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Capítulo 4 - Cinemática Inversa de Posição 42 No capítulo anterior foi visto como determinar a posição e a orientação do órgão terminal em termos das variáveis das juntas. No presente capítulo será estudado como resolver o problema inverso, ou seja, achar as variáveis das juntas em termos da posição e orientação do órgão terminal: x0, y0, z0 ângulos do sistema do OT c/ ® ® qi, i = 1, 2, ... , 6 sistema da base O problema da cinemática inversa é, em geral, mais difícil de resolver, em forma fechada. Como exemplo, considere-se um manipulador de Stanford. A solução do problema da cinemática direta de posição (conforme solicitado no problema 3.2 do capítulo 3) é dada pelo conjunto de 12 equações com 6 incógnitas (4.1.1) onde os membros da direita são os elementos da matriz que fornece a posição e a orientação do órgão terminal: CAPÍTULO 04 CINEMÁTICA INVERSA DE POSIÇÃO 4.1 INTRODUÇÃO Cinemática Inversa de Posição Capítulo 4 - Cinemática Inversa de Posição 43 (4.1.2) Para achar as variáveis das juntas q1, q2, d3, q4, q5 e q6, deve-se resolver o sistema (4.1.1), o que é bastante difícil de conseguir em forma fechada, pois se trata de um sistema altamente não-linear. Além disso, enquanto a cinemática direta tem sempre uma única solução, a cinemática inversa pode ter ou não solução (p. ex., quando a posição desejada cai fora do volume de trabalho) e, no caso de existir solução, pode a mesma ser ou não única. Para contornar o problema deve-se, então, desenvolver técnicas sistemáticas eficientes que explorem a estrutura cinemática particular do manipulador. Será considerado, daqui em diante, que a matriz homogênea dada pela eq. (4.1.2) corresponde a uma configuração no interior do volume de trabalho do manipulador, o que garante a existência de pelo menos uma solução. Felizmente, para manipuladores com seis juntas, nos quais os eixos das três últimas juntas se interceptam em um ponto (como no caso do manipulador de Stanford acima), é possível desacoplar o problema da cinemática inversa em dois problemas mais simples, conhecidos por cinemática inversa de posição e cinemática inversa de orientação, respectivamente. Ou seja, para um manipulador com seis graus de liberdade munido de um punho esférico, pode-se inicialmente achar a posição do centro do punho (interseção dos três eixos do punho esférico) e, após, encontrar a orientação do punho. Considere-se, pois, que existam exatamente seis graus de liberdade e que os eixos das últimas três juntas, os eixos z4, z5 e z6, se interceptem no ponto O (centro do punho), no qual se localizam as origens O4 e O5 e, na maioria das vezes, embora não necessariamente, a origem O3, conforme fig. 3.7. A posição do centro do punho é função apenas das três primeiras coordenadas, não dependendo das três últimas coordenadas. A origem O6 do sistema do órgão terminal é obtida por uma translação d6 ao longo do eixo z5, a partir do centro do punho O. Chamando pc o vetor que vai da origem do sistema da base O0x0y0z0 ao centro do punho, tem-se (ver fig. 4.1): d = pc + d6Rk ou pc = d - d6Rk (4.2.1) 4.2 DESACOPLAMENTO CINEMÁTICO Capítulo 4 - Cinemática Inversa de Posição 44 Fig. 4.1 Desacoplamento cinemático onde a orientação do sistema do órgão terminal é dada pela matriz R e a posição do mesmo é dada pelo vetor d. Em forma expandida, pode-se escrever a eq. (4.2.1) como (4.2.2) onde r13, r23 e r33 são elementos de R, a qual é conhecida (dada). Assim, usando a eq. (4.2.2), pode-se calcular as coordenadas do centro do punho e, depois, achar as três primeiras variáveis das juntas, q1, q2 e q3, através de relações retiradas da geometria do manipulador, conforme será ilustrado mais adiante. Pode- se, após, determinar a orientação do órgão terminal em relação ao sistema O3x3y3z3 (extremidade do punho) a partir da expressão R = R30 R63 (4.2.3) ou R63 = (R30)-1 R R63 = (R30)T R (4.2.4) pois R30 é ortogonal. As três últimas variáveis das juntas, q4, q5 e q6, (que, no caso do punho esférico, serão sempre q4, q5 e q6), são então encontradas como um conjunto de ângulos de Euler correspondentes a R63. Note-se que o membro direito da eq. (4.2.4) é conhecido, pois R é dada e R30 pode ser calculada, já que as três primeiras variáveis das juntas, q1, q2 e q3, são conhecidas, a partir da geometria do manipulador. A seção seguinte ilustra o procedimento. Capítulo 4 - Cinemática Inversa de Posição 45 Nesta seção será apresentado apenas o enfoque geométrico para a cinemática inversa de posição por duas razões. Primeiro, porque as configurações cinemáticas dos robôs industriais são relativamente simples, conforme foi visto no capítulo 1. Segundo, porque existem poucas técnicas disponíveis para tratar o problema geral da cinemática inversa de configurações quaisquer. A maioria dos robôs industriais é composta de seis graus de liberdade, com três variáveis de juntas no tronco e três no punho, em geral esférico. Além disso, conforme já foi visto anteriormente, muitos dos parâmetros DH ai e di são nulos, enquanto que os parâmetros ai são 0 ou ± p/2. Nesses casos, o desacoplamento é bastante facilitado, conforme será ilustrado a seguir. Seja o manipulador articulado da fig. 4.2, onde px, py e pz, já foram obtidos através da eq. (4.2.2): Fig. 4.2 Manipulador articulado O vetor pc, que liga O0 a O (não mostrado na figura), aparece projetado (vetor r) sobre o plano horizontal que passa pela origem do sistema O1x1y1z1 (note-se que é a mesma origem do sistema O0x0y0z0). Da figura: 1q = arctg p p y x (4.3.1) Observe-se que existe uma segunda solução válida para q1, que é 1q p= +arctg p p y x (4.3.2) As soluções para q1, dadas pelas eqs. (4.3.1) e (4.3.2), não são válidas para px = py = 0 porque, nesse caso, arctg p p y x é indeterminado e o manipulador encontra-se em uma posição singular, na qual o centro do punho está sobre o eixo z0 e, portanto, qualquer valor de q1 satisfaz esta configuração, existindo, pois, uma infinidade de soluções, conforme ilustra a fig. 4.3: 4.3 CINEMÁTICA INVERSA DE POSIÇÃO. ENFOQUE GEOMÉTRICO Capítulo 4 - Cinemática Inversa de Posição 46 Fig. 4.3 Configuração singular Para sanar esse problema, pode-se introduzir uma excentricidade no ombro, d1, como mostra a fig. 4.4. Nesse caso, o centro do punho não cairá sobre o eixo z0, havendo então somente duas soluções para q1. Fig. 4.4 Manipulador articulado com excentricidade no ombro Tais soluções correspondem às chamadas configurações braço esquerdo e braço direito, conforme mostram as vistas superiores das fig. 4.5 e 4.6, respectivamente: Fig. 4.5 Configuração braço esquerdo 47 Fig. 4.6 Configuração braço direito Da fig. 4.5 tira-se a primeira solução, para a configuração braço esquerdo: q1 = f - a (4.3.3) onde dpp darctg dr darctg p p arctg 2 1 2 y 2 x 1 2 1 2 1 x y -+ = - = = A segunda solução, obtida a partir da configuração braço direito da fig. 4.6 é dada por dpp darctg p p arctg 2 1 2 y 2 x 1 x y 1 -+ += (4.3.4) Para achar os ângulos q2 e q3, dado q1, considere-se o plano formado pelo braço e pelo antebraço, conforme fig. 4.7: Fig. 4.7 Plano vertical formado pelo braço e antebraço Capítulo 4 - Cinemática Inversa de Posição 48 Tendo em vista que o movimento do braço e do antebraço é planar, a solução é análoga à desenvolvida para o manipulador planar do cap. 1. Assim, aproveitando aqueles resultados (eqs. (1.7.4) a (1.7.7)) e fazendo as devidas adaptações, pode-se escrever (comparar as figs. 1.18 e 4.7): (4.3.5) onde d1 aqui é o parâmetro DH e não a excentricidade recém descrita. Portanto, q3 é dado por 3 2arctg 1- D Dq = ± (4.3.6) onde as duas soluções para q3 correspondem às posições cotovelo acima e cotovelo abaixo, respectivamente. Analogamente, q2 é dado por 2 1 q = - + = - + - + arctg s r arctg a S3 a a C3 arctg p d p p arctg a S3 a a C3 3 3 3 z x 2 y 2 3 3 3 (4.3.7) Um exemplo de manipulador articulado com excentricidade é o robô PUMA mostrado na fig. 4.8. Existem quatro soluções, conforme ilustra a figura. Será visto mais adiante que existem duas soluções para a orientação do punho esférico, dando, assim, um total de oito soluções para a cinemática inversa desse tipo de manipulador. Capítulo 4 - Cinemática Inversa de Posição 49 Fig. 4.8 Quatro soluções da cinemática inversa de posição do manipulador PUMA No item anterior foi utilizado o enfoque geométrico para a obtenção das três primeiras variáveis das juntas, correspondentes a uma dada posição do centro do punho. Resta, agora, resolver o problema da cinemática inversa de orientação, ou seja, encontrar os valores das três últimas variáveis das juntas, correspondentes a uma dada orientação do órgão terminal, com relação ao sistema O3x3y3z3. Para um punho esférico, isso significa achar um conjunto de ângulos de Euler correspondentes a uma dada matriz de rotação R, conforme exposto no capítulo 3. 4.4 CINEMÁTICA INVERSA DE ORIENTAÇÃO Capítulo 4 - Cinemática Inversa de Posição 50 Seja dada a matriz de orientação U = uij, obtida a partir do membro direito da eq. (4.2.4) e seja R63 a matriz de transformação, obtida através da eq. (2.4.1). O problema consiste, então, em encontrar os ângulos de Euler f, q e y, que satisfazem a equação matricial (4.4.1) Dois casos podem se apresentar. 1o caso: u13 e u23 não são simultaneamente nulos. Então , da eq. (4.4.1), vemos queCf Sq = u13 ¹ 0 Sf Sq = u23 ¹ 0 de onde se conclui que Sq ¹ 0, logoSq ¹ 0Þ u31 ¹ 0 u32 ¹ 0 u33 = Cq ¹ ± 1 Logo, podemos escrever q = arctg (Sq/Cq), ou seja, q = arctg 1- u u 33 2 33 (4.4.2) ou q = arctg 1- u u 33 2 33 - (4.4.3) Se for escolhido o primeiro valor para q, então Sq > 0 e a primeira solução é dada por f = arctg u u13 23 (4.4.4) e y = arctg u -u31 32 (4.4.5) Por outro lado, se for escolhido o segundo valor para q, então Sq < 0 e a segunda solução é dada por f = arctg -u -u13 23 (4.4.6) e y = arctg -u u31 32 (4.4.7) Capítulo 4 - Cinemática Inversa de Posição 51 2o caso: u13 e u23 são simultaneamente nulos. Se u13 = u23 = 0, então, pela eq. (4.4.1), Sq = 0 e a matriz de rotação U passa a ter a forma onde u33 = ± 1 pois Cq = ± (1 - S2q)1/2 = ± 1. A seguir, serão examinadas cada uma das possibilidades para u33. Cq = 1 (1) Se u33 = + 1 Þ Þ q = 0 e a eq. (4.4.1) se torna Sq = 0 Assim, a soma f + y pode ser determinada como f y + = arctg u u = arctg -u u 21 11 12 11 (4.4.8) Como, nesse caso, apenas a soma f + y pode ser determinada, existe um número infinito de soluções. Pode-se, por convenção, tomar f = 0 e achar y através da eq. (4.4.8). Cq = - 1 (2) Se u33 = - 1 Þ Þ q = p e a eq. (4.4.1) se torna Sq = 0 Assim, a diferença f - y pode ser determinada como f y - = arctg -u -u = arctg -u -u 12 11 22 21 (4.4.9) Como, nesse caso, apenas a diferença f - y pode ser determinada, existe um número infinito de soluções. Podemos, por convenção, tomar f = 0 e achar y através da eq. (4.4.9). Capítulo 4 - Cinemática Inversa de Posição 52 Exemplo ilustrativo: manipulador articulado com punho esférico. A cinemática inversa de posição já foi resolvida, conforme eqs. (4.3.1) a (4.3.7). Para resolver a cinemática inversa de orientação, podemos iniciar determinando R30, pois R30 = A10 A21 A32 onde as matrizes Aii-1 são dadas pela eq. (3.5.2). Fazendo tal cálculo, chega-se facilmente a (a) Por outro lado, a matriz R63, referente ao punho esférico, já foi fornecida pela eq. (3.8.1), aqui repetida: (b) Portanto, dada a matriz de rotação total R: ú ú ú û ù ê ê ê ë é = rrr rrr rrr 333231 232221 131211 R (c) trata-se de resolver R63 = (R30)T R = U (d) Substituindo as eqs. (a), (b) e (c) na eq. (d), obtemos uma equação matricial da qual tiramos as seguintes equações algébricas relevantes para a aplicação do procedimento exposto anteriormente: - elementos (1,3):C4S5 = C1C23r13 + S1C23r23 - S23r33 = u13 - elementos (2,3):S4S5 = -C1S23r13 - S1S23r23 - C23r33 = u23 - elementos (3,3): C5 = -S1r13 + C1r23 10 caso: u13 e u23 não são simultaneamente nulos C4S5 ¹ 0 Então: Þ S5 ¹ 0 S4S5 ¹ 0 Capítulo 4 - Cinemática Inversa de Posição 53 e pode-se usar as eqs. (4.4.2) a (4.4.7) para obter os ângulos q5 (ângulo de Euler q), q4 (ângulo de Euler f) e q6 (ângulo de Euler y). 20 caso: u13 e u23 são simultaneamente nulos C4S5 = 0 Então: Þ S5 = 0 Þ eixos das juntas 3 e 5 são colineares e somente S4S5 = 0 a soma q4 + q6 pode ser determinada. Uma solução é escolher q4 arbitrariamente e então determinar q6 usando a eq. (4.4.8) ou a eq. (4.4.9). 4.1 Resolver o problema da cinemática inversa de posição e de orientação de um robô cartesiano dotado de punho esférico, cujas primeiras três coordenadas das juntas são d1, d2 e d3. 4.2 Idem 4.1, para um robô cilíndrico RPP com punho esférico. 4.3 Completar o exemplo ilustrativo do item 4.4, detalhando todas as passagens matemáticas. 4.4 De posse de todas as expressões para a cinemática inversa do manipulador articulado, obtidas no problema anterior, escrever um programa de computador para resolver o problema completo da cinemática inversa. Incluir procedimentos para identificar configurações singulares e escolher uma solução particular quando a configuração é singular. Testar o programa para vários casos especiais (incluindo configurações singulares) de fácil verificação. PROBLEMAS
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