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O problema do crescimento econômico chinês No esteio do enriquecimento espantoso, o cidadão chinês, que agora tem dinheiro para ir além de sua subsistência, clama por mais liberdade e a liberdade é antagônica ao regime totalitário, que poderá sofrer pressões sociais por maior flexibilidade e participação do povo nas decisões do país em que vive em regime totalitário, desde 1949. Em 2010, uma greve de metalúrgicos chineses numa fábrica da Honda promoveu um aumento de 47% à categoria. A instabilidade política é previsível. Milhares de fábricas foram abertas instantaneamente num surto empreendedor, com baixíssimo custo de produção, usando mão de obra oriunda do êxodo rural. A China soube utilizar muito bem a vantagem de sua superpopulação, porém, ainda que com maior poder de compra, por questões culturais, essa superpopulação, focada em economizar tudo que ganha para um futuro melhor, não servirá para impulsionar o consumo interno. Para se ter ideia, em 2010, a indústria têxtil chinesa faturou um trilhão de reais, faturamento que, necessariamente terá que adequar acomodações e salários nas fábricas para atender à crescente demanda dos operários por melhores condições de trabalho. Caso contrário, novas linhas de produção serão fechadas por falta de mão de obra, o que gera uma preocupação mundial com as perspectivas futuras. O mundo inteiro está exposto ao aumento de custos na China. Há previsões de que os salários subirão cerca 30% ao ano até 2016, o que tornará muito difíceis as exportações chinesas. Isso poderá tornar passado a referência da China como a “fábrica do mundo” e reexportar fábricas de volta aos seus países de origem, que, contando a produtividade da mão de obra local maior que chinesa, custos de importação e logística, ficará pouco vantajoso mantê-las lá. O crescimento chinês é insustentável. O plano quinquenal, de março de 2011, prevê desaceleração do crescimento, repetindo histórias, como a japonesa, que, nos anos oitenta, por ter acelerado o seu crescimento havia décadas, era tido como certo que o Japão seria a primeira economia mundial, porém, o estrondoso crescimento resultou em bolha de ativos e o Japão voltou aos 8% de participação no PIB mundial, bem mais baixo que os 18% do início dos anos noventa. Em detrimento à crise mundial de 2008, o governo chinês tem aumentado as linhas de crédito para incentivar o consumo interno e sofrer menor impacto provocado pela crise de demanda mundial. Isso pode representar grande risco para o sistema financeiro chinês, provocando um consumo com base em dívida, e não em enriquecimento, adiando uma futura quebradeira, causa da atual desaceleração e redução de investimentos, o que fará o crescimento chinês despencar. Trabalhando com margens de lucro baixíssimas, qualquer aumento de custo reverterá em aumento de preço. Com isso, os preços hipercompetitivos vão perdendo espaço paulatinamente e as linhas de produção vão migrando para países mais pobres, como Bangladesh, Indonésia e Vietnã, que têm trabalhadores até cinco vezes mais baratos que os chineses. O crescimento avassalador da China mudou o cenário econômico mundial. Este país passou a ser o primeiro parceiro comercial de países emergentes, concentrando a forte demanda de produto primário e voltando produtos industrializados a esses parceiros espalhados pelo mundo, num retorno ao século XIX, quando vendíamos insumos para 1 2 países industrializados nos vender seus produtos acabados, novamente num velho modelo de desenvolvimento. Ainda que essa relação não seja apreciável, a China continua sendo o nosso maior comprador, e não podemos matar a nossa “vaca leiteira”, portanto, qualquer atitude reativa ao status que ora se apresenta pode ser economicamente delicada para o nosso país, que cresceu nos últimos anos à custa dessa demanda por commodities. Hoje, o que acontecer na China afeta o mundo todo. A avalanche de produtos chineses nas prateleiras de todos os países vem controlando a inflação mundial, e isso está para mudar.
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