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TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES

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Das modalidades das obrigações (dar, fazer e não fazer)
Modalidades – modos como se apresentam as obrigações.
AS OBRIGAÇÕES PODEM SER DE DAR, FAZER OU NÃO FAZER.
Da obrigação de dar.
Conceito: a obrigação de dar consiste na entrega de algo, na tradição de uma coisa pelo devedor ao credor.
A obrigação de dar pode envolver coisa certa ou incerta.
Coisa certa – na obrigação de dar coisa certa o devedor se compromete a entregar objeto perfeitamente determinado, especificado. Ex.: um cavalo de corrida, uma joia – só pode dar outra coisa se o credor aceitar. A obrigação abrange os acessórios.
Coisa incerta – na obrigação de dar que tem como objeto coisa incerta determina-se apenas o gênero a que a coisa pertence, e a quantidade. Neste caso há duas peculiaridades: vantagem a credor, já que o gênero não pode perecer; e a escolha no momento da entrega (analisaremos com detalhes adiante).
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Obrigação de dar e de restituir.
Na obrigação de dar, o credor não é o dono da coisa.
Ocorre que a situação pode ser de restituição, em que o credor é o dono da coisa. Ex.: a obrigação do depositário, do locatário ou do comodatário.
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Da transferência do domínio na obrigação de dar.
A transferência da propriedade na obrigação de dar não ocorre com o contrato, mas com a tradição (coisa móvel) ou com o registro do título translativo no Registro Imobiliário (transferência de domínio de coisa imóvel).
É importante saber o momento da transferência da propriedade porque se aplica a regra de que a coisa perece ou se deteriora para o dono (res perit domino).
Assim podemos examinar o destino da obrigação em face do perecimento ou deterioração da coisa:
a) Se a coisa perece por culpa do devedor:
O credor resolve o contrato e exige perdas e danos, além de responder, o devedor, pelo equivalente à coisa.
b) Se a coisa se se deteriora por culpa do devedor:
O credor ou resolve o contrato exigindo perdas e danos; ou aceita a coisa no estado em que se encontra, reclamando a composição do prejuízo. A obrigação persiste, alterada por causa da deterioração.
c) Se a coisa perece sem culpa do devedor:
A obrigação de dar ou restituir se desfaz.
d) Se a coisa se deteriora sem culpa do devedor:
d.1) obrigação de dar – o credor resolve a obrigação, ou aceita a coisa abatido no preço o valor do estrago.
d.2) obrigação de restituir - o credor só pode reclamar a coisa deteriorada no estado em que se encontre.
Dos riscos: “res perit domino”.
Risco na obrigação de dar ou restituir frustrada:
Perda ou deterioração do objeto antes da tradição, sem culpa do devedor (se houver culpa, há responsabilidade – art. 389, CC).
a) Obrigação de dar; perda da coisa objeto da prestação. Ex.: animal foi morto antes da entrega.
As partes retornam ao “status quo”. O vendedor devolve o preço eventualmente pago e sofre o prejuízo. O vendedor é o proprietário (antes da tradição) e sofre o prejuízo.
b) Obrigação de dar; deterioração da coisa:
O credor aceita a coisa, abatido do preço o valor que se perdeu; ou o credor desfaz o negócio e recebe de volta o preço que pagou. O dono (devedor) sofre o prejuízo.
c) Obrigação de restituir; perda da coisa:
O credor (dono da coisa) sofre a perda e a obrigação se resolve.
d) Obrigação de restituir; deterioração da coisa:
O devedor entrega a coisa no estado em que se encontra e o credor (dono da coisa) sofre o prejuízo, não tem direito a indenização.
Sempre: o dono é quem sofre os prejuízos pela perda ou deterioração da coisa – “res perit domino” – a coisa perece para o proprietário.
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Os acessórios da coisa na obrigação de dar.
Se a coisa perece ou se deteriora para o dono, é certo que também acresce em favor do dono.
O domínio só se transfere com a tradição. Então, antes da tradição, acréscimos são do dono (devedor, na obrigação de dar; credor, se a obrigação for de restituir). Ex.: cria da rês, frutos etc. Melhoramentos e acrescidos são acessórios do principal, seguem-lhe o destino. Assim, o proprietário pode requerer aumento de preço, na obrigação de dar, para entregar também o fruto.
Frutos percebidos são do devedor e pendentes do credor.
O credor é o dono e se beneficia com o melhoramento da coisa mesmo na obrigação de restituir. Deve ser ressarcido o devedor das despesas para o melhoramento.
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Benfeitorias – aqui é preciso analisar se o possuidor estava de boa fé ou não. Ao restituir a coisa, será o devedor reembolsado das benfeitorias úteis e necessárias se estava de boa-fé; e apenas das necessárias se estava de má-fé.
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Na execução da obrigação de dar coisa certa, a princípio o credor pode exigir a coisa. Apenas se for impossível exigir a coisa em espécie (ex.: perecimento do animal), exige-se as perdas e danos.
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Obrigação de dar coisa incerta: indica-se gênero e quantidade.
O objeto é indeterminado, mas determinável. Se não fosse determinável, não poderia ser cumprida a obrigação.
Na obrigação de dar coisa incerta não se fala em perecimento da coisa, pois o gênero não perece (“genus non perit”). Tal fato representa vantagem para o credor.
A individualização se faz pela escolha, que é o ato de seleção das coisas constantes do gênero, para entrega ao credor. Com a escolha, a obrigação de dar coisa incerta se transforma em obrigação de dar coisa certa, seguindo as regras desta.
Problemas:
a) Quem escolhe: as partes estipulam quem escolhe. Mas se não estipularem, a escolha é prerrogativa do devedor.
b) Como se faz a escolha: o devedor não pode dar o pior e nem é obrigado a dar o melhor. Então, se as partes convencionarem que o credor escolhe, é porque renunciam à prestação de coisa média (nem o melhor e nem o pior). E o credor pode escolher a nata do gênero (o melhor).
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Da obrigação de fazer.
Conceito: na obrigação de fazer, o devedor se vincula a determinado comportamento, que consiste em praticar um ato, do que decorre vantagem ao credor. Pode ser trabalho físico ou intelectual.
Ex.: professor que deve dar uma aula; empreiteiro que deve construir a casa; escritor que deve fornecer artigos ao jornal; proprietário que se propõe a outorgar contrato definitivo etc.
Diferença entre obrigação de fazer e obrigação de dar:
A obrigação de fazer pode envolver entrega de algo, mas não se confundem obrigação de fazer com obrigação de dar.
A obrigação de dar envolve principalmente a entrega de coisa. A obrigação de fazer envolve atividade e tem na entrega uma consequência, um complemento da prestação principal, que é a própria execução da tarefa (física ou intelectual).
A obrigação é de fazer se o dar ou entregar é consequência do fazer (o devedor tem de confeccionar a coisa e depois entregá-la). Se não, a obrigação é de dar.
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Espécies de obrigação de fazer:
Obrigação infungível: o negócio se estabelece “intuitu personae”, pois o credor só visa à prestação avençada, se fornecida pelo próprio devedor, que tem qualidades personalíssimas. Ex.: uma atriz, um pintor, certa bailarina, determinado fiador, ou determinado locatário – o credor só aceita aquele.
Obrigação fungível: são aquelas em que a pessoa do devedor não figura com relevância. Ex.: credor encomenda a limpeza do seu carro, ou a construção de um galinheiro no seu quintal. O devedor se desincumbe da obrigação realizando a tarefa ou mandando que alguém o faça em seu lugar.
Para que a obrigação seja infungível, as partes devem fazer constar expressamente; ou a natureza da obrigação não aceita interpretação diversa, por conta das circunstâncias que rodeiam o negócio. Ex.: se a contratação é de certo cantor famoso, importante, por suas qualidades personalíssimas, é certo que não se aceitará outra pessoa em seu lugar para o cumprimento da prestação.
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Consequências do descumprimento das obrigações de fazer
1. Quando a prestaçãonão é cumprida por culpa do devedor.
2.1.Obrigação infungível: o credor não pode obrigar o devedor a fazer, por causa da liberdade individual. Ex.: a bailarina não pode ser obrigada a dançar, o pintor não pode ser obrigado a pintar etc. Não é possível, então, a execução compulsória da obrigação. Ninguém pode ser compelido a prestar um fato contra a sua vontade. O credor pode requerer perdas e danos.
2.2.Obrigação fungível: o credor pode requerer perdas e danos, ou a execução da tarefa por terceiros, à custa do devedor faltoso. Ex.: empreiteiro não executa a obra – o credor requer perdas e danos, ou a execução da obra (por 3º), à custa do devedor faltoso.
Obs.: Nos dois casos o credor deve recorrer às vias judiciais. Não pode o credor mandar terceiro executar a tarefa sem autorização judicial, para que fique comprovada a recusa do devedor e se alcance aprovação da substituição pretendida. O art. 249, parágrafo único, CC, estabelece que não é necessária a autorização judicial para que terceiro execute a tarefa ás expensas do devedor em caso de urgência.
2. Sem culpa do devedor: a obrigação se resolve (se extingue). O devedor devolve, se for o caso, o que já recebeu. Ex.: vendedor (devedor) não pode outorgar escritura definitiva de venda e compra porque o prédio for desapropriado; ou o artista (devedor) adoece às vésperas do espetáculo.
O prejuízo é atribuído ao caso fortuito ou a força maior (ao acaso).
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Da execução da obrigação de fazer.
O devedor será citado para cumpri-la no prazo que o juiz lhe assinar, se outro não estiver determinado no título executivo.
O credor pode requerer perdas e danos (indenização) ou o cumprimento da obrigação, como já dissemos.
Para que o credor peça a execução da tarefa por terceiro, deve requerer autorização judicial, salvo hipótese de necessidade e urgência, em que o credor contrata terceiro para o cumprimento da prestação, em lugar e á custa do devedor.
Obs.: a obrigação de fazer infungível, quando não cumprida, resulta apenas em perdas e danos, pois não pode ser forçado o devedor a uma tarefa que não pode ser desempenhada por terceiro.
Da execução direta da obrigação de prestar declaração de vontade
Tal espécie de obrigação de fazer, que consiste em prestar declaração de vontade, embora infungível, não constrange a liberdade do devedor quando da sua execução em espécie. Trata-se de uma exceção. A obrigação de fazer é infungível, mas o devedor pode ser obrigado à prestação, sob pena de o juiz suprir, por sentença, a falta da sua declaração de vontade.
Ex.: o vendedor em contrato preliminar de compromisso de venda e compra de bem imóvel se obriga a outorgar contrato definitivo ao comprador (ora credor).
Em caso de descumprimento, o juiz, através da sentença, substitui a declaração que deixou de ser externada (art. 466-A, CPC/1973, cf. Lei n. 11.232, de 22/12/2005, em vigor desde 23/6/2006. Art. 501 do CPC/2015).
Obs.: a sentença só substitui a declaração quando transita em julgado.
Art. 463 e 464, CC/02: sobre contrato preliminar – direito de exigir o contrato definitivo. O juiz pode suprir por sentença a vontade do réu (devedor da obrigação de fazer infungível).
Da obrigação de não fazer.
Conceito: obrigação de não fazer é aquela em que o devedor assume o compromisso de se abster de um fato, que poderia praticar, não fosse o vínculo que o prende. É obrigação negativa (a obrigação de fazer é positiva).
Ex.: obrigação de não fazer barulho após as dez horas da noite; obrigação de não obstruir passagem forçada; obrigação de não vender uma casa, a não ser ao credor; obrigação do empresário que aliena o seu estabelecimento e se compromete a não abrir outro congênere na mesma rua (para não tirar cliente do comprador, para não criar concorrência).
A obrigação de não fazer (a obrigação de fazer também) só é lícita se não envolver restrição à liberdade individual. Desse modo, são ilícitas obrigações de não casar, não se cultuar certa religião etc. Porque a restrição à liberdade individual colide com os fins da sociedade.
Do inadimplemento da obrigação de não fazer.
Tal inadimplemento se caracteriza quando o devedor pratica o ato que se obrigou a não fazer.
Hipóteses:
a) Se a abstenção (o não fazer) se tornou impossível sem culpa do devedor, a obrigação se extingue. Ex.: o devedor se obriga a não construir muro no seu terreno e a prefeitura determina tal construção (força maior).
b) Se a obrigação de não fazer se tornou impossível por culpa do devedor; ou se o devedor despreza a obrigação e pratica o ato vedado: o credor pode exigir que o devedor desfaça, sob pena de (o credor) o desfazer à custa do devedor, ressarcindo, ainda, o devedor, as perdas e danos.
O credor, para desfazer a coisa e requerer que o devedor pague, deve requerer antes autorização judicial. Havendo, no entanto, urgência e necessidade, determina o art. 251, parágrafo único, CC, que não precisa de autorização judicial.
Ex.: devedor constrói um prédio após se obrigar perante o vizinho, a não fazê-lo. O vizinho pode requerer que o devedor desfaça o prédio ou requerer autorização judicial para desfazer à custa do devedor (o próprio vizinho).
Obs.: caso não seja possível desfazer a coisa, tudo se resolve em reparação das perdas e danos.
Ex.: o devedor promete não publicar a notícia no jornal (que prejudica a venda de certo produto) e a publica; o funcionário de certa fábrica promete não revelar segredo de processo de fabricação, durante certo período, e o revela (o vende) a terceiros.
Nos exemplos supra é impossível reparar o mal, voltando ao status quo, e a solução é a reparação do prejuízo (das perdas e danos).
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Das obrigações complexas, com multiplicidade de objeto.
Vimos que as obrigações existem em três modalidades: dar, fazer e não fazer.
Obrigações de dar, fazer e não fazer são simples quando envolvem: um sujeito ativo, um sujeito passivo, um objeto.
Chamamos de complexas as obrigações com multiplicidade de sujeito (passivo ou ativo) ou objeto.
Havendo mais de um devedor, mais de um credor ou mais de um objeto será complexa a obrigação.
1. Obrigações com multiplicidade de objeto:
1.1. Cumulativas ou conjuntivas: há várias prestações e todas devem se cumpridas pelo devedor. Pode envolver conjuntamente prestações de dar e outras de fazer. Ex.: empreitada – entrega do material e execução do serviço.
1.2. Alternativas ou disjuntivas: há duas prestações envolvidas, mas só uma precisa o devedor cumprir, livrando-se da obrigação. Ex.: deve entregar duas sacas de café ou três sacas de algodão.
Na obrigação alternativa (ou disjuntiva) o objeto é múltiplo, mas o devedor se exonera satisfazendo uma das prestações. Ex.: segurador em caso de sinistro fornece automóvel novo ou o conserto do carro avariado. Só uma das duas deve ser prestada.
Escolha: deve ocorrer como acontece (também) na obrigação de dar coisa incerta. Detalharemos os aspectos da escolha adiante.
1.3. Facultativas: o devedor tem uma obrigação, mas pode substituí-la por outra, a seu critério.
Ocorre quando se promete, por exemplo, um prêmio, mas resguardando-se o direito, o devedor, de entregar similar.
Muitos autores consideram na realidade simples a obrigação facultativa. Há um objeto e, se perecer, extingue-se a obrigação; mas o devedor por faculdade pode se dispor a entregar outro objeto.
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Considerações sobre as obrigações alternativas (disjuntivas):
Da diferença entre obrigação alternativa e obrigação de dar coisa incerta.
Na primeira, há mais de um objeto, mas perecendo todos os objetos envolvidos na obrigação, extingue-se o vínculo. Já na obrigação de dar a coisa incerta, nunca há perecimento do objeto, pois o gênero não se extingue (não perece).
Ex.: obrigação alternativa de dar um entre quatro cavalos – perecendo três, a obrigação recai sobre o que sobrou, mas perecendo os quatro, a obrigação se extingue. Na obrigação de dar coisa incerta, como, por exemplo, aobrigação de dar um cavalo de certa raça, perecendo quatro, sempre haverá outro do mesmo gênero.
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Diferença entre obrigação alternativa e obrigação com cláusula penal:
A primeira (obrigação alternativa) é complexa, e a segunda (obrigação com cláusula penal) é simples.
A obrigação com cláusula penal só tem um objeto e, diante do inadimplemento, deve ser cumprida a pena, mais onerosa que a prestação em si, justamente para reforçar o vínculo, compelindo o devedor ao seu cumprimento (cláusula penal). O devedor não tem, naturalmente, uma escolha entre a prestação e a multa. Deve cumprir a prestação avençada sob pena de multa.
A obrigação alternativa oferece vantagem para o devedor, que pode escolher dentre vários objetos o menos oneroso; e para o credor, visto que, se perecer uma das coisas, a obrigação ainda pode ser cumprida com os objetos que sobraram.
Comparando a obrigação alternativa em que a escolha é do credor, por convenção das partes, e a obrigação com cláusula penal, a diferença é ainda maior.
O devedor tem a prerrogativa de cumprir com a sua obrigação. Não pode o credor optar pelo valor pactuado em cláusula penal. A alternativa na obrigação com cláusula penal surge apenas após o inadimplemento, aspecto patológico da relação obrigacional.
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A escolha e seus efeitos:
A escolha converte em simples a obrigação alternativa, e torna possível a sua execução (transforma a obrigação complexa em obrigação simples).
Direito de escolha.
Titularidade.
As partes estipulam quem será o titular do direito de escolha. Pode ser o devedor, o credor ou terceiro.
No silêncio das partes, a lei supre a falta de manifestação, estabelecendo que a escolha é do devedor.
Do exercício do direito de escolha.
Se o devedor escolhe, não pode pagar parte em uma e parte em outra prestação (ex.: saca de café ou R$ 1.000,00 – não pode pagar metade da saca de café mais R$ 500,00; empregador escolhe entre pagar salário do empregado até a aposentadoria ou readmiti-lo – não pode pagar durante 10 anos e depois readmiti-lo – ou paga até a aposentadoria, ou readmite).
Exceção: Se a obrigação envolver prestações periódicas (art. 252, §2º CC), o devedor pode exercer a escolha a cada período. Ex.: ora paga com certa quantidade de arroz, ora com café.
Decadência do direito de escolha por negligência.
Se o devedor deve escolher e não cumpre, o credor aciona com pedido alternativo para que seja cumprida uma das duas obrigações em 10 dias. Mas outro prazo pode ser estabelecido. Se o executado em 10 dias não oferecer uma das prestações, o exequente passa a ter o direito de escolha.
Se o credor tem o direito de escolher e não o exerce (escolhe), o devedor o aciona para fazê-lo, sob pena de ter que prestar a obrigação que o devedor escolher.
Da impossibilidade ou inexequibilidade de uma das prestações:
Hipóteses:
1. Se a escolha é do devedor: a obrigação recai sobre a prestação remanescente, sendo culpa do devedor ou não o perecimento da primeira prestação (art. 253, CC/02). Obs.: se a escolha é do credor e a coisa escolhida se torna impossível sem culpa do devedor: a prestação recai sobre a outra.
2. Se a escolha é do credor: caso a 1ª prestação se torne impossível por culpa do devedor, o credor pode exigir a prestação que sobrou ou o valor da outra, acrescida das perdas e danos (art. 255, 1ª parte, CC/02).
Da impossibilidade de todas as prestações:
Hipóteses:
a. Sem culpa do devedor: a obrigação se extingue (art. 256, CC/2002).
b. O devedor escolhe e por sua culpa se impossibilitam todas as prestações: o devedor deve pagar o valor da prestação que por último se impossibilitou, acrescido das perdas e danos (art. 254 e 389, CC/02). Quando a primeira prestação perece, a obrigação recai sobre a outra. Perecendo a outra, se obriga o devedor a pagar o seu valor mais perdas e danos.
c. Credor escolhe, culpa do devedor: o credor pode exigir o valor de qualquer uma das prestações, mais perdas e danos (art. 255, 2ª parte, CC/2002).
Das obrigações divisíveis e indivisíveis.
Obrigações simples: um credor, um devedor, um objeto.
Obrigações complexas: multiplicidade de pessoas e/ou de objeto.
Multiplicidade de objeto: obrigações conjuntivas, facultativas ou alternativas (vide aulas anteriores).
Neste ponto examinaremos as obrigações complexas com multiplicidade de sujeito.
Se há mais de um credor ou mais de um devedor, é preciso verificar se a obrigação se divide ou não em partes. Divide-se a obrigação em tantas obrigações independentes quantas forem as partes, conforme a regra “concurso partes fiunt”. Cada credor recebe a sua parte da prestação e cada devedor paga a fração correspondente ao seu débito. É a regra do art. 257, CC/ 02.
Obs.: é chamada de obrigação conjunta a que apresenta pluralidade de sujeito (chamamos de obrigação conjuntiva a que tem pluralidade de objeto, sendo cumulativa).
Ocorre que por vezes não é possível aplicar a regra supra descrita, de divisão do objeto pelo número de devedores e/ou de credores do vínculo obrigacional.
Verificaremos, portanto, as exceções à regra exposta acima:
1. Indivisibilidade: pela natureza do objeto (que não pode ser repartido) é possível que haja vários devedores, e qualquer um deles seja obrigado a entregar por inteiro a prestação. E mesmo com vários credores, deve ser paga a um só a prestação. Ainda que cada credor só tenha direito à sua parte, e ainda que o devedor só precise, na realidade, pagar a sua parte.
2. Solidariedade: pela lei ou por convenção, o objeto aqui é divisível, mas cada devedor (na solidariedade passiva) pode ser compelido a entregar o todo. Na solidariedade entre credores (solidariedade ativa), cada um dos credores pode receber o todo.
Obs.: se a obrigação é simples o objeto é devido por inteiro, pelo devedor, e não há por que indagar se é divisível ou indivisível. Quando é complexa a obrigação, faz-se necessário o exame da indivisibilidade ou da solidariedade.
Obrigação indivisível:
É indivisível a obrigação quando for indivisível seu objeto, pela própria natureza. É indivisível o objeto que, se repartido, os valores das partes em separado, ainda que existam, não alcançam, somados, o valor do todo.
Então: um relógio, uma gravata, um sofá, um quadro, um cavalo de corridas, são indivisíveis, tornando indivisível a obrigação de entregar (dar, restituir) tais objetos.
São indivisíveis os bens quando o objeto pode ser repartido, mas tal repartição implica em diminuição de valor. Um relógio de ouro ao ser repartido pode até dar ensejo a pedaços de certo valor, mas as partes, reunidas, não alcancem o valor do todo (original).
Vimos que a indivisibilidade decorre da natureza do objeto. Mas excepcionalmente pode decorrer da lei ou da vontade das partes. Pode ser pactuada a indivisibilidade de um imóvel rural, por exemplo. Ou as partes estabelecem para a garantia do credor que certa prestação em dinheiro é indivisível, e pode ser cobrada integralmente de cada devedor.
A indivisibilidade sempre favorece o credor que, podendo exigir a prestação de quaisquer dos devedores, a exige do mais capaz em pagá-la.
Podem ser indivisíveis obrigações de dar, fazer ou não fazer.
Na obrigação de dar, quando se encomenda de duas pessoas uma tela de Chagall, não é intuito do credor receber a parte ideal – a obrigação é indivisível. O mesmo ocorre com um apartamento.
Obrigação de fazer: a elaboração de certo projeto de arquitetura, por exemplo, é obrigação indivisível; o mesmo ocorre com a obrigação de outorgar escritura.
Obrigação de não fazer indivisível: não exploração de comércio em certo bairro – não é possível cumpri-la ou descumpri-la em parte.
A obrigação de fazer fungível é divisível. Ex.: três devedores cuja prestação seja de fertilizar cinco Km de terra.
Efeitos da indivisibilidade da prestação (se for divisível, a obrigação se divide em tantas obrigações quantos forem os credores ou devedores – “concursu partes fiunt”; art. 257, CC/ 02).
1. Caso de pluralidade de devedores:cada devedor é obrigado pela dívida toda (art. 259, CC/ 02). Ex.: dois indivíduos devem conseguir certa estátua para um museu.
Obs.:
a) Cada devedor só deve parte da dívida. Então, ao pagar, o devedor se sub-roga (259, parágrafo único, CC) no direito do credor, em relação aos demais codevedores.
b) Se a obrigação for indivisível, cada devedor pode ser compelido a satisfazê-lo por inteiro. Caso a obrigação se converta em perdas e danos por força do inadimplemento, torna-se divisível (art. 263, CC). O objeto pode ser indivisível, em espécie, mas o dinheiro é sempre passível de divisão.
As perdas e danos é responsabilidade de quem teve culpa no descumprimento da obrigação (art. 263, §§1º e 2º do CC).
2. Caso de pluralidade de credores: cada credor pode exigir a dívida por inteiro. Mas o(s) devedor(es) só se desobriga(m) quando:
2.1– Pagam a todos os credores conjuntamente. Isso porque se só um credor recebe (e há quitação), os demais ficam sem garantia. Os cocredores, então, não têm direito apenas de exigir o pagamento do credor (o que ocorre na obrigação solidária) que recebeu a prestação indivisível, mas, também , têm direito de exigir do devedor. Este paga a todos , ou paga a um credor autorizado pelos demais credores.
2.2– O pagamento pode ser a um cocredor, se este der caução (garantia) de ratificação dos outros credores. Assim, os demais credores com a caução garantem o seu crédito. Art. 261, CC. Se apenas um dos credores receber a prestação inteira, a cada um dos demais assiste o direito de exigir daquele, em dinheiro, a parte que lhe caiba no total – art. 261, CC/ 02.
Da extinção da obrigação para um dos cocredores (remissão, novação, compensação, transação ou confusão):
Cada um dos cocredores tem direito apenas a uma parcela da prestação – se recebe a prestação total é por causa da indivisibilidade do objeto (ex.: um livro).
Havendo remissão, transação, novação, compensação ou confusão da dívida em relação a um dos devedores, o devedor perdoado aproveita. Os cocredores, ao receberem o objeto indivisível, devolvem ao devedor, em dinheiro, a parcela perdoada (do credor remitente).
Ex.: Quando se deve máquina fotográfica a três credores e um dos credores efetua a remissão, como a máquina é indivisível, os outros dois credores a exigem, mas devolvem em dinheiro ao devedor a parte do crédito do credor remitente.
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 Das obrigações solidárias:
Solidariedade - mais de um credor ou mais de um devedor: cada um com direito ou obrigado à dívida toda.
A SOLIDARIEDADE representa exceção à regra de que a obrigação se reparte em tantos quantos forem os sujeitos. Aqui, cada credor exige do devedor a totalidade da prestação; ou cada devedor paga a um cocredor a dívida integral (art. 264, CC).
Solidariedade ativa e solidariedade passiva.
1.Solidariedade ativa: vários credores. Cada um exige do devedor comum a dívida por inteiro (art. 267 e s., CC). Cada credor só tem direito a parte da prestação mas, por causa da solidariedade, pode exigi-la por inteiro.
2.Solidariedade passiva: vários devedores. O credor exige de cada um deles a dívida por inteiro (art. 275 e s., CC).
Solidariedade: reunião de relações jurídicas autônomas.
Consequência da solidariedade:
a) Solidariedade ativa: o pagamento parcial feito a um dos credores deve ser rateado por todos, se o devedor se tornou insolvente.
b) Se o devedor não solidário se tornar insolvente, o credor sofre a perda, pois não se pode reclamar o pagamento dos demais devedores. Se houver solidariedade passiva, o credor pode exigir pagamento dos demais devedores, caso um se torne insolvente.
Distinção entre obrigações solidárias (reembolso) e indivisíveis (sub-rogação):
Solidárias: decorre das partes ou da lei. Se for descumprida e se verter em perdas e danos, continua solidária.
Indivisíveis: decorre da natureza do objeto. Convertida em perdas e danos, torna-se divisível (art. 263, CC).
Quando paga a dívida em obrigação indivisível, o devedor se sub-roga nos direitos do credor, para cobrar o que pagou dos demais codevedores. Na solidariedade, o direito do codevedor que paga a totalidade da dívida é apenas de reembolso, em relação aos demais codevedores.
Vantagens da solidariedade:
Solidariedade passiva é garantia do credor. É comum porque geralmente é o credor quem dita as regras do negócio.
Fontes da solidariedade:
A solidariedade não se presume. Decorre da lei ou da vontade das partes (art. 265, CC/ 02).
Na doutrina italiana, a solidariedade se presume, e só não se afastada por vontade das partes ou pela lei.
Solidariedade convencional: decorre da vontade das partes. A vontade deve ser expressa, sem deixar ensejo a dúvida. Decorre do contrato ou do testamento.
Solidariedade legal (entre co-locatários; dos cônjuges; entre cofiadores): decorre da lei.
É solidária, ainda como exemplo, a obrigação dos devedores de indenização por ato ilícito, como pena (942, CC/02). A solidariedade aumenta a garantia do credor e pune o autor do ato ilícito ou as pessoas por ele responsáveis.
Solidariedade ativa: é rara.
Cada credor pode exigir do devedor a prestação integral. O devedor se libera da dívida pagando qualquer dos credores. É inconveniente porque se só um credor recebe e se torna insolvente, os demais não recebem nada (podiam exigir o rateio mas não podem mais, por causa da insolvência – do credor).
Mandato:
Substitui a solidariedade ativa, assumindo a única vantagem que é a de receber a totalidade da dívida, evitando a cobrança parcelada, com vantagens adicionais: responsabilidade do mandatário mais a possibilidade de revogação ad nutum do mandato.
Ex.: contas conjuntas – credores solidários.
Cada credor só o é de parte da prestação e, se a recebe inteira, deve oferecer aos cocredores os quinhões a eles correspondentes.
O mesmo ocorre em caso de novação, compensação ou remissão.
Falecimento de credor solidário: cada um dos seus herdeiros recebe apenas uma fração do direito creditório. Não pode o herdeiro exigir e receber a totalidade da prestação, como podia fazê-lo o “de cujus”. Cada herdeiro só pode cobrar a parte do crédito correspondente ao seu quinhão hereditário, salvo se prestação for indivisível (art. 270, CC).
Não é que com a morte do credor solidário desaparece a solidariedade, mas cada herdeiro só pode cobrar a sua parte (seu quinhão).
Caso haja apenas um herdeiro (fica no lugar do “de cujus”, como credor solidário), pode cobrar a prestação integral. E se os herdeiros agirem em conjunto, também podem cobrar a prestação integral.
Solidariedade passiva (art. 275, CC/02):
Vários devedores, e o credor pode exigir de um ou de vários deles o pagamento da dívida, parcial ou totalmente.
Requerendo o pagamento parcial de um dos devedores, o credor pode requerer o resto dos demais, que continuam solidários (art. 275, CC/02).
Obrigação solidária é fusão de várias obrigações individuais e autônomas, de cada um dos devedores. Por isso, apesar da solidariedade, um codevedor não pode prejudicar os demais. Então, se um devedor aumentar a taxa de juros, ou abreviar o termo do (antecipar o) vencimento, não vincula a tais reajustes os demais codevedores (arca sozinho com os ônus). Art. 278, CC/02.
Solidariedade passiva é fusão de obrigações autônomas – a relação jurídica apresenta um lado externo, onde o conjunto dos devedores forma um único devedor, pois dele pode o credor exigir a totalidade do crédito; e um lado interno, onde cada devedor tem a sua obrigação, individual ou autônoma.
Por isso, a regra do art. 281, CC/02, segundo o qual o devedor demandado não pode opor as exceções (defesas) pessoais dos outros. Só pode opor as suas (ex.: compensação) e as de todos (ex.: prescrição).
Se só houvesse uma relação jurídica a exceção de um devedor seria a de todos, bastando a sua oposição ao credor para suspender a cobrança.
Execução da obrigação por um dos devedores solidários:
O devedor demandado pelo pagamento integral da dívida, como na realidade só deve a sua parte, sofre um empobrecimentoem favor dos demais codevedores, e pode requerer o reembolso de cada codevedor, relativo à quota de cada um.
Art. 283, CC/02: se um codevedor estiver insolvente, os demais codevedores repartem a quota do insolvente, restituindo-a ao devedor que foi demandado e pagou a dívida inteira.
Art. 284, CC/02: até os codevedores exonerados da solidariedade pelo credor ratearão a quota do codevedor insolvente.
Art. 285, CC/02: se a dívida solidária interessar somente a um dos codevedores, como por ex.: o locatário é o único interessado no pagamento, embora o fiador possa ser solidário, o devedor interessado (inquilino) fica obrigado a reembolsar o codevedor não interessado (fiador). Isto porque a obrigação solidária é reunião de obrigações autônomas.
Execução parcial da obrigação solidária por um dos codevedores:
Quando o credor exige ou recebe do devedor escolhido parte da prestação – a solidariedade persiste, vinculando os demais obrigados. Mas o credor só pode cobrar o restante (o saldo remanescente) dos outros devedores (art. 277, CC).
O mesmo ocorre se o credor perdoa (remissão) um dos devedores – só pode cobrar o saldo remanescente, dos demais.
Isso porque o perdão da dívida é, como o pagamento, meio de extinção da obrigação.
Renúncia à solidariedade:
Não pratica remissão o credor que renuncia à solidariedade. Apenas deixa de ter vantagens, e só pode cobrar de cada devedor a sua cota.
A renúncia à solidariedade pode se referir a todo os devedores ou apenas a alguns deles.
- Renúncia total (a todos os devedores) - a solidariedade desaparece e a obrigação se divide em tantos quantos forem os devedores – regra “concursu partes fiunt”.
- Renúncia parcial – a relação jurídica se divide: parte dos devedores só respondem por sua quota (obrigação simples de cada devedor) e a outra parte responde solidariamente.
O credor para demandar o devedor solidário não deve abater do débito a parte do devedor exonerado da solidariedade. O fundamento está no art. 282, parágrafo único do CC.
Obs.: art. 912, parágrafo único do CC/1916 era incorreto. Falava em abater a parte do devedor exonerado da solidariedade quando da cobrança de outro devedor ainda solidário. Ocorre que a dívida do exonerado permanece. Só está extinta, para o exonerado, o fato da solidariedade.
1.Inadimplemento da obrigação solidária:
Seja a cobrança em juízo ou não – se o credor não recebe, pode demandar outro devedor solidário. O credor reclama até receber o pagamento (no direito romano, cobrado um dos devedores, os demais estavam liberados).
1.1- Se a obrigação se impossibilitar:
a) Por força maior: os codevedores se livram da obrigação. Esta se extingue. Ex.: o objeto a ser entregue perece por força maior.
b) Por culpa de um dos obrigados (devedores): o credor recebe o equivalente da prestação, mais as perdas e danos. O equivalente da prestação é por todos devido, mas as perdas e danos só são devidas pelo codevedor que culposamente impossibilitou a obrigação. Isso porque um dos codevedores não pode agravar a obrigação dos coobrigados voluntariamente (art. 278, CC), e, obviamente, portanto, não pode agravar a obrigação dos coobrigados por ato ilícito.
Mora: quando o devedor não paga no tempo certo, lugar certo ou forma certa, conforme convencionado.
O efeito da mora é gerar a responsabilidade do culpado pela reparação das perdas e danos a que der causa. Se a prestação for pecuniária, o prejuízo é representado pelos juros que fluírem durante o retardamento.
Não só o devedor que ocasionou a mora responde pelas suas consequências (ex.: pelos juros), mas sim todos os devedores solidários – para a maior proteção de credor. Conforme art. 280, CC.
E os demais devedores não culpados pelos juros podem pleitear do culpado o reembolso.
Dos efeitos da morte do devedor solidário:
Herdeiros reunidos ficam no lugar do codevedor, podendo o credor cobrar deles a totalidade da dívida. O mesmo se pode dizer em relação ao espólio.
Mas cada herdeiro só deve uma fração, e, portanto, separadamente não pode ser obrigado a pagar a dívida integralmente, mas, apenas, parte do débito – correspondente à sua participação na herança – art. 276, CC. Salvo se a obrigação for indivisível.

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