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apresenta CAIXA CULTURAL RIO DE JANEIRO Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Ministro de Estado da Fazendo Guido Mantega Presidenta da Caixa Econômica Federal Maria Fernanda Ramos Coelho Caixa Cultural 20 de julho a 17 de setembro de 2006 Rio de Janeiro Curadoria: Denise Mattar Consultoria: Elisabeth di Cavalcanti 4 5 Di Cavalcanti foi, sem dúvida, o perfeito carioca. Seu espírito irreverente e boêmio e sua inclinação para as artes traduziram com fi delidade a vocação humanista que sempre identifi cou a cidade do Rio de Janeiro. Esta mostra reúne 110 trabalhos do artista, sendo 51 pinturas e 59 desenhos, alguns dos quais jamais vistos pelo público brasileiro, um mosaico singular de sua vasta produção. De seu pincel e de sua paleta nasceram imagens que refl etem o ambiente gregário e multifacético da cidade do Rio de Janeiro: mulatas, sambistas, malandros, paisagens, cenas de carnaval, reproduzindo a empatia com a vida carioca, traduzida em sua afi rmação: “Eu não poderia viver sem o Rio de Janeiro, porque tudo o que vejo como pintor se integra na paisagem carioca”. DI CAVALCANTI - UM PERFEITO CARIOCA traz, ao lado do eterno Di pintor, o Di poeta. Ele devotou às letras um amor quase tão profundo quanto à pintura, e foi mesmo no ambiente de uma livraria que ele viria a fazer sua primeira exposição individual, em 1917. Na mostra estão ainda incluídas as quatro telas que o artista produziu, em 1968, sob encomenda da CAIXA, para ilustrar os bilhetes da Loteria Federal. Os temas foram a Inconfi dência, o São João, a Independência e o Natal. E o artista se desincumbiu com mestria, lançando mão de seu fértil imaginário. Ao reconhecer que “a nossa arte tem de ser como a nossa comida, o nosso ar, o nosso mar, tem de ser reveladora de nossa cultura, pois a boa arte é sempre cultural, e sua dimensão própria é a de antecipar um momento cultural”, talvez o pintor não vislumbrasse a dimensão exata do que acabou se transformando a arte brasileira nos últimos anos: aquela arte sonhada por Di vem, como ele pregou, revelando e antecipando a cultura nacional, e já se pode perceber a força dessa arte pela penetração que tem esse “fazer brasileiro” em outras partes do mundo, esse “fazer brasileiro” que tanto deve a Di sua exaltação. Voltada a estimular a criação artística e benefi ciar a aproximação da comunidade aos bens culturais, a presente mostra visa, dessa maneira, a contribuir para a renovação, a ampliação e o fortalecimento da cultura nacional. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL Um Perfeito Brasileiro 6 7 Meu primeiro contato com a Caixa Econômica Federal deve-se a um pedido de autorização para reprodução de imagem de obra de Di Cavalcanti, pertencente a seu acervo, para a Unicef, em 2005. O tempo passou e eis que fui procurada para a realização de um projeto quimérico, visto a exigüidade de tempo – dois meses – para fazermos uma exposição com o pintor-maior Di Cavalcanti, neste novo espaço magnífi co de 1.000m2, direcionado a exposições e eventos de arte que a Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro recebe hoje da Caixa Econômica Federal, perto, pertinho de um local tão à la mode, nas décadas de 1920 e 1930, da famosa Galeria Cruzeiro, vizinha de múltiplos bares, terreno que hoje aloja o Edifício Central, e onde Di Cavalcanti, após apresentação apoteótica de Isadora Duncan a estudantes embasbacados, tomou sua primeira dose de whisky. A apresentação de Isadora Duncan aconteceu no Theatro Municipal em 1916, assim como a participação de Di Cavalcanti no I Salão de Humoristas no Liceu de Artes & Ofícios, quando nosso artista começou “a conviver com o mundo intelectual carioca”. (1971) Há, exatamente, noventa anos, no Liceu que, antes de ser transferido em 1958 para a Praça Onze – rua Frederico Silva, 86 –, ocupava justamente o terreno – Avenida Rio Branco, 174 – que hoje abriga a Caixa Econômica Federal e seu novo espaço cultural! Na ocasião do convite, a única pessoa que me ocorreu, devido à intimidade visceral com a obra de Di Cavalcanti (duas retrospectivas efetuadas no centenário de seu nascimento, 1997, no MAM-RJ e no CCBB-RJ), foi a fi gura elétrica e articulada da curadora Denise Mattar, por seu profi ssionalismo e pelo seu fazer, na concepção máxima da palavra. Di Cavalcanti - Meu Pai Simplesmente Carioca, Di Cavalcanti. Rio de Janeiro, cidade amada, decantada em prosa oral e escrita, em versos bissextos; tão intensamente sentida e porquanto vibrante em sua obra pictórica: “Tenho aqui alimentado minhas aventuras e minhas ilusões, aqui dia a dia me encontro sempre disposto a sentir os fatos e as coisas que se apresentam. Esta cidade que nada repele, recebe a todos e a todos dá um cantinho.” (1964) “Rio, meu Rio querido, que tudo guarda: os entes puros e as almas danadas, e que me ensina a viver como se deve viver e como eu vivo, só desejando ser o homem de tuas ruas.” (1964) Carioca, ser carioca seria tão simplesmente um registro de local de nascimento ou seria o abraçar sensual de toda uma irreverência, uma deliciosa irreverência que produz e produziu um contingente de artistas amantes de luz, cores, música e exaltações? O personagem Di Cavalcanti é profundamente marcado pelos subúrbios do Rio de Janeiro – e, é claro, pelo querido bairro de seus verdes anos, São Cristóvão, onde ele se deliciava com o lirismo das modinhas, do Carnaval, dos circos, da volúpia do mar e dos mistérios do mundo feminino que imperava na casa de seu avô, o velho e benevolente Capitão Senna. Quantas e quantas vezes não fui “passear” no passado de meu pai: ruas de São Cristóvão, Gamboa, morro do Pinto, Quinta da Boa Vista, Floresta da Tijuca? Creio que o que fi cou faltando foi o Mangue, com suas opulentas mulheres a que todos recebiam como confi dentes e amantes, testemunhas de sua descoberta da Lapa, ponto de boêmia, com seus bares, lupanares e cantares de músicos e poetas. 8 Segundo Di Cavalcanti, o verdadeiro Rio de Janeiro era aquele que ia, no máximo, até o Túnel Novo. Após o túnel, o Rio se descaracterizava e passava a ser simplesmente um mero balneário, sem maior expressão. Para o artista, cada bairro “tem sua vida própria, um fi lho dileto: compos itor musical, poeta ou grande médico, grande prelado, sábio, militar, palhaço, jurista”. (1964) São Cristóvão fi cou em sua memória não só como o doce lugar de sua infância, mas também como fonte de sua consciência primeira da árdua vida dos trabalhadores habitantes de vielas decadentes e miseráveis, assim como dos estivadores da Gamboa e dos coveiros do Caju. Esta visão foi semente de seu inconformismo social e o caminhar precursor em direção a uma resposta política, culminando com sua afi liação ao Partido Comunista, em 1928. Seu lar, embora simples, era iluminado por saraus com rasgos apaixonados de poetas (Olavo Bilac), de políticos abolicionistas (José do Patrocínio, casado com sua tia-materna Bibi), da mistura de música clássica (Chopin – o compositor favorito de sua mãe) e das modinhas de Catulo da Paixão Cearense, os tangos de Ernesto Nazaré e outros. A música se torna essencial para a formação de sua sensibilidade, de sua imaginação: “A imaginação é tudo para o artista... tira da areia da praia o brilho dos diamantes para o colar das musas, dá vida às coisas mortas... Minha salvação é o poder lírico que me domina, é descobrir nas coisas mais inexpressivas as fl ores violentas da árvore da criação.” (1955) Em São Cristóvão, o jovem Di olhava e via, maravilhado, as bandas nos coretos, os desfi les carnavalescos, os cordões: “Se na minha formação artística uma coisa tem importância é o carnaval carioca. Mais do que as festas de igreja que, aliás, também infl uenciarammeu eterno deslumbramento pelo mundo místico... Do carnaval carioca eu tirei o amor à cor, ao ritmo, a sensualidade de um Brasil virginal.” (1964) Rio de Janeiro, cidade banhada de mar... O mar para Di torna-se uma necessidade d’alma e porquanto estética, e assim mantém-se absurdamente presente em seus quadros e desenhos, seja em enseadas, velas, redes, cestos, peixes, o horizonte tão azul – onde o cerúleo impera majestoso; o infi nito... “Sempre que podia corria para me iluminar com esta luz, banhar-me nestas águas e aqui amar.” (1964) “Fecha os olhos Diante do mar, Ouve apenas as ondas Batendo na praia.” (1964) Batalho para que Di Cavalcanti não seja conhecido tão-somente como o “pintor das mulatas”. É por demais simplista! Quanto mais pesquiso, embalada por caras lembranças de seus pincéis, tintas e telas, mais fi co deslumbrada com sua capacidade ímpar de criação – composições, formas, cores, luzes, penumbras. Di Cavalcanti não era o pintor das mulatas e sim do universo feminino, fossem as mulheres brancas, negras ou mulatas. O universo eminentemente feminino de sua meninice: “Criei-me num mundo estranho... entre os braços de não sei quantas mulheres: minhas amas, minhas tias, amigas de minha mãe e de minhas tias, minhas avós e tias- avós; distribuído como um mimo para todo o mundo.” (1955) o faz o eterno enamorado de toda e qualquer nova lânguida musa, nascendo das ondas de seu Rio de Janeiro, “o amoroso de muitos amores”: “Só o amor alimentou minha vida e deu-me sempre o orgulho de existir.” (1964) 9 Di Cavalcanti amava três cidades: Paris, coquete civilizante com suas omelettes baveuses e suas livrarias envolventes; São Paulo, lugar de troca de idéias com amigos diletos, das idas aos potins da intelectualidade; e o Rio de Janeiro, útero urbano onde brilha com fervor eclesiástico o “encarnado” (vermeillon de Chine) de um beijo, do sol, da traição; da traição do amor, da humilde e exasperante “dor de cotovelo”. Quando falo sobre meu Pai com pessoas que o tenham de alguma forma conhecido, imediatamente olhos brilham e exaltam o causeur maior, contador de casos e mais casos – não inventados, mas intensamente vividos. Quando seu discurso poderia se transformar em algo enfadonho, eis que ele o transforma com sua carioquice – por meio de todo tipo de antíteses – em algo totalmente irreverente e porquanto inesperado. E a roda toda, a roda dos admiradores e dos arrivistas explode em gargalhadas. Gargalhadas que muitas vezes não repensam e não pesam o que está por trás de tudo aquilo – a consciência amarga da exploração do homem, de sua própria exploração. Sair com ele era uma festa. Com todos conversava – sem distinção: camelô, taxista, garçom, lixeiro, empresário, banqueiro, político, desvairado, poeta. A todos conhecia e cumprimentava. Com um piscar de olhos maroto, com um olá, com um xisto e com um acenar ou somente um menear. E para todos era o “Seu Di” ou o “Di Cavalcanti”. Na imensa pirâmide social, todos tinham valor, o mesmo valor inerente a cada ser humano: “A vida é para o pintor, mais do que para qualquer outro artista, um espetáculo. E dos espetáculos da vida o que mais me comove é aquele onde o homem se apresenta em sua plenitude.” (1964) Dentro de seu conceito, todos podiam tudo, menos é claro – havia esta distinção – ser chatos ou medíocres: “Ah! O horror da perseguição dos medíocres ao artista! Sadismo ignóbil que tudo adultera” (1964) Di Cavalcanti amava o homem simples, o homem do povo. Seu dinamismo intelectual o levava até este homem tão despido, desmunido e, sobretudo, amava os poetas, os que vivem do amor e para o amor: “aqueles que andam a esmo são loucos, são poetas: são os que me interessam”. (1964) Di Cavalcanti amou. Amou a todas e a todos. Amou o seu Rio de Janeiro, o seu país. Simplesmente amou... Numa tarde lapidar, vindo do centro da cidade, o carro rodava lentamente sobre uma pista do Aterro. De repente, apareceu à esquerda o Pão de Açúcar recortado contra um céu rosáceo: – Olhe só, minha fi lha, fazem de tudo para destruir o Rio, mas não conseguem! “Que me enterrem sem pompas, mas com dignidade. Mereço um palmo de terra nesta cidade que amo tanto!” (1964) Você merece muito mais, meu Pai, você merece o respeito, a admiração e o amor pela pessoa e pelo artista que você foi e continua sendo; pelo artista que você é, por este dom de beleza que você deixou em legado à sua cidade do Rio de Janeiro; que você deixou a todos aqueles que são reverenciadores e amantes de sua arte; esta sua arte tão cantante e exaltante das paisagens e dos tipos humanos brasileiros. Elisabeth di Cavalcanti Referências: Di Cavalcanti, 1955. Viagem de Minha Vida. ___________, 1964. Reminiscências Líricas de um Perfeito Carioca. ___________, 1971. Depoimento ao MIS de São Paulo, feito na casa de Luís Lopes Coelho. 10 11 Ao ser convidada para realizar, em tempo recorde, uma exposição sobre Di Cavalcanti, inaugurando o novo espaço da Caixa Cultural no Rio de Janeiro, imediatamente pensei no amor do artista pela cidade, um aspecto que já havia chamado minha atenção quando preparei sua retrospectiva em 1997. Di Cavalcanti, ao longo de sua vida, pintou inúmeras vezes a paisagem carioca, e em seus livros Viagem de minha vida e Reminiscências líricas de um perfeito carioca reiterou este amor de forma poética e envolvente. Desenhou-se então o recorte da exposição que, além de ser uma declaração de amor ao Rio de Janeiro, apresenta uma faceta muito pouco conhecida do artista desfazendo vários mitos cristalizados sobre sua obra. A exposição reúne 110 obras entre óleos, desenhos e aquarelas e, embora não tenha um caráter cronológico permite a leitura do percurso do artista e do poeta. A partir dos textos dos seus livros a mostra foi dividida em quatro núcleos: Rio de Janeiro, terra do amor reúne obras que retratam uma cidade que não existe mais, favelas românticas, visões de balcões debruçando-se sobre “pequeninos jardins”, e “caminhos coloridos”. Ao fundo, as montanhas, e sempre o mar, “uma cidade envolvendo-se em luz e água”, que revela uma paleta pouco conhecida do pintor, na qual o vermelho encarnado dá lugar ao azul cerúleo. Banal Maravilhoso mostra o mundo do subúrbio, tantas vezes retratado pelo artista, com seus pescadores, gafi eiras, palhaços, meretrizes, circos, mercados, e bordéis, que transpiram a realismo mágico, como o carnaval, onde “tudo é mau gosto, tudo é péssimo gosto, tudo é banal, banal maravilhoso”. Di Cavalcanti - Um Perfeito Carioca Elas, as mulheres, não poderiam deixar de estar presentes nesta mostra do eterno apaixonado Di Cavalcanti, para quem o Brasil era um país “essencialmente feminino”. Muito além do mistério das mulatas, que ele “madonizou”, Di pintou negras, brancas, ricas, pobres, e loiras, sempre num clima lírico e sensual, dolente, langoroso, chamando todos os sentidos. Conquistador de Lirismos reúne ilustrações, desenhos, caricaturas, aquarelas e guaches, que percorrem a carreira do artista, e revelam seu traço preciso e ágil desde 1920 até os anos 1970. Fazem parte da exposição os quatro óleos criados por Di Cavalcanti, em 1969, para ilustrar os bilhetes de loteria da Caixa Econômica Federal, que agora, mantendo sua tradição de apoiar as artes, homenageia o Rio de Janeiro com este novo e belíssimo espaço cultural. Uma exposição é sempre um trabalho de muitas pessoas, mas nesse caso é também o resultado do esforço de arquitetos, engenheiros, eletricistas, técnicos de luz, de som, de climatização, que trabalharam diuturnamente neste último momento. Agradeço a Marcus de Flora e Elisabeth di Cavalcanti a oportunidade de realizar esta mostra,a todos os colecionadores e instituições que cederam suas obras e à equipe, que sempre me acompanha, Guilherme Isnard, Mauro Campello, Izabel Ferreira, Raquel Silva, Fernanda Lopes, Gabriel Mattar e Jorge Kugler. Agradeço também aos companheiros da aventura que foi preparar a tempo esta exposição: Rose Rodrigo Octávio, Cláudia Noronha, Gustavo Martins de Almeida, e, especialmente, à equipe da Caixa Cultural. Denise Mattar Curadora 12 Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Mello, que aparece registrado em quase todas as suas referências biográfi cas. Passou a infância no bairro de São Cristóvão, e embora tivesse uma vida típica de classe média, o parentesco com o abolicionista José do Patrocínio (casado com sua tia Maria Henriqueta) o levou a conviver desde criança com a música e a literatura. Um de seus vizinhos era o pintor Puga Garcia que cedo percebeu o talento para o desenho daquele menino. A morte de seu pai, em 1914, foi provavelmente o fator determinante para que ele não tenha cursado a Escola Nacional de Belas Artes (que certamente detestaria). Aos dezessete anos Di viu-se obrigado a trabalhar e essa necessidade de se manter o acompanhou por toda vida, sendo um fator que o distinguiu dos outros modernistas e que o deixou sempre mais perto da vida real. Di começou sua carreira e formou-se como artista por meio da imprensa, trabalhando como caricaturista e ilustrador. Em 1916 participou do I Salão dos Humoristas, no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. No ano seguinte foi para São Paulo, onde freqüentou a Faculdade de Direito, por três anos. A opção pela cidade, quase certamente foi feita pelo fato de que o mercado de trabalho era mais promissor e aberto do que no Rio, conforme aponta Ana Paula Simioni, autora do livro Di Cavalcanti Ilustrador1. Pobre, mas com boas referências, e especialmente talentoso, ele conseguiu rapidamente se inserir no círculo dos intelectuais vinculados aos jornais. Segundo Anita Malfatti ele ajudou a convencê-la a realizar a famosa exposição de 1917, que abalaria São Paulo. Em suas memórias Di Cavalcanti deixa claro que as amizades de sua família foram trunfos importantes para que ele entrasse no meio jornalístico e literário: As cartas de Bilac recomendavam-me a Roberto Moreira, Nestor Pestana e Amadeu Amaral. Minha mãe recomendou-me a Di Cavalcanti dizia sobre ele mesmo: “Eu sou meu personagem”, e nada poderia defi ni-lo melhor. Autodidata, ilustrador, desenhista, caricaturista e pintor, o artista era também profundamente ligado à literatura. Em 1955 publicou o livro de memórias Viagem de minha vida, e, em 1964, fez uma emocionada declaração de amor ao Rio de Janeiro, em Reminiscências Líricas de um perfeito carioca. Ambos surpreendem pela qualidade poética e são uma chave importante para a compreensão de sua obra plástica e de sua personalidade. Famoso e valorizado, e ao mesmo tempo pouco visto e estudado, Di Cavalcanti teve sua última grande mostra individual realizada em 1997 por ocasião do centenário de seu nascimento. Pertencendo ao mundo do realismo mágico a obra de Di Cavalcanti transita entre opostos que ele faz conviver: o lirismo e a sensualidade, o real e o fantástico, o cotidiano e o extraordinário, o compromisso social e o hedonismo, a razão e a emoção. Sua pessoa, tão fascinante quanto sua obra, marcou gerações de artistas plásticos, escritores e poetas. São inúmeros os poemas a ele dedicados por nomes como Carlos Drummond de Andrade, Augusto Frederico Schmidt, Antonio Maria, Nássara, Vinicius de Morais, e as opiniões de críticos como Mário de Andrade, Mário Pedrosa, Roberto Pontual, Antonio Bento, Aracy Amaral, entre outros. Sua trajetória é, de longe, a mais consistente do grupo dos artistas modernistas de 1922, e revela a sua independência e carisma, sua capacidade de adaptação e transformação. Di Cavalcanti, cujo nome era Emiliano de Albuquerque e Mello, nasceu no dia 6 de setembro de 1897 no Rio de Janeiro. Era fi lho de Rosália e Frederico Augusto de Albuquerque Mello, ambos descendentes dos Cavalcanti do estado da Paraíba. Desde cedo adotou seu nome artístico, sonoro e efi ciente, quase uma logomarca, originário do apelido Didi. Também “adaptou” seu nome de família para o imponente Viagem de uma vida 13 Alfredo Pujol, amigo dela desde as primeiras letras. Com estas cartas conquistei São Paulo (...) Nessa época conheci gente que não acabava mais, como Oswald de Andrade, Monteiro Lobato, Guilherme de Almeida, Mário de Andrade. No Rio, meu grupo era o de Jaime Ovalle, Ronald de Carvalho, Raul de Leone, Álvaro Moreyra. Eu transitava entre a vida literária do Rio e São Paulo. Esta capacidade de circular entre as duas cidades, e nelas entre grupos rivais é outra característica que distingue Di Cavalcanti de seus contemporâneos, e será a origem da participação tão especial que ele terá na Semana de Arte Moderna de 1922. As ilustrações de Di Cavalcanti têm características Art Nouveau e um traço leve e elegante. São duas as principais infl uências que se pode perceber no jovem artista: J.Carlos, na utilização de recortes circulares e Beardsley nas grandes superfícies negras, sinuosas e dramáticas, mas o que chama a atenção é a fl uência de seu desenho, que será sempre a base de seu trabalho. A atividade do artista é admirável entre 1918 e 1921. Em São Paulo ele dirige e ilustra a revista Panóplia e livros de Sérgio Milliet, Guilherme de Almeida, Ribeiro Couto, Mário de Andrade, entre outros. No Rio colabora com a revista Guanabara e realiza os cenários e fi gurinos para o Balé Carnaval das Crianças de Villa-Lobos, dos quais três são apresentados na exposição. Já em 1918 Di começara a defi nir sua opção pelas artes plásticas freqüentando o atelier de George Fischer Elpons. Segundo Carlos Zílio 21, Elpons proporcionou a ele um aprendizado de pintura sem a rigidez das “belas-artes”, mas, principalmente trouxe informações sobre os movimentos europeus que Di não encontraria entre a maioria dos artistas brasileiros. Outro nome importante na formação do artista foi Paulo Barreto, ou João do Rio. Cronista famoso, tradutor de Oscar Wilde, autor de “A Alma Encantadora das Ruas”, o escritor apresentou Di ao submundo carioca, que sobrevivia acuado pela reforma urbana empreendida pelo prefeito Pereira Passos. O resultado desta convivência foi a série Os Fantoches da Meia-noite que o artista realizou em 1921 e apresentou em exposição realizada em São Paulo. Saí da Lapa para a aventura da Semana de Arte Moderna em São Paulo, com o coração transbordando de aventuras amorosas, com a boca amarga do álcool mau e as mãos cansadas de desenhar o que eu via num mundo de Fantoches da Meia-Noite. O conjunto de dezesseis guaches, dos quais dez estão apresentados na exposição, é extremamente moderno para a época e de grande impacto até hoje. Foi editado por Monteiro Lobato como um álbum de luxo e lançado no mercado em 1922. Presos por cordéis, oprimidos por gigantescas sombras e escondidos nos cantos do papel, os personagens criados por Di se esgueiram na noite. O belo prefácio de Ribeiro Couto descreve, num clima carregado de melancolia, uma conversa entre o poeta e o pintor: - Fantoches da meia noite... Como são infelizes, trágicos! - Infi nitamente, meu caro pintor. Devemos ter o ar vagabundo dos fi losofos sem importância. Começamos a dizer baixo refl exões penosas. - Nós também somos fantoches. - Evidentemente. - São todos, somos todos fantoches...Não vês os cordéis do destino a move-los, a mover-nos? São cordéis imponderáveis... E o destino sabe articular-nos com habilidades de contra-regra cruel... - Se eu conseguisse cortar os meus cordéis! - Depois não poderias mover-tesozinho. - É verdade... Não tinha pensado. - Somos de papelão, meu caro poeta... Saímos. Temos um ultimo olhar para o pianista doloroso. Vamos depois procurar outras coisas, pelas imediações da praça fatigada. Há lugares alegres por aqui, mas os nossos olhos desencantados vêm sempre os cordéis da fatalidade. - Nunca nos poderemos divertir. Porque será que enxergamos esses fi os que movem as criaturas? Elas não sabem de nada... E nós vemos tudo... 14 Paris pôs uma marca na minha inteligência. Foi como criar em mim uma nova natureza e o meu amor à Europa transformou meu amor à vida em amor a tudo que é civilizado. E como civilizado comecei a conhecer a minha terra. (...) Quando voltei de minha primeira viagem à Europa, senti plenamente a força lírica do Rio de Janeiro e verifi quei que desta magia iria viver a vida inteira. Di Cavalcanti no seu retorno ao Brasil pintou obras emblemáticas como Meninas de Guaratinguetá, Samba, e os painéis do Teatro João Caetano. Este foi seu primeiro trabalho público e nele já estão defi nidas as linhas mestras da temática, composição e cor que o artista irá usar por toda a vida. Apesar da expressividade do conjunto ele não foi bem recebido pela crítica da época: “O teatro em si não é decorado. Somente o bar (foyer) apresenta ornamentação, misto de singeleza e extravagância e cujos bizarrismos de algum modo caracterizam assuntos regionais. Não vamos dizer que esta peça se compare em beleza ao foyer do Ópera...”. 5 Na busca pela brasilidade Di Cavalcanti elegeu como tema, para sempre, as bordas da cidade, as pessoas comuns, os sub-urbanos, retratados na favela, nos botecos, nas docas e nos bordéis. Mário Pedrosa assim descrevia a temática de Di: Di foi o primeiro a trazer para a pintura a gente dos morros, a gente dos subúrbios, onde nasceu o samba. Sendo o mais brasileiro dos artistas, foi o primeiro a sentir que entre o interior, a roça, o sertão e a avenida, o “centro civilizado”, havia uma zona de mediação − o subúrbio. No subúrbio vive o verdadeiro autóctone da grande cidade. Já não é caipira, mas ainda não é cosmopolita. O que lá se passa é autêntico, de origem e de sensibilidade.6 O desenho terá sempre uma presença marcante na sua obra, aliado a uma profusão de cores que irão se tornando cada vez mais intensas, com o passar dos anos. Sua composição também será sempre excessiva e exuberante, - Será hoje, talvez, porque estamos profundos... É bastante desagradável estar profundo. - É inútil.3 Di Cavalcanti atribuía a si próprio a idéia da realização da Semana de Arte Moderna de 1922, e, principalmente, a conquista da participação de Graça Aranha para a causa modernista. Hoje é corrente rejeitar a afi rmação atribuindo a idéia do evento a Marinete Prado, mas ninguém contesta a importância de Di Cavalcanti para a realização do evento. Como vimos ele era atuante, articuladíssimo, um integrante ativo e não um convidado do grupo dos modernistas de São Paulo. O artista realizou o catálogo e o programa da Semana, organizou a participação de Villa- Lobos, e convidou vários artistas, entre eles Ferrignac e Martins Ribeiro. Na lista de obras da exposição constam doze de seus trabalhos, entre os quais, Café Turco, Retrato, O Homem do Mar, A Piedade da Inerte, que se perderam. Sabe-se, entretanto, que pertenciam à sua fase penumbrista, famosa por uma dedicatória feita por Mário de Andrade na qual o chamava de “o menestrel dos tons velados”. Em 1923 Di Cavalcanti, casado com sua prima Maria, viaja pela primeira vez à Europa, permanecendo em Paris como jornalista por dois anos. Freqüentou a Academia Ranson. Visitou museus e exposições, assistiu a espetáculos de dança e de jazz. Ficou “alucinado”4 com os expressionistas alemães. Conheceu Picasso, Léger, Matisse, Eric Satie, Jean Cocteau e outros intelectuais franceses. Viajou à Itália para ver Tiziano, Michelangelo e Da Vinci. Manteve relações com o Brasil encontrando Anita Malfatti, Brecheret e Villa-Lobos que também estavam na cidade, e trocando cartas com Mário de Andrade. Numa delas combina o envio de uma ilustração para a Klaxon, ambas, carta e gravura podem ser vistas na exposição. Este contato com a vanguarda européia e com os grandes mestres do passado foi fundamental para o artista, que voltou renovado e consciente do que pretendia buscar. 15 como um espelho de sua personalidade. Numa crítica realizada em 1958, Sérgio Milliet observa esta coerência do artista: “no Di de 1920 já se percebe o Di de 1958. São 38 anos e o que se vê na linha seguida é o desenvolvimento de uma mesma vontade criadora...”.7 As infl uências que ele trouxera da Escola de Paris, notadamente Picasso, Lhote e Leger, são bastante visíveis neste momento, dos alemães fi cou presente no seu desenho o traço de George Grosz. Segundo Aracy Amaral “a sinuosidade dolente [caracteriza] sua produção pictórica da segunda metade dos anos 20, um momento de excelência em sua contribuição, quando praticamente inexiste a reta em suas composições sem sombras, nas quais o povo já é o grande personagem, captado por ele em seus afazeres e lazeres”.8 Os óleos Meninas cariocas, Banhistas na praia, Duas Mulheres, Moleque, Paisagem de Subúrbio, Gasômetro, Paquetá, e Maternidade são registros desta faceta, assim como as aquarelas Estudos para o painel do teatro João Caetano, Samba, Mangue, e três outras que retratam uma mesa de bar, a mulher com lorgnon e uma estranha mulher de costas. Exímio desenhista Di Cavalcanti realiza como poucos a difi cílima técnica do scratchboard na qual, a partir de uma camada de nanquim aplicada sobre a superfície do papel, o artista “arranha” a tinta com uma pena seca revelando o fundo branco. Desses desenhos em negativo, de grande efeito dramático, sete, de diferentes épocas, estão representados na mostra. Di Cavalcanti teve seu trabalho interrompido na década de 1930 por perseguições políticas. Foi preso em São Paulo como getulista, e na volta para o Rio, como comunista. Na série de doze caricaturas intitulada “Realidade Brasileira”, Di satirizou os comportamentos sociais e políticos do país. Setenta anos depois todos os temas levantados permanecem atuais: corrupção, infl uência estrangeira, a truculência da polícia, a inefi ciência dos políticos, o poder do dinheiro. Para se esconder, Di Cavalcanti, já vivendo com a pintora Noêmia Mourão, morou por algum tempo em Paquetá e desta permanência resultou uma intimidade com a pequena ilha, que ele pintou muitas vezes ao longo de sua vida. A série completa das caricaturas e cinco obras retratando Paquetá ilustram este momento. Em 1936 Di conseguiu fugir para Paris onde permaneceu por quatro anos, trabalhando para a Radio Diffusion Française. Neste período, e durante toda a década de 1940, o lirismo e uma sensualidade langorosa tomam conta das telas do artista. É um período romântico, de retratos imaginados, no qual as mulheres têm olhos doces e os ambientes são cuidadosamente pintados, com detalhes sutis. O poeta Murilo Mendes, em crônica de 1949, assim descrevia o artista: Vi logo que ele amava a pintura com voluptuosidade, pelo que refl ete das possibilidades e das ondulações da fi gura humana, da carne feminina, do lirismo do povo em suas vibrações de liberdade, da matéria viva que se oferece aos dedos do amante e do pintor. Todos os sentidos eram convocados para o exame da tela que ia surgindo das profundidades da solicitude e da ternura do artista, como um objeto amorável.9 Registros excepcionais desta fase são as obras Menina do Circo e Três Mulheres, pintadas em Paris, as duas obras Gafi eira (pela primeira vez reunidas) e os retratos Abigail e Mulher com Leque. Di, no seu interesse pela poesia do cotidianopintou o surgimento das favelas em Paisagem de Subúrbio e Morro da Favela, e retratou muitas vezes os pescadores da Gamboa, do Caju, do porto de Maria Angu, lugares que foram destruídos pela poluição. As duas telas intituladas Pescadores, a obra Mulheres de Pescadores e a antológica Domingo na Praia pertencem a esta vertente, assim vista por Mário Pedrosa: 16 produziu melhor e por muito mais tempo. Entre 1958 e 1971 Di Cavalcanti realizou mais de dez obras monumentais em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. No trabalho mural faz experiências com formas ondulantes, padrões listados e estampados, numa profusão de informações visuais e predomínio de estilizações. Uma estética vibrante, colorida e múltipla é a marca de sua obra neste período, no qual encontramos também alguns acentos surrealistas. Entre as obras mais conhecidas estão as tapeçarias do Palácio da Alvorada, o grande painel do Congresso, o painel do Descobrimento, hoje no Museu Nacional de Belas Artes, e os quatro trabalhos realizados para a Caixa Econômica Federal, para ilustrar os bilhetes da Loteria. Em 1964 conheceu sua última mulher, Ivete Bahia da Rocha. Este período está representado na mostra por obras como Mulheres e Frutas, Casal, Mulher com Flores, Figura de Mulata, Seresta, O Grande Carnaval e Salão de Gafi eira. Nas obras Mulata em Rua Vermelha (1960), Mulher no Sofá Vermelho (1964) e Marina Montini (1971) o encarnado incendeia a paleta do artista e explode em sensualidade. Em 1971 o Museu de Arte Moderna de São Paulo realizou a maior retrospectiva já feita sobre o artista reunindo 476 obras. No catálogo da mostra Frederico de Morais escreveu sobre o artista: Di Cavalcanti tem um espírito gordo e exuberante e faz um expressionismo de raízes barrocas e tropicais. A arte de Di tem o aspecto roliço, satisfeito e exultante do barroco rubenista. Di é romântico como Delacroix e Matisse, os quais buscaram a aventura do longínquo e do desconhecido... Aqui, no Rio, permanece na Lapa ou avança até o Mangue, perambula, erradia, nos subúrbios. O Rio de outrora. Di é carioca, um pouco à antiga, e sua arte é o carioquismo na arte brasileira. Como Di, o Rio é gordo, barroco, sensual, lascivo. Como de resto, e fi nalmente, a mulata. Ah!, a mulata. Algumas são calipígias e esteatopígicas, como as Di é demasiado terra-a-terra, demasiado sensorial, demasiado materialista (valha a palavra) para as construções imaginárias e os ambientes despojados da presença humana direta. Não foi em vão que descobriu Maria Angu, sem espaço, sem mar, sem horizontes, com gente, com pescadores de mãos grossas e pés descalços, com mulheres suarentas, barcos e velas e redes, tudo atravancado de vida, de peso humano, de heroísmo ignorado e de pecados.10 Na sua volta ao Brasil, devida à eclosão da guerra, o artista viveu em São Paulo, retornando ao Rio em 1950, depois de sua separação. Desde sua chegada vinha combatendo o Abstracionismo, e, com a realização das Bienais e o avanço do movimento no Brasil sua luta se tornou ardorosa, o que só lhe trouxe muitos inimigos. Em 1952 passou a viver com Beryl Tucman Gilman e sua fi lha Elisabeth, que ele perfi lhou em 1956. A década de 1950 é o momento no qual Di Cavalcanti fi ca conhecido como o “pintor das mulatas”. O epíteto é correto, pois ninguém as pintou tão bem quanto Di, mas é também muito redutor de seu talento. São desta fase as obras Mulher com Chapéu e Moça de olhos tristes. Nas duas obras Sem título, que retratam paisagens urbanas no Rio de Janeiro, e também em Rio de Janeiro Noturno o artista retrata sua cidade vista do alto do morro, dos balcões de Santa Tereza, de onde se vê o mar. Em outra obra, de 1957, pinta uma favela romântica e lírica, aquela dos morros mal vestidos, onde era sempre feriado nacional. A sensualidade, a indisciplina e a boemia de Di Cavalcanti, “um antídoto contra o mau humor”, segundo Vinicius de Morais, fi zeram com que ele fosse sempre visto com reservas por uma parcela da crítica de arte, a mesma que leva em conta sua obra somente até os anos 1950. É certo que por necessidade fi nanceira o artista muitas vezes repetiu-se, mas, até o fi nal da vida ele criou obras de qualidade. Vale observar que dos seus contemporâneos, os artistas do grupo modernista, Di Cavalcanti foi aquele que 17 vênus pré-históricas, outras, mesmo gordas, são esvoaçantes e aéreas, como as mulheres rubenistas. Mas gordas, sobretudo, no espírito e no comportamento. Em nenhum outro artista brasileiro, a mulata recebeu tratamento pictórico tão alto e tão digno. Sem paternalismos, sem menosprezo. Di deu-lhe a dignidade da madona renascentista, madonizou a nossa mulata, o que não é o mesmo que mulatizar a madona, como o fez Athayde no céu barroco de Minas (...) Nos últimos anos, apesar de estar com sua saúde bastante abalada, Di Cavalcanti continuou a trabalhar. As obras Maternidade, pintada em 1973, e Marinha, em 1974, mostram como o artista ainda mantém o vigor nas suas criações. A exposição Di Cavalcanti – Um Perfeito Carioca é um recorte que possibilita ver aspectos pouco conhecidos do artista, cuja obra permite muitas leituras e merece um estudo de conjunto cuidadoso e detalhado. Este trabalho está sendo feito por Elisabeth, sua fi lha, através do Instituto Di Cavalcanti, que com certeza nos trará muitos novos fatos e informações sobre sua vida e obra. Mais do que qualquer outro artista Di Cavalcanti conseguiu exprimir em suas telas o lirismo do povo brasileiro e a nossa sensibilidade sentimental e sensual. As suas mulheres lânguidas, os trabalhadores suados, a musicalidade que emana das gafi eiras; tudo transborda poesia. De suas paisagens desprende-se o perfume de fl ores baldias, rendas de ferro se entrelaçam, e brilha uma transparência azul, que mistura céu e mar. Di Cavalcanti foi um pintor poeta, amigo de muitos amigos, amante de muitas mulheres e um eterno apaixonado por sua cidade, à qual declarava o seu amor: “Deus deu o alimento sonho ao carioca”. Denise Mattar Rio de Janeiro 20 de Julho de 2006 Notas 1 SIMONI, Ana Paula Cavalcanti. Di Cavalcanti Ilustrador: Trajetória de um jovem artista gráfico na imprensa (1914-1922). São Paulo: Editora Sumaré, 2002 2 ZÍLIO, Carlos. A Querela do Brasil – A questão da identidade na arte brasileira. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997. 3 O fragmento foi reproduzido na grafia atual. 4 “Um dia, descobri os expressionistas alemães. Fiquei tão alucinado que rasguei todas as minhas pinturas”. Di Cavalcanti. 5 Azeredo, J. Cordeiro. Theatro João Caetano. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 20 jul. 1930. 6 Mário Pedrosa, Di Cavalcanti, Jornal do Brasil, 6 de Setembro de 1957, in,Dos murais de Portinari aos espaços de Brasília. Org. Aracy Amaral. São Paulo, Perspectiva, 1981. 7 Sérgio Milliet, O Estado de São Paulo, na coluna Vida Intelectual, “A propósito de Di Cavalcanti”, 14 de março de 1959. 8 Aracy Amaral, As três décadas essenciais no desenho de Di Cavalcanti, 1985 Di Cavalcanti na Coleção do MAC, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, curadoria Aracy Amaral. 9 Murilo Mendes, A Manhã, Rio de Janeiro, 6 de fevereiro de 1949, Letras e Artes, 3(114): 5. 10 Mário Pedrosa, Di Cavalcanti, Jornal do Brasil, 6 de Setembro de 1957, in,Dos murais de Portinari aos espaços de Brasília. Org. Aracy Amaral. São Paulo, Perspectiva, 1981. 18 R io d e Ja ne iro , t er ra d o am or 19 Rio de Janeiro, terra carioca na plenitude das dores da minha vida, as forças da minha condição de homem, todas exigências de minha inteligência, alma romântica e lírica, aberta aos encantos dos seres e das coisas. Rio de Janeiro, terra do amor.Di Cavalcanti Reminiscências Líricas de um Perfeito Carioca 20 Paisagem de Subúrbio, 1929 Óleo s/madeira, 35 x 28 cm Coleção Breno Krasilchik, São Paulo SP 21 Morro da Favela, déc. 1940 Óleo s/tela, 80 x 60 cm Coleção Marisa Frajzinguer, São Paulo SP 22 Sem Título, 1957 Óleo s/tela, 73 x 54 cm Coleção Roberto Marinho, Rio de Janeiro RJ 23 Cidade, déc. 1960 óleo s/tela, 60 x 72,5 cm Coleção Yara e Roberto Baumgart, São Paulo SP 24 Rio de Janeiro Noturno, déc. 1950 Óleo s/ tela, 114,5 x 146 cm Coleção particular, São Paulo SP O carioca sabe que existe a fl or para rimar com Amor, e que a arte poética deve ser sentimental, porque aqui há um destino fl uídico e humano numa atmosfera de jardim. Todos os dramas, os mais terríveis, o carioca pode enquadrá-lo numa janela aberta para um céu de estrelas... 25 Sem Título, 1950 Óleo s/tela, 100 x 140 cm Coleção Roberto Marinho, Rio de Janeiro RJ Um ambiente estimulante cercava minhas primeiras aventuras da mocidade. Os pequeninos jardins, as velhas chácaras ...eram um mundo de perfumes e formas voluptuosas; arbustos tropicais, palmeiras entrelaçando-se no céu, mangueiras fl oridas, manacás, magnólias, açucenas, fl ores que perdi de vista, perfumes que nunca mais senti. 26 Gasômetro, 1929 Óleo s/ tela, 56 x 66 cm Coleção Domingos Giobbi, São Paulo SP 27 Paisagem de subúrbio Óleo s/tela, 60 x 73 cm Coleção particular, São Paulo SP 28 Sem Título, 1955 Óleo s/tela, 65 x 81,5 cm Coleção Roberto Marinho, Rio de Janeiro RJ S.Cristóvão tinha, nessas colinas airosas como cromos ingênuos, sua vida mais alegre, 29 Paquetá, déc. 1920 Óleo s/tela, 50 x 65,5 cm Coleção particular, São Paulo SP respirando ar mais puro, longe dos baixios cheirando a mangue e a maresia. 30 Paquetá, 1928 Óleo s/ tela, 56 x 66 cm Coleção Domingos Giobbi, São Paulo SP Paquetá, 1928 Óleo s/madeira prensada, 35,5 x 46 cm Coleção Maria Helena Prudêncio, São Paulo SP 31 Paquetá, 1930 Óleo s/ tela, 46 x 55,5 cm Coleção Hecilda e Sergio Fadel, Rio de Janeiro RJ A imaginação tira da areia da praia o brilho dos diamantes para o colar das musas, dá vida às coisas mortas. A imaginação é tudo para um artista. 32 Marinha, 1955 Óleo s/tela, 65 x 54 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 33 Paquetá, c. 1955 óleo s/ tela, 53,5 x 72,5 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 34 Marinha – Três Barcos, déc. 1970 Óleo s/tela, 12 x 22 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ Marinha – Quatro Barcos, déc. 1970 Óleo s/tela, 17 x 28 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ Marinha – Barcos na Enseada, déc. 1970 Óleo s/tela, 12 x 22 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 35 Marinha, 1974 Óleo s/tela, 57 x 66 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ Jamais abandonarei a cidade onde nasci; esta cidade, assim como é, envolvendo-se em luz e água... Grandiosa, templo, simples e boa casa pobre, ao mesmo tempo terrível pelos encantos insuperáveis que abrem feridas de amor – doce mel dos frutos, amarga como o gosto de incompreendido desejo. 36 Gôsto de Povo. Música de povo. Música sem alegria, Ingênua e triste... Tudo é mau gosto Tudo é péssimo gosto Tudo é banal, banal maravilhoso A gente come o Carnaval Di Cavalcanti Viagem de Minha Vida B an al M ar av ilh os o 37 Moleque, 1932 Óleo s/cartão, 49 x 36,5 Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 38 Menina do Circo, 1937 Óleo s/cartão, 56 x 46 cm Coleção Jones Bergamin, Rio de Janeiro RJ 39 Três Mulheres, déc. 1930 Óleo s/tela, 60 x 49,5 cm Coleção particular, São Paulo SP 40 Gafi eira, 1944 Óleo s/tela, 64 x 80 cm Coleção Marta e Rubens Schahin, São Paulo SP 41 Gafi eira, década de 40 Óleo s/ tela, 65 x 81 Coleção particular, São Paulo SP 42 Sem título, 1960 Óleo s/tela, 80,5 x 60 cm Coleção Roberto Marinho, Rio de Janeiro RJ 43 Domingo na Praia, déc 40 Óleo s/ tela, 80 x 120 cm Coleção Hecilda e Sergio Fadel, Rio de Janeiro RJ Da Ponta do Caju até a Igrejinha, a vida era dos embarcadiços, dos grandes malandros do cais, gente de vida árdua, em perfeita ligação com os estivadores da Gamboa e do Saco do Alferes. Ali também trabalhavam de sol a sol famílias de armadores a fazer barcos de pesca e consertando velhos navios. 44 Mulheres de Pescadores, 1963 Óleo s/tela, 69,5 x 85 cm Coleção Gilberto Chateaubriand MAM RJ Pescadores, 1942 Óleo s/tela, 45 x 55 cm Coleção particular, São Paulo SP 45 Pescadores, 1951 Óleo s/tela, 114,5 x 162 cm Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade São Paulo SP 46 Sem titulo (fi gura de mulata), 1957 Óleo sobre tela, 55 x 24 cm Coleção particular, Riod e Janeiro RJ 47 Sem titulo (mulatas em seresta), 1959 Óleo sobre tela, 72 x 92 cm Coleção particular, Riod e Janeiro RJ Éramos anjos das madrugadas... Éramos personagens de romances Que nunca foram escritos... Nós, heróis da Lapa, As escadas e as ladeiras Que subiam para Curvelo em Santa Teresa Onde morava o poeta Manuel Bandeira. Os grandes elefantes que são os Arcos... E eu gritando com o copo cheio E tu Ovale, me acompanhando ao violão! 48 Salão de Gafi eira, 1965 Óleo s/tela, 80 x 100 cm Coleção Marta e Márcio Lobão, Rio de Janeiro RJ 49 O Grande Carnaval, 1953 Óleo s/tela, 80,5 x 100 cm Acervo Banco Itaú S.A., São Paulo SP Carnaval carioca. Os carros alegóricos fascinaram-me. Um mundo de deslumbramento começou a viver em mim para toda a minha vida... A força incomensurável do mundo carnavalesco carioca tem qualquer coisa de sa- grado. É a compreensão do divino por uma raça em fl or. 50 El as 51 As mulheres são frívolas, Outras são muito sérias. Há as que se calam observando Mas geralmente falam muito. Mas há um instante, Quando a luz não é do dia nem da noite, Que passa a mulher que não se espera – É como um pássaro procurando pouso. Dizemos para nós mesmos: - É aquela mulher que eu quero. E quando ela se perde Como a nuvem que se desfaz, Resta-nos o consolo De talvez possuí-la um dia Nas outras mulheres que encontraremos... Di Cavalcanti Viagem de minha vida 52 Banhistas na Praia, déc. 1930 Óleo s/cartão, 40 x 50 cm Coleção particular, São Paulo SP 53 Meninas Cariocas, 1926 Óleo s/cartão, 52 x 44 cm Coleção particular, São Paulo SP 54 Mulheres e Frutas, 1962 Óleo s/tela, 81 x 100 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 55 Duas Mulheres, 1935 Óleo s/madeira prensada, 51 x 45 cm Coleção André Fleury Buck, São Paulo SP 56 Mulher com Leque, 1948 Óleo s/tela, 73 x 60 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 57 Abigail , década 1940 Óleo s/tela, 64 x 53 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 58 Mulher com Chapéu, déc. 1950 Óleo s/tela, 81 x 65 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 59 Moça de olhos tristes, 1954 Óleo s/tela, 79 x 60 cm Coleção Marco Antonio Greco, São Paulo SP 60 Mulher com Flores (Branca & Negra), década de 1960 Óleo s/tela, 81 x 54 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 61 Mulata no sofá vermelho, 1964 Óleo s/tela, 130 x 89 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 62 Marina Montini, 1971 Óleo s/tela, 81 x 65 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 63 Mulata em Rua Vermelha, 1960 Óleo s/ tela, 98 x 79 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 64 Maternidade, 1937 Óleo s/tela, 60 x 75 cm Coleção particular, São Paulo SP 65 Maternidade, 1973 Óleo s/tela, 90 x 71 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 66 C on qu is ta do r de L ir is m os Não sou um poeta. Não sou um filó- sofo. Não sou um artista. Não sou um inquieto. Sou um conquistador de lirismos. Di Cavalcanti 6767 Álbum Os Fantoches da Meia-Noite Gravura e impressão s/papel, 20,3 x 15,6 cm Coleção particular, São Paulo SP 6868 Pela fatigada praça do bairro vicioso, onde os lampiões allumiam desvãos com luz erma, arrastam vultos. Numa esquina, ao fundo, ha um bar. Vem das portas amplas o barulho confuso das vozes e a sacudida plangencia do piano fanhoso. Passa rap- ido, na direcção do caes, um auto levando gente a cantar, numa alegria de sabbado caxeiral. E volta o sossêgo a fatigada praça, ao fundo da qual as portas fi xam a sua grande mancha clara e sonora. Somnolento, o rondante olha o luar. Depois, cam- inha uns passos, atravessa a calçada, agarra pelo hombro uma senhora que dormia. A sombra vai sentar-se mais longe, noutra soleira de porta. E o rondante, distrahido, volta á contemplação do luar, bocejando. Mulheres, sahindo dos beccos equivocos que desembocam na praça fatigada, param perto de ho- mens, murmurando convites. - É doloroso um convite assim, sem conhecer as pessoas. - Muito doloroso... - Repara naquella gorda, pezada, que chegou perto do sujeito de branco. - É a que offerece creaturinhas. - Cynica! - Nada disso. Puramente instinto commercial. Oh! a fatigada praça do bairro vicioso! Os lampeões, em torno della, são como mortuarios. A’s vezes, nas suas frouxas claridades cambaleiam, descompas- sos, vultos de bebedos que recolhem á casa, hon- estamente. E no meio da praça, perdido, o rondante continua na contemplação do luar. - Meu caro poeta... - Meu caro pintor... - O bar deve estar delicioso. - Pois vamos. Cessou a voz lamentosa do piano. Agora um cego toca uma harmonia, encostado á porta. Mas o piano recomeça e elle vai-se, alisando o chão com os pés indecisos. O rumor de vozes da freguezia nos acol- he. Vamos para a ultima mesa. Ficamos a olhar o pianista, que é mechanico, habituado, indifferente. Sua fi gura, entretanto, é um pouco dolorosa. Sug- gere encargos de familia. E a musica sae mastigada dali de dentro, daquella caixa negra a rir, sob as duas mãos machinaes, a gargalhada recta do teclado. - Fantoches da meia noite...Como são infelizes, tragicos! 6969 - Infi nitamente, meu caro pintor. Devemos ter o ar vagabundo dos philosophos sem importancia. Começamos a dizer baixo refl exões penosas. - Nós também somos fantoches. - Evidentemente. - São todos, somos todos fantoches...Não vês os cordeis do destino a movel-os, a mover-nos? São cordeis imponderaveis...E o destino sabe articular- nos com habilidades de contra-regra cruel... - Si eu conseguisse cortar os meus cordeis! - Depois não poderias mover-te sosinho. - É verdade...Não tinha pensado. - Somos de papelão, meu caro poeta... Sahimos. Temos um ultimo olhar para o pianista do- loroso. Vamos depois procurar outras coisas, pelas immediações da praça fatigada. Ha logares alegres por aqui, mas os nossos olhos desencantados vêm sempre os cordeis da fatalidade. - Nunca nos poderemos divertir. Porque será que enxergamos esses fi os que movem as creaturas? Ellas não sabem de nada...E nós vemos tudo... - Será hoje, talvez, porque estamos profundos...É bastante desagradavel estar profundo. - É inutil. De novo na praça fatigada. O rondante, no meio del- la, continua lyrico e incomprehendido. Um garoto pede-nos um tostão para o café. - Pobre fantochinho! - Também já está seguro pelos cordeis, como os outros. - Também já funciona. Lentamente, vamos andando na direcçao do mar, proseguindo nas fl exões penosas. - A meia noite é o principio da vida differente. De- pois da meia noite todas as creaturas têm a sua fi - nalidade tragica marcada no rosto, ou no gesto, ou na voz. Todas se confessam, sem querer. - Todas mostram os cordeis... Seguimos pelo caes, á sombra das arvores. Cada vulto que encontramos nos dá a sensação de uma personagem inconsciente a desempenhar isolada o seu papel. - Fantoches! - Si eu fosse o contra-regra... E o luar, como uma gambiarra excepcional, illumina do alto a farça monotona... Rio, dezembro de 1921, Ribeiro Couto. 7070 7171 72 Carta ilustrada para Mário de Andrade, 1922 Lápis de cor, tinta de caneta e nanquim s/papel, 32,7 x 17,7 cm Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros - USP 73 Sem título (desenho publicado na revista Klaxon) Nanquim, 20 x 20 cm Coleção Breno Krasilchik, São Paulo SP 74 Sem título, 1925 (duas mulheres e homem) Aquarela e crayon s/papel, 30,5 x 23,1 cm Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade São Paulo SP Sem título, 1927 (mulher com lorgnon) Aquarela e crayon s/papel, 33,4 x 22,8 cm Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade São Paulo SP 75 Sem título, 1934 (cena de café concerto) Nanquim e lápis de cor s/papel, 26,7 x 20,8 cm Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade São Paulo SP 76 Mangue, 1929 Aquarela, 37 x 29,5 cm Coleção Marco Antonio Greco, São Paulo SP Josephine Baker, década de 1920 Guache s/cartão, 53,5 x 43 cm Coleção particular, São Paulo SP 77 Mulher e Gato, 1927/29 Aquarela e grafi te sobre papel, 43 x 30 cm Coleção Yara e Roberto Baumgart, São Paulo SP 78 O esperado – nº 1 Nanquim s/papel, 32,3 x 23,4 cm É preciso salvar o café – nº 2 Nanquim s/papel, 32,3 x 23,4 cm Álbum “A Realidade Brasileira”, 1933 Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros - USP Deus vela pelo Brasil – nº 4 Nanquim s/papel, 33,7 x 23,3 cm 79 O espírito das leis acima de tudo – nº 3 Nanquim s/papel, 32,8 x 23,4 cm 80 A família é a pedra angular da sociedade... – nº 5 Nanquim s/papel, 33 x 23,4 cm A parada da vitória – nº 6 Nanquim s/papel, 32,8 x 23,6 cm Associação dos amigos do Brasil – nº 8 Nanquim s/papel, 32,6 x 23,1 cm A questão social continua um caso do polícia – nº 7, s.d. Nanquim s/papel, 32,9 x 23,2 cm 81 Para os problemas brasileiros, as soluções brasileiras – nº 9 Nanquim s/papel, 32,3 x 23,1 cm Brasilidade – nº 10 Nanquim s/papel, 32,9 x 23,2 cm O indivíduo nítido – nº 11 Nanquim s/papel, 32,7 x 23,4 cm O Brasil situado no problema do mundo – nº 12 Nanquim s/papel, 32,3 x 23,2 cm 82 As traquinices do mascarado mignon, c. 1920 Aquarela e grafi te s/papel, 20,5 x 14 cm Estudos de fi gurino para o balé “Carnaval das Crianças brasileiras” de Villa-Lobos Coleção Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro RJ A Rainha Pierrete, c. 1920 Aquarela e grafi te s/papel, 21,4 x 19,2 cm A gaita de um precoce fantasiado, c. 1920 Aquarela e grafi te s/papel, 11,5 x 8,5 cm As peripécias do trapeirozinho, c. 1920 Aquarela e grafi te s/papel, 16,4 x 12,3 cm 83 Projeto para cartaz (Carnaval), s.d. Guache e pastel s/papel, 38,5 x 28,2 cm Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade São Paulo SP 84 Estudos para painel do Teatro João Caetano - Carnaval, 1929 Aquarela s/papel, 32 x 37 cm Coleção Hecilda e Sergio Fadel, Rio de Janeiro RJ 85 Cena de samba, 1928/1930 Aquarela, 41 x 86 cm Coleção Carlos Rauscher, São Paulo SP 86 Sem título (Circo), 1952 Scraperboard s/papel, 48,6 x 30,1 cm Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade São Paulo SP 87 Equilibrista, 1924 Scratchboard s/papel, 26 x 19 cm Coleção Domingos Giobbi, São Paulo SP 88 Sem Título (Duas Mulheres; face e perfi l), s.d. Scraperboard s/papel, 50,2 x 28,6 cm Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade São Paulo SP Bar, s.d. Nanquim, 38,5 x 32 cm Coleção Marco Antonio Greco, São Paulo SP Sem título (Casal e Violão), 1950 Scraperboard s/papel, 30,4 x 25 cm Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade São Paulo SP 89 Mangue, 1930 Nanquim, 38 x 27 cm ColeçãoJones Bergamin, Rio de Janeiro RJ Sem título Scratchboard, 38 x 25,5 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ Sem título (Rinha e Figuras), s.d. Scraperboard s/papel, 30,5 x 49,8 cm Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade São Paulo SP 90 Mulatas Nanquim e pastel s/papel, 46,5 x 34,2 cm Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros - USP Casal de pescadores, década de 1930 Crayon, 31 x 21 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 91 Lupanar, 1969 Aquarela e nanquim, 39 x 30,5 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ Lupanário, 1965 Aquarela e nanquim, 29 x 21 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ Bordel Pastel e guache, 46 x 56 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 92 Auto-retrato com nús Nanquim e esferográfi ca, 29 x 21 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ Caricatura de Di Cavalcanti, 1973 Esferográfi ca, 13,5 x 8,5 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ Auto-caricatura, s.d. Lápis s/papel, 37 x 29 cm Coleção André Fleury Buck, São Paulo SP 93 Mulher com poema, 1974 Esferográfi ca e nanquim, 33 x 27 cm Coleção particular, Rio de Janeiro RJ 94 São João, 1969 Óleo s/tela, 80 x 100 cm Acervo Caixa Econômica Federal, Brasília DF Independência, 1969 Óleo s/tela, 80 x 100 cm Acervo Caixa Econômica Federal, Brasília DF Inconfi dência, 1969 Óleo s/tela, 80 x 100 cm Acervo Caixa Econômica Federal, Brasília DF 95 Natal, 1969 Óleo s/tela, 80 x 100 cm Acervo Caixa Econômica Federal, Brasília DF Entre 1958 e 1971 Di Cavalcanti realizou mais de dez obras monumentais em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. No trabalho mural faz experiências com formas ondulantes, padrões listados e estampados, numa profusão de informações visuais e predomínio de estilizações. Uma estética vibrante, colorida e múltipla é a marca de sua obra neste período, no qual encontramos também alguns acentos surrealistas. Entre as obras mais conhecidas estão as tapeçarias do Palácio da Alvorada, o grande painel do Congresso, o painel do Descobrimento, hoje no Museu Nacional de Belas Artes, e os quatro trabalhos realizados para a Caixa Econômica Federal, para ilustrar os bilhetes da Loteria. Em 1964 conheceu sua última mulher, Ivete Bahia da Rocha. 96 97 1897 No dia 6 de setembro, nasce no Rio de Janeiro o menino Emiliano, fi lho de Rosália de Senna Albuquerque Mello e Frederico Augusto de Albuquerque Mello, ambos descendentes dos Cavalcanti do estado da Paraíba. Seu verdadeiro nome era Emiliano de Albuquerque e Mello como consta em sua carteira de identidade (n°012354607). O artista, entretanto, sempre se apresentou como Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Mello e é assim seu nome que fi gura em livros, catálogos, jornais e revistas. Segundo ele o apelido Didi veio desde criança mas foi modifi cado em São Paulo, como explicou o próprio artista: ...meu nome é Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Mello. Cavalcanti com i, por favor. Desde menino, em casa, já me chamavam de Didi. Mas foi em São Paulo que o apelido realmente fi rmou. Encurtou e fi rmou. (Entrevista à revista Manchete, em 13 de janeiro de 1973). 1903 Alfabetizado muito cedo estuda nos Colégios Adélia de Noronha e Pio Americano. 1909 Ingressa no Colégio Militar aos 12 anos. 1914 Morre seu pai. Di Cavalcanti vê-se obrigado a trabalhar e usa seus dotes de desenhista publicando sua primeira caricatura na revista Fon-fon! aos 17 anos. 1915 Começa a colaborar com a revista A Vida Moderna (SP). 1916 Entra para a Faculdade de Direito no Rio de Janeiro. Expõe no I Salão dos Humoristas do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, patrocinado por Olegário Mariano e Luiz Peixoto. 1917 Transfere-se para São Paulo, onde cursa a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, e já ao chegar consegue lugar em O Estado de S. Paulo como revisor. Apresenta a primeira exposição individual de caricaturas na livraria “O Livro”, em São Paulo. Faz ilustrações, inclusive capas, para a revista O Pirralho. Ilustra o livro Memórias Sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade. Começa a pintar. 1918 Freqüenta o atelier do pintor George Elpons. Faz parte do grupo de intelectuais e artistas de São Paulo, com Oswald e Mário de Andrade e muitos Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx 98 outros. Ilustra e dirige a revista Panóplia, além de colaborar com a revista Cigarra. 1919 Ilustra A dança das horas, de Guilherme de Almeida; O Triste Epigrama, de José Geraldo Vieira; Le Départ sous la Pluie, de Serge Milliet; e a Revista do Brasil (SP). Cria cenários e fi gurinos para o balé Carnaval das Crianças Brasileiras, de Villa-Lobos. 1920 Atua como ilustrador em diversas publicações inclusive na revista Guanabara (RJ). 1921 Abandona a Faculdade de Direito. Publica o álbum Os Fantoches da Meia-Noite e ilustra Ballada do Enforcado, de Oscar Wilde; O Jardim das Confi dências, de Ribeiro Couto; Rito Pagão, de Rosalina Coelho Lisboa; Paulicéia Desvairada, de Mário de Andrade, e as revistas Ilustração Brasileira (RJ), A Garoa (SP) e Papel e Tinta (SP). Casa-se com Maria, fi lha de um primo-irmão de seu pai. 1922 Ilustra a revista Klaxon (SP). Participa ativamente da concepção e realização da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, de 11 a 18 de fevereiro. Cria as peças gráfi cas da mostra (catálogo e programa). 1923 Ilustra Modernos, de Benjamim Costallat; A Sinistra Aventura, de José do Patrocínio Filho; e a revista América Brasileira. Viaja pela primeira vez a Paris, onde permanecerá até 1925. Encontra Brecheret, Anita Malfatti e Sérgio Milliet. Freqüenta a Academia Ranson. Trabalha como correspondente do Correio da Manhã do Rio de Janeiro e continua, como colaborador, ilustrando várias revistas brasileiras. Viaja para a Itália com o objetivo de ver a obra de alguns mestres italianos (Tiziano, Michelângelo e Da Vinci). 1924 Ilustra Uma Tragédia Florentina, de Oscar Wilde. 1925 Ilustra Bébé de Tarlatana Rosa, de João do Rio. 1926 De volta ao Brasil, trabalha no Diário da Noite como jornalista e ilustrador. Ilustra O Losango Cáqui, de Mário de Andrade. Expõe na Casa Laubisch & Hirt (RJ). 1927 Ilustra a revista Festa (RJ). Cria cenários para o Teatro de Brinquedo de Álvaro e Eugênia Moreyra (RJ). Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx 99 1928 Ilustra Substância, de Manoel de Abreu; Martin- Cererê, de Cassiano Ricardo, e passa a colaborar com a revista Para Todos (RJ). Ingressa no Partido Comunista. Viaja a Paris, retornando no mesmo ano ao Rio de Janeiro. 1929 Realiza painéis para o foyer do Teatro João Caetano (RJ). Passa a colaborar com a revista O Cruzeiro (RJ). 1930 Participa da coletiva de artistas brasileiros na mostra Internacional Art Center, do Roerich Museum em Nova York. É o principal redator da revista Forma (RJ). Ilustra a revista Movimento Brasileiro (RJ); Pobre Christo, de Mario Mariani e Hoje, de Newton Belleza. 1931 Participa do Salão Nacional de Belas Artes (o chamado Salão Revolucionário) com as obras: Devaneio, Mulata e Estudo para os painéis do Teatro João Caetano. 1932 É um dos fundadores em São Paulo do CAM, Clube dos Artistas Modernos, liderado por Flávio de Carvalho, com a participação de Noêmia Mourão, Antonio Gomide e Carlos Prado. É preso durante três meses como getulista pela Revolução Constitucionalista. Ilustra História do Brasil, de Murilo Mendes. Realiza exposição individual na Gazeta. 1933 Casa-se com a pintora Noêmia Mourão. Publica o álbum A Realidade Brasileira,com charges políticas, além de ilustrar A Minha Rua, de Horácio Andrade, e Club das Esposas Enganadas, de Ribeiro Couto. Participa da 2ª Exposição de Arte Moderna da SPAM, Sociedade Paulista de Arte Moderna (SP) e do 3º Salão da Pró-Arte, na Escola Nacional de Belas Artes (RJ). Escreve artigo no Diário Carioca, de 15 de outubro, sobre as relações entre o trabalho artístico e a problemática social, a propósito da exposição de Tarsila do Amaral. 1934 Viaja ao Recife onde realiza uma exposição junto com Noêmia. Sua presença estimula o modernismo local. Produz painéis para o Cassino dos Ofi ciais no Derby do Quartel da Polícia Militar do Recife (destruído), e um mural representando alunos em sala de aula, na Escola Chile (RJ). Ilustra as revistas Israelita (RJ) e O Malho (RJ). Viaja a Paris, onde permanece até 1935. Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx 100 1935 Participa do Comitê de Redação do Semanário Marcha, na Cinelândia, ao lado de Caio Prado Jr., Carlos Lacerda, Newton Freitas e Rubem Braga. Viaja a Lisboa, onde apresenta uma exposição no Salão “O Século”, com 24 obras. De volta ao Brasil, em fi ns desse ano, é perseguido por motivos políticos, sendo preso no Rio de Janeiro. Colabora também com a revista Movimento (RJ). Expõe no Salão das Exposições da Casa e Jardim, e na Exposição de Arte Social, no Clube de Cultura Moderna do Rio de Janeiro. 1936 Ilustra o jornal Bellas-Artes (RJ) e as revistas Monde (Paris) e Acadêmica (RJ). Vive escondido em Paquetá onde é preso junto com Noêmia. Libertado por amigos, viaja a Paris, onde permanecerá até 1940. Expõe na Galerie Rive Gauche, em Paris. 1937 Participa da Exposição Internacional de Artes e Técnicas, no Pavilhão da Companhia Franco- Brasileira, em Paris, onde recebe medalha de ouro. 1938 Juntamente com Noêmia trabalha na rádio Diffusion Française nas emissões “Paris Mondial” em português 1939 Viaja à Espanha no fi nal da Guerra Civil. 1940 Deixa Paris, em função da guerra, fi xando residência em São Paulo. A maioria de seus trabalhos - 27 quadros a óleo e 13 desenhos – permanece em Paris. Em conferências e artigos, combate vivamente o abstracionismo. 1941 Ilustra Noite na Taverna – Macário, de Álvares de Azevedo. 1942 Viaja a Montevidéu e Buenos Aires. 1943 Expõe na Galeria Greco’s em Buenos Aires. Apresenta uma conferência sobre a caricatura na Inglaterra no IV Salão de Belas Artes, em Belo Horizonte (MG). 1944 Ilustra a revista Diretrizes (RJ). Expõe na Galeria Greco’s, em Buenos Aires (Argentina). Participa da exposição Arte Moderna, com curadoria de Alberto da Veiga Guignard e José Guimarães Menegale, no Edifício Mariana, em Belo Horizonte (MG). Um Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx Xcxcxccxxcxccx xcxcx- cxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx 101 grupo de artistas e intelectuais modernistas do Rio de Janeiro e São Paulo, foram a cidade e proferiram palestras. A palestra de Di Cavalcanti intitulava-se “Mitos do Modernismo”. 1946 Volta a Paris em busca dos quadros que lá fi caram. Expõe na ABI, no Rio de Janeiro. Tem dois poemas publicados na Antologia de Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos, organizada por Manuel Bandeira (Ed. Z. Valverde/RJ). 1947 Ilustra a revista Joaquim (Curitiba). Expõe na Hugo Gallery, em Nova Iorque. Participa, com Anita Malfatti e Lasar Segall, do Júri de premiação de pintura do Grupo dos 19. 1948 Participa da retrospectiva 30 anos de pintura (com 98 obras), no Instituto dos Arquitetos do Brasil, São Paulo. Realiza mostra retrospectiva no Museu de Arte de São Paulo (Masp), onde também apresenta a conferência “Mitos do Modernismo”, criticando o abstracionismo. 1949 Expõe na cidade do México, na BIA – El Buro Internacional de Arte. Ainda no México, participa de um congresso de intelectuais pela paz, com Paul Éluard, Neruda e outros. 1950 Produz painel para o saguão do Fórum Lafayette em Belo Horizonte. Separa-se de Noêmia Mourão e volta a morar no Rio de Janeiro. 1951 Participa como artista convidado da I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Realiza curso de Cenografi a para o Serviço Nacional de Teatro, ABI, Rio de Janeiro; painel para o marco comemorativo dos 100 anos de Juiz de Fora (tombado pelo município em 1996); e painel para o restaurante do Clube dos 500, Rodovia Presidente Dutra, km 60,7. Expõe na Galeria Domus, em São Paulo, com apresentação de Murilo Mendes. 1952 Passa a viver com Beryl Tucker Gilman, dividindo seu tempo entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Expõe no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Recusa- se a participar da Bienal de Veneza. Faz charges para o Última Hora (RJ), onde também escreve a coluna Preto no Branco e executa cinco painéis para Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx 102 a redação do jornal, além de painéis para a fábrica Probel (SP), e a fábrica Peixe. Realiza também painéis em mosaico para o jornal O Estado de São Paulo; o Teatro Cultura Artística (SP); o Edifício Triângulo (SP); e para o Hospital Gastroclínica (SP). 1953 Divide com Alfredo Volpi o prêmio de melhor pintor nacional na II Bienal de São Paulo. Expõe no Museu de Arte Moderna de São Paulo, para o qual doa mais de 550 desenhos (hoje pertencentes ao MAC- USP). 1954 O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro promove uma retrospectiva de seus trabalhos, com apresentação de Rubem Braga. Monta fi gurinos e balé sem música para A Lenda do Amor Impossível, Balé do IV Centenário de São Paulo. Realiza painéis para o Aeroporto Internacional de Congonhas, São Paulo; e painel para o IV centenário da Cidade de São Paulo, Pavilhão de História, representando Fazenda de Café (encontra-se hoje no saguão da Prefeitura Municipal de São Paulo). 1955 Publica Viagem de Minha Vida – testamento da alvorada, seu primeiro livro de memórias. Viaja a Buenos Aires e a Montevidéu, expondo nessas capitais. Faz cenários e fi gurinos para o balé As Cirandas, de Villa-Lobos, Balé do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Participa da Exposição Ofi cial de Pintura, em Atibaia (SP), e expõe no Instituto de Cultura Uruguaio e Brasileiro, em Montevidéu (Uruguai). 1956 Participa da XX Bienal de Veneza e expõe no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Recebe o I Prêmio da Mostra Internacional de Arte Sacra de Trieste. Publica um álbum de xilogravuras Lapa, edição Onile. Adota legalmente Elisabeth, fi lha de Beryl. Viaja a Dakar, Paris, Roma, Veneza, Madrid e Belgrado. 1957 Faz painel para o Banco do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte. Participa da IV Bienal de São Paulo. 1958 Ilustra Gabriela Cravo e Canela, de Jorge Amado. Participa da exposição itinerante organizada pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que percorre vários países da Europa. Em Paris, executa os cartões para as duas tapeçarias para o Palácio da Alvorada (salões de Música e de Recepção), encomendadas por Niemeyer. Os cartões foram entregues aos tapeceiros de Aubusson, sob a orientação da Marie Cutoli. Pinta as estações da Via-Sacra para a Catedral de Brasília. Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx 103 1959 Ilustra Juca Mulato, de Menotti Del Picchia, edição comemorativa do jubileu literário do artista. Expõe na Galeria de Arte São Luís (SP) e na Galeria Macunaíma (RJ). Participa da exposição 30 Anos de Arte Brasileira, na Escola Nacional de Belas Artes (RJ). Recebede Carlos Flexa Ribeiro o título de O Patriarca da Pintura Moderna Brasileira. 1960 Participa da II Bienal Interamericana do México, onde teve sala especial e conquistou medalha de Ouro. Realiza painel sobre tela para os escritórios da Aviação Real (México). Expõe na Galeria Bonino (RJ). Realiza painel Candangos do Palácio do Congresso, setor da Câmara dos Deputados, Brasília; e álbum Lapa. Texto de Emiliano Di Cavalcanti. Edições Onile, Salvador. Viaja para Paris, México, Londres, Veneza e Florença. 1961 Assina contrato de exclusividade com a Petite Galerie do Rio de Janeiro, realizando uma exposição com apresentação de Rubem Braga. Realiza painel para o Banco Lar Brasileiro (RJ). Viaja para o México e Paris, onde fi ca até 1962. 1962 Participa da I Bienal de Arte Americana de Córdoba, Argentina. Viaja a Bogotá, Lima, Paris, Praga e Moscou, onde participa do Congresso da Paz. Ilustra Morte de Quincas Berro d’Água, de Jorge Amado, e realiza painéis para os navios Princesa Isabel e Princesa Leopoldina, Cia. Nacional de Navegação Costeira. 1963 Participa da Sala Especial na VII Bienal de São Paulo, apresentação de Luis Martins. Participa da coletiva Exposição de Maio, em Paris, com a tela Tempestade. É indicado adido cultural do Brasil em Paris pelo presidente João Goulart. Viaja a França, mas não chega a tomar posse do cargo em virtude do golpe de 1964. Volta ao Brasil, depois de passar por Roma e Ilhas Canárias, e publica o álbum E. Di Cavalcanti, editora Cultrix, com a Balada de Di, de Vinícius de Moraes. Realiza painel Gente da Ilha, para o Banerj. 1964 Vive em Paris, com Ivette Bahia Rocha, a Divina. Regressa da Europa depois de passar por Dover e Londres. É homenageado com uma sala especial na VII Bienal de São Paulo. Lança seu segundo livro de memórias, Reminiscências líricas de um perfeito carioca, editora Civilização Brasileira, por ocasião do IV Centenário do Rio de Janeiro. Desenha jóias, executadas por Lucien Joaillier. Realiza exposição comemorativa de 40 anos de pintura na Galeria Relevo, com organização de Mário Pedrosa. Expõe Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx 104 no MAC-USP; na Universidade de Minas Gerais; no Museu de Arte do Rio Grande do Sul; e participa da exposição O Nu na Arte Contemporânea, na Galeria Ibeu (RJ). 1965 Realiza o painel Brasil 4 Fases para a sede do Banerj. Participa da exposição “Desenhistas Brasileiros em coleções mineiras” na Universidade de MinasGerais. Viaja a Lisboa, Paris e Gran Canária.1966 Reencontra nos porões da Embaixada do Brasil na França as telas deixadas em Paris na época da guerra. Os cinqüenta anos de vida artística coincidem com sua candidatura à Academia Brasileira de Letras, mas perde para Fernando de Azevedo. Participa da segunda exposição itinerante de obras do acervo do MAC-USP, com a apresentação de Walter Zanini; e da exposição “O Artista e a anarquia”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Expõe na Galeria Brasileira de Arte (SP). 1967 De volta ao Brasil, depois de passar pela Espanha e Suécia, comemora seus 70 anos. 1968 Ilustra 7 Flores, álbum com poemas de Vinicius de Moraes. 1969 Ilustra os bilhetes das extrações da Loteria Federal com os temas: Inconfi dência, São João, Independência e Natal. Viaja para Cannes e Dinamarca. Publica Cinco serigrafi as de Di Cavalcanti, edição Cultrix e Sete fl ores, com gravuras coloridas à mão, poema de Carlos Drummond de Andrade, e texto de Marques Rabelo, edição especial da Galeria Cosme Velho. Os Correios do Brasil aplicam em dois selos imagens de sua autoria. Participa das exposições V Salão de Arte de Itapetininga (SP) e na Galeria Barcinski (RJ). Viaja para Paris, Nice, Copenhagen, Dinamarca e Ilha da Madeira. 1970 Participa de exposição na Galeria Barcinski (RJ). Viaja para Paris. 1971 Faz um depoimento ao Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo. Diná Lopes Coelho organiza uma grande retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque Ibirapuera, tendo o catálogo textos de vários críticos. Marina Montini é freqüentemente retratada como seu modelo. Participa da 11ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal (SP). Ganha Prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Arte. Viaja para Paris. Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx 105 1976 Participa de exposição na Galeria Ágora (RJ). Lança em maio, um álbum com seis litogravuras, tiragem de 100 exemplares. Publica Poemas da Negra, álbum de Mário de Andrade; e Realismo Mágico, álbum com texto de Bráulio Pedroso e Elisabeth Di Cavalcanti Veiga. No dia 11 de junho é operado novamente na Benefi cência Portuguesa. Volta para casa. Faz depoimento ao Museu da Imagem e do Som (MIS), Rio de Janeiro em 25 de junho. Nos primeiros dias de outubro é novamente internado na Benefi cência, permanecendo semi-inconsciente até o dia 24, quando é transferido para o CTI, vindo a falecer no dia 26. Seu corpo é velado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o velório é registrado em documentário por Glauber Rocha. Homenagens ao pintor: exposição no Museu de Arte Moderna e Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, em outubro. Depoimento sobre o artista no Museu da Imagem e do Som (MIS), São Paulo, de 30 de novembro a 3 de dezembro. Exposição Di Cavalcanti: 100 obras do acervo no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. A Prefeitura de São Paulo, em novembro, muda o nome da rua 4, Alto da Mooca, para rua Emiliano Di Cavalcanti. No Rio de Janeiro existe a Avenida Di Cavalcanti, na Barra da Tijuca, e a Rua Di Cavalcanti, em Niterói. 1972 Comemora seus 75 anos com uma grande festa em seu apartamento no Catete. Recebe o prêmio Moinho Santista. Em Salvador, realiza uma série de obras e publica o álbum 7 xilogravuras de Emiliano Di Cavalcanti, pela Editora Chile (apresentação de Luiz Martins). Participa da exposição Arte/Brasil/ Hoje: 50 anos depois, na Galeria Collectio (SP). 1973 Recebe o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia. Expõe na Galeria de Arte Copacabana Palace, com apresentação de Walmir Ayala e José Roberto Teixeira Leite. Viaja para Paris. 1974 A Bolsa de Arte inaugura uma exposição com suas obras mais recentes. Em julho é internado na Casa de Saúde São Lucas e operado. O quadro Cinco moças de Guaratinguetá é reproduzido em selos pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Participa da exposição Tempo dos Modernistas, no Masp (SP). 1975 Publica E. di Cavalcanti, álbum com texto de Jorge Amado. Novamente operado na Benefi cência Portuguesa. Participa da Exposição do Acervo do Grupo Sul América Seguros. Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcxXcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx Xcxcxccxxcxccx xcxcxcxcxxc xcccxcx xccxccxccxxc xccxcx 106 1985 Di Cavalcanti na Coleção do MAC (180 desenhos), Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, curadoria de Aracy Amaral. 1988 Galeria Millan (SP) 1992 Espaço de Arte José Duarte Aguiar e Ricardo Camargo (29 obras); Di Cavalcanti 70 Anos da Semana de Arte Moderna (desenhos da coleção MAC-USP), Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 1994 Galeria Grifo (63desenhos), introdução de Olívio Tavares de Araújo. 1995 Emiliano Di Cavalcanti: desenhos restaurados, na Galeria Sinduscon (SP), com introdução Raul Antelo e Murilo Mendes (1945). 1997 O Traçado Modernista (desenhos da coleção MAC-USP), Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, curadoria