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16 • Como vemos o futuro? • O que buscamos alcançar a longo prazo? • Para onde vamos a partir de onde estamos agora? Finalmente, os valores estão concentrados em estabelecer as crenças que orientarão o comportamento da empresa no mercado e na sociedade, bem como quais serão os padrões éticos a serem por ela adotados. Assim, o real entendimento da organização tem inicio com o conhecimento destes três componentes – missão, visão e valores, que fazem parte de seu DNA e que orientam o estabelecimento de seus objetivos estratégicos de longo prazo. Por outro lado, as organizações não existem no vazio, mas atuam em mercados dinâmicos sendo importante que o cenário desta atuação também seja explorado, pela percepção sobre ambientes alternativos futuros que tragam oportunidades e apresentem ameaças para a organização. Isto permite que sejam estabelecidas as estratégias visando eliminar vulnerabilidades e explorar pontes fortes, fazendo que a empresa se adeque aos cenários que terá de enfrentar ao longo de sua atuação no mercado. O entendimento destes aspectos por parte dos responsáveis pela conceituação dos sistemas de inteligência de negócios permitirá que eles tomem conhecimento dos principais focos de interesse da organização para a implementação e utilização destes sistemas. A literatura de administração estratégica nos fornece diversos subsídios voltados ao desenvolvimento desta visão. Neste capítulo, pretende-se apresentar, ainda que maneira sumária, algumas ferramentas auxiliares para assegurar que os sistemas desenvolvidos estejam alinhados com as necessidades da organização e de seus principais gestores. São elas a análise estrutural do mercado, a cadeia de valor e os fatores críticos de sucesso. Será também feita menção à análise SWOT, como complemento à análise estrutural do mercado. A análise estrutural do mercado surgiu dos trabalhos de Michel Porter, registrados em seu livro Competitive Strategy: Techniques for Analysing Industries and Competitors originalmente publicado pela The Free Press. A cadeia de valor também teve origem com Porter, agora em seu livro Competitive Advantage: Creating and Sustaining Superior Performance, desta mesma editora. Já os conceitos dos fatores críticos de sucesso surgiram na literatura através do artigo de Ronald Daniel “Management Information Crisis”, mas apenas ganharam atenção anos mais tarde nos trabalhos de John Rockart, em diversos artigos por ele publicados em suas atividades no CISR – Center foi Information Systems Research do MIT – Massachussets Institute of Technology. Nos próximos itens procurar-se-á explicar como estes conceitos podem ser aplicados para fornecer uma visão do negócio essencial para fundamentar o desenvolvimento de aplicações de apoio à decisão. 2.1 A Análise Estrutural do Mercado Em um mercado ou indústria que apresente condições atraentes de rentabilidade, algumas organizações se destacam e outras não conseguem atingir níveis adequados de lucratividade, chegando eventualmente a desaparecer. Como explicar estas diferenças quando em uma economia aberta as oportunidades devem, em princípio, serem iguais para todos os participantes? 17 Segundo Porter, a resposta está no fato que as organizações utilizam diferentes estratégias para lidar com as cinco forças competitivas presentes no mercado – a rivalidade entre os concorrentes, o poder de barganha dos fornecedores e dos compradores, as barreiras de entrada no mercado para novos concorrentes e a ameaça representada por produtos ou serviços substitutos. A ação conjugada destas cinco forças, conforme representada na figura 2-1, e a estratégia adotada para tratá-las determina a condição da organização em obter, a longo prazo, rentabilidades compatíveis com os custos de capital e dentro das expectativas dos investidores. Estas cinco forças são determinantes para a rentabilidade da organização desde que elas exercem influência direta nos preços praticados, nos custos incorridos e nos investimentos necessários para a permanência no mercado. A rivalidade entre concorrentes nasce da essência da livre competição no mercado, mas pode ocorrer com maior ou menor intensidade em função de algumas características da indústria, tais como: • Taxa de crescimento– em mercados em rápido crescimento, a rivalidade tende a ser mais amena, já que provavelmente há oportunidades para todos; • Existência de excesso de capacidade – mercados em declínio ou naqueles em que ocorreu excesso de investimentos em infraestrutura durante um período de prosperidade, apresentam maior rivalidade, já que há uma tendência natural em se aproveitar a capacidade ociosa adotando estratégias agressivas perante o mercado; • A força da marca de um produto específico ou a clara superioridade de um deles frente aos demais acirra os esforços dos concorrentes para diminuir ou eliminar esta vantagem competitiva; • Custos de troca mais elevados de produtos e serviços diminuem as tentativas de convencimento para mudanças, amenizando a rivalidade entre concorrentes; 18 • A existência de barreiras para a saída de mercados em declínio acirra a competição, já que impossibilitados de abandoná-lo, os concorrentes procuram a todo custo manter sua fatia de mercado; As barreiras de entrada em mercados com rentabilidades atraentes trazem conforto a seus atuais participantes, já que dificultam o acesso de novos concorrentes, mantendo o status quo. Usualmente estas barreiras decorrem de diversos fatores: • Necessidade de altos investimentos em equipamentos, conhecimento e sistemas; • Complexidade da logística de distribuição; • Existência de patentes; • Força da marca de algum produto dominante no mercado; • Tecnologia proprietária para projeto ou produção de produtos; • Regulamentação governamental, protegendo o mercado de novos entrantes; • Necessidade de processos e sistemas complexos e proprietários para as operações da empresa; • Existência de economias de escala, já usufruídas em sua plenitude pelos atuais participantes do mercado; O poder de negociação dos fornecedores pode influenciar significativamente suas práticas comerciais, ocorrendo como decorrência de várias situações que aumentam seu poder de pressão sobre os compradores: • Exclusividade no fornecimento; • Custo elevados de troca de fornecedores; • Ausência de suprimentos alternativos; • Alta representatividade das compras na composição do custo do produto ou na contribuição à sua diferenciação; • Pequena importância, para o fornecedor, do volume vendido vis a vis suas vendas totais; • Baixa concentração do mercado de fornecedores; Semelhantes considerações podem ser feitas para o poder de negociação dos compradores que pode ser aumentado na ocorrência de algumas condições: • Existência de produtos alternativos; • Aquisição de grandes volumes; • Baixos custos para troca de empresa fornecedora; • Muitos fornecedores para poucos compradores; • Igualdade de características entre os diversos produtos oferecidos; • Força da marca ou prestígio de algum comprador atuante no mercado; 19 Finalmente, a quinta força considerada no modelo de Porter reside na ameaça decorrente de produtos ou serviços substitutos que podem tornar obsoleta a atual operação da empresa, sendo mais comunsas seguintes ocorrências: • Relação preço desempenho sensivelmente melhor para produtos substitutos; • Baixos custos de substituição; • Uma natural predisposição dos consumidores na substituição do produto; • Surgimento de novas tecnologias que diminuam a utilidade ou o valor dos atuais produtos; O seguinte exemplo procura esclarecer os conceitos aqui introduzidos, considerando a indústria de vídeo locadoras, na qual militaram ou ainda militam a Blockbuster, a Rede 100% Vídeo, e outras organizações com características semelhantes. O exemplo apresenta o perfil dos concorrentes e os principais aspectos das outras quatro forças que completam o modelo para análise estrutural desta indústria. Concorrentes Grandes cadeias nacionais e internacionais Lojas com foco específico – eg. Cinema de arte, filmes adultos, etc. Pequenas lojas de bairro Barreiras de Entrada Baixa atratividade Localização de lojas Acervo – diversidade e giro Poder dos Fornecedores Estúdios e grandes distribuidoras – Time Warner, Fox, Universal, PlayArte Número relativamente baixo Grande poder de negociação propiciando a existência de uma “ditadura” de preços Facilidade de fornecimento para outros setores – cinemas, clubes, TV Poder dos Consumidores Grande número de consumidores Geograficamente dispersos Baixo poder de negociação individual Facilidade de migração para substitutos e concorrentes Produtos Substitutos Novas tecnologias – Internet, IPTV, Peer to peer Novas modalidades de negócio – AppleTV, Netflix, pay per view Outras oportunidades de acesso ao lazer – Cinema, teatro, TV aberta, TV a cabo Pirataria Uma análise mesmo que superficial da estrutura desta indústria indica que duas das forças nela atuantes desempenham papel preponderante – o Poder dos Fornecedores e os Produtos Substitutos. A primeira delas é administrável, já que embora os estúdios e as distribuidoras possam exercer uma “ditadura” de preços, o segmento das locadoras ainda é um de seus canais de distribuição e assim não seria prudente nem estratégico explorá-lo até a exaustão. Já a segunda condena à extinção este segmento – não há como frear a introdução de novas tecnologias nem como combater de forma eficaz a pirataria que corrói a base de consumidores potenciais. 20 Assim a análise estrutural desta indústria indica que experimentaremos seu ocaso ou forte transformação ao longo dos próximos anos, independentemente das ações que seus integrantes possam tomar para revitalizá-la, ocaso este retardado apenas pelas eventuais barreiras de saída ainda existentes na indústria. Conforme Porter aponta, a intensidade das cinco forças difere de indústria para indústria e também pode variar com a evolução de seus integrantes. O resultado é que nem todas as indústrias se assemelham no que diz respeito à sua rentabilidade. Em segmentos em que as cinco forças são favoráveis, muitos participantes conseguem rentabilidades satisfatórias. Ao contrário, em indústrias em que a pressão de uma ou mais forças é intensa, poucas organizações conseguem retornos julgados adequados. Assim, a rentabilidade de um segmento industrial não é só função da qualidade, aparência ou tecnologia de seus produtos, mas depende também da estrutura da indústria, ditada pela atuação das forças nela presentes. A boa notícia é que através de inovações estratégicas e criatividade, em muitos casos os gestores conseguem encontrar novas maneiras de competir em um segmento industrial e dirigir seus esforços para aqueles aspectos que são mais significativos para a rentabilidade de longo prazo, possuindo assim a capacidade de formatar a estrutura de seu segmento. Além de qualificar as forças atuantes na indústria a que pertença a organização para qual se considera o desenvolvimento de um sistema de inteligência de negócios, é importante que seja identificada a estratégia por ela adotada para obter uma vantagem competitiva sustentável. De uma forma geral, são reconhecidas quatro estratégias para atingir este objetivo – liderança em custo, liderança por diferenciação, foco em custos e foco em diferenciação. As estratégias de liderança diferem das de foco pelo alvo que procuram atingir – amplo, compreendendo todo o mercado contra um nicho específico, no caso do foco. Esta classificação está representada na figura 2-2, ao lado. Na liderança em custo, a empresa tem como objetivo ser reconhecida como o fornecedor de menor preço em todo o mercado, e ainda disponibilizando um produto com tecnologia e qualidade compatíveis com os demais. Isto requer que a organização detenha vantagens em seus custos de produção tais como economias de escala, tecnologias proprietárias, acesso privilegiado a matérias primas e outros fatores de natureza semelhante. São diversos os exemplos de organizações que tem adotado esta estratégia visando adquirir vantagem competitiva sustentável no mercado brasileiro – fabricantes de veículos automotores coreanos, indianos e chineses (KIA, Hyundai, Mahindra, Chery, JAC), cadeias de supermercados (Dia), empresas de transportes aéreos (Azul, Webjet e a Gol, esta última durante o estágio inicial de sua atuação). Deve-se registrar que para manter-se como líder de custo e garantir sustentabilidade em sua vantagem competitiva, a organização necessita alcançar proximidade ou mesmo paridade em termos de diferenciação com os produtos de seus competidores. 21 No caso dos veículos anteriormente mencionados, isto tem sido garantido pela oferta de opcionais incluídos no preço, garantias estendidas a períodos de cinco e seis anos e uma intensa e profissional campanha de marketing. Na liderança por diferenciação a empresa busca ser única em diversas dimensões altamente valorizadas entre os compradores e, atendendo de forma única a estas características, é remunerada por um preço também diferenciado com relação aos demais participantes do mercado. A diferenciação pode ocorrer no próprio produto, na modalidade de venda, na logística de distribuição, na qualidade do pós venda, na durabilidade, no apelo da marca e em um grande número de outros fatores. Por outro lado, uma organização que opte por esta estratégia não pode ignorar o custo de seus produtos, já que seus preços, ainda que elevados, poderiam ser insuficientes para cobrir os custos de produção de produtos tão diferenciados. Por este motivo, elas preocupam-se em buscar proximidade ou mesmo paridade de custos com seus competidores em todos os aspectos que não afetem a diferenciação praticada. Embora esta estratégia prevaleça principalmente em itens de luxo, quais sejam vestuário classe A (grifes italianas e francesas), acessórios (Louis Vuitton, Channel, Montblanc, Rolex), pode também ser encontrada em veículos automotores (Mercedes, BMW, Audi, Porsche) e até em equipamentos para construção e transporte (Caterpillar, Volvo, Scania). As estratégias orientadas ao foco são dirigidas a uma atuação em nichos do mercado onde características especiais destes nichos permitem que uma organização pratique custos ou encontre diferenciais que não estão ao alcance dos demais competidores que procuram atender o mercado como um todo. Assim, a organização que adote uma estratégia de foco escolhe um segmento da indústria e se capacita a atendê-lo de uma forma que não seja viável de ser perseguida ou imitada pelas demais. As estratégias de foco em custos são comuns em indústrias nas quais os principais competidores dispõem de equipamentos voltados à produção de grandeslotes com tempos elevados de preparo entre lotes de produção, no caso de necessidade de troca de ferramental. Nestas condições, uma nova organização que se prepare para produzir lotes menores de forma mais ágil com menores tempos de setup poderá atender a demandas provenientes de nichos de mercado a custos que não podem ser alcançados por seus concorrentes atuando no mercado de grandes lotes de produção. Embora sem o objetivo de formular estratégias, mas sim de se preparar para a conceituação de sistemas de inteligência de negócios que permitam monitorar a aplicação destas estratégias, é importante que os profissionais responsáveis por esta conceituação tenham conhecimento das condições estruturais do mercado em que a empresa atua, através de um exercício de aplicação da análise estrutural nos moldes preconizados por Porter e sumarizados no presente item. O prêmio decorrente deste exercício será a obtenção de um sistema alinhado às necessidades estratégicas de seus usuários, no caso os gestores da organização. 2.2 A análise SWOT – Strenghts, Weakness, Opportunities, Threats Sob a perspectiva da rivalidade existente entre os concorrentes de uma determinada indústria, a análise estrutural pode ser complementada pela aplicação de uma técnica introduzida por Albert Humphrey como resultado de suas pesquisas no Stanford Research Institute – a análise SWOT.