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1 DIREITO CIVIL III - CONTRATOS PROF. DANIEL PAIVA UNIDADE IX – CONTRATOS EM ESPÉCIE: MANDATO 1. CONCEITO DE MANDATO: Mandato deriva do latim manum + datum, significando dar a mão, afinal é costume apertar as mãos após a conclusão de um negócio. Na vida moderna pode acontecer das pessoas não poderem agir em certos casos ou estar presentes em todos os lugares, então surge a representação, com alguém em lugar de outrem. O mandato permite que uma pessoa esteja juridicamente em mais de um lugar. No ordenamento brasileiro, a representação possui duas espécies: Representação Legal: Deriva da lei ou da ordem do Juiz (ex: o pai representa o filho menor, o tutor o órfão e o curador o louco; o inventariante representa o espólio, etc.). Na representação legal não há contrato; Representação consensual ou voluntária: Decorre do acordo de vontade, surgindo um contrato de mandato; Ver: art. 115 CC/2002 Assim, Mandato é o contrato pelo qual uma pessoa (mandatário) recebe poderes de outra (mandante) para, em seu nome, praticar atos jurídicos ou administrar interesses. Ver: art. 653 CC/2002 OBSERVAÇÃO: Não confundir “mandato” com “mandado”. Mandato é contrato, é representação. Enquanto mandado é ordem. Então o deputado tem mandato (representa o povo) e o advogado também (representa o cliente). Já o Juiz expede mandado (= ordem), mandado de prisão, mandado de reintegração de posse, etc. 2. CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO DE MANDATO: Em linhas gerais, o contrato de mandato é: • Consensual; • Não solene (é possível o mandato tácito ou verbal); • Em regra, gratuito (no entanto, poderá haver mandato oneroso no desempenho de profissão); • Personalíssimo; • Preparatório (habilita o mandatário para a prática de atos subsequentes); • Revogável (salvo as hipóteses previstas expressamente no Código Civil - arts. 683 a 686). 3. PROCURAÇÃO E SUBSTABELECIMENTO: Instrumento de contrato é o instrumento utilizado especificamente para documentar a avença, contendo todas as cláusulas contratuais de modo minucioso e detalhado. 2 A procuração é o instrumento do mandato, onde serão especificados extensão e limites dos poderes outorgados ao mandatário. A procuração pode ser outorgada por instrumento público ou particular. Os requisitos da procuração encontram-se no §1º do art 654 CC/2002: • a indicação do lugar onde foi passado; • a qualificação do outorgante e do outorgado; • a data e o objetivo da outorga com a designação; e • a extensão dos poderes conferidos. Já o Substabelecimento é o ato pelo qual o mandatário transfere ao substabelecido, os poderes que lhe foram conferidos pelo mandante. Ver: art. 655 CC/2002 4. REQUISITOS GERAIS: Os requisitos exigidos para a sua realização, além dos genéricos para qualquer outro negócio jurídico, podem ser especialmente fixados: Subjetivos (relativos aos sujeitos que celebram o contrato) - Pode ser Mandante todo aquele que tem habilitação para os atos da vida civil, e cabem no mandato quase todos os atos que podem ser diretamente praticados pelo próprio mandante. Nestes termos, cabe destacar que os absolutamente e os relativamente incapazes não podem outorgar diretamente procuração, sendo que esta tarefa será desempenhada pelo representante legal; Pode ser constituído Mandatário, além dos plenamente capazes, o menor entre 16 e 18 anos, mas o mandante não tem ação contra ele, senão excepcionalmente naqueles casos em que vinguem as obrigações contraídas pelos menores. Ver: arts. 654 e 666 CC/2002 Objetivos (relativos ao objeto do contrato) - Em linha de princípio, podem ser objeto de mandato os atos que o outorgante pode praticar por si, sejam ou não de natureza patrimonial. Até mesmo o casamento, um dos atos mais solenes do Código Civil, pode ser celebrado mediante procuração. Ver: art. 1.542 CC/2002 Formais (relativos à forma do contrato) – De forma livre. Contudo, a procuração na forma escrita e por instrumento público será exigida, em caráter excepcional, quando para o ato a ser praticado (objeto da procuração) a lei exige forma específica, optando portanto pela atração de forma. Ver: arts. 656 e 657 CC/2002 5. OBRIGAÇÕES DO MANDATÁRIO: As obrigações essenciais do mandatário são: Agir em nome do mandante – O mandatário deve atuar respeitando os poderes outorgados na procuração. Se o mandatário agir extrapolando os poderes que lhe foram conferidos, o ato é inválido para o mandante, a não ser que este venha a ratificar o ato posteriormente. Ver: art. 653 CC/2002 3 Agir com o zelo necessário e diligência habitual na defesa dos interesses do mandante – O mandatário é responsável pelos prejuízos causados ao mandante, quando eles resultarem de culpa do mandatário. Cabe ao mandatário provar que não houve culpa sua para se livrar de ser responsabilizado pelo prejuízo que venha a ser sofrido pelo mandante. Ver: art. 667 CC/2002 Prestar contas de sua gerência – Deve o mandatário prestar contas ao mandante e transferir ao mandante todas as vantagens obtidas nos negócios. Ver: art. 668 CC/2002 Apresentar o instrumento de mandato – Deve o mandatário apresentar o instrumento de mandato às pessoas com quem tratar em nome do mandante, justamente para que se possa averiguar a extensão dos poderes outorgados. Ver: arts. 118 e 673 CC/2002 Concluir negócio já começado – Mesmo após extinção do mandato por morte, interdição ou mudança de estado de capacidade do mandante, deve o mandatário concluir negócio, se já estiver iniciado e houver perigo na demora, para o mandante ou seus herdeiros ou ainda para as pessoas com as quais estiver contratando. Ver: art. 674 CC/2002 6. OBRIGAÇÕES DO MANDANTE: Já as obrigações do Mandante são: Cumprir os compromissos assumidos pelo mandatário em seu nome – O mandante, porém, somente se vincula dentro dos termos previstos na procuração. Vale notar que, se o mandatário contrariar as instruções do mandante, mas não exceder os limites do mandato, o mandante ficará obrigado a cumprir as obrigações perante terceiros, tendo apenas ação de perdas e danos contra o mandatário pela inobservância das instruções. Ver: arts. 116, 675 e 679 CC/2002 Adiantar valores de despesas – Cabe ao mandante adiantar ao mandatário os valores necessários ou reembolsá-lo pelas despesas efetuadas em razão do mandato. Ver: arts. 675 e 676 CC/2002 Pagar a remuneração ajustada – Em caso de mandato oneroso, deve o mandante pagar ao mandatário a remuneração ajustada. Ver: art. 676 CC/2002 Indenizar o mandatário – Deve indenizar o mandatário pelos prejuízos que venha a sofrer em cumprimento ao mandato, desde que não resultem de culpa do mandatário ou de excesso de poderes. Ver: art. 678 CC/2002 4 7. EXTINÇÃO DO MANDATO: Cessa o mandato: • Pela revogação ou pela renúncia; • Pela morte ou interdição de uma das partes; • Pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o mandatário para os exercer; e • Pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio. Ver: art. 683 CC/2002 Não obstante a justeza do princípio da sua revogação, casos há de irrevogabilidade do mandato definidos no Código Civil. Ver: arts. 683, 684, 685 e parágrafo único do art. 686, CC/2002. 8. MANDATO JUDICIAL: A procuração outorgada pela parte litigante ao seu advogado, para a prática de atos judiciais ou extrajudiciais, está prevista no Novo Código de Processo Civil (em seus artigos 103, 104, 105, 111 e 112 da Lei nº 13.105/15), no Estatuto da Advocacia (art.5º da Lei nº 8.906/94), na Lei de Assistência Judiciária (art. 16 da Lei nº1.060/50), enquanto as disposições do Código Civil são aplicáveis apenas supletivamente. Inicialmente, devemos lembrar que o bacharel em Direito se torna apto a exercer a advocacia mediante inscrição nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil. A partir deste ato habilita-se a receber procuração ad judicia. Salvo poucas exceções, a representação por advogado devidamente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil - OAB é pressuposto processual, sem o qual haverá nulidade do processo. Ver: art. 103 NCPC O mandato conferido ao advogado deve ser por escrito, bastando o instrumento particular devidamente assinado pelo constituinte, dispensado o reconhecimento de firma. A procuração ad judicia (para o foro em geral) habilita o profissional para a prática da generalidade dos atos processuais. Não obstante, haverá a necessidade especificar expressamente os poderes especiais no instrumento de procuração para: receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica, que devem constar de cláusula específica. Ver: art. 105 NCPC Tratando-se de sociedade formada por advogados, na procuração devem constar os nomes individuais dos profissionais e o da pessoa jurídica. Ver: art. 15, §3º da Lei nº 8.906/94. 5 QUESTÕES PARA REVISÃO DA UNIDADE 01. (Exame de ordem - OAB/MG – CESPE 2008.3) A respeito do mandato, assinale a opção correta. a) Por ser contrato, a aceitação do mandato não poderá ser tácita. b) O mandato outorgado por instrumento público pode ser objeto de substabelecimento por instrumento particular. c) Apesar de a lei exigir forma escrita para a celebração de contrato, tal exigência não alcança o mandato, cuja outorga pode ser verbal. d) O poder de transigir estabelecido no mandato importará o de firmar compromisso. 02. (Exame de ordem – OAB/SP 2006) Sobre o mandato, é ERRADO afirmar que: a) o noivo pode ser representado por mandatário na celebração do casamento. b) outorgado mandato por instrumento público com o fim especial de o mandatário alugar a casa do mandante, eventual substabelecimento pode ser feito por instrumento particular. c) o mandato pode ser verbal. d) é nulo o mandato que contiver a cláusula “em causa própria”. 03. (Exame de Ordem – OAB/RJ 2004) Dentre as características abaixo arroladas, diga qual não se adequa à procuração em causa própria: a) É irrevogável; b) É outorgada no interesse exclusivo do mandatário que, conseqüentemente, fica isento de prestar contas ao mandante; c) É essencial para o advogado que postula em Juízo em causa própria; d) Subsiste mesmo após a morte do mandante. 04. (Analista Judiciário – TRT 12ª Região/SC – FCC 2013) Relativos ao mandato, considere: I. A outorga do mandato está sujeita à forma exigida por lei para o ato a ser praticado. Admite-se mandato verbal mesmo que o ato deva ser celebrado por escrito, dado o caráter não solene do contrato. II. A aceitação do mandato pode ser tácita, e resulta do começo de execução. III. O maior de dezesseis e menor de dezoito anos não emancipado pode ser mandatário, mas o mandante não tem ação contra ele senão de conformidade com as regras gerais, aplicáveis às obrigações contraídas por menores. Está correto o que consta em: a) No item II, apenas. b) Nos itens I e II, apenas. c) Nos itens I e III, apenas. d) Nos itens II e III, apenas. e) Nos itens I, II e III. 05. Antônio (mandante) outorga procuração por instrumento público a Bernardo (mandatário), conferindo a este último poderes para celebrar em “causa própria” contrato de compra e venda de um determinado bem imóvel de propriedade do mandante. O preço pela aquisição do bem foi pago à vista por Bernardo a Antônio no ato da outorga da procuração. Antônio morre na data de hoje, e Bernardo ainda não celebrou a escritura pública de compra e venda referida na procuração. Diante dos fatos narrados, pergunta-se: a) O instrumento de procuração outorgado por Antônio ainda se mantém válido e eficaz ? b) Poderá Bernardo promover a escritura pública de compra e venda através de procuração outorgada, obtendo para si a propriedade do imóvel, mesmo após a morte do Outorgante (Antônio) ?
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