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Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 1 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO TECNOLÓGICO EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS GST1135 – TREINAMENTO, DESENVOLVIMENTO E EDUCAÇÃO CORPORATIVA PROF. ANDRÉ RICARDO DE ALVARENGA BARBOSA – arabrj@hotmail.com “Não existem pessoas sem conhecimento. Elas não chegam vazias. Chegam cheias de coisas. Na maioria dos casos trazem juntas consigo, opiniões sobre o mundo, sobre a vida.” (Paulo Freire) APRENDIZAGEM Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 2 1. O PROCESSO COMUNICATIVO Falar e comunicar são sinônimos? FALAR é utilizar os recursos da língua para encadear o raciocínio e expressar mensagens. É estruturar frases e dizê-las corretamente. COMUNICAR requer a habilidade de sintonizar com o outro. É interagir. É fazer-se entender por outros; é criar sentido para mensagens. COMUNICAR – do Latim COMUNICARE = Tornar comum; fazer saber. COMUNICAÇÃO – Não é mera transmissão de mensagens, mas, sim, construção conjunta de sentido. 1.1. O FLUXO DA COMUNICAÇÃO EMISSOR Aquele que transmite a mensagem RECEPTOR Aquele que recebe a mensagem A mensagem Dizer-lhe o quê? R U Í D O S Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 3 Emissor: é aquele que emite, envia, transmite a mensagem. O emissor deve ser capaz de construir mensagens que sejam compreendidas pelo receptor. Receptor: é o indivíduo que recebe a mensagem. Este deve estar sintonizado com o emissor, de forma a entender a mensagem, ele será mais receptivo quanto maior for a sua abertura ao outro. Mensagem: é o conteúdo da comunicação (conjunto de sinais com significado: ideias, sentimentos, conjunto de símbolos emitidos pelo emissor). Código: é o conjunto de sinais e regras que permite transformar o pensamento em informação que possa ser entendida, na sua globalidade, pelo receptor. O emissor utiliza o código para construir a sua mensagem – operação de codificação - (é capaz de construir mensagens com significado e que sejam entendidas pelo receptor), enquanto que o receptor utiliza esse mesmo código para compreender a mensagem – o receptor decodifica a mensagem (é capaz de interpretar a mensagem, compreendê-la, dar-lhe um significado). Canal: é o suporte físico por meio do qual passa a mensagem do emissor para o receptor. O canal mais comum é o ar, mas existem outros - a carta, o livro, o rádio, a TV, a Internet, etc. Ambiente: É o entorno da mensagem. É o conjunto de variáveis que rodeiam e influenciam a situação de comunicação. Ruído: Inclui tudo aquilo que perturba ou distorce o processo de comunicação. Os ruídos que adulteram a comunicação podem surgir em qualquer altura do processo e se tornam barreiras para uma comunicação eficaz. Em comunicação, um ruído é tanto um barulho (fisicamente perceptível), como uma ideia ou sentimento que esteja perturbando a eficácia do processo comunicacional. Feedback ou informação de retorno: é o que permite aferir a eficácia da comunicação e de que forma a mensagem está chegando ao interlocutor. Serve para corrigir deficiências ou equívocos e reforçar a comunicação. O feedback é a mensagem que é enviada ao emissor e que lhe transmite como as suas comunicações e atitudes foram percebidas e sentidas pelo receptor. A eficácia do feedback é tanto maior quanto maior for a confiança existente entre os intervenientes. PERCEPÇÃO Processo pelo qual as pessoas escolhem, organizam, interpretam, processam e reagem às informações. A realidade é percebida, conscientemente, pelo ser humano através de seus sistemas sensoriais (visão, audição, tato, paladar, olfato) – filtros neurológicos. Com eles obtemos as informações do meio ambiente ou mundo real. PORTAS DA PERCEPÇÃO - Neste nível processamos e geramos imagens mentais, que se misturam às nossas lembranças, valores, crenças, emoções, objetivos, sensações – filtros pessoais – mapas mentais. Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 4 Finalmente, com o julgamento feito e a decisão tomada, reagimos ao mundo externo através da comunicação e dos comportamentos verbais e não-verbais. Para refletir: - A nossa percepção nem sempre espelha a verdade absoluta; - Existem tantas percepções diferentes quantas são as pessoas. Cada um cria sua representação interna do mundo, que obviamente é diferente de um indivíduo para outro; - Saber como a percepção se forma nos ajuda a melhor compreender e ter empatia para o modelo de realidade subjetiva formado pelos outros 1.2. ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO Não-verbal: refere-se a postura, apresentação pessoal (imagem), expressão facial, gestos, etc. Qualidade da voz: tom, ritmo, clareza do som, altura, etc. Palavra: mensagem propriamente dita. Percentual do impacto que causa a comunicação: Pesquisa de Dr. Albert Mehrabian, Universidade da Califórnia.* * Dr. Albert Mehrabian, pioneiro da pesquisa da linguagem corporal na década de 1950. A questão era o aspecto que você tinha ao falar e não o que realmente dizia. A maioria dos pesquisadores hoje concorda que as palavras são usadas primordialmente para transmitir informações, ao passo que a linguagem corporal é usada para negociar atitudes interpessoais e, em alguns casos, como substituta das mensagens verbais. Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 5 2. PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM 2.1. O QUE É ENSINO? Ensino é o conjunto de eventos planejados para iniciar, ativar e manter a aprendizagem no treinando. Robert Gagné 2.2. E O QUE É APRENDIZAGEM? Aprendizagem é um processo que torna os indivíduos capazes de modificar seu comportamento de modo relativamente rápido, de uma forma mais ou menos permanente, de tal forma que não tenha que ocorrer frequentemente, em cada nova situação. Robert Gagné APRENDER é: – Adquirir um novo CONHECIMENTO ou informações sobre um assunto que não tinha anteriormente; – Adquirir uma nova HABILIDADE ou uma forma nova, diferente ou melhor de realizar uma tarefa; – Adquirir uma nova ATITUDE ou uma forma diferente de ver e compreender uma situação ou fato. 3 Componentes Básicos da Aprendizagem: Conhecimento - o que a pessoa precisa saber; Habilidade - o que a pessoa precisa fazer; Atitude - o que a pessoa precisa querer. Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 6 As pessoas APRENDEM: – Vendo / observando; – Ouvindo / escutando; – Sentindo / vivenciando; – Pensando / refletindo; – Lendo / estudando; – Fazendo / praticando; – Conversando / discutindo / debatendo. O que caracteriza a aprendizagem é a RETENÇÃO, ou seja, aquilo que fica guardado, após algum tempo. 2.3. ANDRAGOGIA É a arte ou ciência de orientar adultos a aprender. (Malcom Knowles, 1970) Para educadores como Pierre Fourter (1973), a andragogia é um conceito amplo de educação do ser humano, em qualquer idade. O termo remete a um conceito de educação voltada para o adulto, em contraposição à pedagogia, que se refere à educação de crianças (do grego paidós, criança). RETENÇÃO • 10% do que lemos • 20% do que escutamos • 30% do que vemos • 50% do que vemos e escutamos • 70% do que ouvimos e logo discutimos • 90% do que ouvimos e logo realizamos Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 7 Principais diferenças entre o aprendizado de crianças (pedagogia) e o de adultos (andragogia): Características da Aprendizagem Pedagogia Andragogia Relação Professor/Aluno Professor é o centro das ações, decide o que ensinar, como ensinar e avalia a aprendizagem. A aprendizagem adquire uma característicamais centrada no aluno, na independência e no autodirecionamento da aprendizagem. Razões da Aprendizagem Aprendizagem segue um currículo padronizado, de acordo com o que a sociedade espera que saiba. Aprendizagem para a aplicação prática na vida diária. Experiência do Aluno O ensino é padronizado e a experiência do aluno tem pouco valor. A experiência é rica fonte de aprendizagem, através da discussão e da solução de problemas em grupo. Orientação da Aprendizagem Aprendizagem por assunto ou matéria. Aprendizagem baseada em problemas, exigindo ampla gama de conhecimentos para se chegar à solução. 2.4. PERFIL DO INSTRUTOR/PALESTRANTE Competência profissional Autocontrole Pontualidade e exemplo Entusiasmo Autoconfiança Criatividade Relacionamento interpessoal Domínio do grupo e do ambiente Empatia Capacidade de comunicação Organização e método de trabalho Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 8 Para que uma apresentação promova mudanças comportamentais, é necessário que o instrutor assuma os seguintes papéis: 2.5. PRINCÍPIOS ORIENTADORES DA APRENDIZAGEM A. A aprendizagem é um processo pessoal (AUTOAPRENDIZAGEM) Ocorre dentro de cada um. As pessoas aprendem não apenas pelas explicações que recebem, mas, principalmente, pelas oportunidades que lhes são oferecidas para praticar o que lhes foi ensinado. Portanto, para que a aprendizagem ocorra, é necessário que haja atuação e participação direta daquele que aprende. Quando o aluno exprime incertezas, tenta resolver problemas, esclarecer dúvidas e faz descobertas, ele está realizando sua aprendizagem. Autoaprendizagem: O que o instrutor/apresentador deve fazer? Promover momentos de reflexão e prática. Estimular a busca, questionamentos, descobertas, etc. Orientar o caminho para o autodesenvolvimento do colaborador. Atividades, com leituras, pesquisas, estudos de casos, estudos dirigidos, delegação de responsabilidades, entre outras, devem ser estimuladas como forma do aluno promover seu próprio crescimento. Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 9 B. A aprendizagem exige a ATENÇÃO DIRIGIDA do treinando. O processo de aprendizagem não envolve somente a área do saber (cognitiva) de quem aprende, a área do querer fazer (de atitudes) e a do saber fazer (habilidades). É necessário que o indivíduo esteja “por inteiro” no momento da aprendizagem para captar os estímulos que o levem à aprendizagem requerida. Para que o aluno perceba os estímulos relevantes da aprendizagem em questão, é necessário que sua atenção esteja concentrada. Atenção dirigida: O que o instrutor/apresentador deve fazer? Ao perceber qualquer sinal de falta de atenção, desconforto físico ou psicológico, o instrutor deve, evitando constrangimentos, intervir individualmente ou no grupo, dependendo da situação, procurando identificar a causa do distúrbio. A análise da situação pelo instrutor indica a melhor ação a adotar. C. A aprendizagem é MOTIVADA. O adulto se dispõe a aprender aquilo que decidiu aprender. Não existe aprendizagem se o indivíduo não quer aprender, mesmo que o ambiente/situação de aprendizagem seja o mais adequado e favorável possível. É necessário que exista a necessidade de aprender no treinando. Todos nós temos necessidades e nos esforçamos para satisfazê-las, mas elas não influem em todas as pessoas com a mesma força. Motivação: O que o instrutor/apresentador deve fazer? Explicar ao treinando o porquê de sua participação no programa de desenvolvimento proposto. Deve criar um ambiente onde surjam sentimentos de realização, crescimento pessoal/profissional, reconhecimento pelo desempenho, situações desafiadoras, resultando em capacidades mais desenvolvidas. D. A aprendizagem será mais SIGNIFICATIVA se for sentida como importante e útil por quem aprende. A aprendizagem é muito mais importante duradoura e útil se tiver significância para a pessoa que está aprendendo. Este princípio tem relação estreita com a motivação, pois se o participante perceber a utilidade do que está sendo apresentado para sua vida pessoal/profissional, irá sentir-se estimulado a continuar o processo. A aprendizagem não deve ser mera retenção de conteúdos sem uma aplicação clara. Daí a necessidade dos programas de desenvolvimento estarem associados a possíveis aplicações em suas atividades profissionais. Esta é uma das razões que explicam porque os adultos aprendem mais em situações reais de trabalho. Significância: O que o instrutor/apresentador deve fazer? Explorar a experiência do participante e propiciar o constante intercâmbio teoria- prática. Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 10 E. A Aprendizagem só ocorre quando a pessoa detiver os PRÉ-REQUISITOS para realizá-la. Para iniciar um novo processo de aprendizagem é preciso que o aluno tenha os pré-requisitos necessários. Por exemplo, para iniciar a aprendizagem de como cadastrar informações num sistema, é necessário que se tenha conhecimentos básicos de como navegar nesse sistema. Pré-requisitos: O que o instrutor/apresentador deve fazer? Avaliar pré-requisitos: analisar se os conhecimentos, as habilidades e as atitudes do aluno permitem a sua participação no processo de treinamento. F. Aprendizagem é um processo CUMULATIVO. Pois o indivíduo está sempre aprendendo alguma coisa, preparando-se para novas aprendizagens. Uma aprendizagem realizada torna-se pré-requisito para outra. Por exemplo, a pessoa somente aprenderá a multiplicar quando houver aprendido a somar. Cumulativo: O que o instrutor/apresentador deve fazer? As ideias e atividades devem estar organizadas numa sequência lógica, indo dos assuntos mais simples aos mais complexos. É necessário que aprendizagens anteriores possibilitem a aprendizagem atual, sem as quais esta não se efetivará. As ideias devem estar interligadas de tal forma que os assuntos completem-se e integrem-se na medida em que se desenvolve a instrução. G. A aprendizagem é mais efetiva quando realizada em PEQUENAS ETAPAS SUCESSIVAS: A aprendizagem é considerada efetiva quando o aprendiz vai dominando o conteúdo em pequenas porções sucessivas e lógicas – em “doses homeopáticas”. Somente Após a compreensão e o esclarecimento de todas as dúvidas é que o colaborador tem condições de ir adiante. Pequenas etapas sucessivas: O que o instrutor/apresentador deve fazer? Apresentar o conteúdo sequenciado e em pequenos blocos; iniciar a explicação de um novo assunto somente após estar certo de que houve a compreensão da etapa anterior por parte do colaborador. H. A pessoa aprende forma mais efetiva quando pode VERIFICAR IMEDIATAMENTE A SUA RESPOSTA. A correção imediata da resposta reforça a aprendizagem, pois o aluno tem a oportunidade de fixar a resposta certa. Este princípio tem relação com a fase de retenção – fixação da resposta certa – e com motivação, pois o aluno vai tendo reforço de seu rendimento através das informações que recebe do instrutor sobre seus pontos fortes e orientações sobre em que ainda precisa se esforçar mais – pontos a melhorar. Verificação imediatada da resposta: O que o instrutor/apresentador deve fazer? Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 11 Avaliar e diagnosticar dificuldades após cada etapa do processo ensino- aprendizagem e corrigir a tempo os desvios que forem acontecendo. I. A aprendizagem se processa de acordo com as DIFERENÇAS INDIVIDUAIS. A aprendizagem é um processo que envolve todas as experiências do indivíduo. Portanto, cada pessoa tem uma vigência única e pessoal, interesses, grau de inteligência e capacidades, ritmo de aprendizagem e uma forma pessoal de estabelecer seus códigos paraarmazenar as informações. Cada indivíduo tem seu modo próprio de aprender. Diferenças individuais: O que o instrutor/ apresentador deve fazer? Primar, em sua prática, pelo respeito ao aprendiz, evitando preconceitos na relação. Além disso, deve variar o repertório de técnicas e recursos, atendendo às diferenças de capacidade, ritmo, etc. Deve também evitar comparações de desempenho e comportamento entre os participantes para não prejudicar sua autoconfiança e motivação e para não comprometer o ambiente de aprendizagem. Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 12 PREFERÊNCIAS SENSORIAIS DE ACORDO COM ESTUDOS DA PNL Os estudos da PNL (Programação Neurolinguística) nos mostram que as pessoas desenvolvem preferências sensoriais, sendo que em alguns indivíduos o habitual "jeito de pensar," se assim pode-se chamar, é visual; em outros ele é auditivo; e talvez na maioria, ele seja igualmente dividido. Ou ainda, pode ser também cinestésico. Uma pessoa cuja imaginação visual é forte acha difícil entender como aqueles que não têm essa faculdade podem pensar. Esse conhecimento e lembrança ocorre certamente por meio de imagens verbais. O tipo auditivo parece ser mais raro do que o visual. Pessoas desse tipo imaginam o que elas pensam na linguagem do som. A fim de lembrar uma lição elas imprimem em suas mentes, não a aparência de uma página, mas o som das palavras. Elas raciocinam, bem como se lembram, pela audição. Ao executar uma soma mental elas repetem verbalmente o nome dos números, e somam como se eles fossem sons, sem qualquer pensamento de sinais gráficos. Talvez o tipo motor, ou seja o cinestésico, permanece o mais interessante de todos, e certamente é o menos conhecido. Pessoas que pertencem a esse tipo fazem uso da memória, do raciocínio e de todas as suas operações intelectuais e das imagens derivadas do movimento. Essas são as descrições clássicas dos aprendizes visuais, auditivos e cinestésicos sob a perspectiva da PNL. O PAPEL DO PROFESSOR Professores precisam estar conscientes de que os sentidos são a porta de entrada para o cérebro, mas também precisam saber que todo aluno tem uma preferência sensorial. A compreensão desse princípio é a chave para a comunicação multissensorial. Alunos auditivos Muitas das pessoas que se sentam em nossas salas de aula não precisam de recursos visuais para aprender nem precisam interagir diretamente com o professor. Para o aluno auditivo, é suficiente que o professor se comunique com clareza verbal. Na verdade, esse aluno prefere aprender e aprende melhor através do sentido da audição. Ele ou ela se preocupa com o fluxo lógico das informações e compreende e entende melhor quando a informação é auditiva. Tais alunos auditivos aprendem melhor através de palestras, discussões verbais, falando sobre as coisas, e ouvindo o que os outros têm a dizer. Algumas pessoas são tão proficientes na aprendizagem através da audição que as informações recebidas que não sejam pelo canal auditivo podem realmente interferir a sua aprendizagem. Por exemplo, se um alto-falante está se referindo aos gráficos e ilustrações gráficas, este aluno pode Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 13 precisar ignorar essa parte da apresentação (mesmo fechando os seus olhos), a fim de concentrar-se nas informações auditivas. Em algumas ocasiões quando a mensagem é demasiadamente visual ou muito interativa, esse tipo de aluno pode expressar alguma dificuldade com atenção e compreenssão da mensagem. Esses casos alertam para o perigo do exagero com efeitos visuais. Alunos visuais Este indivíduo aprende melhor vendo o material ou conceito que está sendo ensinado. Ele ou ela pode ter dificuldades para entender e lembrar as informações a menos que possam ser vistas. Não é desnecessário lembrar que, os olhos são uma parte intrínseca do processo de aprendizagem para todos nós que têm o dom da visão. Muitos cientistas acreditam que a visão é o sentido dominante para a maioria das pessoas e no caso destas, aprendem mais eficazmente quando as informações são apresentadas visualmente ou pelo menos com ajuda visual. Para alguns o sentido da visão é tão dominante que eles são forçados a compensar se a comunicação não for visual, tentando visualizar a imagem em sua mente daquilo que está aprendendo. Alunos cinestésicos ou interativos Essas pessoas aprendem melhor através do movimento, fazendo e tocando. Eles são referidos como aprendizes táteis / cinestésicos, e eles têm um desejo de explorar o mundo físico ao seu redor. Eles podem achar que é difícil ficar parado por longos períodos. Alunos cinestésicos precisam tocar, segurar, e fazer algo com a informação que está sendo ensinado. Por exemplo, se a eles estava sendo ensinado a mecânica de digitação, eles precisariam do teclado para realmente fazer alguma digitação. Pilotos de aeronaves sabem sobre este tipo de aprendizagem. Seu aprendizado auditivo vem através do ouvir os instrutores de vôo e leitura de livros de instrução de vôo. Sua aprendizagem interativa vem através de realmente voar no avião ou através do simulador de voo. Palestras podem ser úteis, mas os pilotos vão dizer que eles realmente aprenderam a pilotar o avião quando eles colocam as mãos para pilotrar o instrumeto. Peter Kline ressalta: "Você nasceu para aprender com o seu corpo inteiro e todos os seus sentidos. Você não nasceu para se sentar em uma cadeira por oito horas por dia e ouvir alguém falar, ou para se debruçar sobre livros ano após ano" Para resumir, a modalidade dominante de um indivíduo é o canal sensorial por meio do qual a informação é processada de forma mais eficiente. Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 14 E como saber qual é o seu estilo? QUAL É SEU ESTILO DE APRENDIZAGEM Apesar de o ser humano ter habilidade para aprender pelos sistemas auditivo, visual e cinestésico de maneira combinada, há pessoas que utilizam um deles de forma predominante. VISUAL AUDITIVO CINESTÉSICO Como aprende Vendo, sendo capaz de fazer uma imagem imediata do que está recebendo como informação. Ouvindo, sendo capaz de montar uma história com a informação que está recebendo. Fazendo ou executando, sendo capaz de guiar-se pela experiência motora. O que distrai sua atenção Estímulos visuais em demasia ou conflitantes. Grande número de informações recebidas. Ruídos de fundo. Estímulos auditivos dados rapidamente para serem convertidos em informações auditivas. Estímulos conflitantes visuais e/ou auditivos. Ser impedido de mover-se ou de fazer algo. Processamento de informação Tende a devanear quando está pensando. Pensa em ritmo rápido. Os olhos tendem a ficar fixos quando está pensando. Seus pensamentos ocorrem em uma velocidade moderada. Pessoas que tendem a olhar para baixo quando estão pensando. Seus pensamentos ocorrem em um ritmo mais lento. Como você interage com o ambiente Verifica sempre o que está acontecendo ao seu redor. Ouve o que está sendo dito a sua volta e não parece consciente de modificações no plano visual. Mais focalizado em si, bastante consciente do clima que o circunda; não parece consciente da atividade visual. Estilos de organização A percepção é global; percebe o todo e, se necessário, decompõe em partes a percepção inicial. Organizados; dependem de informações detalhadas e de instruções passo a passo. São orientados pela linguagem. Repetem para si o que devem memorizar. Organização gradual, criativa e divergente. Não há modelos definidos e estatísticos para aprendizagem; Chega a conclusões diferentesda maioria. Fonte: Livro Processamento Auditivo: Fundamentos e Terapias , de Ana Maria Alvarez, Editora Lovise. Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 15 Agora, seguem algumas dicas de estudo, de acordo com cada preferência sensorial: Para os visuais: Procure recursos visuais sobre as matérias estudadas (exemplo: vídeo-aulas); Tente fazer resumos usando anotações, tabelas, esquemas, desenhos, fluxogramas, gráficos e outros recursos parecidos; Utilize-se das dicas anteriores, colocando-as nos mais diversos lugares (porta do quarto, armário do seu computador etc., para que, sempre que passar pelo lugar, possa dar mais uma olhada); Visualize os gestos do professor, o modo como ele ensina (na hora de lembrar sobre determinado assunto, você poderá visualizar o modo como foi passada a informação); Tente construir imagens mentais sobre o que estiver estudando; Dê importância às leituras, principalmente às que contêm esquemas e resumos gráficos. Para os auditivos: Procure gravar as aulas, palestras, seminários; Escute as gravações periodicamente; Faça resumos e grave-os para que você possa escutar o que escreveu; Procure escutar as gravações, logo assim que acordar ou antes de dormir (é uma técnica que funciona, pois a mente está desobstruída de problemas ou já está se preparando para o sono); Escute mais as aulas e tente escrever pouco para ter mais atenção , usando a dica geral, preferencialmente; Leia os textos em voz alta; Fique atento a tudo o que é falado em aula; Converse com os amigos sobre os conteúdos. Para os cinestésicos: Procure professores que ministrem aulas dinamicamente, com alternações de voz, que façam movimentos com os braços, andam para lá e para cá, escrevem no quadro, enfim, tudo o que tenha relação com movimento, alternância; Procure estudar lendo em voz alta e caminhando pelo local de estudo; Faça experiências práticas sobre o assunto, pesquisas, exercícios, atividades em laboratório (exemplo seria para a matéria de Informática) etc.; Procure estudar mudando de posição de vez em quando; Escreva, fale, leia e faça gestos que achar que representem melhor as informações estudadas. Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 16 As dicas acima são válidas independentemente do estilo predominante, já que o ideal é que saibamos utilizar os três de maneira equilibrada (e isso é possível, basta treinarmos e muito, até que as três formas de percepção estejam bem apuradas, lapidadas). Não as utilizamos equilibradamente por força de variáveis ambientais que nos moldam, que fazem-nos adaptar às situações do dia-a-dia. Finalizando, uma dica especial para todos (parece óbvio, mas muitos não a realizam): Procure ler a matéria com antecedência! Isto os ajudará a manter os canais (meios de percepção) sempre atentos e disponíveis para melhor absorção dos conhecimentos. Por exemplo, o auditivo deve estudar a matéria com antecedência para que, na hora da aula, fique disponível para escutar tudo o que o professor passa, sem se preocupar muito com anotações. Além disso, será o segundo contato com a matéria, em vez de ser o primeiro. As noted in Thomas Armstrong, Multiple Intelligences in the Classroom (Alexandria, VA: Association for Supervision and Curriculum Development, 1994); Robert Ulrich, Education in Western Culture (New York: Harcourt, Brace and World, 1965); As noted in Willis and Hodson, Discover Your Child’s Learning Style, 155; John MacArthur, Why Government Can’t Save You: An Alternative to Political Activism (Nashville, TN: Nelson, 2000). Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 17 QUAL O SEU SISTEMA SENSORIAL PREFERENCIAL? Leia as questões abaixo e enumere de acordo com sua preferência. 4 para o item que mais se aproxima de você.2 para o item que se aproxima mais ou menos e 0 para o que menos se aproxima. 1 - Quando não tenho nada para fazer à noite, prefiro: a. ( ) Ver televisão e/ou ler jornal ou revista; b. ( ) Ouvir música e/ou conversar com alguém; c. ( ) Relaxar o corpo e/ou fazer uma caminhada. 2 - Quando ouço uma música: a. ( ) Faço logo uma imagem do cantor ou do tema da música; b. ( ) Presto bem atenção na melodia e na letra; c. ( ) Não consigo deixar de batucar com os pés ou mãos. 3 - Quando penso em alguém de quem não gosto muito, logo me lembro: a. ( ) De sua imagem; b. ( ) Do som da sua voz; c. ( ) Do calor de sua mão/corpo. 4 - Quando me lembro de um lugar que eu gosto, recordo primeiro: a. ( ) Da paisagem; b. ( ) Dos sons que eu ouvia lá; c. ( ) Das sensações que o local me proporcionava. 5 - Entendo e executo melhor uma tarefa quando: a. ( ) Me passam por escrito ; b. ( ) Me explicam o que deve ser feito; c. ( ) Sinto que sou capaz de realizá-la. 6 - Para eu tomar uma decisão: a. ( ) Visualizo todas as possibilidades para poder decidir; b. ( ) Ouço todos os argumentos em um diálogo interno; c. ( ) Peso prós e contras para escolher. 7 – O grupo de minha preferência é: a. ( ) Fotografia, pintura, leitura, desenhos, filmes; b. ( ) Música, instrumentos musicais, concertos, sininhos c. ( ) Jogar bola, trabalhos artesanais, massagem, introspecção, toque. 8 - Quando vou comprar uma roupa: a. ( ) Imagino-me vestido(a) com ela; b. ( ) Penso no que as pessoas vão dizer quando me virem; c. ( ) Sinto a textura do tecido para saber se vou me sentir confortável 9 - Quando faço dieta, ginástica ou algo para melhorar meu físico, fico satisfeito quando: a. ( ) Vejo-me no espelho, melhorando; b. ( ) Ouço as pessoas dizendo com estou bem; c. ( ) Sinto meu corpo mais firme/em boa forma. 10 - Quando faço contas, verifico a resposta: a. ( ) Olhando os números para ver se estão corretos; b. ( ) Contando os números baixinho; c. ( ) Contando nos dedos. 11 - Na praia, o que mais me agrada: a. ( ) O visual da areia, do sol, da cor da água, das pessoas; b. ( ) O som das ondas, o sopro do vento, o burburinho das pessoas; c. ( ) A sensação da areia nos pés, da água no corpo, o calor do sol, o cheiro do mar, a serenidade. Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 18 12 - Para eu dormir, é mais importante que: a. ( ) O quarto esteja com a luminosidade adequada; b. ( ) O quarto esteja silencioso ou com sons suaves; c. ( ) A cama esteja bem confortável. 13 - Se eu precisar ir a algum lugar e não souber exatamente onde fica, prefiro: a. ( ) Localizar-me, olhando um guia de ruas ou até mesmo um mapa; b. ( ) Perguntar a alguém onde fica o lugar; c. ( ) Seguir minha intuição que sempre me leva ao caminho certo. 14 – Para mim, é mais fácil perceber quando uma pessoa está mentindo: a. ( ) Pela cara que a pessoa faz; b. ( ) Pelo tom de sua voz; c. ( ) Pela sensação que me dá de que algo está errado. 15 - Quando me aproximo de uma planta com flores, gosto de: a. ( ) Apreciar a beleza e o colorido das flores; b. ( ) Comentar sua beleza e até conversar com ela; c. ( ) Tocá-la e sentir seu perfume. 16 – Eu comunico mais facilmente o que se passa comigo: a. ( ) Pelo modo como visto; b. ( ) Pelo tom da minha voz; c. ( ) Pelos sentimentos que compartilho. 17 - Quando assisto a um jogo de futebol ou de algum outro esporte qualquer, o que mais me chama a atenção: a. ( ) São os esportistas correndo, armando jogadas; b. ( ) São os gritos e as músicas das torcidas; c. ( ) É a emoção que passa todo aquele povo torcendo. 18 - Quando não gosto de uma pessoa, desagrada-me quando: a. ( ) Vejo se aproximar de mim; b. ( ) Ela começa a falar comigo; c. ( ) Sinto que ela está por perto. 19 – Eu sei que estou me desenvolvendo profissionalmente quando: a. ( ) Vejo-me mudando para um escritóriomais confortável; b. ( ) Ouço alguém dizer: “Você vai longe!” c. ( ) Sinto-me satisfeito(a) por estar realizando um bom trabalho. 20 - Pela manhã, eu realmente gosto de acordar: a. ( ) Com o sol entrando pela janela; b. ( ) Com o som do despertador ou de alguém me chamando; c. ( ) Espreguiçando-me ou com alguém me tocando. Some todos os pontos colocados em cada letra. A letra com maior número de pontos corresponde a seu sistema sensorial preferencial: a. Visual ________ b. Auditivo ________ c. Cinestésico ________ Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 19 TEXTOS COMPLEMENTARES APRENDA A GESTICULAR E TORNE SUAS APRESENTAÇÕES MAIS EFICIENTES. Por Reinaldo Polito Extraído da “Revista Vencer”, Outubro de 2002 Em minhas palestras, é muito comum os participantes perguntarem sobre a gesticulação dos apresentadores do programa Fantástico, da Rede Globo. Alguns dizem estranhar a maneira como eles movimentam os braços, outros comentam a respeito da forma como encostam a palma de uma das mãos sobre a outra todas as vezes que precisam buscar posição de apoio. Bem, não existe nada de anormal com a expressão corporal desses apresentadores, mas se tantas pessoas notam os gestos é porque algum detalhe está chamando a atenção. Talvez seja esse o mais importante segredo da boa gesticulação – não chamar a atenção. A vida toda ouvimos pessoas, especialistas ou não, comentando sobre a atuação dos juízes de futebol, e é quase unanimidade julgar que o bom árbitro é aquele que não aparece no jogo. Acompanha todas as jogadas de perto, apita as faltas e até expulsa os jogadores desleais, mas ninguém nota sua presença. Com os gestos ocorre um fenômeno muito semelhante. Eles devem participar ativamente da comunicação, destacando e complementando as informações importantes, esclarecendo mensagens ocultas que não são transmitidas com palavras, mas sem que sejam percebidos de maneira ostensiva. Neste texto vou explicar como usar a expressão corporal de forma correta e, a partir desses conceitos, você terá condições de aprimorar sua comunicação e entender por que os gestos das outras pessoas, inclusive dos apresentadores de televisão, são executados de maneira apropriada ou não. A naturalidade O princípio que norteia a boa gesticulação é a naturalidade. É curioso observar como esse princípio natural atua na gesticulação. A partir do momento em que nós pensamos em comunicar uma mensagem, a mente avisa essa intenção ao corpo, que imediatamente entra em ação com o movimento, e só depois é que transmitimos a informação com as palavras. É por esse motivo que os gestos são realizados antes ou simultaneamente com as palavras, e não depois. Por exemplo: se eu desejasse transmitir a mensagem de que havia afastado uma idéia, faria o movimento no sentido lateral com o braço estendido e a palma voltada para fora e, quase ao mesmo tempo, ou logo em seguida, diria: “eu afastei”. Ficaria muito estranho se ocorresse o contrário, se eu dissesse: “eu afastei”, e só depois usasse os gestos. Observe nas suas conversas do dia-a-dia, nos ambientes mais íntimos, quando se sente mais à vontade, qual é seu comportamento com os gestos. Irá constatar que age de acordo com a recomendação da técnica - faz o gesto sempre antes ou junto com as palavras. Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 20 Quando escrevi o livro Gestos e postura para falar melhor, publicado pela Editora Saraiva, comentei na apresentação que contei com a ajuda dos meus quatro filhos, Roberta, Rachel, Rebeca e Reinaldinho, que com sua espontaneidade de crianças, constituíram sempre excelente campo de estudo em que pude identificar a naturalidade do comportamento. Faça você também esse exercício. Observe como as crianças se comportam com os gestos quando estão conversando. Irá constatar que já usam naturalmente todas as técnicas que iremos estudar. Neste momento você poderá estar indagando – Mas se os gestos são naturais, qual o motivo que me levaria a estudá-los? Bem, você já não é mais uma criança e, infelizmente, como todos nós, adultos, perder muito dessa comunicação espontânea tão marcante na época da infância. Provavelmente, também vestiu algumas couraças e, por isso, talvez encontre dificuldades para usar bem os gestos. Este é um alento precioso - você já se comporta de maneira correta com os gestos quando está à vontade nos ambientes mais íntimos, bastará apenas aprender a agir da mesma forma quando estiver em situações mais formais. Os gestos de acordo com as circunstâncias Todos os aspectos estéticos da comunicação como a voz, o vocabulário e a expressão corporal, assim como a própria estrutura da fala deverão sempre estar de acordo com as características dos ouvintes. Cada situação deverá ser analisada isoladamente a partir do contexto da circunstancia, formação intelectual da platéia, conhecimento que possui sobre o tema, faixa etária predominante, emoção produzida pela mensagem, enfim, de acordo com o ambiente e com os fatos que cercam a apresentação. Entretanto, para determinar o tamanho e a intensidade dos gestos, há alguns indicadores que poderão ser observados em praticamente todas as situações – quanto maior for o público e menor o nível intelectual dos ouvintes, mais intensa deverá ser a gesticulação. Por outro lado, quanto menor for a plateia e mais bem preparadas intelectualmente forem as pessoas do auditório, mais moderados deverão ser os gestos. Por exemplo, um político em praça pública, diante de uma multidão envolvida emocionalmente pelo seu discurso, usará gestos largos, realizados acima da cabeça, porque irão mais ao encontro da emoção do que da razão. Se, entretanto, alguém se apresentar em uma pequena reunião, tratando de detalhes técnicos, diante de pessoas bem preparadas intelectualmente, mais moderados e sutis deverão ser os gestos. Por mais complexas que possam parecer, as técnicas da gesticulação deverão considerar sempre esses dois aspectos básicos da comunicação – a naturalidade e as características dos ouvintes. Atitudes desaconselháveis. Note que estou dizendo tratar-se de atitudes desaconselháveis, e não afirmando que sejam erradas. Não existe nada tão errado em comunicação que não possa ser feito em algumas circunstancias. Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 21 É comum ouvir pessoas censurando o comportamento de alguns oradores como se houvessem cometido e pior de todos os erros: “Polito, assisti a uma palestra com um consultor que não sabia se apresentar. Virava e mexia e ele punha a mão no bolso”. Em alguns casos ocorreu de eu conhecer o palestrante que estava sendo criticado e saber que ele era muito bom comunicador. Como, entretanto, alguns aprendem regrinhas de conduta e se moldam totalmente a elas, caem no exagero de achar que qualquer comportamento fora do padrão determinado constitui erro. Por isso, nada de levar regrinhas ao pé da letra. Saiba que embora algumas atitudes sejam desaconselháveis, em certas situações, dependendo do ambiente e das características de quem as utiliza, poderão até ser recomendáveis. Alguns alunos do nosso curso de expressão verbal, por se sentirem bem com determinados comportamentos, mas preocupados porque os julgam incorretos, questionam: “Professor Polito, afinal, posso ou não agir assim?” Ás vezes respondo que ainda não sei, pois vai depender muito do seu estilo de comunicação. Isto é, não dá para colocar as pessoas em formas de certo e errado. Considerando essa relatividade das regras, de maneira geral, não fale com as mãos nos bolsos, atrás das costas, com os braços cruzados, apoiados por muito tempo sobre a mesa, a tribuna ou a haste do microfone. Evite gesticular com as mãos abaixo da cintura ou acima da cabeça.Tome cuidado com a postura. Ás vezes podemos nos sentir intimidados pelo tipo de público que iremos enfrentar e acabamos por nos apresentar com a cabeça baixa, corpo curvado, demonstrando excesso de humildade e com atitude perdedora, de alguém fracassado. Por outro lado, corremos o risco de subestimar os ouvintes e, por isso, nos apresentamos com a cabeça levantada, olhando por cima da platéia, numa atitude que pode aparentar arrogância e prepotência. Outro comportamento que pode comprometer a qualidade da apresentação é o fato de o orador se movimentar diante do público, de um lado para outro, sem objetivo, de maneira desordenada. Ao se posicionar, procure não ficar apoiado apenas sobre uma das pernas, muitas menos trocar com frequência a posição de apoio, ficando ora sobre uma, ora sobre a outra. Não abra ou feche demasiadamente as pernas, pois a primeira posição tirará sua elegância e esta ultima prejudicará seu equilíbrio e o deixará com a postura muito rígida. Fique atento para os movimentos involuntários que podem desviar a atenção dos ouvintes, como por exemplo, coçar a cabeça, segurar a gola da blusa ou do paletó, mexer na aliança, na pulseira, brincar com objetos como o fio do microfone, laser point, caneta, lápis e outros movimentos que podem tirar a concentração das pessoas. E para finalizar a relação das atitudes desaconselháveis, deixei para encerrar com o conselho que considero mais importante – os dois erros mais comuns na gesticulação são a falta e o excesso de gestos. Como os gestos são importantes para ajudar na comunicação da mensagem, a sua ausência pode prejudicar a qualidade da comunicação. Por outro lado, o excesso de gestos pode desviar a atenção dificultando a compreensão das informações. Todavia, é preferível que você não faça nenhum gesto a se apresentar com gesticulação exagerada. Se você não fizer gestos, mas apresentar uma boa mensagem, os ouvintes ainda Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 22 conseguirão acompanhar seu raciocínio. Se, entretanto, você exagerar com os movimentos, dificilmente as pessoas poderão se concentrar nas suas palavras. Como usar bem a expressão corporal Sempre levando em conta a naturalidade, as circunstâncias do ambiente, seu estilo e as suas características, essas recomendações poderão dar mais qualidade às suas apresentações. Faça gestos apenas para as informações que sejam importantes Cada frase possui apenas uma ou duas palavras que constituem a informação importante dentro da mensagem. Os gestos deverão destacar apenas essas informações. Se você tivesse que dizer esta frase: No mês passado recebemos uma grande quantidade de latas. Se a informação importante fosse “no mês passado”, você deveria fazer apenas um gesto que identificasse essa mensagem, apontando com o dedo polegar ou o indicador o momento passado. Se a informação importante fosse “recebemos”, bastaria o gesto de trazer uma ou as duas mãos para perto do corpo, para destacar a mensagem. E assim, para as outras informações “grande quantidade”, com o gesto amplo e “latas”, desenhado o objeto com as mãos. E não usar, como fazem algumas pessoas, dois ou mais desses gestos para apenas uma frase. Ocorreria, conforme já vimos, um excesso de gesticulação. Não volte com o gesto de maneira precipitada à posição de apoio Quando estamos em situações de desconforto falando diante das pessoas, normalmente temos a tendência de fazer o gesto e voltar logo em seguida para a posição de apoio. Se essa atitude for repetida muitas vezes produzirá excesso de gesticulação, que como já analisamos, é desaconselhável. Ao fazer o gesto, tenha paciência e aguarde com o movimento até a conclusão da mensagem antes de voltar à posição de apoio. Mesmo depois de completada a mensagem, observe se não há alguma informação para comunicar em seguida, pois, nesse caso, poderá aproveitar o mesmo movimento já realizado para executar o gesto complementar. Assim, segurando o gesto com calma, sem voltar de maneira precipitada em busca de apoio para as mãos, poderá gesticular praticamente o tempo todo e não terá excesso de gesticulação. Faça os gestos acima da linha da cintura Quando os gestos são realizados abaixo da linha da cintura, perdem expressividade e contribuem pouco para a qualidade da comunicação. Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 23 Gesticule com os braços acima da linha da cintura e estará usando o movimento de maneira mais apropriada para a comunicação da mensagem. Observe, entretanto, que estou recomendando que faça os gestos acima da linha da cintura e não que se apresente o tempo todo dessa maneira. Em posição de apoio, os braços abaixo da linha da cintura podem se mostrar até mais elegantes. Fique atento para esse detalhe e para não se levantar da cadeira já com os braços erguidos acima da cintura, imaginando que deverão se posicionar sempre nesta altura do corpo. O ponto de partida do gesto é o ombro Evite fazer o gesto apenas com o antebraço, com o gesto partindo do cotovelo. Falar com os cotovelos grudados no tronco, de maneira geral demonstra que a pessoa está em posição de desconforto, acuada, tentando se defender. A boa gesticulação é realizada com o movimento partindo do ombro, construindo um pequeno ângulo entre o braço e o tronco. Tome cuidado, entretanto, para não executar o movimento na posição lateral do tronco, como se os braços fossem asas. Dê preferência por realizar o movimento para frente do tronco, deixando os gestos laterais para situações exigidas pelo próprio sentido da mensagem. Evite a repetição dos gestos Por mais apropriados que pareçam ser os gestos, se forem repetidos muitas vezes, ficarão marcados e chamarão a atenção dos ouvintes. Por isso, procure variar os movimentos dos braços, das mãos e a posição de apoio. Se em determinado momento usou os dois braços para fazer os gestos, no instante seguinte alterne, deixando, por exemplo, um dos braços ao longo do corpo, enquanto gesticula apenas com o outro. Para que essa alternância não se torne também uma repetição, em seguida, varie mais uma vez, deixando um dos braços encostados na altura da linha da cintura, enquanto continua gesticulando com o outro. E assim, vá promovendo a diversificação dos gestos, tocando uma das mãos na outra, juntando a ponta dos dedos das duas mãos, ou utilizando-as para enumerar as partes de um assunto. Essa alternância da posição de apoio dos gestos aproxima a expressão corporal do comportamento mais espontâneo do dia-a-dia. E, por se natural, torna-se praticamente despercebida e muito mais eficiente. O gesto, a voz e a mensagem Nos concursos de oratória que promovemos com os alunos do nosso curso, é comum trazerem parentes ou conhecidos para assistir. Alguns desses visitantes, movidos pela curiosidade, me perguntam por que determinados oradores demonstram tanta que estão gesticulando e outros se apresentam com os movimentos quase imperceptíveis. Em alguns casos o orador demonstra de maneira evidente o gesto porque o movimento foi pensado, feito de propósito e, por isso, se mostrou artificial. Mas, normalmente, o que faz o gesto sobressair é a falta de harmonia com o tom de voz e a mensagem. Deve existir um sincronismo entre esses três aspectos, especialmente entre o gesto e o tom de voz. Quando a fala é mais contundente, o gesto precisa acompanhar o tom de voz e ser mais Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 24 firme. Quando, entretanto, a fala é mais suave, o gesto também deve ser mais moderado e sutil. Há um tipo de gesto que não tem por objetivo identificar o sentido da mensagem, mas apenas acompanhar o ritmo e a cadência da fala – é o gesto de marcação. Esse gesto é realizado com os movimentos repetidos dos braços à frente do tronco e ajuda muitoa dar expressividade à comunicação. Por ser um gesto marcante precisa ser usado com moderação, de vez em quando, para que não seja notado de forma ostensiva. A fisionomia Uma jornalista da revista Veja me entrevistou para falar sobre a mentira. Uma das questões mais interessantes que ela levantou foi como seria possível reconhecer um mentiroso novo. Isto porque, dizia ela, os velhos mentirosos, principalmente os que militam na política, já são muito conhecidos, mas os novos não, estão chegando para nos enganar. A minha resposta foi rápida – pela fisionomia. É pela fisionomia que as pessoas normalmente se traem. Podem até interpretar muito bem a personagem, mas em algum momento serão traídas pela fisionomia. Nem sempre percebemos conscientemente, mas algo lá no nosso inconsciente, como disse Freud, identificará essa mensagem do inconsciente do outro. A fisionomia possui duas funções muito importantes na comunicação – a expressividade e a coerência. Precisa ser expressiva para auxiliar na condução da mensagem e na complementação das informações. E deve ser coerente para que a mensagem transmitida pelas palavras tenha respaldo e legitimidade na comunicação do semblante. Se você falar de tristeza, a sua fisionomia deverá demonstrar esse sentimento. Tanto assim que, em algumas circunstâncias, você precisará interpretar sua própria verdade, pois ao falar de um sentimento, mesmo que esteja sentindo o que está dizendo, a fisionomia deverá mostrar de forma expressiva essa mensagem. Você sente, diz que sente, e, interpreta o que efetivamente sente. Na minha dissertação de mestrado, publicada em livro pela Editora Saraiva, com o título de A influência da emoção do orador no processo de conquista dos ouvintes, ao me valer da teoria de Wilhelm Reich na obra Análise do caráter, para falar da maneira como percebemos a emoção do outro, constato: “A linguagem humana atua, interfere na linguagem da face e do corpo. Por isso, a expressão total de um organismo deve ser literalmente idêntica à impressão total que o organismo provoca em nós”. Essa expressão total, que caracteriza a coerência da comunicação é confirmada ou negada especialmente pela fisionomia. Por isso, procure sempre sentir o que está dizendo e analise se a sua fisionomia está sendo coerente com esse sentimento. Os olhos Fazendo parte da fisionomia, os olhos também são um excelente indicador da coerência entre mensagem transmitida com as palavras e o sentimento. Durante uma apresentação, os olhos cumprem dois objetivos: o de receber o retorno, analisando como os ouvintes reagem e se comportam diante da mensagem; e o de valorizar a presença das pessoas no ambiente. Se, ao olhar para a plateia, você perceber que as pessoas estão ansiosas, movimentando a cabeça de um lado para outro, distraídas com objetos ou com qualquer Prof. André Ricardo de Alvarenga Barbosa 25 outro sinal de desatenção, talvez haja tempo de trazê-las de volta à realidade e estimulá- las a continuar prestando atenção. Você poderá, por exemplo, mudar a inflexão e o volume da voz, alterar a gesticulação, incluir informações diferentes, leves e interessantes; e quem sabe até salvar uma apresentação que estava se perdendo. Se você não olhar para os ouvintes, não terá condições de saber se estão ou não gostando, interessadas e assimilando a mensagem. Quando você olha para a plateia, mesmo que não consiga ver cada um dos ouvintes, as pessoas se sentem olhadas, prestigiadas, fazendo parte do ambiente. Por isso, distribua a comunicação visual para todos os lados do auditório, olhando ora para quem está sentado à esquerda, ora para quem está sentado à direita. Há dois tipos de ouvintes que atrapalham muito a apresentação – aquele que se mostra hostil, balançando negativamente a cabeça e fazendo caretas de desaprovação; outro é o bonzinho, que está sempre concordando com o orador fazendo sim, de aprovação. Não caia nessa armadilha. Evite olhar a maior parte do tempo para o ouvinte hostil com a intenção de fazê-lo mudar de opinião, e também não olhe muito para o ouvinte bonzinho só porque sentiu o conforto do seu consentimento. Nas duas situações estaria se escravizando a esses ouvintes e deixando de olhar a platéia toda, correndo o risco de que os demais dispersem a atenção. Um conselho final Vá para sua apresentação posicionando-se de maneira elegante, sem humildade nem arrogância; evite a falta e principalmente o excesso de gesticulação; tome cuidado para não deixar as mãos nos bolsos, os braços nas costas ou cruzados; olhe para todos os lados da plateia; tenha uma fisionomia coerente com a mensagem; não se movimente sem objetivo; vigie o posicionamento das pernas para não se apoiar ora sobre uma, ora sobre a outra, e também para que não as deixe muito abertas ou fechadas. Ufa! Parece tanto que até cansa, mas todos esses detalhes são tão naturais que no fim você gostará de usar essas técnicas que já são suas.
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