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45 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS Unidade II 3 DECISÕES DE PRODUTOS E SERVIÇOS A gestão de produtos e serviços envolve a tomada de decisões em três diferentes níveis: • nível de produto individual; • nível de linha de produto; • nível de mix de produtos. As decisões de maior relevância no desenvolvimento de produtos e serviços individuais estão relacionadas aos atributos do produto ou serviço, branding, embalagem, rotulagem e serviços de apoio. Atributos do produto ou serviço dizem respeito à tarefa de desenvolvimento de um produto; é o ato de definir quais benefícios serão oferecidos pelo produto ou serviço, como qualidade, características, estilo e design: • Qualidade: das características do produto, esta é uma das que mais pesam no seu posicionamento no mercado; interfere diretamente no desempenho, uma vez que se refere às características que permitem a satisfação das necessidades ou desejos detectados no mercado e por este motivo está diretamente relacionada ao valor e à satisfação gerada para o consumidor. • Qualidade: envolve duas dimensões que deverão ser levadas em consideração pelo gestor do produto ou serviço – o nível de qualidade oferecido e a conformidade. O nível de qualidade a ser oferecido é compatível com o que o cliente pode pagar. É por esse motivo que a maioria dos carros que são vendidos não tem a qualidade de um automóvel de primeira linha, porém entrega desempenho e gera satisfação. O que se quer dizer é que o nível de qualidade significa qualidade de conformidade, que é ausência de defeitos e entrega de desempenho. Voltando ao nosso exemplo, o veículo Gol da VW não tem o mesmo padrão de qualidade de um Rolls Royce (não é um carro de luxo, tem matérias mais simples), porém oferece qualidade, entrega o que se propõe entregar no padrão de carro econômico e apresenta consistência de conformidade, ou seja, baixo índice ou zero índice de defeitos. • Características do produto ou serviço: com base em um modelo básico, mais simples, todo produto pode ser oferecido com uma variada gama de características; o acréscimo de características é a forma de diferenciar o produto no mercado. A identificação de novos atributos que poderão ser valorizados pelo cliente pode ser feita por meio de pesquisas com o público‑alvo; essas pesquisas devem ter foco no nível de satisfação gerado pelo produto, em suas características preferidas já 46 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade II existentes e novos atributos que poderiam ser implementados. Essas informações podem levar a empresa a avaliar as características do produto em questão de acordo com a importância de cada uma delas para o cliente e com os custos gerados, tomando, assim, decisões mais precisas e esclarecidas quanto às mudanças e melhorias. • Estilo e design: esses dois quesitos agregam valor ao produto desde que apresentem diferenciação diante do que é oferecido pela concorrência. Estilo se refere à aparência do produto, pode atrair ou afastar o cliente; já design abrange a utilidade do produto, que pode ter a ver, por exemplo, com a ergonomia oferecida. Branding é a tarefa de construção e manutenção de marcas e, graças a ela, os consumidores a veem como uma parte de relevância do produto. A marca, que possui significados abstratos, pode agregar valor ao produto e estabelecer relacionamento com o cliente; produtos diversos, que até oferecem pouca diferenciação em suas características (como sal, frutas e ovos), recebem marcas para atingirem algum grau de distinção no mercado, o que auxilia os consumidores a identificá‑los perante as diversas ofertas disponíveis. Segundo Kotler e Armstrong (2015, p. 252), “o nome da marca e marca registrada da organização oferecem proteção legal a características singulares do produto que, de outro modo, poderiam ser copiadas pelos concorrentes”. Outra colaboração trazida pela marca para as empresas é a possibilidade de segmentação do mercado em função do oferecimento dos produtos com conjuntos diferentes de características, abrangendo, dessa forma, grupos distintos de consumidores. É o que fazem as montadoras de carros, desenvolvendo diferentes modelos, cada um com versões que se adaptam aos vários subgrupos de consumidores. Embalagem é um artefato cuja função vai além de envolver o produto; consiste em criar e produzir algo que desempenhe diversas tarefas, e não apenas guardar e proteger o item, como atrair a atenção dos compradores e comunicar o posicionamento da marca. É inegável o poder de geração de reconhecimento de marca de uma boa embalagem. Se você pensar na quantidade de itens dispostos em um hipermercado ou até mesmo em um supermercado, a embalagem é a última chance que a empresa tem para chamar a atenção do comprador no momento da compra. Além disso, embalagens mal projetadas geram insatisfação nos consumidores, ocasionando quedas de vendas. Por exemplo, imagine que, ao abrir determinada embalagem, a dificuldade do ato gere desperdício de produto, machuque as mãos ou até mesmo exija algum instrumento ou ferramenta. Hoje seria impensável que as tampas de copos de requeijão viessem sem o furo e a tampa de silicone, mas, até alguns anos atrás, a abertura exigia a manobra minuciosa com uma faca que invariavelmente acabava com sua ponta estragada. Segurança é um item importante em embalagens, não só no sentido de não provocar ferimentos no manuseio, mas também no intuito de dificultar sua abertura no caso de produtos perigosos manipulados indevidamente por crianças, por exemplo. É caso de algumas embalagens de remédios cujas tampas requerem manobras complexas para serem abertas. Dicas para o desenvolvimento de embalagens eficientes, com base em Churchill Junior e Peter (2012): • o mais indicado é que a área de marketing se responsabilize pelo desenvolvimento de embalagens; trata‑se da área da empresa que reúne as competências adequadas para a tarefa; 47 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS • em função das características técnicas que trazem desempenho à embalagem, é necessária a participação de áreas interfuncionais, como produção e engenharia; • o projeto da embalagem nasce em conjunto com o início do desenvolvimento do novo produto; • o projeto de embalagem deve levar em consideração as necessidades dos clientes e dos revendedores dos produtos, portanto é importante levantar informações com esses públicos por meio de pesquisas; • devem ser levados em consideração os aspectos legais ou reguladores aos quais o segmento do produto está submetido; • é importante analisar os pontos fortes e os pontos fracos das embalagens dos produtos concorrentes; • nesse projeto, a lucratividade também é objetivo principal, portanto, tê‑lo em mente é recurso para garantir a lucratividade total do produto; • alterações de embalagem precisam ter uma razão para serem realizadas, como melhoria da experiência do uso do produto ou da apresentação das informações contidas no rótulo; • antes de considerar o projeto como definitivo, a embalagem deve ser testada no mercado; • as mudanças necessárias que foram detectadas devem ser implementadas todas de uma só vez, já que projetos de remodelagens de embalagens são onerosos. Rotulagem tem a ver com materiais, como as etiquetas que vêm presas aos itens (muito comuns em roupas, por exemplo) ou coladas em volta dos recipientes dos produtos. Esses materiais podem ser de simples confecção, carregando apenas a logomarca do produto e algumas informações básicas, porém algumas empresas desenvolvem projetos gráficos bastante elaborados. A função dos rótulos é a de identificar os produtos, bem como trazer informações como procedência, ingredientes, quantidades, formas e dicas de utilização, e outros dados importantes e muitas vezes de ordem legal. Falando de questões legais, atualmente os rótulostambém precisam trazer informações relativas às datas de fabricação e de validade, informações nutricionais, alertas de periculosidade etc. A veracidade dessas informações deve ser garantida pelos fabricantes e qualquer divergência deve ser averiguada pelos órgãos competentes do segmento ao qual pertence o produto em questão. Serviços de apoio ao produto são todos aqueles que podem, de alguma forma, colaborar com a possibilidade de uma experiência de compra mais positiva e gratificante. Esses serviços vão além do atendimento prestado em si e contemplam aspectos como a disponibilidade de informações relativas às opções de pagamento e de prazos de entrega, à variedade do catálogo de produtos, montagem, instalações etc. Para isso, as empresas lançam mão de uma variada gama de possibilidades de contato que abrange e‑mail, telefone, internet etc. Dependendo do tipo de negócio, os serviços de apoio podem ser de suporte técnico 24 x 7 (24 horas por dia, durante todos os dias da semana), facilidade na troca de produtos (com retirada do produto em casa) etc. 48 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade II 3.1 Decisões em mix de produtos As decisões que se referem ao mix de produtos são consideradas de fundamental importância. Se pensarmos, por exemplo, nas empresas varejistas (hipermercados, supermercados, lojas de departamentos, padarias, lojas de especialidades, entre outras), isso acontece porque os consumidores, ao adquirirem produtos, estão à procura de soluções para suas necessidades e desejos, e essa procura é o que orienta a tomada de decisão sobre o que comprar para vender na loja (isto é, o que será vendido e, portanto, comporá o mix de produtos do estabelecimento). O diferencial competitivo que a empresa pretende atingir é o ponto de partida para a definição e o direcionamento do mix de produtos, tanto para varejistas e demais intermediários como também para fabricantes. Opções como vender a preços baixos, oferecer sofisticação e exclusividade ou, ainda, apresentar uma linha mais ampla podem ser um dos diferenciais competitivos definidos. Para a definição do diferencial competitivo (e, portanto, do mix de produtos), o varejista deve avaliar o segmento de mercado‑alvo e a concorrência. A avaliação dos consumidores ou clientes se dá em razão da necessidade de se definir o segmento de público‑alvo que se pretende atender, com o intuito de satisfazer suas expectativas. A análise da concorrência leva à identificação dos principais competidores da empresa e também ao conhecimento de seus pontos fortes e fracos. Quando o gestor está trabalhando na definição do mix de produtos, surge a necessidade de balancear o atendimento de dois objetivos conflitantes entre si, que são (1) optar por um mix de produtos que atenda às diferentes necessidades existentes em vários segmentos de consumidores e (2) maximizar o volume de vendas. Porém, atender a vários segmentos requer um portfólio com uma extensa variedade de produtos, o que, por sua vez, exige um alto investimento de recursos financeiros e em espaço físico adequado para estoque. Além de correr o risco de contemplar produtos que apresentem giro mais lento, o que invariavelmente irá resultar em elevação de custos operacionais, impacto negativo sobre o ROI (retorno sobre investimento) e, consequentemente, prejuízo da lucratividade. No varejo, por exemplo, o Stock Keeping Unit (SKU) – quantidade de itens que uma loja comercializa – varia muito entre os diversos estabelecimentos. Hipermercados podem chegar a ter um portfólio composto por 30 mil a 50 mil itens; já os supermercados ficam na faixa de 5 mil a 10 mil itens. Para simplificar a gestão, os produtos são agrupados e classificados em níveis hierárquicos, qualquer que seja a sua extensão. A forma de classificar não é consensual, e cada empresa, varejista, intermediário ou fabricante desenvolve seu próprio método. Os níveis de classificação podem receber nomes como departamentos, seções, linhas, categorias, famílias etc., porém já se vê uma padronização da nomenclatura em razão da disseminação das técnicas de gerenciamento por categorias. A padronização de classificação de produtos está apresentada no quadro a seguir. 49 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS Quadro 5 – Classificação hierárquica de produtos Nível Denominação Tipos de produtos Características Exemplo 1º Departamentos ou seções Itens com grau de familiaridade, substituição e complementaridade. Cada departamento é visto como uma unidade de negócios, cujos resultados são de responsabilidade dos seus gestores. Bebidas 2º Categorias, grupos ou famílias Itens complementares ou substitutos. Subdivisão dos departamentos. Atendem certa necessidade dos consumidores. Também representam unidades de negócios. Refrigerantes 3º Subcategorias Itens com alto grau de substituição e que concorrem ente si. Subdivisão das categorias. Guaraná 4º Segmentos Itens que atendem preferências específicas de diferentes segmentos. Subdivisão das subcategorias. Guaraná em lata 5º Subsegmentos Itens com características semelhantes, mas diferenciados por aspectos muito específicos. Subdivisão dos segmentos. Guaraná em lata dietético Adaptado de: Parente (2000, p 188). O quadro Classificação Hierárquica de Produtos usa como exemplo para o item específico o produto guaraná, que poderia ser representeado por uma marca, como o guaraná diet em lata. 3.2 Decisões estratégicas A elaboração das estratégias de sortimento, que se referem à definição das categorias de produto que serão vendidas, é de alta relevância para a gestão de negócios das empresas, uma vez que abrangem as decisões relativas a amplitude e a profundidade, a preço e a qualidade, a marcas próprias e a política de marcas, a importância ou papel da categoria. 3.2.1 Amplitude e profundidade Amplitude é o termo utilizado para se referir à quantidade de categorias, subcategorias e segmentos de produtos vendidos. Já profundidade é o termo usado para designar o número de marcas e itens existentes dentro de uma categoria ou subcategoria. Na figura a seguir, estão apresentadas as quatro estratégias básicas de variedade. 50 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade II Profundidade Grande Estratégia B Estratégia D Pequena Estratégia A Estratégia C Estreita Larga Amplitude Figura 10 – Estratégias de variedade A estratégia A apresenta a decisão por amplitude estreita e pouca profundidade e, dessa forma, o portfólio oferece uma variedade de produtos mais compacta. Apesar da limitação na oferta da variedade de produtos, a gestão que opta por essa estratégia pode oferecer para o consumidor outras vantagens que normalmente estão relacionadas a localização (fácil acesso) e conveniência, que também proporcionam para a organização benefícios como custos operacionais menores e necessidade de níveis de estoque mais baixos. A estratégia B pode ser a opção de negócios como livrarias, joalherias e lojas de roupas (femininas ou masculinas), significativos representantes do segmento de lojas especializadas. As lojas de roupas, por exemplo, podem ser especializadas em roupas femininas de tamanho grande ou roupas para grávidas. O foco é o tamanho, no primeiro caso, e uma utilização específica, no segundo. A vantagem que decorre da aplicação dessa estratégia é a construção da imagem de especialização e do relacionamento com o cliente objetivando sua fidelização. Porém, a opção de se trabalhar com uma ou algumas poucas categorias de produtos resulta na vulnerabilidade das vendas como desvantagem. Portanto, esse tipo de negócio precisa ter outros atributos que compensem as desvantagens, como localização privilegiada (estar em área de influência), como shoppings ou grandes centros comerciais das grandes regiões metropolitanas. [...] a consistênciado mix de produtos se refere a quão estreita é a relação entre as várias linhas de produto no tocante a uso final, requisitos de produção, canais de distribuição ou algum outro critério. [...] As linhas são menos consistentes na medida em que desempenham diferentes funções para os compradores (KOTLER; KELLER, 2012, p. 358). A estratégia C diz respeito à manutenção de um estoque maior, que contém um pouco de cada produto e dessa forma consegue atender a clientes com necessidades diversas. Podemos tomar como exemplo estabelecimentos como o Sam’s Club, que possui algumas opções de cada tipo de produto, que, por sua vez, são dirigidos para vendas organizacionais (para pessoas jurídicas como comércio, escritórios) e para os consumidores finais. Por fim, a estratégia D aponta para uma grande variedade de categorias e subcategorias, apresentando grande profundidade e pretendendo atender todas as necessidades dos clientes. Nessa categoria podemos citar como exemplo a rede Leroy Merlin e os hipermercados Carrefour, Extra e Walmart. 51 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS 3.2.2 Marcas próprias Marcas como Bombril, 3M e Sony pertencem à empresa fabricante dos produtos que são vendidos por intermediários, como atacadistas e varejistas. Algo diferente se dá com as marcas próprias, que diferem das anteriormente citadas por serem de propriedade dos intermediários, e não dos fabricantes. Assim, as marcas próprias são comercializadas exclusivamente por varejistas e atacadistas que podem: • usar o nome da própria loja, como é o caso da marca Dia%, de propriedade da rede de supermercados de mesmo nome; • criar um novo nome, como é o caso da marca Qualitá, da rede de supermercados paulista Pão de Açúcar. Você certamente já se deparou com marcas próprias em suas compras e talvez nem tenha percebido! Veja alguns exemplos de marcas próprias em redes que atuam no Brasil: • Walmart: Grand Expedition, The Bakery, +Ekonomico, Parent’s Choice e outras; • Carrefour: Carrefour, Carrefour Home, Carrefour Discount, Viver e outras; • Makro Atacadista: Aro; • Pão de Açúcar: Qualitá, Taeq, Club Des Sommeliers e outras; • Kalunga: Kalunga; • Pernambucanas: Anik, Flobelle, Baila, Greta, Vanguard, Argonaut e outras; • Zara: Zara Woman, Zara Basic e Zara Trafaluc; • Riachuelo: Anne Kanner, Drip, AK e outras; • C&A: Baby Club, Palomino, Miss Fifteen, Clock House, Yessica e outras; • Renner: Just Be, Request, Blue Steel e outras. Note que o processo de compra por parte do atacado ou do varejo é diferente quando se trata de uma marca própria. Quando o Carrefour compra um lote de leite longa vida com marca de fabricante (Parmalat, por exemplo), a negociação é diferente de quando compra um lote semelhante (de mesmo tamanho) de um fabricante que aceita produzir com marcas de terceiros (no caso, uma das marcas do Carrefour). Qual a diferença? No preço final do produto de marca de fabricante está embutido o custo da marca (criação, propaganda, posicionamento etc.), enquanto no preço final do produto de marca própria não há custo de marca a embutir! Ou seja, um laticínio que tenha sua própria marca leva em consideração os custos associados a essa marca quando apresenta sua tabela de preço para o Carrefour. 52 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade II O mesmo laticínio, mas de marca própria, não demandará no cálculo de seu preço a soma do custo da marca, uma vez que esta já pertence ao Carrefour. Há empresas que se especializaram em fabricar produtos para marcas de terceiros, ou seja, nunca investem em marcas próprias e, dessa forma, podem ter custos menores. Vale destacar que isso vale para qualquer categoria de produtos: alimentícios, cosméticos, eletrônicos etc. E há empresas que produzem produtos de suas marcas e que aceitam pedidos de varejos e atacados com marcas próprias. Qual seria a vantagem de aceitar pedidos de marcas próprias? A resposta é simples: normalmente são pedidos grandes, com programação de alguns meses (ou até base anual), e essa negociação pode representar uma garantia de fluxo de caixa. A criação, o desenvolvimento e a gestão de marcas próprias começaram na década de 1970 no Brasil, e é possível verificar um grande crescimento no interesse pela forma como se desenvolve seu mix de marketing. É bastante curioso também verificar a movimentação que se estabelece com a introdução de produtos com marcas próprias nas lojas. Além do custo menor na negociação com o fornecedor, a razão que leva diversos varejistas a investirem nessa modalidade mercadológica é a tentativa de atrair consumidores de produtos diferenciados, tanto os que já são clientes da loja como os potenciais, oferecendo‑lhes mais versões em vez de acompanharem a crescente tendência da segmentação do mercado de bens de consumo. Em geral, a introdução desses produtos no mercado é realizada com a utilização de apelos promocionais de baixa intensidade e esforços de comunicação e de vendas limitados ao ponto de vendas. O ponto forte de diferenciação é o preço, que é fixado em faixas inferiores às dos concorrentes. “Para o supermercadista, é vantajosa a distribuição de suas marcas, pois ele adquire os produtos a um preço menor, obtém uma margem mais elevada e ainda pode atrair clientes para sua loja, uma vez que oferece produtos com preços bastante competitivos” (PEREIRA, 2001). Observação Redes como Pão de Açúcar, Makro e Carrefour foram pioneiras em marcas próprias no Brasil e tiveram início na década de 1970. Se compararmos com a Europa e os Estados Unidos, o Brasil ainda demonstra pequena expressão no segmento de marcas próprias. Parente (2000) nos adverte que esses produtos respondem por cerca de 40% das vendas das lojas de departamentos e 20% das vendas dos supermercados nos Estados Unidos. A comercialização de produtos com marcas próprias responde ao atendimento de diversos objetivos dos varejistas, como: • fortalecer a imagem de marca da loja; • estabelecer fidelização do consumidor por meio do consumo de uma linha de produtos exclusiva; 53 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS • aumentar o poder de negociação e de participação nas compras de fornecedores, principalmente de marcas líderes; • oferecer aos clientes opções mais competitivas que as ofertas de concorrentes mais agressivos; • melhorar o nível de competitividade investindo em maior amplitude e variedade; • melhorar as margens de lucro das categorias e das vendas totais das lojas; • melhorar o nível de atendimento das necessidades dos consumidores. Embora haja vantagens na comercialização de produtos de marca própria, essa operação ainda representa uma incógnita para o varejista. Apesar das altas margens de lucro que consegue praticar e da maior fidelização do cliente que se pode obter, os varejistas ainda acreditam que uma significativa parcela desses itens no mix de produtos leve o cliente a perceber a variedade da loja como limitada. Portanto, ainda hoje, o desafio dos fabricantes que podem apoiar os varejistas no desenvolvimento de produtos de marcas próprias reside em mostrar que a gestão deve se preocupar com o equilíbrio entre a quantidade de produtos oferecidos de marca própria e a de marca de fabricantes. Saiba mais Para aprofundar seu conhecimento sobre marcas próprias, você pode acessar o artigo “Marcas próprias: um estudo sobre a gestão de marcas próprias no varejo”, de Adalberto Ribeiro de Oliveira, disponível em: <http://www. portaldomarketing.com.br/Artigos/Marcas_proprias_um_estudo_sobre_a_ gestao_de_marcas_proprias_no_Varejo.htm>. Acesso em: 21 mar. 2017. 3.3 Fatores que influenciam o mix de produtos A tarefa de compor um mix de produtos é uma função de cunho estratégico e que sofre a influência de fatores variados, que precisam ser levados em conta no momento da decisão sobre quais itensfarão parte dessa composição. Esses fatores são: substitutibilidade, complementaridade, indicadores de desempenho da linha de produtos, ciclo de vida de produto, ciclo de moda, ciclo de adoção, necessidades dos clientes‑alvo, limitação de espaço, equipamento e recursos e posicionamento mercadológico da empresa. • Substitutibilidade: trata‑se da propriedade ou capacidade de um produto substituir outro que seja similar ou que traga benefícios similares. O grau de substitutibilidade é variável entre os produtos e aumenta à medida que a hierarquia de classificação dos produtos é detalhada, conforme você pode verificar no exemplo desenvolvido no quadro a seguir. Vale destacar que produtos de subcategorias diferentes, como no caso exemplificado no quadro – café instantâneo e café embalado a vácuo – apresentam menos possibilidades de substituição entre si. Porém, 54 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade II produtos que pertençam ao mesmo subsegmento podem apresentar possibilidades maiores de sobreposição, que pode ser relativa a variações do tamanho da embalagem, por exemplo. Quadro 6 – Demonstração de grau de substitutibilidade Categoria Subcategorias Segmentos Subsegmentos Embalagem Quantidade de itens Café Café cappuccino Café instantâneo Cafeinado (regular) Descafeinado 50 g 0 100 g 3 200 g 0 Café a vácuo Café almofada Adaptado de: Parente (2000, p. 198). • Complementaridade: a complementaridade se estabelece com o oferecimento de produtos que são normalmente utilizados (ou podem ser utilizados) em conjunto, como creme dental, escova de dentes, fio dental e antisséptico bucal. Nesse caso, o grau de complementaridade também é variável: escova de dentes e creme dental apresentam alta complementaridade, porém incluir os outros produtos complementares favorece o aumento das vendas, uma vez que a compra de um produto pode levar à aquisição de outro. Além disso, percebe‑se que os consumidores não são tão sensíveis ao preço quando se trata de produtos complementares. Ainda sobre a complementaridade, podemos observar que é bastante comum ver em supermercados a proximidade física entre itens como macarrão e produtos à base de tomate e/ou molhos para macarrão. Por serem complementares, a disposição estratégica desses produtos (muitas vezes dispostos um ao lado do outro) amplia a probabilidade de aumentar o volume médio de compra. Saindo do autosserviço, lojas de roupas masculinas com atendimento pessoal (vendedores) também costumam incentivar a elevação da compra média por meio da oferta verbal “Temos cintos em promoção”: isso porque há complementaridade nos produtos ofertados. Observação A substitutibilidade e a complementaridade são conceitos importantes na definição do mix de produtos. Os produtos substitutos e os produtos complementares compõem categorias que atendem necessidades específicas dos consumidores. • Indicadores de desempenho da linha de produtos: uma composição adequada do mix de produtos pode ser realizada com a aplicação da análise dos indicadores de desempenho produto a produto ou, ainda, considerando‑se subcategorias e segmentos. Os indicadores de desempenho a serem utilizados podem ser: a receita obtida pelo produto ou pela categoria; a margem bruta sobre as 55 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS vendas; o giro do estoque em determinado período de tempo; o SKU (número de itens); o lucro bruto; o valor do estoque; a receita média por item; a porcentagem do lucro bruto da categoria; a porcentagem de vendas da categoria; e, ainda, a porcentagem do estoque na categoria. A análise da curva ABC e do ciclo de vida do produto são também instrumentos bastante eficazes para a análise do desempenho (comportamento das vendas dos produtos). • Ciclo de vida do produto: produtos e serviços são como seres vivos, nascem, crescem, atingem a maturidade e caem em declínio. Assim, as fases do Ciclo de Vida do Produto (CVP), aplicáveis a quaisquer produtos ou serviços, são: introdução, crescimento, maturidade e declínio. Os tempos relativos às fases variam tremendamente em função do tipo de produto: o iPhone 3 foi lançado em 2009 e hoje não é mais vendido, enquanto a Bayer começou a vender a aspirina em 1899 e a vende até hoje! No Brasil, a saudosa Volkswagen Kombi foi comercializada entre 1957 e 2013. • Ciclo de moda: a moda tem forte poder de influência sobre os segmentos varejistas em geral, mesmo em medidas diferentes. O ciclo de moda apresenta comportamento semelhante ao do ciclo de vida de produtos, porém acontece em períodos mais curtos de tempo. Lembrete Moda é um estilo aceito de forma expressiva em diferentes segmentos da população. • Ciclo de adoção: a adoção de produtos se estabelece em cinco fases: os inovadores, os adotantes imediatos, a maioria de adotantes, a maioria de adotantes não imediatos e os retardatários. • Necessidades dos clientes‑alvo: por ser o principal objetivo dos esforços de marketing, o gestor deve ter em mente que as mudanças nos hábitos dos consumidores estão ocorrendo em uma velocidade cada vez mais rápida, e o atendimento a esses clientes, ávidos por novidades, deve acompanhar o mesmo ritmo. A tarefa, portanto, é mapear constantemente as modificações no que tange às necessidades de consumo, bem como verificar as mudanças ambientais que provocam essas transformações. Por exemplo, se você analisar a composição do mix de produtos de uma papelaria ao longo das últimas décadas, notará o significativo aumento de produtos de informática disponíveis (equipamentos, periféricos, mídias e acessórios) e a diminuição na quantidade de itens tradicionais de escritório e artigos escolares (como borrachas, lápis, réguas etc.). • Limitação de espaço, de equipamento e de recursos: o espaço físico é um fator determinante na composição do mix, bem como a necessidade de uma infraestrutura adequada ao estoque, à exposição e à comercialização dos produtos. Por exemplo, um espaço físico amplo é requisito básico dos hipermercados, que são lojas com aproximadamente 10.000 m2 e, dessa forma, cumprem com o seu objetivo de oferecer um extenso mix, chegando a disponibilizar cerca de 50 mil itens. Já as lojas de conveniência, que pretendem oferecer um mix mais básico e compacto, requerem áreas em torno de 100 m2. Quanto aos equipamentos, se o lojista pretende incluir em seu mix produtos congelados, equipamentos para conservação desses produtos são fundamentais, como geladeiras 56 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade II e frigoríficos. Os recursos aqui se referem tanto aos financeiros, como capital de giro necessário para incluir produtos que requerem altos investimentos em estoque e que apresentam giro mais lento, quanto humanos, caso a intenção seja oferecer produtos manipulados na hora, como frios fatiados e pesados no momento da compra. • Posicionamento mercadológico da empresa: o posicionamento mercadológico influi diretamente na composição do mix uma vez que está associado diretamente à demanda e, consequentemente, influenciará a definição de espaço, equipamentos e recursos. Por exemplo, uma loja de roupas de grife, que atende os segmentos A e B, normalmente possui espaço entre 100 e 200 m2 e apresenta uma linha mais compacta, diferente de uma loja como Renner e C&A, que atendem classes B e C e, para isso, dispõem de uma composição mais extensa e uma área bem maior, podendo chegar a 6 mil m2. Depois de definidas as estratégicas de composição do mix de produtos, a organização deve passar para a fase de implementação dessas estratégias, o que acontece por meio da tomada de decisões táticas. As decisões táticas abrangem ações que vão da introdução de novos produtos à exclusão de produtos com baixo desempenho, aumento ou redução da variedade etc. Vejamos cada uma delas: • Introdução de novos produtos: adecisão de incluir um novo produto no mix é uma tarefa constante. Além de o mercado introduzir novos produtos constantemente, há o acompanhamento das mudanças do perfil dos consumidores (das suas necessidades e valores). Para essa decisão, o varejista deverá se ater aos seguintes questionamentos: — se o novo produto é uma duplicação (substituto perfeito) de algum produto já existente no mix e se o novo produto traz diferentes benefícios ao consumidor; — que tipo de necessidade específica o novo produto atende; — se o novo produto colabora com o alcance dos objetivos da categoria à qual pertence; — qual a previsão de vendas; — qual o nível de importância dessa categoria para a empresa e quanto esta deseja se dedicar à categoria; — se a comercialização do produto colabora no fortalecimento ou estreitamento da relação com o fornecedor; — se a introdução desse novo produto gera a exclusão de algum produto. • Exclusão de produtos: da mesma forma, a decisão direcionada para a exclusão de produtos do mix é um procedimento regular e de tanta importância quanto o de incluir um novo produto. Em se tratando de empresas varejistas, é importante lembrar a finitude do espaço físico e, por esse motivo, esforços para sua administração devem ser empreendidos; isso exige produtos que tragam de fato 57 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS os objetivos pretendidos, bem como a introdução de novos produtos, podendo levar à exclusão de artigos costumeiramente comercializados. Portanto, excluir produtos é uma tarefa necessária e saudável, porque atualiza o portfólio da empresa, seja indústria ou comércio, no que diz respeito ao atendimento de necessidades e desejos dos consumidores. Porém, essa tarefa também exige, como já ocorrido na introdução de novos produtos, algumas ponderações, como: — se existe a necessidade de exclusão de algum item; — qual a proporção de clientes que ficarão insatisfeitos com a exclusão e qual tipo de reclamações pode ocorrer com a exclusão de determinado item; — quais produtos apresentam indicadores de desempenho abaixo dos patamares estabelecidos pela empresa; — quais produtos apresentam os piores indicadores de desempenho; — se já existem produtos substitutos no mix; — se os concorrentes ainda trabalham com o item; — se na avaliação do fornecedor o item se encontra no estágio de declínio do ciclo de vida; — quais produtos ocuparão o lugar do produto a ser excluído. • Aumento da variedade: essa decisão deve ser avaliada e, para isso, podem‑se aplicar pesquisas para verificar o nível de atendimento das necessidades dos clientes pela composição de produtos oferecida; esse levantamento pode trazer ainda informações relacionadas ao desempenho dos concorrentes e também respostas sobre necessidades de amplitude (novas categorias, subcategorias ou segmentos) e profundidade (novas marcas, mais opções de modelos). • Redução da variedade: pode acontecer de o gestor ampliar demasiadamente a variedade, resultando em um portfólio com um número elevado de itens que apresentam baixo volume de vendas, giro lento de estoque, escassez de recursos para renovação do estoque, pouca identidade com relação à marca e ao mix. Nesse caso, o gestor pode optar por reduzir o mix de produtos, decidindo‑se por trabalhar com menos marcas e modelos, diminuindo a variedade oferecida, porém mantendo o número de categorias, subcategorias e segmentos (amplitude). Outra opção é diminuir a amplitude por meio da exclusão de categorias e subcategorias e colocar mais foco no negócio, por meio, por exemplo, da oferta de serviços combinados. • Agrupamento de lojas: outra decisão importante é a definição da composição do mix de acordo com a loja, obedecendo a características do espaço físico de cada loja, região geográfica e perfil do cliente. Redes muitos grandes formam clusters, ou seja, agrupam as lojas com características semelhantes e definem para esses agrupamentos um determinado mix de produtos. Para a realização desse agrupamento, são levados em consideração características de mercado (região 58 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade II e concorrência), perfil do consumidor (poder aquisitivo, faixa etária, número de pessoas por domicílio) e as próprias características das lojas (espaço físico e volume de vendas). 3.4 O gestor de produtos Quem gerencia produtos em uma empresa é o gerente ou gestor de produtos, algumas vezes também chamado de gerente de mercado por ser um profissional de marketing. Esse profissional é responsável pelo produto desde a sua concepção (criação) até sua entrega ao cliente final. Portanto, faz parte das atribuições do gerente de produto administrar a rentabilidade. Por isso, é importante que o gestor de produtos tenha conhecimentos de marketing e de técnicas de gerenciamento, além de experiência na área comercial (vendas). Entre as competências necessárias a esse profissional destacam‑se o dinamismo, a determinação, a criatividade e a capacidade tanto de relacionamento com os diversos níveis e áreas da empresa como para gerenciamento de pessoas. Afinal, entre suas tarefas estão a elaboração, a execução e o acompanhamento de planos de trabalho que englobam produção, promoção e distribuição de produtos. Gestor de produto Recursos Humanos P&DVendas Logística Produção Comunicação Marketing Figura 11 – Relacionamento do gestor de produtos dentro da empresa O gestor de produtos trabalha especificamente na definição das estratégias de produto, de prognósticos, metas e objetivos, recursos necessários, execução de planos e no controle das ações. A definição de estratégias se dá com base em informações referentes: aos hábitos de consumo dos clientes atuais e potenciais, motivações de compras, resultado de vendas, informações sobre o mercado (o que inclui o estudo cuidadoso da concorrência e do macroambiente). Em seguida, o gestor deve definir prognósticos, metas e objetivos e, para isso, precisa elaborar um plano de marketing. Para a execução desse plano, recursos deverão ser definidos, que podem ser prêmios especiais para a equipe de vendas, campanhas publicitárias e de promoção de vendas, acréscimo de pessoal etc. 59 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS Observação Prognóstico é uma projeção ou previsão. Com o plano elaborado, o gestor, junto com as demais áreas, faz a sua implementação, acompanhando toda a execução das tarefas, controlando os resultados que vão sendo obtidos e fazendo as correções que forem necessárias. 4 PLANEJAMENTO DE PRODUTOS O planejamento de produtos, que é parte do plano de marketing (o qual, por sua vez, responde ao planejamento estratégico da organização), é elaborado com base em todo o histórico do produto em questão. Esse planejamento, portanto, pertence a um contexto maior, que abrange o plano de marketing e o planejamento estratégico organizacional. Planejamento estratégico Planejamento de marketing Planejamento de promoção Planejamento de produto Planejamento de vendas Análise ambiental Análise de mercado Figura 12 – Subordinação do processo de planejamento de produto O esquema anteior nos mostra que a análise do ambiente em que a empresa atua se mostra imprescindível para a elaboração do planejamento estratégico, que nada mais é do que o ponto de partida para o desenvolvimento e a implantação dos demais planos táticos e operacionais. O planejamento de produto leva em consideração todo o histórico do produto, isto é, o desenrolar do seu ciclo de vida (CVP) e, claro, será elaborado para o momento em que ele se encontra – o seu estágio nesse ciclo. Razzolini Filho (2012) lembra que fatores de fundamental importância na elaboração de planejamentos de produto são “as condições econômicas e os planos de ação dos concorrentes, entre outras informações importantes”. O planejamentode produto deve ainda servir, segundo esse autor, como uma guia para orientar as atitudes do gestor e um parâmetro de comparação com o que foi planejado anteriormente. Esse planejamento leva em consideração diversos fatores estudados em decisões de produto. Veja o quadro a seguir. 60 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade II Quadro 7 – Componentes necessários ao planejamento de produtos Item Característica Objetivos de mercado para produto Objetivos de vendas, de participação de mercado e objetivos de lucros. Público‑alvo do produto Com características demográficas, psicográficas e expectativas. Atributos e benefícios do produto Tudo o que diferencia dos produtos da concorrência e que representa valor para o cliente. Patentes do produto Mecanismos de proteção legal contra a concorrência. Serviços agregados ao produto Suporte pós‑venda, assistência técnica, treinamento etc. Marca do produto Decisões de posicionamento da marca em relação ao público‑alvo. Posicionamento e imagem A visão de como se deseja que o cliente perceba o produto no mercado. Embalagem Definições sobre diferenciação em relação à concorrência ou estabelecimento de diferenciais com ênfase no cliente. Parcerias Como estabelecer alianças ao longo do canal de distribuição de forma a agregar valor ao produto/serviço, em termos de tecnologia, serviços agregados etc. Fonte: Razzolini Filho (2012, p. 54). A consideração de todos os itens relacionados no quadro habilita o gestor a desenvolver um planejamento de produto eficaz. A partir do momento em que o gestor tiver levantado todas as informações de relevância, ele estará em plenas condições de elaborar o orçamento do plano, que, então, poderá pôr em execução uma de três alternativas de foco: vendas, custo, lucro. Cada uma dessas opções de foco possui características distintas. Vejamos a seguir cada uma delas. 4.1 Planejamento com foco em vendas Esse planejamento, como o próprio nome sugere, direciona os esforços para o alcance de determinada meta de vendas (no ano seguinte ao de realização do plano). Esse tipo de plano é bastante comum em indústrias que precisam de altos investimentos de capital e geram volumes grandes de produção e também é interessante para indústrias que precisam se preocupar em manter estoques reguladores de flutuações de demanda e que possuem restrição no mix de produtos (isso se não trabalharem com um único tipo de produto). Bons exemplos são as siderúrgicas, as indústrias químicas e as petroquímicas. O cálculo da meta nesses casos é feito com base no histórico de vendas e nos objetivos estabelecidos para a expansão dos negócios dentro do período contemplando pelo planejamento. O reduzido portfólio de produtos facilita e racionaliza o plano. 4.2 Planejamento com foco em custos Esse planejamento é relacionado às metas de lucros que são estabelecidas pela organização, bastante comuns em indústrias de produtos de consumo. Os pontos de partida desse modelo de planejamento podem ser (1) projeção das vendas do período seguinte por extrapolação do resultado anterior e (2) determinação do preço de venda para o período seguinte. Na opção (1) projeção das vendas do período seguinte por extrapolação do resultado anterior, é levado em consideração o que aconteceu no período de análise (resultado anterior), e na opção (2) determinação do preço de venda para o período seguinte são levados em consideração aumentos de custos, como materiais, mão de obra, insumos e outros 61 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS custos que sejam de importância para o produto. Dessa forma, planeja‑se o montante de aumento de preço equivalente aos custos projetados com o objetivo de manter a margem bruta constante. Se, por algum motivo, não for possível praticar o aumento de preços, uma opção é diminuir o volume unitário do produto oferecido, mantendo‑se o preço de venda, o que, na prática, é o mesmo que aumentar o preço. Com base na definição da margem bruta desejada, é possível calcular a estimativa das vendas com o novo preço e a margem de contribuição, que, por sua vez, deverá ser capaz de cobrir custos fixos, de marketing e lucros. Em seguida, são calculados os custos fixos que deverão ser considerados para o cálculo do lucro líquido a ser obtido pelas vendas projetadas. O que se espera é que esse planejamento seja o reflexo do gerenciamento dos custos projetados e do lucro. 4.3 Planejamento com foco em lucros Tanto o método de planejamento de produto com foco em vendas como o método com foco em custos não são os mais recomendados sob o ponto de vista dos conceitos de marketing, mas acabam muitas vezes sendo utilizados para atender situações específicas vividas pela organização. O ideal é que o planejamento leve em consideração as relações entre as possibilidades de vendas e o orçamento de marketing, que inclui o cálculo de demanda, para que o lucro desejado seja alcançado. Segundo Razzolini Filho (2012, p. 56), “o lucro é sempre uma função do preço e das despesas de marketing definidos pelo gerente de produtos”. Com método matemático, portanto, é possível determinar a combinação “preço ótimo e lucro desejado”. 4.4 Estendendo o ciclo de vida do produto Nos dias de hoje, as indústrias tentam se destacar cada vez mais com o desenvolvimento e a implantação de inovações em seus produtos e isso se dá em razão da forte necessidade de estar pari passu com o extremo dinamismo dos mercados atuais. Não é incomum que um produto bem‑sucedido desde o seu lançamento em algum momento passe a dar sinais de desgaste. Nesses casos, é possível que o gestor busque incorporar nesse produto novos atributos para que suas vendas continuem crescentes e lucrativas, garantindo sua competitividade. Estágios de declínio em alguns casos poderão ser revertidos se for possível incorporar inovações ao produto, o que lhe trará um tempo a mais de vida e de resultados positivos. Muitas vezes essa “renovação” se torna obrigatória, fazendo as empresas continuamente implementarem aprimoramentos para não correrem o risco de ver seus produtos desaparecerem do mercado. As inovações são, em boa parte das vezes, um jeito de alterar o ciclo de vida do produto de forma a trazer mais lucratividade. 4.5 Objetivos e diretrizes do produto Uma vez que o planejamento de produto deriva do planejamento de marketing (que responde ao planejamento estratégico da organização), os objetivos e as diretrizes de produto devem estar alinhados aos objetivos estratégicos da organização. 62 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade II A definição das inovações que serão implementadas depende dos objetivos que forem estabelecidos para o produto. Elas também devem estar alinhadas às características que o produto deve conter, a fim de que o posicionamento da empresa no mercado seja mantido. É importante lembrar que toda empresa segue sempre em direção ao alcance de seus objetivos organizacionais, que são os mais amplos. Por esse motivo, produtos novos ou antigos devem ter seus objetivos alinhados aos objetivos organizacionais da empresa, quaisquer que sejam seus estágios no ciclo de vida. Sob o ponto de vista de marketing, a definição dos objetivos de um produto é traçada tendo em vista o perfil dos consumidores e a satisfação de suas necessidades e desejos; assim, uma infinidade de soluções pode ser trazida por um único produto. Se analisarmos um smartphone, por exemplo, perceberemos que por meio de um único equipamento diferentes consumidores poderão ter seus anseios atendidos: há aqueles que querem se comunicar com facilidade por meio de mensagens de texto, utilizando aplicativos como WhatsApp; há aqueles que não querem deixar de participar ativamente das redes sociais como Facebook e Snapchat; outros querem ter um conjunto de aplicativos que os ajude no dia a dia traçando rotas(Waze) e buscando linhas de ônibus (Moovit); existem também pessoas que já abandonaram as suas câmeras de fotografia e de vídeo e as substituíram pelo celular; e há aquelas que desejam um bom equipamento para se comunicar por voz. Um celular, hoje, vai além da simples tarefa de fazer e receber ligações telefônicas: trata‑se de um meio de comunicação, de relacionamento, de entretenimento, um verdadeiro instrumento de apoio para a solução de problemas do cotidiano. Os objetivos de produto não estão limitados ao produto, porém a certos tipos de consumidores e a suas necessidades e desejos específicos. A organização deve, portanto, ficar atenta às mudanças que vão surgindo, tanto no macroambiente como no microambiente, para conseguir acompanhar as evoluções do mercado e propor continuamente produtos que possam manter a competividade da organização. É o caso, por exemplo, do fim das lâmpadas incandescentes (uma decisão que ocorreu por determinação político‑legal) e do crescimento do uso da comunicação móvel para fins profissionais (em decorrência da necessidade de agilidade e também pelo fim de serviços de apoio, como o das secretárias nas empresas). Em resumo, os objetivos estabelecidos para o produto devem: • ter origem nos objetivos gerais da organização; • ser definidos de forma alinhada aos objetivos de marketing; • trazer percepção de valor para o consumidor nas inovações desenvolvidas e implementadas; • manter a empresa posicionada no mercado conforme propõe a sua missão. Essas afirmações sobre objetivos de produtos nos levam a afirmar que, se a empresa modificar seus objetivos estratégicos, obrigatoriamente seus produtos terão seus objetivos também alterados e ajustados. 63 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS Além de objetivos, há a definição de diretrizes dos produtos. O intuito de se elaborar diretrizes é facilitar o trabalho, tanto do gestor como da equipe responsável por administrar produtos ou desenvolver novos produtos. Assim, diretrizes precisam ser simples, devem trazer praticidade e de forma nenhuma afastar o produto do cumprimento dos objetivos de atendimento do mercado e da empresa Observação Diretrizes são regras de forma geral, guias de orientação que são estabelecidas pela alta administração da organização e são compatíveis com os objetivos dos produtos. Saiba mais Leia também o texto da página 70 do livro Gerência de Produtos para a Gestão Comercial, de Edelvino Razzolini Filho, que se refere às diretrizes externas à organização a ser seguidas pelas corporações que querem fazer negócios com países pertencentes à União Europeia. Há também a aplicação, em muitos casos, das regras e normas que são determinadas por instituições e órgãos reguladores. Trata‑se de normas e regras estabelecidas por instituições externas à organização e que devem ser respeitadas no processo de desenvolvimento de produtos. Essas normas podem se referir a padrões industriais, como as normas ISO e ABNT, as normas padrão do Inmetro e ainda guias de boas práticas de fabricação. Se voltarmos ao exemplo das lâmpadas, esses são produtos cujas normas padrão, como consumo de energia e voltagem, são estabelecidas pelo Inmetro. Saiba mais As entidades designadas a seguir têm seu trabalho relacionado à padronização das características técnicas ou ao estabelecimento de padrões de qualidade e conformidade de diversos produtos. — O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) foi criado em 1973 com o objetivo de assegurar a qualidade de produtos e serviços. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/>. Acesso em: 12 abr. 2017. — O Instituto de Pesos e Medidas do Estado de São Paulo (Ipem) foi criado em 1967 visando assegurar a política metrológica no estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.ipem.sp.gov.br/>. Acesso em: 12 abr. 2017. 64 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade II — O Instituto Nacional de Avaliação da Conformidade em Produtos (Innac) trabalha com a certificação de produtos compulsórios e voluntários. Disponível em: <http://www.innac.org.br/>. Acesso em: 12 abr. 2017. — A International Organization for Standardization (ISO) é uma organização internacional responsável pelo estabelecimento de padrões internacionais. Disponível em: <https://www.iso.org/home.html>. Acesso em: 12 abr. 2017. 4.6 Desenvolvimento de produto Para uma organização, o desenvolvimento de novos produtos ou serviços significa sua continuidade, a construção de seu futuro. Novos produtos e serviços – que podem ser inéditos ou antigos produtos que receberam aprimoramentos – podem ser meios de garantir novas vendas ou, no mínimo, manter os níveis atuais das receitas. Porém, nem todo novo produto é razão de sucesso; emplacar uma novidade é um desafio para empresas de todos os segmentos. A área de marketing tem participação importante no desenvolvimento de novos produtos em razão de seu encargo de detectar necessidades latentes e lacunas de mercado, bem como identificar as mudanças que ocorrem no macroambiente. Esse trabalho acontece em conjunto com as áreas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), que são as responsáveis por desenvolver os projetos e protótipos de novos produtos. Figura 13 – Protótipo de veículo 4.7 Novos produtos As empresas podem optar por diferentes caminhos para renovar o seu portfólio de produtos. Uma opção pode ser comprar outra organização que tenha produtos que possam complementar o portfólio atual, o que inclui a opção de aquisição de patentes, licenças e franquias. A Nestlé, por exemplo, ampliou seu portfólio adquirindo marcas diversas como Hills Brothers (café) Stouffer’s (refeições congeladas), Carnation (ingredientes para sobremesa), Ralston purina (ração animal) e Gerber (alimentos infantis), só para citar algumas. 65 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS Outra opção é investir no desenvolvimento de novos produtos, entre outras possibilidades, por meio de centros de pesquisa e desenvolvimento próprios ou terceirizados. No crescimento orgânico, que é o processo de crescimento por meio da criação de seus novos produtos, as empresas podem optar por produzir internamente ou contratar pesquisadores independentes. 4.8 Planejamento de novos produtos Existem muitas concepções diferentes sobre como elaborar planejamentos para novos produtos, o que se percebe perfeitamente tanto entre autores como nas organizações de forma geral. Em nosso estudo, vamos dividir o processo de planejamento de um novo produto em três etapas, uma das formas como o processo é trabalhado no mercado. • Primeira etapa: é o momento da criação de ideais para o novo produto. Nessa fase o gestor responsável pelo novo produto avalia a importância da oportunidade identificada no mercado, representada por uma necessidade ou um desejo. Cabe lembrar que essa oportunidade pode ser identificada por meio de pesquisas de mercado e análises do comportamento do consumidor da própria empresa. Além disso, é importante que sejam analisados os atuais níveis de satisfação oferecidos pelos produtos do portfólio vigente. Paralelamente, o gestor deve avaliar as competências da empresa, como as capacidades técnica, científica, produtiva e tecnológica para desenvolver as ideias geradas nessa fase. • Segunda etapa: é o momento da avaliação da ideia selecionada. Aqui, o foco do gestor é avaliar em profundidade as capacidades e os recursos da concorrência para reproduzir a mesma ideia ou uma muito semelhante. Nesse momento, são fundamentais estudos de mercado para trazer informações sobre a organização de marketing adequada para o novo produto (capacidade produtiva, estrutura de serviços, canais de distribuição, recursos humanos, entre outros). • Terceira etapa: é o momento do desenvolvimento do novo produto. Nessa fase é que, de fato, o novo produtoserá desenvolvido. Inclui‑se aqui o desenvolvimento do planejamento global de marketing, no qual estará descrito o mercado de atuação, com detalhamento do perfil do cliente, da estrutura completa de distribuição e os planos de precificação e de comunicação. Figura 14 – Estudos de mercado são fundamentais no planejamento de novos produtos 66 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade II É importante lembrar que o planejamento de produtos é parte da estratégia da organização e, portanto, está intimamente ligado à sua competitividade. Assim, o gestor deve ter em mente que uma estratégia de produtos apenas contribuirá com a vantagem competitiva para a empresa se atender a, no mínimo, um dos quesitos descritos a seguir: • o novo produto não pode ser copiado porque está protegido por patente, ou porque o concorrente não possui as competências necessárias para o seu desenvolvimento; • o concorrente não adota a mesma ideia por falta de estrutura, de recursos financeiros para investimento, ausência de porte ou capacitação adequada ou, ainda, por querer assumir a posição de seguidor, e não a de líder de mercado; • para o concorrente a nova ideia não trará vantagem competitiva em razão dos resultados previstos, seja em função de receitas ou de lucratividade; • para o concorrente a adoção da nova ideia serve de reforço de imagem para a empresa pioneira. A recomendação dos especialistas, portanto, é que a organização escolha uma estratégia que não seja fácil de ser copiada pelos seus competidores. Lembrete As decisões que compõem o desenvolvimento da estratégia de novos produtos fazem parte do composto de produto, isto é, referem‑se ao conjunto de decisões estratégicas relacionadas com as linhas de produtos de uma organização. 4.8.1 Tipos de novos produtos Diferentes formas podem ser usadas para classificar novos produtos. Uma delas refere‑se às inovações contínuas que dizem respeito aos produtos já existentes que recebem mudanças; outra forma diz respeito às inovações descontínuas, caso de produtos inéditos. As inovações propriamente ditas podem estar relacionadas à tecnologia e são oriundas dos esforços de pesquisa e desenvolvimento e das necessidades dos clientes. Uma forma prática de classificar um produto novo abrange as seguintes categorias: • produtos novos para o mundo: produtos que não existiam e que foram inventados, como o televisor, o aparelho de telefone celular e o GPS (algumas invenções são tão revolucionárias que têm o poder de modificar inclusive a forma de viver das pessoas); • novas categorias de produtos: produtos inéditos em determinada empresa, mas não para o mercado; 67 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS • adições às linhas de produtos: referem‑se às extensões de linha, como a Coca‑Cola adoçada com estévia; • melhorias em produtos: versões renovadas dos produtos já existentes, como o automóvel Ford Ka com motor de 3 cilindros; • reposicionamentos: produtos que são oferecidos com um novo posicionamento de mercado, tendo como objetivo um novo uso ou novos mercados. Produtos novos para o mundo NOVO Melhorias em produtos Re po sic io na m en to s Novas categorias de produtos Ad içõ es a li nha s de pro dut os Figura 15 – Tipos de novos produtos Um novo produto pode ser totalmente inédito ou um aperfeiçoamento de algo já existente. Aliás, na prática, a maioria do que vemos no mercado são melhorias de produtos já existentes. A tarefa de desenvolvimento de novos produtos possui um componente dos mais importantes para a estratégia de marketing, que é divisão desse trabalho em etapas muito bem definidas: geração e triagem de novas ideias, desenvolvimento e teste do conceito de produto, desenvolvimento e teste de protótipo, desenvolvimento das estratégias e programas de marketing, desenvolvimento final do produto, teste de mercado, lançamento do produto no mercado e acompanhamento dos resultados. Assim que a empresa identifica que há uma lacuna no mercado, isto é, uma necessidade ou desejo não satisfeito, é interessante que haja a preocupação de se tentar buscar uma solução por meio do desenvolvimento de um produto que preencha essa lacuna. É assim que se dá início ao processo de desenvolvimento de um novo produto. Empresas que possuem áreas de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) enviam para esses departamentos as ideias e as informações de necessidades detectadas. Trata‑se de um processo que reúne diversos profissionais, e 68 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade II cada um, com suas expertises, irá contribuir para a criação de um novo bem ou para a renovação de um bem já existente. Observe a figura a seguir: Trabalho colaborativo Gestão de conflitos Economistas Administradores DesignersProfissionais de marketing Advogados Engenheiros Desenvolvimento do produto + + + + + = Figura 16 – Profissionais em um desenvolvimento integrado de produto A figura nos mostra que o desenvolvimento de um novo produto, ou mesmo a renovação de um já existente, é um trabalho colaborativo e iterativo. Há participação de diferentes profissionais da empresa e é de responsabilidade do gestor catalisar as ações, bem como mediar os conflitos (cujo surgimento é bastante provável, uma vez que diversos pontos de vista, em função de diferentes formações, poderão manifestar‑se). Razzolini Filho (2012) esquematizou o modelo para o processo de desenvolvimento de novos produtos que se vê em prática até os dias de hoje. Identificação de oportunidades Investigação das ideias Análise de viabilidade Decisão de continuar ou parar Comercialização Pesquisa e desenvolvimento em laboratório (protótipo) Planos de fabricação Ideias (criação) Design e teste de conceito de produto Introdução do produto no mercado (planos de marketing) Figura 17 – Modelo de processo de desenvolvimento de um novo produto O esquema mostra que todo o processo tem início com a identificação das oportunidades no mercado de atuação, que será a fonte de ideias. Para a identificação das necessidades do mercado, é fundamental a sua análise, tarefa que permite verificar as lacunas existentes e que poderão ser trabalhadas pela empresa. É observando o mercado e acompanhando as suas mudanças que é possível ter novas ideias. Um ponto a se realçar é que não basta olhar para o ambiente mais externo à empresa, o macroambiente: é imperativo considerar também o microambiente, ou seja, ouvir o cliente (o que pode se dar por meio do diálogo com as equipes de vendas e da avaliação cuidadosa dos registros feitos nos diversos canais de atendimento, como SAC etc.). A segunda etapa se refere à investigação das ideias que surgem com o objetivo de realizar uma análise mais profunda da sua viabilidade. Concluída essa etapa, as organizações se dedicam a diferentes fases relacionadas ao desenvolvimento do novo produto. 69 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS 4.8.2 Elaboração do novo produto Será difícil para nós entendermos quanto de esforço foi necessário para que um novo produto chegasse até nós, ou até a indústria, se estivermos falando de produtos organizacionais ou bens empresariais. São muitas as áreas envolvidas, além de diversos fornecedores e muito trabalho. O projeto de um novo produto começa com a geração e triagem de novas ideias; com base nisso a empresa imprime esforços no desenvolvimento e no teste do conceito. Todas essas fases de trabalho têm grande importância para garantir que o produto possa ter condições de ser comercializado e chegar ao cliente final. Não raro, dezenas de ideias surgem e são avaliadas, mas apenas algumas poucas chegam de fato a ser concretizadas. Segundo Kotler (apud RAZZOLINI FILHO, 2012, p. 79): somente algo em torno de uma dúzia efetivamente se transformaem projeto, e, dessa dúzia, uma média de cinco ideais são eliminadas na fase de análise econômico‑financeira, quatro são descartadas na fase de desenvolvimento de produto e, com isso, somente três vão passar pelo teste de mercado e, finalmente, somente um único produto acaba sendo lançado com sucesso. A seguir, vamos avaliar as etapas iniciais de elaboração de um produto: as fases de geração e triagem de novas ideais, desenvolvimento e teste de conceito, desenvolvimento do protótipo de produto e lançamento do novo produto. 4.8.2.1 Geração e triagem de novas ideias Em geral, quem lança produtos são as empresas líderes nos seus segmentos de atuação, que são vistas como (e muitas vezes de fato são) inovadoras; portanto, essa fase normalmente é exclusividade desse tipo de empresa, que, pelas próprias características, está sempre observando as mudanças ocorridas e buscando formas de renovação. Além do mercado, empresas inovadoras contam com departamentos de pesquisa e de tecnologia que têm foco em desenvolvimento, uma das suas principais atribuições; outra fonte de informação para novas ideias são as pesquisas de mercado desenvolvidas pela área de marketing, que podem ser direcionadas para esse fim. A seguir, você pode observar uma série de técnicas para o desenvolvimento de novas ideias. Quadro 8 – Técnicas para geração de ideias Técnica Descrição Método Delphi Um painel de especialistas preenche um questionário. Em seguida, um pesquisador tabula os resultados e envia‑os aos membros do painel. O processo é repetido até́ que o painel chegue a um consenso ou a um impasse. Análise de benefícios Depois de listar todos os benefícios que os clientes recebem do produto estudado, pensar nos benefícios que estão faltando na lista no momento. Análise de uso Perguntar aos clientes como eles usam o produto estudado, anotando os vários usos. 70 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade II Perfil relativo da marca Perguntar aos mercados‑alvo se o nome da marca faz sentido para outras categorias de produto em consideração. Uma extensão da marca que faça sentido para compradores potenciais pode ser a base para um novo produto. Propriedades exclusivas Listar todas as propriedades comuns a um produto ou material atualmente no mercado. Procurar propriedades exclusivas do produto da organização. Calcanhar de Aquiles Listar os pontos fracos de um produto ou de uma linha de produtos (para a organização e seus concorrentes). “Enxugar” a lista até um ou dois pontos fracos com mais probabilidade de inspirar uma resposta dos concorrentes. Identificar conceitos de produto que poderiam resultar da correção desses pontos fracos. Associação livre Anotar um aspecto da situação do produto – um atributo, uso ou usuário. Deixar a mente divagar e anotar todas as ideias que surgirem, repetindo o processo para outros aspectos da situação do produto. Atividade de estereótipo Perguntar: “Como ____ faria isso?” – referindo‑se a como um membro de algum grupo ou uma pessoa específica usaria o produto. Exemplo: Que tipo de bicicleta um senador usaria? Vale também perguntar o que o estereótipo não faria. Estudo de fracassos de outras pessoas Estudar produtos que fracassaram procurando maneiras de solucionar os problemas que levaram ao fracasso. Fonte: Churchill Junior e Peter (2012, p. 272). Após a busca de ideias (geração de ideias), é necessário estabelecer um processo de seleção, chamado de triagem, e que nada mais é do que um filtro que irá eliminar todas aquelas que não tenham potencial comercial, como relação ruim entre custo e preço, pouca chance de aceitação etc. Para a realização da triagem é necessário o estabelecimento de critérios, como os exemplificados a seguir: • tempo que a empresa necessitará para introduzir o novo produto no mercado (time to market); • taxa estimada de crescimento; • taxa estimada de retorno sobre vendas; • taxa estimada de retorno sobre investimento; • estimativa de crescimento de participação de mercado. Veja que critérios sugeridos e relacionados são bastante objetivos e podem ser medidos; esses critérios, para serem aplicados, requerem que a empresa estabeleça os índices que o novo produto deverá alcançar quando for colocado no mercado. Por exemplo, suponhamos que uma nova ideia só será aprovada se a perspectiva apontar que o produto passará pela fase de introdução no mercado em, no máximo, 2 anos, apresentando potencial de vendas de 30 milhões, crescimento de 5% ao ano, margens de retorno de 30%, taxa de retorno sobre o investimento de 15% e probabilidade de aproximadamente 50% de alcançar a liderança de mercado. Uma vez que a ideia é aprovada, passa‑se à etapa seguinte. 71 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS 4.8.2.2 Desenvolvimento e teste de conceito Essa é a fase em que se formula um conceito para o produto e são realizados os testes de conceito em uma amostra de público‑alvo. Conceito de produto, conforme explica Razzolini Filho (2012, p. 82), é “a definição das características, vantagens e benefícios (CVB) que o produto pretende oferecer aos seus clientes”. Na prática, o gestor prepara um texto impresso, contendo, de preferência, uma imagem para ilustrar as suas principais características físicas e medidas. O conceito de produto pretende avaliar o nível de aceitação ou de rejeição por parte do público‑alvo. A grande importância do teste de conceito está relacionada ao fato de se tratar de uma avaliação direcionada, ou seja, a nova ideia será testada justamente com uma amostra de público que, de fato, representa os potenciais clientes do produto. Quadro 9 – Aspectos de avaliação versus informações a serem obtidas no teste de conceito Aspecto de avaliação Informações obtidas Probabilidade e frequência de compra • Previsão do volume de vendas. • Decisão sobre abortar ou não o produto. Percepção e importância dada aos atributos do produto • Informações para melhorar o posicionamento do produto no mercado. Percepção da qualidade de diferentes marcas de produto • Orientações para campanhas de lançamento do produto. Potencial de cada conceito apresentado • Benefícios estratégicos. • Melhor nome para o produto. Perfil dos participantes do teste • Orientações para campanhas de lançamento do produto. Fonte: Razzolini Filho (2012, p. 82). O quadro anterior nos ajuda a perceber que o teste de conceito procura obter dados de forma a medir, com base em atributos, as intenções de compra dos consumidores, permitindo a realização de um diagnóstico. Em seguida ao teste de conceitos, é necessário ainda definir mais alguns aspectos importantes, como: • tamanho da amostra (quantas pessoas serão entrevistadas); • perfil da amostra (definição de características como ordem demográfica, psicográfica, geográfica etc.); • papel exercido pelo entrevistado durante a compra (usuário, decisor, influenciador etc.); • abordagem e forma de condução da entrevista. 72 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade II Com base na aplicação do teste de conceito, dá‑se início ao desenvolvimento do protótipo do produto. Observação Todo o esforço voltado para o lançamento do produto será facilitado se a elaboração do conceito do produto for bem‑sucedida, o que, por sua vez, depende do acerto na seleção da amostra para a aplicação do teste. 4.8.2.3 Desenvolvimento do protótipo de produto Protótipo de produto é um modelo que serve para exemplificar como será o produto que está sendo idealizado. Nessa fase, a intenção é chegar ao formato do produto antes do início da sua fabricação. Os protótipos permitem a fácil visualização do conceito do produto, a análise das tecnologias necessárias para a produção e, ainda, as mudanças nas ideias que ocorrerem durante o processo. À medida que o projeto avançar, podemos optar por materiais mais elaborados, mais próximosdaqueles que serão utilizados na realidade (RAZZOLINI FILHO, 2012, p. 84). O produto irá ganhando a forma física final aos poucos, à medida que o projeto avança. É importante que o produto vá chegando ao seu formato final justamente para ter a sua aceitação testada pelo público. Além disso, o modelo mais próximo da realidade permite uma avaliação mais fiel da sua viabilidade econômica e financeira. 4.8.2.4 Lançamento do novo produto Nesse momento entra em cena o processo de elaboração de um plano de marketing para o lançamento do produto no mercado, o que engloba a elaboração de estratégias e o desenvolvimento de programas de marketing. Estamos falando também de desenvolvimento do modelo final do produto para o teste de lançamento. Mesmo com a aplicação e o resultado positivo do teste do conceito, mais algumas tarefas são importantes para garantir o bom desempenho do produto; observe no quadro a seguir que tarefas são essas, segundo Razzolini Filho (2012, p. 88). Quadro 10 – Atividades a serem desenvolvidas no lançamento de produtos – entradas e saídas dos processos Entradas Atividades Saídas Planejar lançamento Especificações finais do produto Plano estratégico do produto Plano de lançamento Desenvolver processo de vendas Especificações do processo de vendas Recursos para operação do processo Liberação do processo 73 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS Especificações finais do produto Especificação do processo de produção Plano de lançamento Especificação da cadeia de suprimentos Desenvolver processo de distribuição Especificação do processo de distribuição Recursos para operação do processo Liberação do processo Especificações finais do produto Plano de lançamento Desenvolver processo de atendimento ao cliente Especificações do processo de assistência técnica Recursos para operação do processo Liberação do processo Especificações finais do produto Plano de lançamento Desenvolver processo de assistência técnica Plano de lançamento (atualizado) Marketing de lançamento desenvolvido Especificações finais do produto Plano de lançamento Plano de comunicação Promover marketing de lançamento Produto no mercado Documento de lançamento Especificações do processo de venda Especificações do processo de distribuição Especificações do processo de atendimento do cliente Especificações do processo de assistência técnica Plano de lançamento Marketing de lançamento desenvolvido Lançar produto Limitações dos produtos Necessidades de mudança Resultado do produto Medição da aceitação inicial do produto pelos clientes Gerenciar lançamento Plano de fim de vida do produto (congelado) Plano de fim de vida do produto Atualizar plano de fim de vida Monitorar a viabilidade econômico‑financeira Avaliar fase Aprovar fase Documentar as decisões tomadas e registrar as lições aprendidas Fonte: PDPNET (2009 apud RAZZOLINI FILHO, 2012, p. 88). 4.8.2.5 Desenvolvimento final do produto Estando o produto aprovado no teste de mercado, a empresa passa a investir tanto em produção como em logística (operação que compreende o recebimento das matérias‑primas necessárias para a produção, a operação produtiva em si e a distribuição nos canais de marketing). É nessa fase ainda que ajustes finos são realizados, como detalhes de design e de embalagem, além de definições importantes como políticas de garantia, de assistência técnica e de atendimento ao cliente. Paralelamente, o gestor deve se preocupar em manter a empresa informada do andamento dos processos, bem como comunicar sobre o novo produto e capacitar as áreas e profissionais que terão envolvimento com sua comercialização. 74 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 Unidade II O desenvolvimento final do produto cabe à área de engenharia de produto, que deverá garantir o atendimento das especificações técnicas definidas ao longo do desenvolvimento do projeto e confirmadas pelos testes de conceito. Observação Na fase de desenvolvimento final vale realizar um trabalho de relacionamento com os canais de marketing preparando‑os para o recebimento do novo produto. Outra tarefa importante conduzida pelo gestor de produtos, com apoio das demais áreas envolvidas, é realizar os treinamentos das equipes da empresa e dos canais de distribuição do produto. 4.8.2.6 Teste de mercado O objetivo de se realizar testes de mercado é reduzir ao máximo possível riscos, consequências negativas e custos do lançamento de um produto, principalmente em mercados geograficamente muito amplos. Testes de mercado nada mais são do que uma fase que faz parte da etapa do processo de lançamento; é o momento em que o produto é colocado no mercado em uma situação real de vendas. Isso permite ao gestor realizar os ajustes necessários no produto e também no composto de marketing. Portanto, não só as características físicas estão sendo analisadas, mas também a faixa de preço aplicada, os pontos de vendas selecionados, a forma de comunicação, o apelo da embalagem etc. Apesar dos benefícios gerados pela aplicação do teste de mercado (isto é, a possibilidade de ajustar o produto de acordo com as reações do mercado em uma situação real), é essa mesma situação que provoca reações da concorrência, podendo gerar os primeiros riscos ao produto; a concorrência pode reagir com rapidez, lançando versões similares. Vale destacar que, em geral, testes de mercado são aplicados para produtos de consumo. 4.8.2.7 Lançamento do produto no mercado A fase de lançamento do produto no mercado corresponde à colocação do produto no mercado‑alvo em larga escala. É nesse momento que todo o mix de marketing estará em ação conjuntamente. Porém, a forma de realizar esse lançamento depende das condições financeiras da organização: • lançar o produto em nível nacional: significa atingir todos os mercados simultaneamente, o que exige da organização: — altos recursos financeiros para campanha promocional em nível nacional; 75 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 5/ 07 /1 7 MIX DE PRODUTOS — grande esforço para coordenar uma ampla rede de distribuição por canais de marketing espalhados em pontos geográficos diversos; — coordenação do trabalho da equipe de vendas, que estará espalhada para atender diferentes canais de marketing e que deverá ter o suporte adequado para garantir a distribuição nos pontos negociados. • lançar o produto região a região (dando início pelos mercados principais e depois chegando aos mercados menos importantes): trata‑se de uma opção intermediária em que a organização realiza os investimentos por etapas, que podem ser definidas, por exemplo, de acordo com o fluxo de caixa. 4.8.2.8 Monitoramento de resultados Vendas, preço de vendas, margem de contribuição, participação de mercado, níveis de estoque, reação da concorrência, grau de satisfação do clientes, entre outros, são alguns dos indicadores que o gestor deve usar para acompanhar o desempenho do produto lançado. O monitoramento do produto é o acompanhamento desses resultados e se mostra uma importante ferramenta porque auxilia a organização a tomar decisões de vulto, como investir ou desinvestir, e, claro, decidir sobre as tarefas específicas envolvidas em cada fase do ciclo de vida do produto. Figura 18 – O monitoramento de resultados é uma tarefa de extrema importância para a organização 4.8.3 Novos produtos malsucedidos Primeiramente é necessário entender por que novos produtos podem não alcançar os objetivos propostos. Pesquisas mostram que as principais razões para que novos produtos fracassem são (1) o entendimento equivocado a respeito das necessidades e dos desejos dos clientes, (2) a perda de foco nas competências da empresa e (3) a nova oferta não entregar tanto valor quanto a disponibilizada pela concorrência. A interpretação errada de necessidades e desejos, bem como
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