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2 – Concepções platônicas A imagem também é núcleo da reflexão filosófica desde a antiguidade – Platão e Aristóteles, em especial, vão combatê-la ou defendê-la, pelos mesmos motivos: Imitadora, para Platão ela engana, para Aristóteles ela educa. Para Platão, a imagem seduz as partes mais fracas de nossa alma, para Aristóteles, ela é eficaz, justamente pelo prazer que essa sedução proporciona. A única imagem válida, para Platão, é a imagem “natural” (reflexo ou sombra) que é a única passível de se transformar em ferramenta filosófica. Para a imagem pouco importa a verdade do referente exterior, por isso ela sempre é possível, mesmo que o objeto representado não seja passível de construção. A imitação certamente não é o traço primeiro da imagem. Na cultura ocidental existe uma paixão extremada pela imitação, que pede a cada instante para ser satisfeita. A representação mimética está atravessada por um problema que é da filosofia: a questão da verdade. A imagem é apresentação e aparência, cuja representação procura ser verdadeira, ou seja, parcialmente correspondente às condições do objeto representado. A imitação é essencialmente lógica, pois supõe uma transformação segundo um modelo verdadeiro da realidade. Platão via no mundo uma imagem, mesmo que deformada, da ordem divina e verdadeira. Para Platão a imagem é um grau de processo do conhecimento. No mundo existem três níveis hierárquicos, para Platão: formas intelectuais e perfeitas, mundo sensível, que copia, e as cópias de cópias. Só a forma é real, a realidade sensível que experimentamos é imitação. Platão tinha horror à perspectiva. O espectador tem a impressão de ver os objetos tais como eles são, sem saber que os vê apenas como aparentam ser. A verdade não pode sofrer correções a partir do ponto de vista do espectador. Platão percebe como, na imagem, a ilusão de “saber” é imediata. A imagem produz a ilusão de certeza. Todos sabemos como fracassaram os argumentos de Platão. Mas um ponto de sua argumentação triunfa socialmente: a imitação deixa de ser apenas um principio pictórico, trata-se de um valor que guia as intenções de quem produz a imagem. Ser mera cópia implica fracasso: para a cultura ocidental será a relação verdadeira que a imagem aspira ter com o mundo exterior que importará, por muito tempo. Para Plínio e muitos outros artistas, o máximo de êxito na arte era enganar pássaros. A existência da imagem não tem nada de natural, nem estas possuem algum tipo de vinculo básico com a realidade. O mundo poderia existir sem imagens, mas seria um mundo diferente, essencialmente distinto. A imagem sempre caminhou pela fronteira entre o natural e o construído e, em grande parte do tempo foi atraída por uma atitude naturalista ou realista. Essa postura foi contrapartida exata daquela que desconfiava da imagem pela mesma razão: enganava por que copiava a realidade. Os mitos fundadores são difíceis de erradicar, e até hoje as imagens digitais tendem a privilegiar essa condição hiper-realista do visual, como nos cinemas e videogames. Em contrapartida a essa postura, temos o mito da caverna de Platão e todas as suas consequências ideológicas que propõem uma desconfiança das imagens baseadas no realismo, um realismo que substitua, perversamente, o contato com o verdadeiro real. Para Platão, a verdade do mundo está contida nas idéias, mais real por isso que todos os fenômenos sensíveis. E todo o mundo visível não é senão magem, reflexo. Ser imagem é ser a aparência de algo invisível, sem realidade concreta. É a noção de magem que define a noção de visível e a esclarece. Noções fundamentais: o visível e o invisível. Toda a raiz do problema do visível, para os gregos, estava no invisível. Ser imagem é ser a manifestação, a aparência de algo de invisível. Há muito tempo a sociedade ocidental praticamente idolatra a imitação nas imagens, sendo que, quanto mais imitativas elas forem, mais interesse, curiosidade, e até mesmo apreço, despertam no receptor, um bom exemplo são personalidade como Plínio, que achava que o máximo êxito da pintura seria enganar pássaros ou cavalos. Na contramão desta posição natural/realista das imagens vem a questão filosófica, a questão da “verdade”. Com um mundo filosófico minado destas controvérsias desde praticamente sempre, dos filósofos logo se destacaram com suas incisivas, e opostas opiniões: enquanto Aristóteles achava que a semelhança das imagens com a realidade era válida por instruir e ensinar, além de ser eficaz por fazer o espectador sentir prazer vendo esta semelhança com a realidade, Platão pregava veementemente contra as imagens miméticas, curiosamente pelo mesmo motivo, por elas imitarem a realidade, fazendo assim o receptor ter uma falsa impressão de sabedoria, enquanto apenas está sendo enganado, dado que, segundo Eduardo Neiva Júnior: “Para a imagem pouco importa a verdade do referente exterior, por isso ela sempre é possível [...]” (NEIVA JR, 2008, p.16) Para Platão, as únicas imagens válidas eram as estritamente naturas, como as sombras e os reflexos. O apontamento de Platão em determinado ponto faz sentido, visto que toda “imitação” faz a imagem original perder pontos importantes, suprimidos propositalmente ou mesmo sem querer, visto que condições como luz e sombra alterariam a cópia, e, principalmente, a cópia é feita para satisfazer as intenções de quem à produziu. Isso tudo fez Platão separar o mundo em três: formas intelectuais, portanto perfeitas, mundo sensível e as cópias de cópias (aqui estariam as famigeradas imagens miméticas). Tal “desprezo” do filósofo o fez postular o “mito da caverna”, em que homens, tão fissurados com as sombras que se prostram na parede de suas cavernas simplesmente nem cogitam a possibilidade da existência de um mundo real que produza estas sombras, apenas às admiram, sem se perguntar muito, não gerando, assim, conhecimento sobre.
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