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CURSO: Curso Completo de Processo Penal DISCIPLINA: Processo Penal PROFESSOR: Marcos Paulo AULA 5 BLOCO: 1-4 MATÉRIA: Execução Penal Leis e artigos importantes: • Art. 83, CP • Arts. 110 a 117, LEP • Arts. 131 a 146, LEP • Arts. 146-A a 146-D, LEP • Art. 318, CPP TEMA: EXECUÇÃO PENAL PROFESSOR: MARCOS PAULO Relembrando e complementando o que se viu na última aula... Segundo o STJ, a individualização da pena (art. 5º, XLVI, CRFB), torna a execução penal rebus sic stantibus, sendo possível, nos termos do art. 118, LEP, a regressão para o regime fechado, ainda que o regime inicial tenha sido semiaberto ou aberto. É essa também a orientação, em princípio, da 1a turma do STF. Entretanto, a 2a turma do STF tem precedentes entendendo que a regressão deve estar combinada com o regime inicial, não podendo agravá-lo, sob pena de ofensa ao art. 626, parágrafo único, CPP. Os Tribunais Superiores apresentam precedentes entendendo que o art. 118, LEP, é exatamente a exceção ao regime detentivo, abrindo a possibilidade de fixação excepcional do regime fechado, orientação esta que sofre críticas doutrinárias por ofensa à legalidade penal estrita e à própria coisa julgada. Em prova para o MP, adota-se a posição mais severa para o apenado: sempre regressão com recontagem, ainda que a condenação tenha sido a regime aberto ou semiaberto. Em prova para a DP, critica-se a recontagem e permite-se a regressão apenas se não ofender a coisa julgada, ou seja, o regime inicial fixado na sentença penal condenatória. Pena detentiva só admite regime aberto ou semiaberto. LIVRAMENTO CONDICIONAL Curso: Curso Completo de Processo Penal – Execução Penal – Matéria: Processo Penal – Prof: Marcos Paulo – Aula: 5 - Bloco: 1-4 ART. 83, CP • PPL igual ou superior a 2 anos • Cumprimento de mais de 1/3 da pena, se não for reincidente em crime doloso E tiver bons antecedentes • Cumprimento de mais de ½ da pena, se for reincidente em crime doloso E se o sujeito for primário e de maus antecedentes? Posição majoritária e precedentes do STF e TSJ entendem que, como a fração de ½ é reservada ao reincidente em crime doloso, estendê-la ao primário de maus antecedentes seria interpretação extensiva in malam partem, já que maus antecedentes se equiparariam à reincidência. A 1a Turma do STF recentemente reforçou essa posição, ao afirmar que se passados mais de 5 anos do cumprimento da condenação não susbsiste o mais, reincidência, tampouco o menos, maus antecedentes. Em prova para o MP, diz-se que se a fração de 1/3 está sujeita a dois requisitos cumulativos, primariedade e bons antecedentes, falecendo o último, resta trabalhar com a fração de ½, a contrario sensu. A fração de 2/3 prevista para o tráfico no art. 83, §5º, CP, foi reforçada no parágrafo único do art. 44, da Lei 11.343, sem a necessidade de se definir o que seria tráfico, pois o legislador foi descritivo, listando especificamente os tipos penais. Entretanto, considerando que esta fração de 2/3 foi inspirada precipuamente nos crimes hediondos, incluindo o tráfico, é certo que, fixada a premissa de que associação não é tráfico, desarrazoado seria estender a ela também a fração de 2/3, devendo se trabalhar com as ordinárias de 1/3 ou ½. OBS: Lembrar que a reincidência em algum dos crimes listados no art. 83, §5º, CP, e no parágrafo único do art. 44, da Lei 11.343, já impede novo livramento condicional, o que significa dizer que a pena residual da 1a condenação e a 2a serão cumpridas em privação libertária. • Comprovação de comportamento satisfatório e aptidão para prover a própria susbsistência mediante trabalho honesto É a exigência de TFD imaculada (que indica bom comportamento carcerário) e propensão ao trabalho. Para fins de livramento condicional não há necessidade de se ter oferta formal de emprego, sendo suficiente a predisposição comprovada para o trabalho, até porque o art. 83, III, CP, refere-se a “aptidão”. • Reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo A impossibilidade pode ser financeira ou jurídica (ex: crime de perigo). Curso: Curso Completo de Processo Penal – Execução Penal – Matéria: Processo Penal – Prof: Marcos Paulo – Aula: 5 - Bloco: 1-4 • Suficiência da pena O parágrafo único ainda diz que, nos crimes que involvam violência ou grave ameaça, a concessão do livramento ficará subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir. O art. 112, LEP, em seu §2º, diz que o procedimento da progressão de regime se aplica ao livramento condicional. Isso significa que toda a controvérsia em torno do exame criminológico se reproduz no tocante ao livramento condicional. OBS: Recentemente, a 2a turma do STF entendeu que a exigência do exame criminológico não recairia no processo de concessão da comutação e do indulto, porque só haveria tal exigência se prevista no referido decreto presidencial. Assim, levanta-se dúvida quanto à exigibilidade do exame criminológico para fins de livramento condicional, até porque não há menção expressa nos arts. 83 a 90, CP, nem nos arts. 131 a 146, LEP. Os precedentes nos Tribunais Superiores têm sido pelo esvaziamento da oitiva do conselho penitenciário. Afinal, o art. 112, LEP, §§ 1º e 2º, só estabeleceram para a progressão e, por extensão, para o livramento condicional, a oitiva do MP e da defesa técnica, devendo-se atentar para o princípio da anterioridade, afinal os textos emanam da Lei 10.792/03, posterior ao art. 131, LEP, com redação originária de 84. REVOGAÇÃO DO LC É preciso identificar se o crime foi cometido antes ou depois do livramento. Se o novo crime é cometido no curso do livramento condicional, frustrando-o, não se computa o tempo em que ficou no livramento condicional na pena, cujo residual terá que ser inteiramente cumprido para então, quando do início do cumprimento da nova pena, pensar na fração de ½, por força da reincidência – art. 86, I c/c art. 88, CP. Ex: condenado por a 6 anos – após 1/3, sai em livramento e após 2 anos em livramento, comete novo roubo, com pena de 8 anos – o período em que ficou em liberdade (2 anos), serão desconsiderados, de forma que terá que cumprir preso os 4 anos da primeira condenação, em que houve o livramento condicional frustrado – após, começará a cumprir a nova pena; como será reincidente, apenas após cumprimento de ½ da nova pena, poderá pedir o livramento condicional, ficando preso, então, por pelo menos 8 anos. Por outro lado, se a nova condenação diz respeito a crime anterior ao livramento, as duas penas devem ser somadas, porque sobre ela incidirá a fração para novo livramento, considerando como pena cumprida o tempo em que o apenado esteve em livramento condicional. Por isso que, não raro, ele já terá tempo suficiente para um novo livramento, não justificando sequer a sua revogação – art. 86, II, c/c art. 84 c/c art. 88, CP Curso: Curso Completo de Processo Penal – Execução Penal – Matéria: Processo Penal – Prof: Marcos Paulo – Aula: 5 - Bloco: 1-4 Ex: pena de 6 anos – como é primário, sai após 1/3 da pena, ou seja, após 2 anos de cumprimento de pena – se sai em livramento e, após 2 anos, é condenado por crime cometido anteriormente por 3 anos, não se pode dizer que o livramento restou frustrado - como não é reincidente, a fração será de 1/3. somando-se as duas penas aplicadas, chega-se a pena total de 9 anos; aplicando-se 1/3, deverá cumprir 3 anos de pena para fins de livramento condicional, computando-se o tempo de prisão já cumprido (2 anos) e o tempo de livramento condicional (2 anos) – nesse caso, já teria tempo suficiente para novo livramento, não sendo necessário revogar o primeiro livramento. OBS: Tanto o art. 84 como o art. 86 falam em condenação por crime, que pode ser dolosoou culposo. Exige-se, ainda, o trânsito em julgado. OBS: Revogação Facultativa (Art. 87) A revogação será facultativa no caso de condenação por contravenção ou crime cuja pena não seja privativa de liberdade. SUSPENSÃO DO LC A suspensão do livramento condicional, nos termos do art. 145, LEP, exige pronunciamento jurisdicional expresso. Logo, se o prazo do livramento condicional expirar sem revogação e sem suspensão expressa, extingue-se a punibilidade automaticamente, restando ao juiz declará-la, ainda que se verifique causa revocatória ocorrida durante a vigência do benefício. Em sentido contrário, pondera-se que o liberado se beneficiaria da própria torpeza, mas, na realidade, a falta de comunicação deve ser creditada ao próprio judiciário e aos órgãos a ele auxiliares, não sendo razoável que o direito de punir do Estado fique suspenso indefinidamente. REGIME ABERTO A par dos requisitos gerais para a progressão (art. 112, LEP), existem peculiaridades para a progressão para o regime aberto. ART. 114, LEP Inciso I A disposição para o trabalho, somada à perspectiva de emprego, já é suficiente, pois em sendo o direito um fenômeno social, não pode se desvincular da realidade sócio-econômica do país, onde a economia informal é a tônica. Ademais, segundo o STJ, o microempresário faz jus à progressão; afinal, é irrelevante trabalhar para outrem ou para si. Dispensa-se do trabalho aquele que cumpre a pena em regime domiciliar. Inciso II Curso: Curso Completo de Processo Penal – Execução Penal – Matéria: Processo Penal – Prof: Marcos Paulo – Aula: 5 - Bloco: 1-4 Os antecedentes ou o exame devem indicar que o apenado irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo regime. CONDIÇÕES OBRIGATÓRIAS A individualização da pena (art. 5º, XLVI) determina que a execução da pena seja rebus sic stantibus. Isso é reforçado pelo art. 144, LEP, que permite a alteração das condições do livramento, para ajustá-lo às condições pessoais do apenado. Isso se aplica aos incisos I e III do art. 115. Ex: o trabalho que o preso conseguiu pressupõe trânsito entre comarcas, pois está em casa de albergado no RJ e o emprego é em Nova Iguaçu – a autorização exigida no inciso III pode ser mitigada. Onde se lê, no inciso III, “cidade”, é possível ler “região metropolitana”. CONDIÇÕES ESPECIAIS O art. 115, permite, ainda, que o juiz estabeleça condições especiais. Em sendo executada uma pena privativa de liberdade, ainda que em regime aberto, inadmissível a justaposição com penas restritivas de direitos, como são a prestação pecuniária e a prestação de serviços à comunidade (Súmula 493 STJ). OBS: Não confundir com a suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099) A suspensão condicional do processo permite que o juiz adite condições à proposta originária formulada pelo MP. Muitos promotores se aproveitam desse dispositivo para incluir, enquanto condição para a suspensão condicional do processo, a prestação pecuniária ou prestação de serviços à comunidade. Entretanto, o pleno do STF e a 5a turma do STJ, entendem que, por se tratar de um instituto despenalizador pactuado entre imputado e MP, a inserção da prestação pecuniária ou da prestação de serviços comunitários na suspensão condicional do processo não ofenderia o princípio da legalidade penal estrita, nem traduziriam antecipação de pena, pois viriam sob a roupagem de condição da suspensão, que, repita-se, é negociada, e não imposta. Em sentido contrário, autores como Geraldo Prado e precedentes da 6a turma do STJ, entendendo que tais condições tornariam a suspensão do processo modalidade de antecipação de pena. ART. 116 Curso: Curso Completo de Processo Penal – Execução Penal – Matéria: Processo Penal – Prof: Marcos Paulo – Aula: 5 - Bloco: 1-4 Referenda o caráter rebus sic stantibus do cumprimento da pena, demonstrando que mesmo as condições a priori impostas para o regime poderão ser modificadas. REGIME DOMICILIAR A maioria da Doutrina continua a afirmar que o art. 117 apresenta rol taxativo (numerus clausus), o que não é algo preciso. A prisão domiciliar tem sido reiteradamente deferida a condenados em regime aberto em razão da ausência de vagas em casa de albergado, e mesmo a condenados em regime semiaberto, por ausência de vagas em colônia agrícola ou industrial, bem como em casa de albergado. E não propriamente em respeito à dignidade humana, e sim à autoridade da coisa julgada, porque inadmissível que o sentenciado cumpra a pena em regime mais gravoso do que o determinado por força de sentença ou de progressào, incluindo-se, nesta hipótese, os absolvidos impropriamente. Essa situação, contudo, será provisória, até que advenha vaga. Outras situações, contudo, já são mais toleradas. Ex: progride para o regime aberto e, por falta de vagas, dorme na delegacia Com esses exemplos, se nota que o rol do art. 117 não pode ser taxativo. E se o apenado não estiver cumprindo pena em regime aberto? Seria possível pensar em custódia domiciliar? Excepcionalmente, o art. 117, LEP, pode ser estendido, por razões humanitárias, a condenados em regime prisional mais gravoso, mas desde que o quadro seja dramático, bastante extremado. OBS: Não confundir os requisitos da prisão domiciliar do condenado em regime aberto com os requisitos da prisão preventiva domiciliar, do art. 318, CPP. A prisão domiciliar cautelar sempre foi admitida pelos Tribunais Superiores, por força do art. 2º, parágrafo único, LEP, tomando-se como referência o art. 117, LEP, mas em situações bastante extremadas; afinal, são réus presos em condição equivalente ao regime fechado, logo, admitir a custódia domiciliar só por razões humanitárias. E o art. 318, CPP, positivou esta orientação, até porque se o réu está preso preventivamente, é porque insuficientes seriam as demais cautelares, o que torna a custódia domiciliar absolutamente excepcional. Este rigor em relação ao art. 117, LEP, também se justifica porque o dispositivo, genuinamente, se refere a condenados em regime aberto, e que, portanto, estão em franco processo de ressocialização ou foram condenados por crime de menor gravidade, diferentemente de um preso preventivo. OBS: Diante disso, a ponderação pela inconstitucionalidade dos requisitos listados no art. 318, CPP, sustentada por autores como André Luiz Nicolitt, ao argumento de que se trataria com maior Curso: Curso Completo de Processo Penal – Execução Penal – Matéria: Processo Penal – Prof: Marcos Paulo – Aula: 5 - Bloco: 1-4 rigor réus que ainda gozam de um estado de inocência, ao passo que se daria tratamento mais benevolente a condenados definitivos, já com estado de culpa, dificilmente prosperará nos Tribunais Superiores. MONITORAÇÃO ELETRÔNICA A maioria da Doutrina encara a monitoração eletrônica como sendo uma mera ferramenta de fiscalização da saída temporária e da prisão domiciliar, sendo-lhes inerente, tanto que o ato do juiz determinando-a seria apenas judicial, e não jurisdicional. Mas não é isso que se lê no art. 146-D, LEP. A contrario sensu do art. 146-D, I, LEP, constata-se que a monitoração eletrônica tem natureza cautelar, a exigir decreto fundamentado no binômio necessidade-adequação, que hoje rege as tutelas cautelares constritivas da liberdade, como é o monitoramento (art. 282, II e II, CPP). A causa de revogação do inciso II envolve a subsistência do próprio benefício ao qual está vinculada a monitoração, que assim não subsistirá, nos termos do art. 146-C, parágrafo único, LEP. E esse rol (art. 146-B), de hipóteses de monitoração eletrônica, é restritivo? Sim. Recomenda-se imprimir a mensagem de veto n. 310. O art. 146-A dizia que o juiz poderia determinar a fiscalização indiretapara fiscalização das decisões judiciais. O rol seria exemplificativo, mas foi vetado. O art. 146-B, I, previa a monitoração eletrônica para fiscalizar PPL em regime aberto ou semiaberto o III, a monitoração eletrônica para PRD e o inciso V, para livramento condicional e sursis da pena. Mas esses dispositivos também foram vetados, pois a medida seria ontologicamente incompatível com a pena. Existe uma pegadinha de prova no art. 146-C, parágrafo único. A quebra do aparelho de monitoração eletrônica não é capitulado como falta grave, mas enseja a regressão de regime. Fazer remissão no art. 118, I, LEP. Curso: Curso Completo de Processo Penal – Execução Penal – Matéria: Processo Penal – Prof: Marcos Paulo – Aula: 5 - Bloco: 1-4