grave do direito de defesa, bem como em outras situações bem limitadas.
Mediação
A Mediação é um meio alternativo de solução de controvérsias, litígios e impasses, na qual um terceiro, imparcial, de confiança das partes (pessoas físicas ou jurídicas), livre e voluntariamente escolhido por elas, intervém, agindo como um “facilitador”, um catalisador, que, usando de habilidade e arte, as leva a encontrar a solução para as suas pendências. Na Mediação, as partes têm total controle sobre a situação, diferentemente da Arbitragem, na qual o controle é exercido pelo Árbitro; assim como na Conciliação, pelo Conciliador.
O Mediador é um profissional treinado, qualificado, que conhece muito bem e domina a técnica da Mediação. A mediação vem sendo adotada pelo Judiciário, com experiências em vários Estados brasileiros, ainda em busca de um conceito, porque, muitas vezes, têm conteúdo de Conciliação. Mas o importante é a iniciativa e a aceitação da experiência.
ATIVIDADE
I- Administração do conflito por um terceiro imparcial. Este tem a prerrogativa de poder sugerir um possível acordo, após a avaliação das vantagens e desvantagens que tal proposição traria a ambas as partes.
II- É o caminho natural nas relações humanas para a resolução de conflitos. A todo o momento, em nossas vidas, temos algumas questões para serem resolvidas dessa forma.
III- Já estava prevista em nossas leis há muito tempo, mas ganhou força apenas em 1996, quando foi editada a Lei n.º 9.307.
IV- As partes têm total controle do procedimento, mantendo a autonomia para decidir os aspectos em questão.
Escolha a alternativa correta.
 I- Conciliação; II- Negociação; III-Arbitragem; IV- Mediação.
Aula – 2 
Canadá e EUA
O uso da mediação aumentou em muitos países e culturas, mas talvez tenha aumentado de forma mais rápida nos Estados Unidos e no Canadá. Os primeiros setores em que a mediação foi formalmente instituída situavam-se na área trabalhista, para tratar de conflitos entre patrões e empregados, em 1913.
Na esfera federal, nos Estados Unidos, serviu de modelo para o desenvolvimento de resolução de disputas, nas comunidades e em relação às práticas discriminatórias quanto à etnia e à nacionalidade. No Canadá, foram organizados serviços de resolução de disputas, também, para lidar com as diferenças entre comunidades étnicas.
Em muitas comunidades norte-americanas e canadenses, a mediação, segundo Moore (1998), vem sendo aplicada em conflitos entre proprietários e arrendatários de terras, em questões relacionadas aos desabrigados, em conflitos entre os cidadãos e a polícia e em disputas entre consumidores.
Além de programas de mediação local, há programas de âmbito estadual em muitos Estados norte-americanos.
A mediação é praticada nas escolas e nas Instituições de Ensino Superior em ralação às disputas de alunos entre si, entre alunos e professores, entre os membros do corpo docente e entre o corpo docente e a administração. 
Os sistemas de Justiça Criminal do Canadá e dos EUA têm utilizado a mediação para as queixas criminais, incluindo os programas de mediação entre vítimas e agressor. Outra área de crescimento muito rápido da mediação é a área de disputas familiares, em questões como guarda de filhos e separações. 
Nos setores corporativos e comerciais, segundo Moore (1998), a mediação, em alguns tipos de disputa, ultrapassou a arbitragem quanto a sua escolha. Uma área de amplo crescimento, nos EUA e no Canadá é a atenção à saúde. São tratados casos de negligência médica, além de conflitos entre médicos, administradores, hospitais, equipes técnicas, disputas bioéticas, negação de cobertura de seguradoras de saúde etc.
China
A República Popular da China vem praticando a conciliação para resolver disputas interpessoais, comunitárias e cíveis através dos Comitês de Conciliação e tribunais de conciliação. Esses Comitês Populares são prestadores de serviços institucionalizados pelo governo. A mediação tem sido introduzida para resolver disputas ambientais entre jurisdições e entre entidades governamentais. Hong Kong institucionalizou as mediações comerciais e familiares. Segundo Nazareth (2009), o país já formou um milhão de mediadores.
Japão
O Japão tem uma longa história quanto ao uso da mediação. As bases da mediação japonesa estão ligadas aos costumes do país. A mediação está incorporada à cultura empresarial e é utilizada nos tribunais para casos cíveis de uma forma geral, principalmente na área de família. A mediação é obrigatória para a maior parte dos procedimentos de divórcio e para muitas questões entre pais e filhos.
Outros países
A Coreia desenvolveu a mediação para lidar com conflitos familiares e cíveis através de programas independentes dos tribunais. A Tailândia, a Malásia e a Indonésia desenvolveram vários setores em que a mediação é usada. As Filipinas e o Sri Lanka estabeleceram programas de mediação comunitária para os conflitos cíveis e criminais de menor potencial ofensivo. Na Índia, os Tribunais Populares oferecem mediação e conciliação para conflitos matrimoniais e cíveis. O Nepal desenvolveu os processos de mediação para tratar de conflitos conjugais, financeiros e ambientais. 
Austrália
Na Austrália, a mediação em vários setores teve apoio financeiro de agências governamentais. Na maioria dos Estados, foram fundados Centros de mediação comunitária para as disputas cíveis e de vizinhança. Além disso, tem sido bem desenvolvida a mediação em disputas industriais e culturas dos povos aborígenes. 
Nova Zelândia 
Assim como a Austrália, a Nova Zelândia também teve desenvolvimento na mediação, muito semelhante aos EUA. Na Nova Zelândia, a mediação é utilizada em várias disputas como: comerciais, cíveis, crimes de menor potencial ofensivo, familiares, trabalhistas, habitacionais, agrárias e ambientais. 
Melanésia
Na Melanésia, as aldeias têm um conselheiro e um comitê que se reúne para analisar as disputas. Esse processo é, ao mesmo tempo, um julgamento e um acordo por consenso. 
África e Oriente Médio
Segundo Moore (1998), a mediação é usada tanto nas sociedades africanas tradicionais como nas sociedades modernas, variando de tribo para tribo e de região para região. No Quênia e na Somália, o trabalho de mediação tem sido realizado por um Comitê, por grupos religiosos e não religiosos locais para disputas entre clãs e disputas étnicas. A África do Sul tem apresentado o maior desenvolvimento, neste continente, no que diz respeito à mediação formal. Em 1968, foi fundado um Centro de Resolução de conflitos que foi importante, não apenas para a resolução de conflitos, mas também para a redução da violência, dos conflitos trabalhistas, raciais e políticos. Desde as eleições nacionais de 1994, a mediação mudou seu enfoque da violência para o desenvolvimento e reconciliação nesse país.
Há séculos, nas sociedades árabes, a mediação, em tribos e cidades, tem sido o método utilizado para resolver disputas e tem sido adaptado, atualmente, para questões políticas e militares internas e entre os Estados Árabes. O uso de intermediários no Oriente Médio para ajudar nas resoluções de disputas é muito comum hoje. A mediação tem papel importante nos conflitos diplomáticos e nas guerras.
Europa
O movimento pela mediação na Europa teve início no fim da década de 90, seguindo a nova era que emergia nos EUA a partir da Pound Conference de 1976,em que nasceram conceitos como o multi-door courthouse. Apesar disso, muitos países já conheciam e utilizavam a mediação.
A Comunidade Europeia, em 1986, através do Conselho Europeu, encaminhou uma recomendação do Conselho de Ministros aos Estados Membros, sugerindo que fossem estudados mecanismos alternativos para o tratamento de conflitos, dando ênfase à mediação e reconhecendo a sobrecarga de processos dos tribunais europeus. As formas como as nações europeias se organizam, dependem dos seus fatores constitucionais culturais e políticos, no entanto, os mecanismos alternativos de resolução de conflitos têm sido amplamente utilizados. Em 1998, foram publicados os Princípios Europeus sobre Mediação Familiar, pelo Conselho Europeu, cujo texto foi elaborado pelos representantes dos quarenta Estados Membros desse Conselho.
Diferentes modelos se desenvolveram na Europa, alguns países regulamentaram a mediação e tornou-se comum a existência de programas de mediação para resolver conflitos envolvendo direitos dos consumidores. O Parlamento Europeu desenvolveu, em 2004, um projeto para uma Diretiva relativa à mediação, culminando com sua publicação em 2008. Em 21 de maio de 2008, foi publicada a Diretiva nº 52 pelo Parlamento Europeu, oriunda da recomendação fundamental lançada em 1998 (98/257/CE) e em 2001 (2001/310/CE) (PINHO e PAUMGARTTEN, 2013).
Nessa Diretiva, de acordo com Pinho e Paumgartten (2013), os Estados-membros europeus seriam livres, quando da transposição aos seus ordenamentos internos, para disporem sobre os métodos que seriam adotados na instalação de programas de mediação.
América Latina
Nos últimos cinco anos, tem aumentado, na América Latina, o uso das resoluções alternativas de disputas aplicadas ao Direito Objetivo e à administração da Justiça. Vejamos como os países seguintes utilizam a mediação na resolução de suas disputas. 
Colômbia
Na América Latina, a Colômbia é um dos países que tem maior experiência na mediação. A prática iniciou por volta do ano de 1983, sendo muito avançada no setor privado da arbitragem comercial. A Colômbia foi a pioneira no uso da mediação entre os países da América Latina. Optou-se por um modelo descentralizado e desjuridicializado de solução de conflitos, judicial e extrajudicial. Serviços prestados por centros de conciliação e arbitragem, conectados aos tribunais e utilizados como monitores do sistema no Ministério da Justiça. O decreto nº 2.651 fazia referência direta ao método, embora dispositivos legais editados anos antes já fizessem menção à mediação como forma de aliviar a carga de trabalho das varas judiciais. Atualmente, o país possui um dos mais avançados trabalhos com mediação no setor privado. (NAZARETH, 2009, p. 26).
A experiência da Colômbia em conciliação extrajudicial foi importante, sobretudo porque influenciou vários países vizinhos, como por exemplo, o Peru.
Peru
No Peru, a lei institucionalizou a conciliação extrajudicial e criou um requisito de procedibilidade da ação judicial. Este modelo tem a vantagem de haver regulado a prestação dos serviços por intermédio de centros supervisionados pelo Ministério da Justiça, não somente no que diz respeito ao cumprimento dos requisitos legais, mas também em relação à qualidade dos serviços e cumprimento de normas éticas. 
Bolívia
A Bolívia institucionalizou a arbitragem, conciliação e mediação, por meio de Centros de Conciliação, sob a égide do Ministério da Justiça, seu controlador, tais centros são utilizados como canais não formais de acesso à justiça.
Equador
Organizado em Centros de mediação e arbitragem, o sistema do Equador, permite balancear adequadamente a atividade de resolução de alternativa de conflitos de interesses no setor público e no privado. É considerado um modelo adequado para o desenvolvimento adequado da mediação, sendo acessível, inclusive, às comunidades indígenas. 
Guatemala
Na Guatemala desenvolveu-se um sistema denominado bi frontal; por um lado, anexo aos tribunais onde se atendem casos advindos dos juízes ou a requerimento de pessoas individuais, instituições públicas ou privadas. Quando se tratar de mediação penal será necessário à homologação judicial para sua validade. Possibilitou-se, também, o desenvolvimento de centros privados ou públicos, além de centros comunitários que atendem com mediação os conflitos dos povos indígenas. 
Nicarágua
Na Nicarágua, a mediação foi adotada, em matéria de conflitos de terra, como procedimento obrigatório, uma vez integrado à lide; ou o uso da arbitragem quando solicitado pelos sujeitos. A mediação prévia obrigatória é, muitas vezes, descartada para economia do tempo do juiz, salvo quando se tratar de medidas penais ou de ordem pública. 
Argentina
Na Argentina especificamente, desde 1991 existe a RADs (“Resolução Alternativa de Disputas”), quando foi desenvolvida a arbitragem e iniciada a mediação por meio da criação de uma comissão de juízes e advogados. Posteriormente, foi aprovada a Lei Nacional de Mediação e Conciliação, a qual teve vigência a partir de 1996. O país teve por base inicial as regras do Instituto de Justiça Estatal do Centro para Resolução de Administração Judicial, com sede em NY. 
Mediação no Brasil 
1988
No Brasil, a partir da Constituição de 1988, quando se redemocratizou o país, o Judiciário começou a ser demandado pela maioria da população brasileira. Essa explosão de demandas judiciais, ligada à busca da cidadania, teve reflexo imediato: a crise do Poder Judiciário.
Por um lado, nunca o Judiciário teve tanta visibilidade para a população; por outro, a qualidade dos serviços prestados decaiu, especialmente por falta de estrutura material ou de pessoal, além de uma legislação processual inadequada aos novos desafios institucionais. Surge, a partir desse momento, o fenômeno da judicialização das relações políticas e sociais e o tema da democratização do acesso à justiça.
O acesso à justiça, porém, não se limita ao ajuizamento de uma ação perante o Poder Judiciário, mas à garantia de entrada a um processo justo, sem impedimentos e demora, e adequado à solução do conflito. Dessa forma, percebeu-se que facilitar a comunicação entre os litigantes e garantir mais liberdade na discussão de suas desavenças contribui para a construção de uma solução consensual, com a vantagem de tornar as partes mais propensas em cumprir voluntariamente o acordo, bem como prevenir novos desentendimentos.
Por força dessas vantagens, a mediação veio sendo difundida paulatinamente em nosso País. Curiosamente, com o advento da lei de Arbitragem (9.307/96), observou-se um número crescente de câmaras arbitrais também especializadas em mediação. A primeira tentativa de encaminhar uma lei versando especificamente sobre a mediação foi apresentada em 1998 (PL 4.827/98), oriunda de uma proposta da Deputada Zulaiê Cobra, definindo o instituto.
A proposta teve por objetivo fixar as diretrizes fundamentais do procedimento, mas sem regulamentar todos os detalhes. Aprovado o projeto na Câmara dos Deputados, a proposição seguiu para o Senado Federal (PLC 94/2002). Por outro lado, o Instituto Brasileiro de Direito Processual – IBDP e a Associação de Magistrados Brasileiros – AMB, através de uma equipe de juristas, elaboraram um anteprojeto de lei sobre mediação, demonstrando que o debate sobre o tema também se fez presente no meio jurídico-acadêmico.
2003-2006
Na verdade, diante da variedade de propostas legislativas e da diversidade de abordagem da questão, houve audiência pública promovida pelo Ministério da Justiça, em 17 de setembro de 2003, e que resultou numa “versão única”.
Encaminhada essa versão ao senador Pedro Simon, relator do projeto de lei então aprovado na Câmara dos Deputados, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal – CCJ/SF, em junho de 2006, acolheu as sugestões apresentadas na forma de um substitutivo, o qual também prestigiou algumas modificações.
Esse projeto não conseguiu avançar na Câmara dos Deputados, assim como outras propostas legislativas referentesà utilização da mediação, notadamente para a solução de conflitos familiares, como são exemplos os seguintes Projetos de Lei na Câmara dos Deputados: 5.696/2001, 599/2003, 1.415/2003, 505/2007, 507/2007, 1.690/2007, 428/2011 e 5.664/2013. (SALOMÃO, 2015).
No Senado Federal, outro projeto de lei apresentado para regulamentar a mediação – o PLS 517, de 2011, de autoria do Senador Ricardo Ferraço –, permaneceu à espera de debate por mais de dois anos.
2010
O conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a Resolução n.125, de 29 de novembro de 2010, indicando a mediação como meio de resolução de conflitos inserido na Política Judiciária Nacional de trabalho adequado de conflitos, a ser desenvolvida pelo próprio Conselho e pelos Tribunais do país, em parceria com outros órgãos e instituições. 
2013
O Senado Federal, por iniciativa do Presidente Renan Calheiros, instalou, em 3 de abril de 2013, uma comissão de juristas, com a finalidade de elaborar um anteprojeto de lei de arbitragem e mediação. Após seis meses de trabalho intenso – em que foi garantida ampla participação ao público interessado –, foram apresentados dois anteprojetos de lei: um que propunha alterações na atual Lei de Arbitragem (PLS 406/2013) e outro sobre mediação extrajudicial (PLS 405/2013).
O Ministério da Justiça, concomitantemente, sob orientação do Secretário da Reforma do Judiciário, Flávio Crocce Caetano, instituiu uma comissão de juristas com o objetivo de formular proposta que subsidiasse a adoção de formas adequadas à solução célere de conflitos. E o resultado foi a elaboração de anteprojeto de lei de mediação que também passou a tramitar no Senado Federal (PLS 434/2013).
2015
Analisando conjuntamente esses 3 projetos de lei (PLS 517/2011, 405/2013 e 434/2013), a Comissão de Constituição e Justiça do Senado, sob a Relatoria do Senador Vital do Rego, apresentou substitutivo. Encaminhado o projeto de lei à Câmara dos Deputados (PL7.169/2014), foi elaborado substitutivo pelo Deputado Sergio Zveiter. Remetido novamente ao Senado, o projeto foi finalmente aprovado no dia 02 de junho de 2015, esforço conjunto envolvendo os 3 Poderes e todos que participaram de sua elaboração, e foi sancionado em 26 de junho de 2015, pela Presidente Dilma Roussef, como Lei 13.140.
A aprovação e posterior promulgação do marco legal da mediação é mais um passo na direção de um moderno sistema de resolução de conflitos no país e na construção de uma cultura que privilegie o diálogo, o consenso e a paz. A Lei prevê, em suas disposições finais, que a mediação seja amplamente utilizada no país, podendo ser aplicada em diferentes tipos de conflito. A intenção do legislador é de incentivar o desenvolvimento de novas modalidades de mediação, abrindo espaço, dessa forma, para ampliação de sua aplicação a diversos tipos de conflitos.
ATIVIDADE
A Comunidade Europeia vêm recomendando as RAD’s (Resoluções Alternativas de Disputas) em seus estados-membros. Podemos enfatizar nesse sentido:
RESPOSTA:
A publicação dos princípios europeus sobre a mediação familiar cujo texto foi elaborado pelos representantes dos estados-membros.
Aula – 3
Alguns Saberes 
Direito
A Mediação inspira-se no Direito quando objetiva auxiliar as pessoas a resolverem seus conflitos, orientadas pelo parâmetro da solução justa, respeitando as questões legais determinadas pela sua cultura. Isso fica mais claro quando, por exemplo, é solicitada a revisão legal de um acordo, antes da assinatura pelos mediandos, sempre que a matéria assim o exigir, cumprindo uma norma ética na Mediação. A mediação, dessa forma, poderia ser considerada como uma forma de ordem jurídica justa, porque leva a uma justiça mais:
Adequada: Aumenta o acesso à justiça porque, entre os outros métodos, possui uma forma mais apropriada de abordar e resolver aquele determinado conflito.
Tempestiva: Por ocorrer no tempo dos mediandos, uma vez que, de certa forma, estabelecem o período de duração da mediação, a partir de suas habilidades e capacidades de negociação, aumentam o acesso à justiça.
Efetiva: A solução é construída pelas próprias pessoas envolvidas no conflito, tendo como base a satisfação e o benefício mútuos, a partir do atendimento de suas necessidades, aumentando, assim, o acesso à justiça (ALMEIDA, 2014).
Sociologia
A contribuição da Sociologia é decisiva para a compreensão do valor das redes sociais nos processos de negociação. Mediadores também trabalham com a negociação que os mediandos precisam fazer com os seus interlocutores – advogados, amigos, parentes, colegas de trabalho ou de crença religiosa, entre outros.
Com essas pessoas, são estabelecidas alianças e construídos entendimentos sobre o desacordo e sobre o outro, assim como soluções e interesses a serem defendidos.
Os mediandos não podem, em algumas situações, avançar em uma negociação, em função de compromissos estabelecidos com suas redes de pertinência. Nesses casos, é preciso ajudá-los a negociar com essas redes, dentro ou fora do processo de mediação, para que possa ocorrer a auto composição.
A mediação estimula o diálogo dos mediandos com suas redes de pertinência e permite que elas venham à mediação, quando são identificadas como geradoras de impasses à solução do processo, ou, ainda, quando são o suporte para o cumprimento do que foi estabelecido na mediação.
Psicologia
Da Psicologia, a mediação utiliza as leituras teóricas sobre o funcionamento emocional humano e valoriza as emoções como componente fundamental dos desentendimentos. A mediação trabalha, indiretamente, com as emoções quando se propõe a incluir a restauração da relação social dos envolvidos.
As abordagens que incluem o relacionamento humano como foco não podem deixar de considerar a presença da emoção. Segundo Muller; Beiras e Cruz (2007), a mediação utiliza técnicas da Psicologia, em especial das Psicoterapias, tais como a sumarização positiva e o enquadre, ampliando e tornando mais compreensíveis as diversas mensagens, além de ressaltar a importância da escuta ativa, da interpretação do que está por detrás do discurso e da linguagem corporal.
Do material teórico da Psicologia, também são utilizadas estratégias para trabalhar com os conflitos. Algumas sugerem que se trabalhe com os mais simples, no lugar dos mais complexos, garantindo o nível motivacional das partes, tornando visível, para elas, a capacidade de resolverem os conflitos de forma não adversarial.
Filosofia
Da Filosofia, várias questões dizem respeito ao processo de Mediação. Entre elas, encontra-se o principal instrumento de trabalho do mediador, as perguntas, que devem ser oferecidas como na maiêutica socrática. Filho de uma parteira, Sócrates desejava, pela maiêutica, que as pessoas “parissem” as próprias ideias, após refletirem, em lugar de repetirem, indiscriminadamente e sem análise crítica, pensamentos e ideias do senso comum.
O principal objetivo das perguntas na mediação é gerar informação para os mediandos, que são aqueles que têm poder decisório e serão os autores das soluções, de forma a provocar reflexão. A partir da maiêutica, pode-se auxiliar os mediandos a flexibilizarem as ideias trazidas na fase inicial do processo, momento em que as reais necessidades e interesses do outro não estão sendo ainda levados em consideração. 
Teoria dos sistemas
Há anos, as pessoas perceberam que há coisas comuns nas diferentes áreas do conhecimento. Existem problemas similares que podem ser resolvidos com soluções similares. Essas mesmas pessoas perceberam que algumas características e regras aconteciam em todas as áreas. Assim, surgiu a definição de Sistema, que é um conjunto de elementos inter-relacionados com um objetivo comum.
Todas as áreas do conhecimento possuem sistemas com características e leis independentemente da área onde se encontram. Os sistemas apresentam como características básicas: os elementos formadores do sistema, a relação entre eles e um objetivo comum.
Além disso, não podemos esquecer o meio ambiente, que é o que está fora do sistema, ouseja, não pode ser controlado por ele. No entanto, o sistema pode estabelecer uma relação de troca com o meio ambiente e, por isso falamos que um pode influenciar o outro.
A abordagem sistêmica é uma forma de resolver situações sob o ponto de vista da teoria geral dos sistemas. Muitas soluções surgem quando analisamos um sistema sendo formado por elementos que estabelecem relações entre eles, que apresentam um objetivo, inseridos em um meio ambiente.
Essa abordagem é uma ferramenta, um método que nos capacita a promover mudanças. Ela enfatiza a interação entre os componentes em vez de os componentes por si só, o propósito do sistema em vez de suas causas, as regras operacionais que capacitam o seu desenvolvimento, o objetivo a ser alcançado, o futuro, o envolvimento das pessoas.
O olhar sistêmico, segundo Vasconcellos (2002), contribui para que a mediação reconheça os componentes multifatoriais dos desacordos – legais, psicológicos, sociológicos, financeiros, entre outros, e trabalhe com eles conforme a sua prevalência, de forma a atender aos interesses e necessidades dos mediandos.
Também como resultado dessa abordagem, os mediadores entendem que o que é trazido à mediação faz parte de uma cadeia de acontecimentos passados e futuros e que sua intervenção provocará alterações na lógica de desenvolvimento dessa cadeia, com repercussões sobre um conjunto de pessoas.
Os mediadores comprometem-se com o curso e com o resultado da mediação, agindo na condução de sua dinâmica, avaliando, de forma continuada, a adequação de sua atuação, pois a consideram parte do sistema de resolução. Os mediadores sabem que sua intervenção poderá contribuir para a construção ou para a desconstrução de impasses futuros.
Estratégias da abordagem sistêmica
Algumas estratégias da abordagem sistêmica são importantes na mediação. Vamos vê-las a seguir:
- Dividir para atingir um fim – todo problema deve ser dividido em partes menores porque isso facilita a sua compreensão e o seu manejo;
- Identificar todas as partes do sistema – identificar tudo o que faz parte do sistema, porque algumas partes identificadas podem fazer a diferença;
- Atentar para detalhes que estão sendo demonstrados pelas pessoas;
- Olhar para o todo, para ter uma compreensão sobre como as partes se relacionam;
- Utilizar analogias, comparações, ou seja, usar soluções antigas adaptadas à nova realidade, na solução de problemas similares.
Teoria da cibernética
A Teoria Cibernética ou Teoria do Controle foi desenvolvida pelo matemático N. Wiener. E tem por objeto o estudo da autorregulação dos sistemas, uma vez que é necessária a manutenção da ordem no interior de cada um, ou entre sistemas, combatendo o caos. A cibernética é uma teoria de controle, baseada na comunicação entre os sistemas e o meio ambiente, bem como a comunicação dentro do próprio sistema. A Teoria da Cibernética foi dividida em dois períodos:
1º Período
De acordo com Grandesso (2000), no primeiro período da cibernética, a preocupação consistia nos mecanismos e processos pelos quais os sistemas funcionavam com a finalidade de manter a sua organização. O objetivo do sistema era, então, corrigir os desvios para poder se manter estável e sobreviver. Esse processo é conhecido como retroalimentação, em que um sistema sobrevive mantendo a sua constância apesar das mudanças do meio. 
2º Período
No segundo período da cibernética, mudou-se o foco de trabalho e o conflito passou a ter a função de mostrar que algo não vai bem no sistema. O foco sai do conflito e vai para as relações estabelecidas naquele sistema. Fato importante para o trabalho com a mediação. A partir desse segundo momento, houve a possibilidade de compreender o potencial de transformação dos sistemas, levando ao desenvolvimento de técnicas na mediação que possibilitassem a ampliação dessa capacidade de mudança. 
Teorias de comunicação 
Teorias da comunicação contribuem com numerosas abordagens e dão suporte a algumas das técnicas utilizadas na Mediação.
A comunicação humana é uma das bases de sustentação da dinâmica da Mediação e precisa ser decifrada pelo mediador, a cada momento, de forma a servir de referencial para a identificação da intervenção a ser utilizada.
As contribuições são inúmeras. Algumas estão mais ligadas com o pragmatismo da comunicação humana (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 1967), outras com as narrativas e a análise dos discursos e de sua subjetividade (MAINGUENEAU, 1997).
Os axiomas da comunicação foram desenvolvidos por Watzlawick e colaboradores (1967) e fornecem importante base conceitual para entendermos o processo de comunicação, sendo aplicados no procedimento de mediação.
A seguir, veremos o que, resumidamente, estes autores estabeleceram.
É impossível não comunicar, mesmo quando achamos que não estamos nos comunicando, existe uma mensagem.
Há mediandos que utilizam o silêncio como estratégia para agredir o outro. Outros podem usar o silêncio para criar uma atmosfera de mistério sobre o que estão pensando, para aguardar que os outros transmitam informações importantes, que eles utilizarão de acordo com as suas conveniências.
O silêncio pode permitir a organização dos pensamentos e encorajar a outra pessoa a expandir suas ideias, reações ou sentimentos. Saber calar quando necessário também é muito importante na comunicação.
O silêncio pode, também, ser sentido como confortável ou perturbador, e ser utilizado para aproximar ou afastar as pessoas nas relações com as outras.
Toda comunicação possui uma forma e um conteúdo. A relação entre o conteúdo e a forma na comunicação é chamada de metacomunicação. Pode-se usar de gestos, olhares, expressões corporais e faciais para dar mais ênfase ao que queremos comunicar e ao modo como queremos ser interpretados.
A técnica de metacomunicação é utilizada, em geral, quando queremos expressar algum sentimento, mas de forma não invasiva a uma pessoa. É uma forma menos brusca de se transmitir uma mensagem, como uma preparação para que a pessoa receba a mensagem sem constrangimento ou espanto.
Usamos a metacomunicação quando fazemos uma pequena introdução àquilo que se quer comunicar, por exemplo, ao noticiar fatos ruins, ao dar alguma advertência etc.
Ao censurarmos alguém, podemos realizar uma metacomunicação verbal e não verbal, quando, por exemplo, dizemos “Estou brincando“ e piscamos o olho ao mesmo tempo. Essa comunicação precisa ser neutralizada pelo mediador, que deverá estar atento às situações.
A natureza de uma relação encontra-se na contingência da identificação das sequências de comunicação entre os envolvidos.
É fundamental identificar quem comunica quem responde, como e quando, para obter informações a respeito do equilíbrio ou do desequilíbrio de poder nas relações, dos estados emocionais das pessoas e outras situações significativas na comunicação.
Os seres humanos comunicam-se de forma digital e analógica. Na mediação, na maior parte das vezes, a comunicação será analógica, ou seja, face a face.
Dessa forma, haverá possibilidade de observar os conteúdos analógicos da comunicação, como por exemplo: o sorriso, o brilho no olhar, o timbre de voz, a postura corporal, a disposição para ouvir etc. Esses conteúdos valorizam a comunicação e devem ser explorados pelo mediador.
Todas as trocas comunicacionais são simétricas ou complementares.
As simétricas são aquelas que possibilitam o diálogo entre as pessoas. Já as complementares, em geral, aparecem em situações de dependência, em que um manda e o outro obedece, um grita e o outro se cala, por exemplo. Este último tipo de troca deve ser convertido ou restabelecido em uma troca simétrica através do trabalho do mediador.
Em comum, tais contribuições trazem o entendimento de considerar a linguagem como um cenário em que se constroem os sujeitos, sua forma de expressão e de ação, nas suas relações com os outros.
Comunicação não violenta (CNV)
A Comunicação Não Violenta (CNV) é um processo conhecido por sua capacidade de inspirar ação solidária,ponto fundamental no procedimento da mediação. Foi desenvolvida por Marshall B. Rosenberg, doutor em Psicologia Clínica, mediador internacional e fundador do Centro Internacional de Comunicação Não Violenta.
É uma teoria prática, que se confunde com um processo educativo e questiona os perigos da linguagem. A partir do conceito de Ahimsa, tornado famoso por Mahatma Gandhi, ressalta o poder que é liberado quando a intenção de agredir o outro é totalmente superada.
Baseado na ideia de que todos os seres humanos têm a capacidade da compaixão e recorrem à violência quando não percebem outro recurso, ou quando não têm suas necessidades supridas, busca-se criar uma cultura de expressão que resolva os conflitos, em vez de criá-los.
Para isso, a CNV se baseia na escuta empática e na expressão autêntica em três âmbitos: nossa própria experiência interior, nossa relação com os outros e nossa conexão com os sistemas nos quais estamos inseridos.
Princípios da mediação
“Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico”(GRUNWALD, 2004).
O princípio “vem a ser a fonte, o ponto de partida que devemos seguir em todo o percurso; ao mesmo tempo em que é o início, também é o meio a ser percorrido e o fim a ser atingido” (VILAS-BÔAS, 2003, p. 21).
Vamos, então, estudar os princípios da mediação, tomando como base aqueles elencados na Lei 13.140 de 26 de junho de 2015, ou seja, a Lei da Mediação. Você pode vir a ter contato com vários outros princípios da mediação além desses. Como você já sabe, esse é um tema que não se esgota. Queremos ressaltar que aqueles princípios que não foram contemplados na nossa disciplina, não são considerados menos importantes apenas utilizaram como critério de seleção a fundamentação legal da mediação.
LEI Nº 13.140, DE 26 DE JUNHO DE 2015.
CAPÍTULO I
DA MEDIAÇÃO
Seção I
Disposições Gerais
Art. 2º A mediação será orientada pelos seguintes princípios:
I - imparcialidade do mediador;
II - isonomia entre as partes;
III - oralidade;
IV - informalidade;
V - autonomia da vontade das partes;
VI - busca do consenso;
VII - confidencialidade;
VIII - boa-fé.
Aula – 4 
Conflito
Em geral, conflito pode ser definido como um desentendimento entre duas ou mais pessoas sobre um tema de interesse comum. Conflitos representam a dificuldade de lidar com as diferenças nas relações e nos diálogos, associada a um sentimento de impossibilidade de coexistência de interesses, necessidades e formas de abordar o mesmo tema.
Comecemos nosso estudo sobre o conflito com Remo Entelman. Segundo ele, “O conceito de conflito aparece no discurso político-social há cerca de uns 500 anos antes de Cristo. Se desenvolve através do tempo em pensadores que trabalham com uma ampla gama de disciplinas. A abordagem dos conflitos aparece nos mais afastados pontos do planeta e da História (Kautylia, na Índia, Al Ramein Ibn Kaldum – pensador árabe do século XIII; Heráclito, Maquiavel) e nos últimos dois séculos [o autor se refere aos Séculos XVIII e XIX], a partir de vários economistas”.
Entelman (2005) acrescenta: “Por seu lado, as ideologias fizeram do conflito seu objeto em dois grandes ramos do que hoje se chama ideologia do conflito: o marxismo por um lado, e o darwinismo pelo outro.” Para este autor (Entelman, 2005), o conflito traz, a princípio, uma posição rígida de intransigência, acompanhada, inicialmente, de um interesse real oculto das partes nele envolvidas. Cabe ao mediador tentar realizar a sua descoberta. Segundo o autor, não existe uma teoria do conflito que seja realmente um pensamento novo e sistemático. O que há é uma generalização de conhecimentos que formularam outros para descrever pressupostos concretos sobre esse tema.
Moderna teoria do conflito
Se pedissem para você dizer o que lhe vem à mente quando escuta a palavra conflito, provavelmente, alguns destes significados poderiam ser pensados:
Guerra
Briga
Raiva
Perda
Disputa
Violência
Tristeza
Agressão
Processo
Continuando a nossa conversa, pediria, agora, que você pensasse nas possibilidades para resolver um conflito. Novamente, poderia arriscar que uma de suas respostas poderia ser:
Atribuir culpa
Responsabilizar
Reprimir
Julgar
Analisar fatos
Comportamentos
Diante de tais reações, poder-se-ia sustentar que o conflito sempre consiste em um fenômeno negativo nas relações humanas. No entanto, constata-se que, do conflito, podem surgir mudanças e resultados positivos. É a partir dessa possibilidade de perceber o conflito de forma positiva que surge uma das principais alterações da chamada moderna teoria do conflito. Percebendo o conflito como um fenômeno natural nas relações, é possível vê-lo de forma positiva.
O que saber sobre conflitos
De acordo com Seidel (2007), podemos refletir sobre algumas questões em relação aos conflitos. Vamos a elas:
Conflitos não são problemas
Há uma tendência geral em perceber os conflitos como problemas, ou seja, uma visão negativa do conflito. Os conflitos são normais, não são positivos nem negativos, nem maus e nem bons. É a resposta que se dá aos conflitos que os tornam positivos ou negativos destrutivos ou construtivos. A questão central é a forma como será resolvido o conflito: por meios violentos ou através do diálogo? Os conflitos devem ser entendidos como parte da vida humana, sendo o seu problema apenas a forma como serão enfrentados e resolvidos. 
Diferença entre conflito e briga
Conflitos não se confundem com brigas. A briga é uma resposta ao conflito. Um conflito, segundo Seidel (2007), pode ser definido como a diferença entre duas metas sustentadas por agentes de um sistema social. Além disso, podem ser organizados em três níveis: pessoais, grupais ou entre nações. 
Atitudes básicas frente aos conflitos 
Podemos ignorar os conflitos, responder de forma violenta a eles e lidar com os conflitos de forma não violeta, através do diálogo. 
Benefícios do conflito
A não aceitação do conflito provoca a violência. No entanto, quando se aprende a lidar com o conflito de forma não violenta, ele deixa de ser visto como o oposto à paz e passa a ser considerado como um modo de existir em sociedade. Os conflitos podem trazer os seguintes benefícios, de acordo com Seidel (2007):
Estimular o pensamento crítico e criativo;
Melhorar a capacidade de tomar decisões;
Reforçar a consciência sobre a possibilidade de opção;
Incentivar diferentes formas de resolver problemas e situações;
Melhorar os relacionamentos e a avaliação das diferenças;
Promover a auto compreensão.
Como você percebeu o conflito não é um impedimento para chegarmos à paz. Mas, para construirmos uma cultura de paz (em nossa terceira aula, falamos de Marshall Rosenberg), será preciso mudar nossas crenças, atitudes e comportamentos em relação ao conflito. Uma educação para a paz envolve, necessariamente, reconhecer o conflito e pensar em modos criativos e não destrutivos de resolvê-lo. Para isso, segundo Seidel (2007), temos três possibilidades:
A prevenção do conflito: desenvolvimento de uma percepção à presença ou possibilidade de violência e injustiça, como um sistema de alerta, e a capacidade de analisar o que pode estar ocorrendo;
A resolução do conflito: o enfrentamento do problema e a busca de mecanismos adequados para isso;
A transformação: estratégias para mudança, reconciliação e construção de relações positivas.
Manejo do conflito
Agora que você já conhece as formas construtivas e destrutivas de resolução de conflitos, vejamos como manejá-los. A mudança de foco na evolução da resolução (baseada na imposição, pela força e pelo poder para uma busca de solução que identifique os interesses das pessoas envolvidas e a possibilidade de atendê-las)levou a uma mudança de foco da preocupação com o resultado do problema para uma preocupação com as pessoas e suas relações.
Essa mudança nos leva a entender que não existe uma solução apenas para resolver os conflitos. Dessa forma, vários autores destacam alguns aspectos importantes a serem observados na forma de abordar os conflitos.
Schimidt e Tannenbaum (1992), citados por Moscovici (1997) no Curso de Mediação de conflitos (2009), apontam para três aspectos que devem ser observados no diagnóstico de uma situação de conflito. São eles:
Pontos de vista e interesses divergentes – a natureza das diferenças;
Informações, percepções e papéis que as pessoas ocupam na sociedade – fatores subjacentes;
Momento em que o conflito se encontra – estágio do conflito
Classificação de conflito
Desenvolvendo um pouco mais nosso conhecimento sobre os conflitos, devemos saber que eles têm várias classificações importantes a serem observadas. Podemos dividi-los, segundo Redorta (2007), em:
Intrapessoal
É um conflito exclusivamente nosso, e que, às vezes, existe porque nós vivemos assim. Ou seja, é o que cada um de nós vive quando está perante motivações que são incompatíveis. É o que chamamos de conflito interno. 
Interpessoal
Os conflitos interpessoais se dão entre duas ou mais pessoas e podem ocorrer por vários motivos: diferenças de idade, de sexo, de valores, de crenças, por falta de recursos materiais, financeiros, e por diferenças de papeis. Neste último caso, podemos dividir o tipo de conflito em duas situações: conflitos hierárquicos são aqueles que colocam em jogo as relações com a autoridade existente; e conflitos pessoais, que dizem respeito ao individuo, à sua maneira de ser, agir, falar e tomar decisões. Você já percebeu que as relações interpessoais, com sua pluralidade de percepções, crenças e interesse, são conflituosas. Negociar conflitos é o nosso cotidiano. 
Intragrupal
Falar de conflitos grupais é muito complicado porque a mera descrição de algumas características não esgotará todas as possibilidades de se entender essa questão. As diferenças individuais têm influência na dinâmica dos grupos, podendo levar a discussões, tensões, insatisfações e ao conflito aberto, ativando sentimentos e emoções mais ou menos intensos, que afetam a objetividade do grupo, reduzindo-a um mínimo e transformando o clima emocional do grupo. 
Intergrupal
Esse conflito ocorre quando temos dois ou mais grupos com um problema a ser resolvido. O conflito intergrupal é definido como uma incompatibilidade de objetivos, crenças, atitudes ou comportamentos encontrados entre grupos. 
Social
É o conflito que afeta a sociedade como um todo. Os conflitos na sociedade humana não podem ser reduzidos a uma abordagem, tendo em vista que cada ação, cada cultura, cada sociedade engendra modelos de relações sociais que são, invariavelmente diferentes, gerando conflitos sociais com interesses também diferentes. 
Além disso, para os mediadores, os conflitos também podem ser divididos em quatro espécies. Ainda, tais espécies podem ocorrer de forma cumulativa em determinadas situações. São elas:
Conflitos de valores
Conflitos de informação
Conflitos estruturais
Conflitos de interesses
Níveis de conflito
Ainda podemos falar de diferentes níveis em que o conflito pode ocorrer. São eles:
Latente
O conflito latente pode-se dizer que existe, mas não é dito, porque não é percebida a sua existência por quem o detém. O conflito está lá, mas escondido, não é notando nem sentido ainda; 
Percebido
A pessoa ou as duas partes sabem da existência dele, mas não querem resolvê-lo, talvez por não incomodar o suficiente, ainda, os envolvidos; 
Sentido
É aquele que já atinge ambas as partes, e em que há emoção e consciência da sua existência.
Manifesto
“A agressividade está explícita, os comportamentos são assumidos como tais. Essa agressão explicita pode variar desde a resistência passiva branca, passando pela sabotagem, até o conflito físico real”.
Conflito e mediação
Para lidarmos bem com nossos conflitos interpessoais, devemos desenvolver uma comunicação de caráter construtivo. A evolução do conflito e suas manifestações ligadas à violência variam de acordo com as circunstâncias históricas, sociais, culturais e econômicas. Os conflitos, como percebemos, têm aspectos positivos e negativos, e pode haver um ciclo construtivo e outro destrutivo, a partir de certo nível. A visão negativa que temos do conflito está mais ligada ao desgaste emocional que eles geram.
Um manuseio adequado do conflito tem a ver com a gestão das relações emocionais que eles provocam. O mediador contribui com um outro olhar sobre a questão. Deve fazer com que as partes enxerguem esse conflito como um espaço de reconstrução, de aprendizado e de formação de sua autonomia. O mediador precisa cooperar para que o conflito seja visto e analisado de forma pedagógica e, assim, contribuir para que a mediação seja compreendida como um espaço de aprendizagem das questões que estão sendo discutidas e, também, dos próprios envolvidos.
O conflito precisa ser interpretado e elaborado pelos interessados em conjunto com o mediador, pois é dessa forma que eles poderão ser resinificados e transformados. O mediador deve tratar o conflito como algo positivo, sem a percepção de ameaça, atuando com moderação, equilíbrio, naturalidade, compreensão, não reagindo de forma a lutar ou fugir, pois, se o conflito for visto como uma questão negativa poderá desencadear a reação denominada “retorno de luta ou fuga”.
O mediador não encerra o conflito segundo as normas legais, comunicando a sua decisão às partes. Ele incentiva a construção de um acordo comum, construído a partir dos conhecimentos e com as propostas dos envolvidos. Sendo assim, o mediador estimula a transformação da curiosidade comum em curiosidade do conhecimento a respeito da situação.
A mediação é uma prática pedagógica para a autonomia, voltada para a emoção e ligada com a ressignificação dos conflitos e com a origem dos sentimentos. É importante, na mediação, a escuta do outro, revelando-se, cada vez mais, como uma prática política e ética na formação e no crescimento do ser humano.
Aula – 5 
O significado da palavra negotiatus, de origem latina, é “cuidar dos negócios”. A negociação é um fenômeno muito antigo, usado pela humanidade há muito tempo. Quanto ao seu estudo, as abordagens acadêmicas e profissionais fizeram a descrição da prática da negociação, ligada às áreas de atuação, como na diplomacia, no trabalho, na empresa, com diferentes metodologias e focos.
A negociação é o meio pelo qual as pessoas lidam com suas diferenças. Na verdade, negociar é buscar um acordo por meio de um diálogo. É importante que você perceba que a negociação está de forma permanente em nossas vidas. Negociamos com nossos pais, nossos filhos, nossos companheiros, ou seja, tanto em nossa casa, como no trabalho com nossa chefia ou nossos subordinados.
Conceito de negociação
O que se escrevia sobre negociação consistia em estratégias para tirar vantagem sobre o adversário por meio de truques que só funcionavam se ele não tivesse lido nada sobre o tema. No final da década de 70, a negociação começou a ser estudada de forma integrada, com metodologia e visando uma aplicabilidade a qualquer tipo de negociação e útil para todas as partes envolvidas na negociação.
A partir dessa mudança de abordagem da negociação como tema de estudo e desenvolvimento, surgiram diferentes modelos para a prática da negociação que tiveram a colaboração de várias ciências, como a Psicologia, o Direito, a Sociologia, a Política, entre outras. Essas disciplinas foram importantes porque trouxeram contribuições para o aprofundamento das formas como as pessoas podem resolver os seus problemas juntas, trabalhando e construindo algo sobre as suas diferenças.
Encontramos, na literatura sobre negociação, uma variedade de definições que a conceituam. Vejamos algumas delas:
Negociação colaborativa, integrativa ou baseadaem princípios
Agora que você já conheceu as condições para que ocorra uma negociação, vamos iniciar nossa aprendizagem sobre a Negociação colaborativa ou baseada em princípios, desenvolvida pela Escola de Harvard.
A abordagem principal da negociação, utilizada na mediação, é aquela que foge de uma forma de negociar chamada de posicional. Nesse tipo de negociação, os negociadores se tratam como oponentes o que acarreta uma situação em que um ganha e o outro perde. No lugar de analisar os méritos da questão, as partes pressionam o máximo e cedem o mínimo. Desse modo, pode haver um aumento de raiva e ressentimento, prejudicando a relação social dos envolvidos e, principalmente, levando uma parte a sentir que está cedendo às intransigências da outra, enquanto suas preocupações permanecem desatendidas. Voltaremos a apresentar essa negociação quando abordarmos a barganha distributiva.
Destacamos a importância da negociação colaborativa ou baseada em princípios, que chega a resultados justos, abordando os reais interesses dos envolvidos, e não suas posições. É muito importante que você aprofunde seus conhecimentos sobre essa negociação e, para isso, indicamos o livro: Comochegar ao SIM, de Roger Fisher, William Ury e Bruce Patton (2005).
Para esses autores, quatro pontos fundamentais são necessários na negociação colaborativa:
Separação das pessoas do problema
Os negociadores são pessoas que, em conflito, tendem a misturar questões referentes à relação com a questão objetiva a ser negociada. Os aspectos pessoais fazem parte da negociação, não podem ser ignorados, mas não devem se misturar às questões objetivas. O revide em uma discussão não ajudará a solucionar um problema. As emoções se misturam com frequência aos méritos de uma negociação. As questões subjetivas – relacionais, emocionais, comunicacionais – devem ser reconhecidas e trabalhadas através de ferramentas apropriadas que veremos na aula 7.
Dessa forma, antes de atacar as pessoas, deve-se atacar os méritos da negociação. Por exemplo, alguém pode iniciar uma negociação exigindo que uma pessoa se mude de um condomínio porque não tem educação quanto à altura do som que costuma escutar. Uma outra forma de iniciar a mesma negociação seria falando sobre algumas práticas como as proteções acústicas existentes e muitas utilizadas na vizinhança. Ao estabelecer que o problema é o vizinho, a comunicação fica difícil na negociação.
Foco nos interesses e não nas posições
Um conflito se expressa, primeiro, através de posições. Os autores do livro já citado Como chegar ao Sim (FISHER; URY e PATTON, 2005), apresentam um exemplo que esclarecerá muito bem o que estamos querendo dizer.
Exemplo: duas irmãs brigavam por uma laranja. Depois de muita discussão resolveram dividi-la ao meio. A primeira pegou a sua metade, comeu a polpa e jogou a casca no lixo; a segunda usou a casca de sua metade para fazer uma geleia e jogou a polpa fora.
Como você explicaria o que aconteceu?
Se elas tivessem usado uma negociação colaborativa e colocado o foco nos seus interesses e não em suas posições, teriam terminado a negociação integralmente satisfeitas.
Muitos autores costumam representar este tema usando a figura do iceberg. As posições correspondem à parte visível do iceberg e os interesses o que fica submerso e deve ser descoberto.
Geração de opções de ganhos mútuos 
Muitas vezes, as pessoas em conflito acreditam que apenas existe uma quantidade fixa de recursos a serem partilhados. Quando uma parte fica atendida na maior parte de seus interesses, a outra se sentirá desatendida. Neste caso, a ideia é aumentar os recursos disponíveis, gerando novas possibilidades para resolver o conflito.
Os negociadores devem buscar atender os interesses de todos os envolvidos, numa solução ganha-ganha. É através da geração de novos recursos, articulação de necessidades e possibilidades de cada um dos negociadores que será possível atender os interesses em comum e criar harmonia entre os diferentes, de forma a satisfazer a todos os envolvidos.
São diferentes as necessidades dos negociadores e estas podem trabalhar de forma a gerar benefícios mútuos. O que para um negociador é secundário, para o outro pode não ser, o que pode gerar novos recursos de negociação.
Utilização de critérios objetivos
Os negociadores devem utilizar critérios objetivos para avaliar as soluções que foram levantadas e para a tomada de decisões. Como esses critérios são externos, não envolvem a subjetividade das partes na decisão e evitam a polarização nesse momento. 
São exemplos: a legislação, o parecer de um técnico, o valor de mercado etc. 
Melhor alternativa à negociação de um acordo (MAANA)
Além dos quatro princípios da Escola de Harvard, um importante conceito é o da melhor alternativa à negociação de um acordo (MAANA). Trata-se do curso de ação de nossa preferência caso não haja consenso. É saber o que faremos ou o que vai acontecer se não conseguirmos chegar a um acordo. É importante observar qual é a MAANA antes de entrar em uma negociação, do contrário, não se saberá se o acordo será proveitoso ou não.
Por exemplo, Luis XI, rei da França resolveu negociar quando Eduardo IV, rei da Inglaterra, atravessou o Canal da Mancha para capturar territórios franceses. Sabendo que poderia envolver-se em uma guerra prolongada e dispendiosa (MAANA), Luis XI calculou que seria melhor fazer um acordo com Eduardo IV. Assinou um tratado de paz com o rei da Inglaterra, pagando um certo valor adiantado e uma anuidade pelo resto da vida do monarca inglês, expulsando os ingleses da França.
O melhor negócio não é aquele que prevalece em detrimento do outro, mas aquele que satisfaz os dois lados.
Barganha distributiva e negociação integrativa
É importante lembrar que a escolha do tipo de negociação está ligada a uma série de fatores como:
O objetivo que se tem em mente ao participar da negociação;
O comportamento característico dependendo da abordagem utilizada;
Os resultados alcançados a partir do modelo usado.
Não basta saber que o conflito é uma oportunidade positiva, mas temos de saber em que essa disputa pode contribuir para a vida das pessoas envolvidas. Em contraposição a essa negociação, temos a barganha distributiva ou negociação baseada em posições, em que os interesses reais das pessoas não serão contemplados e sequer discutidos, podendo levar a negociação para um impasse e deterioração das relações. A barganha distributiva tem como premissa que tudo que se ganhar na negociação é à custa do oponente. Cada ganho que tiver implica diretamente perda para o outro.
Exemplo!
Se você vai negociar o prazo de entrega de um relatório com um membro de sua equipe e o pressiona para que a data seja antecipada para o mais breve possível, cada dia que se ganhar de antecipação implica diretamente trabalho dobrado para o outro, porque esse terá que se dedicar ao máximo para dar conta dessa demanda e de outras.
De acordo com o Manual de Mediação Judicial (2013):
O regateio, a barganha, a informação não revelada, a desconfiança na proposta do outro lado, a sensação de que pode estar sendo enganado, o jogo de concessões mútuas, a necessidade de dividir a diferença ou o prejuízo, o medo de estar sendo explorado e tantos outros aspectos, fazem parte de um tipo de negociação impregnado culturalmente em nossa sociedade.
Voltando à aula 4, a partir da Moderna Teoria do Conflito, devemos utilizar as situações de conflito como uma oportunidade de aprendizado, crescimento e geração de ganhos mútuos. É importante aproveitar a energia do conflito causado pela divergência de interesses, ideias e valores para construir novas realidades e relacionamentos, mais produtivos para todos. A negociação integrativa, como já vimos e queremos reforçar porque ela é fundamental para a mediação, é uma forma de resolver conflitos que leva em conta a satisfação conjunta dos interesses das pessoas envolvidas. Ela obedece a uma sequência lógica e cronológica de passos a serem seguidos, diferente da barganha distributiva,em que a resolução da questão acontece de forma aleatória. Os passos a serem seguidos são:
Habilidades do negociador
Em linhas gerais, as habilidades que os negociadores utilizam depende do tipo de negociação que será realizada, do método e das estratégias empregadas. No entanto, existe um número significativo de habilidades que todo negociador deve ter, independente da situação. Resumindo algumas, podemos destacar:
Excelente comunicação;
Flexibilidade;
Criatividade;
Capacidade de observação;
Decisão.
Além disso, não deve superestimar ou subestimar as suas próprias capacidades pois, isso pode levar ao fracasso da negociação.
Atividade
Leia com atenção este diálogo entre a Sra. Sara, chefe de um Departamento de Vendas e sua subordinada, Amélia.
Sra. Sara: Está claro, então, de que forma o trabalho tem de ser realizado?
Amélia: Mas, Dona Sara, a equipe já apontou algumas falhas nesse processo...
Sra. Sara: Eu sei o que estou dizendo. Vai ser assim e ponto final.
Na sua opinião, a Sra. Sara é uma boa negociadora? Justifique sua resposta.
Resposta:
Não. A Sra. Sara não deve ser considerada uma boa negociadora, uma vez que, ao assumir uma postura típica daqueles que pensam ser “dono da verdade”, ela demonstra não estar disposta ao diálogo e à busca de uma solução que se mostre interessante para todos, em especial para a organização.
Aula – 6 
Agentes e alguns fatores importantes na mediação
Definiremos, a seguir, os sujeitos no processo de mediação. Contudo o faremos de forma geral, lembrando que, no Judiciário, existem algumas peculiaridades, a partir da Lei da Mediação e do novo CPC, que serão explicados separadamente.
Mediador
O mediador tem como função exclusiva mediar a negociação. Ou seja, ele está eticamente impedido de exercer sua profissão de origem, inclusive no que diz respeito a prestar esclarecimentos técnicos às partes. Caso essas informações sejam necessárias, os mediandos devem ser orientados a procurar um especialista naquela área. O mediador deve cumprir e fazer cumprir os princípios da mediação, vistos na aula 3.
É frequente, quando possível ou necessário, o trabalho em conjunto, chamado de comediação. Em geral, usamos esse termo para designar o trabalho de duplas de mediadores, que apresenta características valorizadas na mediação como: colaboração, diálogo e inclusão. É um trabalho enriquecedor porque, de certa forma, amplia a visão sobre o conflito, suas possibilidades de atuação, além de demonstrar para os mediandos a possibilidade de um trabalho colaborativo.
Para um aprofundamento sobre a importância da comediação, sugerimos a leitura da página 82 do Manual de mediação Judicial (2013).
Partes
São os participantes da mediação e aqueles que têm o poder de decisão. A participação de quaisquer outros poderá ser vista como uma violação ao caráter privado e confidencial da mediação, pondo em risco o seu sucesso, por dificultar a abertura do diálogo.
No entanto, em muitos casos, a decisão poderá vir a traduzir-se em impacto nas relações pessoais dos intervenientes, pelo que se promove a consideração da possível intervenção de outras pessoas relevantes para o processo. Mas essas são situações que deverão ser analisadas caso a caso, não trataremos delas neste momento. Destacamos, contudo, que tais discussões devem ser realizadas numa capacitação e em sua respectiva supervisão.
As partes têm autonomia e protagonismo na mediação. Sendo toda e qualquer decisão fruto de suas reflexões e diálogos. Além disso, devem assumir a responsabilidade de tomar as decisões que influenciarão as suas vidas, no presente e no futuro.
Advogados
A mediação é um processo que não envolve apenas direitos, mas outros interesses mais amplos. Na maior parte da mediação, quando há a presença dos advogados, estes não se manifestam. E, se isso ocorre, entendemos que estão desempenhando os seus papéis de forma correta.
Por quê?
O objetivo da mediação é promover a comunicação entre as partes, é permitir que elas se expressem livremente e que possam se entender diretamente a partir daí.
Os advogados são os assessores jurídicos das partes, garantindo que ninguém abrirá mão de direitos sem estar plenamente consciente dessa renúncia e dos ganhos possíveis decorrentes da decisão. Assim, os advogados ou representantes legais participarão das mediações, também esclarecendo os direitos de seus clientes.
Para que você entenda melhor como ocorre a mediação judicial e a participação desses profissionais, julgamos fundamental a leitura dos dois documentos que especificam e esclarecem sua participação na mediação: a lei da mediação e o novo CPC. Acrescentamos, ainda, algumas considerações importantes sobre os advogados na mediação, destacadas na página 86 do Manual de Mediação Judicial (2013).
Estrutura do processo de mediação
Antes de conhecermos a dinâmica da mediação, é necessário entender que ela é composta de uma série de atos coordenados, no entanto, o mediador tem a liberdade de, dependendo da situação, flexibilizar o procedimento para que seja eficaz. Cada mediador desenvolve e tem um estilo próprio, respeitando as questões técnicas e éticas. É essa flexibilidade que torna a mediação um procedimento que requer não apenas a capacitação, mas também a criatividade do mediador.
Além de enfatizar a flexibilidade na estrutura do processo de mediação, é importante destacar a informalidade que ela deve incentivar. Para isso, é necessário que o mediador não se apresente como uma figura de autoridade. Ele deve coordenar a mediação em um tom de conversa, sem formalidades e estimulando o diálogo. Você deve entender que essa informalidade não exclui a preservação de uma postura profissional adequada.
A dinâmica da mediação
Atualmente, no Judiciário, temos uma série de procedimentos que deverão ser seguidos para que a mediação ocorra. Podemos citar, entre eles, o encaminhamento para a mediação, o comparecimento obrigatório a partir da designação da mediação, além da possibilidade de poder desistir do processo sem mesmo ter comparecido a ele em um primeiro momento. Para melhor esclarecer esses aspectos, acreditamos ser fundamental para o seu aprendizado a leitura dos documentos que legalizam a mediação: a lei 13.105 (2015) e a lei 13.140 (2015).
Em contrapartida, nas mais variadas áreas, incluindo aquelas ligadas ao Judiciário (a Defensoria Pública, os Escritórios de Prática Jurídica das Universidades, por exemplo), podemos ter a situação em que uma pessoa procura a instituição para dar entrada em uma ação. É, pois, oferecida a mediação (com uma breve explicação sobre ela) a partir de uma avaliação sobre a pertinência desse procedimento, segundo o caso apresentado.
Sendo aceita a proposta pela parte, é importante que o contato com a outra seja realizado, por escrito ou por telefone, mas, principalmente, sob a forma de um convite para um diálogo, e não de uma convocação. Havendo a aceitação do convite, teremos um momento denominado pré-mediação.
Pré-mediação 
Esse momento pode ser feito individualmente ou com as duas partes simultaneamente.
Na pré-mediação, ocorre a troca de informações que antecede a mediação propriamente dita. O mediador explica sobre o processo de mediação, avalia se ela é possível, a partir das informações das partes, e analisa a possibilidade da sua atuação como mediador naquele caso (se há algum impedimento quanto a sua imparcialidade).
É importante que, na pré-mediação, os mediandos sejam informados sobre a técnica da mediação, seus objetivos e alcance. São descritos os papéis do mediador e dos mediandos. Se estes comparecerem com seus advogados, o mediador deve esclarecer a importância deles como assessores e consultores jurídicos, assegurando que a mediação é uma prática colaborativa que busca o consenso. Devem ser tranquilizados sobre a necessidade desses profissionais na revisão legal do acordo e encaminhamento para a homologação do mesmo, caso seja preciso. 
Há um breve relato das partes sobre o conflito, a fim de ser avaliada a pertinênciada mediação e a existência de algum impedimento ético ou pessoal. Após a pré-mediação, se os mediandos optarem pela mediação e o mediador avaliar como possível sua realização, o procedimento terá início.
Alguns autores evidenciam a importância de estabelecer uma agenda nessa fase, que deve conter os seguintes itens: estimativa do tempo de duração, frequência e duração das reuniões; lugar e idioma da Mediação ou, se assim o desejarem, deixar a critério da Instituição ou entidade organizadora do serviço; e custos e formas de pagamento da Mediação. 
Etapas da mediação
Vamos observar, agora, como as etapas da mediação funcionam.
Abertura
Chamamos esse momento de discurso de abertura. É a partir daí que tem início a mediação. O discurso pode ocorrer após a pré-mediação, principalmente quando as partes comparecem juntas, ou em um outro momento em que deve ser lembrado, de forma resumida, o que foi conversado na pré-mediação.
São estabelecidas, pois, as regras de comportamento dos mediandos, os princípios da mediação e o papel do mediador.
Quanto à regra fundamental, deve ficar claro que, para uma comunicação ser eficaz, quando uma parte fala, a outra deve escutar, sem interromper. O enfoque das partes deve ser nos interesses e não na discussão de provas jurídicas. Deve ser abordada a possibilidade de sessões individuais, além das expectativas do mediador em relação às partes. Deve ser relembrado o papel dos advogados na mediação e explicado como a mediação ocorrerá. O entendimento das regras pelas partes deve ser confirmado, além da disposição de participarem.
Após esse momento, em vários setores, há a assinatura de um Termo que pode ser denominado, por exemplo, Termo de Consentimento ou Termo de Participação, dependendo da instituição em que acontece a mediação.
Para que você veja como uma sessão de abertura ocorre, indicamos a leitura do material do Manual de Mediação Judicial (2013) contido nas páginas 97 a 112.
Relato das histórias
Nesse momento, ouvimos a história de cada uma das partes sobre o conflito que as levou à mediação. O objetivo é dar a todos a oportunidade de ouvir o relato dos fatos e analisar as percepções das pessoas envolvidas. Podemos ter uma visão geral e, ao mesmo tempo, identificar questões e interesses que estão por trás das posições declaradas nas histórias.
Há possibilidade de expressão de sentimentos, sem interrupções ou outros impedimentos, sempre mantendo um clima respeitoso e educado. O mediador deve escutar os relatos de forma ativa (ferramenta que será estudada na aula 7) e, após a exposição das partes sobre suas perspectivas, poderá elaborar perguntas, reunindo informações que o auxiliarão a entender aspectos que podem não estar claros em relação ao conflito trazido.
Resumo
Após o relato das histórias, o mediador faz um resumo do que foi dito, utilizando uma linguagem neutra ou positiva. Ele deve transformar posições trazidas nos relatos como, por exemplo, “Eu não aceito pagar esse valor pelo serviço prestado, porque isso não foi o combinado”, em interesses “Acredito que o senhor esteja falando que concorda em pagar o valor justo pelo serviço prestado” (veremos mais detalhes na aula 7).
Como você percebeu, o mediador faz uma leitura do conflito de forma despolarizada, evidenciando interesses comuns e compartilhados, que foram identificados nos relatos das partes, potencializando uma postura colaborativa. O resumo fornece uma orientação para a mediação, buscando centralizar o diálogo entre as partes para os principais pontos a serem trabalhados.
O mediador deve construir uma versão imparcial, neutra e prospectiva daquilo que escutou e entendeu. Além disso, a realização do resumo serve para avaliar a compreensão do mediador sobre o que foi trazido. É importante saber que a técnica do resumo pode ser utilizada em etapas posteriores: após troca de informações importantes, após sugestões de possíveis soluções, lembrar os reais interesses e apaziguar ânimos.
Pauta de trabalho
Após o resumo realizado pelo mediador e a confirmação das partes sobre a compreensão do profissional em relação ao ocorrido, é definida uma pauta de trabalho. Esta traduz os interesses ressaltados em temas a serem tratados. Ela pode ser confirmada, ratificada ou adequada pelos mediandos.
A pauta é dinâmica e deve ser atualizada conforme o trabalho na mediação vai acontecendo. Podem aparecer outros temas no decorrer da mediação e deverão ser organizados pelo mediador, para que mantenham uma sequência lógica.
Sistematizar o trabalho através de uma pauta de trabalho é uma forma de organizar a mediação e promover uma certa tranquilidade aos mediandos, que conhecerão os temas a serem tratados. É importante que se inicie a mediação a partir dos temas que apresentam menos desacordo, para que possa ser criada a percepção nos mediandos de que a colaboração entre eles é possível.
Esclarecimento das controvérsias 
Com o uso das ferramentas que serão apresentadas na aula 7, o mediador trabalhará as questões da pauta de trabalho junto com os mediandos, buscando elucida-las. 
Resolução de questões
A partir do trabalho realizado quanto ao esclarecimento das controvérsias e tendo sido alcançado a compreensão sobre o conflito, chega a hora de o mediador utilizar as ferramentas para conduzir as partes para a análise das possíveis soluções. É importante que os mediandos elejam critérios objetivos na tomada de suas decisões, evitando o surgimento de novas polarizações. 
 
Finalização da mediação 
Você deve saber que a mediação pode terminar com a assinatura ou não de um acordo ou pode ser interrompida a qualquer momento pelo mediador ou pelas partes quando alguma situação dificultar a sua continuidade. No entanto, isso não quer dizer que a mediação que não acaba em acordo, assinado ou não, seja um fracasso. Muitas vezes, a mediação já possibilitou a abertura para um diálogo, que levará a uma solução daquele conflito no Judiciário, frente ao juiz, se for o caso, ou em outro momento.
O acordo escrito deve ser redigido pelo mediador, na linguagem dos mediandos, evitando, sempre que possível, o uso de termos técnicos que comprometem a compreensão deles. Deve refletir os compromissos mútuos e sua complementaridade. A linguagem é sempre positiva, otimista e com foco no futuro.
Deve ser lembrada a possibilidade de um acordo provisório, que necessitará de um período de monitoramento ou de reavaliação para verificar a eficácia ou não daquela decisão. Essa situação ocorre com a marcação de futuras sessões de mediação a fim de avaliar a necessidade ou não de revisão sobre o que foi combinado.
Atividade
Em uma briga entre vizinhos, foi sugerida a participação em uma mediação. As pessoas foram encaminhadas para uma Câmara de Mediação, onde foi esclarecido o procedimento a ser realizado. Ao saírem do estabelecimento, uma delas comentou com um amigo que o acompanhava: “A próxima mediação ocorrerá em uma semana. O mediador disse que nos trará uma solução para o caso”. Esse comentário:
Resposta: Não procede, porque não foi realizada uma mediação, e sim a pré-mediação, além disso, o mediador não dá solução para os conflitos. 
Aula – 7 
Ferramentas da mediação
Como uma prática que visa favorecer o diálogo, a mediação de conflitos utiliza várias ferramentas, para permitir que os mediandos consigam realizar uma dinâmica pautada na comunicação, favorecendo as suas relações. Essas ferramentas são importantes tanto para a construção do rapport como para a melhora do diálogo entre os mediandos, sendo este o principal objetivo do trabalho na mediação.
É importante reforçar que as ferramentas são utilizadas durante todo o processo de mediação, sendo fundamental para o mediador o seu conhecimento e a sua aplicação nos diferentes momentos do processo.
A seguir, conheceremos algumas dessas ferramentas.
Recontextualização ou parafraseio
A recontextualização consiste em uma técnica em que o mediador irá estimular as partes a perceberem determinado contexto a partir de outra perspectiva. Esse trabalho

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