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Universidade Federal de Lavras Curso de Medicina Veterinária Departamento de Medicina Veterinária SETOR DE PATOLOGIA VETERINÁRIA PATOLOGIA DO SISTEMA URINÁRIO Prof. FlademirWouters - 2016 ESTRUTURA E FUNÇÃO DO SISTEMA URINÁRIO O sistema urinário é composto de trato urinário superior (rins) e inferior (ureteres, bexiga urinária e uretra). Os rins têm como funções mais importantes: - formação da urina, através da qual são eliminados resíduos metabólicos indesejáveis ao organismo, como ureia e creatinina; - homeostase ácido-básica, mantendo constante o pH do sangue, principalmente via reciclagem de bicarbonato do filtrado glomerular, - regular a osmolaridade e o volume de líquido corporal (eliminação do excesso de água do organismo), - manter o equilíbrio de eletrólitos (Na, K, Ca, Mg, P, H, Cl), - funções endócrinas – síntese de eritropoietina (estimula a produção de eritrócito pela medula óssea), renina (inicia a cascata que resulta na elevação da pressão arterial) e síntese de prostaglandina e ativação da vitamina D (1,25-di-hidroxicalciferol – influencia a absorção de cálcio no duodeno, atua no metabolismo ósseo e regula a concentração de cálcio e fósforo no organismo) - excreção de substâncias exógenas. A unidade funcional dos rins é o néfron e cada néfron é composto por corpúsculo renal (compreende cápsula glomerular ou de Bowman e glomérulo), túbulo contorcido proximal, alça de Henle, túbulo contorcido distal e ducto coletor. Em muitas situações de perda de néfrons lesados há possibilidade de manutenção de função renal graças à capacidade de hipertrofia compensatória de túbulos remanescentes. EXAME DO SISTEMA URINÁRIO. Todos os componentes – rins, ureteres, bexiga urinária e uretra devem ser examinados criteriosamente na necropsia. Em animais de porte pequeno pode ser difícil a abertura dos ureteres; nesse caso proceder ao menos a palpação ao longo de sua extensão dos rins até a bexiga urinária. Algumas peculiaridades anatômicas frequentemente são confundidas com lesões. Os rins dos felinos apresentam cortical pálida, amarelada e com depressões na superfície seguindo o trajeto dos vasos sanguíneos, o que é normal. Rins de fetos e animais recém-nascidos têm cortical proporcionalmente delgada em relação à medular, comparados com rins de animais adultos. A superfície interna da uretra de diferentes espécies, machos e fêmeas, é vermelha-escura, o que não pode ser confundido com uretrite; neste caso provavelmente a superfície estará irregular, opaca e com fibrina. E, em equinos normais, a região de pelve renal apresenta muco, bem como o conteúdo vesical também é mais viscoso e turvo, por causa do muco. Alguns achados de necropsia podem ocasionalmente ser interpretados de forma errônea. Os rins podem estar muito congestos em casos de intoxicação, mas pode ser congestão hipostática, por isso é sempre importante comparar os dois; a hipostase ocorre apenas no rim do mesmo lado do decúbito. Bexiga urinária com parede espessa pode ser cistite crônica ou hipertrofia muscular decorrente de impedimento do fluxo urinário, mas se ela está vazia/contraída a parede vai estar naturalmente espessa. Cápsula renal aderida à superfície cortical é um indicativo de lesão renal crônica com fibrose, mas em casos de desidratação, após congelamento ou mesmo por falta de prática na remoção a cápsula pode estar aderida à cortical. Rins amolecidos e com coloração 2 lembrando vinho tinto são achados importantes em rins de ovinos com Enterotoxemia (por isso também denominada “Doença do rim polposo”), doença grave e fatal de ovinos jovens, bem alimentados e em ótimo estado corporal, mas este achado é frequente em animais de diferentes espécies com alterações pós-mortais avançadas, o que já gerou muitas vezes diagnóstico equivocado de enterotoxemia em ruminantes no Brasil. Pseudomelanose é uma mancha pós-mortal escura a enegrecida observada na superfície ventral de um ou ambos os rins, e não deve ser confundida com lesão. INSUFICIÊNCIA RENAL Significa perda da capacidade renal em exercer suas funções metabólicas e endócrinas. A insuficiência pode ser desencadeada por fatores pré-renais, como na hipoperfusão renal; por doença renal (nefrose, nefrites); ou por fatores pós-renais, como na obstrução do trato urinário inferior. Resulta na retenção de substâncias normalmente removidas do organismo pelos rins ocorrendo, consequentemente: - Azotemia, que corresponde ao aumento dos níveis de produtos nitrogenados no sangue, derivados do catabolismo protéico. É identificada pela dosagem sérica de ureia e creatinina. Graças à reserva funcional dos rins, azotemia normalmente se desenvolve apenas quando há em torno de 75% de redução da taxa de filtração glomerular. - Uremia refere-se à elevação dos produtos nitrogenados no sangue associada a manifestações clínicas e lesões extrarrenais. A uremia pode ser aguda ou crônica. Na aguda são observadas poucas lesões associadas, já na uremia crônica geralmente há abundância de manifestações clínicas e de lesões. Uremia é causa importante de doença e morte em cães, principalmente em animais mais velhos. Várias manifestações clínicas podem ser observadas em animais com uremia: Melena ocorre pela perda de sangue para a luz gástrica, que fica pelo menos parcialmente digerido, daí a coloração escura das fezes. Na manifestação de melena em caninos adultos sempre se deve investigar uremia, pela sua frequência na espécie. Pode ocorrer diarreia e às vezes até intussuscepção intestinal. * Em bovinos e equinos podem ser constatadas fezes escuras e com sangue, pois nessas espécies ocorre liberação de amônia na mucosa do intestino grosso, principalmente no cólon. Nas nefropatias tóxicas de bovinos pode haver também aumento de volume na região posterior, por edema entre massas musculares e no subcutâneo da região glútea. Vômitos escuros, lembrando borra de café e com odor fétido por causa do sangue digerido e da liberação de amônia para a luz gástrica, são frequentemente observados. Cães com uremia muitas vezes apresentam mau hálito, pois em caninos e felinos urêmicos ocorre estomatite com produção de amônia a partir da ureia eliminada pela saliva. Úlceras podem ser observadas na mucosa oral e na língua, especialmente em sua superfície ventral e bordas laterais, sendo importante a inspeção da boca durante exame clínico. É frequente a apresentação de dificuldade respiratória, relacionada à pneumopatia urêmica, pois há edema pulmonar. Podem ser observadas mucosas pálidas, por causa de anemia, decorrente da diminuição de eritropoiese, hemácias com vida média reduzida e hemorragias. Pode haver oligúria, anúria ou poliúria, dependendo da alteração renal presente. Morte de animais com uremia é comum, principalmente me cães. Está relacionada à elevação dos níveis de potássio no sangue (= hipercalemia), por afetar a função cardíaca, à acidose metabólica e ao edema pulmonar. 3 Lesões associadas a uremia Em cães e gatos ocorre estomatite ulcerativa, com lesões mais frequentes na língua, principalmente em suas bordas laterais, mais facilmente observadas na face ventral. Essas úlceras decorrem de lesão vascular em arteríolas e da ação de amônia produzida por bactérias a partir da eliminação de ureia na saliva. No estômago ocorre a denominada gastropatia urêmica, relacionada também a lesão vascular em arteríolas e ação de amônia produzida por bactérias a partir da ureia, com extravasamento de sangue para a luz. Macroscopicamente o estômago tem parede espessa e edemaciada, mucosa intensamente avermelhada, podem ocorrer erosões e ulcerações, além de conteúdo escuro e forte odor amoniacal. Nos pulmões ocorre pneumopatia urêmica, com edema pulmonar difuso e acentuado, ricoem proteínas e ocasionais neutrófilos e macrófagos, por causa do aumento da permeabilidade vascular e, em casos crônicos, há também calcificação de septos interalveolares, de forma que os pulmões não colabam quando da abertura da cavidade torácica na necropsia, isto é, ficam "armados" e, por isso, denominados pulmões com aspecto de pedra pomes. Em caninos com uremia crônica ocorre também lesão em pleura, com calcificação em faixas paralelas na pleura parietal nos espaços intercostais craniais, afetando inclusive porção superficial dos músculos intercostais, lembrando degraus de uma escada. A retenção de fósforo em rins lesados (ocorre quando de redução da taxa de filtração para menos de 25% do normal) resulta em hiperfosfatemia e leva à diminuição relativa dos níveis de cálcio ionizado no sangue. Isso estimula as glândulas paratireoides, que sofrem hiperplasia e hipertrofia, com aumento da secreção de paratormônio (hiperparatireoidismo secundário), remoção de cálcio dos ossos por osteólise osteocítica e osteoclástica e, consequentemente, hipercalcemia. Ocorre, então, osteodistrofia de origem renal, sendo que, em casos graves, a remoção de cálcio dos ossos pode ser tão acentuada a ponto de levar à maleabilidade da mandíbula, denominada então de “mandíbula de borracha”. Além disso, os danos renais acarretam prejuízo na transformação da vitamina D em 1,25- di-hidroxicolecalciferol pelos rins. Calcificações em tecidos moles, tanto por calcificação metastática (relacionada a hipercalcemia), mas também por calcificação distrófica (relacionada a lesão tecidual induzida pela elevação dos produtos nitrogenados no sangue), ocorrem em diferentes locais, como parede do estômago, pulmões, pleura, artérias, endocárdio e rins (nefrocalcinose). Nos casos crônicos há anemia não regenerativa, devida à redução na produção de hemácias, pois na doença renal crônica há deficiente síntese de eritropoetina pelos rins, consequentemente falta estimulação da eritropoiese na medula óssea. Há também fragilização das hemácias relacionada à elevação dos produtos nitrogenados no sangue, com lise precoce; além da perda por hemorragias, principalmente no estômago. Pode ocorrer pericardite fibrinosa, por aumento da permeabilidade vascular. Endocardite ulcerativa do átrio esquerdo, frequentemente com trombose mural, é comum em cães urêmicos e, eventualmente, há lesão endotelial e subendotelial também na aorta e até mesmo na artéria pulmonar além de infartos em diferentes órgãos. Podem ser observados edemas cavitários e de subcutâneo nas partes baixas, decorrentes da retenção renal de sódio e água ou de hipoproteinemia, relacionada à proteinúria, especialmente em casos de lesões glomerulares crônicas. * Lesões extrarrenais associadas à uremia são mais evidentes na uremia crônica. ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO RENAL Agenesia renal (ausência de formação), aplasia (rudimentos renais estão presentes) e hipoplasia (estão presentes néfrons, mas em número reduzido, geralmente há estrutura com aspecto de rim, incluindo cortical e medular, mas em dimensões reduzidas) são anomalias relativamente pouco frequentes em animais domésticos. Se a lesão for unilateral tende a haver compensação pelo rim contralateral, mas se bilateral é incompatível com a vida. 4 Rins fundidos / em ferradura: parecem um grande rim ligado a dois ureteres, podem ser unidos por um dos pólos. Geralmente são funcionalmente normais. Rins ectópicos. Os rins estão fora de sua localização anatômica normal. Mais comum em suínos, os rins podem ser encontrados na cavidade pélvica. São funcionalmente normais, desde que sua posição não impeça o escoamento da urina formada. Cistos renais. Podem ocorrer poucos ou muitos cistos, neste caso os rins são denominados policísticos e os cistos podem comprimir o parênquima adjacente, resultando em prejuízo funcional. Cistos renais simples são achados incidentais frequentes no abate de bovinos e suínos. Os cistos podem ser congênitos, quando há falha na organogênese, um caráter herdável em felinos Persa e em caninos Bull Terrier; ou podem ser adquiridos relacionados a obstrução do fluxo urinário. Ocorre hiperplasia focal do epitélio tubular, induzindo obstrução. Displasia renal, anomalia relativamente pouco frequente, se caracteriza por desenvolvimento desorganizado do parênquima renal, com diferenciação anormal de estruturas histológicas renais. Geralmente é congênito. As causas não são bem definidas, mas pode ser hereditário ou adquirido. Na necropsia o rim afetado está reduzido de volume e pálido, com superfície irregular e pode haver formações císticas e, ao exame histológico, apresenta néfrons e ductos primitivos e desorganizados e pode haver nódulos cartilaginosos. * Nefropatia juvenil progressiva. Doença renal hereditária, com tendência familial demonstrada em várias raças caninas, como Shih Tzu, Lhasa Apso, Samoyed, Poodle, Cocker, Chow-Chow, Pinscher, Bull Terrier, Pastor Alemão e pode ocorrer também em Rottweiler, que têm desenvolvimento precoce de fibrose renal bilateral grave e manifestações clínicas precoces, geralmente de 4 a 24 meses, com poliúria, polidipsia, emagrecimento e sinais de uremia. As lesões são variáveis entre raças acometidas e entre animais, mas na necropsia os rins geralmente estão marrom-pálidos, têm seu volume reduzido, superfície irregular e faixas de fibrose. AMILOIDOSE: Ocorre deposição de amiloide nos glomérulos renais, induzindo destruição do tufo glomerular e desaparecimento de capilares do tufo, e há também deposição intertubular. Nos animais a deposição do amiloide geralmente é sistêmica, mas é mais importante nos rins, pela probabilidade de alteração glomerular com resultantes proteinúria e perda da função renal. Mais frequentemente é secundária a doenças inflamatórias crônicas (acúmulo de amiloide AA), mas gatos abissínios, cães Shar-Pei e, mais raramente, Beagle têm predisposição à amiloidose, com deposição de amiloide AA. Macroscopicamente os rins estão aumentados de volume, pálidos e túrgidos. A confirmação de amiloidose pode ser feita corando-se os rins com solução de lugol e ácido sulfúrico na necropsia. Os locais com acúmulo de amiloide ficam arroxeados a escuros (à semelhança da coloração do amido quando aplicada solução de lugol, daí o nome amiloide). Na avaliação histológica a confirmação pode ser feita com coloração por vermelho congo, específico para amiloide, que se cora em vermelho-alaranjado. DISTÚRBIOS CIRCULATÓRIOS NO SISTEMA URINÁRIO Congestão. Observada em casos de insuficiência cardíaca congestiva e em intoxicações agudas, como na intoxicação por carbamato e por organofosforado. Hemorragia. Hemorragias multifocais ocorrem nos rins em uma variedade de enfermidades importantes nos animais domésticos, daí a importância de sua observação na necropsia. Sepse em qualquer espécie cursa com hemorragias multifocais, inclusive nos rins. Hemorragias multifocais em cortical renal são um achado em caninos recém-nascidos com infecção por Streptococcus canis, os quais podem apresentar também necrose em extremidades (isquemia decorrente de vasoconstrição periférica) como cauda e coxins, e pneumonia. Filhotes caninos de até 14 dias infectados por Herpesvírus Canino tipo 1 podem apresentar hemorragias multifocais nos rins. Esses animais mais provavelmente se infectam no útero ou por ocasião do nascimento. Clinicamente manifestam anorexia, vômitos, taquipneia e dor abdominal, 5 com gemidos. A mortalidade é elevada, muitas vezes de ninhadas inteiras. Os achados mais frequentes na necropsia são hemorragias renais e pulmonares multifocais e edema pulmonar. Ao exame histológico se evidencia necrose multifocal associada a corpúsculos de inclusão intranucleares nos rins, nos pulmões e, às vezes, também no fígado. No entanto, em alguns casos podemnão ser observados corpúsculos de inclusão, nesses casos o uso da técnica de IHQ pode ser importante para a confirmação diagnóstica, com marcação das células infectadas. A confirmação pode ser feita também por isolamento viral. Múltiplas hemorragias são observadas nos rins de suínos em casos de Peste Suína Clássica (PSC), doença grave, de notificação obrigatória. As Regiões Sudeste e Sul são atualmente consideradas controladas para PSC, mas a doença é ainda endêmica nas regiões Norte e Nordeste. Hemorragias renais acentuadas podem estar presentes em animais que sofreram trauma, como caninos e felinos atropelados ou atacados por cães, que podem apresentar clinicamente hematúria, caso sobrevivam mais tempo. Infartos renais: Podem ser encontrados em qualquer espécie animal. Muitas vezes tem formato de cunha, com base na superfície cortical e ápice voltado para a porção interna do rim, mas o formato e a distribuição dependem do(s) vaso(s) acometido(s). Os infartos apresentam delimitação evidente, são mais vermelhos nos primeiros dias, depois tendem a apresentar halo avermelhado relacionado a vasodilatação na área adjacente à necrose como reação ao tecido necrótico. Após alguns dias o halo empalidece, pelo acesso leucocitário. À medida que ocorre a metabolização do sangue extravasado os infartos ficam brancacentos com o passar dos dias. Sempre que houver trombose em átrio ou ventrículo esquerdos há risco de infartos renais, pelo grande volume de sangue filtrado pelos rins e, por isso, grande chance de embolização para os rins; e probabilidade de isquemia devido ao tipo de vascularização nos rins, que é terminal. Infartos renais frequentemente estão associados a endocardite bacteriana, trombos sépticos, ruptura da artéria renal, insuficiência cardíaca, choque circulatório e êmbolos tumorais. Caso o animal sobreviva por mais tempo, as áreas infartadas sofrem retração cicatricial ou, se forem infartos sépticos, pode haver formação de abscessos. PROCESSOS DEGENERATIVO-NECRÓTICOS QUE AFETAM OS RINS A) NECROSE tubular aguda (NTA) ou NEFROSE: Necrose tubular aguda ou nefrose é a causa mais importante de insuficiência renal aguda. O epitélio tubular renal é sensível a hipóxia e a substâncias tóxicas e a sua vulnerabilidade favorece a necrose tubular. Os túbulos contorcidos proximais têm atividade metabólica mais complexa, por isso são mais vulneráveis aos insultos hipóxicos e tóxicos. Clinicamente a nefrose manifesta-se por redução do volume urinário (oligúria), o que se explica pela difusão da urina para o interstício quando há lesão tubular acentuada e pelo desprendimento de células necróticas que caem na luz dos túbulos, obstruindo-os. Além disso, quando há hipóxia ocorre ativação do sistema renina- angiotensina com retenção renal de sódio, consequentemente de água, reduzindo o volume urinário. Na necropsia os rins apresentam-se túrgidos e pálidos. As consequências dependem da intensidade e da duração do quadro e se a membrana basal foi lesada ou não. As causas mais importantes da nefrose são hipóxia e substâncias tóxicas. - Necrose tubular isquêmica (resulta em uremia pré-renal): Está relacionada a elevado número de situações que resultam em redução na perfusão renal, como depleção de volume circulante (desidratação, vômito, diarreia, choque, coagulação intravascular disseminada, queimaduras, hemorragia, trauma grave, hipoalbuminemia, hemoglobinúria, mioglobinúria), débito cardíaco diminuído (ICC, doença pericárdica restritiva, tamponamento cardíaco, arritmia, alterações miocárdicas) viscosidade sanguínea aumentada (mieloma múltiplo, policitemia), alteração renal e resistência vascular sistêmica (vasoconstrição renal, efeito de catecolaminas, estimulação nervosa simpática, vasopressina, angiotensina, hipotermia). Ocorre necrose isquêmica, que pode envolver toda a cortical ou sua porção externa. Na necropsia a cortical vai estar mais pálida ou com 6 hemorragias multifocais. Essa forma de necrose tubular frequentemente é acompanhada de lesão da membrana basal, então denominada tubulorrexia. Se não há dano à membrana basal a lesão é seguida de regeneração, mas se a membrana basal está comprometida ocorre cicatrização, com fibrose renal, desde que o indivíduo sobreviva tempo suficiente para que o reparo ocorra. - Nefrose hemoglobinúrica/mioglobinúrica. A impregnação dos rins por hemoglobina ou mioglobina é um evento para lesão tubular, mas na patogenia da necrose tubular em doenças com hemoglobinúria ou mioglobinúria é mais importante a redução da perfusão renal. Hemoglobinúria com impregnação renal por hemoglobina ocorre em doenças hemolíticas como babesiose, hemoglobinúria bacilar e intoxicação por Brachiaria radicans em bovinos; intoxicação crônica por cobre em ovinos, babesiose e leptospirose em cães, ou veneno crotálico em qualquer espécie). Várias doenças de animais domésticos cursam com mioglobinúria, relacionadas com ação de substâncias miotóxicas (intoxicação por ionóforos, plantas como Senna occidentalis) ou mesmo miopatias traumáticas/hipóxicas extensas, como a miopatia de decúbito, miopatias de esforço (rabdomiólise em equinos e miopatia de captura em animais selvagens) com mioglobinúria resultante. Em casos de picadas de abelhas, os venenos inoculados (melitina e fosfolipase), induzem necrose muscular, hemorragias e nefrotoxicidade de mioglobina, com degeneração e necrose tubular renal. - Nefrose colêmica é a denominação para a lesão renal associada à deposição de bilirrubina nos rins, o que pode ocorrer em doenças com icterícia hepática e pré-hepática, em que aumenta a bilirrubina circulante. É também denominada síndrome hepato-renal, mas a lesão renal é devida, principalmente, à perfusão renal reduzida. * Intoxicação crônica por cobre em ovinos. Pode ocorrer de forma primária quando há excesso de cobre no alimento fornecido aos ovinos, o que frequentemente é observado no uso de sal mineral e/ou concentrado elaborados para bovinos na alimentação de ovinos, bem como no uso de ração indicada para equinos ou suínos. Pode também ocorrer quando do pastejo de ovinos em áreas de pomar e cafezais em que fungicidas à base de cobre são usados para controle de doenças das culturas desse pomar, com contaminação das forrageiras ali presentes por cobre, ou na realização de adubações ricas em cobre (por exemplo cama de aviário). Além disso, casos de intoxicação têm sido relatados quando do uso de cama de aviário na alimentação de ovinos (embora essa prática seja atualmente proibida por lei como medida de prevenção à transmissão de doenças por príon). A intoxicação também pode ocorrer no uso de forrageiras com níveis muito baixos de molibdênio, elemento antagonista do cobre, especialmente leguminosas, classificada como intoxicação secundária fitógena por cobre. Neste caso a intoxicação ocorre mesmo com níveis normais de cobre na dieta (10 a 20 ppm). Outra situação é a intoxicação de ovinos por alcaloides pirrolizidínicos, que provocam dano aos hepatócitos e que, nessa espécie, induz alteração na capacidade de armazenamento de cobre, com intoxicação por cobre mesmo quando os níveis de cobre na dieta são normais, classificada como intoxicação secundária hepatógena por cobre. O cobre é armazenado nos hepatócitos, mas o limiar de cobre nos hepatócitos é baixo em ovinos e, quando excedido esse limiar, ocorre hemólise, necrose hepatocitária e tubular renal. A lesão renal está relacionada à menor perfusão renal e deposição de cobre no epitélio tubular. A doença é denominada intoxicação crônica pelo tempo necessário para que se exceda o limiar hepatócitário de armazenamento do cobre e, uma vez excedido esse limiar, causa doença aguda e grave, com icterícia, hemoglobinúria, apatia, anorexia, conjuntivas avermelhadas e morte em um a quatro dias. A crise hemolítica pode ser precipitada em situações de estresse,como tosquia e parto. Na necropsia os achados mais importantes são icterícia, fígado alaranjado, rins escurecidos, urina com “aspecto de coca-cola”. Para o tratamento de animais afetados é indicado o uso de molibdato de amônio. - Necrose tubular nefrotóxica: decorre da ação de substâncias, principalmente ingeridas ou injetadas, sobre os túbulos uriníferos. Os túbulos contorcidos proximais são os mais sensíveis. Em bovinos com doença nefrotóxica há manifestação de edema na região posterior (glútea), atonia 7 rumenal, diarreia, corrimento nasal sero-hemorrágico. Bovinos e equinos podem apresentar fezes enegrecidas, com sangue parcialmente digerido ou não, anorexia e apatia. Na necropsia são observados edema perirrenal, rins túrgidos, pálidos ou amarelados, com pontos pálidos entremeados por focos de hemorragia. Pode haver líquido seroso nas cavidades abdominal e torácica, lesões ulcerativas lineares em esôfago, espessamento e avermelhamento da mucosa do cólon. Na histopatologia é observada acentuada necrose de coagulação nos túbulos. São substâncias nefrotóxicas: - Metais pesados, como mercúrio, o qual intoxica pela ingestão de sementes tratadas, por exemplo. O chumbo, presente em tintas, baterias, pastagens em áreas de treinamento militar e próximas de fábricas de recondicionamento de baterias, causa lesão neuronal, mas também pode induzir nefrose, com corpúsculos de inclusão intranucleares em células epiteliais dos túbulos renais. Para o diagnóstico da intoxicação por chumbo é indicada a dosagem do metal, sendo rim e fígado os tecidos mais apropriados, conservados refrigerados ou congelados, dependendo do tempo para remessa ao laboratório de análises toxicológicas. Arsênico, antigamente usado em controle de ectoparasitas de animais e em controle de pragas de lavoura, pode ainda ser ingerido acidentalmente e também induz necrose tubular. - Determinados antibióticos são nefrotóxicos, causando lesões quando de erro de dosagem ou tratamento prolongado ou quando de lesões renais prévias, hipóxicas/isquêmicas, por exemplo. Aminoglicosídeos (gentamicina, neomicina, tobramicina, estreptomicina, canamicina e amicacina), tetraciclina, sulfonamidas e anfotericina B são os mais importantes. - Drogas antineoplásicas, como cisplatina e doxorrubicina, também são nefrotóxicas. - Micotoxinas nefrotóxicas: Especialmente a ocratoxina, mais importante em suínos, e a citrinina são nefrotóxicas. Em substratos apropriados com umidade elevada há proliferação de fungos, por exemplo, milho colhido armazenado úmido apresenta crescimento de fungos como Aspergillus e Penicillium. Quedas de temperatura ambiente a menos de 16ºC favorecem a síntese de micotoxinas. É importante lembrar que os grãos permanecem impregnados com micotoxinas mesmo depois que o fungo que as produziu foi eliminado; os grãos contaminados podem não apresentar alterações visíveis e que as micotoxinas são termoestáveis. - Plantas nefrotóxicas: Diversas plantas são nefrotóxicas para animais domésticos, com dois gêneros importantes para bovinos e suínos no Brasil; Amaranthus spp e Thiloa glaucocarpa. Amaranthus spp., planta de nome popular “caruru”, é comum em todo o Brasil, com registro de intoxicação pelas espécies Amaranthus retroflexus, A. spinosus, A. hybridus e A. blitum em bovinos no sul do Brasil, intoxicação por A. spinosus em ovinos no Sudeste e por A. hybridus e A. viridis em suínos, também na Região Sul. A planta cresce bem em lavouras, hortas terrenos baldios, beiras de estrada que tenham solo fértil. A intoxicação ocorre quando bovinos são introduzidos em lavouras após colheita de grãos (restos culturais, palhada ou resteva), principalmente no outono. Em suínos a intoxicação pode ocorrer pela prática de fornecer plantas verdes aos animais (caruru é popularmente conhecido como “forragem” para porcos). Thiloa glaucocarpa (“Sipaúba”) é a planta nefrotóxica mais importante no Nordeste. É a primeira planta que brota após início das chuvas e, como ela fica verde enquanto as outras forrageiras ainda não brotaram, sua ingestão é facilitada, favorecendo a intoxicação. A doença é denominada “Doença da popa inchada”, por causa do edema na região posterior das coxas e no períneo, e “Doença da rama murcha”, pois após as primeiras chuvas é frequente um período de estiagem, em que os ramos brotados murcham e muitas vezes coincide com o aparecimento de casos clínicos da intoxicação, no entanto, a ingestão da planta ocorreu antes da murcha. Derrubadas e queimadas na caatinga são responsáveis por aumento na frequência da intoxicação, pois esta espécie rebrota facilmente, aumentando a probabilidade de ser consumida pelos bovinos. 8 Dimorphandra mollis (“faveira”), é uma árvore que ocorre principalmente na Região Centro- Oeste e é suspeita de intoxicar bovinos, principalmente em período de seca. Apresenta vagens (=favas) que caem ao solo e são ingeridas pelos bovinos, mas doses tóxicas mais provavelmente são ingeridas quando bovinos são introduzidos em pastos que estavam fechados em que há muitas favas no chão, facilitando a ingestão de doses tóxicas de favas. Outra planta, Metternichia princeps (“café-do-mato”, “trombeteira”, “jasmim-do-morro”), árvore da Família Solanaceae, também causa nefrose tubular e foi responsável por surtos de intoxicação em caprinos no Sudeste (Rio de Janeiro) e no Nordeste (Bahia). - Oxalato: Setaria spp., Panicum maximum (“capim colonião”), Brachiaria humidicula, Brachiaria mutica, Pennisetum purpureum (“capim elefante”) e Pennisetum clandestinum (“quicuio”) são gramíneas que contem cristais de oxalato. Também induzem necrose tubular, pois os oxalatos ligam- se a íons cálcio formando complexos insolúveis, que se depositam nos rins. A adubação de pastagens contendo essas gramíneas com nitrogênio e potássio pode elevar os teores de oxalato. Por outro lado, há tendência de queda dos teores de oxalato nas plantas com a maturação, ou seja, plantas novas e bem adubadas tendem a apresentar teores de oxalato mais elevados. Animais afetados manifestam apatia, fraqueza, dispneia, diminuição da motilidade do trato digestório, diarreia, andar rígido, tetania, tremores, convulsões, edema subcutâneo. Na necropsia os achados mais importantes são rins congestos, aumentados de volume e pode ser observada linha brancacenta entre córtex e medula renal, hemorragias e edema na parede ruminal. Em equinos a intoxicação crônica pode levar à osteodistrofia fibrosa, relacionada aos elevados teores de oxalato e baixos teores de cálcio nas plantas, com hiperparatireoidismo nutricional secundário. Na necropsia de bovinos intoxicados por plantas nefrotóxicas podem ser encontrados edemas na região posterior e perirrenal, rins pálidos e túrgidos, especialmente na cortical, intestino grosso com conteúdo liquefeito e mucosa avermelhada e edemaciada e, no exame histológico, se observa necrose tubular renal acentuada. B) Necrose papilar ou da crista medular É afetada a parte mais interna da medular renal, bastante sensível à hipóxia por causa de sua irrigação limitada. A necrose papilar ou da crista medular pode estar associada a trombose, cálculos renais, hidronefrose, pielite, mas é mais comumente relacionada ao uso incorreto de anti- inflamatórios não esteroides (AINES). No uso de AINES ocorre hipóxia da medular por inibição da síntese de prostaglandinas, que são vasodilatadores potentes, com prejuízo na irrigação da medular. Em animais desidratados o risco de necrose de papila renal é maior. As papilas renais ficam pálidas, amarelo-acinzentadas, até acastanhadas, podendo se desprender do tecido viável e servir como ninho inicial para a formação de cálculos. Normalmente são achados incidentais de necropsia, mas em algumas situações podem resultar em insuficiência renal progressiva. C) Hidronefrose: corresponde à dilataçãoda pelve renal com acúmulo de urina. Resulta em atrofia uni ou bilateral do parênquima renal. Está associada a aumento da pressão na pelve em situações de obstrução do fluxo urinário, como em inflamação crônica relacionada as vias urinárias, neoplasia em ureter, bexiga urinária ou uretra; cálculos uretrais ou ureterais, alteração de posição de bexiga urinária, malformações congênitas e ligação cirúrgica de ureter. Quanto à patogenia, há colapso dos vasos locais, redução do fluxo sanguíneo local e isquemia do parênquima por pressão, com apoptose, necrose e atrofia do epitélio tubular e fibrose. Se for bilateral a dilatação observada na necropsia geralmente não é muito acentuada, pois a morte do animal ocorre antes da dilatação acentuada, mas em casos de obstrução unilateral a pelve pode estar acentuadamente dilatada e o parênquima renal muito reduzido por atrofia e apoptose, principalmente a medular; e o rim contralateral provavelmente estará aumentado de volume, por hipertrofia compensatória. 9 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS Inflamações renais são genericamente denominadas nefrites, no entanto, na maioria dos casos há envolvimento predominante de uma parte dos rins, com classificação das alterações renais inflamatórias em glomerulite/glomerulonefrite, nefrite embólica, nefrite intersticial/nefrite tubulointersticial, pielonefrite, ou nefrite granulomatosa, por causa do infiltrado específico. Processos inflamatórios glomerulares Os glomérulos são constituídos por tufos de capilares fenestrados, mesângio e células mesangiais, membrana basal, células epiteliais viscerais ou podócitos, envoltos pela cápsula de Bowman. A barreira glomerular é constituída pelas células endoteliais, pela membrana basal e espaços de filtração entre os podócitos. Quando de alterações glomerulares significativas há manifestação clínica de poliúria e proteinúria. - Glomerulite embólica supurativa: Ocorre em animais jovens com infecção via umbigo. Em potros recém-nascidos pode ocorrer infecção por Actinobacillus equuli, um bacilo Gram negativo que, em equinos adultos, é isolado normalmente da cavidade oral e faringe. A infecção dos potros ocorre via oral, respiratória ou via umbigo e a doença é mais provável em potros que não ingeriram colostro, nasceram prematuros ou são imunodeficientes. Os potros afetados apresentam apatia, anorexia e morte, geralmente na primeira semana após nascimento. Na necropsia podem ser observados pequenos nódulos esbranquiçados de aproximadamente 0,2cm de diâmetro na cortical renal e ao exame histológico observam-se microabscessos na região glomerular. Em bovinos pode ocorrer glomerulite relacionada à infecção por E. coli em bezerros que não tiveram cura adequada do umbigo. - Glomerulonefrite imunomediada: relacionada à formação de imunocomplexos quando há persistência de antígenos no organismo. Os imunocomplexos são formados na circulação e são depositados nos glomérulos, mas também podem ser formados na membrana basal dos glomérulos. Em caninos essa forma de glomerulonefrite ocorre em animais com piometra, leishmaniose, prostatite, hepatite infecciosa canina subaguda a crônica, erliquiose crônica, infecção por Dirofilaria immitis. Em felinos pode ocorrer associada a PIF ou leucemia felina. Em equinos pode estar associada a anemia infecciosa equina e a infecção por Streptococcus sp.; em suínos é observada associada à Peste suína clássica e, em bovinos, na BVD e outras doenças inflamatórias crônicas, como mastites crônicas. Na glomerulonefrite imunomediada há perda da capacidade de filtração glomerular, resultando em aumento de volume urinário com proteinúria. Além dessas manifestações geralmente são observadas alterações relacionadas a uremia. Na necropsia há alterações renais discretas ou ausentes, geralmente os rins estão discretamente aumentados de volume, têm coloração normal ou pálida e pontos na cortical que correspondem aos corpúsculos renais alterados, além das lesões de uremia. Histologicamente a glomerulonefrite imunomediada é classificada em proliferativa, membranosa e membranoproliferativa e, em casos mais crônicos e graves, pode haver glomeruloesclerose. Na glomerulonefrite proliferativa há muitos leucócitos e células mesangiais, com aumento na celularidade glomerular; a membranosa apresenta pouca celularidade, mas há espessamento de membrana basal e mesângio, sendo mais frequentemente observada em felinos e, na membranoproliferativa há aumento na celularidade e espessamento das membranas basais - é a forma mais frequentemente observada em cães. - Nefrite intersticial e tubulointersticial: A nefrite intersticial caracteriza-se por infiltrado inflamatório mononuclear, predominantemente linfoplasmocítico, entre túbulos renais, difuso ou multifocal. A nefrite tubulointersticial tem como características infiltrado inflamatório linfoplasmocítico intertubular associado alterações tubulares degenerativo-necróticas. Na necropsia 10 observam-se focos pálidos branco-acinzentados no córtex renal, principalmente próximos à junção corticomedular e superfície renal irregular. Pode evoluir para fibrose renal, com volume renal reduzido, superfície irregular, aderência da cápsula e estrias brancacentas ao corte. Nefrite tubulointersticial ocorre em doenças como Leptospirose, Circovirose suína, Anemia infecciosa equina, Erliquiose, Febre catarral maligna e em casos de sepse, como a causada por Escherichia coli em bezerros. Leptospirose. Doença de distribuição mundial, causada por Leptospira sp., sendo o gênero formado por oito genomoespécies patogênicas, distribuídas em 26 sorogrupos e 250 sorovares. Sorovar ou variante sorológica é a unidade taxonômica do gênero. Existe predileção de sorovares por determinadas espécies animais, mas um mesmo hospedeiro pode ser infectado por mais de uma espécie de leptospira. As leptospiras conseguem penetrar mucosa intacta e pele lesada ou umedecida, com posterior leptospiremia. Animais infectados eliminam leptospira na urina, mesmo após recuperação clínica e, no ambiente, as leptospiras conseguem sobreviver por meses em ambientes quentes, úmidos e com pH próximo ao neutro. O sorovar L. icterohaemorragiae induz principalmente lesão hepática com icterícia, tendência a hemorragias, hemólise, com doença importante em caninos. Ratos (Rattus norvegicus, “ratazana” ou “rato de esgoto”) agem como reservatório, dado importante quanto à epidemiologia da doença. Humanos também são infectados e podem apresentar doença grave e até fatal. A infecção pelo sorovar L. canicola tem como efeito mais importante lesão renal. Cães com leptospirose clínica apresentam febre, mucosas pálidas e/ou amareladas, hemorragias e pode haver hemoglobinúria, bem como alterações relacionadas a uremia. Para confirmação do diagnóstico clínico pode ser usada microaglutinação, com provas pareadas. Na necropsia os achados são de coagulopatia, com hemorragias disseminadas na infecção por L. icterohaemorragiae e doença hemolítica e há evidências de uremia na infecção por L. canicola. Hemorragias disseminadas e pulmonares acentuadas são achados frequentes na necropsia de caninos afetados e muitas vezes há também intussuscepção intestinal. Icterícia acentuada frequentemente é observada, mas pode ser discreta quando outras alterações precipitaram a morte do animal, como insuficiência respiratória ou intussuscepção intestinal. Os achados histológicos são característicos. São constituídos de nefrite intersticial linfoplasmocitária, com ou sem degeneração e necrose do epitélio tubular, e no fígado há dissociação de hepatócitos. Técnica histoquímica de impregnação pela prata pode auxiliar na confirmação diagnóstica ao evidenciar as espiroquetas em rins e fígado. Em bovinos no Brasil a leptospirose é causada principalmente pelos sorovares Leptospira interroganssorovares hardjo, hardjobovis e wolffi, sendo importante como doença reprodutiva, manifesta principalmente por abortos e infertilidade e, raramente, como doença sistêmica. Em suínos e equinos a leptospirose também é mais importante como doença reprodutiva. Em suínos o sorovar L. pomona é o mais comum no Brasil. * Nefrite intersticial ocorre em bezerros com sepse por E. coli. Acúmulos de infiltrado inflamatório linfoplasmocitário nos interstícios podem resultar no aspecto denominado “rins manchados de branco”. * Na Febre catarral maligna são observados focos pálidos bem definidos disseminados pelo córtex renal, que se caracterizam por infiltrado inflamatório mononuclear acentuado, especialmente associado a paredes vasculares. * Circovirose suína, doença viral sistêmica causada por Circovírus suíno tipo 2 (PCV2), com manifestações clínicas de animais refugos, diarreia, sinais respiratórios, neurológicos, melena decorrente de úlcera gástrica, lesões de pele. Infecções secundárias são comuns, relacionadas a imunossupressão que a infecção por PCV2 induz. Mais frequentemente há nefrite intersticial, mas pode haver glomerulonefrite, fibrinoexsudativa em casos agudos. 11 - Nefrite granulomatosa: Os rins apresentam infiltrado inflamatório granulomatoso multifocal, que podem ser evidentes macroscopicamente como pequenos nódulos brancacentos de distribuição multifocal, mais frequentes no córtex renal. Nefrite granulomatosa ocorre na forma crônica da PIF, causada por Coronavirus felino, doença sistêmica de felinos em cuja forma crônica pode haver alterações relacionadas a hipersensibilidade do tipo IV, com infiltrados inflamatórios associados a vasos sanguíneos, principalmente na superfície cortical renal e podem ocorrer na forma de piogranulomas. A migração somática de larvas de Toxocara canis pode induzir formação de nódulos de 0,2 a 0,3 cm de diâmetro, brancacentos, aleatórios, com pequenas elevações na superfície renal de cães, que correspondem a granulomas ricos em eosinófilos. Infecção sistêmica por fungos, tais como Aspergillus sp., Histoplasma e a alga Prototheca e por bacilos como Mycobacterium bovis induzem a formação de nódulos granulomatosos multifocais. Na intoxicação por polpa cítrica em bovinos e na ingestão de Vicia villosa, popularmente conhecida como ervilhaca, há formação de granulomas múltiplos, inclusive nos rins; associados a múltiplas hemorragias (granulomas em medula óssea e trombocitopenia resultante) e alopecia multifocal a difusa (granulomas na pele). - Pielonefrite: é uma lesão tubulointersticial supurativa. Geralmente tem origem em infecções do trato urinário inferior em que a válvula vesicoureteral fica comprometida, o que tem relação com aumento da pressão intravesical, endotoxinas derivadas de infecções bacterianas e cistite. Pode ser uni ou bilateral. Há inflamação da pelve com extensão ao parênquima renal, principalmente da porção interna da medular renal. A pielonefrite é mais frequente em fêmeas e está relacionada a refluxo de urina. Esse refluxo ocorre em casos de cistite em que endotoxinas interferem negativamente no peristaltismo. Na patogenia da pielonefrite é importante a participação de bactérias que causam cistite que, com o refluxo, atingem a pelve, resultando em pielonefrite. Ocorre, por exemplo, em vacas infectadas por Corynebacterium renale. As alterações ocorrem principalmente em fêmeas adultas, pela maior probabilidade de inflamação do trato urinário inferior, graças à uretra mais ampla e curta. A porção interna da medula tem alta osmolaridade, prejudicando a função dos neutrófilos e apresenta também elevada concentração de amônia, com inibição da formação do complemento. Além disso, a referida região é pouco irrigada. Pielonefrite ocorre também por aumento da pressão na bexiga urinária decorrente de obstrução por cálculos ou neoplasias, com refluxo. A pielonefrite se caracteriza macroscopicamente por listras vermelho-acinzentadas que se estendem da pelve à cortical, com áreas de alteração da superfície cortical e a mucosa da pelve pode estar avermelhada e/ou ulcerada. A pielonefrite geralmente é bilateral e as lesões tendem a ser mais frequentes e acentuadas nos pólos renais. Alterações renais crônicas são representadas por fibrose renal, e os rins são denominados “rins terminais”. Frequentemente essas alterações decorrem de nefrite intersticial, com substituição do parênquima por tecido conjuntivo fibroso, o que ocorre quando há comprometimento de membranas basais e liberação de mediadores químicos, como citocinas, que induzem formação de tecido conjuntivo fibroso. Pode também resultar de inflamação em glomérulos e/ou túbulos, degeneração e necrose graves ou infartos renais. Há manifestações clínicas de uremia, poliúria com isostenúria, (urina bem diluída), pois os rins perdem a capacidade de absorver água e ocorrem também polidipsia e desidratação, além de falhas na síntese de eritropoietina, com anemia resultante. Na necropsia os rins estão diminuídos de volume, firmes, com superfície irregular, estrias brancacentas, cápsula aderida ao parênquima, difícil de remover e, ocasionalmente, com estruturas císticas que correspondem a cápsulas de Bowman dilatadas. Pode ocorrer em todas as espécies animais, sendo mais frequente nos cães. 12 Parasitos renais: - Dioctophyma renale, o maior nematódeo dos animais domésticos, tem cutícula bem vermelha, as fêmeas medem até 100 cm de comprimento, os machos são menores (até 40 cm) mas apresentam ampla bolsa copuladora em forma de sino, facilmente observada macroscopicamente. São mais frequentemente encontrados em cães e lobos-guará (na América do Norte são parasitos frequentemente encontrados em martas). A infecção provavelmente está relacionada a hábitos alimentares, com ingestão de minhocas aquáticas (HI) ou de peixes ou rãs (HP). Mais frequentemente o(s) verme(s) se instala(m) no rim direito, causando destruição do parênquima do mesmo por substância histolítica secretada pelos vermes. Clinicamente pode haver hematúria e/ou piúria, mas o diagnóstico pelo achado de ovos na urina não é fácil, pois muitas infecções não são patentes. Urografia excretória é um método auxiliar no diagnóstico clínico, em que provavelmente não há formação de imagem do rim direito, que está afuncional, e o rim esquerdo apresenta tamanho aumentado, já que o rim esquerdo é poupado pelos vermes e apresenta hipertrofia compensatória. Assim o diagnóstico da infecção muitas vezes é feito na necropsia, pelo achado dos vermes em uma bolsa fibrosa que sobro do rim direito, mas o parasita pode aparecer livre na cavidade abdominal, na bolsa testicular ou mesmo na bexiga urinária. O verme pode envolver um lobo hepático, com fibrina e/ou fibrose na área relacionada e em alguns casos, pode haver até mesmo infarto do lobo hepático cingido. Neoplasias renais: Carcinoma renal é a neoplasia renal primária mais comum e ocorre mais frequentemente em cães, especialmente nos mais velhos. Normalmente é unilateral, pode formar massa de até 20 cm de diâmetro e fazer metástase para os pulmões. Em cães da raça Pastor alemão ocorre o cistadenocarcinoma, que é hereditário e geralmente bilateral e pode fazer metástase. Frequentemente são observadas também alterações cutâneas caracterizadas por dermatofibrose nodular nos animais afetados, e nas fêmeas, leiomiomas uterinos. Clinicamente pode haver hematúria, perda de condição corporal, aumento de volume abdominal, além das alterações cutâneas e, provavelmente, haverá morte por insuficiência renal. Na necropsia são observadas massas brancacentas, distorcendo a anatomia renal, com estruturas císticas contendo líquido castanho escuro, muitas vezes grumoso, frequentemente em ambos os rins. Nefroblastoma: Tumor unilateral, congênito ou de animais jovens, mais frequente em suínose aves e ocasionalmente encontrado em bovinos e caninos. Poe haver uma ou mais massas, geralmente grandes, pode ter comportamento agressivo, com invasão local e formação de metástase, mas pode ser um achado incidental de necropsia. Neoplasias metastáticas: Diferentes neoplasias malignas, como rabdomiossarcoma, hemangiossarcoma, melanoma, osteossarcoma, tumores mamários malignos e tumores malignos de adrenal (feocromocitoma e carcinoma do córtex de adrenal) podem metastatizar para os rins. Carcinomas de bexiga urinária também podem fazer metástase para os rins. Linfossarcoma (Leucose enzoótica bovina) eventualmente faz infiltração renal maciça, levando à morte por insuficiência renal. 13 TRATO URINÁRIO INFERIOR Anomalias do desenvolvimento: Úraco persistente: o úraco conduz a urina da bexiga urinária ao alantoide antes do nascimento e após o nascimento deve haver oclusão completa. Úraco persistente ocorre principalmente em potros, que podem eliminar a urina através dele. Suas causas estão relacionadas a predisposição, onfaloflebite ou oclusão da uretra. Divertículo Vesical; parte do úraco vai estar dilatada e conter urina. A retenção urinária predispõe a infecção e a urolitíase. Retroflexão da bexiga urinária: É quando a bexiga urinária está deslocada (dobrada) dorsalmente, o que é mais frequente em cães machos, velhos, com próstata aumentada, que apresentam tenesmo e fazem hérnia perineal. A retroflexão impede o esvaziamento da bexiga urinária, com retenção urinária e lesão da parede vesical, que pode romper. Urolitíase ou formação de cálculos urinários, estes podem ocorrer na pelve ou na bexiga urinária. Sua formação tem relação com predisposição genética, dieta, privação hídrica, grau de saturação dos elementos precursores na urina, infecções urinárias, pH da urina. Os cálculos podem ser mais duros ou mais moles, dependendo da quantidade de matéria orgânica na sua composição. Podem ser brancacentos, amarelados, acastanhados, arredondados e pontiagudos. Quanto à composição, há os cálculos de Estruvita, mais frequentes em felinos e caninos; na maioria das vezes estão relacionados a infecção urinária, são compostos por fosfato de amônio e magnésio, formam-se em pH alcalino e geralmente são brancacentos a acinzentados, duros, arredondados, com superfície irregular ou lisa; Urato, cálculos amarelados que ocorrem em cães Dálmata com formação de ácido úrico; Oxalato, em relacionados a ingestão de alimentos que contem oxalato, são brancacentos; Sílica, cálculos duros, brancos a castanho-escuros encontrados em ruminantes em pastejo em áreas de solo muito arenoso com acúmulo de ácido silícico na pastagem; Xantina, são amarelados, há predisposição em caninos da raça Dachshund; Benzocumarina, observados em pequenos ruminantes em pastagem de trevo subterrâneo e são amarelados. Os cálculos urinários oferecem risco maior para animais machos, pela maior probabilidade de obstrução uretral, uma vez que apresentam uretra mais longa e com luz de menor diâmetro. Existem locais de maior probabilidade de obstrução urinária por cálculos. Em bovinos a obstrução ocorre no arco isquiático e na flexura sigmoide (S peniano). Em ovinos e caprinos ocorre no processo uretral, na flexura sigmoide e, menos frequentemente, no arco isquiático; em cães na entrada da uretra no osso peniano e, em gatos, em qualquer extensão da uretra. As manifestações clínicas da urolitíase são disúria, estrangúria, hematúria. Consequências da urolitíase: distensão vesical, cistite, hidronefrose, cistite hemorrágica e ruptura de bexiga urinária. A retenção urinária predispõe à infecção urinária. * Síndrome urológica felina (SUF): também denominada Doença do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF) é a doença mais importante do trato urinário em gatos. A patogenia da doença é multifatorial. Ocorre mais frequentemente em gatos que recebem ração seca, sedentários, machos castrados ou não, principalmente se a castração foi precoce, condição em que a luz da uretra é mais estreita. Rações ricas em magnésio para gatos favorece a produção de urina com pH alcalino e a formação de cálculos de estruvita. A identificação desses fatores levou à indicação do uso de acidificantes na ração e redução dos níveis de magnésio para prevenção da urolitíase felina. No entanto, o uso de acidificantes e a redução dos níveis de Mg associados a dieta rica em proteínas, as quais também favorecem acidificação da urina, têm levado a casuística aumentada de urolitíase renal por oxalato de cálcio em felinos. Infecção por Herpesvirus felino associado a células já foi implicado na doença. Clinicamente os gatos apresentam hematúria, disúria, estrangúria, oligúria, dor abdominal e, frequentemente, evolução para a morte. Recidivas da doença são comuns. Na necropsia encontra-se cistite hemorrágica (bexiga urinária repleta de conteúdo sanguinolento e hemorragia transmural), pode ou não ser encontrado um tampão uretral constituído de mistura de cristais de estruvita com material protéico e debris celulares; esse tampão se molda no formato da 14 luz da uretra. Em alguns casos ocorre ruptura de bexiga urinária e hidronefrose discreta a moderada. Lesões associadas à uremia são observadas, principalmente nos animais que sobrevivem por mais tempo. * Urolitíase em ruminantes, observada em ovinos e caprinos, mas também em bovinos, mais frequentemente em animais que recebem concentrado com teores elevados de fósforo, levando a desequilíbrio na relação Ca:P, o que induz aumento da fosfatemia e consequente eliminação de fósforo na urina. Dietas com relação Ca:P na faixa de 1:1 a 0,5:1 favorecem a formação de cálculos, o que ocorre no uso de grãos, que apresentam 0,02 a 0,1% de cálcio enquanto os níveis de fósforo estão na marca de 0,2 a 0,4%. A quantidade de ração (quantidades equivalentes ou superiores a 2% do peso vivo) e tempo de ingestão (dois meses ou mais) são dados importantes para a ocorrência de urolitíase em ovinos e caprinos. Uso de rações com níveis elevados de Mg e de sal mineral contendo teores elevados de P e Mg também aumentam os riscos de urolitíase. A doença é mais frequente em machos castrados, pelo menor diâmetro da uretra e quando há baixa ingestão de água. Em bovinos é observada em animais com acesso restrito a água (animais de trabalho). Há manifestação clínica de dor, anorexia, dificuldade para andar, disúria, quando da obstrução do processo uretral em pequenos ruminantes há dilatação e dor locais. Quando há ruptura vesical percebe-se aparente melhora clínica por alívio da dor, mas é seguida por apatia acentuada, aumento de volume abdominal, com morte em cerca de 2 a 3 dias. Na ruptura da uretra pode haver acúmulo de urina na região ventrocaudal do abdômen, por infiltração de urina. Para prevenção deve ser verificada e corrigida a dieta. Em animais preparados para exposição ou venda pode ser adicionado carbonato de cálcio para adequação dos níveis Ca:P e possibilidade de uso de acidificante da urina, como cloreto de amônio. Cistites: São comuns nos animais domésticos, principalmente nas fêmeas, por possuírem uretra curta e ampla, facilitando infecções ascendentes. São causadas por bactérias Gram negativas, como E. coli, Klebsiella, Proteus, mas também Streptococcus, Staphylococcus e tem relação com retenção urinária, alterações no pH da urina; prejuízos na síntese de IgA, traumatismo, glicosúria (esta por favorecer a proliferação bacteriana), deficiência imunológica. São classificadas em: Cistite fibrinosa ou fibrinonecrótica, associada a infecção bacteriana. Cistite polipoide: crônica, com elevações na mucosa por hiperplasia/hipertrofia, associada a infiltrado inflamatório e fibrose da parede, mais frequente em cães. Cistite folicular: hiperplasia linfoide. Cistite micótica: causada por Candida albicans, ocorre em animais imunossuprimidosou submetidos a antibioticoterapia prolongada. * Infecção urinária é importante em fêmeas suínas em produção, caracterizada principalmente por cistite, é das causas mais importantes de redução da vida útil, falha reprodutiva e morte súbita em porcas em todo o mundo. Uma das condições predisponentes é a insuficiente ingestão de água por matrizes, relacionada com o sistema de fornecimento de água usado na granja, qualidade da água, mobilidade das porcas (frequência de micções/dia). Resulta em estagnação da urina na bexiga urinária, aumento do pH urinário e multiplicação bacteriana. Falta de higiene nas instalações, favorecendo contato da vulva com fezes, principalmente se as fêmeas ficam “sentadas”, ou muito tempo deitadas é também fator importante para a ocorrência de cistite. As bactérias mais frequentemente envolvidas são Escherichia coli, Proteus mirabilis, Staphylococcus sp., Streptococcus sp., Aeromonas hydrophila e Actinobaculum suis. A infecção urinária está altamente relacionada com doenças puerperais e infertilidade pós-desmame nas porcas. Clinicamente as fêmeas afetadas apresentam urina turva, com pus, grumos e/ou sangue - este presente especialmente na infecção por Actinobaculum suis. Além disso, pode haver manifestação de apatia, perda de condições corporais, redução do apetite, febre, disúria ou morte súbita, esta mais frequente na maternidade. 15 Na necropsia se observam alterações na parede vesical, como hiperemia da mucosa, exsudato catarral a fibrinonecrótico, espessamento da parede por fibrose, além de anemia, mau estado corporal em casos crônicos. Neoplasias na bexiga urinária. As neoplasias epiteliais são as mais comuns na bexiga urinária, e podem ser benignas ou malignas. Em cães ocorre carcinoma de bexiga urinária, sendo os tipos mais frequentes o carcinoma de células transicionais, de células escamosas e o adenocarcinoma. Os carcinomas fazem invasão local e podem fazer metástase, mais frequentemente para linfonodos regionais, pulmões e rins. Em bovinos ocorrem neoplasias na bexiga urinária relacionadas a ingestão crônica de Pteridium aquilinum subespécie arachnoideum, geralmente em animais a partir de 2 anos, doença denominada Hematúria enzoótica bovina. A ingestão desta planta produz efeitos radiomiméticos associados aos princípios ativos como o ptaquilosídeo e a quircetina, responsáveis por três formas clinicopatológicas distintas em bovinos; diátese hemorrágica, hematúria enzoótica e carcinomas do trato digestório superior, dependendo da dose e do período de ingestão. Na hematúria enzoótica os animais apresentam hematúria crônica, intermitente, anemia, emagrecimento progressivo, pelo desenvolvimento de neoplasias(s) vesicais, evoluindo para a morte. Alguns animais podem recuperar- se, clinicamente, se retirados do contato com a planta. As lesões observadas na mucosa vesical durante necropsia podem ser pequenas e histologicamente podem ser encontrados diversos tipos de lesões não neoplásicas e neoplasias, de natureza epitelial como papilomas, adenomas, adenocarcinomas, carcinoma de células de transição, carcinoma de células escamosas; mesenquimais como hemangioma, fibroma e hemangiossarcoma. BIBLIOGRAFIA MAXIE, M.G.; NEWMAN S.J. Urinary system. In: MAXIE, M.G. (ed) Jubb, Kennedy and Palmer’s Pathology of domestic animals. 5.ed. Edinburgh: Elsevier, 2007. v. 2, cap 4, p. 425-522. MEUTEN, D.J. Tumors in domestic animals. Ames: Iowa State Press, 2002. NEWMAN S.J. O sistema urinário. In: ZACHARY, J.F., McGAVIN, M.D. Bases da patologia em veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. Cap. 11, p. 592-662. RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L.; LEMOS, R.A.A., BORGES, J.R.J. Doenças de ruminantes e equinos. Santa Maria: Pallotti, 2007. 2 v. SERAKIDES, R.; SILVA, J.F. Sistema urinário. In: SANTOS, R.L. & ALESSI, A.C. Patologia Veterinária. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2016. SOBESTIANSKY,J., BARCELLOS, D. Doenças dos suínos. 2. ed. Goiânia: Cânone Editorial, 2012. TOKARNIA, C.H., BRITO, M.F., BARBOSA, J.M., PEIXOTO, P.V., DÖBEREINER, J., Plantas tóxicas do Brasil para animais de produção. 2. ed. Rio de Janeiro: Helianthus, 2012.
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