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Texto 7 – Soluções com dois componentes voláteis – notas de fisquim II – Prof. Ourides 1 Texto 7 – Soluções com dois componentes voláteis Notas de aula de fisquim II – prof. Ourides 1. Introdução Até agora estudamos soluções nas quais um dos componentes era volátil (ao qual chamamos de solvente), e o outro componente era não-volátil (soluto). Vamos agora investigar o comportamento de soluções nas quais todos os componentes são voláteis. Isso implica que o vapor acima da solução não é mais puro, mas é constituído por uma mistura de vapor de todos os componentes da solução. Para simplificar nosso trabalho, consideraremos apenas soluções com dois componentes. Antes disso, vejamos algumas definições importantes. 2. A regra das fases O termo fases refere-se a um estado uniforme da matéria, tanto em composição quanto em seu estado físico. Temos, assim, fases sólida, líquida e gasosa, mas podemos ter diferentes fases sólidas numa substância (p. ex. fósforo branco e fósforo vermelho, grafite e diamante, etc.). Adotamos a letra P para o número de fases de um sistema. Um gás é sempre um sistema com uma fase (P=1), assim como dois líquidos perfeitamente miscíveis (p. ex. água e etanol). Gelo moído e água constituem um sistema com duas fases (P=2), embora não seja fácil distingui-las. Um componente é um constituinte quimicamente independente de um sistema é igual ao número de seus constituintes, quando não houver reação química. Esse é o caso que estudaremos aqui. Usaremos a letra C para o número de componentes. Assim, gelo e água tem um componente (C=1) e duas fases (P=2). O ar atmosférico tem uma fase (P=1) e dois componentes (C=2). A regra das fases foi deduzida por Gibbs no século XIX e permite estabelecer a variância (ou o número de graus de liberdade) necessária para descrever um sistema em equilíbrio. Não entraremos em detalhes de sua dedução, basta saber que, em sua forma original, ela é escrita como 𝑉 = 𝐶 − 𝑃 + 2 (1) Tal que: V=variância (ou graus de liberdade); C=número de componentes do sistema; P=número de fases presentes no sistema à temperatura T; 2=graus de liberdade referentes à pressão (p) e temperatura (T). Texto 7 – Soluções com dois componentes voláteis – notas de fisquim II – Prof. Ourides 2 Vejamos como a regra acima se aplica ao diagrama de fase de um sistema com um componente, já bastante conhecido (fig. 1), o diagrama de fases da água. Figura 1: o diagrama de fases da água. As diversas curvas delimitam as fronteiras entre as regiões de sólido, líquido e vapor da água. Os pontos sobre as curvas correspondem a coexistência entre dois estados do sistema. Estude-as em termos da pressão e da temperatura. Imaginemos um ponto a na região de fase sólida. Nesse caso teremos C=1 (somente água) e P=1 (somente gelo), então, V=1-1+2=2 (confira!). Nessa condição, o sistema apresenta dois graus de liberdade. Isto significa que temos que especificar duas variáveis (p e T) para estabelecer exatamente a posição do ponto na fase sólida. Vejamos agora um ponto sobre uma das curvas. Sabemos que cada uma delas representam regiões com duas fases, então, para qualquer ponto sobre qualquer das curvas (à exceção do ponto triplo), teremos então P=2 e C=1, logo, V=1-2+2=1. Isto quer dizer que, como o ponto está sobre uma curva, basta estabelecer um grau de liberdade (p ou T) e o sistema ficará definido. Por fim, no ponto triplo temos C=1 e P=3, logo, V=1-3+2=0; não há necessidade de estabelecer qualquer grau de liberdade pois o sistema já está completamente definido. 3. A pressão de vapor nas soluções binárias Consideremos agora uma solução de dois líquidos perfeitamente miscíveis, em equilíbrio com seus vapores (fig. 2). Texto 7 – Soluções com dois componentes voláteis – notas de fisquim II – Prof. Ourides 3 Figura 2: sistema binário de dois líquidos miscíveis e o vapor da mistura, com pressões parciais p1 e p2. O sistema deve estar em equilíbrio (a T=cte), de modo que os potenciais químicos dos dois componentes no líquido e no vapor sejam os mesmos. Admitindo solução ideal, os dois componentes obedecem à lei de Raoult, então, a pressão de vapor de cada um deles será 𝑝) = 𝑥)𝑝)∗ e 𝑝, = 𝑥,𝑝,∗ (2a,b) Tal que p1,2=pressão de vapor dos componentes 1 e 2 no vapor; x1,2=frações molares dos componentes 1 e 2 na solução; 𝑝),,∗ =pressão de vapor dos componentes 1 e 2 puros. Pela lei das pressões parciais, podemos escrever 𝑝 = 𝑝) + 𝑝, (3) Substituindo as equações (2a,b) em (3), 𝑝 = 𝑥)𝑝)∗ + 𝑥,𝑝,∗ Mas como 𝑥, = 1 − 𝑥), 𝑝 = 𝑥)𝑝)∗ + (1 − 𝑥))𝑝,∗ 𝑝 = 𝑝,∗ + (𝑝)∗ − 𝑝,∗)𝑥) (3) Supondo 𝑝)∗ > 𝑝,∗ , a equação (3) gera a reta dada na fig. 3 abaixo, lembrando que em nossos textos, usamos (*) ao invés de (0) para substâncias puras. Figura 3: reta dada pela equação (3). É importante examinar o significado das regiões acima da reta (Liquid), bem como os graus de liberdade, inclusive sobre a reta. Vamos agora investigar a composição do vapor. Ela é diferente da composição do líquido (por quê?). As frações molares dos componentes 1 e 2 no vapor (y1,2) podem ser representadas pelas equações, 𝑦) = 343 e 𝑦, = 353 (4a,b) Texto 7 – Soluções com dois componentes voláteis – notas de fisquim II – Prof. Ourides 4 Considerando que p=p1+p2 e que y1+y2=1 podemos substituir as equações (2a) e (3) em (4a), 𝑦) = 6434∗35∗7(34∗835∗)64 (5) A equação acima pode ser rearranjada para isolar a fração molar de 1 (x1), 𝑥) = 9435∗34∗8(34∗835∗)94 (6) Substituindo a equação (5) na equação (3), 𝑝 = 𝑝,∗ + (𝑝)∗ − 𝑝,∗) 𝑦)𝑝,∗𝑝)∗ − (𝑝)∗ − 𝑝,∗)𝑦) Rearranjando, 𝑝 = 34∗35∗34∗8(34∗835∗)94 (7) Um gráfico da equação (7) é mostrado na figura 4. Figura 4: gráfico da equação (6). Novamente, é importante examinar os graus de liberdade do sistema, em particular na fase de Vapor e sobre a curva. É possível combinar os dois diagramas e exprimir a composição do sistema como um todo em termos de fração molar total do componente 1 no sistema (X1). Um diagrama como esse assume a forma dada na figura 5. A figura 5 mostra o diagrama com as duas curvas e o cálculo das composições do líquido e do vapor presentes no ponto a. Figura 5: (a) os diagramas combinados, com as curvas expressas em termos de fração molar total (X1) do componente 1 no sistema todo; (b) a composição do da mistura de líquido e vapor no ponto a. Texto 7 – Soluções com dois componentes voláteis – notas de fisquim II – Prof. Ourides 5 Vamos examinar com calma os gráficos acima. As duas figuras representam os valores de pressão em função da composição global do sistema, em termos do componente 1 (X1). Em pressão elevada temos somente a fase líquida (Liquid) e em pressão baixa temos somente a fase de vapor (Vapor). As linhas mostram as fronteiras das duas fases, assim como a região de coexistência das duas (L+V). O gráfico da direita mostra mais informações. Suponhamos um ponto a na região de coexistência Líquido+Vapor. O sistema está, nesse ponto, à pressão pa. Se projetarmos o ponto até o eixo de composição, teremos a composição global (ou total), X1, da mistura Líquido+Vapor. Como o sistema está fechado, a composição global vale para qualquer ponto na linha vertical que passa por a. Como saber a composição do líquido e do vapor que coexistem nesse ponto? Para tanto, traçamos uma linha horizontal que corte as duas curvas. Teremos então, no eixo das pressões o valor de pa e dois interceptos, um na curva do Líquido e outro na curva do Vapor. A projeção do intercepto da curva do Líquido no eixo horizontal (das composições) nos dá a composição do Líquido (x1). Da mesma forma, a projeção do intercepto da curva do Vapor sobre o eixo das composições nos dá a composição do Vapor (y1) em equilíbrio com o Líquido. 4. A regra da alavanca Consideremos ainda a figura5b. O ponto a pertence à uma região em que coexistem as duas fases, cujas composições, como vimos, são dadas por xa (no líquido) e ya (no vapor). É possível estimar a quantidade relativa entre o líquido e o vapor presentes no sistema bifásico. Se o ponto a estiver muito próximo à linha do líquido, então haverá muito mais líquido do que vapor. O inverso é verdade, se o ponto a estiver muito próximo à linha do vapor, então haverá muito mais vapor do que líquido – sempre dentro da região bifásica L+V. As quantidades relativas de líquido e vapor podem ser calculadas pela regra da alavanca. Detalhes da dedução desta regra são dados em livros de Físico-química. Para nós, basta saber que a razão entre os segmentos de reta 𝑎𝑙 e 𝑎𝑣 fornece a razão entre as quantidades de vapor e de líquido no ponto a, respectivamente, =>=? = @ABC@DEF (8) Devemos lembrar que as quantidades dadas acima (nvap e nliq) referem-se às quantidades totais de matéria contidas na mistura. Em cada caso, a composição do vapor e do líquido são diferentes, como vimos anteriormente.
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