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DIETOTERAPIA EM QUEIMADOS DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS CRÔNICAS – 2018.01 DIETOTERAPIA EM QUEIMADOS OBJETIVO DA AULA: Dar subsídios para o aluno saber elaborar um plano dietoterápico segundo as necessidades nutricionais de indivíduos com queimaduras de diferentes severidades. DIETOTERAPIA EM QUEIMADOS PESQUISA: Quais hospitais em São Paulo possuem unidades de queimados? DISCUSSÃO: Por que as necessidades energéticas e proteicas de pacientes queimados estão muito aumentadas? QUEIMADURAS • “Queimaduras são lesões dos tecidos orgânicos em decorrência de trauma de origem térmica resultante da exposição a chamas, líquidos quentes, superfícies quentes, frio, substâncias químicas, radiação, atrito ou fricção.” • AGENTES CAUSADORES • Físicos: • Temperatura: água quente, chama, vapor (mais frequentes) • Eletricidade: raio, corrente elétrica (mais mutilantes) • Radiação: sol, raios UV, aparelhos de raios X, nucleares • Químicos: álcool, gasolina, ácidos • Biológicos: • Animais: água-viva, medusa, lagarta-de-fogo • Vegetais: urtiga, látex de certas plantas Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – SBCP 2002 Diagnóstico Baseado na Profundidade 1º Grau: simples vermelhidão da epiderme,com dor e leve edema • Histologia: somente epiderme • Dor: intensa • Aspecto: hiperemia e edema • Recuperação: aproximadamente 1 semana 2º Grau: SUPERFICIAL: • Histologia: limitada à epiderme e parte superficial da derme • Dor: intensa • Aspecto: formação imediata de bolhas (flictenas) - manifestação externa de descolamento dermo-epidérmico • Recuperação: aproximadamente 2 semanas SBCP 2002 Diagnóstico baseado na Profundidade 2º Grau: PROFUNDA: • Histologia: poupa apenas a camada profunda da derme • Dor: menos intensa • Aspecto: formação imediata de bolhas • Recuperação: aproximadamente 3 semanas 3º Grau: • Histologia: toda a profundidade da epiderme, derme e outros tecidos mais profundos, podendo chegar até aos ossos • Dor: indolor • Aspecto: seca, podendo apresentar cor preta devido à carbonização dos tecidos • Recuperação: não cicatriza espontaneamente SBCP 2002 Classificação Severidade da Queimadura • Importante na queimadura: Não é o seu tipo e nem o seu grau. •É a extensão da pele queimada, ou seja, a área (superfície) corporal atingida. • Baixa: menos de 15% da superfície corporal atingida • Média: entre 15 e 40% da pele coberta • Alta: mais de 40% do corpo queimado – pode provocar a morte . • Acima de 70%, as chances de sobreviver são mínimas ! SBCP 2002 Determinação de Superfície de Área Queimada 1. Esquema da regra dos nove: • Utilizada somente no Pronto Atendimento, 48 a 72 horas após acidente SBCP 2002 ÁREA ADULTO CRIANÇA Cabeça e Pescoço 9% 18% Membro superior D 9% 9% Membro superior E 9% 9% Tronco anterior 18% 18% Tronco posterior 18% 18% Genitália 1% 1% Coxa D 9% 4,5% Coxa E 9% 4,5% Perna e Pé D 9% 4,5% Perna e Pé E 9% 4,5% Total da SCQ Determinação de Superfície de Área Queimada 2. Esquema de Lund-Browder SBCP 2002 Área Idade 0-1 1-4 5-9 10-14 ADULTO Cabeça 19% 17% 13% 11% 7% Pescoço 2% Tronco Anterior/ Posterior 13% Braço Direito/ Esquerdo 4% Antebraço Direito/ Esquerdo 3% Mão Direita/ Esquerda 2,5% Nádega Direita/ Esquerda 2,5% Genitália 1% Coxa Direita/ Esquerda 5,5% 6,5% 8% 9% 9,5% Perna Direita/ Esquerda 5% 5% 5,5% 6% 7% Pé Direito/ Esquerdo 3,5% Total SCQ PLANO DE CUIDADOS AO PACIENTE • VERIFICAR: • Idade: mais grave em menores de 5 anos e maiores de 60 anos • Gravidade da queimadura Situação Clínica Risco (mortalidade) % Idade > 60 anos 1 3,0 SCQ > 40% 2 33,0 Ocorrência de lesão inalatória 3 90,0 Tratamento Sedação - aliviar a dor: causada pelo contato filetes nervosos c/ ar Conservar o calor Restaurar o equilíbrio hidroeletrolítico prevenir o choque hipovolêmico e IRA Oxigenioterapia: combate a anóxia Prevenção de infecção com antimicrobianos tópicos ex: sulfadiazina de prata Debridamento cirúrgico precoce e enxerto de pele imediato para reduzir o tempo de estresse metabólico Promover cicatrização Corrigir distúrbios metabólicos SBCP, 2002 ALTERAÇÕES METABÓLICAS • No queimado, assim como no trauma, ocorrem: • Resposta inflamatória de fase aguda intensa • Perda de peso rápida • Desnutrição • Os fatores que diferenciam o queimado dos demais traumas são: • a área de tecido a ser recuperada é extensa • risco alto de infecção por perda da barreira cutânea e aumento da incidência de infecção ligada a cateter • perdas acentuadas de proteínas, minerais e outros nutrientes (possíveis deficiências agudas) • queimados graves: mais tempo internados em UTI e dependem da terapia nutricional por períodos longos QUEIMADURAS alterações metabólicas do estresse Depende da área da superfície corpórea queimada Hipermetabolismo Catabolismo Protéico citocinas – TNF, IL1, IL6 insulina glucagon catecolaminas cortisol ADH Alterações metabólicas Resposta Metabólica ao Trauma • REAÇÃO INICIAL (fase de declínio) = ebb • Acontece imediatamente após a instalação da lesão e é de curta duração (poucas horas ou poucos dias) • Ocorre: pressão sanguínea, rendimento e débito cardíaco, temperatura corporal, consumo de oxigênio • Consequências: hipovolemia e hipoperfusão • REAÇÃO POSTERIOR (fase de adaptação) = flow • Dura até cerca de 40 dias • Ocorre mobilização dos recursos corpóreos para neutralizar os efeitos da fase de declínio, promovendo: • Equilíbrio negativo de nitrogênio hipercatabolismo com maior necessidade de proteína p/ cicatrização das lesões + perdas exudativas (20 a 25% das perdas de nitrogênio diárias totais) INTERVENÇÃO NUTRICIONAL •AVALIAÇÃO NUTRICIONAL • Avaliação dietética - caso o paciente esteja inconsciente = conversar com acompanhante • Avaliação antropométrica • Presença de edema e perda de tecidos dificultam a avaliação • Avaliação bioquímica • síntese protéica • Avaliação Nutricional Subjetiva Global (ANSG) Como realizar avaliação nutricional? • ANSG: instrumento confiável rastreamento nutricional • Aplicar também métodos objetivos de avaliação nutricional, como os exames bioquímicos • Considerar peso habitual inicial, pois a maioria dos pacientes não são desnutridos inicialmente • Se possível, pesar diariamente. OBJETIVOS – Suporte Metabólico •manutenção da massa celular corporal •reposição hidroeletrolítica •minimizar a resposta metabólica •prevenir infecções •estimular cicatrização •manter estrutura e função orgânica •prevenir atrofia da mucosa intestinal e translocação bacteriana •reduzir a permanência hospitalar Caso clínico Vamos resolver? Caso Clínico – Vamos resolver? • Paciente na UTI, com queimadura de II e III graus, 41%SCQ, 58 anos, sexo masculino • Data da internação : 07/08/2017 • Causa da queimadura: Descarga elétrica DADOS ANTROPOMETRICOS e BIOQUÍMICOS: • Peso habitual = 71 kg; Altura = 1,70 m • Albumina = 2,8 g/dL • Linfócitos T = 1130/mm³ • Estime a NET desse paciente segundo Harris e Benedict, cálculo de bolso e Curreri. • Estime a quantidadede proteína necessária , utilizando os 3 métodos apresentados. • Estime a dose de arginina. • Estime a dose de ômega 3 e de nucleotídeos (onde encontramos?) • Analise os valores de albumina e linfócitos totais. • Determine a necessidade hídrica (segundo Ringer Lactato) • Balanço nitrogenado: • Paciente ingerindo 120 gramas de proteína ao dia. • Perda urinária de nitrogênio de 18g. • Perda de nitrogênio pela ferida: • Balanço nitrogenado: Caso Clínico – Vamos resolver? Necessidade Energética • NET do queimado é elevada, podendo superar 200% do GEB (gasto energético basal). • Calorimetria indireta – mais preciso e ideal – medir QR 2 vezes/semana. Porém, nem sempre é possível. Estimativa por fórmulas • NET estimado por valor fixo (cálculo de bolso): • 40 a 70 Kcal/Kg/dia • GEB calculado por Harris-Benedict (1919) • Fator Injúria • Moderado (15 a 40%) 1,5 • Grande Queimado (> 40%) 1,5 a 1,8 • Queimadura Maciça 1,8 a 2,2 Estimativa por fórmulas • EQUAÇÃO DE TORONTO GE= -4343 + (10,5 x % SCQ) + (0,23 x IC) + (0,84 x GERE) + (114 x TC) – (4,5 x dias pós trauma) Sendo: IC: Ingestão calórica do dia anterior GERE: Gasto energético estimado por Harris- Benedict TC: Temperatura corpórea Estimativa por fórmulas IDADE % SCQ KCAL/DIA 0 – 1 ano < 50 TMB + 15Kcal x SCQ 1 – 3 anos < 50 TMB + 25Kcal x SCQ 4 – 15 anos < 50 TMB + 40 Kcal x SCQ > 16 anos Qualquer 25 Kcal x Peso + 40 Kcal x SCQ • Equação de Curreri Recomendação de proteína • degradação, síntese = BN negativo • Objetivo = promoção de síntese protéica • perda 2 a 3 g de proteína / %SCQ/dia • recomendado 25% VET Outras recomendações: < 20 % SCQ 1,5 g /Kg /dia > 20 % SCQ 2,0 g /Kg /dia Adultos 1,5 – 3 g/ Kg de peso/ dia Lactentes * 3 – 4 g/ Kg de peso/ dia Crianças < 3 anos * 3 g/ Kg de peso/ dia Crianças maiores e adolescentes * 1,5 a 2,5 g/ kg de peso/ dia Adultos 1 g/ Kg de peso/ dia + 3 g x % SCQ Crianças* 3 g/ Kg de peso/ dia + 1 g x %SCQ * manutenção e promoção do desenvolvimento e crescimento Pennisi BALANÇO NITROGENADO (BN) • É a diferença entre a quantidade de nitrogênio (N) recebida e a excretada • A proteína tem 16% de Nitrogênio • 1 g de proteína = 0,16 g de Nitrogênio ou para cada 1 g de Nitrogênio são necessários 6,25 g de proteína • NI (nitrogênio ingerido)= Gramas de proteína da dieta / 6, 25 • NE (nitrogênio excretado) = nitrogênio urinário + perdas insensíveis de Nitrogênio (fezes e suor) = estimado em 2 a 4g/dia sob condições normais. Em situações de diarreias, fístulas digestivas de alto débito ou sudorese intensa, as perdas insensíveis serão maiores • Nitrogênio urinário = Ureia urinária (g) x 0,46 coleta de urina de 24 horas • . BN = nitrogênio ingerido – nitrogênio excretado BALANÇO NITROGENADO (BN) • Estimativa de perda diária de nitrogênio pela ferida (Kien, 1978) • A perda de 1g de N = perda de 30g de massa muscular! • Peso pré e pós queimadura • Eletrólitos do soro • Glicemia • Albumina - estabilidade: resposta nutricional adequada • Ureia de 24 horas (para verificar BN) • Acompanhamento nutricional diário BN positivo = anabolismo + 2 a + 4 BN negativo = catabolismo - 0 a - 5 = leve - 5 a - 10 = moderado < - 10 = grave % SCQ Nitrogênio perdido < 10 % 0,02 g N / Kg de peso 11 a 30 % 0,05 g N / kg de peso > 30 % 0,12 g N / Kg de peso Carboidratos Lipídeos •Hiperglicemia: uso de insulina •Resistência à insulina • produção de CO2 •recomendado 50 - 60% NET •Considerar a capacidade de metabolização da glicose: 5 a 7 mg/kg/minuto (7 a 10g/kg/dia) • lipólise e lipogênese • recomendado 25 a 30% NET • TCM:TCL = 1:1 • AGE – componente da membrana celular • Ômega 3: imunomodulador Suporte Nutricional • Favorecer repleção nutricional QUANDO INICIAR? • Estabilidade hemodinâmica • estabilidade das funções vitais e perfusão de tecidos • restabelecimento do balanço hidroeletrolítico • Atingir a necessidade nutricional em até 7 dias INDICAÇÃO TEMPO DE INÍCIO DA NUTRIÇÃO Precoce < 36 horas de internação < 48 horas após a data do acidente Intermediária 36 a 72 horas da internação ou data do acidente Tardia > 72 horas de internação Via de administração • Hidratação EV = reposição nas primeiras horas do trauma • Queimaduras • 40 a 50 % da SCQ = atonia gástrica ou íleo paralítico = NPT • 30% da SCQ = tolera NE • 20% da SCQ = VO (exceto quando queimadura acomete face) • NPT • NE + NPT • NE • NE + VO • VO + suplemento • VO Evolução em grandes queimados Hidratação do paciente • Principal meta: • prevenir a hipotensão e hipoperfusão de órgãos através da reposição hídrica criteriosa. • Fórmula de Parkland para estimar hidratação nas primeiras 24 horas. Utiliza-se solução de Ringer Lactato. • Metade desse volume deve ser fornecida nas primeiras 8h. Restante nas demais 16h (média de 7 a 10 litros/dia) • A reposição de eletrólitos deve seguir dosagem sérica: Na+, K+, Mg++ e Ca++ • Uso de soluções contendo água, eletrólitos e albumina. Cálculo de Hidratação = 4 ml X peso X % SCQ NPT: • Deve ser evitada nas primeiras 48 horas, devido alterações hidroeletrolíticas • Catéter – preferencialmente veia cava superior • Recomenda-se soluções mais diluídas para evitar complicações Indicação de Suporte Nutricional Oral ou Enteral • > 20% SCQ • Localização SCQ e agente causador • Necessidade de suporte ventilatório • Estado nutricional comprometido anterior à queimadura • Perda de peso superior a 10% durante o tratamento • Traumatismo cranioencefálico (lesões faciais graves) incapacidade de deglutição • Para SNE = fórmula polímerica hipercalórica e hiperproteíca – infusão contínua SBCP 2002 Se dieta oral: • Iniciar assim que houver normalização do peristaltismo intestinal • Hiper-hiper • Consistência líquida, suplementada, evoluindo assim que possível • Importante variar cores e sabor devido ao longo tempo de internação. Vitaminas e Minerais •Recomendável exame bioquímico periódico •SCQ > 30% - suplementar todos os minerais e vitaminas nas primeiras horas após o trauma •Vitamina C = 5 a 10 vezes RDA/DRI = faz parte da produção do colágeno •Vitaminas complexo B = 2 a 3 vezes RDA/DRI = cofatores na produção do colágeno •Vitamina A = 2 vezes RDA/DRI = regeneração dos tecidos •Zinco, Cobre e Ferro = 2 vezes a RDA/DRI •Cálcio – imobilidade a mobilização óssea = perda •Sódio, potássio e cloro – monitorar e repor se necessário Nutrientes Imunomoduladores Arginina 2% NET ou 9% da fonte protéica Ácidos graxos ômega 3 20 g /dia Glutamina 30 g /dia Nucleotídeos – 5 g /dia ARGININA: melhora função imunológica e cicatrização, diminui complicações sépticas GLUTAMINA: preserva função intestinal; combustível para células de rápida replicação W3: imunomodulador e antiinflamatório RECOMENDAÇÃO: ANEXOS Proteína sérica Valores de referência Vida média Função Comentários Albumina (g/dL) Normal: >3,5Depleção leve: 3 - 3,5 Depleção moderada: 2,4 - 2,9 Depleção grave: <2,4 18 a 20 dias Manter a pressão Coloidosmótica do plasma, carrear pequenas moléculas Apesar de muito utilizada na prática clínica, a vida média longa a torna um índice pouco sensível às rápidas variações do estado nutricional. O intervalo de tempo para repetir a dosagem é de no mínimo 20 dias. Avalia: prognóstico de gravidade. CONTAGEM TOTAL DE LINFÓCITOS CTL = % linfócitos x leucócitos 100 Contagem total de linfócitos Normalidade > 2000/mm3 Depleção Leve 1200 a 2000/mm3 Depleção Moderada 800 a 1199/mm3 Depleção Grave < 800/mm3
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