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AT 1 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EDUCACIONAIS 2 32 S U M Á R IO 3 INTRODUÇÃO 4 UNIDADE 1 – Didática, Metodologia, Saber e Fazer Docentes, O Ponto de Partida para uma Prática Pedagógica Significativa 10 UNIDADE 2 – Prática Pedagógica – Da Teoria à Prática 10 2.1 Conceitos e definições 12 2.2 Particularidades da prática pedagógica: ser política e bancária 14 2.3 Concepções de prática pedagógica – conhecer para criticar e aplicar 16 UNIDADE 3 – A Prática Pedagógica no Cotidiano da Escola – O Currículo rm Ação 17 3.1 Planejamento 18 3.2 Prática pedagógica – o currículo em ação 20 UNIDADE 4 – A Prática Pedagógica numa Perspectiva Interdisciplinar 20 4.1 Termos básicos 21 4.2 Dimensões estratégicas para acontecer a interdisciplinaridade 23 UNIDADE 5 – Usando as Tecnologias da Informação e Comunicação 24 5.1 As múltiplas tecnologias 25 5.2 WebGincana (WG) 27 UNIDADE 6 – Prática Pedagógica na Área Empresarial 30 UNIDADE 7 – Prática Pedagogica na Área Hospitalar 34 UNIDADE 8 – Trabalhando com Educação do Campo e EJA 39 REFERÊNCIAS 2 33 Sendo ‘prática pedagógica’ uma atividade pedagógica planejada e colocada em ação, definição mais concisa encontrada e que ao mesmo tempo nos abre um leque de inter- pretações, evidentemente que nos cabe ‘destrinchar’, ‘esmiuçar’ essa definição. É assim que iremos caminhar neste mó- dulo, falaremos sobre método, instrumento, didática, conteúdo, currículo, planejamento (que envolve o como, quais recursos, quan- to tempo, quais objetivos, entre outros), sa- beres docentes, as características para que a prática pedagógica seja efetiva, as suas perspectivas multi, trans e interdisciplinar, as dimensões para que aconteça numa práti- ca interdisciplinar, afinal de contas, o mundo vem caminhando assim e nossos “futuros ci- dadãos” precisam ser críticos, criativos, ino- vadores, conscientes e justos. Como disse Libâneo (2001), a Pedagogia enquanto ciência tem por objeto de estu- do a educação que é o processo de ensino e aprendizagem, portanto, ao Pedagogo, cabe interessar-se pela prática educativa, que faz parte da atividade humana e da vida social do indivíduo. Assim, a educação busca trans- formar os seres humanos nos seus estados físicos, mentais, espirituais, culturais, dando configuração à nossa existência humana in- dividual e coletiva. Cardoso (1995, p. 48) também destaca que educar significa utilizar práticas peda- gógicas que desenvolvam simultaneamen- te razão, sensação, sentimento e intuição e que estimulem a integração intercultural e a visão planetária das coisas, em nome da paz e da unidade do mundo. Por isso, a educação – além de transmitir e construir o saber siste- matizado – assume um sentido terapêutico ao despertar no educando uma nova consci- ência que transcenda do eu individual para o eu transpessoal. Enfim, o que devemos considerar en- quanto educadores é uma perspectiva in- tegradora, uma concepção de prática peda- gógica que visualize o conceito integral de educação, que promova o aperfeiçoamento humano (MATOS, 2010). Desejamos uma boa leitura a todos, que sejam perspicazes, que sejam observadores e críticos de suas próprias práticas e bus- quem a transformação social de seus alunos. Duas observações se fazem necessárias antes de iniciarmos nosso caminhar: Em primeiro lugar, sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científi- ca, ou seja, baseada em normas e padrões da academia. Pedimos licença para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos apro- ximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e obje- tiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consi- deramos clássicos, não se tratando, portan- to, de uma redação original. Ao final do módulo, além da lista de refe- rências básicas, encontram-se muitas ou- tras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos. INTRODUÇÃO 4 54 UNIDADE 1 – Didática, Metodologia, Saber e Fazer Docentes, O Ponto de Partida para uma Prática Pedagógica Significativa A didática tem uma história mais que secular, principalmente se pensarmos que ao longo de sua existência o homem sempre aprendeu e ensinou, mas teórica e conceitualmente, a didática tem início cerca de 200 anos atrás quando, pelas ne- cessidades do capitalismo 1, vimos o surgi- mento das instituições sociais que objeti- vavam transmitir conhecimentos. Podemos definir didática sob duas perspectivas: campo de saber ou ramo de conhecimento ou uma ciência com objeto próprio e como uma disciplina dos cursos de formação de professores (tanto que já tivemos um momento específico para ela. Aqui, grosso modo, nosso objetivo é tecer algumas teias, algumas relações entre as ferramentas usadas para edificar o co- nhecimento). A didática é uma disciplina que integra teoria e prática, ou seja, ela ordena e pro- move a estrutura de ambas em função do ensino, tendo como fundamentos contri- buições da Psicologia, da Filosofia e da So- ciologia que são áreas do conhecimento que lançam luz sobre a complexidade da prática pedagógica. Os objetivos da Didática são: refletir 1 Das relações nômades à produção feudal pouco mudou, mas destas últimas que tinham como característica um trabalho conser- vador, baixa produtividade e uso de técnicas rudimentares houve a substituição de um novo sistema econômico, motivado pela necessi- dade da nobreza em ampliar seus negócios, pelo desenvolvimento do comércio e das cidades, pelo fortalecimento de novos modos de produção com o trabalho livre e assalariado e o surgimento de uma nova classe social: a burguesia. Esse novo sistema econômico, o capitalismo, marcou um novo momento na história da humanida- de, haja vista que a individualidade, a igualdade e a liberdade do homem foram geradas por novas necessidades, novas concepções de mundo e novos valores e eis que a educação formal mudou seu foco para atender tais demandas e aí temos um ponto de partida do desenvolvimento da didática. sobre o papel sociopolítico da educação, da escola e do ensino; compreender o pro- cesso de ensino e suas múltiplas deter- minações; instrumentalizar pela teoria o futuro professor para captar e resolver os problemas postos pela prática pedagó- gica; redimensionar a prática pedagógica através da elaboração da proposta de en- sino numa perspectiva crítica de educa- ção (OLIVEIRA, 1995). Como diz Libâneo (1994 p. 26), a didá- tica converte objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos de ensino, se- leciona conteúdos e métodos em função desses objetivos e estabelece os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das capacidades mentais dos alunos. Fazendo um recorte temporal, foi a partir dos anos 1990 que a didática veio se tornando instrumento para a coope- ração entre docente e discente, para que realmente ocorresse a apropriação dos processos de ensinar e de aprender. Para isso, é importante o comportamento de ambos para que o conhecimento realmen- te aconteça, tanto que aparece o caráter questionador do aluno em uma nova rela- ção baseada nas indagações do contradi- tório (TONIAZZO, 2009). Eis que devemos mencionar Paulo Frei- re e sua “Pedagogia do Oprimido” com ideias novas... ‘propor uma prática de sala de aula que pudesse desenvolver a criti- cidade dos alunos’. Seria a tendência pro- gressista da educação! O trabalho pedagógico, além de didáti- 4 55 Técnica Aplicação Estudo Dirigido Estimular método de estudo e pensamento reflexivo. Levar a autonomia intelectual. Atender a recuperação de estudos. Ensino por fichas Revisão e enriquecimentode conteúdos Instrução programada Apresentação de informações em pequenas etapas e sequência ló- gica. Fornece recompensa imediata e reforço. Permite que o aluno caminhe no seu ritmo próprio. ca, exige uma metodologia, certo?! Etimologicamente, considerando a sua origem grega, a palavra metodologia ad- vém de methodos, que significa meta (ob- jetivo, finalidade) e hodos (caminho, inter- mediação), isto é: caminho para se atingir um objetivo. Por sua vez, logia quer dizer conhecimento, estudo. Assim, metodo- logia significaria o estudo dos métodos, dos caminhos a percorrer, tendo em vista o alcance de uma meta, objetivo ou finali- dade. Então: a metodologia do ensino seria o estudo das diferentes trajetórias traça- das/planejadas e vivenciadas pelos edu- cadores para orientar/direcionar o proces- so de ensino-aprendizagem em função de certos objetivos ou fins educativos/for- mativos (CARRAHER et al, 2012). Simplificando: é a aplicação de diferen- tes métodos no processo ensino-apren- dizagem, é escolher um caminho a seguir. Esse caminho pode seguir pelo método tradicional, o construtivismo, o socioin- teracionismo, o método montessoriano, entre outros, que implicarão em técnicas diferentes. Vilarinho (1985, p. 52) cita três modali- dades básicas de métodos de ensino. Métodos de ensino individualizado: a ênfase está na necessidade de se aten- der às diferenças individuais, como por exemplo: ritmo de trabalho, interesses, necessidades, aptidões, entre outras, predominando o estudo e a pesquisa, o contato entre os alunos é acidental. Métodos de ensino socializado: o objetivo principal é o trabalho de grupo, com vistas à interação social e mental proveniente dessa modalidade de tarefa. A preocupação máxima é a integração do educando ao meio social e a troca de ex- periências significativas em níveis cogni- tivos e afetivos. Métodos de ensino socioindividua- lizado: procura equilibrar a ação grupal e o esforço individual, no sentido de promo- ver a adaptação do ensino ao educando e o ajustamento deste ao meio social. Relembremos as diversas técnicas de ensino, expostas no quadro abaixo. Método Individualizado 6 7 Ensino por módulos Leva o estudante a responsabilidade no desempenho das tarefas propostas. Propõe ao aluno os objetivos a serem atingidos e variadas atividades para alcançar esses objetivos. Técnica Aplicação Discussão em pe- quenos grupos Estudo de casos Troca de ideias e opiniões face a face. Discussão 66 ou Phillips 66 Revisão de assuntos. Estímulo à ação. Troca de ideias e conclusão. Painel Definir pontos de acordo e desacordo.Debate, consenso e atitudes diferentes (assuntos polêmicos). Painel Integrado Troca de informações. Integração total (das partes num todo). Novas oportunidades de relacionamento. Grupo de cochicho Máximo de participação individual. Troca de informações. Funciona como meio de incentivação. Facilita a reflexão. Discussão dirigida Solução conjunta de problemas. Participação de todos. Brainstorming Criatividade (Ideias originais).Participação total e livre. Seminário Estudo aprofundado de um tema. Coleta de informações e experiências. Pesquisa, conhecimento global do tema. Reflexão crítica. Simpósio Divisão de um assunto em partes para estudo. Apresentação de ideias de modo fidedigno. O grupão faz a conferência do que foi apresentado. Método Socializado 6 7 Técnica Aplicação Método de Projetos Realiza algo de concreto. Incentiva a resolução de problemas sugeridos pelos alunos. Exige trabalho em grupo e atividades individuais. Método de problemas Desenvolve o pensamento reflexivo. Desenvolve o pensamento científico. Unidades didáticas Compreensão do “todo” a ser estudado. Incentivo ao aluno e a criatividade, flexibilidade nas atividades. Permite organização do conteúdo aprendido. Unidades de Experiências Aplicação dos conceitos teóricos na prática. Permite ao aluno uma análise crítica e a reconstrução da experiência social. Pesquisa como atividade discente Desenvolve o gosto pelo estudo científico. Leva o aluno a distinguir a pesquisa pura da aplicada. Utiliza-se de diversas técnicas de coleta de dados. Utiliza-se do método científico. GVGO ou Grupo na Berlinda Verbalização. Objetividade na discussão de ideias. Capacidade de análise e síntese. Entrevista Troca de informações.Apresentação de fatos, opiniões e pronunciamentos importantes. Diálogo Intercomunicação direta.Exploração, em detalhe, de diferentes pontos de vista. Palestra Exposição menos formal de ideias relevantes. Sistematização do conteúdo. Comunicação direta com o grupão. Dramatização Representação de situações da vida real.Melhor rendimento e compreensão dos elementos. Método Sócio - Individualizado Fonte: Texto “Metodologia de Ensino” do Colégio Estadual Wolff Klabin – Telêmaco Borba – Paraná. Organizado pela Prof. Rosângela Menta Mello em 21/07/2007. Disponível em: http://estagiocewk.pbwiki.com/OTP Acesso: 17 nov. 2015 8 9 Até o momento, temos duas ferramen- tas nas mãos: sabemos o que é e para que servem a didática e metodologia, inclu- sive temos algumas técnicas que podem ser usadas de acordo com cada contexto e situação. Como podemos avançar para o saber/ fazer docente e a prática pedagógica efe- tiva e significativa? Podemos relacionar o saber fazer do- cente com o professor prático-reflexivo, termo este idealizado por Donald Schön (1997). O professor reflexivo é aquele que pen- sa no que faz, que é comprometido com a profissão e se sente autônomo, capaz de tomar decisões e ter opiniões. Ele é, sobretudo, uma pessoa que atende aos contextos em que trabalha, os interpreta e adapta a própria atuação a eles e os con- textos educacionais são extremamente complexos e não há um igual ao outro, podemos ser obrigado a, numa mesma escola e até numa mesma turma, utilizar práticas diferentes de acordo com o gru- po. Portanto, se o professor não tiver ca- pacidade de analisar, vai se tornar um tec- nocrata. Como diz Magalhães (2008), os bons profissionais lançam mão de uma série de estratégias não planejadas, cheias de criatividade, para resolver problemas no dia a dia, então, nós temos aí uma associa- ção complexa entre ciência, técnica e arte. Segundo a autora acima, é o que Do- nald Schön defendeu: quem age em situ- ações instáveis e indeterminadas, como é o caso de quem leciona, tem de ter muita flexibilidade e um saber fazer inteligente, uma mistura disso tudo, pois a experiên- cia conta muito, mas tem de ser amadu- recida. E sob esta perspectiva, surge nas últimas décadas uma tendência denomi- nada genericamente de formação de pro- fessores reflexivos, fazendo um profun- do exame da situação atual da docência e indicando, bem como praticando, novos caminhos, não mais separando de forma drástica a formação inicial da continuada, tendo como referencial a prática docen- te, ou seja, é colocar hoje em prática uma lição que sabemos de cor e Schön identi- fica nos bons profissionais uma brilhante combinação de ciência, técnica e arte. É esta dinâmica que possibilita o professor agir em contextos instáveis como o da sala de aula. O processo é essencialmente metacognitivo, onde o professor dialoga com a realidade que lhe fala, em reflexão permanente. Ao analisar a construção da prática pe- dagógica do professor, Lopes (2010) tam- bém pondera que o trabalho docente é mediado pela prática pedagógica que se constrói e se reconstrói com novos conhe- cimentos e novas experiências. Igualmente para Brito (2006, p. 51): “o pensamento do professor, constrói-se, pois, com base em suas experiências indi- viduais e nas trocas e interações com seus pares”. É nesse sentido que os saberesdocentes se incorporam à prática peda- gógica, proporcionando ao professor mais clareza e mais segurança para demandar, não só o ensino, mas também suas traje- tórias de desenvolvimento profissional. No título da unidade falamos em didá- tica, metodologia, saberes e fazeres do- centes como ponto de partida para uma prática pedagógica significativa, mas até o momento não relacionamos essa prática 8 9 não é verdade? Na verdade, queremos fazer uma ana- logia com aprendizagem significativa. Grosso modo, aprendizagem quer dizer adquirir um novo conhecimento, mas este pode ser mecânico ou significativo. Novak (2000) explica que o conheci- mento, quando produto de aprendizagem mecânica, por ter restrita a sua capaci- dade de utilização em novas situações, não garante autonomia intelectual para a ação do indivíduo. A aprendizagem sig- nificativa, ao contrário, favorece a cons- trução de respostas para problemas nun- ca vivenciados e leva tanto à capacitação humana quanto ao compromisso e à res- ponsabilidade. Lemos (2011, p. 29) nos explica que o significado de aprendizagem significati- va aponta para o papel do professor e do aluno no processo de ensino e de aprendi- zagem. Ou seja, se a aprendizagem signi- ficativa de um determinado corpus de co- nhecimento instrumentaliza o indivíduo para intervir com autonomia na sua rea- lidade, é essencial que o professor este- ja comprometido com a aprendizagem do aluno e este, por sua vez, com sua própria aprendizagem (...). O bom ensino é aque- le que, tendo sido organizado em função das especificidades do conhecimento que se deseja aprendido e do seu público alvo, garantiu o compartilhamento de significa- dos captados (GOWIN, 1981 apud LEMOS, 2011) e favoreceu a ocorrência de apren- dizagem significativa por parte do aluno. Neste processo, professor e aluno têm responsabilidades distintas. O primeiro deve: a) Diagnosticar o que o aluno já sabe sobre o tema. b) Selecionar, organizar e elaborar o material educativo. c) Verificar se os significados comparti- lhados correspondem aos aceitos no con- texto da disciplina. d) Reapresentar os significados de uma nova maneira, caso o aluno não tenha ain- da captado aqueles desejados. O aluno, por sua vez, tem a respon- sabilidade de: a) Captar e negociar os novos significa- dos. b) Aprender significativamente. Então: prática significativa passar por uma receita que não existe de verdade... mas experiência, inovação didática, qua- lificação profissional, reflexão, troca de saberes são elementos que você, profes- sor, deve estar atento ao longo de sua ca- minhada nesse processo de educação que não se encerra no final de um ano letivo. 10 1110 UNIDADE 2 – Prática Pedagógica – Da Teoria à Prática Vejam que resposta ampla, abrangente e didática dada por uma professora acerca de ‘prática pedagógica’: são as ações que usamos para ensinar, desde como preparar uma aula, com qual técnica de metodo- logia usar, pode ser construtivismo, ou técnica de transmissão cultural, ou pode ser outras formas, nas quais decidimos, quais habilidades, e quais competências, queremos que os alu- nos desenvolvam, isso desde a esco- lha dos temas a serem estudados, como será abordado o tema na sala, se usamos power-point, só giz e lou- sa, ou se trazemos modelos, de plás- tico pedagógicos, se usamos aulas de laboratórios, seja de química, ou de eletricidade, ou de informática, ou se plantamos uma horta de ver- dade, ou se usamos todos juntos, se usamos passeios a museus, empre- sas, a zoológicos, parques, jardins botânicos, para estudar os seres vi- vos, por exemplo, ou o museu de lín- gua portuguesa, se usamos provas escritas, ou chamada oral, ou provas práticas, ou trabalhos escritos, ou jogral, ou peças teatrais encenadas, para trabalhar os conceitos, e para avaliar os conhecimentos aprendi- dos dos alunos, essas são algumas formas de práticas pedagógicas, existem várias outras, citei as mais conhecidas, usuais. Mas tem mais coisas para dizer, tem outras práti- cas, específicas, para cada área, de medicina, enfermagem, de adminis- tração, de desenho, música, de hote- laria, de artes cênicas, por exemplo, cada área tem suas práticas pedagó- gicas e uma forma diferenciada de abordar cada tema, de avaliar cada habilidade ensinada e aprendida pe- los alunos, pois cada área tem habi- lidades específicas, e gerais, comuns a outras áreas. 2.1 Conceitos e definições A prática pedagógica do professor bus- ca preparar o docente para a vida em socie- dade diante das diversas transformações sociais, econômicas, políticas e culturais, fazendo com que estas mudanças acele- radas que vivemos diariamente sejamos sempre levados a adquirir competências novas, pois é o meio em que vivemos e as relações que estabelecemos uns com os outros que criam a unidade básica de nossas ações e transformações. Com isso, a prática pedagógica deve ser dinâmica, a fim de preparar os alunos, agentes ativos e formativos, para ampla realidade social que os cerca (SOUSA; SOUZA, 2012). Para Gimeno Sacristan (1999), é a ação do professor no espaço de sala de aula, ou seja, a prática pedagógica vai acontecer efetivamente quando o professor assumir a função de guia reflexivo, isto é, quando ele passa a iluminar as ações em sala de aula e a interferir significativamente na construção do conhecimento do aluno. Ao realizar essa tarefa, o professor pro- porciona reflexões sobre a prática peda- gógica, pois, parte-se do pressuposto de que ao assumir a atitude problematizado- ra da prática, modifica-se e é modificado, 10 1111 gerando uma cultura objetiva da prática educativa (TOZETTO; GOMES, 2009). A prática educativa é o produto final a partir do qual os profissionais adquirem o conhecimento prático que eles poderão aperfeiçoar (GIMENO SACRISTAN, 1999, p. 73). Na perspectiva da escola enquanto instituição social, a prática pedagógica é uma prática social específica, de caráter histórico e cultural que vai além da prática docente, relacionando as atividades didá- ticas dentro da sala de aula, abrangendo os diferentes aspectos do projeto peda- gógico da escola e as relações desta com a comunidade e a sociedade (SILVA; RA- MOS, 2006). Caetano (1997) afirma que, a prática compreende um campo de ambivalências e conflitos, no qual cada profissional se confronta consigo mesmo, com os alunos, com os colegas, com a comunidade esco- lar, com as normas institucionais (escolas e sistemas). Caldeira e Zaidan (2010, p. 21) ressal- tam que a Prática Pedagógica é entendida como uma prática social complexa, acon- tece em diferentes espaço/tempos da es- cola, no cotidiano de professores e alunos nela envolvidos e, de modo especial, na sala de aula, mediada pela interação pro- fessor-aluno-conhecimento. Nela estão imbricados, simultaneamente, elementos particulares e gerais. Os aspectos particu- lares dizem respeito: ao docente – sua experiência, sua corporeidade, sua formação, condições de trabalho e escolhas profissionais; aos demais profissionais da esco- la – suas experiências e formação e, tam- bém, suas ações segundo o posto profis- sional que ocupam; ao discente – sua idade, corporeida- de e sua condição sociocultural; ao currículo; ao projeto político-pedagógico da escola; ao espaço escolar – suas condições materiais e organização; à comunidade em que a escola se in- sere e às condições locais. Machado (2005) cita que os compor- tamentalistas entendem a prática peda- gógica como a atividade exclusivamente observável e que gere uma atividade con- creta, cujos resultados possam ser regis- trados, comprovados. Os cognitivistas entendem a prática pedagógica como a atividade que desenvolva o raciocíniodo educando e que o leve a resolver proble- mas. Os humanistas validam todo o pro- cesso de ensino-aprendizagem, priorizan- do as relações humanas. Ao se questionar qual fundamentação deveria ser prioridade para a prática pe- dagógica, a autora explica que, se forem combinadas, todas têm espaço e impor- tância, relembrando que é preciso saber de antemão se esse foco estaria na ativi- dade do professor, do aluno ou da qualida- de da atividade propriamente dita. Apesar de concordarmos que da prática pedagógica fazem parte conhecimento, professor e estudante, ela vai além, como vimos demonstrando, ela é um processo social que envolve alguns princípios da dialética enumerados por Gadotti (2010). 12 13 São eles: “totalidade”, na qual o todo e as par- tes se relacionam; “movimento”, que considera a dina- micidade dos processos; “mudança qualitativa”, que possibili- ta observar os movimentos do micro para o macro, e vice-versa; e, “contradição”, capaz de captar ao mesmo tempo unidade e luta de opostos. Em última análise, podemos afirmar que a prática pedagógica é influenciada pelos aspectos conjunturais e estrutu- rais da sociedade brasileira. A conjuntura pode ser visualizada nos aspectos da ges- tão educacional, do desenvolvimento das propostas curriculares, dos programas so- ciais – a exemplo do Bolsa Escola –, políti- cas de cotas, entre outros. A estrutura é marcada pelas relações sociais de classe, de desigualdades e de concentração de renda, além das dimensões da dominação do campo da política internacional e dos processos decisórios que geram impactos na esfera escolar (SOUZA, 2005). 2.2 Particularidades da prá- tica pedagógica: ser política e bancária De uma maneira geral, uma prática pe- dagógica é uma ação que está envolvida em um processo social. Sim, ela envolve uma dimensão educativa, mas nem sem- pre na esfera ou num ambiente escolar. Ao contrário, por ser uma prática social, ela perpassa os muros da escola e parti- cipa da dinâmica das relações sociais que produzem aprendizagens, que por sua vez, produzem o “educativo”. Podemos falar que a prática pedagó- gica é política e bancária. Vejamos o en- tendimento e as justificativas propostas por alguns autores como Brandão (2003) e Souza (2005), esta última, a qual en- tende que tanto as relações econômicas e sociais interferem na prática pedagó- gica quanto esta, igualmente, possibilita mudanças de rumo nas mesmas relações econômica-sociais, desde que educador e educando estejam plenamente envolvi- dos no processo de aprendizagem. Como diz Brandão (2003, p. 7), ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja, ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação (...) A educação existe onde não há a escola e por toda parte podem haver redes e es- truturas sociais de transferência de saber de uma geração a outra, onde ainda não foi sequer criada a sombra de algum mo- delo de ensino formal e centralizado. Por- que a educação aprende com o homem a continuar o trabalho da vida (2003, p. 13). Souza (2005) cita os movimentos so- ciais de trabalhadores, os quais produzem uma prática pedagógica, que é social, ten- do como conteúdos centrais a política, a estratégia de negociação, a organização, a definição de objetivos, a articulação com outras organizações sociais, desen- volvendo teias ou redes de informação e ação política. Como diz Giroux (1997, p. 163): Essencial para a categoria de in- telectual transformadora é a neces- sidade de tornar o pedagógico mais 12 13 político e o político mais pedagógi- co. Tornar o pedagógico mais polí- tico significa inserir a escolarização diretamente na esfera da política, argumentando-se que as escolas representam tanto um esforço para definir-se o significado quanto uma luta em torno das relações de poder [...] Tornar o político mais pedagógico significa utilizar formas de pedago- gia que incorporem interesses políti- cos que tenham natureza emancipa- dora [...]. A prática pedagógica expressa ainda as atividades rotineiras que são desenvol- vidas no cenário escolar. Podem ser ati- vidades planejadas com o intuito de pos- sibilitar a transformação ou podem ser atividades bancárias, tendo a dimensão do depósito de conteúdo como caracte- rística central. Em se tratando de uma atividade ban- cária, termo lançado por Paulo Freire, o qual ainda lhe faz inúmeras críticas, por definição seria aquela atitude autoritária e opressiva sobre alunos que se encon- trariam passivos e apenas receptivos dos conteúdos e informações que o professor neles depositaria. Este modelo tende a apresentar o professor como alguém que exerce um papel arbitrário sobre o grupo de alunos, os quais estão inteiramente inertes. Dessa forma, a prática de se en- sinar conteúdos e informar os alunos para que a aprendizagem seja realizada vem sendo entendida como uma atitude tirâ- nica e opressora que deve ser banida das escolas (LINS, 2011). Paulo Freire (1987) expressou inú- meras críticas à educação que denomina bancária, assim como elaborou uma pro- posta de educação libertadora, voltada para a transformação social e, portanto, centralizada no sujeito histórico que pro- duz, apropria e vive a educação, localizado numa determinada situação no mundo. “Educação bancária” ainda vem sendo usada de maneira aleatória/eventual por alguns educadores. Ela não é dialógica, não é também democrática e muito me- nos condiz com nossa realidade do século XXI, afinal de contas, não basta mais a re- lação: educador ensina, educando apren- de, ao contrário: mediar, motivar, propor discussões, estar aberto são as ações que se fazem necessárias para que tanto edu- cadores quanto educandos encontrem seu lugar no mundo. A verdade é que as mudanças sociais e culturais pelas quais vimos passando tem as contribuições das novas tecnologias de informação e comunicação. A possibilidade da circulação da infor- mação em tempo real é um avanço, ain- da que a maioria da população brasileira não tenha acesso à Internet. Os terminais bancários foram informatizados, fazendo emergir novas facetas educacionais. To- das as pessoas estão codificadas, seja via carteira de identidade, seja via cartão de crédito, dentre inúmeras senhas que vão sendo acopladas aos processos de iden- tificação social, com fins mercadológicos e financeiros. Também, o fortalecimento das temáticas identitárias e aquelas rela- cionadas ao direito à diferença conquista- ram espaço na sociedade, via articulação dos movimentos e organizações sociais. A violência é outro tema presente no campo social e cultural. Por um lado, há a divulga- ção da violência como uma característica cotidiana e rotineira na sociedade brasi- 14 15 leira. Por outro lado, as reflexões sobre as penalidades e as medidas que deveriam ser tomadas ganham os bancos escolares, os movimentos sociais, evidenciando as mazelas de uma sociedade com concen- tração de renda expressiva e excessiva (SOUZA, 2005, p. 2). Na direção da educação bancária, que não alongaremos as discussões agora, basta lembrarmos como foram positivas as contribuições de Paulo Freire para o campo da educação de jovens e adultos. Não ser reprodutora de uma sociedade injusta para com grupos minoritários e ir além, ser transformadora, levando todos a serem justos para com o outro, trabalhan- do para que todos os cidadãos tenham os mesmos direitos, seria muita utopia? Deixamos para vocês essa reflexão e essa possível resposta. 2.3 Concepções de prática pedagógica – conhecer para criticar e aplicarEm trabalho reflexivo sobre a prática pedagógica centrada na perspectiva in- terdisciplinar, enfocando as contribuições no processo ensino-aprendizagem, Silva e Ramos (2006) falam que as concepções de educação traduzidas em tendências, estão subjacentes nas práticas dos pro- fessores, no processo ensino-aprendiza- gem adotado, caracterizando-se sob os enfoques tradicional, técnico, prático e crítico/reflexivo. a) O enfoque tradicional centra-se no ensino enciclopédico, nele o professor é um transmissor de conhecimentos e da cultura acumulada pela humanidade, além do domínio da estrutura epistemológica da disciplina, faz-se necessário o domínio das técnicas didáticas de base expositiva dos conteúdos organizados para um alu- no modelo (ideal) e a avaliação exige mera repetição do conteúdo que geralmente é cobrado do aluno apenas a memorização. b) No enfoque técnico da prática do- cente, a relevância reside na instrumenta- lização do professor, na técnica aplicada. A atividade do professor exige conheci- mentos da ciência básica ou da disciplina ensinada, conhecimento das técnicas que possibilitam definir os procedimentos específicos de diagnósticos e solução de problemas do ensino-aprendizagem. c) No enfoque prático, a ênfase cen- tra-se no desenvolvimento de competên- cias técnicas e atitudes que se apropriam do conhecimento básico e aplicado. Cabe ao professor com o desenvolvimento de tais competências intervir na prática orientado pela especialização. d) O enfoque crítico-reflexivo busca- -se na reflexão, tomadas de decisão ou confronto entre ideias conceitos e con- cepções, afim de reconstruir as ações, oportunizando ao professor desenvol- ver-se como profissional, a partir da cons- ciência dos seus saberes, habilidades, atitudes e afetos, consolidando valores, princípios e interesses na construção do conhecimento, considerando uma deman- da plural imposta pelo contexto sociopolí- tico e econômico. A partir desses conceitos acima abor- dados que norteiam a prática pedagógica, convém lembrar o que ressalta Pérez Gó- mez (1995), quando afirma que a forma- ção do professor vai além da metodologia 14 15 e construção de conhecimento. Ele preci- sa assumir uma postura dinâmica e refle- xiva, para responder às novas exigências de mudanças de caráter subjetivo e obje- tivo na ressignificação da sua identidade profissional. A prática docente, nesta perspectiva, engloba todas as práticas que defendem um ensino e aprendizagem como ativi- dade crítica, histórica, reflexiva em que pressupõe do professor uma emancipa- ção, autonomia de análise execução de suas ações e exige que O professor adquira uma baga- gem cultural explicitamente política e social; o desenvolvimento de capa- cidades de reflexão crítica capaz de perceber os processos de exclusão, ainda que ocultos sob a ideologia do- minante, e o desenvolvimento de ati- tudes que promovam o comprometi- mento do professor (ROMANOWSKI; SANTOS, 2003). Nessa ótica, compreende-se que a prá- tica pedagógica do professor perpassa pela construção de sua identidade, res- peitando as dimensões ético-políticas do processo ensino-aprendizagem, os valo- res que regem a intencionalidade educati- va, uma escola democrática, a construção do currículo com participação docente in- telectual, criativa, crítica, dinâmica e inte- gradora. A partir dessa premissa, o professor precisa ser capaz de distinguir e julgar si- tuações humanas, complexas, incertezas e singulares, reconstruindo as estruturas do pensamento em situações de aula. Refletindo sobre essa prática pedagó- gica na perspectiva desses pensadores, percebe-se que eles se afastam das abor- dagens que identificam o ensino como uma ciência, uma técnica uma atividade profissional de fundamentos na raciona- lidade exclusivamente epistemológica. Portanto, eles argumentam em favor de uma racionalidade concreta, que permite ser alimentada por saberes contingentes, mutáveis e cheios de lacunas oriundas da vivência, da experiência e da vida. Neste sentido, os professores precisam ampliar seu mundo de ação e de reflexão, ultrapassando os limites da sala de aula, transcendendo para um espaço de análise do sentido político, cultural e econômico, cujo contexto, a escola, se insere. A par- tir dessa tomada de consciência, surge a necessidade de aspiração à emancipação que se interpreta como a construção das conexões entre a realização da prática profissional e o contexto social amplo em transformação (SILVA; RAMOS, 2006). 16 1716 UNIDADE 3 – A Prática Pedagógica no Cotidia- no da Escola – O Currículo rm Ação Das explanações que fizemos até o mo- mento, esperamos que esteja claro que a prática pedagógica do professor busca preparar o docente para a vida em socie- dade diante das diversas transformações sociais, econômicas, políticas e culturais, fazendo com que nestas mudanças acele- radas que vivemos diariamente, sejamos sempre levados a adquirir competências novas, pois é o meio em que vivemos e as relações que estabelecemos uns como os outros que criam a unidade básica de nos- sas ações e transformações. Com isso, a prática pedagógica deve ser dinâmica, a fim de preparar os alunos, agentes ativos e formativos, para ampla realidade social que os cerca (SOUSA; SOUZA, 2012). Dentre as variáveis que estão impli- cadas na prática pedagógica, Caldeira e Zaidan (2010) citam sua experiência, sua corporeidade, sua formação, condições de trabalho e escolhas profissionais, além de outras que falamos ao longo das unidades anteriores. Esses aspectos são apenas al- guns exemplos de elementos que influen- ciam as ações docentes nas salas de aula e as relações que estabelecem com os de- mais atores do sistema escolar. Claro que o respeito aos saberes dos alunos deve ser observado sempre, tanto que Freire (2002, p .33) reforça que ensinar exige respeito aos sa- beres dos educandos. Para ele, o professor, e, especificamente as es- colas, têm o dever de respeitar os sa- beres com que os educandos, sobre- tudo das classes populares, chegam ao ambiente escolar, visto que esses saberes são construídos na prática comunitária. Esta afirmativa per- meia o desafio de pensar a forma- ção docente e o professor como um intelectual transformador, capaz de repensar e reestruturar a ação do- cente, pois, na prática pedagógica, diferentes saberes são utilizados: multifacetados, plurais e heterogê- neos. Evidente que não dá para “elaborar” um plano de aula para cada aluno, mas sendo o planejamento flexível, o professor tem possibilidade de fazer as adaptações ne- cessárias, de parar, voltar, tomar um cami- nho diferente quando necessário. Eis que podemos citar algumas compe- tências dos professores, que, por conse- guinte, irão estimular o desenvolvimento de competências nos seus alunos. Organizar e dirigir situações de apren- dizagem. Ser muito bom na seleção dos conte- údos a serem ensinados, elegendo-os de acordo com os objetivos da aprendizagem. Trabalhar a partir das representações dos alunos. Trabalhar a partir dos erros e dos obs- táculos da aprendizagem. Construir e planejar dispositivos e se- quências didáticas e envolver os alunos em atividades de pesquisa, em projetos de conhecimento (ANTUNES, 2001, p. 37- 41). 16 1717 3.1 Planejamento Não podemos nos furtar a falar do pla- nejamento que tem vários elementos bá- sicos envolvidos. Planejar quer dizer estabelecer priori- dades necessárias quando temos um pro- pósito, já definido, a realizar. Também podemos definir como um pro- cesso que objetiva bem distribuir no tem- po e no espaço os recursos disponíveis, dentro de uma sequência lógica de neces- sidades, a fim de possibilitar a elaboração de meios para alcançaro desígnio. Planejamento é a seleção e identifica- ção dos objetivos globais, de longo prazo, de uma organização, dos vários cursos de ações possíveis em termos de custo e efe- tividade ou benefícios relativos, de modo a facilitar aos executores a decisão dos cursos em ação a serem adotados para atingir os referidos objetivos. Apesar de termos três modalidades bá- sicas de planejamento: o plano da escola, o plano de ensino e o plano de aulas, vamos centrar nossos esforços no último, que é a forma predominante de organizar o pro- cesso de ensino. É na aula que o professor organiza ou cria situações docentes, isto é, as condições e meios necessários para que os alunos assimilem ativamente co- nhecimentos, habilidades e desenvolvem suas capacidades cognoscitivas (LIBÂ- NEO, 1994, p. 241). Em outras palavras, o planejamento didático parte do currículo para os pro- gramas, deste para os planos de curso, de curso para a unidade, e deste para o plano de aula. Ao elaborar seu planejamento didático, o professor deve enumerar os objetivos que tem em vista, selecionando-os con- forme prioridade e viabilidade de execu- ção. Esta primeira etapa permite ao do- cente prever os resultados que pretende alcançar. Para que o planejamento seja eficiente, o professor deve conhecer seus alunos, afinal de contas, ele é o centro do proces- so educativo. Mais uma vez reforçamos: estejam atentos para a população- -alvo e para o contexto sócio-econômico- -cultural deles; respeite os limites impostos pela re- alidade; atentem para os interesses, motiva- ções e igualmente para o estágio do co- nhecimento em que se encontram. São elementos básicos do planeja- mento: a) Aluno que deve ser percebido como um sujeito concreto no tempo e espaço, síntese de múltiplas determinações um sujeito real, com o qual a escola necessita trabalhar da melhor maneira possível. b) Professor deve ser percebido, ape- sar de todas as dificuldades da situação atual do ensino, como profissional res- ponsável pela educação escolar autorida- de competente, profissional responsável pelo ensino-aprendizagem através da me- diação entre o educando e os conteúdos de ensino contextualizado politicamente com a realidade. c) Os objetivos devem refletir os pon- tos de chegada da educação escolar, sen- do definidos a partir das necessidades dos educandos e dos compromissos políticos 18 19 do grupo de educadores, a definição dos objetivos deve resultar da reflexão dos educadores em torno da realidade em que estão inseridos, pois propiciam o surgi- mento dos reais objetivos com os quais o grupo de educadores deseja se compro- meter. d) Os conteúdos são conhecimentos produzidos e acumulados historicamen- te pela humanidade, que devem ser de- mocratizados através da educação esco- lar, de forma organizada e coerente. São meios utilizados pelos educadores para a instrumentalização do cidadão-educan- do, para o enfrentamento do mundo, atra- vés de: - SABER PARA SI – a propriação dos saberes para instrumentalizá-lo para uma prática social objetiva; - SABER FAZER – tradução do saber apreendido, pela prática profissional crítica; - SABER PARA SER – articulação dinâ- mica daquilo que o sujeito “sabe para si” e o “saber fazer” em posições, ati- tudes, diante das contradições do mundo – cidadania plena. e) A metodologia é o processo pelo qual o educador utiliza diferentes proce- dimentos, técnicas e recursos para a me- diação entre o educando e os conteúdos de ensino. f) A avaliação é muito importante, e na medida que não se torne um fim em si mesmo, trata-se de um recurso que deve ser utilizado e colocado a favor da apren- dizagem do aluno, e não como instrumen- to de opressão e punição. É preciso que a escola desenvolva uma atitude mais edu- cativa em relação à avaliação. Um processo de ensino competente – bem preparado e desenvolvido – reduz, sensivelmente, os tradicionais problemas de avaliação do aluno. É preciso, pois, que se recuperem instrumentos e técnicas de avaliação mais desafiantes e eficien- tes que funcionem como apoio para uma aprendizagem que efetivamente instru- mentalize o cidadão para a prática social. g) A relação professor-aluno, ou seja, relação profissional entre o educador e o educando, em que o primeiro atua como mediador entre o aluno e os conteúdos do ensino, também é elemento primordial no processo de planejamento. A relação humana deve ser respeitosa, saudável, amigável, cordial e clara entre ambos, desviando do autoritarismo, para assumir um caráter de autoridade competente (LI- BÂNEO, 1994). 3.2 Prática pedagógica – o currículo em ação Não há dúvidas que a prática pedagó- gica é a dimensão em que o currículo se expressa e ninguém mais estudioso do assunto do que Gimeno Sacristan (2000, p. 201) para nos falar a respeito: é na prática que todo projeto, toda ideia, toda intenção se faz realidade de uma forma ou outra; manifesta- -se, adquire significação e valor, in- dependentemente de declarações e propósitos de partida. E, desse modo, o currículo é a ponte en- tre teoria e ação, concretizado por meio do ensino que se realiza em resposta a uma necessidade que é a de pensar, pla- nejar, organizar ações que levem o aluno 18 19 a aprender. Nesse sentido, Veiga (2006) também coloca que ensinar é trabalho laborioso que envolve elementos articulados sobre os quais já vimos citando ao longo do mó- dulo: o professor, o aluno e o conhecimen- to. Voltando à questão do currículo em ação, lembremos que ele é diferente do currículo formal e do currículo oculto, pois ele é aquilo que efetivamente aconte- ce nas salas de aula e nas escolas e falar dele é, portanto, sair da ideia de que uma proposta curricular só pode ser entendida com uma relação de conteúdos progra- máticos padronizados com a finalidade de atender a um saber sistematizado univer- sal. Esse currículo sofre influências da pós- -modernidade, de valores, lutas e postu- ras um tanto que avançadas para alguns dos educadores, mas que estão aí, são questões contemporâneas, não podemos fugir delas, portanto, a hora é de reno- var, de reorganizar a escola e fazer valer as histórias não-contadas pelos livros, é aceitar as diferenças e dialogar com elas, é comprometer-se com atitudes solidárias e democráticas, necessárias a um mundo mais justo e mais humano. E eis que podemos partir para a prática numa perspectiva interdisciplinar, última parada nessa viagem sem fim, antes de propormos práticas em vários dos possí- veis campos de atuação. 20 2120 UNIDADE 4 – A Prática Pedagógica numa Perspectiva Interdisciplinar Apesar de em outro momento do cur- so já termos falado sobre as várias face- tas do currículo, acreditamos que reforçar essas dimensões ajudarão a contribuir no momento de escolher as técnicas, os mé- todos, enfim, o percurso que irão seguir para que proporcionem uma aprendiza- gem efetiva e significativa e mais, que, como já dito, proporcionem ao aluno a ca- pacidade de conviver em uma sociedade que está em constantes mudanças. Eles precisam tornar-se construtores de seu conhecimento, sujeitos ativos do processo no qual a sensibilidade e razão sejam seus companheiros de viagem, pre- cisam dominar formas de raciocínio não mais lineares como antigamente enfim, necessitam desenvolver comportamen- tos e aprendizagem diferentes da lógica racional (SILVA; RAMOS, 2006). Não vamos nos alongar, mas vamos aos conceitos ou às formas possíveis de arti- cular diversas disciplinas! 4.1 Termos básicos a) Pluri ou multidisciplinaridade – enfoca a proximidade, a justaposição de várias disciplinas sem a tentativa de sín- tese. Pressupõe que várias disciplinas podem ser reunidas; porém, essa reuniãonão implica nem que elas tenham o mes- mo objeto de estudo e tampouco que par- tilhem qualquer tipo de relação sobre esse objeto. Isto é, na escola, os alunos podem estudar a China em geografia, os espor- tes olímpicos em educação física, o comu- nismo em história, sem que as disciplinas tenham um planejamento conjunto ou as abordagens metodológicas estipulem co- nexões entre os temas abordados. Em re- sumo, a interação entre as disciplinas não é relevante (KRAUSZ, 2011). b) Interdisciplinaridade – consiste na síntese dialética das disciplinas, instau- rando um novo nível de linguagem, uma nova forma de pensar e agir, caracteriza- dos por relações, articulações e mobiliza- ções de conceitos e metodologias. Dois ou mais campos do saber estão reunidos e voltados para a análise e verificação do mesmo objeto de estudo. Os professores fazem um planejamento conjunto com objetivo de propor discussões que levem os alunos a estabelecer relações entre o que estão pesquisando nas diversas dis- ciplinas em relação a um tema em ques- tão. No trabalho interdisciplinar, uma área enriquece o conhecimento sobre a outra e o resultado é a construção de um saber mais complexo e menos fragmen- tado, que buscará trazer mais nexos para o estudante, visto que será pesquisado e discutido sob diferentes pontos de vista (KRAUSZ, 2011). c) Transdisciplinaridade – refere-se a axionomia convergente, busca de valo- res comuns, é o reconhecimento da inter- dependência das áreas de conhecimento. O prefixo trans quer dizer aquilo que está entre, através e além. Nesse sentido, um ensino transdisciplinar não se restrin- ge nem à simples reunião das disciplinas nem à possibilidade de haver diálogo en- tre duas ou mais disciplinas porque ultra- passa sua dimensão. Faz com que o tema pesquisado passe pelas disciplinas, porém 20 2121 sem ter como objetivo final o conheci- mento específico dessa mesma disciplina ou a preocupação de delimitar o que é o seu objeto ou o que é de outra área inter- -relacionada. A transdisciplinaridade se preocupa com a interação contínua e inin- terrupta de todas as disciplinas num mo- mento e lugar (KRAUSZ, 2011). Entretanto, trabalhar com atividades integradas não é um modismo, mas o en- contro com as adversidades, que exigem uma nova compreensão da concepção de interdisciplinaridade. Segundo Fazenda (2001), a inter- disciplinaridade se expressa em: uma atitude interdisciplinar – é compreensão e vivência do movimen- to dialético, é rever o velho para torná- -lo novo e admitir que há sempre algo de velho no novo, velho e novo são faces da mesma moeda; parceria – pressupõe um diálogo en- tre diferentes atores e formas de conhe- cimento, trata-se de uma consolidação da intersubjetividade, um pensar que se completa no outro; na totalidade do conhecimento – consiste em respeitar as especificidade, na forma de pensar com intencionalidade, numa ação conjunta, baseada nos aspec- tos teórico-metodológicos que embasam o fazer pedagógico. 4.2 Dimensões estratégicas para acontecer a interdisci- plinaridade Para acontecer a interdisciplinaridade, é preciso instrumentalizar o professor através de vivências práticas, no sentido de que ele possa contemplar diferentes dimensões consideradas estratégicas para o saber fazer interdisciplinar. Silva e Ramos (2006) citando Fazenda (2001), ressaltam a importância do pla- nejamento da atividade interdisciplinar, o qual envolve a tríade: necessidade, in- tenção e cooperação de modo, que o mo- vimento gerado tenha como propósito, a construção da cidadania e exercício da au- tonomia pessoal. A necessidade diz respeito ao contex- to da escola e envolve múltiplos aspectos e diferentes dimensões da vida social. A intenção gesta do projeto pedagógico da escola, da projeção e planejamento das atividades que possibilitem a constru- ção do conhecimento, e se manifesta na atitude, no refazer, rever, reconstruir em vista de sua característica formadora e científica. A cooperação se dá a partir da intenção por confrontar posicionamen- tos, interrogações da realidade, veicular concepções de valores e, principalmente, transpor os diferentes campos do conhe- cimento. A prática interdisciplinar constitui-se de um trabalho coletivo e solidário que exige a descentralização do poder e uma efetiva autonomia do sujeito, seu exercí- cio envolve competências docentes, tais como: perceber-se interdisciplinar; contextualizar os conteúdos; valorizar o trabalho em parceria; desenvolver atitude de pesquisa; valorizar e dinamizar a comunicação; resgatar o sentido de humano; e, 22 2322 trabalhar com a pedagogia de proje- tos. A partir do delineamento dessas com- petências, define-se o eixo integrador que deve articular as várias disciplinas, tendo em vista a aprendizagem signifi- cativa para o aluno. A realização da ativi- dade planejada inclui: textos, seminários, visitas, entrevistas, estudo de caso, opor- tunizando ao aluno a problematização da realidade, construção de conhecimento e desenvolvimento de habilidades para intervenção da mesma. Na etapa final, apresenta-se os resultado em forma de produções escritas, seminários, simpó- sios, painéis e exposições (SILVA; RAMOS, 2006). Que tal a partir desse momento, ver- mos algumas ideias, algumas sugestões de como trabalhar na prática? E fiquem à vontade para acrescentar, modificar os planos exemplificativos. A aula é de vo- cês, levem alegria e conhecimento aos seus alunos, mantenha-os motivados para a vida! 22 2323 UNIDADE 5 – Usando as Tecnologias da Informação e Comunicação Evolução e revolução são dois proces- sos bem conhecidos de nós seres huma- nos, não é verdade?! E na medida em que os anos vão caminhando nos surpreen- demos cada vez mais com nossa própria capacidade de criação, inovação, adapta- ção... Do século XX em que a maioria de nós nasceu para esses poucos 15 primeiros anos do século XXI, a velocidade com que inovamos tecnologicamente também é evento que ainda nos espanta. E nesse campo, parece que quanto mais jovem se é, mais se têm desejos e ímpetos de re- novar, criar, desafiar e inovar que muitas vezes nós professores nos sentimos ver- dadeiros sujeitos pré-históricos, essa é a verdade. Por isso, precisamos estar sem- pre ‘antenados’ para que não sejamos um ‘peso morto’ em sala de aula, aquele que não ‘sabe nada’ ou ‘pouco sabe’ em termos de tecnologia. Gravar as aulas, fotografar as lousas, são situações que pouco tempo atrás não cogitávamos e hoje está realmente difí- cil frear essa comodidade oferecida por celulares, smartphones, tablets. Além, é claro, da necessidade de pensarmos ‘duas vezes’ antes de expormos nossos pensa- mentos em sala de aula, porque qualquer deslize, qualquer opinião pode virar um ‘caso de polícia’ e até mesmo ‘viralizar na rede’. Se pensarmos nas ciências biológicas, evolução é o processo através do qual ocorrem mudanças ou transformações nos seres vivos ao longo do tempo, dando origem a espécies novas. É ainda a capaci- dade de adaptação para sobrevivência. Evidentemente, que nem sempre evo- lução pode ser vista como sinônimo de progresso, já que uma mesma caracterís- tica que garante o sucesso, em um deter- minado momento, pode não ser tão favo- rável em outro momento. Quanto a isso, por exemplo, acredita-se que a anemia falciforme surgiu na África, há milhões de anos atrás. Como indivíduos com a doença falciforme eram mais resistentes à malá- ria; por seleção natural, aqueles com suas hemácias normais tinham mais chances de não resistir à parasitose. Tomando agora como exemplo a Língua Portuguesa, nascida na Península Ibérica, mas que tem raízes pré-românicas, prove- nientes de povos indo-europeus,a evolu- ção também deixou suas marcas. Chamada língua neolatina, a Língua Portuguesa é formada da mistura de mui- to latim vulgar com influências árabes e que ainda esteve altamente conectada ao galego, tudo inicialmente assimilado pelo português arcaico, entre outros, mesmo assim uma língua própria e independente. Vocábulos franceses, ingleses, espa- nhóis, sufixos, radicais, nossa língua abar- cou uma gama de outras propriedades que merecem estudo aprofundado. Infelizmente, pouca atenção nossos jovens dão a essa língua tão bela que nos oferece um leque de estudos e usos, haja vista a linguagem usada nas redes sociais, onde esquecemos, ‘comemos’, a usamos sem o devido respeito. 24 25 O que queremos mostrar é que a evolu- ção é um processo que acontece para as pessoas, para as línguas, para as diversas áreas das ciências e que conhecer esse caminho é importante para entendermos o estágio atual, o que perdemos, o que ganhamos, enfim, fazer um balanço para que nos mantenhamos equilibrados. Com certeza vocês devem estar se per- guntando: o que tudo isso tem a ver com as TICs? Simples: muito dificilmente consegui- mos caminhar hoje em dia sem fazer uso delas, das diversas tecnologias da infor- mação e da comunicação. Claro que a im- provisação e a criatividade são ações/es- tratégias que devemos ter em mãos para situações eventuais e para enriquecimen- to, mas o mundo pede tecnologia. Pedimos desculpas, mas a despeito de sabermos que nem todos os municípios e escolas do país estejam conectados, não vamos entrar nesse viés da questão que, além de político, podemos dizer que é também questão de consciência, indife- rença e descaso de alguns governantes. Importa é que as tecnologias como a Internet e o computador são meios de co- municação, informação e expressão, e os educadores devem considerá-los como mecanismos para esses três meios, inclu- sive como uma forma de expressão entre eles e os alunos. O uso das tecnologias é iminente, e estão transformando as relações humanas em todas as suas di- mensões: econômicas, sociais e no âmbi- to educacional não têm sido diferente. A apropriação desses meios de comunica- ção para a construção do conhecimento vem mobilizando os educadores no sen- tido da seleção e utilização mais adequa- da dessas novas tecnologias (ANDRADE, 2011). 5.1 As múltiplas tecnologias Por definição, tecnologia é um produto da ciência e da engenharia que envolve um conjunto de instrumentos, métodos e técnicas que visam à resolução de proble- mas. Segundo Cortelazzo (2002) e Hamze (2015) podemos falar em tecnologias de informação, tecnologias de comunicação, tecnologias interativas, tecnologias cola- borativas. a) As tecnologias de informação são as formas de gerar, armazenar, veicular e reproduzir a informação. b) As tecnologias de comunicação são as formas de difundir informação, incluin- do as mídias mais tradicionais, da televi- são, do vídeo, das redes de computado- res, de livros, de revistas, do rádio, entre outras. Com a associação da informação e da comunicação há novos ambientes de aprendizagens, novos ambientes de inte- ração. c) A Tecnologia Interativa é a elabo- ração concomitante por parte do emissor (quem emite a mensagem) e do receptor (quem recebe a mensagem), codificando e decodificando os conteúdos, conforme a sua cultura e a realidade onde vivem. As tecnologias interativas se dão através da televisão a cabo, vídeo interativo, progra- ma multimídia e Internet. d) As tecnologias colaborativas fa- cilitam as interações entre pessoas e o mundo, permitem um trabalho em equipe satisfatório e, com as diferentes lingua- 24 25 gens, proporcionam tipos diferentes de aprendizagens. Não há como fugir das tecnologias, ela está na agenda do século XXI, portanto, os professores devem trabalhar com seus alunos não só para ajudá-los a desenvol- verem habilidades, procedimentos, es- tratégias para coletar e selecionar infor- mações, mas, sobretudo, para ajudá-los a desenvolverem conceitos. Conceitos que serão a base para a construção de seu co- nhecimento. Como diz Gadotti (2002, p. 32), o pro- fessor deixará de ser um lecionador para ser um organizador do conhecimen- to e da aprendizagem (...) um media- dor do conhecimento, um aprendiz permanente, um construtor de sen- tidos, um cooperador, e sobretudo, um organizador de aprendizagem. 5.2 WebGincana (WG) De acordo com SENAC/SP, WebGincana é um modelo criativo de uso educacional da Internet. Ela ajuda o professor a orga- nizar ambientes lúdicos para a busca de informação. O modelo aproveita de modo eficiente a riqueza informativa da rede mundial de computadores e é uma boa ferramenta de tecnologia educacional. Barato (2006) explica que WG é um mo- delo de organização de informações para usos estruturados de recursos da Inter- net em educação. Há anos, educadores americanos e canadenses propõem “caças ao tesouro na Internet”. No geral, tais ca- ças ao tesouro são chamadas, em inglês, de “Scavenger Hunts”. Da mesma forma que a Caça ao Tesou- ro americana, as WebGincanas colocam desafios de busca de informações e da- dos na Internet, propondo um conjunto de questões cujas soluções dependem de leitura e interpretação dos recursos se- lecionados para a atividade. Porém, em vez de restringirem-se apenas à busca de informações em recursos Web, o modelo WebGincana procura também apresentar aos alunos missões que decorrem de al- guns conteúdos investigados. Tal inova- ção pretende dar ao modelo uma dinâmica característica dos aspectos lúdicos das gincanas em geral. Se bem trabalhada, a WG é um tra- balho didático que procura concreti- zar os seguintes fins educacionais: 1) Capacitar os alunos a fazer leitu- ras rápidas, mas atentas, de textos eu podem conter alguma informação de interesse imediato – o modelo WG tem como uma de suas principais finalidades ajudar os alunos a desenvolverem a habi- lidade de executar varreduras guiadas por algum interesse. O que se quer, numa WG, é que os alunos construam boas estraté- gias de varreduras de textos, já que o uni- verso Web é gigantesco e a quantidade de informações a que se tem acesso aumen- ta a cada dia. 2) Aguçar a curiosidade para um as- sunto que começa a ser abordado no programa de estudos – boas WG pro- põem questões curiosas, surpreenden- tes, desafiadoras. Elas possuem certa di- mensão lúdica. O que se visa com isso não é apenas o prazer do jogo, mas, sobretu- do, um começo de conversa atraente so- bre o assunto. 3) Proporcionar uso sistemático e bem 26 2726 estruturado de recursos da Internet. 4) Modernizar modos de fazer educa- ção. 5) Incentivar a pesquisa. 6) Promover trabalho cooperativo de aprendizagem – tradicionais gincanas são sempre jogos de grupos. Para ganhar o jogo, é preciso que todos trabalhem como um time, distribuindo funções, dividindo as tarefas, discutindo estratégias. Espe- ra-se que todas essas características das gincanas tradicionais ocorram em WG bem planejadas. Até porque, é claro, trabalhar com outras pessoas de modo cooperati- vo é uma competência indispensável em nosso mundo. 7) Promover usos educativos da Inter- net. 8) Evitar o recorte e cola. 9) Articular estudos no computador com atividades diversificadas de uso das informações: em WG-padrão e longas, as atividades propostas articulam buscas na Internet com atividades que resultam em usos das informações encontradas no espaço Web. Essa é uma providência importante para que as respostas sejam usadas em contextos significativos. Afi- nal, aprendemos melhor quando usamos o conteúdo estudado, e os dados obtidos nas buscas ganham sentido quando utili- zados em contextos significativos. 10) Fortalecer oespírito de equipe. 11) Proporcionar aos professores um caminho simples de utilização de compu- tadores para fins de aprendizagem (BA- RATO, 2006, 2012). 26 2727 UNIDADE 6 – Prática Pedagógica na Área Empresarial Por um longo tempo, a atuação do pe- dagogo esteve centrada intramuros da escola, com um público específico, geral- mente muitas crianças e jovens, além dos seus colegas de trabalho e a direção da es- cola, mas eis que nos últimos anos temos visto abrir-se um leque de novas oportu- nidades, dentre elas na área empresarial e hospitalar e também o movimento de educação do campo que vem retomando força, áreas estas que daremos atenção nestas próximas unidades. De imediato, lembre-se que sua atua- ção na empresa tem como pressupostos principais a filosofia e a política de recur- sos humanos adotadas pela organização, portanto, não imagine que o treinamento tenha um fim em si mesmo ou que a pos- tura a adotar na empresa seja a mesma adotada em uma escola. A pedagoga empresarial se insere num contexto em que a empresa busca de- senvolver as seguintes competências em seus colaboradores: espírito de liderança; orientação para o cliente; orientação para resultados; comunicação clara e objetiva; flexibilidade e adaptabilidade, cria- tividade, pró-atividade e aprendizagem contínua (LOPES et al. 2006). Podemos deduzir que você dará supor- te ao setor de recursos humanos para es- truturar mudanças, seja ampliação e/ou aquisição de novos conhecimentos dos colaboradores. Uma vez que você irá lidar basicamente com os conhecimentos, as competências, as habilidades e as atitudes diagnostica- das como indispensáveis ou necessárias à melhoria da produtividade, por certo, par- ticipará da implantação de programas de qualificação/requalificação profissional, produzindo e difundindo o conhecimento, desenvolvendo programas de levanta- mentos de necessidades de treinamento e adaptando metodologias de informação e comunicação às práticas de treinamento (RIBEIRO, 2008). Trindade (2009) nos lembra que a pe- dagogia tem lugar de destaque nas or- ganizações por vários motivos, e usa a metáfora “antibiótico para os males da empresa”. Explicando: Os funcionários precisam ser analisados individualmente, pois as pessoas respondem de formas dife- rentes a estímulos iguais, e a união destas diferenças leva à soma de ideias, construindo uma corrente. O conjunto de inspirações de cada in- divíduo do grupo é que torna uma equipe construtiva. Sabemos que o ser humano precisa de motivação para caminhar. Lembrando da pirâmide das necessidades de Abraham Maslow, temos na base as necessidades fisiológicas (alimento, abrigo...) e no topo as necessidades e autorrealização. Eis que entram em cena ou o pedagogo ou o psicólogo! São profissionais que têm como missão motivar, levar o colaborador a agregar valor, levá-lo a desempenhar 28 29 bem suas funções, sentir-se satisfeito na organização. Já se foi o tempo em que a primeira solução seria demitir, além do que, é mais oneroso para a empresa agir assim do que propor treinamentos e “for- mação continuada” para seu colaborador. Na prática você irá: coordenar equipe multidisciplinares no desenvolvimento de projetos; evidenciar formas educacionais para aprendizagem organizacional significati- va e sustentável; gerar mudanças culturais no ambien- te de trabalho; na definição de políticas voltadas ao desenvolvimento humano permanente; prestar consultoria interna relacio- nada à educação e desenvolvimento das pessoas nas organizações. São muitos os desafios desse novo pro- fissional, diferentemente do que podem pensar alguns, não se resume a conduzir dinâmicas de grupo e preparar material de treinamento para o qual as pessoas não estão engajadas ou enxergando uma necessidade imediata. Isto requer mui- to trabalho como de observações cuida- dosas principalmente ao que se refere ao capital humano, (termo utilizados nas empresas ao referir-se às pessoas que trabalham nelas), para que com elas seja possível desenvolver estratégias no bom sentido, que venha favorecer a humaniza- ção dentro da empresa. Esta ação requer do Pedagogo Empresarial perspicácia, observação, envolvimento, desprendi- mento, coragem, preparo técnico, ousa- dia, vontade, criatividade e desejo efetivo pela descoberta de como será desenvolvi- do seu trabalho dentro da corporação. Ou seja, o pedagogo deve ter um olhar, peda- gógico, filosófico, psicológico em relação aos seres humanos que estarão presen- tes neste espaço, não os tratando como meros objetos que precisam ser moldados de acordo com o objetivo da empresa (RI- BEIRO, 2008). Vamos a algumas dicas de “como não agir na prática”: a) As dinâmicas de grupos são ao mes- mo tempo importantes e perigosas. Realmente são uma forma mais dinâmi- ca de provocar reflexão, mas nem sempre são lúdicas, e nem sempre é vista pelos participantes com tranquilidade e isso precisa ser respeitado. Ela é também uma forma democrática de oportunizar manifestações, mas isso também é perigoso, portanto, ser pru- dente e saber conduzir as dinâmicas con- tribuem para que os resultados sejam gra- tificantes e produtivos. Dentre os maiores perigos, temos o despertar de sentimentos e comporta- mentos inadequados e ao lugar que é um risco latente. Afinal de contas, tem situ- ações que remontam as pessoas a lem- branças dolorosas. Outro embaraço que as dinâmicas nos trazem são situações de estresse físico como andar descalço, praticar arvorismo para quem tem medo de altura, entre ou- tros. Podendo ser evitadas ou pelo menos buscando saber de antemão, esses medos pessoais ajudarão a todos: constrangidos e constrangedores. b) Os projetos de trabalho de gestão. 28 29 Com certeza você será solicitado(a) a elaborar um projeto de trabalho, com os mais variados conteúdos e situações, por exemplo: comunicação interpessoal e atendimento ao cliente. Primeira atitude: elaborar um planeja- mento! Este deve conter objetivos, nome da dinâmica, tema, metodologia, material, total de participantes, tempo e local. Se seu planejamento falhar será como uma cascata de cartas, as demais etapas irão todas por “água abaixo”, portanto, planeje com antecedência e revise cada etapa. A título e exemplo: o tempo e o número de participantes. Se o objetivo é que todos os participan- tes falem por cinco minutos, ao todo, du- rante a dinâmica, e seu tempo total é de 50 minutos, distribuição de material, 1 mi- nuto, elaboração da atividade individual ou em grupo – 15 minutos, então sobram 33 minutos = 50 – 1 – 1 = 33. E 33 minutos divididos por 5 minutos (fala de cada parti- cipante) = 6,6 (número de participantes). Já pensou se erra nessa conta?! 30 3130 UNIDADE 7 – Prática Pedagogica na Área Hospitalar Segundo Freire et al. (2012), a principal função do pedagogo hospitalar é: Assegurar a dignidade e uma me- lhora na qualidade de vida dos alu- nos/pacientes, proporcionando uma aprendizagem de qualidade, onde deverá ser respeitado o atendimento de acordo com as condições de cada educando no hospital, respeitando suas limitações, e buscando desen- volver atividades adaptadas e criati- vas, envolvendo o aluno/paciente no processo de ensino-aprendizagem, essa é a função principal do pedago- go hospitalar. Nesse contexto e seguindo as orienta- ções da Declaração de Salamanca, o prin- cipal objetivo da classe hospitalar é, assim, fazer um acompanhamento pedagógico a crianças e jovens com dificuldades graves de saúde física ou mental e que estão de- finitiva ou temporariamente impedidos de frequentar a escola regular. Prestem atenção: não se trata de Edu- cação Especial. É a Educação Escolar or- dinária,aquela que nutre o sujeito de informações sobre o mundo dentro do currículo escolar definido pela educação nacional. Marca-se como diferença en- tre a classe hospitalar e a classe especial o fato de que a segregação das crianças não se deve à rejeição por outras classes, mas à doença que as impede de ir à escola. Longe de rejeitá-los, a escola vai até eles, no hospital (VASCONCELOS, 2007, p. 2). A atuação do pedagogo, no ambiente hospitalar, pressupõe uma prática peda- gógica que vá de encontro com o contexto educacional em que está inserida a crian- ça, observando-se a perspectiva teórica da escola e a série em que a criança está matriculada. O tempo de internação e de afastamento da escola também devem ser considerados ao se organizar o con- teúdo a ser repassado para a criança (CA- BREIRA, 2007). De todo modo, a prática pedagógica nesse ambiente deve levar em considera- ção as condições de saúde em que a crian- ça ou o jovem se encontra. Fontes (2012) nos lembra que o peda- gogo, na sua práxis, ao promover experi- ências vivenciais dentro de um hospital, como brincar, pensar, criar, trocar, estará favorecendo o desenvolvimento pleno da criança, que não deve ser interrompido em função da hospitalização. O atendimento hospitalar não se reali- za somente no âmbito físico, mas também afetivo. As ações da pedagogia se efetu- am sob a ótica de que, mesmo passando por uma internação, a criança e o adoles- cente não precisam ter o seu processo de escolarização e sua vida social preju- dicados e/ou interrompidos. Podem ser desenvolvidas atividades em ambiente hospitalar que deem continuidade a esse processo. Ainda não falamos da brinquedoteca que você na sua prática pedagógica hos- pitalar pode e deve incentivar (caso não tenha ainda), afinal de contas, todos sa- bemos que ao brincar a criança estabe- lece relações com o mundo e transforma 30 3131 seus significados, assim, as brinquedote- cas funcionam como espaço de resgate da brincadeira, além de amenizar o sofrimen- to e desviar a atenção e muitas vezes até a dor do escolar hospitalizado. Os traumas sofridos pelas crianças submetidas a tratamentos hospitalares podem comprometer por longo tempo ou para sempre o seu emocional. As crianças tendem a ter medo de pessoas vestidas de branco; muitas em idade escolar sen- tem-se desmotivadas para retornarem à escola, ficam deprimidas, o grau de es- tresse aumenta (FONTES, 2012). Com a possibilidade do brincar dentro do hospital, elas resgatam a autoestima, o sofrimento é minimizado, e até mesmo a permanência dentro do hospital pode ser diminuída pelo fato de a criança corres- ponder melhor ao tratamento, recuperar o ânimo, assim, revigorando sua saúde. É de suma importância. Trazem benefícios visíveis, o paciente cor- responde melhor ao tratamento, a família também e facilita a atuação dos profissionais. [...] pois a criança torna-se mais disposta ao tratamen- to, trazendo uma comunicação mais efetiva com os profissionais de saú- de e diminuindo sua permanência no hospital (GOMES, 2011 em entrevista a FONTES, 2012). Ortiz e Freitas (2005), Barros (2010) e Kohn (2010) relatam que a intervenção pedagógica com atividades lúdicas contri- bui para a recuperação mais rápida da en- fermidade da criança. Essas ações atuam sob a postura de resistência exercida pelo paciente frente à doença, possibilitan- do o desenvolvimento de um tratamento mais humanizado; esse olhar beneficia os aspectos físico, afetivo e cognitivo do pa- ciente. O desenvolvimeno da leitura via conta- ção de histórias2 é outra prática que você pode utilizar com a criança hospitalizada e em duas linhas de ação: para ela em seu leito ou para grupos delas na brinquedo- teca aproveitando também da dramatiza- ção. Basta ter criatividade! No contexto hospitalar, as propostas de leitura que envolvem a criança em tra- tamento de saúde necessitam, primeira- mente, considerar o contexto do qual ela provém, ou seja, a sua realidade, a sua história. Esse referencial fará a diferença na hora de abordar, por meio da leitura, o contexto atual no qual ela se encontra in- serida, que é o contexto hospitalar. A im- portância atribuída aos contextos no de- senvolvimento da leitura justifica-se pelo fato de eles serem fenômenos indissociá- veis e afins que dão significado à vida da criança. Existe, então, a necessidade de haver uma preocupação dos professores e pe- dagogos com a leitura, traduzindo-se em práticas adequadas e eficientes que este- jam fundamentadas teórica e metodolo- gicamente à realidade do sujeito envolvi- do, ou seja, a criança hospitalizada. Essa perspectiva de leitura faz parte de uma concepção de linguagem intera- cionista, que ultrapassa a compreensão superficial do ato de ler, pois ela é mais do que o entendimento das informações explícitas, é um processo dinâmico entre sujeitos que instituem trocas de experi- 2- Lembre-se que não somente no contexto escolar, a contação de histórias, a dramatização são estratégias que você pode co- locar em prática quando trabalha com crianças pequenas. 32 33 ências, por meio do texto escrito. O professor, na concepção interacio- nista, assume o papel de mediador entre o coletivo da sociedade e o individual do aluno. Ele exerce também o papel de um dos mediadores sociais entre o universal da sociedade e o particular do educando hospitalizado. Outro aspecto importante da leitura no contexto hospitalar é o da possibilidade de o professor envolver as crianças pela contação de histórias. Para tanto, ele deve tornar esse mo- mento prazeroso para a criança a pon- to de esta, após ouvir as histórias, ter o desejo de ouvi-las novamente. Isso só será possível a partir de uma situação de aconchego, pela atenção que o adulto dedica, pela cumplicidade que aumenta o companheirismo e favorece a afetivida- de, que melhora as relações, o diálogo, a compreensão, confiança, o conhecimento das peculiaridades das crianças e a aber- tura ao ouvir. Após a história, o professor deve dar oportunidade para as crianças participarem perguntando, comentando, dando sua compreensão e atribuição de sentido ao que ouviram, porém sem dire- cionamento do professor com aquela ve- lha “moral da história”, que poderá impor um ponto de vista que tolhe a capacidade de interpretação da criança sobre a histó- ria. De acordo com Dohme (2003), o nar- rador deverá estar atento para perceber como elas receberam as informações; se a criança não quiser falar, não obrigá-la, pois poderá oferecer outra atividade que aborde o mesmo teor temático que foi vis- to durante a leitura, além da conversação. O professor deverá aproveitar ao máximo esses momentos de leitura em contexto hospitalar, onde a atenção, a cumplicida- de e o aconchego tornam a narração de histórias uma lembrança inesquecível. A leitura e a contação de histórias en- volvem os sentidos, atraem pela curiosi- dade, pelo formato, pelo manuseio fácil e pelas possibilidades emotivas que o livro pode conter. Como a infância é o melhor momento para iniciar a criança no hábito da leitura, a estada no hospital e o aces- so à escolarização hospitalar podem ser o momento para iniciar este hábito jun- to àquelas que ainda não o possuem. Na escola, a leitura envolve o cognitivo e o emocional, que despertam e estimulam a imaginação e a criatividade. O mesmo ocorre no hospital, pois essas possibilida- des podem afastar a criança da dor, indo muito além do mero recurso de distração (WOLF, 2013). No hospital, a leitura deve ser vista além do uso imediatista, ser vista como recurso metodológico que mediará o pro- cesso de ensino e aprendizagem, pois en- volverá aspectos emocionais da criança e auxiliará no seu desenvolvimento cogniti- vo.
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