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1 GESTÃO DE PESSOAS NORMA CRISTINA CARDOSO BRANDÃO 2 Gestão de Pessoas na sua perspectiva histórica As organizações públicas e privadas vêm passando por grandes transformações nas últimas décadas. Essas mudanças são provocadas principalmente pela inadequação dos padrões tradicionais do modelo de recursos humanos no atendimento às necessidades e expectativas de instituições e pessoas. A sociedade demanda qualidade nos serviços, tanto da iniciativa privada quanto da área pública, consequências do dinamismo e da complexidade da sociedade globalizada. A preocupação com excelência não é mais privilégio da iniciativa privada. Os desafios dos governos é ofertar eficiência, transparência e rapidez na prestação dos serviços. O paradigma da reforma gerencial introduziu de maneira permanente os conceitos de eficiência, gestão por resultado e agilidade. Estas diretrizes produzem mudanças nas arquiteturas institucionais, mas também nos padrões comportamentais, culturais, políticos do ambiente interno das organizações públicas. Nessa direção, o modelo de Gestão de Pessoas evolui da Administração de Recursos Humanos, mecanicista, rumo à Gestão por Competências, em uma perspectiva sistêmica e estratégica. Mas de onde surge o conceito de Gestão de Pessoas? Somente a partir da década de 1980, com o evento da globalização, é que a expressão Gestão Estratégica de Pessoas surge como um novo conceito de pensar as pessoas como geração de valor para as organizações (DUTRA, 2002)1. Para entender esse conceito vamos percorrer um pouco da história da Administração de Recursos Humanos. O movimento da Administração Científica é representado por Frederick Taylor, nos Estados Unidos, e Henri Fayol, na França, surgido no início do séc. XX e motivado, principalmente, pela Revolução Industrial, fundamentava-se na racionalização do trabalho e na simplificação dos movimentos requeridos para a execução das tarefas e dos movimentos. 1 Dutra, Joel Souza. Gestão de Pessoa: modelo, processos, tendências e perspectivas. São Paulo: Atlas, 2002 3 Considerava-se o trabalhador como um homem econômico, o que simplificava bastante os trabalhos de gestão das pessoas. O trabalho devia ser altamente especializado e a estrutura de Recursos Humanos (RH) era de Departamento de Pessoal (DP) voltada para trâmites burocráticos. A imagem representativa desse período era do “capataz”. Pessoa responsável pela contratação e demissão dos funcionários, e também supervisionava, controlava e punia. Surgiram, na Inglaterra e, em outros países também, as primeiras leis regulamentadoras das atividades do trabalho, incluindo o estabelecimento de horários e dias bem como a regulação do trabalho infantil e as condições mínimas de segurança. Com o fim da Primeira Guerra surgiram as primeiras leis regulamentadoras das atividades do trabalho e o início da intervenção Estatal em favor do trabalhador. No cenário internacional, é criada a OIT (Organização Internacional do Trabalho), uma agência vinculada à ONU.2 No nosso país, a industrialização era rudimentar e a economia fortemente agrícola, as relações trabalhistas ainda “cheiravam” ao sistema escravocrata. A imposição coercitiva da disciplina constituía a mola mestra da gestão de uma força de trabalho constituída basicamente por homens, mulheres e crianças, com baixa qualificação. As manifestações de trabalhadores eram consideradas casos de polícia. 3 No Brasil, a evolução da Gestão de Pessoas está intimamente ligada ao contexto político. Somente a partir dos anos 1930, com o Estado Novo, o ícone associado às relações trabalhista é a criação da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, instaurando a necessidade das empresas de se reestruturarem para cumprimento das exigências legais trabalhistas. Neste processo, surge então a figura do “Chefe de Pessoal” e posiciona o RH, como Departamento de Pessoal ainda com ênfase nas rotinas trabalhistas e, sobretudo o papel disciplinador. O modelo priorizava a forma legal, disciplinadora e punitiva. Administravam-se papéis e não pessoas. 2 Conheça mais sobre a OIT em: http://www.oitbrasil.org.br/content/hist%C3%B3ria 3 Veja mais em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/PrimeiroMaio 4 E no serviço público, as mazelas do Estado patrimonialista, preservam a ausência de uma administração de Recursos Humanos, até a década de 1930, quando houve a criação do Conselho Federal do Serviço Público e do Departamento Administrativo do Serviço Público — DASP — que representou um grande passo para a profissionalização do serviço público brasileiro. Naquela época, a organização do serviço de pessoal foi padronizada, contando com as seguintes seções: administrativa, de controle, financeira e de assistência social. Também nesse período, a escola de relações humanas, cujo representante foi o psicólogo Elton Mayo, introduziu uma nova abordagem de ver o homem e suas relações no trabalho. Essa escola ressaltou a importância de fatores psicológicos e sociais da produção. É o advento do homem social. Essa noção de homem social trouxe a descoberta de que a organização não é determinada somente pelo seu lado formal — normas, procedimentos e rotinas. Nessa nova perspectiva, passou-se a valorizar temas como cultura, comunicação, motivação, liderança e grupos informais, isto é, inicia-se os primeiros passos do Departamento de Administração de Recursos Humanos, com funções de recrutamento, seleção, treinamento, remuneração, mas ainda localizados no DP. Será que dá para imaginar como era a gestão das pessoas nessa época? 4 Nesse período, conhecido como Estado Novo, de 1930 a 1945, há o fortalecimento da atividade industrial no país. É um período marcado pela gestão burocrática e legalista que perdura até hoje em muitas empresas brasileiras, onde a área de gestão de Recursos Humanos resume-se em atender as exigências legais. Na área pública, o período tem início no Estado intervencionista e que, após a Constituição de 1934, predominou o modelo clássico baseado em uma burocracia.5 4 Assista ao filme Fábrica de Loucuras disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=f3GJORq7vXg 5 Veja mais em: SECCHI, Leonardo. Modelos organizacionais e reformas da administração pública. In: Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 43, n. 2, p. 347-369, abr. 2009. <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-76122009000200004&lng=en&nrm=iso>. access on 30 Aug. 2015. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122009000200004.eja 5 Após a Segunda Guerra Mundial, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, contemplou artigos específicos sobre o Direito do Trabalho, esse movimento aponta para uma nova forma de organizar o trabalho, a força de trabalho e a gestão das pessoas. A Segunda República (1945 a 1964) caracteriza-se por um processo de redemocratização, um desenvolvimento econômico intensificado pela indústria de base, substituição de importações, instalação de empresas multinacionais que traziam práticas estruturadas de Gestão de Pessoas, as atenções são concentradas no “chão de fábrica”. Essas práticas, influenciadas pelo paradigma fordista/taylorista e mais adiante do modelo Toyota, marcam o início de uma gestão mais profissionalizada das pessoas. As organizações privadas criavam seus Departamentos de Relações Industriais para as negociações com sindicatos e governos, como também pela preocupação com a eficiência e o desempenho. Para a área de Recursos Humanos, este crescimento exigiu novas qualificações e aspiraçõesprofissionais. As competências requeridas não eram apenas de controle, mas de capacidade de gerenciar os problemas de pessoal. O período do regime militar, de 1964 a 1978, retomou o perfil de controle da classe trabalhadora. Os sindicatos, tutelados pelo Ministério do Trabalho, encontravam dificuldades nas negociações que eram muito difíceis e complexas. Ainda neste período, vivemos o chamado “milagre brasileiro”. Os sindicatos, impulsionados pelo crescimento econômico, exigiram mais modernização, maior valor à tecnologia, ao planejamento e a especialização dos profissionais. Um exemplo é a quantidade de regulamentações profissionais que foram aprovadas na época. Dentre elas, destacamos aqui a profissão do administrador, regulamentada em 1965, produzindo a criação de espaços especializados nas organizações, o Departamento de Pessoal passa a ser denominado Departamento de Recursos Humanos, em grande parte das empresas; preocupados também com a qualificação, treinamento e qualidade conferindo importância como aquela área capaz de oferecer racionalidade ao sistema organizacional em situações de crise. A década de 1980 foi marcada por grandes mudanças, nas relações entre empresas e trabalhadores, onde as competências são valorizadas e há preocupação com a gestão 6 estratégica de pessoas. Com o fim do “milagre brasileiro” e o surgimento da grande recessão que marcou esse período, com altos níveis de desemprego, outros fatores contribuíram também para a redução de postos de trabalhos, como os efeitos das inovações tecnológicas introduzindo nos processos produtivos alto grau de automação. Simultaneamente, no Brasil, a Constituição de 1988 traz, para a classe trabalhadora, conquistas importantes, como a jornada de 40 horas, o adicional de 1/3 de férias, entre outras. Percebia-se também a influência do Toyotistmo a partir das políticas de reengenharia, just in time, empowerment sob o conceito de descentralização e especialização flexível. A característica organizacional da época era de abordagem sistêmica, ou seja, de administrar a organização como um sistema. Surge a Administração de Recursos Humanos e os primeiros cargos de gerência responsáveis pela área de RH para coordenação do sistema de gestão que estava se estruturando. No setor público, no início da década de 1980, começou-se a pensar em reformular o regime jurídico e transformá-lo em um só, o que aconteceu em 11 de dezembro de 1990, com a aprovação da Lei n.º 8.112 sobre o Regime Jurídico Único. Na gestão pública, a administração de Recursos Humanos tem sido descrita com a função de planejar, coordenar e controlar a obtenção de mão de obra necessária para a organização pública. Nos anos 1990, o Departamento de Recursos Humanos passa a ter diversas denominações, entre elas a Gestão de Pessoas, Gestão de Talentos, entre outros. O foco da sua atuação é na gestão das competências e do conhecimento. O paradigma da informação exige mais flexibilidade nas estruturas e processos, é a era do Capital Intelectual e do Capital Humano, isto é, o maior ativo de valor e competitividade nas organizações são as pessoas. No setor público, as ideias de flexibilização e descentralização evidenciaram que a burocracia vigente não era capaz de atender às demandas do novo paradigma. Era 7 necessária uma grande mudança! Esse processo inicia-se com a reforma administrativa a partir do Decreto 200/67 que é considerado um marco para a administração gerencial, no Brasil, cuja ênfase é na qualidade e efetividade dos serviços públicos. Outra característica importante do modelo gerencial é a separação entre política e administração. Essas mudanças trazem consequências diretas na gestão de pessoas no setor público. Dentre as quais a inclusão de ações de Gestão de Pessoas alinhadas ao planejamento estratégico das organizações públicas, sejam elas da administração direta ou indireta, como uma preocupação qualitativa na gestão do desempenho humano no trabalho, institucionalizando o sistema de mérito, dentro dos planos de carreira do funcionalismo público. Este paradigma de flexibilidade associada à organização da sociedade em rede, com tecnologias cada vez mais avançadas, sugere, nas organizações, a realização de parcerias públicas e privadas, e inovações gerenciais, como os programas de qualidade, o GesPública6, utilizando a lógica empreendedora. O modelo de gestão estratégica caracteriza-se por novos valores, consolida o papel do RH comprometido não apenas com seus processos internos, mas essencialmente com os resultados que é capaz de apresentar. Assim, as pessoas não são mais vistas como recursos, mas como colaboradores do conhecimento. A Gestão de Pessoas passa a ser definida como a função gerencial, com ênfase na descentralização, e firme nas suas responsabilidades, isto é: Todo Gestor é um Gestor de Pessoas. Este modelo visa ainda à cooperação das pessoas através de um conjunto de políticas e práticas que compartilhem responsabilidades na direção da excelência, pessoal, profissional e organizacional, em uma troca contínua de competências. Nesta direção, o decreto 5707/06, que “Institui a Política e as Diretrizes para o Desenvolvimento de Pessoal da Administração Pública Federal” destaca, entre outros, a gestão por competências no setor público. 6 http://www.gestaopublica.gov.br/ 8 A prática da gestão estratégica de pessoas e as especificidades do setor público Bergue (2014, p. 25) afirma que: “Uma definição possível para Gestão de Pessoas no setor público é: a articulação de esforços de gestão orientados para o suprimento, a manutenção e o desenvolvimento de pessoas observados os valores culturais — de natureza social, política, jurídica e econômica — que moldam as condições do contexto em que se inserem as organizações públicas.” A gestão estratégica de pessoas pode ser definida, segundo Bergue (2014, p. 25), a partir dos seguintes elementos: • Os fenômenos organizacionais são analisados a partir de uma perspectiva sistêmica, contextualizada; • A participação qualificada dos profissionais de Recursos Humanos nas decisões da estratégia; • Pessoas pensadas em termos estratégicos (e não como insumos, recursos); • A função gestão de pessoas próxima à alta administração; • Os agentes públicos no centro da organização e da sociedade; • A gestão de pessoas como compromisso de todos os gestores; • O reconhecimento das pessoas como elemento fundamental para a produção de valor público e sustentabilidade da organização; • Políticas de gestão de pessoas em perspectiva de longo prazo. “Gestão estratégica implica que as pessoas sejam um valor sempre posto entre as categorias centrais de decisão e considerada política de Estado.” (BERGUE, 2014, p. 26) As pessoas, como ativo gerador de valor, coloca a Gestão de Pessoas como compromisso de todos os gestores. Desloca a crença de que Gestão de Pessoas é “problema” do RH. Para que a Gestão de Pessoas se posicione como fator determinante de caráter estratégico, e esteja entre as prioridades, na agenda dos dirigentes, é preciso que: 9 • O dirigente da área de RH participe das decisões estratégicas; • As questões que envolvem macroprocessos, como admissão, lotação, capacitação, desempenho, saúde do trabalhador, entre outros, sejam de interesse efetivo da alta administração (e não tratados como processos operacionais de menor importância e de exclusiva responsabilidade do RH); • O tempo e o envolvimento dedicados ao tratamento das temáticas de gestão de pessoas indiquem a relevância das mesmas na organização. Estas características se reproduzem também na escala organizacional. Os dirigentes das áreas, unidades e chefiasdevem compartilhar dos mesmos conceitos, terminologias e ações que refletem a importância da Gestão das Pessoas no ambiente das subculturas e áreas da organização. A percepção desta área como atividade-meio, de menor impacto sobre a missão institucional, é um equivoco bastante difícil de enfrentar no ambiente público e que situa a área de Gestão de Pessoas distante das áreas finalísticas. O excesso de tecnicismo da área pode ser determinante para uma redução funcionalista da posição estratégica. O importante, nesta discussão, é esclarecer que essencialmente a função de Gestão de Pessoas se encarrega da mobilização das pessoas para a produção de valor. E quando se fala da função, não se limita à ação em uma área especifica. Não é a área de Gestão de Pessoas, mas os profissionais da Gestão que atuam como potencializadores da criação de valor (BERGUE, 2014 p. 35). Pessoas como valor estratégico Uma visão estratégica da área de Recursos Humanos busca desenvolver o capital humano com a mentalidade, a cultura e as competências necessárias para executar a Estratégia Empresarial. É uma visão moderna de Gestão de Pessoas alterando profundamente as maneiras tradicionais das atividades exercidas pela área de Recursos Humanos. Cabe à administração de Recursos Humanos garantir que as pessoas sejam também fonte de vantagem competitiva. 10 A estratégia da organização tem início com uma discussão ampla sobre seu próprio papel nos próximos anos, diante das necessidades da sociedade, até com o levantamento da missão e dos objetivos, das macroatividades e das metas mais gerais, ou seja, o planejamento estratégico geral. A gestão estratégica de pessoas inicia com o próprio envolvimento na formulação da estratégia. A área de Gestão de Pessoas constitui-se importante parceiro das áreas de planejamento. Pensar na administração estratégica, no setor público, implica em estabelecer conexões de valor entre o interesse público e a dimensão política inerente à área pública. A estratégia é definida no campo da gestão sempre vinculada à obtenção de vantagem competitiva. Na dimensão pública, esta perspectiva “não se processa em bases técnicas, mas essencialmente simbólicas” (BERGUE, 2014, p. 41). Outra definição proposta por Mintzberg é “Estratégia é uma força mediadora entre a organização e o seu meio envolvente: um padrão no processo de tomada de decisões organizacionais para fazer face ao meio envolvente”. Essa noção converge com o senso de legitimidade das políticas públicas, resinificando o conceito de competitividade na administração pública. Isto é, competitividade está relacionada à sustentabilidade, à sobrevivência das organizações em ambientes cada vez mais competitivos e complexos. Bergue (2014 p. 49) define o planejamento estratégico como “aquele desenvolvido segundo horizonte de longo prazo, contendo macro-objetivos organizacionais, que captura os reflexos mútuos entre as diferentes áreas advindos de cenários futuros projetados e desejados na administração pública”. Assim, é um projeto politico estruturado tecnicamente. Na dimensão Pessoas, produzir um planejamento que destaque a geração de valor contemplando as pessoas como elementos centrais é fundamental. O BSC — Balance Scorecard — é uma das tecnologias gerenciais bastante utilizadas na área pública. Este modelo foi desenvolvido por Robert S. Kaplan e David P. Norton, professores da Harvard 11 Business School, no início da década de 1990, e um dos pontos de maior adoção do BSC é a mensuração do grau de execução da estratégia e de envolvimento das pessoas, equipes e áreas com as diretrizes gerais da organização. O pensamento sistêmico contido, na lógica do BSC, contempla a noção de interdependência e a relação equilibrada que é estabelecida entre as diferentes perspectivas de análise e os objetivos estratégicos. O Balanced Scorecard traduz Missão e os Objetivos Estratégicos em indicadores de desempenho organizados segundo quatro perspectivas diferentes: financeira, do cliente, dos processos internos e do aprendizado e crescimento. O scorecard cria um mapa estratégico, uma linguagem, para comunicar a Missão e a Estratégia, e utiliza indicadores para informar aos funcionários sobre os vetores do sucesso atual e futuro. Fonte: Kaplan e Norton: A estratégia em ação (1997) Segundo Gehlamn (2006), sua pesquisa adaptou as dimensões originais ao contexto público. A dimensão financeira, nas organizações públicas, considera o orçamento e não o lucro. A boa execução orçamentária e a ampliação da captação de recursos são fatores essenciais para tornar uma organização pública sustentável e capaz de cumprir a sua missão. Ele sugere ainda que esta perspectiva seja colocada na base do BSC, considerando que o orçamento é um fator limitador das ações governamentais e que sem uma boa 12 execução orçamentária, não é possível sustentar as outras dimensões de processos internos e pessoas. Na perspectiva aprendizado e crescimento, no setor público, estão contemplados os funcionários (pessoas) e o aperfeiçoamento da gestão interna através da utilização da Tecnologia da Informação e da melhoria das práticas gerenciais, dentro da ação de modernização da gestão. “O desempenho organizacional depende da capacitação, motivação e do bem-estar da força de trabalho. Por isso, para que a gestão pública esteja orientada para resultados, é preciso realizar um amplo programa de sensibilização, buscando assegurar o comprometimento das pessoas, capacitar a força de trabalho para as novas competências demandadas e promover ações de valorização do servidor.” (GHELMAN, 2006, p. 67) A perspectiva processo interno, no setor público, está relacionada à eficiência dos processos de trabalho. Kaplan e Norton destacam que, nesta perspectiva, é necessário identificar os processos chaves da organização e o processo de inovação. A perspectiva cliente, no setor público, deve seguir o princípio da impessoalidade. “Fidelizar” clientes, no contexto público, é um conceito que não se aplica da mesma forma que na inciativa privada. Na administração pública, existem dois tipos de clientes: o cliente direto que consome o serviço e um cliente indireto que também é beneficiário deste serviço (cidadão/ sociedade). Um órgão que possui um quadro de pessoal capacitado e motivado busca permanentemente melhorar a sua gestão interna, tem processos eficientes e clientes satisfeitos; tem todas as condições de atender às necessidades da sociedade brasileira. A Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal O Decreto 5.707/2006, da Presidência da República, instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal da administração pública federal direta, autárquica e 13 fundacional. Sendo assim, este regulamento tem aplicação nas três esferas de poder em âmbito federal: Executivo, Legislativo e Judiciário. A grande inovação trazida por esta política, para além da normatização de procedimentos, foi a incorporação do conceito de competência no desenvolvimento de pessoas na administração pública federal. A instituição desta política foi uma das ações empreendidas no governo Lula para modernizar a administração pública brasileira e resultou de amplo esforço empreendido desde 1996 para normatizar e incentivar a capacitação de servidores, como por exemplo o Decreto 2794/98 que havia revogado o Decreto 2029/96. Os objetivos desta Política são: 1. melhoria da eficiência, eficácia e qualidade dos serviços públicos prestados ao cidadão; 2. desenvolvimento permanente do servidor público; 3. adequação das competências requeridas dos servidores aos objetivos das instituições, tendo como referência o plano plurianual; 4. divulgação e gerenciamento das ações de capacitação; 5. racionalização e efetividadedos gastos com capacitação. Esta política descentraliza a elaboração e a execução do processo de desenvolvimento de pessoas e põe a gestão por competências como um modelo que deve ser desenvolvido nos órgãos públicos. As estratégias de implementação da Política são as seguintes: • Gestão por competência como referência da política; • Priorização de capacitação das áreas de RH e de cargos de direção; • Reconhecimento do papel das escolas de governo; • Criação do Comitê Gestor da Política que acompanha e orienta as ações de capacitação; • Incentivo às capacitações promovidas pelas próprias instituições e ampla divulgação das oportunidades. 14 Os órgãos públicos devem utilizar os seguintes instrumentos na execução da Política Nacional de Desenvolvimento: • Plano Anual de Capacitação – documento elaborado pelos órgãos e entidades para orientação interna, que compreenderá as definições dos temas, as metodologias de capacitação a serem implementadas, bem como as ações de capacitação voltadas à habilitação de seus servidores; • Relatório de execução do plano anual de capacitação – documento elaborado pelos órgãos e entidades contendo informações sobre as ações de capacitação realizadas no ano anterior, e a análise dos resultados alcançados; • Sistema de Gestão por Competência – ferramenta gerencial que permite planejar, monitorar e avaliar ações de capacitação a partir da identificação dos conhecimentos, habilidades e das atitudes necessárias ao desempenho das funções dos servidores. A promoção da disseminação da Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal entre os dirigentes dos órgãos e das entidades, os titulares das unidades de Recursos Humanos, os responsáveis pela capacitação, os servidores públicos federais e suas entidades representativas é de responsabilidade do Comitê Gestor da Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal, que tem a seguinte composição: 1. Secretaria de Recursos Humanos, responsável pela coordenação; 2. Secretaria de Gestão; 3. ENAP — Escola Nacional de Administração Pública. As competências ou atribuições do Comitê Gestor são as seguintes: • avaliar os relatórios anuais dos órgãos e entidades, verificando se foram observadas as diretrizes da Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal; • orientar os órgãos e as entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional na definição sobre alocação de recursos para fins de capacitação; • promover a disseminação da Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal entre os dirigentes dos órgãos e das entidades, os titulares das unidades de Recursos Humanos, os responsáveis pela capacitação, os servidores públicos federais e suas entidades representativas; • zelar pela observância do disposto no Decreto nº 5.707/2006. 15 Diretrizes da Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal As diretrizes desta política estão estabelecidas logo em seu artigo 3o e são as seguintes: I- incentivar e apoiar o servidor público em suas iniciativas de capacitação voltadas para o desenvolvimento das competências institucionais e individuais; II- assegurar o acesso dos servidores a eventos de capacitação interna ou externamente ao seu local de trabalho; III- promover a capacitação gerencial do servidor e sua qualificação para o exercício de atividades de direção e assessoramento; IV- incentivar e apoiar as iniciativas de capacitação promovidas pelas próprias instituições, mediante o aproveitamento de habilidades e conhecimentos de servidores de seu próprio quadro de pessoal; V- estimular a participação do servidor em ações de educação continuada, entendida como a oferta regular de cursos para o aprimoramento profissional, ao longo de sua vida funcional; VI- incentivar a inclusão das atividades de capacitação como requisito para a promoção funcional do servidor nas carreiras da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, e assegurar a ele a participação nessas atividades; VII- considerar o resultado das ações de capacitação e a mensuração do desempenho do servidor complementares entre si; VIII- oferecer oportunidades de requalificação aos servidores redistribuídos; IX- oferecer e garantir cursos introdutórios ou de formação, respeitadas as normas específicas aplicáveis a cada carreira ou cargo, aos servidores que ingressarem no setor público, inclusive àqueles sem vínculo efetivo com a administração pública; X- avaliar permanentemente os resultados das ações de capacitação; XI- elaborar o plano anual de capacitação da instituição, compreendendo as definições dos temas e as metodologias de capacitação a serem implementadas; XII- promover entre os servidores ampla divulgação das oportunidades de capacitação; e XIII- priorizar, no caso de eventos externos de aprendizagem, os cursos ofertados pelas escolas de governo, favorecendo a articulação entre elas e visando à construção de sistema de escolas de governo da União, a ser coordenado pela Escola Nacional de Administração Pública — ENAP. 16 Escolas de Governo As escolas de governo contribuirão para a identificação das necessidades de capacitação dos órgãos e das entidades, que deverão ser consideradas na programação de suas atividades. São consideradas escolas de governo as instituições destinadas, precipuamente, à formação e ao desenvolvimento de servidores públicos, incluídas na estrutura da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Treinamento regularmente instituído Considera-se treinamento regularmente instituído qualquer ação de capacitação relativa aos eventos de capacitação. Segundo o artigo 9, do Decreto 5.707, somente serão autorizados os afastamentos para treinamento regularmente instituído quando o horário do evento de capacitação inviabilizar o cumprimento da jornada semanal de trabalho do servidor, observados os seguintes prazos: I - até vinte e quatro meses, para mestrado; II - até quarenta e oito meses, para doutorado; III - até doze meses, para pós-doutorado ou especialização; e IV - até seis meses, para estágio. O decreto 5.707 regulamenta a Licença para Capacitação em seu art. 10. Vejamos na íntegra: Art. 10. Após cada quinquênio de efetivo exercício, o servidor poderá solicitar ao dirigente máximo do órgão ou da entidade onde se encontrar em exercício, licença remunerada, por até três meses, para participar de ação de capacitação. §1º A concessão da licença de que trata o caput fica condicionada ao planejamento interno da unidade organizacional, à oportunidade do afastamento e à relevância do curso para a instituição. 17 §2º A licença para capacitação poderá ser parcelada, não podendo a menor parcela ser inferior a trinta dias. §3º O órgão ou a entidade poderá custear a inscrição do servidor em ações de capacitação durante a licença a que se refere o caput deste artigo. §4º A licença para capacitação poderá ser utilizada integralmente para a elaboração de dissertação de mestrado ou tese de doutorado, cujo objeto seja compatível com o plano anual de capacitação da instituição. Reserva de recursos Segundo o art. 11, do Decreto 5.707, do total de recursos orçamentários aprovados e destinados à capacitação, os órgãos e as entidades devem reservar o percentual fixado a cada biênio pelo Comitê Gestor para atendimento aos públicos-alvo e a conteúdos prioritários, ficando o restante para atendimento das necessidades específicas. A carreira na Administração Pública Federal A carreira é o agrupamento de classes funcionais escalonadas em relação ao grau de responsabilidade e do nível de complexidade das atribuições, sendo que estas funções compõem o cargo único ou macrocargo e estão escalonadas em classes, com grau de complexidade e responsabilidade diferenciada e com requisitosde escolaridades especificados entre as classes funcionais. A Progressão funcional e ́a movimentação do servidor de um padrão para o próximo padrão dentro de uma mesma classe. A Promoção e ́a elevação do servidor de uma classe para o nível inicial de outra classe, imediatamente superior dentro da mesma carreira, Observe-se que o conceito de carreira, na administração pública, não implica em mudança de cargo. Desde a constituição de 1988 o desenvolvimento do indivíduo, dentro do quadro do serviço público, esta ́limitado às progressões e promoções específicas previstas para um 18 cargo ou função. Neste sentido, o individuo não poderá mudar de cargo, a não ser que preste novo concurso. Assim, a ascensão funcional, entendida como a progressão funcional entre cargos de carreiras distintas é expressamente vedada pela legislação, sendo considerada inconstitucional. O ingresso aos quadros efetivos da administração pública direta e indireta, desde 1988, se dá apenas através de concurso público. Diz o art. 10o, da Lei 8.112/90: “A nomeação para cargo de carreira ou cargo isolado de provimento efetivo depende de prévia habilitação em concurso público de provas ou de provas e títulos, obedecidos a ordem de classificação e o prazo de sua validade.” Os critérios para promoção ou progressão para a maior parte dos cargos do Poder Executivo Federal são: o tempo de serviço (em geral a permanência mínima de 12 ou 18 meses em cada padrão) e resultado satisfatório em avaliação de desempenho. Não há homogeneidade no número de classes e padrões entre as diversas carreiras. Em geral, a carreira tem 15 níveis ou padrões, mas é possível encontrar carreiras com três níveis e outras com até 20 padrões ou classes. Saliente-se ainda que para a maior parte das carreiras não há previsão legal de limite de vagas para a promoção, o que acarreta em que todos, uma vez satisfeitos os requisitos legais, podem alcançar o topo da carreira, com a maior remuneração prevista para aquele cargo. Muitas carreiras estão estruturadas com Gratificações de Qualificação (carreiras de nível médio) ou Retribuição por Titulação (carreiras de nível superior). O desenvolvimento contínuo de competências, neste sentido, possibilita auferir ganhos com este acréscimo de competências. 19 A implementação eficiente dos mecanismos da Politica Nacional de Desenvolvimento de Pessoal possibilita desenvolver a gestão de carreiras nas organizações públicas com foco em competências. Modelo de competências no setor público Os modelos de Gestão de Pessoas por competências impactam diretamente os principais subsistemas e processos de Gestão de Recursos Humanos, como o planejamento da força de trabalho, a avaliação de desempenho, a educação corporativa, a identificação e a alocação de talentos, a orientação ao trabalhador visando a sua ascensão profissional, a melhoria da remuneração e a obtenção de benefícios, bem como a excelência e a qualidade do trabalho. Ao introduzir o conceito de gestão por competências, este marco legal (Decreto nº 5.707, de 2006) impõe um desafio para as organizações públicas que é o estabelecimento de um novo referencial teórico e metodológico para a gestão do desenvolvimento profissional. A abordagem de competências pressupõe uma adequação das competências requeridas dos objetivos das instituições e os presentes nos servidores, de forma que haja um alinhamento e consequentemente um desenvolvimento continuo do servidor, além da racionalização e efetividade dos gastos com capacitação. O conceito de competência corresponde às contribuições efetivas do servidor para o alcance de resultados institucionais cada vez melhores, utilizando seus conhecimentos (saberes), habilidades (saber fazer) e atitudes (querer fazer), em seu contexto de trabalho. Ou seja, as competências são resultado da aplicação de um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, demonstrados por meio de comportamentos em um determinado contexto de trabalho, expressando ações concretas requeridas do servidor. Competência é: capacidade de entregar valor! O conceito de competência surge na literatura francesa, por volta dos anos 1990, e tem Philippe Zarifian como principal autor sobre o tema. Competência pode ser definida por: 20 “Capacidade de uma pessoa assumir iniciativas, ir além das atividades prescritas, ser capaz de compreender e dominar novas situações de trabalho, ser responsável e ser reconhecido.” (ZARIFIAN) A competência pode ser compreendida como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes utilizadas no desempenho de uma pessoa em determinado contexto. É expressa em comportamentos decorrentes da mobilização dos recursos frutos da aprendizagem, resultantes de combinações sinérgicas destes três elementos (Conhecimentos, Habilidades e Atitudes — CHA) em um contexto organizacional e que geram valor às pessoas e organizações (FLEURY, 2001). 7 Extraído de: http://www.evolucaohumana.com.br/blog/wp- content/uploads/2010/09/imagem23.bmp • Conhecimentos: refere-se às necessidades que um determinado cargo/função possui de pré-requisitos acadêmicos, tais como formação acadêmica, conhecimentos técnicos, especialidades. • Habilidades: estão relacionadas com a prática, com a experiência, com o domínio do conhecimento e suas aplicações. 7 FLEURY, Maria Tereza Leme; FLEURY, Afonso. Construindo o conceito de competência. In: Revista de administração contemporânea, v. 5, n. SPE, p. 183-196, 2001. 21 • Atitudes: são os comportamentos humanos expressos que tornam possível identificar o perfil comportamental necessário para cada cargo/função. São valores, emoções, sentimentos. As competências podem ser classificadas em: humanas ou profissionais e organizacionais. As competências organizacionais podem ser definidas como as capacidades da organização que a torna eficaz, possibilitando a execução dos objetivos estratégicos, que suportam uma vantagem competitiva e sustentável em longo prazo. As competências organizacionais, identificadas a partir dos fundamentos estratégicos (Missão, Visão, Valores) não aparecem unicamente no nível das pessoas. Existe também o que chamamos de competências coletivas, presentes nas equipes de trabalho ou unidades produtivas. O argumento é que cada equipe de trabalho se manifesta com uma competência coletiva, mais do que o somatório das competências individuais de seus membros. Isto porque a interação entre os membros de uma equipe, a aprendizagem produzida nesta confluência de saberes individuais, gera um produto diferente e que caracteriza a competência coletiva. Por exemplo: uma equipe cirúrgica de um hospital é composta de vários membros, com especialidades diferentes que oferecem contribuições distintas de acordo com as suas competências individuais (anestesista, cirurgião, enfermeiro, instrumentador, auxiliar de enfermagem). O resultado destas interações sociais pode dar origem a uma competência coletiva: “salvar vidas por meio de intervenções cirúrgicas”. Esta competência constitui uma propriedade da equipe e não isoladamente de seus membros, situando-se neste sentido, no nível de uma equipe ou unidade da organização. Percebemos agora que a dinâmica estabelecida entre as diferentes equipes ou áreas organizacionais, associadas aos sistemas físicos e estruturais, dão sustentação às competências organizacionais, que constituem os atributos de uma organização e não somente das equipes ou colaboradores isoladamente. Tornou-se um grande desafio compreender e gerenciar os processos pelos quais a expressão das competências se propaga em diversos níveis. 22 As competências individuais (humanas ou profissionais) representama expectativa de desempenho dos colaboradores em seu trabalho. Existem três níveis básicos de competências que representam as expectativas de desempenho relacionado a cada nível organizacional: • Competências essenciais ou organizacionais — a partir da formulação da estratégia; • Competências desdobradas nas equipes ou unidades de negócios, as competências coletivas; • Competências individuais: técnicas e comportamentais, do negócio e sociais. Quanto ao tipo as competências são classificadas em: • Essenciais: são as competências básicas e fundamentais para o sucesso da organização — core competences. O que a organização faz de melhor. • Funcionais: são aquelas que cada área ou departamento precisa construir e que são próprias da atividade especializada. • Gestão: competências relacionadas com a gestão de recursos: financeiros, comerciais, produtivos etc. • Organizacionais: correspondem à cultura, como a organização se estrutura para realizar o trabalho. • Individuais: são as competências que cada indivíduo aprende e desenvolve nas suas atividades profissionais. Quanto à natureza, as competências podem ser: • Técnicas - relacionadas às posições operacionais ou de assessoria que não exercem função de liderança; • Gerenciais – necessárias aos ocupantes de cargos de chefia e direção. Quanto à abrangência, as competências se dividem em: • Gerais: são tipos transversais comuns a todos os cargos; • Específicas: são tipos definidos de acordo com cada cargo e processos de unidades funcionais. 23 Outro conceito importante é o de espaço ocupacional. “A pessoa, na medida em que assume responsabilidades e atribuições mais complexas, não precisa ser promovida para agregar mais valor” (DUTRA, 2001). Isto é, o aumento do nível de complexidade e das responsabilidades não está diretamente associado à alteração do seu cargo ou posição na empresa. É o que o autor chama de ampliação do espaço ocupacional, que ocorre segundo duas variáveis: as necessidades da empresa e a competência da pessoa para atendê-la. Resumindo: entrega, complexidade e espaço ocupacional são três conceitos que permitem compreender a realidade organizacional sob a ótica da gestão por competências possibilitando assim, analisar e discutir as práticas e as políticas de Recursos Humanos mais adequados ao trabalhador do conhecimento. • Compreendemos até agora que as competências individuais dos membros de uma equipe influenciam as competências coletivas da equipe ao mesmo tempo em que são requeridas por ela. Neste mesmo modelo, as competências das equipes afetam as competências organizacionais e vice-versa. E as competências, em seus diferentes níveis, são influenciadas pelo contexto (mapa estratégico). • A gestão por competências constitui-se de um modelo que utiliza o conceito de competências para orientar os diversos processos organizacionais e em excelência, a gestão de pessoas. Seu propósito é identificar, desenvolver e mobilizar as competências necessárias para a realização da visão e dos objetivos organizacionais nos diferentes níveis organizacionais. 24 Fonte da imagem: http://www.edgarstoever.com.br/p/gestao-por-competencias.html Referência: Bandarão, Hugo Pena. Mapeamento de competências: métodos, técnicas e aplicações em gestão de pessoas. São Paulo: Atlas, 2012 (p. 9). A estratégia é condição para o mapeamento de competência e sustenta o modelo. Um mapeamento de competências serve para identificar o que chamamos de “gap” de competências, isto é, a distância entre as competências necessárias para atender aos objetivos e metas e as competências existentes, atuais na organização. No setor público, a implantação do modelo de gestão por competências enfrenta alguns desafios: • Limitações tecnológicas e estruturais; • Processo seletivo (concurso público) avalia parcialmente as dimensões do CHA; • Cultura da gestão em muitos casos voltada para os cargos e não para as entregas • Captação de novos talentos limitada ao concurso público e influência política nos cargos comissionados; • Restrições legais para os desligamentos. Experiências exitosas: • Atualmente é possível realizar concursos com áreas específicas de atuação; • Avaliação comportamental dos aprovados para alocação; • Ações de desenvolvimento profissional — educação continuada e não apenas treinamentos pontuais; • Decreto 7.133/2010 — avaliação de desempenho e gratificação de desempenho. Gestão por desempenho e gestão por resultados A gestão por desempenho é uma ferramenta que integra os diversos níveis organizacionais e que promove a melhoria da performance da organização, das equipes de trabalho e dos indivíduos (BRANDÃO; GUIMARÃES, 2001, p. 12). Neste sentido, gerir desempenho implica desdobrar objetivos e metas desde o nível macro- organizacional até o nível individual. 25 A gestão para resultados, por outro lado, é um marco conceitual que se apoia na definição de uma estratégia na qual se definam os resultados esperados por um organismo público; que se utiliza de um conjunto de ferramentas que possibilite a melhoria da eficiência, eficácia e efetividade; que se utiliza de mecanismos de monitoramento da ação estatal; e que promova o melhoramento contínuo dos serviços prestados aos cidadãos. Para atingir seus objetivos a gestão por resultados se articula ao redor de três eixos principais: 1) aprimorar o desempenho do governo em seu processo de criação de valor e de produção de resultados; 2) otimizar o sistema de prestação de contas perante a sociedade e a transparência de sua atuação; 3) implantar sistemas de condução e gestão (com assunção de responsabilidade e discricionariedade por parte dos gerentes) que promovam a otimização contínua do desempenho dos servidores públicos como ferramenta-chave ao serviço da consecução dos eixos antes mencionados. O GesPública, o modelo de gestão da administração pública, sugere um modelo de avaliação de resultados e desempenho. Este modelo está publicado no guia referencial para medição de desempenho e manual de construção de indicadores do GesPública. Trata-se do metamodelo de avaliação de desempenho através da cadeia de valor inserido nas ferramentas do GesPública. Segundo Bruno Palvarini, a medição do desempenho, em organizações públicas, deve ser realizado em duas dimensões: esforço e resultado; desdobradas em outras dimensões do desempenho. As subdimensões de esforço são economicidade, execução e excelência; e as subdimensões de resultado são eficiência, eficácia e efetividade. (PALVARINI, 2010). Palvarini traz a definição em seu artigo das seis categorias básicas de desempenho, a saber: 26 • Efetividade: são os impactos gerados pelos produtos/serviços, processos ou projetos. A efetividade está vinculada ao grau de satisfação ou ainda ao valor agregado. • Eficácia: é a quantidade e a qualidade de produtos e serviços entregues ao usuário (beneficiário direto dos produtos e serviços da organização). • Eficiência: é a relação entre os produtos/serviços gerados (outputs) com os insumos empregados, usualmente sob a forma de custos ou produtividade. • Execução: refere-se à realização dos processos, projetos e planos de ação conforme estabelecidos. • Excelência: é a conformidade a critérios e padrões de qualidade/excelência para a realização dos processos, atividades e projetos na busca da melhor execução e economicidade; sendo um elemento transversal. • Economicidade: está alinhada ao conceito de obtenção e uso de recursos com o menor ônus possível, dentro dos requisitos e da quantidade exigidas pelo input, gerindo adequadamente os recursos financeiros e físicos. A seguir, a esquematização da cadeia de valor e dos 6 Es do Desempenho:27 Avaliação de desempenho e meritocracia na administração pública A avaliação do desempenho constitui um poderoso meio de retroinformação. Seja para os gestores, seja para os colaboradores, proporcionando-lhes diretrizes para seu desenvolvimento futuro. O processo de Avaliação do Desempenho busca atender a alguns objetivos básicos. São eles: 1. Contribuir para a elevação contínua de resultados globais através da negociação, verificação e ajuste dos desempenhos frente às metas estabelecidas consensualmente para a empresa, equipes e colaboradores. 2. Proporcionar feedback aos colaboradores e aos gestores a respeito de seu desempenho e oportunidades futuras, gerando um processo de comunicação de mão dupla. 3. Monitorar desempenho através de um sistema formal de avaliação, utilizando instrumentos que registrem o impacto do gerenciamento dos recursos nos resultados alcançados. 4. Subsidiar desenvolvimento pessoal e profissional dos colaboradores (necessidades de treinamento e oportunidades de carreira). A administração adequada da sistemática traz amplos benefícios para todos os envolvidos no processo. 1. Benefícios para a Organização • Cria um sistema de recompensa que propicia o desenvolvimento pessoal e profissional de seus colaboradores, estimulando a melhoria de relacionamento interpessoal e o aumento da produtividade. • Propicia o exercício de uma liderança mais participativa e facilita o feedback mútuo. 2. Benefícios para os Gestores • Permite a avaliação do desempenho dos colaboradores através de um instrumento capaz de minimizar o impacto da subjetividade no processo de avaliação; 28 • Propicia a oportunidade aos colaboradores de obter informações a respeito do seu desempenho, assim como permite estabelecer conjuntamente planos de ação que os ajudem a atingir os resultados desejados. 3. Benefícios para os servidores • Ter a oportunidade de negociar os objetivos que deverão alcançar, bem como de traçar, conjuntamente com sua gerência, as ações necessárias para o sucesso de seu desempenho. • Auxiliar no processo de autoavaliação, estabelecendo diretrizes para seu próprio desenvolvimento. Deste modo, cada colaborador aprimora a capacidade de gerenciar seu próprio desempenho e sua carreira. • Permite que o colaborador tenha o reconhecimento pelo trabalho realizado. A avaliação de desempenho é uma ferramenta estratégica da Gestão de Pessoas que está em pleno processo de implantação na esfera pública federal. O Decreto Presidencial 7133/2010 regulamenta a avaliação de desempenho no âmbito do poder executivo federal. Em síntese, o decreto traz diretrizes que devem ser seguidas por todos os órgãos do executivo federal. A maioria das carreiras da administração pública federal prevê um adicional de gratificação. Este adicional está vinculado aos resultados apresentados pelos diversos órgãos públicos. Importante ressaltar que o Decreto se refere à avaliação de desempenho nas dimensões individual e institucional. Há aqui uma clara indução para que os resultados individuais sejam reflexos dos objetivos organizacionais. Este princípio está vinculado às diretrizes da administração pública gerencial, voltada para resultados efetivos para o cidadão contribuinte. Pois bem, embora esta gratificação tenha sido prevista na criação das carreiras, a regulamentação da avaliação de desempenho, para gerar os efeitos totais, estava pendente. Para fazer jus a esta gratificação de desempenho o servidor precisará cumprir metas pré- estabelecidas e pactuadas entre ele e a sua chefia imediata. O cumprimento dessas metas 29 garantirá o recebimento de 20% do adicional de gratificação, que é a parte correspondente ao desempenho individual. A outra parte, 80%, está relacionada ao cumprimento por parte do órgão onde o servidor está lotado das metas estipuladas pelo Ministério a que este órgão está ligado. Desta forma, se o órgão em que o servidor trabalha cumprir suas metas e o servidor, de forma zelosa e exemplar, também cumprir suas metas no período de um ano, este servidor irá receber um adicional de gratificação de 100 pontos. Isto é, ele receberá o valor integral da gratificação prevista para a carreira a que o seu cargo está vinculado. O art. 2º, do Decreto 7.133/2010, traz importantes definições de termos usados no Decreto: I - avaliação de desempenho: monitoramento sistemático e contínuo da atuação individual do servidor e institucional dos órgãos e das entidades de lotação dos servidores integrantes dos planos de cargos e de carreiras abrangidos pelo art. 1º, tendo como referência as metas globais e intermediárias destas unidades; II - unidade de avaliação: o órgão ou a entidade como um todo, um subconjunto de unidades administrativas de um órgão ou entidade que execute atividades de mesma natureza, ou uma unidade isolada, conforme definido no ato de que trata o caput do art. 7º, a partir de critérios geográficos, de hierarquia organizacional ou de natureza de atividade; III - equipe de trabalho: conjunto de servidores que faça jus a uma das gratificações de desempenho de que trata o art. 1º, em exercício na mesma unidade de avaliação; 30 IV - ciclo de avaliação: período de 12 meses considerado para realização da avaliação de desempenho individual e institucional, com vistas a aferir o desempenho dos servidores alcançados pelo art. 1º e do órgão ou da entidade em que se encontre em exercício; e V - plano de trabalho: documento em que serão registrados os dados referentes a cada etapa do ciclo de avaliação, observado o disposto no art. 6º. O cumprimento das metas é verificado através da avaliação de desempenho individual. Ressalte-se que além das metas estipuladas o servidor também precisa auferir bom aproveitamento nos seguintes requisitos mínimos obrigatórios: I - produtividade no trabalho, com base em parâmetros previamente estabelecidos de qualidade e produtividade; II - conhecimento de métodos e técnicas necessários para o desenvolvimento das atividades referentes ao cargo efetivo na unidade de exercício; III - trabalho em equipe; IV - comprometimento com o trabalho; e V - cumprimento das normas de procedimentos e de conduta no desempenho das atribuições do cargo. Uma importante inovação, neste mecanismo de avaliação de desempenho, da administração pública federal, é que além de ser avaliado pelo chefe imediato o servidor também será avaliado por seus colegas de trabalho e por ele mesmo. Os pesos relativos destes atores, na avaliação de desempenho, são determinados no decreto. Veja como fica a composição da gratificação em face da avaliação organizacional e individual Componente institucional (80 pontos) 31 • Metas Globais + Metas Intermediárias (Unidades) definidas a partir do processo de planejamento institucional. Componente individual (20 pontos) • Metas Individuais pactuadas entre chefia imediata e equipe; • Elaboração de Plano de Trabalho Individual e Relatório de Atividades; • Fatores mínimos obrigatórios; • As metas individuais terão um peso maior do que a avaliação dos fatores mínimos obrigatórios; • Avaliação 360º [chefia imediata (60%) + Equipe (25%) + Autoavaliação (15%)]. Importantes definições são dadas pelo Decreto 7.133 sobre quem deve ser avaliado. Os parágrafos 3 e 4 do art. 4 definem que serão avaliados os servidores efetivos não ocupantes de cargo em comissão e os ocupantes de cargos em comissão níveis DAS-1, DAS-2 e DAS-3. Os ocupantes de cargos em comissão acima do nível DAS-3 não serão avaliados e receberão integralmente o valor equivalente aos 20 pontos. Os idealizadores das diretrizes contidas neste decreto (leia-se a Secretaria de Recursos Humanos do MPOG — Ministériodo Planejamento) mencionaram que este processo de avaliação é uma técnica de avaliação de desempenho 360º. Trilhas de aprendizagem As trilhas de aprendizagem foram definidas por Freitas apud Brandão (2012 p. 88) com “caminhos alternativos e flexíveis para o aprimoramento pessoal e profissional”.8 Essa 8 BRANDÃO, Hugo Pena. Mapeamento de Competências: métodos, técnicas e aplicações em gestão de pessoas. São Paulo: Atlas, 2012. Por força do Decreto nº 7.133, os ocupantes de cargos DAS 4, 5 e 6 e cargos de Natureza Especial receberão o valor máximo da parcela individual (20 pontos) + Resultado da avaliação institucional do período (até 80 pontos). 32 noção de trilha parte do princípio que cada profissional pode definir a sua trilha a partir das suas necessidades, oportunidades, urgências e planejamento de carreira. Um sistema de educação corporativa baseada em trilhas de aprendizagem procura conciliar a aspiração individual às organizacionais. Cabe à organização oferecer um ambiente facilitador, com recursos educacionais respeitando as decisões individuais. Assim as pessoas podem construir trilhas distintas, mesmo estando em equipes e funções semelhantes. A trajetória que cada um escolhe para alcançar o objetivo é particular. Extraído de: http://www.pmimf.fazenda.gov.br/frentes-de-atuacao-do-pmimf/projetos-e- processos/projetos/noticias-sobre-gestao-de-projetos/mapa-de-competencias-e-trilhas-de- aprendizagem Veja mais em: FREITAS, I. A. de; BRANDÃO, H. P. Trilhas de aprendizagem como estratégia de TD&E. In: BORGES-ANDRADE, J.E. et al (colaboradores). Treinamento, desenvolvimento e educação em organizações e trabalho — fundamentos para a gestão de pessoas. Porto Alegre: Artmed, 2006. É preciso romper com o paradigma de que a aprendizagem só acontece nas salas de aula. É necessário considerar que a aprendizagem ocorre de múltiplas formas e em todos os ambientes da organização, em momentos formais e informais. As ações de aprendizagem podem ser divididas em duas categorias: • Ações de desenvolvimento formais, caracterizadas pela estruturação através de conteúdos programáticos específicos, envolvem metodologias didáticas, instrutores ou orientadores, material bibliográfico e uma agenda de trabalhos ou aulas (como exemplo: cursos, ciclo de palestras, seminários); 33 • Ações de desenvolvimento não formais sendo representadas por aquelas estruturadas através de atuações no próprio trabalho ou de situações ligadas à atuação profissional (exemplos: autoinstrução, visitas técnicas, estágios). Trilhas de aprendizagem, as quais consistem em um conjunto de ações que busca oferecer ao servidor oportunidades de adquirir as competências necessárias ao alcance dos objetivos da instituição e que extrapolam as necessidades do cargo em que está lotado, buscando a harmonia entre interesses pessoais e organizacionais. Etapas para formatação de trilha de aprendizagem: http://www.mentorinterativa.com.br/wp- content/uploads/2013/09/trilhas_de_aprendizagem1.png Um dos aspectos fundamentais no conceito de trilhas é a aprendizagem social. Isto é, o pressuposto de que as pessoas aprendem nas mais diversas situações. Isso abre outras possibilidades de aprendizagem, como a leitura de livros e revistas; ida ao cinema e ao teatro; participação em projetos voluntários; viagens; interação com colegas de outras organizações; participação em palestras; enfim, um conjunto de experiências cotidianas que não são limitadas às salas de aula e nem a ambientes corporativos. A utilização da noção de trilhas de aprendizagem pressupõe a vinculação entre o caminho do indivíduo e a estratégia da organização, o que torna o planejamento do 34 desenvolvimento profissional capaz de gerar resultados concretos e manter a motivação das pessoas para construir novas trilhas de aprendizagem. A Gestão do Conhecimento A Gestão do Conhecimento é um processo para criação, captura, armazenamento, disseminação, uso e proteção do conhecimento importante para a empresa. Para Davenport e Prusak (1998) é “Mistura fluida de experiência condensada de valores, informação e insight experimentado [...] que estão embutidos nos documentos, nas rotinas, nos processos, nas práticas e nas normas [da empresa]”. Alguns conceitos operadores: • Capital intelectual – É a soma de conhecimentos de todos da organização, criado a partir do intercâmbio entre: a. Capital humano – Capacidade de uma organização de suprir as exigências externas (mercado, governo). Essencialmente diz respeito às pessoas e suas competências humanas. b. Capital estrutural – Soma das patentes, processos, manuais, marcas, sistemas, tecnologias, estruturas organizacionais; c. Capital relacional (clientes) – Valor dos relacionamentos com pessoas e fornecedores. Teoria da Criação do Conhecimento (Nonaka e Takeuchi) • Socialização (tácito-tácito) - Conversão que surge da interação do conhecimento tácito entre os indivíduos através da observação e prática. • Combinação (explícito-explícito) - Conversão do conhecimento que envolve diferentes conjuntos de conhecimento trocados através de reuniões, meio virtual e outros. • Internalização (explícito-tácito) - Utilização de estratégias para “aprender fazendo”: simulações, estágios, rodízio e outras. • Externalização (tácito-explícito) - Articulação de ações como descrição e manualização de processos, rodas de discussão e posterior registro da “teoria” e outras. 35 Extraído de: http://gbcs.files.wordpress.com/2011/05/geracaoconhecimento.gif Saiba mais em: Modelo de gestão do conhecimento para a administração pública brasileira: como implementar a gestão do conhecimento para produzir resultados em benefício do cidadão. Livro disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/754 Acesse também: Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento. http://www.sbgc.org.br/sbgc/ Liderança “É a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando a atingir aos objetivos identificados como sendo para o bem comum” (James C. Hunter). Os líderes autênticos podem levar a liderança a um nível mais elevado de desempenho, pois esses líderes inspiram confiança, segurança e lealdade para a instituição e para o trabalhador. Eles têm a vantagem de convergir diversas pessoas em torno de um objetivo comum. Líderes e gestores, para muitos é a mesma coisa, mas há uma clara diferença entre os dois: os gestores procuram dirigir uma organização enquanto os líderes buscam motivar e 36 inspirar seus funcionários. No ambiente organizacional público ou privado há gestores que não são líderes e líderes que não são gestores. A liderança é um elemento essencial nos processos de mudanças organizacionais, nesse caso, o agente transformador de um modelo de gestão pública competente é o líder, que tem o poder de instigar cada funcionário a produzir além do trabalho convencional e cotidiano. O serviço público por muitas vezes, é dotado de chefes investidos apenas de autoridade formal, onde o gestor está incorporado de uma hierarquia rígida por normas impessoais que norteiam o cargo e o ocupante deste cargo, limitando o poder de influência desses chefes. Enquanto um chefe, provido de liderança, promove melhor fluência no ambiente de trabalho entre os liderados, sendo instrumento de resolução dos problemas dos funcionários e da organização.9 Líderes possuem características comuns? Há como identificar essas características? • Teoria dos traços: A liderança é prerrogativa das pessoas que detêm uma série de traços, ou você nasce líder ou nunca será. • Teoria Comportamental (Estilos de Liderança) - Esta teorianão considera mais as características inatas como predominante, pois a ênfase está no comportamento do líder, a liderança pode ser aprendida, e o líder apresenta determinado estilo de liderança. • Teoria Clássica (Kurt Lewin) AUTOCRÁTICA DEMOCRÁTICO LAISSEZ-FAIRE 9 Extraído de http://www.excelenciaemgestao.org/Portals/2/documents/cneg10/anais/T14_0315.pdf 37 • Apenas o líder decide; • Dá ordens e determina tarefas; • Define a tarefa de cada um • É dominador e pessoal no feedback. • Decisão é discutida com o grupo; • Aconselha e orienta a execução das tarefas; • O grupo decide sobre a execução das tarefas; • É objetivo e limita-se aos fatos no feedback. • Total liberdade do grupo; • Não toma parte na discussão; • Atua somente quando solicitado; • Ausência total na divisão do trabalho. • Teoria Situacional (Contingencial) - O líder deve se comportar de acordo com as necessidades do grupo, a maturidade dos funcionários e as necessidades da produção, entre outros. O líder deve agir de acordo com as situações do ambiente. Não existe um estilo de liderança que possa ser considerado o melhor, de forma a produzir sempre os melhores resultados, e sim um estilo mais adequado para cada situação. • Liderança Situacional (Hersey e Blanchard) - A eficácia da liderança depende da adequação do estilo de liderança ao grau de maturidade dos subordinados. Maturidade: capacidade e vontade de assumir responsabilidades 38 Saiba mais em: https://www.portal-gestao.com/item/7001-o-modelo-hersey-blanchard- como-liderar-eficazmente-os-seus-colaboradores.html Estilos de Liderança (Goleman) Os líderes com os melhores resultados não se apoiam somente em um estilo de liderança, mas em vários, dependendo das situações. Daniel Goleman, no livro, “A inteligência emocional na formação do líder de sucesso”, apresenta uma pesquisa que classifica os líderes em 6 tipos: • Comandante - Força à concordância imediata; pode obter resultados positivos no curto prazo; é coercitivo. • Visionário - Para motivar as pessoas, o líder visionário deixa claro a todos como seu trabalho se encaixa em uma visão maior para a organização. • Agregador (Afiliativo) estilo de liderança gira em torno das pessoas - Valoriza os indivíduos e as suas emoções mais do que as suas tarefas ou objetivos. 39 • Democrático - O líder democrático permite que os próprios trabalhadores participem nas decisões que afetam os seus objetivos e a forma como realizam o seu trabalho, estimulando a flexibilidade e a responsabilidade. • Modelo (Agressivo) - o líder estabelece padrões de desempenho extremamente elevados e dá ele mesmo o exemplo. • Coach (conselheiro, treinador) - ajuda cada um a identificar seus pontos fortes e debilidades e vincula isso tudo a suas aspirações pessoais e profissionais, incentiva o funcionário a estabelecer metas de desenvolvimento de longo prazo e o ajuda a conceber um plano para atingi-las. Saiba mais em: “Os estilos de liderança de acordo com Daniel Goleman”. Disponível em: http://www.rhportal.com.br/artigos/rh.php?idc_cad=mrneoo86l Motivação A motivação é um impulso constante e de intensidade variável orientado para um objetivo, decorrente de uma necessidade de satisfação. No trabalho, tem raízes no indivíduo, na organização, no ambiente externo e na própria situação do país. Logo, os fatores que interferem na motivação podem ser externos às pessoas, ou internos, derivado de instintos ou de desejos/objetivos criados. A motivação é resultado então da interação entre o indivíduo e o contexto onde está inserido. As pessoas diferem quanto ao impulso básico motivacional, isto é, o mesmo indivíduo pode ter diferentes níveis de motivação que variam ao longo do tempo. A motivação está relacionada com três aspectos: a) A direção do comportamento (objetivo); b) A força e a intensidade do comportamento (esforço); c) A duração e a persistência do comportamento (necessidade). Teoria da hierarquia das necessidades de Maslow 40 É a mais conhecida das teorias de motivação humana. Abraham Maslow postulou que a motivação ocorre dentro de uma hierarquia de cinco necessidades conforme a figura a seguir. Fonte: https://pryscillamacedo.files.wordpress.com/2010/06/piramide.jpg Para Maslow, é necessário conhecer o nível da hierarquia na qual o indivíduo está focando de forma a satisfazer essa necessidade. Esta hierarquia pressupõe um continuum de “motivos para agir”. Para alcançar os motivos mais elevados é preciso estar com os mais básicos satisfeitos. Outra teoria bastante conhecida é a Teoria dos dois Fatores proposta por Frederick Herzberg. Para ele, existem dois fatores que orientam o comportamento das pessoas: • Fatores Higiênicos ou fatores extrínsecos, pois se localizam no ambiente que rodeia as pessoas e abrangem as condições dentro das quais elas desempenham seu trabalho. • Fatores motivacionais ou fatores intrínsecos, que estão relacionados com o conteúdo do cargo e com a natureza das tarefas que a pessoa executa. 41 Extraído de: https://www.portal-gestao.com/images/stories/tabela_frederick.jpg Saiba mais em: Motivação na Administração Pública. http://www.admpg.com.br/revista2011/artigos/12.pdf Trabalho em equipe “Uma equipe precisa de uma identidade em comum para se diferenciar de um grupo de pessoas. Equipes podem estar próximas ou não, mas a identidade permanece.” (Sylvia Vergara) Os grupos podem ser divididos em: • Formais – definidos pela estrutura da organização, com atribuições que estabelecem tarefas; • Informais – alianças formadas naturalmente dentro de ambiente de trabalho pela necessidade de contato social. Principais diferenças entre grupos e equipes: GRUPOS EQUIPES Realização individual. Realização coletiva. Combinação de esforços. O melhor de mim é mais importante do que o melhor para o grupo. O melhor para todos é o melhor para mim. Enfrentam problemas. Superam desafios. Evitam conflitos. Enfrentam conflitos. Habilidades variadas e aleatórias. Habilidades correlacionadas e complementares. 42 Fases de formação de grupos: • Formação: Conhecimento inicial. Definição de propósito, da estrutura e da liderança. Esta fase termina quando já se reconhecem como participante(s). • Conflito, tempestade: Conflitos sobre questões de controle. Ajuste e negociação. Disputa de papéis pelas lideranças. • Normatização: Desenvolvem-se relacionamentos próximos e coesão. Relações de mais proximidade e sentimentos passam a ser compartilhados. Lideranças já estão formadas e os papéis bem definidos. • Desempenho: Está totalmente funcional. É a fase da produtividade. • Interrupção/desintegração: Preocupação com a conclusão das atividades. Preparo para desafazer a equipe. Tipos de equipes • Autogerenciadas: são equipes autônomas, que podem implementar soluções e assumir total responsabilidade pelos resultados. • Multifuncionais: são equipes formadas por funcionários do mesmo nível hierárquico, mas de diferentes setores da empesa, que se unem para atingir a uma meta (concluir uma tarefa). As equipes desempenham várias funções ao mesmo tempo. Os membros compensam entre si as competências e carências. (Comitês) • Virtuais – são equipes mediadas pela internet; seus membros são fisicamente dispersos. A colaboração é online. Muito aplicadas em elaboração de projetos. Estrutura do grupo (modela o comportamento) • Papéis: comportamentos esperados atribuídos a alguém que ocupa determinada posição em uma unidade social (ROBBINS, 2002). Os papéispodem ser formais ou informais. Em algumas situações, os papéis informais podem se sobrepor aos formais (líder situacional x supervisor). • Normas: padrões aceitáveis de comportamento (moral, subcultura). As normas tendem a influenciar o comportamento do grupo. • Status: posição definida ou atribuída pelas pessoas. 43 • Tamanho: o tamanho do grupo afeta seu desempenho. Grupos menores são mais rápidos nas realizações de tarefas, já para a solução de problemas, grupos maiores conseguem melhores resultados. Um conceito importante é o ócio social — a tendência que as pessoas têm de fazer menos esforço ao trabalhar em grupo diferente do que se estivesse sozinho. • Coesão: é a soma das forças que atrai os membros do grupo e o mantém unido. A coesão do grupo depende da motivação. Em alguns casos, em grupos coesos as normas são muito enfatizadas, o que pode sobrepor o desempenho do grupo. Gerenciamento de conflitos Um conflito pode ser compreendido como um evento que retira o equilíbrio de alguma situação. Seja ela individual ou de grupos/equipes. • Todo conflito é ruim? – Abordagem tradicional (1930 a 1940) – a ideia de que todo conflito deve ser evitado. • Todo conflito é aceitável? – Abordagem relações humanas (1940 a 1970) – embora considere o conflito como natural, nos grupos e organizações, ele deve ser aceito, mas também evitado, quando possível. • Todo conflito é produtivo? A visão interacionista (1970 – hoje) - encoraja o conflito no sentido de que um mínimo de tensão de conflito é suficiente para que o grupo continue autocritico e criativo. Um conflito pode ser funcional ou disfuncional, se é positivo consideramos que é funcional, se ao contrário é negativo, isto é, não encontra solução positiva, considera-se disfuncional. Níveis de gravidade do conflito • Percebido (Latente) - os envolvidos percebem a existência do conflito e que existem objetivos diferentes entre eles. A denominação latente é porque o conflito existe potencialmente. As soluções possíveis neste caso: fixação de objetivos 44 comuns; sistemas de recompensas grupais; rotação de pessoas; reconfiguração de grupos de trabalho. • Experienciado (Velado) – surgimento de sentimentos de hostilidade e raiva entre os envolvidos. Denomina-se velado por ser dissimulado e não manifesto. As possíveis soluções para este caso: definição de regras e regulamentos; formação de equipes de trabalho; utilização de papéis de ligação / integração. • Manifesto (Aberto) – quando o conflito é explicito tanto para os envolvidos quanto para terceiros. Neste caso, a intervenção pode se dar pelo feedback específico, confronto direto, pela abordagem de processos. Tipos de resolução de conflitos • Perde–Perde - o conflito persiste; nenhum dos envolvidos atinge o objetivo esperado. É reprimido, negado ou não trabalhado. • Perde–Ganha – processo de negociação malconduzido. Insatisfação. Competição. Apenas uma das partes tem seus objetivos alcançados. • Ganha–Ganha – processo de negociação bem conduzido. Integração, conciliação e cooperação. A única solução que resolve por completo um conflito é a resolução ganha- ganha. Técnicas de resolução de conflitos Técnicas Descrição Resolução de problemas Discussão aberta (brainstorming). Metas superordenadas Meta compartilhada cujo resultado somente é obtido através da colaboração. Expansão de recursos Quando o conflito é causado pela escassez de um recurso, sua expansão pode criar a solução ganha- 45 ganha. Não enfrentamento Suprimir o conflito ou evadir-se dele. Suavização Minimizar diferenças entre as partes conflitantes, enfatizando interesses comuns. Concessão Cada uma das partes abre mão de algo valioso. Alteração de variáveis humanas Mudança de atitudes e comportamentos que causem conflitos. Alteração de variáveis estruturais Alteração na estrutura formal da organização e nos padrões de interação, tais como redesenho de cargos, transferências etc. Quando falamos em administração de conflitos encontramos cinco posturas comumente aplicadas: 1- Evitação - a postura não é nem assertiva, nem cooperativa. Pode ser utilizada quando um problema é trivial, quando os ânimos se alteram ou quando um desacordo poder ser oneroso e quando não há chance de ganhar ou o tempo não é favorável para a obtenção de informações necessárias. Cria uma solução perder-perder. (Fuga/ Deixa quieto) 2- Acomodação – tenta suavizar as coisas e manter a harmonia na condução de soluções de pontos de menor discordância e deixar problemas maiores para frente. (Vai levando) 3- Competição/imposição – reflete a assertividade para impor o seu próprio interesse e é utilizado quando uma ação pronta e decisiva deve ser rapidamente imposta com ações importantes ou impopulares, durante as quais a urgência ou emergência se torna necessária ou indispensável. Geralmente cria uma solução ganha-perde. (O negócio é ganhar) 4- Compromisso/Acordo – combina uma moderada porção de assertividade e de cooperação. É apropriado quando os objetivos de ambos os lados são igualmente importantes, quando ambos os lados têm igual poder ou quando precisam chegar a uma solução temporária, sem pressão de tempo. Cria uma situação de concessão–ganhar- perder. (Jogo de cintura) 5- Colaboração – é quando existe alto grau de assertividade e de cooperação. Utilizado quando o interesse e os objetivos dos dois lados são importantes e os dois pontos de vistas podem se unir em algo bem maior. (Ganha-Ganha) 46 Quando a resolução do conflito se dá por meio de uma terceira parte encontramos 4 papéis básicos: 1- Mediador – elemento neutro (nunca coercitivo) que facilita a solução negociada. Utiliza a razão e a persuasão, dá sugestões. 2- Árbitro – elemento com autoridade para ditar um acordo. Pode ser voluntário ou imposto por lei. O benefício da arbitragem em relação à mediação é que sempre resulta em um acordo. 3- Conciliador – elemento confiável que estabelece comunicação informal entre as partes. Diferente do mediador, essa figura tem o objetivo de persuadir os envolvidos a chegar a um acordo. 4- Consultor – elemento habilitado e imparcial, e tem como principal objetivo melhorar as relações interpessoais das partes para que sozinhas cheguem a um acordo. Saiba mais: A ouvidoria é um forte instrumento para solução de conflitos atuando no papel de mediador e conciliador. http://www.conjur.com.br/2015-mar-02/barroso-filho-ouvidoria-valiosa-resolucao- conflitos?imprimir=1 BIBLIOGRAFIA: BASSETO, Clementino Luis. Redes de Conhecimento: espaço de competência em informação nas organizações contemporâneas. Bauru, São Paulo: Ide@, 2013. BERGUE, Sandro Trescastro. Gestão Estratégica de Pessoas na Administração Pública. São Paulo: Atlas, 2014. BRANDÃO, Hugo Pena. Mapeamento de competências: métodos, técnicas e aplicações em gestão de pessoas. São Paulo: Atlas, 2012. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas – o novo papel dos Recursos Humanos nas Organizações. 4. ed. São Paulo: Manole, 2014. FLEURY, Afonso; FLEURY, Maria Tereza. Aprendizagem e Inovação Organizacional. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. HITT, Michael. Comportamento Organizacional. 3. ed. Rio de Janeiro: Gen/LTC, 2013. 47 MARRAS, Jean Pierre (Org.). Gestão estratégica de pessoas: conceitos e tendências. São Paulo: Saraiva, 2010. ZANELLI, José Carlos (Org.). Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Diretrizes da Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal Treinamento regularmente instituído Reserva de recursos A carreira na Administração Pública Federal Gestão por desempenho e gestão por resultados Avaliação de desempenho e meritocracia na administração
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