Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO O casamento produz várias consequências que se projetam no ambiente social, nas relações pessoais e econômicas dos cônjuges e nas relações pessoais e patrimoniais entre pais e filhos, dando origem a direitos e deveres que são disciplinados por normas jurídicas. Por isso, afirma-se que o casamento não significa simples convivência conjugal, mas uma plena comunhão de vida ou uma união de índole física e espiritual. Principais efeitos jurídicos : a) Social: o matrimônio cria a família matrimonial, estabelece o vínculo de afinidade entre cada cônjuge e os parentes do outro e emancipa o consorte de menor idade (CC, art. 5º, parágrafo único, II). b) Pessoal: apresenta o rol dos direitos e deveres dos cônjuges e o dos pais em relação aos filhos. c) Patrimoniais: fixa o dever de sustento da família, a obrigação alimentar e o termo inicial da vigência do regime de bens, dispõe sobre a instituição do bem de família e sobre os atos que não podem ser praticados por um dos cônjuges sem a anuência do outro, dentre outros efeitos. DA EFICÁCIA DO CASAMENTO Art. 1565, CC: a) O homem e a mulher assumem, mutuamente, a condição de companheiros e responsáveis pelos encargos da família (comunhão de plena vida); b) Qualquer um dos nubentes poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro, mesmo após o casamento (via ação judicial); c) É de livre decisão do casal o planejamento familiar, sendo vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas ou públicas. Art. 1556, CC. São deveres de ambos os cônjuges: a) Dever de fidelidade recíproca OBS: a culpa pode ser discutida em sede de divórcio, em especial para a fixação de alimentos b) Dever de vida em comum, no domicílio conjugal, antigo dever de coabitação OBS: o dever de coabitação deve ser visualizado a partir da realidade social c) Dever de mútua assistência: é a assistência moral, afetiva, patrimonial, sexual e espiritual d) Dever de sustento, guarda e educação dos filhos e) Dever de respeito e consideração mútuos ADMINISTRAÇÃO E DIREÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL- Art. 1.567, CC. A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos. Parágrafo único. Havendo divergência, qualquer dos cônjuges poderá recorrer ao juiz, que decidirá tendo em consideração aqueles interesses. Art. 1570, CC: A administração da sociedade conjugal e a direção da família poderão ser exercidas exclusivamente por um dos cônjuges, estando o outro: a) Em lugar remoto ou não sabido b) Encarcerado por mais de 180 dias c) Interditado judicialmente ou privado de consciência em virtude de enfermidade ou acidente EFEITOS PATRIMONIAIS DO CASAMENTO (REGIME DE BENS) Regime de bens: conjunto de regras de ordem privada relacionadas com interesses patrimoniais e econômicos resultantes da entidade familiar. Aplicável também à união estável. Obedece aos seguintes princípios: da autonomia privada, da indivisibilidade, da variedade e da mutabilidade justificada. 1) PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA/ LIVRE ESTIPULAÇÃO Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver. Assim, podem os cônjuges escolher outro regime que não seja o regime legal (comunhão parcial de bens), podendo, ainda, criar um regime misto. Exceção: pessoas que se encontrem nas situações previstas no artigo 1.641, CC: será obrigatório o regime da separação de bens no casamento. 2) PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE DO REGIME DE BENS Não é lícito fracionar os regimes em relação aos cônjuges. O regime é único para ambos, diante da isonomia constitucional entre marido e mulher. 3) PRINCÍPIO DA VARIEDADE DE REGIME DE BENS Espécies de regimes de bens: comunhão parcial, comunhão universal, separação convencional ou legal e participação final nos aquestos. No silêncio das partes, prevalecerá o regime de comunhão parcial (regime legal) OBS: O regime de bens adotado começa a vigorar desde a data do casamento (art. 1639, § 1º) 4) PRINCÍPIO DA MUTABILIDADE JUSTIFICADA Art. 1639, § 2º: É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros. Prova de ausência de prejuízos a terceiros (proteção da boa-fé objetiva) OBS: casamentos ocorridos sob a égide do CC/16: possibilidade de alteração de regime (STJ). OUTORGA CONJUGAL PARA ATOS E NEGÓCIOS A outorga se situa no plano da validade do negócio jurídico: a falta da outorga conjugal gera a anulabilidade do ato correspondente, não havendo o eventual suprimento judicial (art. 1.648 do CC). Outorga conjugal = engloba a outorga marital (do marido) e a outorga uxória (da esposa). A outorga conjugal é necessária para os atos elencados nos regimes da comunhão parcial de bens, da comunhão universal de bens e da participação final nos aquestos. Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem livremente: I. Praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de sua profissão, com as limitações estabelecida no inciso I do art. 1.647 (alienar ou gravar de ônus reais os bens imóveis) II. Administrar os bens próprios; III. Desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido gravados ou alienados sem o seu consentimento ou sem suprimento judicial; IV. Demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval, realizados pelo outro cônjuge com infração do disposto nos incisos III e IV do art. 1.647 (III. prestar fiança ou aval; IV. fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação) V. Reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos; VI. Praticar todos os atos que não lhes forem vedados expressamente. Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro: I. Comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica; II. Obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir. OBS: As dívidas contraídas para tais fins obrigam solidariamente ambos os cônjuges. Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, EXCETO no regime da separação absoluta: I. Alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; II. Pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos; III. Prestar fiança ou aval; IV. Fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação. OBSERVAÇÕES: Cabe ao juiz suprir a outorga, quando um dos cônjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível concedê-la. A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária (art. 1.647), tornará anulável o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal. A aprovação torna válido o ato, desde que feita por instrumento público, ou particular, autenticado. PACTO ANTENUPCIAL Contrato solene e condicional, por meio do qual os nubentes dispõem sobre o regime de bens que vigorará entre ambos, após o casamento. Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges,o regime da comunhão parcial. OBS: Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas. OBS: Será nulo se não for feito por escritura e ineficaz se não lhe seguir casamento. OBS: Somente se registrado o pacto antenupcial poderá valer contra terceiros. Sem ele, só valerá para os nubentes! Podem as partes estipular o que lhes aprouver, no tocante ao regime de bens ou outras questões pertinentes à vida conjugal, desde que não violem disposição de lei imperativa ou absoluta (art. 1655). Ex: alterar ordem de vocação hereditária, que excluam herdeiros da sucessão, que dispense dever de fidelidade, etc. REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL OU ILIMITADA Regime legal ou supletivo que prevalece se os consortes não fizerem pacto antenupcial ou, se o fizerem, for nulo ou ineficaz. Caracteriza-se pela separação quanto ao passado e comunhão quanto ao futuro, gerando três massas de bens: os do marido, os da mulher e os comuns. Gera a existência de bens incomunicáveis e de bens comunicáveis. BENS INCOMUNICÁVEIS (art. 1661): Bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento e aqueles próprios ou particulares de cada cônjuge. Excluem-se ainda (art. 1659): I. Bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; II. Os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares; III. As obrigações anteriores ao casamento; OBS: Os bens da comunhão respondem pelas obrigações contraídas pelo marido ou pela mulher para atender aos encargos da família, às despesas de administração e às decorrentes de imposição legal. OBS: As dívidas, contraídas por qualquer dos cônjuges na administração de seus bens particulares e em benefício destes, NÃO obrigam os bens comuns. OBS: As dívidas contraídas no exercício da administração do patrimônio comum obrigam os bens comuns e particulares do cônjuge que os administra, e os do outro na razão do proveito que houver auferido. IV. As obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal; V. Os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; OBS: abrange também roupas, joias, celular, computador, etc, ou seja, todo e qualquer bem de caráter pessoal *. VI. Os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge; OBS: abrange somente o direito aos aludidos proventos. Recebida a remuneração, o dinheiro ingressa no patrimônio comum. VII. As pensões, meios soldos, montepios e outras rendas semelhantes. OBS: abrange somente o direito ao percebimento desses benefícios. BENS COMUNICÁVEIS (art. 1660): I. Os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges; II. Os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior. Ex: loteria, jogo, aposta, descobrimento de tesouro. III. Os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges; OBS: essa vontade deve ser manifesta expressamente, para que possa derrogar a regra geral constante do art. 1659,I. IV. As benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; OBS: embora feitas em bens particulares, presume-se que são fruto de esforço comum. V. Os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão. Ex: rendimentos de um imóvel, de aplicação financeira, de ações de uma empresa, etc. REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL Comunicam-se todos os bens anteriores, atuais e futuros dos cônjuges, ainda que adquiridos em nome de um só deles, bem como as dívidas posteriores ao casamento, salvo os excluídos pela lei ou pela vontade dos nubentes, expressa em convenção antenupcial. Deve ser estipulado em pacto antenupcial SÃO EXCLUÍDOS DA COMUNHÃO (art. 1.668) I. Os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar; II. Os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva; III. As dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum; IV. As doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade; V. Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659 (bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão, os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge, as pensões, meios soldos, montepios e outras rendas semelhantes). OBSERVAÇÕES: A incomunicabilidade dos bens não se estende aos frutos, quando se percebam durante o casamento; A administração dos bens comuns compete ao casal e a dos particulares, ao cônjuge proprietário, salvo convenção diversa em pacto antenupcial Extinta a comunhão, e efetuada a divisão do ativo e do passivo, cessará a responsabilidade de cada um dos cônjuges para com os credores do outro. REGIME DA PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS Regime híbrido: a) DURANTE O CASAMENTO = regras da separação total b) APÓS A DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO = regras da comunhão parcial Finda a união, cada cônjuge terá direito a uma participação* daqueles bens para os quais colaborou para a aquisição (depende de prova do esforço patrimonial) Permite a conservação do patrimônio de cada cônjuge durante o casamento e, após o seu fim, protege economicamente aquele que acompanhou a sua evolução, na condição de parceiro, sem ter, no entanto, bens em seu nome Depende de pacto antenupcial Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, excluem-se da soma dos patrimônios próprios: a) Os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-rogaram; b) Os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade; c) As dívidas relativas a esses bens OBS: Salvo prova em contrário, presumem-se adquiridos durante o casamento os bens móveis. A apuração da participação dos aquestos se faz em etapas: 1) Verificar-se-á o acréscimo patrimonial de cada um dos cônjuges 2) Apuração do respectivo valor para a compensação e identificação do saldo em favor de um ou do outro 3) Execução do crédito OBS: Se não for possível nem conveniente a divisão de todos os bens em natureza, calcular-se-á o valor de alguns ou de todos para reposição em dinheiro ao cônjuge não proprietário. Não se podendo realizar a reposição em dinheiro, serão avaliados e, mediante autorização judicial, alienados tantos bens quantos bastarem para o pagamento das respectivas quotas. No caso de bens adquiridos pelo trabalho conjunto, terá cada um dos cônjuges uma quota igual no condomínio ou no crédito por aquele modo estabelecido SEPARAÇÃO CONVENCIONAL OU ABSOLUTA Depende de pacto antenupcial Não haverá comunicação de qualquer bem, seja posterior ou anterior à união Cada cônjuge conserva a plena propriedade, a administração e a fruição dos seus próprios bens de forma exclusiva, podendo, com isso, aliená-los e gravá-los de ônus real livremente, sejam móveis ou imóveis SEPARAÇÃO LEGAL OU OBRIGATÓRIA Regime imposto por lei. Não há necessidade de pacto antenupcial. Art. 1641, CC: I. Das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento (art. 1.523, CC) II. Da pessoa maior de 70 (setenta) anos; III. De todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial
Compartilhar