Buscar

Disciplina Processos Grupais

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

*
*
DISCIPLINA: PROCESSOS GRUPAIS
Maria Luisa Gazabim Simões Ballarin
2013
*
*
Ementa
Estuda o conhecimento das principais concepções teóricas sobre grupo (abordagem psicanalítica, cognitiva e humanística) e o entendimento do uso das atividades humanas em diferentes processos grupais em Terapia Ocupacional (grupos abertos, grupos fechados, oficina de trabalho, oficina pedagógica, ateliês de centro de convivência).
*
*
OBjetivos
*
*
Conteúdo programático
*
*
Critérios de avaliação
*
*
Especificamente no que concerne à Terapia Ocupacional, é necessário ampliar cada vez mais o corpo de conhecimentos dos aspectos conceituais e técnicos relativos aos grupos e às abordagens grupais, de maneira que se possa subsidiar e fundamentar as ações dos profissionais que utilizam este recurso. Enfatiza-se a importância da formação do profissional e a necessidade do desenvolvimento de pesquisas neste campo.
 
Módulo I - INTRODUZINDO A TEMÁTICA
 
*
*
Afinal, como descreve Schwartzberg (2002) é ilógico ver o terapeuta ocupacional conduzindo grupos em seus atendimentos, sem considerar as propriedades únicas do grupo. Assim, é fundamental entende-lo como um valioso recurso e instrumental teórico-técnico e, não somente, como um encontro aleatório de pessoas, onde a ótica econômica predomina.
 
Assim, o que se pretende nesta disciplina é ampliar o entendimento acerca desta temática.
*
*
Problematizando.....
*
*
A diversidade de situações e contextos nas quais as formas de atendimento grupal podem ser empregadas na Terapia Ocupacional, bem como a pluralidade de abordagens e referenciais teórico-práticos existentes são aspectos relevantes e justificam uma incursão mais detalhada neste campo.
 
I. ASPECTOS HISTÓRICOS RELATIVOS À COMPREENSÃO DOS GRUPOS
*
*
Séc. XVIIIsurge noção de grupo  REUNIÃO DE PESSOAS
 
Anteriormente o conceito relacionava-se ao vocábulo italiano “GROPPO ou GRUPPO” que significava:
“um conjunto de pessoas esculpidas ou pintadas na época do renascimento, diferenciando-se das esculturas medievais sobrepostas junto aos edifícios”.
Escultura do período medieval
*
*
Referências anteriores atribuíam ainda ao termo italiano “groppo” o significado de “NÓ”.
 
Foi a partir do séc. XVIII (capitalismo liberal atinge seu apogeu) que a perspectiva da Idéia de grupo 
REUNIÃO DE PESSOAS - começa a se desenvolver
 
*
*
Final do séc. XVIII e inicio do séc. XIX 
 
Surge a preocupação com o conceito de massas, de grandes aglomerações de pessoas - enfatiza-se o estudo de:
Gabriel Tarde (francês) - A OPINIÃO E AS MASSAS é um marco sociológico
 
1855 	
Le Bon - apresenta a descrição de uma mente grupal
O homem seria dotado de uma alma coletiva
 
*
*
Início do século XX
 
1905
Pratt - desenvolve o trabalho voltado à recuperação de pacientes tuberculosos.
Teorias freudianas passam a influenciar a psicologia social. Freud nunca desenvolveu um trabalho diretamente com grupos.
 
1910
Em Totem e Tabu formula a idéia de que por intermédio do inconsciente a humanidade transmite suas leis sociais, assim como estas produzem a cultura.
*
*
1920
Mc Dougall - (Livro “A mente grupal”)
Forte influência nos EUA - estimula o ensino da Psicologia Social nas universidades americanas 
Início deste século  começa a emergir o interesse pelos pequenos agrupamentos.
 
1921
No livro “Psicologia das massas e análise do ego”, Freud descreve:
Processos identificatórios (projetivos e introjetivos) vinculam as pessoas e os grupos
As lideranças e as forças que influenciam na coesão e na desagregação dos grupos
*
*
1930
J. Moreno (médico romeno) introduziu a expressão Terapia de Grupo e formulou a teoria do Psicodrama.
 
1939 a 1946
Kurt Lewin marcou um período de importância fundamental no estudo dos fenômenos de grupo. A análise geral e científica dos caracteres da vida dos grupos foi chamada por Kurt Lewin de DINÂMICA DE GRUPO.
 
*
*
Considerando alguns dados apresentados cronologicamente é correto afirmar que:
 
a compreensão dos grupos enquanto instrumental teórico-técnico requer o conhecimento de teorias oriundas de outras áreas do conhecimento que gradualmente foram se consolidando, especialmente no decorrer do século XIX. 
 
Áreas como sociologia, filosofia, economia, psicologia, entre outras, muito contribuíram para o entendimento do funcionamento dos grupos.
 
 
 
*
*
Do ponto de vista do cenário sócio-político, pode se dizer que as bases teóricas e práticas das terapias de grupo foram criadas entre os anos de:
			
			1925 e 1945. 
 
O cenário político e econômico em que se encontravam os países da América do Norte e Europa, no período de guerra e pós-guerra, propiciaram um contexto favorável ao desenvolvimento de trabalhos e pesquisas com grupos. 
*
*
CONCEITUAÇÃO DE GRUPO
Podemos dizer que:
Característico do ser humano  reunir-se em grupo
 
O homem é um ser gregário
 
O homem tem seu destino ligado ao funcionamento dos grupos
 
 Não é possível ter uma visão lúcida do homem sem ter uma visão lúcida, também, dos grupos humanos com os quais ele interage.
 
*
*
CAMPO GRUPAL
 
Em qualquer grupo constituído se forma um campo grupal dinâmico:
 
 Composto por múltiplos fenômenos e elementos do psiquismo
 
 Estrutura  todos os elementos (intra e intersubjetivos) estão articulados entre si, de tal modo que a alteração de cada um deles vai repercutir sobre os demais, em uma interação entre todos.
 
 
				 
				Campo grupal (esquematizado)
*
*
GRUPO
 
Não é um mero somatório de indivíduos e sim, uma NOVA ENTIDADE que se constitui.
Um grupo é constituído por um conjunto de pessoas em relação umas com as outras e que se uniram por diversas razões:
Vida familiar
Uma atividade cultural
Profissional
Religiosa
Política
Esportiva
Amizade, entre outras.
 
*
*
Apesar, de um grupo se constituir como nova entidade, com uma identidade grupal própria e genuína, é também indispensável que fiquem claramente preservadas, separadamente, as identidades específicas de cada um dos indivíduos componentes do grupo. 
*
*
*
*
Todos os grupos parecem funcionar segundo processos que lhes são comuns, mas que não se tem costume de observar espontaneamente.
 
Processos  determinados por leis e fenômenos
			 Estudados pela DINÂMICA DE GRUPO
			 Referem-se essencialmente a:
 
coesão 
Kurt Lewin  grupo  sistema de forças
	
forças do desenvolvimento - impulsionam o grupo para os fins que ele se atribui
forças de coesão - motivam os membros do grupo a permanecer no grupo
 
*
*
comunicações
 
A noção de comunicações foi importada da cibernética para a psicologia dos grupos
 
A natureza das comunidades sociais depende, em larga medida, de seus modos intrínsecos de comunicação  de como se podem estabelecer as trocas no interior do grupo
 
Tipos de comunicação:
rede formal - (relatórios, circulares de empresas)
 
rede informal - (boatos, comentários nos corredores)
 
*
*
Distinguem-se:
 
Os processos de comunicação
Atitude e comportamento de cada um dos membros do grupo
Os aspectos verbais ou não verbais 
Maneira como circula a informação (cadeia, estrela e círculo)
 
comportamento desviante 
 
Pode-se observar uma pressão no sentido da uniformidade que implica como conseqüência, rejeição aqueles que desviam dos membros e que não adotaram os valores, normas e/ou finalidade do grupo.
 
*
*
O membro que desvia coloca um problema para o grupo:
Ao mesmo tempo em que se tende rejeitá-lo, pode-se formular a hipótese de que ele poderia trazer para o grupo elementos novos de solução para os problemas que o grupo se coloca.
 
resistência à mudança
 
criatividade dos grupos
*
*
O primeiro grupo social que nos inserimos é a família.
*
*
FAMÍLIA COMO GRUPO PRIMORDIAL
FAMÍLIA –	não designa uma unidade padrão, fixa e invariável. Adotaram-se ao longo dos tempos, formas e mecanismos diversos constituídos sobre princípios morais e psicológicos diferentes e ainda contraditórios.
 
 
 
 
*
*
CONDIÇÃO NEOTÊNICA – na espécie humana, a impossibilidade de sua descendência sobreviver sem cuidados nos primeiros anos de vida foi responsável pelo surgimento do núcleo familiar como agente de perpetuação. 
A família tornou-se o modelo natural para assegurar sobrevivência biológica; propiciando simultaneamente a matriz para o desenvolvimento psíquico e a aprendizagem da interação social.
*
*
*
*
Definição (de cunho operativo)
 
“A família é unidade grupal onde se desenvolvem três tipos de relações pessoais – aliança (casal), filiação (pais/filhos) e consangüinidade (irmãos) – e que a partir dos objetivos genéricos de preservar a espécie, nutrir e proteger a descendência e fornecer-lhe condições para aquisição de suas identidades pessoais desenvolveu através dos tempos funções diversificadas de transmissão de valores éticos, estéticos, religiosos e culturais”.
 
*
*
GRUPO FAMILIAR NUCLEAR
 
Pode ser considerado o PROTÓTIPO de todos os demais grupos. É muito mais que a soma isolada dos indivíduos que a compõem, é uma entidade nova. 
 
Existe uma vivência de experiências emocionais e uma interação afetiva; interação comunicativa, hierarquia de posições e papéis; jogo de projeções e introjeções e, sobretudo formação de identidades, resultantes das identificações com os valores, predições e expectativas dos pais, e destes com seus respectivos pais, em uma condição de no mínimo três gerações.
*
*
Porque trabalhar com grupos?
*
*
	Muito do aprendizado social se realiza em grupo.
	
	Os grupos podem funcionar como catalisadores para o 	desenvolvimento de recursos e habilidades latentes.
	
	Os integrantes de um grupo podem aprender com o 	feedback dos outros.
	
	O grupo pode oferecer um contexto pertinente onde os 	indivíduos compartilham problemas, experiências e 	insights.
	
	Alguns fenômenos psíquicos são exclusivos do 	acontecimento grupal.
 
*
*
Existem grupos de todos os tipos, e uma primeira subdivisão que se faz necessária é a que diferencia 
	
Os grandes grupos (pertencem à área da macro-sociologia) dos pequenos grupos (micropsicologia). 
 
Em linhas gerais, os microgrupos - como é o caso de um grupo terapêutico - costumam reproduzir, em miniatura, as características sócio-econômica-políticas e a dinâmica psicológica dos grandes grupos.
*
*
Em relação aos pequenos grupos também se impõe uma necessária distinção entre:
			
Grupo agrupamento e grupo propriamente dito. 
Por agrupamento 
	Entendemos um conjunto de pessoas que 	convive partilhando de um mesmo espaço e que 	guardam entre si uma potencialidade 	para 	constituir um grupo propriamente dito.
 
			"serialidade" de pessoas, como no 				caso de uma fila à espera de um 					ônibus: 
				essas pessoas compartem um 					mesmo interesse, apesar de não 					estar havendo o menor vínculo 					emocional entre elas, até que um 				determinado incidente pode 						modificar toda a configuração 					grupal.
 
*
*
*
*
CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS GRUPOS - Segundo o critério das finalidades a que se destina 
*
*
GRUPOS OPERATIVOS 
GRUPO - conjunto de pessoas que ligadas por constantes de tempo e espaço, e articuladas por sua mútua representação interna, se propõem de forma explícita ou implícita à realização de uma tarefa que constitui sua finalidade, inter-atuando para isso através de complexos mecanismos.
 
GRUPO OPERATIVO - Deve ser necessariamente dinâmico, reflexivo e democrático. É uma maneira de abordar a coordenação de grupos de trabalho. Não é um termo utilizado para se referir somente a uma técnica específica de coordenação de grupos, nem a um determinado tipo de grupo, mas se refere a uma forma de pensar e operar em grupos, podendo ser aplicada à coordenação de diversos tipos de grupos.
*
*
Enrique Pichón Rivière - ao formular as teorias sobre grupos operativos, pela primeira vez, oferece a possibilidade de integrar as teorias de KURT LEWIN, conceitos psicanalíticos (FREUDIANOS E KLEINIANOS), os axiomas da PSICOLOGIA SOCIAL, as TEORIAS DE COMUNICAÇÃO, entre outras áreas de conhecimento.
 
				 
Enrique Pichón Rivière
*
*
Toda teoria de PICHÓN pode ser descrita a partir do
 
ECRO	ESQUEMA CONCEITUAL 			REFERENCIAL OPERATIVO
 
Os GRUPOS OPERATIVOS, em geral, em qualquer de seus múltiplos campos de aplicação, apontam como OBJETIVO, identificar os obstáculos que a tarefa oferece ao grupo.
 
PICHÓN costumava dizer:
“Não se trata de curar, mas de resolver os obstáculos que freiam o desenvolvimento do indivíduo no grupo, isto é, colocá-lo em melhores condições de encontrar as próprias soluções”. 
 
 
 
*
*
PORTA VOZ
Este conceito foi formulado por PICHÓN ao estudar famílias de pacientes psiquiátricos.
 
Alguns fatos presentes do aqui e agora do grupo re-atualizam acontecimentos históricos de cada um dos integrantes, em cada situação emergirão distintos integrantes, que se converterão em Porta vozes do conflito que é vivido como próprio por cada um, mas que denuncia, ao mesmo tempo, o conflito da situação grupal em relação à tarefa. 
 
PORTA VOZ  aquele que diz algo num determinado momento e o que ele diz ou faz é signo de um processo que estava latente. Ele denuncia o acontecer grupal, as fantasias, ansiedades e necessidades do grupo. Fala não somente por si, mas por todos.
 
 
*
*
TEORIA DO JOGO DOS TRÊS “D”
A doença Mental não é de um indivíduo isolado, mas o resultado da patologia de seu grupo familiar.
 
O doente desempenha o papel e é porta voz dessa situação, aí se dá o jogo das depositações, o jogo das três letras.
DOENTE MENTAL  DEPOSITÁRIO
(de toda patologia e ansiedade do grupo familiar)
 
GRUPO FAMILIAR  DEPOSITANTE
 
ANSIEDADES E PATOLOGIAS
 DEPOSITADO
 
 
*
*
GRUPOS ANALÍTICOS
 
Denominação polêmica
		Psicanálise em grupo – interpret. indiv.
		Psicanálise de grupo – interpret. grupal
		Psicoterapia analítica de grupo (Foulkes)
Bion
*
*
CONTRIBUIÇÕES DE BION
Para BION o homem é um animal de grupo, um animal gregário, o que significa que fenômenos mentais grupais são inerentes a mente humana. Eles podem não ser a todo momento perceptíveis mas estão lá.
Através da observação, BION criou e formulou suas teorias.
 
*
*
Mentalidade grupal
Um grupo usualmente funciona como uma unidade mesmo, quando seus membros, não tem consciência disso.
 
Cultura grupal
É o resultado da inter-relação entre mentalidade grupal e os desejos dos indivíduos.
Alguns aspectos da mentalidade grupal, BION designou de suposições básicas.
 
Suposições básicas
São estruturas específicas relativas às formas de funcionamento adotadas por um grupo numa dada situação, num determinado momento.
 
 
Dependência: 	líder formal é visto como aquele que pode suprir e cuidar totalmente do grupo.
 
*
*
Luta-fuga: 	convicção de que existe um inimigo que deve ser combatido e evitado.
 
Acasalamento:	crença do grupo (ics) de que os problemas serão solucionados no futuro por alguém ou algo.
 
BION fundamenta muitos aspectos de sua teoria nos conceitos KLEINIANOS (objeto parcial, ansiedades persecutórias, mecanismos primitivos de defesa).
 
Grupo de trabalho
É um grupo que funciona de modo maduro em busca de uma solução harmoniosa, embora trabalhosa, para suas necessidades objetivas. Contrapõe-se ao grupo de suposição básica.
*
*
*
*
Valência 
Indica maior ou menor capacidade de cada indivíduo dentro do grupo para participar das suposições básicas.
 
*
*
AS CONTRIBUIÇÕES DE WINNICOTT
Para Winnicott - o ser humano é sempre um indivíduo em sociedade e em interação com o outro e o mundo.
*
*
 Ele desenvolveu seus estudos na Inglaterra nas décadas de 30 a 70.
Observou fundamentalmente o relacionamento da mãe - criança e a família 
 
INTEGRAÇÃO E HOLDING
*
*
Após o nascimento –
Criança representa uma soma de partes não integradas.
Aos poucos vai integrando essas partes e tomando consciência de sua identidade; vai gradativamente diferenciando o mundo ao seu redor.
Há uma integração no tempo e no espaço até o momento de maturação e a efetivação do processo de individuação.
 
PARA QUE ESTE PROCESSO 
OCORRA DE
MODO SATISFATÓRIO É NECESSÁRIO O 						HOLDING ADEQUADO.
	
HOLDING (sustentar, manter, conter), o holding adequado – suprimento de afeto materno, calor, proteção e outras sensações indispensáveis aos sentimentos de segurança e bem-estar do bebe.
					Falhas dessa função materna 					podem despertar sensações de 					angustias e desintegração 
 HOLDING é o principal atributo do 
SETTING ANALÍTICO (espaço e limite, conteúdo e continente, segurança e risco)
 
A FUNÇÃO DO HOLDING é exercida pelo terapeuta e pela matriz grupal (sentimento de pertencer a um grupo). O grupo em sua evolução repete o desenvolvimento do indivíduo.
*
*
OBJETOS E FENÔMENOS TRANSICIONAIS
São aqueles em que a criança se liga para substituir transitoriamente a figura materna da qual precisa se individualizar.
 
São vivenciados como objetos ao mesmo tempo interno e externo, e localizam-se sempre segundo o bebe, dentro, fora e na fronteira entre bebe e mãe (é uma área intermediária de experiência).
 
É a jornada do bebê entre o objetivo e o subjetivo. Supõe-se que o pensar e o fantasiar se relacionem com esta experiência. A área onde acontecem essas experiências é denominada de espaço potencial.
 
			
*
*
 
No setting analítico, a existência do espaço potencial e a possibilidade do grupo funcionar em clima de liberdade favorecem o desenvolvimento dos múltiplos processos de criatividade.
O VERDADEIRO E FALSO SELF
O self verdadeiro – começa a se estruturar através da força dada ao ego fraco do latente, pela complementação da mãe (a mãe suficientemente boa é capaz de alimentar a onipotência da criança).
 
O falso self – se inicia quando a mãe não é suficientemente boa. Neste caso ela não é capaz de exercer a função de alimentar a onipotência do bebe. Desta forma ela substitui pelo seu próprio gesto, que deve ser validado pela submissão do latente. É o resultado da inabilidade da mãe em sentir as necessidades do filho. 
 
 
 
*
*
OS GRUPOS EM TERAPIA OCUPACIONAL
Breve revisão dos grupos na Terapia Ocupacional
No que concerne à Terapia Ocupacional, pode-se dizer que a perspectiva de utilização de atividades com grupos foi sistematicamente empregada nos E.U.A. desde a década de trinta. O enfoque inicial dado aos trabalhos desenvolvidos com grupos neste período foi o da socialização de doentes mentais. Este enfoque se manteve até a década de cinqüenta, quando os neurolépticos foram introduzidos no tratamento dos pacientes, permitindo um maior controle dos sintomas. Conseqüentemente, foi possível um maior investimento em pesquisas e outros aspectos práticos.
 
A utilização dos grupos como forma de tratamento se intensificou, nas décadas seguintes. A influência de diferentes abordagens (psicanalítica, a cognitiva, a humanista, etc.) foi observada nos trabalhos desenvolvidos por estudiosos como Gail Fidler, Mosey, Kaplan, Schuwartzberg, entre outros. 
 
Fidler & Fidler (1963) descrevem o terapeuta ocupacional como líder do grupo e responsável pela atmosfera emocional. Referem que o grupo apresenta um potencial terapêutico e tem por objetivo possibilitar a expressão e a gratificação de ansiedades. Posteriormente, Fidler (1969) enfatiza o grupo enquanto espaço que facilita o aprendizado e as mudanças de comportamento. Refere-se aos grupos orientados para tarefa (task-group) com objetivo de reforçar as funções egóicas e o desenvolvimento das funções adaptativas. 
*
*
Na década de setenta, Mosey (1970, 1973) define o grupo como uma unidade dinâmica, abordando capacidade de integração grupal, a partir de uma visão que adota como referencial o processo de desenvolvimento normal e seus aspectos funcionais. 
 
A autora classifica cinco tipos de grupo: paralelo, de projeto, egocêntrico, cooperativo e maduro. A função do terapeuta ocupacional seria promover o desenvolvimento de diversas facetas do self dos pacientes.
 
Suchwartzberg (2002) relaciona as várias condutas empregadas no grupo de Terapia Ocupacional com as suas respectivas perspectivas teóricas. Assim, refere-se aos modelos de grupo funcional, psico-educacional, terapia de grupo diretiva, concepções que foram desenvolvidas a partir da década de oitenta.
*
*
Os estudos sobre grupos no Brasil
No Brasil, os estudos sobre grupos ganharam ênfase somente em meados da década de oitenta, quando trabalhos como os de Benetton, Ferrari, Maximino, Tedesco, Ballarin, Samea e outros, foram sendo desenvolvidos.
 
Benetton (1991) descreve dois tipos de dinâmica relacionados ao uso das atividades, o grupo de atividades e a atividade grupal. No grupo de atividades cada integrante realiza sua atividade e mantém com o terapeuta uma relação individual; já na atividade grupal, os integrantes do grupo realizam uma única atividade em conjunto de modo que o terapeuta pode manter a relação de conjunto do grupo.
 
Ferrari (1991) ressalta a importância dos grupos ditos não-verbais, cujas atividades são utilizadas, enquanto mediadoras da relação terapeuta-paciente-grupo, com o objetivo de ampliar a expressão e a experimentação de outras formas de comunicação. A partir de atividades que possuem forte carga e potenciais expressivos, o grupo pode comunicar conteúdos internos e experimentar outras formas de se relacionar com o fazer.
*
*
Tedesco (1995) a partir de uma análise contextual sobre a intervenção do terapeuta ocupacional na clínica de fármaco-depêndencia, apresenta observações pertinentes ao trabalho com grupos.
 
Maximino (1997) realiza uma detalhada revisão bibliográfica sobre os grupos em terapia ocupacional e descreve seu funcionamento, entendendo-o, fundamentalmente, como espaço potencial e como caixa de ressonância. Enquanto espaço potencial, o grupo de atividades deve propiciar um ambiente confiável para que o paciente arrisque, de maneira gradual, estabelecer relações e usar objetos, sendo estimulado à experimentação. 
 
Enquanto caixa de ressonância, o grupo pode funcionar ampliando as possibilidades de intervenção, pois as intervenções dirigidas a um paciente podem atingir o grupo como um todo. Procura ainda, estabelecer uma relação entre a constituição do grupo e do sujeito, baseando-se para isso nas teorias de Winnicott.
 
*
*
Ballarin (2001) desenvolve um estudo teórico clínico sobre a Terapia Ocupacional, no contexto de atendimento a grupos de atividades, partindo de um referencial psicodinâmico e ressaltando aspectos práticos sobre o manejo grupal.
Ao utilizar referenciais teórico-práticos formulados por E.Pichon-Rivière sobre os grupos operativos, Samea (2002) procura estabelecer relações com os grupos em Terapia Ocupacional.
 
Pode se dizer que a análise dos trabalhos elaborados por esses terapeutas ocupacionais brasileiros evidencia, por um lado, a influência de referenciais teóricos pertinentes à psicanálise e a psicologia social, considerando-se as diferentes vertentes e, por outro, a perspectiva de buscar uma articulação com os fundamentos da Terapia Ocupacional, com vistas à construção de um campo de conhecimento que fundamente as ações dos profissionais que utilizam este recurso.
 
*
*
RESUMINDO O CONTEÚDO TEMÁTICO
 
década de 30
 
Nos E.U.A, os grupos eram empregados, com enfoque inicial voltado a objetivos relacionados à socialização.
 
década de 50
Introdução dos neurolépticos
Influência de novos estudos sobre grupos
 
*
*
Os profissionais que utilizavam esse recurso puderam
desenvolver outras metas terapêuticas que não restritas apenas à socialização, contribuindo para o desenvolvimento de pesquisa e avanços nesta área. 	
 
(HOWE & SCHWARTZBERG, 1986)
década de 60
 
Constata-se uma diversidade de trabalhos relacionados a grupos em Terapia Ocupacional. 
Alguns desses trabalhos descrevem experiências clínicas com grupos, outros buscam desenvolver os aspectos teóricos pertinentes a este tema.
 
Naquele período, mostraram-se importantes trabalhos de autores norte americanos, canadenses, ingleses, tais como:
 
 
 
*
*
FIDLER & FIDLER (1963) 
 
 Grupo como potencial terapêutico
 
 
 
AZIMA & AZIMA (1965) 
 
 
 Grupo como situação terapêutica
 
 
décadas seguintes
 
MOSEY (1970) – aborda a capacidade de interação grupal e classifica cinco tipos de grupos
 
*
*
MACDONALD et al. (1972) - grupo como meio de encorajar o relacionamento
 
SCHUMAN et al. (1973) - grupo como espaço de expressão de sentimentos
 
DE CARLO & MANN (1985) - buscam avaliar a eficácia de grupos verbais quando comparados a grupos de atividades
 
HARRIES (1992) - descreve a utilização da projective art com grupos de pacientes
 
LLOYD & MAAS (1997) - o sucesso do trabalho em grupo relaciona-se às atitudes e embasamento teórico do terapeuta ocupacional, que tem responsabilidade de propiciar um ambiente que favoreça a coesão grupal.
 
 
 
 
*
*
No Brasil destacam-se os trabalhos de:
 
BENETTON (1991)
 
FERRARI (1991)
 
MAXIMINO(1995)
 
BALLARIN (1995)
 
 
*
*
REFLETINDO SOBRE OS GRUPOS EM TERAPIA OCUPACIONAL
ASPECTOS RELEVANTES:
 
Um grupo de atividades em Terapia Ocupacional define-se como aquele onde os pacientes se reúnem num mesmo espaço de tempo, na presença do terapeuta ocupacional, com o objetivo de realizarem uma atividade, vivenciando assim, experiências relacionadas ao fazer.
 
A dinâmica de funcionamento de um grupo de atividades de Terapia Ocupacional é determinada pelos participantes do grupo, incluindo a dinâmica que se estabelece entre os pacientes, e a relação destes com a atividade.
Papel e as intervenções do coordenador-líder formal, no caso o terapeuta ocupacional, são relevantes no encaminhamento do processo terapêutico e na dinâmica de funcionamento do grupo.
*
*
As funções do coordenador do grupo de atividades, no caso, o terapeuta ocupacional
 
 
	 
planejar
facilitar
instrumentalizar
coordenar
 
*
*
Algumas questões técnicas
FUNÇÃO DE PLANEJAR
Constituição e a formação do grupo
Estabelecimento do contrato terapêutico
Preparação do ambiente e dos recursos materiais
FUNÇÃO DE FACILITAR 
Associada as idéias de continência e holding
*
*
 
FUNÇÃO DE INSTRUMENTALIZAR — 	ENSINAR 
Análise da atividade
 
FUNÇÃO DE COORDENAR 
Associada às intervenções da terapeuta ocupacional 
(movimentos transferenciais e contratransferenciais)
*
*
*
*
Quando as funções de planejar, facilitar, instrumentalizar e coordenar/intervir - são exercidas adequadamente pelo terapeuta ocupacional, os acontecimentos vivenciados no grupo ganham outras dimensões, a partir das quais, o grupo pode ser entendido como um espaço potencial, ampliando-se assim, as possibilidades de compreendê-lo como um instrumental rico e significativo, tanto do ponto de vista da assistência, como no ensino e na pesquisa.
 
Além dos aspectos descritos, devemos ainda, enfatizar a importância dos aspectos que se referem aos atributos subjetivos da figura do coordenador.
*
*
ATRIBUTOS SUBJETIVOS
	Se relacionam a todos os elementos que 		subsidiam, enriquecem e consolidam as 		experiências do profissional no campo 		em questão. 
	Se relacionam inclusive, com a formação 		pessoal.
Neste sentido, há que se desenvolver habilidades e competências para:
Estar com,
Fazer junto,
Fazer para, 
Estar atento,
Trabalhar para que ocorra
Tentar
Desafiar
Saber observar
Provocar	 E, SOBRETUDO,
				CUIDAR !!!
 
*
*
APREENDER O SENTIDO DO CUIDAR DOS OUTROS E DE NÓS MESMOS.
Para cuidar é necessário provocar o sentido da:
		indignação, 
		paixão, 	
		compromisso, 
		ética.
*
*
Assim, para cuidar é necessário aprender a observar. 
 
Não aquilo que estamos acostumados a ver, mas aquilo que por vezes não se vê com facilidade.
 
 
Vejamos como anda nossa habilidade para OBSERVAR ?
 
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
Assim, tanto numa atividade grupal, como num grupo de atividades é importante observar:
O ambiente, 
Os materiais,
Os participantes do grupo, 
A relação que esses participantes estabelecem com o coordenador, entre si e com a atividade (seja ela passeio, artesanal, de higiene, de trabalho, etc.)
*
*
Por fim, 
 
Devemos discorrer sobre o manejo e a dinâmica de funcionamento do grupo. Esta deve contar com três etapas, DESCRITAS COMO:
 
ETAPA INICIAL			
 
ETAPA DO TRABALHO
 
ETAPA FINAL
*
*
ETAPA INICIAL
 
Tem por objetivo possibilitar uma “aproximação” entre os participantes do grupo. Nessa etapa busca-se:
Apresentar os participantes do grupo
Apresentar as propostas e os objetivos
Conhecer as expectativas do grupo
Apresentar normas de funcionamento 
 
Diferentes dinâmicas podem ser introduzidas nesta etapa, jogos verbais, exercícios de aquecimento e sensibilização.
*
*
ETAPA DO TRABALHO
 
Tem por objetivo trabalhar a problemática do grupo, considerando-se os objetivos terapêuticos estabelecidos. É uma etapa bastante dinâmica, que no caso da Terapia Ocupacional, pode envolver diferentes procedimentos e recursos técnicos. O coordenador assume grande responsabilidade pela escolha e a forma de condução do trabalho
Relaxamento, dramatização, realização de atividades, entre outras. Vale ressaltar a importância de:
 
Respeitar os ritmos de cada um
Observar os processos não verbais 
Trabalhar com a exploração do material.
*
*
ETAPA FINAL: 
 
É um momento de síntese, de abertura de discussão para o grupo, de compartilhar sentimentos, de encaminhar, quando possível, as propostas de continuidade dos trabalhos.
Esse processo pode ser descrito considerando-se:
comentários de cada um dos elementos do grupo.
A apresentação dos sentimentos, sensações e trabalhos realizados.
A ênfase em alguns trabalhos.
A ênfase na dinâmica grupal.
A arrumação dos materiais e do local (quando possível).
*
*
Quanto as características dos grupos, estes podem ser:
Aberto Aberto 
Semi-aberto
 
Fechado
 
Quanto ao número de participantes
Estes podem variar de acordo com a abordagem proposta, ao nosso ver devem compor-se de:
06 a 10 integrantes.
 
Quanto ao tempo de atendimento por sessão
O tempo de duração dos atendimentos grupais também, variam, podendo ser:
Sessenta à uma hora e trinta minutos
 
Quanto ao contrato terapêutico
Deve-se considerar:
Local de atendimento, 
Tempo de duração da sessão, 
Número de atendimento por semana,
Número de participantes do grupo,
Materiais e equipamentos (relação com o fazer)
 
*
*
Para concluir, ao falarmos em processo grupal, compartilhamos das idéias de LANE (1984) e MARTÍN-BARÓ (1989) que nos 
 
 “remetem ao fato do próprio grupo ser uma experiência histórica, que se constrói num determinado tempo e espaço, fruto das relações que vão ocorrendo no cotidiano, e ao mesmo tempo, traz para a experiência presente vários aspectos gerais da sociedade, expressas nas contradições que emergem no grupo”. 
 
E para terminar trago um poema...
		A vida é assim:
		Esquenta e esfria;
		Aperta e daí afrouxa;
		Sossega e depois desinquieta;
		O que ela quer da gente é:				
						CORAGEM !
								
				 (Guimarães Rosa)

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando