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jusbrasil.com.br 6 de Março de 2018 A importância da psicologia para o direito A IMPORTANCIA DA PSICOLOGIA PARA O DIREITO Marcus Vinícius Gonçalves Anderson Dias Clemente RESUMO A psicologia jurídica e atualmente um dos ramos da psicologia que mais crescera nos últimos tempos e esse trabalho tem o intuito de demonstrar a importância da psicologia para a área de atuação do direito, demonstrando suas aplicabilidades, contribuições e capacidades no auxilio a resolução de inúmeros litígios jurídicos. Apresentaremos os vários pontos de vistas dos doutrinadores de ambas as ciências (psicologia e direito), onde tentaremos dialogar, confirmar e ate mesmo refutar suas afirmações, tornando cada vez mais raso o ponto onde as duas ciências se convergem historicamente e no campo da aplicabilidade das situações concretas. Palavras-chave: Psicologia, Direito, Psicologia Forense INTRODUÇÃO Não e de hoje que as ciências apareceram para, junto ao direito, auxiliar nas resoluções dos litígios e na promoção da justiça em nossa sociedade, e com a psicologia não seria diferente, já que as duas ciências comungam do mesmo objeto de estudo; o ser humano; a psicologia, como estudo do comportamento e dos processos mentais, busca, como toda ciência, fazer a descrição, a explicação, a previsão e o controle do desenvolvimento do seu objeto de estudo, porém, como os processos mentais não podem ser observados, quase todo o foco fica no campo do comportamento humano. O direito pode ser entendido como um conjunto de normas e instituições que, a priori da existência de um contrato social hipotético, busca coordenar e regular nosso convívio e as relações sócias, visto que tal PUBLICAR CADASTRE-SE ENTRARPESQUISAR sociedade e influenciada principalmente pelo comportamento dos indivíduos, e muito pertinente estudarmos e percebermos a convergência das duas ciências; a psicologia estudando os indivíduos e seus comportamentos, e o direito estudando e coordenando a relações desses mesmos indivíduos. A psicologia do homem deve ocupar-se da análise das formas complexas de representação da realidade, que se constituíram ao longo da história da sociedade e são realizadas pelo cérebro humano, incluindo as formas subjetivas da atividade consciente sem substituí-las pelo estudo dos processos fisiológicos que lhes servem de base nem se limitar a sua descrição exterior. A. R. Luria Frente a esse “casamento” das ciências surge o termo “psicologia jurídica”, que em suma, se preocupa com a aplicação dos conhecimentos e dos estudos psicológicos aos assuntos pertinentes ao direito, principalmente quanto à saúde mental, quanto aos estudos sócio-jurídicos dos crimes e quanto a personalidade da pessoa natural e seus embates, sempre com o intuito de trazer maior norte as sentenças e as atitudes tomadas nas decisões do estado em pro da defesa da justiça e da tutela dos bens jurídicos. Atualmente a psicologia jurídica se subdivide em vários ramos de atuação; como a psicologia Forense, psicologia Criminal e Psicologia Judiciária. No inicio do século 19, na França, os médicos foram chamados pelos juízes para ajudarem no processo de desvendar alguns crimes e seus aspectos no mínimo peculiares, pois, tais crimes, não possuíam razão aparente e também não eram cometidos por indivíduos que se encaixavam nos padrões clássicos de “loucura”. Segundo Carrara (1998), estes crimes que clamaram pelas considerações médicas não eram motivados por lucros financeiros ou paixões, pareciam possuir outra estrutura, pois diziam respeito à subversão escandalosa de valores tão básicos que se imagina que estejam enraizados na própria “natureza humana”, como o amor filial, o amor materno, ou a piedade frente a dor e ao sofrimento humano. Conforme Castel (1978), estas foram as primeiras incursões dos alienistas franceses para fora dos asilos de alienados. A PSICOLOGIA JURIDICA NA HISTORIA De acordo com Bonger (1943), a Psicologia só viria aparecer no cenário das ciências que auxiliam a justiça em 1868, com a publicação do livro Psychologie Naturelle, do médico francês Prosper Despine, que apresenta estudos de casos dos grandes criminosos (somente delinquentes graves) daquela época. Ele obteve seu material de estudo das detalhadas informações contidas na La Gazette des Tribunal e de outras publicações análogas. Despine dividiu o material em grupos de acordo com os motivos que desencadearam os crimes e, logo em seguida, investigou as particularidades psicológicas de cada um dos membros dos vários grupos. Concluiu ao final que o delinqüente, com exceção de poucos casos, não apresenta enfermidade física e nem mental. Segundo ele, as anomalias apresentadas pelos delinquentes situam-se em suas tendências e seu comportamento moral e não afetam sua capacidade intelectual (que poderá ser inferior em alguns casos e enormemente superior em outros). Conforme suas observações, o delinquente age com frequência motivada por tendências nocivas, como o ódio, a vingança, a avareza, a aversão ao trabalho, entre outras. Na opinião de Despine, o delinquente possui uma deficiência ou carece em absoluto de verdadeiro interesse por si mesmo, de simpatia para com seus semelhantes, de consciência moral e de sentimento de dever. Não é prudente, nem simpático e nem é capaz de arrependimento. (http://www.ufpi.br/subsiteFiles/parnaiba/arquivos/files/rded2ano1_artigo11_Li ene_Leal.PDF) Uma das grandes pontes para a atuação da psicologia no meio jurídico foi a criação da criminologia, através da atuação de grandes mestres como Cezare Lombroso e Enrico Ferri, a viés colocada sobre os crimes teve seu foco alterado, se focando cada vez mais sobre o criminoso e cada vez menos no delito e em sua referente sanção. Através dessa nova visão foi levados em conta fatores causadores implícitos ao criminoso, como a personalidade e o comportamento do delinqüente; frente a esse novo desafio, ciências como a sociologia, medicina Florence, e a psicologia deram as mãos para a busca da promoção da justiça e a resolução dos litígios, alem de buscar também inserir novamente o transgressor na sociedade. Em sua tentativa para chegar ao diagnóstico etiológico do crime, e, assim, compreender e interpretar as causas da criminalidade, os mecanismos do crime e os móveis do ato criminal, conclui que tudo se resumia em um problema especial de conduta, que é a expressão imediata e direta da personalidade. Assim, antes do crime, é o criminoso o ponto fundamental da Criminologia contemporânea (MACEDO, 1977, P. 16). Nesse momento a atuação da psicologia nos processos jurídicos se consolida, na busca de se entender cada vez mais os motivos, a personalidade e a conduta do criminoso. Não se concebe, no processo penal, que se omitam os conhecimentos científicos da Psicologia, no sentido de se obter maior perfeição no julgamento de cada caso em particular. (...) Para se compreender o delinquente, mister se faz que se conheçam as forças psicológicas que o levaram ao crime. Esta compreensão só se pode obter examinando-se os aspectos psicológicos psiquiátricos do criminoso e de seu crime. Dourado (1965, P. 7), A ATUAÇÃO DO PSICOLOGO JURÍDICO Hoje, o trabalho dos psicólogos no campo jurídico compreende a investigação, em diferentes níveis de complexidade, dos fenômenos psicológicos no âmbito da Justiça e dos exercícios do Direito, prestando serviços de assessoramento direto e indireto às organizações de Justiça e as instituições que cuidam dos direitos dos cidadãos. Compõe, ainda, esse campo, as atividades de pesquisa, ensino e de extensão, em crescimento nas universidades brasileiras. (CRUZ, 2005). Na contemporaneidade a atuação do psicólogo jurídico, diferente dos primórdios da atuação, não mais se restringe a apenas diagnosticar, principalmente bandidos e assassinos a fim de entender os fatos motivadores do crime e o fator de culpabilidade,mais se mostra presente em quase todos os Tribunais de Justiça do paísincluindo organizações que integram os poderes Judiciário, Executivo e o Ministério Público, em várias áreas de atuação: Varas de Família, Infância e Juventude, Práticas de adoção, Conselhos Tutelares, prisões, abrigos, unidades de internação, entre outras. Com a contribuição de psicólogos, dentre outras atividades, são resolvidos conflitos familiares, realizadas adoções, solucionadas disputas de guarda, regulamentadas visitas de pais e avós, interditadas pessoas que não tem capacidade de gerir seus bens, atendidos adolescentes em conflitos com a Lei, acompanhadas execuções de penas, propostas no regime penal dos sentenciados. (COSTA, 2001). A ATUAÇÃO CONCRETA DA PSICOLOGIA NO DIREITO Atualmente o direito clama pela luz da psicologia em inúmeras questões concretas, que em alguns casos, vão além da promoção da justiça e da igualdade na sociedade. Em termos concretos nos dias de hoje vários são os ramos do direito que demandam da atuação de psicólogos em parceria com os operadores do direito; Varas de Família A atuação dos psicólogos nas varas de família, no auxilio a resolução dos litígios e das inúmeras demandas por tomar as decisões mais assertivas exige em primeiro lugar o conhecimento básico dos códigos jurídicos que regulam as famílias e da existência de um código compartilhado entre o psicólogo e os demais membros da equipe interprofissional, incluindo os operadores de direito. E de conhecimento de todos que a diversidade e peculiaridade possíveis nos casos de famílias nos dias de hoje levam o direito a dialogar com outros saberes, e sem o respaldo e a ajuda do psicólogo o juiz encontra dificuldade, por exemplo, para regular a relação entre os sexos e de parentescos. Infância e Juventude "Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac) Estas são as possíveis atribuições a um psicólogo que atua numa Vara da Infância e Juventude como perito: – Avaliar as condições intelectuais, emocionais, relacionais e psíquicas de partes envolvidas em processos judiciais de habilitação para adoção, adoção, guarda, tutela e medidas de proteção; – Atuar em diversos tipos de processos judiciais, ligados a proteção da criança e do adolescente, como perito, elaborando laudos e pareceres, quando designado; – Realizar acompanhamento psicológico aos adotantes e às crianças ou adolescentes que estejam em período de convivência à família substituta até a finalização do processo de adoção; – Realizar acompanhamento psicológico de crianças, adolescentes e/ou famílias que estejam envolvidos em processos judiciais e situação de risco, quando necessário e solicitado; – Realizar palestras ou grupos de reflexão para habilitação à adoção, adotantes e/ou famílias; – Realizar visitas, acompanhamento e avaliação psicológica de crianças e adolescentes abrigadas, quando necessário ou quando designado pelo Juiz. – Participar, quando determinado, de audiências para esclarecer aspectos técnicos em Psicologia; – Realizar acompanhamento psicológico de adolescentes inseridos em programas ligados a Vara da Infância e Juventude, quando solicitado; – Realizar visitas domiciliares e/ou visitas institucionais, quando necessário ou designado pelo Juiz; – Assessorar autoridades judiciais no encaminhamento a práticas psicológicas e médicas específicas, quando necessário; – Participar de reuniões de equipe para discussão de casos e procedimentos técnicos quando necessário; – Contribuir para criação de mecanismos que venham agilizar e melhorar a prestação do Serviço; – Participar da elaboração e execução de programas sócio educativos destinado a crianças em situação de risco; – Atuar em pesquisa e programas de prevenção à violência; – Oferecer supervisão, treinamento e avaliação aos estagiários de Psicologia que prestam serviço a Vara da Infância e da Juventude; (Parte integrante do livro “Filhos da esperança” - Cintia Liana) Prisões Nas prisões os psicólogos se propõem a acompanhar os presos e familiares com auxilio psicológico, além de desempenhar importante papel no sistema processual, analisando a capacidade dos indivíduos se reintegrarem a vida em sociedade. "Entendemos que o agravamento da crise vivida no sistema penitenciário e o fato de o Brasil ser país que possui uma das maiores populações carcerárias do mundo exigem mais do que nossa contribuição na construção de atribuições, competências e possibilidades de uma prática profissional voltada para a integração social. Exigem-nos ampliação do diálogo com movimentos sociais e construção de parcerias nessa tarefa de pensar o fim possível das prisões, compreendendo que o modelo de privação de liberdade não faz avançar a cidadania, piora os vínculos sociais e produz exclusão. Nesse sentido, o Conselho Federal e todos os Conselhos Regionais estão comprometidos com a ideia de construção de uma cultura de direitos humanos, com a valorização da cidadania e com a efetivação da democracia no nosso país..."(Humberto Verona, Presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP)) Além da atuação em tribunais de justiça, o psicólogo jurídico desempenha importantes serviços em penitenciárias. Como é a rotina deste trabalho e quais as suas dificuldades?Fátima:O psicólogo no sistema penitenciário trabalha com o preso. Mas não necessariamente como uma forma de terapia. Veja, há situações em que o preso chama para ter uma conversa e tem indicações de depressão. O psicólogo também atua muito próximo do assistente social, para dar suporte aos presos, atendimento, fazer trabalhos em grupo, o que é muito difícil, mas possível. Nosso trabalho busca fazer um resgate da essência de cada indivíduo. Os presos são viciados em drogas, doentes ou analfabetos, e nesses encontros tenta-se orientá-los e informá-los sobre as dificuldades de suas realidades. Historicamente, dentro das prisões, a ação do psicólogo sempre foi vinculada mais com a ação pericial, a atuação mais de avaliação para concessão de benefícios. É um trabalho que avalia a condição de alguma pessoa presa e que pode fazê-la viver em sociedade de novo. (Trecho de Entrevista ao portal Ciência e vida da psicóloga prisional Fátima França) Conselhos Tutelares Os Conselhos Tutelares como órgãos não jurisdicionais, permanentes e autônomos, tentam dentro de suas possibilidades assegurarem o cumprimento dos direitos das crianças e dos adolescentes de seus respectivos Municípios. A psicologia tem sido a mediação entre a justiça e o "problema de criança", enquanto instrumento de assistência às crianças e adolescentes que ora são encaminhados, quer sejam pelos órgãos do poder judiciário, quer seja pela escola, que se sente impotente diante da situação, ou mesmo pela família que busca na psicologia explicações para determinados problemas psico sociais. A Psicologia pode sim caminhar lado a lado com os Conselhos Tutelares, porque talvez seja a forma de propiciar uma melhor clareza das causas, das quais são causadoras de violência contra os pequenos cidadãos de nossa sociedade. Mas, o atendimento psicológico precisa ser mais bem delimitado e direcionado, assim como todas as ações voltadas para o atendimento à criança e ao adolescente. As escolas por sua vez deveriam exigir um atendimento mais eficiente dos órgãos educacionais como as Secretarias Municipais e ou Estaduais, para que estas proporcionem um trabalho mais voltado às instituições educacionais dos seus respectivos municípios, sobretudo relacionado às dificuldades de aprendizagem. (Maria Madalena – Acadêmica de Psicologia | 29 Novembro 2001) CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos estudos realizados, é possível perceber que a Psicologia possui papel fundamentaldentro do ramo jurídico, pois é possível traduzir para o direito, as características e ações humanas, facilitando o entendimento e humanizando as informações, por parte dos juristas e para a sociedade em âmbito geral. Percebemos também que a Psicologia caminha lado a lado com o Direito a várias décadas, evoluindo e contribuindo cientificamente para que a aplicação do Direito possa ser cada vez mais justa. Atua no acompanhamento e recuperação de delinqüentes, desde a infância até a idade adulta, sendo possível a sua reintegração desses infratores, além da análise dos riscos para a permanência dos mesmos diante a sociedade. REFERENCIAL BIBLIOGRAFICO http://www.ufpi.br/subsiteFiles/parnaiba/arquivos/files/rd- ed2ano1_artigo11_Liene_Leal.PDF http://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v26n4/09.pdf “Filhos da esperança” - Cintia Liana http://www.ufpi.br/subsiteFiles/parnaiba/arquivos/files/rd- ed2ano1_artigo11_Liene_Leal.PDF http://psicologiaeadocao.blogspot.com.br/2010/06/trabalho-de-um-psicologo- na-vara-da.html http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/63/artigo212039-1.asp http://www.crp04.org.br/crp04_com_br2/index.php/publicacoes/publicacoes- cfp/52-atuacao-do-psicologo-no-sistema-prisional.html http://www.pailegal.net/veja-mais/ser-pai/analises/300-psicologia-como- suporte-ao-conselho-tutelar Livro Psicologia Jurídica no Brasil – Hebe Signorini Gonçalves e Eduardo Ponte Brandão Disponível em: http://markullino1987.jusbrasil.com.br/artigos/435817157/a-importancia-da-psicologia-para-o-direito
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