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DOS VÍCIOS REDIBITÓRIOS
ARTS. 441 A 446 DO CC
 
1. CONCEITO: São defeitos ocultos existentes na coisa alienada, objeto de contrato comutativo, não comuns às congêneres, que a tornam imprópria ao uso a que se destina ou lhe diminuem sensivelmente o valor, de tal modo que o ato negocial não se realizaria se esses defeitos fossem conhecidos, dando ao adquirente ação para redibir o contrato ou para obter abatimentos no preço.
(arts. 441 e 443, CC)
2. FUNDAMENTO JURÍDICO: 
Teoria do inadimplemento contratual – princípio de garantia: todo alienante deve assegurar, ao adquirente a título oneroso, o uso da coisa por ele adquirida para fins a que a coisa é destinada. Ao transferir coisa de qualquer espécie, por contrato comutativo, tem o dever de assegurar-lhe sua posse útil, equivalente ao preço recebido – dever legal ínsito na contratação.
3. REQUISITOS PARA CARACTERIZAÇÃO: 
Não é qualquer defeito, de somenos importância, que dá ensejo a caracterização. Pode ser bem móvel ou imóvel.
Art. 441, CC:
a) Que a coisa tenha sido recebida em virtude de contrato comutativo ,ou de doação onerosa, ou remuneratória.
- Contrato comutativo: prestações certas e determinadas, antever vantagens e sacrifícios – não envolvem riscos.
- Doação onerosa, com encargo ou gravada: doador impõem ao donatário uma incumbência ou dever.
- Doação remuneratória: feita em retribuição a serviços prestados, cujo pagamento não pode ser exigido pelo donatário.
b) Que os defeitos sejam ocultos.
 - sem imediata percepção, não visíveis, não aparente. 
c) Que os defeitos existam no momento da celebração do contrato e que perdurem até o momento da reclamação. 
 - não há responsabilidade por defeitos supervenientes (resultado de mau uso da coisa), mas somente contemporâneos à alienação, ainda que venham se manifestar só posteriormente. (art. 444, CC).
d) Que os defeitos sejam desconhecidos do adquirente.
 - se os conhecia = presume-se renúncia à garantia. Ex. expressão “vende-se no estado em que se encontra”, comum em anúncio de venda de carros usados tem por fim alertar os interessados de que não se acham em perfeito estado, não cabe reclamação posterior.
e) Que os defeitos sejam graves.
 - a ponto de lhe prejudicar o uso ou diminuir-lhe o valor são passíveis de ação redibitória ou quanti minoris. Ex.: defeito de um quadro só porque não é ele obra do autor cujo nome traz = erro. Assim, como não é defeito comprar um relógio banhado a ouro pensando ser de ouro = erro (quer uma coisa e adquire outra), mas é vício comprar um relógio de ouro que por um defeito numa peça interna não funciona. Esterilidade de um touro adquirido como reprodutor; excessivo aquecimento do motor de veículo nos aclives; inundações em virtudes de chuvas em terreno residencial; sacos para embalar produtos consumíveis com cheiro intolerável etc.
4. EFEITOS:
- Configurado o vício o adquirente torna-se destinatário da garantia e pode enjeitá-la ou pedir abatimento no preço (CC, 441 e 442).
- A ignorância do vício não exime a responsabilidade do alienante (boa-fé), restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato, se conhecia (má-fé), responderá também por perdas e danos. 
- Ainda que o adquirente não possa restituir a coisa por perecimento (ex. morte do animal adquirido, adquirente tem que provar que o vírus da doença que vitimou o animal, por ex., já se encontrava encubado, quando da sua entrega.
5. AÇÕES CABÍVEIS
- Ações edilícias.
- Art. 442 deixa duas alternativas:
1) rejeitar a coisa rescindindo o contrato e pleiteando devolução do preço pago, mediante ação redibitória;
2) conservá-la, malgrado o defeito, reclamando, porém o abatimento do preço, pela ação quanti minoris ou estimatória. No entanto, por lógica, o adquirente tem que, necessariamente, propor ação redibitória em caso de perecimento da coisa em razão de defeito oculto (art. 444, CC).
- hipótese de escolha: havendo a escolha, esta é irrevogável.
- Prazos decadências: trinta dias (bem móvel) e um ano (bem imóvel), contados da tradição. “Se o adquirente já se encontrava na posse do bem o prazo conta-se da alienação, reduzido a metade” – art. 445, CC.
- Pode haver ampliação de prazo por convenção das partes. (Ver art. 446, CC – é complementar a garantia legal e não a exclui. Ou seja, haverá cumulação de prazo fluindo primeiro o da garantia convencional, e após do da legal.
- ADQUIRENTE DEVE DENUNCIAR O DEFEITO DESDE O SEU DESCOBRIMENTO SOB PENA DE DECADÊNCIA DO DIREITO (PRINC. BOA-FÉ, ART. 422, CC).
- Entendimento jurisprudencial (duas exceções): máquinas sujeitas à experimentação (ajustes técnicos - prazo conta de seu perfeito funcionamento e efetiva utilização) e na venda de animais (a partir da manifestação dos sintomas da doença de que é portador, até o prazo máximo de cento e oitenta dias).
- Hipóteses de descabimento das ações edilícias:
a) Coisas vendidas conjuntamente (art. 503, CC). Somente a coisa defeituosa pode ser repudiada, salvo se formarem um todo inseparável pela interdependência entre elas como por ex. coleção de livros raros ou um par de sapatos etc, o alienante responderá integralmente pelo vício.
b) Inadimplemento contratual de entrega de uma coisa por outra: entrega de coisa diversa não configura VR (imperfeição da coisa adquirida), mas simples inadimplemento contratual, respondendo o devedor por perdas e danos (CC, art. 389). Assim, por ex. desfalque ou diferença na quantidade de mercadoria ou objetos adquiridos como coisas certas e por unidade não constitui VR. Ou compra de determinado material e recebimento de outro.
c) Erro quanto às qualidades essenciais do objeto – natureza subjetiva (reside na manifestação de vontade – CC, art. 139, I) – dá ensejo à ação anulatória no prazo decadencial de 04 anos do negócio jurídico (art. 178, II). EX.: adquirir um relógio que pensa ser ouro, mas não é (só por isso o comprou) # se o relógio é mesmo de ouro, mas não funciona por defeito de uma peça interna, nesse caso é Vício Redibitório.
 ***Coisa vendida em hasta pública: responde por VR.
6. DISCIPLINA NO CDC (LEI 8.078/90)
- Quando uma pessoa adquire um veículo com defeitos de um particular a reclamação rege-se pelo CC. Se no entanto, adquire-o de um comerciante estabelecido nesse ramo = relação de consumo = CDC.
- CDC - considera vício redibitório também os defeitos de fácil constatação (consumidor é parte hipossuficiente).
- CDC Maior rigor – além da ações edílicas também responsabiliza civilmente o fabricante pelos defeitos de fabricação impondo a substituição por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso, restituição imediata da quantia paga (corrigida), além de perdas e danos, ou ainda abatimento do preço.
- Prazos decadenciais: 
a) vícios aparentes:
produto não durável (alimento) - 30 dias; 
produto durável - 90 dias em, ambos contados a partir da efetiva entrega do produto ou do término da execução dos serviços.
b) vícios ocultos: os prazos são os mesmos, mas sua contagem somente se inicia no momento em que ficarem evidenciados (art. 26 e parágrafos)
- fornecedor tem prazo máximo de 30 dias para sanar o vício. O prazo pode ser reduzido, de comum acordo, para o mínimo de 07 dias, ou ampliado até o máximo de cento e oitenta dias (CDC, art. 18, §§ 1º e 2º).
- Há ainda, para o consumidor, a benesse da inversão do ônus da prova (art. 6º).

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