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Prof. Elsa Maria L S. Ferreira Pepino OAB-ES 4.962 _____________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ E-mail : elsapepino@hotmail.com Tel: - 9 9989 3003 1 UNIDADE 3. PRINCÍPIOS DE DIREITO DO TRABALHO Existem princípios válidos para todas as formas de conhecimento, outros aplicáveis a diversos campos de conhecimento e outros relativos a uma única ciência. Miguel Reale os chama, respectivamente, de onivalentes, plurivalentes e monovalentes (Lições Preliminares de Direito. São Paulo, Saraiva). Segundo a doutrina os princípios exercem tríplice função: a) Informadora (política) – quando inspiram o legislador e servem de fundamento ao ordenamento jurídico; b) normativa – seja quando aplicados diretamente (função normativa concorrente) sejam quando atuam como fonte supletiva (função normativa subsidiária), servindo como meio de integração nas lacunas ou omissões da lei; c) interpretativa – quando servem de critério orientador para o juiz ou interprete. O Direito do trabalho, assim como os demais ramos do direito, também se orienta por princípios. Princípios gerais, comuns a todos os ramos do direito, e princípios que lhe são peculiares. Divergem os autores na indicação dos princípios comuns ao Direito em geral, os mais indicados são: - o respeito à dignidade da pessoa humana; - o da boa fé (lealdade recíproca, isto é, cada uma das partes deve cumprir as obrigações que lhe competem); - a proibição de locupletamento ilícito (enriquecimento sem causa), etc. Pertencentes ao direito Civil aplicam-se ao Direito do trabalho os seguintes princípios: - da autonomia da vontade – art. 444 da CLT; - da força obrigatória dos contratos ( de que o contrato faz lei entre as partes) – do que decorre a pacta sunt servanda (os acordos devem ser cumpridos); - da exceptio non adimpleti contractus – em razão do qual nenhum dos contraentes, antes de cumprir sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro (art. 476 CC). Também não há unanimidade quando se trata de enumerar os princípios específicos (peculiares) do Direito do Trabalho. O prof. Amauri Mascaro Nascimento elenca como princípios universais do Direito do Trabalho: - da liberdade de trabalho; - do direito de organização sindical; - das garantias mínimas do trabalhador; - da multinormatividade do direito do trabalho; - da norma mais favorável ao trabalhador; - da igualdade salarial; - da justa remuneração; - do direito ao descanso; - do direito ao trabalho; - do direito à Previdência Social; - da condição mais benéfica. A doutrina mais recente parte da obra do uruguaio Américo Plá Rodriguez (Princípios de Direito do Trabalho, tradução Wagner Giglio. SP, LTr) que aponta seis princípios como do Direito do Trabalho: - da proteção ( ou da tutela) ; - da irrenunciabilidade de direitos; - da continuidade da relação de emprego; - da primazia da realidade; - da razoabilidade (conforme a razão, como procederia o homem comum) e - da boa fé (lealdade). Prof. Elsa Maria L S. Ferreira Pepino OAB-ES 4.962 _____________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ E-mail : elsapepino@hotmail.com Tel: - 9 9989 3003 2 Rebatem alguns autores que o princípio da razoabilidade, assim como o da boa fé, não se aplica apenas ao Direito do Trabalho. Logo, são considerados princípios específicos do Direito do Trabalho: a. Princípio da proteção ou da tutela Traduz a idéia de que a finalidade do Direito do Trabalho é alcançar a igualdade substancial entre as partes. Por conseqüência, é necessário proteger a parte frágil, o trabalhador hipossuficiente (economicamente mais fraco), de modo a equilibrar a relação desigual. Assim, a superioridade econômica do empregador em relação ao empregado é compensada pela superioridade jurídica conferida ao empregado por meio da proteção legal que lhe é dispensada. O princípio da proteção caracteriza-se pela intensa intervenção do Estado nas relações jurídicas entre empregado e empregador, impondo um conjunto de regras mínimas que devem ser observadas por todos os agentes sociais. Considera-se que o princípio da proteção se desdobra em três outros subprincípios: - o in dúbio pro operario (in dúbio pro misero) . É o in dubio pro reo do Direito Penal e aconselha que perante uma norma que permita mais de uma interpretação (razoável e distinta), deve prevalecer a interpretação que mais favoreça o empregado, por ser este a parte mais frágil da relação jurídica (regra de interpretação). Existe controvérsia a respeito de sua aplicação ao processo do trabalho. Dizem uns que ele é meramente inspirador do legislador; outros que ele se aplica integralmente, inclusive na fase instrutória do processo para valoração das provas dos fatos; e outros que ele não se aplica integralmente ao processo devido ao princípio da igualdade formal, mas pode ser utilizado quando houver fundada dúvida na interpretação da lei processual, hipótese em que a opção do interprete deve ser no sentido de adotar a postura que mais beneficiar o trabalhador. De qualquer modo, a utilização deste princípio pressupõe o preenchimento de dois requisitos: quando exista dúvida objetiva e razoável sobre o alcance da norma legal (não no caso de dúvida subjetiva do aplicador) e que a interpretação não ofenda a vontade expressa do legislador. - o da aplicação da norma mais favorável ao trabalhador. Existindo mais de uma norma sobre direitos trabalhistas incidindo sobre a mesma situação concreta, prevalecerá a que mais favoreça o empregado. Assim, o princípio da norma mais favorável pressupõe a existência de um conflito de normas, ou seja, a existência de uma multiplicidade de normas incidindo sobre uma mesma situação fática, exigindo que se determine qual a norma a ser aplicada especificamente. Nesse caso, determina o referido princípio que a opção deve recair sobre a norma que mais favorecer o empregado, desde que respeitado o mínimo legal (normas imperativas e proibitivas) e sem considerar a hierarquia formal da norma. Por exemplo, a Constituição Federal estabelece que o adicional de horas extras será de, no mínimo, 50% e a Convenção Coletiva da categoria fixa um adicional de 100%. Qual o aplicável em concreto? O mais favorável ao empregado. - o da condição (ou cláusula) mais benéfica. Corolário do direito adquirido (CF, art.5º, XXXVI), o princípio da condição mais benéfica atua no plano da execução do contrato e orienta no sentido de que as vantagens já conquistadas, mais benéficas ao trabalhador, não podem ser modificadas para pior (inalterabilidade contratual “in pejus”). É garantia da manutenção das cláusulas contratuais (tácitas ou expressas) mais benéficas. Desse modo, preserva ao longo do contrato as cláusulas contratuais mais vantajosas conquistadas pelo trabalhador, cláusulas que só podem ser suprimidas por uma cláusula posterior mais favorável. Encontra previsão na regra do art. 468 da CLT e é reconhecido expressamente pelo TST, haja vista as Súmulas 51, I e 288. b. Princípio da irrenunciabilidade de direitos/ Indisponibilidade dos direitos trabalhistas Prof. Elsa Maria L S. Ferreira Pepino OAB-ES 4.962 _____________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ E-mail : elsapepino@hotmail.com Tel: - 9 9989 3003 3 Por assegurarem condições mínimas de valorização do trabalho (vida digna), conferindo um patamar civilizatório para a sociedade, em regra, os direitos trabalhistas se apresentamcomo normas de ordem pública (imperativas), que se impõem independentemente da vontade de seus destinatários. Assim, o princípio da irrenunciabilidade/indisponibilidade/imperatividade das normas trabalhistas, traduz-se na impossibilidade jurídica do empregado voluntariamente abrir mão das vantagens que lhe são concedidas pelo Direito do Trabalho, ou seja, os direitos trabalhistas são irrenunciáveis e intransacionáveis pelo trabalhador. (Exemplo disso: Súmula 276 do TST, relativo à renuncia (ato unilateral de vontade) pelo empregado do direito ao aviso prévio). Encontra-se consagrado nos artigos 9º e 468 da CLT, o art. 9º da CLT deixa claro que serão nulos os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos trabalhistas. A Lei 13.467 (Reforma trabalhista), de 12 de julho de 2017, pela previsão acrescida pelo parágrafo único do art. 444, vai refletir neste princípio, pois autoriza o trabalhador portador de diploma superior e salário duas vezes maior que o teto do regime geral de previdência social, hoje R$ 11.062,62 (em 17/07/17), a negociar as cláusulas de seu contrato de trabalho. c. Princípio da continuidade da relação de emprego Em virtude da necessidade de segurança do ser humano, presume-se que o contrato de trabalho deve ter a maior duração possível, prolongando-se no tempo. A regra é o contrato de prazo indeterminado, um contrato de trato sucessivo, ou seja, que não se exaure com o cumprimento da prestação. Exemplos típicos da aplicação deste princípio encontram-se nos art. 10 e 448 e 448-A (acrescido com a Reforma Trabalhista) da CLT que tratam das alterações na estrutura da empresa e da sucessão de empresas, protegendo o trabalhador com a garantia da continuidade do contrato e de suas cláusulas, independentemente de alterações na estrutura ou no controle da empresa; também a Súmula 212 do TST é manifestação deste princípio. Da aplicação deste princípio decorrem várias consequências, por exemplo: - o contrato sobrevive à inexecução faltosa, permitindo, por exemplo, que o empregador puna disciplinarmente o empregado sem romper o vínculo; - a nulidade que alcance uma das cláusulas não contamina o contrato integralmente; - no caso de nulidade do contrato os efeitos são ex nunc, operam a partir do momento da declaração, já que não se pode restituir as coisas ao estado anterior, pois a energia do trabalho é irrecuperável e gera proveito para a empresa mesmo tendo nascido nulo; - o vínculo pode se perenizar pelos mecanismos da estabilidade e da garantia de emprego (limitações ao direito potestativo de romper o contrato do empregador); - o contrato pode sofrer paralisações temporárias (interrupções e suspensões) que não ensejam o seu fim; - a impessoalidade da entidade patronal, o empregado está ligado ao empreendimento e não ao empregador. d. Principio da primazia da realidade (princípio do contrato realidade) Significa que no Direito do Trabalho os fatos são muito mais importantes que os documentos (a forma), ou seja, o que em primeiro lugar interessa ao Direito do Trabalho é a prática concreta efetivada no mundo dos fatos (realidade) ao longo da prestação de serviços. Se houver discordância entre o que ocorre na prática e o que foi formalmente ajustado no contrato, prevalece o que sucede na realidade (é um modo de evitar simulações, fraudes e burlas). Por exemplo, na contratação de um vendedor como autônomo mediante um contrato de representação comercial, devem se verificar as condições fáticas da relação jurídica que é regida por lei específica, se deturpadas estas e presentes os elementos fático jurídicos da relação de Prof. Elsa Maria L S. Ferreira Pepino OAB-ES 4.962 _____________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ E-mail : elsapepino@hotmail.com Tel: - 9 9989 3003 4 emprego, pode vir a ser reconhecida a relação de emprego. Assim, a prática habitual pode alterar o que foi convencionado, criando novos direitos e obrigações para os contratantes. A estes princípios sistematizados por Américo Plá Rodriguez muitos outros são acrescentados pela doutrina, tais como: - Princípio das garantias mínimas ao trabalhador Significa que as partes, ao celebrarem o contrato, são livres para estipularem as condições que lhes aprouverem desde que respeitem as normas legais de proteção ao trabalhador – art. 444 da CLT. - Princípio da não discriminação (CF, art. 7º, XXX, XXXI, XXXII). Proíbe diferença de critério de admissão, de salário, etc, por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. Ex., a Lei 9.029/95 proíbe, textualmente, a exigência de atestados de gravidez e esterilização, e outras práticas discriminatórias, para efeito de admissão ou de permanência da relação de trabalho. Considera crimes tais práticas, prevendo, inclusive, as penas cabíveis, definindo como sujeitos ativos do crime a pessoa física do empregador, o representante legal do mesmo, o dirigente dos órgãos e entidades da administração pública. Prevê sanções administrativas e indenizações decorrentes do rompimento do pacto laboral (readmissão com pagamento integral de todo o período de afastamento, ou, indenização do período de afastamento em dobro). - princípio da irredutibilidade salarial (CF, art. 7º, VI). O salário do trabalhador somente pode ser reduzido por força de negociação coletiva. - princípio da intangibilidade e da impenhorabilidade (art. 442 da CLT). Protegem o salário de descontos abusivos. - Etc
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