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TELMA LILIANA DE CAMPOS MORAIS MODELO TEACCH - INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA EM CRIANÇAS COM PERTURBAÇÕES DO ESPETRO DO AUTISMO Orientador: Professor Doutor Horácio Pires Gonçalves Ferreira Saraiva Escola Superior de Educação Almeida Garrett Lisboa 2012 Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA TELMA LILIANA DA CAMPOS MORAIS MODELO TEACCH - INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA EM CRIANÇAS COM PERTURBAÇÕES DO ESPETRO DO AUTISMO Orientador: Professor Doutor Horácio Pires Gonçalves Ferreira Saraiva Escola Superior de Educação Almeida Garrett Lisboa 2012 Dissertação apresentada para a obtenção de Grau de Mestre em Educação Especial, no Curso de Mestrado em Ciências da Educação, variante Educação Especial, conferido pela Escola Superior de Educação Almeida Garrett. Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett iii O que faz a beleza do deserto é que algures se esconde um poço. Saint - Exupery Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett iv DEDICATÓRIA Aos meus pais, pelo amor incondicional que sempre me dedicaram, pelos seus ensinamentos e por me facultarem as ferramentas necessárias para ser quem sou. Aos meus avós com saudade. (em memória) Ao meu companheiro, que me apoiou carinhosamente nesta caminhada. A todas as crianças portadoras de Perturbações do Espetro do Autismo e suas famílias. Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett v AGRADECIMENTOS Para se concretizarem trabalhos deste âmbito, não é possível que o percurso seja feito de forma misantropa. É preciso contar com a ajuda de pessoas mais experientes, com gosto em partilhar conhecimentos e de muita boa vontade. Foi muito gratificante verificar que todos os auxílios que solicitei me foram oferecidos abertamente, facilitando o desenvolvimento deste estudo. Fazer este estudo, sem o apoio daqueles que me são mais próximos, tornar-se-ia uma tarefa bem mais árdua. Desde o primeiro instante que pude contar com a sua colaboração, cooperação, incentivo e palavras encorajadoras. A todas elas manifesto a minha profunda gratidão. Ao Professor Doutor Horácio Saraiva pela forma como orientou a realização deste estudo. Às professoras que exercem funções docentes numa Unidade de Ensino Estruturado, que simpática e pacientemente me receberam. Aos meus pais pelo seu apoio indispensável, pelo seu estímulo, encorajamento e amor imensurável. Ao meu companheiro e confidente dedicado, que me apoiou carinhosamente nesta caminhada. E agradeço a todos aqueles que de uma forma ou outra me ajudaram a conseguir concluir este estudo. A todas essas pessoas um obrigada muito, muito especial. Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett vi RESUMO É cada vez mais da responsabilidade da escola, garantir políticas de educação de sucesso, dando resposta a todas as crianças, fomentando desta forma a inclusão. Todo o corpo docente deve estar mais apto e sensibilizado para garantir a integração de crianças com necessidades educativas especiais. Este estudo não poderia ser realizado sem a colaboração de educadores e professores das escolas de Primeiro Ciclo com Jardim de Infância do Agrupamento de Escolas de Águas Santas Concelho da Maia e das professoras da Unidade de Ensino Estruturado da Escola Básica do Primeiro Ciclo com Jardim de Infância do Carvalhal – Agrupamento Vertical de São Lourenço Concelho de Valongo, a quem foram, maioritariamente, aplicados os questionários. Sendo este estudo de natureza teórica – prática, numa primeira fase deliberou-se o enquadramento teórico, em que se abordaram vários pontos pertinentes numa tentativa de melhor enquadrar a temática das Perturbações do Espetro do Autismo, e de encontrar possíveis estratégias a desenvolver neste âmbito. Neste caso mais específico, é apresentado o ensino estruturado – Modelo TEACCH, para dar resposta a crianças portadoras desta síndrome, ou seja como forma de intervenção pedagógica de forma a garantir um maior sucesso ao nível do desenvolvimento das crianças portadoras de Perturbações do Espetro do Autismo. Numa segunda fase, apresentámos a análise dos resultados obtidos através do método quantitativo, pois recorremos à aplicação de questionários compostos por perguntas fechadas, que foram aplicados a 81 educadores/professores, incluindo os do ensino regular e os da educação especial. Assim, foi-nos possível delinear algumas conclusões face aos objetivos a que nos propusemos. Palavras-Chave: Autismo, Ensino estruturado, TEACCH, Perturbações do Espetro do Autismo, Inclusão Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett vii ABSTRACT It is increasingly the responsibility of the school to promote education policies that ensure success, responding to all children, thus fostering inclusion. Every teacher must be aware and able to provide the integration of children with special educational needs. This project would not have been accomplished without the help of the kindergarten teachers and the school teachers of the first cycle with kindergarten schools from Águas Santas group of schools, city of Maia, and the teachers from the Structured Teaching Unit of the first cycle with kindergarten school of Carvalhal, vertical group of schools of São Lourenço, city of Valongo, to whom the questionnaires were mostly applied. Since this project has a theory - practice nature, initially we deliberated the theoretical framework, which addresses several pertinent points in an attempt to best fit the theme of the spectrum disorders of autism, and to find possible strategies to develop in this area. In this specific case, it´s presented the structured teaching – Teacch program, as a response to children with this syndrome, to ensure a greater success in their development. In a second step, we present an analysis of the results obtained by the quantitative method, because we resorted to the use of questionnaires consisting of closed questions that were applied to 81 preschool teacher / teachers, including regular education and special education. Therefore, we were able to draw some conclusions from the goals we set ourselves. Keywords: Autism, Structured Teaching, TEACCH, Autism Spectrum, Inclusion Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrettviii ABREVIATURAS ed. - edição et al - e outros Ibidem - mesmo autor, mesma obra e mesma página Idem – o mesmo p.- página Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett ix SIGLAS C.I.D. – Classificação Internacional de Doenças Mentais DSM - IV – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais – 4ª Edição – Texto Revisto EB1/JI - Escola Básico do Primeiro Ciclo com Jardim de Infância ONU - Organização das Nações Unidas PEA - Perturbações do Espetro do Autismo PEP - Perfil Psicoeducacional TEACCH - Treatment and Education of Autistic and Related Communications Handicapped Children/ Tratamento e Educação de Crianças Autistas e com Perturbações da Comunicação UEE - Unidades de Ensino Estruturado UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett x ÍNDICE GERAL DEDICATÓRIA ...........................................................................................................................iv AGRADECIMENTOS ................................................................................................................ v RESUMO .....................................................................................................................................vi ABSTRACT ................................................................................................................................ vii ABREVIATURAS ..................................................................................................................... viii SIGLAS ........................................................................................................................................ ix Índice Geral ................................................................................................................................ x Índice de Gráficos .................................................................................................................. xiv Índice de Tabelas .................................................................................................................... xv INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 1 PARTE I ....................................................................................................................................... 4 CAPÍTULO – I ............................................................................................................................. 6 1. - Fundamentos Conceptuais e Teóricos ........................................................................ 6 1.1. - Perspetiva Histórica do Autismo ........................................................................................... 6 1.2. - Do Conceito ao Diagnóstico ................................................................................................. 11 1.2.1.-Definição de Autismo ......................................................................................... 11 1.2.2. - Características do Autismo ............................................................................ 12 1.2.3. – Diagnóstico da perturbação .......................................................................... 14 2. – Diagnostico diferencial ................................................................................................. 20 2.1.-Síndrome de Asperger ............................................................................................................. 20 2.2.-Esquizofrenia infantil ................................................................................................................ 21 2.3.-Síndrome de Rett ....................................................................................................................... 21 2.4.-Perturbação Desintegrativa da Infância .............................................................................. 22 2.5.-Perturbação Pervasiva do Desenvolvimento Não Específica ........................................ 22 2.6.-Mutismo Seletivo ....................................................................................................................... 22 2.7.-Perturbação da linguagem Expressiva e Perturbação Mista da Expressão e Receção da Linguagem ................................................................................................................... 23 2.8.-Atraso Mental .............................................................................................................................. 23 3. – Conceitos e Classificações dos Síndromes autísticos ........................................ 23 3.1.- Conceito segundo kanner ...................................................................................................... 26 3.2.- O Conceito Segundo Asperger ............................................................................................. 27 3.3.- O Conceito Segundo Outros Autores ................................................................................. 28 4. Perspetivas Sobre a Etiologia do Autismo ................................................................. 31 Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett xi 4.1.-Etiologia ....................................................................................................................................... 31 5.-Farmacoterapia .................................................................................................................. 39 6.- Desenvolvimento Cronológico da Síndrome ............................................................ 40 Capítulo II ................................................................................................................................. 42 CAPÍTULO – II .......................................................................................................................... 43 1.- Família/Sociedade e Perturbações do Espetro do Autismo ................................. 43 1.1. - O Impacto Emocional na Família ......................................................................................... 43 1.2. - Intervenção com Pais de Crianças com Perturbações do Espetro Autista ............. 45 CAPÍTULO – III ......................................................................................................................... 47 1.- Avaliação e Intervenção.................................................................................................. 47 1.1.- Avaliar para Intervir ................................................................................................................. 47 2.-Modelos de Intervenção de Natureza Psicanalítica .................................................. 48 2.1.- Modelos de Intervenção da Natureza Comportamental ................................................. 48 2.2.- Modelos de Intervenção de Natureza Construtivista e Desenvolvimentista ............ 49 2.3.- Intervenção Construtivista da Doença Crónica ................................................................ 49 2.4.- Modelo de Intervenção Transacional ..................................................................................49 3.- Modelos de Intervenção de Natureza Cognitivo-Comportamental: .................... 50 3.1. - O Modelo TEACCH .................................................................................................................. 50 3.2. Programa Portage ...................................................................................................................... 50 3.3. -Modelos de Intervenção de Natureza Cognitiva ............................................................... 50 CAPÍTULO – IV ........................................................................................................................ 53 1.- Princípios da Inclusão ..................................................................................................... 53 1.1. - Educação Inclusiva VERSUS alunos com Perturbações do Espetro do Autismo . 53 CAPÍTULO – V ......................................................................................................................... 61 1.-Estratégias Educativas Para Trabalhar Com Alunos Autistas .............................. 61 1.1.-Sugestões para serem Trabalhadas na Sala de Aula com Alunos com PEA ............ 61 1.2.-Escolher o Modelo mais Adequado para Trabalhar com uma Criança Autista ........ 67 1.3.-Tipo de Intervenção .................................................................................................................. 68 1.4.- Programa do Vocabulário Makaton; Modelo Floor – Time e Modelo D.I.R ................ 69 1.5.-Programa do Vocabulário Makaton ...................................................................................... 69 1.6.- Modelo Floor-time .................................................................................................................... 69 1.7.- Modelo D.I.R ............................................................................................................................... 70 CAPÍTULO – VI ........................................................................................................................ 74 1.-Intervenção em Contexto Escolar - Ensino Estruturado ........................................ 74 1.1.-Unidades de Ensino Estruturado - (UEEA) para a educação de Alunos com PEA .. 74 Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett xii 1.2.-Normas Orientadoras para Unidades de Ensino Estruturado Para a Educação de Alunos com Perturbações do Espectro do Autismo ................................................................ 75 2.-TEACCH – Um Ensino Estruturado .............................................................................. 88 2.1.- Princípios e Estratégias do Ensino Estruturado – Modelo TEACCH .......................... 90 2.2.-Princípios Componentes do Ensino Estruturado – Modelo TEACCH ......................... 91 2.3.-Princípios e Conceitos Orientadores – Modelo TEACCH ............................................... 91 2.4.-Estrutura Física de uma Unidade de Ensino Estruturado – Modelo TEACCH........... 91 PARTE II .................................................................................................................................... 98 CAPÍTULO - VII ...................................................................................................................... 100 1.-Pressupostos Metodológicos ...................................................................................... 100 1.1.-A Investigação .......................................................................................................................... 100 1.2.-Objetivos do estudo ................................................................................................................ 101 3. Definição de Hipóteses e Variáveis ............................................................................ 102 4.-Hipóteses ........................................................................................................................... 103 5.-Metodologia ....................................................................................................................... 104 6.- Identificação da Escolha do Instrumento e a sua Caracterização .................... 106 7.-Pré – Teste do Questionário ......................................................................................... 107 8.-Vantagens e Inconvenientes na Utilização de Questionários ............................. 107 9.-Carácter Inovador do Estudo ....................................................................................... 108 10.-Enquadramento da questão de fundo na área de investigação ....................... 109 11.-Justificação do Estudo ................................................................................................ 109 12.-Pertinência do estudo .................................................................................................. 109 13.-Limitações do Estudo .................................................................................................. 110 14.-Linhas Futuras de Investigação ................................................................................ 110 15.-Cronograma da Dissertação de Mestrado .............................................................. 111 16.- Caraterização e Contextualização do Problema .................................................. 111 16.1.-Descrição da Amostra .......................................................................................................... 111 16.2.-Caracterização do Meio ....................................................................................................... 112 16.3.-Procedimentos de recolha de dados................................................................................ 116 CAPÍTULO VIII ....................................................................................................................... 119 1.- Apresentação dos Resultados .................................................................................... 119 1.1.-Características Sócio Demográficas .................................................................................. 119 1.2.-Experiência Profissional/Formação Complementar ....................................................... 121 1.3.-Perturbações do Espetro do Autismo ................................................................................ 123 Análise e Interpretação dos Dados ................................................................................. 138 Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett xiii CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 144 Referências Bibliográficas ................................................................................................. 146 Referências Bibliográficas ................................................................................................. 147 Referências Legislativas .................................................................................................... 150 Sítios da Internet Consultados ............................................... Erro! Marcador não definido. Apêndices............................................................................................................................... 152 Apêndices............................................................................................................................... 153 Apêndice I...............................................................................................................................154 Apêndice II ............................................................................................................................. 156 Apêndice III ............................................................................................................................ 158 Pré-teste do questionário ................................................................................................... 159 Apêndice IV ............................................................................................................................ 166 Questionário enviado aos inquiridos .............................................................................. 167 Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett xiv ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Idade dos Sujeitos .................................................................................................................. 119 Gráfico 2 – Sexo dos Sujeitos .................................................................................................................... 119 Gráfico 3- Situação Profissional dos Sujeitos ............................................................................................ 120 Gráfico 4 – Habilitações Literárias dos Sujeitos ........................................................................................ 120 Gráfico 5 – Tempo de Serviço dos Sujeitos .............................................................................................. 121 Gráfico 6 – Experiência com Alunos com NEE .......................................................................................... 121 Gráfico 7 – Exercício de Funções Docentes dos Sujeitos .......................................................................... 122 Gráfico 8 – Formação Especializada dos Sujeitos ..................................................................................... 122 Gráfico 9 – Os sujeitos inquiridos apoiam ou têm na sua turma crianças com PEA ................................ 123 Gráfico 10 – Quantas Crianças com P.E.A. apoiam os sujeitos Inquiridos ............................................... 124 Gráfico 11 – Problemas detetados nas crianças com P.E.A. que os sujeitos inquiridos apoiam .............. 124 Gráfico 12 – Conhecimento do Ensino Estruturado – Modelo TEACCH dos Sujeitos Inquiridos .............. 125 Gráfico 13 – Opinião dos Sujeitos Inquiridos Sobre o Modelo TEACCH ................................................... 126 Gráfico 14 – Grau de Concordância ou Discordância dos Sujeitos Quanto à Frequência de uma UEE .... 126 Gráfico 15 – Grau de Concordância ou Discordância dos Sujeitos Face ao Acompanhamento dos Seus Pares ......................................................................................................................................................... 127 Gráfico 16 – opinião dos Sujeitos Face à Intervenção Educativa ............................................................. 128 Gráfico 17 – Preparação dos Sujeitos Para Intervir com Crianças com PEA ............................................. 128 Gráfico 18 – Dificuldades sentidas por parte dos sujeitos ao Trabalhar com crianças com PEA ............. 129 Gráfico 19 – Benefícios da frequência do Ensino Estruturado – Modelo TEACCH ................................... 130 Gráfico 20 – Grau de Concordância ou Discordância dos Sujeitos Face à Preparação para a Vida Pós- escolar ...................................................................................................................................................... 131 Gráfico 21 – Grau de Concordância ou Discordância dos Sujeitos Face à Redução de Ansiedade .......... 131 Gráfico 22 – Grau de Concordância ou Discordância dos Sujeitos Face à Diminuição dos Problemas Comportamentais ..................................................................................................................................... 132 Gráfico 23 - Grau de Concordância ou Discordância dos Sujeitos Face à Integração de uma UEE numa Escola Regular........................................................................................................................................... 133 Gráfico 24 - Grau de Concordância ou Discordância dos Sujeitos Face ao Processo de Aprendizagem .. 133 Gráfico 25 - Grau de concordância ou Discordância dos Sujeitos Face à Promoção da Independência/Autonomia ...................................................................................................................... 134 Gráfico 26 - Grau de Concordância ou Discordância dos Sujeitos Face à Independência Funcional dos Alunos ....................................................................................................................................................... 135 Gráfico 27 – Opinião dos Sujeitos Inquiridos Face a um Ambiente Educativo Estruturado ..................... 135 Gráfico 28 – Grau de Concordância ou Discordância dos Sujeitos Face ao Ensino Individualizado e Diminuição de Estímulos .......................................................................................................................... 136 Gráfico 29 - Grau de Concordância ou Discordância dos Sujeitos Face ao Desenvolvimento Cognitivo . 136 Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett xv ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 – Estruturação Física .............................................................................................................. 79 Tabela 2 - Organização do Material ...................................................................................................... 80 Tabela 3 – Horários ................................................................................................................................. 81 Tabela 4 - Plano de Atividades .............................................................................................................. 82 Tabela 5 – Comunicação – Socialização ............................................................................................. 83 Tabela 6 - Plano Educativo Individual .................................................................................................. 84 Tabela 7 - Programas de Intervenção .................................................................................................. 85 Tabela 8 - Articulação Escola/Família .................................................................................................. 86 Tabela 9 - Horário dos Técnicos ........................................................................................................... 87 Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 1 INTRODUÇÃO Este estudo surgiu da ânsia de conhecer a perturbação que faz as crianças portadoras de PEA tão diferentes, de conhecer um “mundo” que parece tão distante, dos porquês de se nascer assim, do impacto que pode ter numa família, e de como se pode trabalhar com estas crianças de forma diferenciada, mas sempre numa linha de inclusão. Com este estudo ficamos mais conhecedores desta síndrome, ficamos a conhecer qual a melhor forma de lidar com crianças portadoras do espetro autista, de perceber como deixá-los crescer sem limitações e ajudá-los a viverem o mais felizes possível. Há muito tempo que o autismo vem sendo estudado para sermelhor compreendido, contudo parece ser uma perturbação da qual nem sempre se têm certezas absolutas. Fazem parte do espetro do autismo um conjunto de perturbações do desenvolvimento muito graves, que ainda não são totalmente compreendidas quer ao nível do diagnóstico quer ao nível da terapêutica. Não se pode falar de autismo sem falar das famílias envolvidas, pois são estas que se encontram num papel central e se deparam diariamente com grandes dificuldades. Os professores são por outro lado agentes que assumem grande importância no processo de desenvolvimento destas crianças, mas nem sempre é fácil darem as respostas mais assertivas, pois são poucas as escolas dotadas de recursos humanos e materiais que permitam desempenhar pedagogias que melhor respondam a estes casos sendo que, por vezes, se verifica que as crianças com necessidades educativas especiais ainda se sentem estigmatizadas e pouco integradas nas escolas regulares. É no decurso desta problemática que iremos abordar a importância da inclusão e do recurso ao ensino estruturado – Modelo TEACCH, como fonte de resposta às crianças portadoras de PEA. Os docentes e as instituições escolares devem fazer um esforço, no sentido de ir de encontro ao proferido pela Declaração de Salamanca, “Uma escola para todos, ou escola inclusiva tem de ser capaz de desenvolver uma pedagogia centrada nas crianças, suscetível de as educar a todas com sucesso” (1994:6). Pois, sempre que possível, todos devem aprender juntos, independentemente das suas diferenças. Posto isto, esta Dissertação de Mestrado estrutura-se da seguinte forma: Parte I – Enquadramento Teórico, a parte I compreende seis capítulos. No Capítulo I, será abordado o enquadramento teórico, e é neste ponto, que se Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 2 identificará a perspetiva histórica do autismo, do conceito ao diagnóstico, características do autismo, diagnóstico diferencial, o conceito segundo Kanner, o conceito segundo Asperger, o conceito segundo outros autores, perspetivas sobre a etiologia do autismo, farmacoterapia, desenvolvimento cronológico da síndrome perspetiva sobre a etiologia do autismo, teorias biológicas, teorias cognitivas e teorias psicogenéticas, entre outras, Modelo de Russel, Modelo de Hobson, a proposta de Bowler. No Capítulo II, iremo-nos debruçar sobre família/sociedade e Perturbações do Espetro do Autismo, que inclui o impacto na família e intervenção com pais de crianças com perturbações do espectro do autismo. No Capítulo III faz-se referência à avaliação e intervenção, assim iremos abordar critérios para escolher o modelo mais adequado para intervir junto destas crianças, desta forma são expostos modelos de intervenção psicanalítica, comportamental, construtivista e desenvolvimentista, programa Portage, modelo de intervenção de natureza cognitivo-comportamental: Modelo TEACCH, entre outros. No que diz respeito ao Capítulo IV, são abordados os princípios da inclusão, faz-se referência à escola inclusiva. No Capítulo V focam-se algumas estratégias educativas para mais especificamente auxiliar a criança autista e são apresentadas sugestões para serem trabalhadas em sala de aula. No que concerne ao Capítulo VI, neste é descrito o ensino estruturado, os seus princípios e as suas estratégias, principais componentes do ensino estruturado, princípios e conceitos orientadores e estrutura física de uma unidade do ensino estruturado. Parte II – Pressupostos Metodológicos, assim no que se refere ao Capítulo VII, este aborda o enquadramento empírico, onde é feita uma descrição do percurso metodológico, onde estão incluídos: a definição do problema/questão de investigação, a definição das hipóteses e das variáveis, o objetivo do estudo, identificação da escolha do instrumento de trabalho e a sua caracterização, vantagens e inconvenientes na utilização de questionários, o carácter inovador do estudo, o enquadramento da questão de fundo na área da investigação, justificação do estudo, pertinência do estudo e por último limitações do mesmo. No Capítulo VIII, apresentamos a caracterização da amostra, e partimos para a apresentação e análise dos resultados obtidos e para as respetivas considerações finais. Para finalizar, fazemos alusão às referências bibliográficas que nos serviram de apoio na realização deste estudo e dos sítios de Internet consultados e terminamos Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 3 com a apresentação dos documentos utilizados e que nos permitiram a recolha dos dados apresentados. Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 4 PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 5 CAPÍTULO I Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 6 CAPÍTULO – I 1. - FUNDAMENTOS CONCEPTUAIS E TEÓRICOS 1.1. - PERSPETIVA HISTÓRICA DO AUTISMO O termo “autismo” foi introduzido pela primeira vez, pelo psiquiatra Eugen Bleuler, em 1911 com o intuito de descrever um tipo de sintoma que ele considerou ser um sintoma secundário das esquizofrenias ou seja como sinónimo da perda do contacto com a realidade que se produz no processo do pensamento na síndrome de esquizofrenia do adolescente e adulto. Esta desordem origina grande dificuldade ou impossibilidade de comunicação e contacto com as pessoas. O adjetivo “autista” foi inicialmente utilizado em psiquiatria para significar “retraído” ou “fechado em si mesmo” e podia ser aplicado a todas as pessoas que fossem retraídas por qualquer motivo, incluindo, por exemplo, uma depressão severa, tumores cerebrais ou, simplesmente uma personalidade tímida e distante, segundo o exposto por Rozental (1993). Antigamente achava-se que o autismo era uma perturbação rara. No século XIX, Jean Marc Gaspard Itard, que tomou sob sua proteção durante cinco anos e estudou Victor, o rapaz selvagem de Aveyron (como foi denominado), foi quem fez as primeiras descrições de crianças invulgares, no ano de 1801. Contudo, segundo Marques (Marques 2000), alguns autores afirmam que esta criança teria sido autista, pois os comportamentos que Itard descreveu, ajustavam-se à classificação que mais tarde foi descrita por Leo kanner. Desde o século XIX a conceção de autismo infantil sofreu várias alterações, e a literatura já vem descrevendo casos isolados de crianças com severos distúrbios mentais. Distúrbios esses decorrentes de importantes desordens do desenvolvimento que, em concordância com a atual terminologia, preencheriam critérios diagnósticos de crianças portadoras do espetro do autismo. A “solidão autista” (idem) era a característica de conduta mais evidenciada nestes indivíduos nos primeiros anos, acompanhada de severasdificuldades para se relacionar com as pessoas e também o atraso e perturbação do desenvolvimento da linguagem, dos rituais e frequentes angustias produzidas por transformações do meio e ambientais. Em 1908, Sacta de Sanctis descreveu a “demência precocíssima”, baseado em observações de quadros de demências em pré-púberes, caracterizados por uma Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 7 sintomatologia semelhante à “demência precoce”, descrita em adultos, por Emil Kraepelin. Também nesse ano, Heller, educador vienense, descreveu um grupo de 6 crianças com idades compreendidas entre os 3 e 4 anos, que apresentavam perda de linguagem e habilidades mentais, com sintomatologia semelhante às das crianças autistas. No entanto, foi apenas entre 1943 – 1949, que o psiquiatra austríaco Leo Kanner, professor da Jonh Hopkins University, escreveu um artigo na Nervous Child, intitulado “Autistic Disturbances of Affective Contact” (Kanner, 1943). No referido artigo, kanner separou pela primeira vez um conjunto de comportamentos, aparentemente característicos, e que algumas das crianças que seguia manifestavam. Esse conjunto de comportamentos, assim como as perturbações que lhe davam origem, ficaram a ser conhecidos como a Síndrome do Autismo, nome que pronunciava e vincava a faceta mais típica das suas maneiras de estar. Leo Kanner, depois de estudar 11 crianças, às quais conferiu uma identidade diferenciada e diferenciadora, a este atraso global do desenvolvimento estabelece uma série de critérios de diagnóstico de acordo com as observações por ele efetuadas, sendo estas, segundo (González, 1992): Uma profunda falta de contato afetivo com outras pessoas; Um desejo angustiosamente obsessivo de que tudo permaneça igual; Um fascínio por certos objetos suscetíveis de serem manipulados com leves movimentos motores; Mutismo, ou um tipo de linguagem cuja função não parece ser a de uma comunicação interpessoal; Manutenção de uma fisionomia inteligente e pensativa com um bom potencial cognitivo, que se manifesta, entre os que sabem falar, por meio de proezas, pelos seus bons resultados em testes de execução ou de manipulação. Em 1944, Hans Asperger, pediatra austríaco, independentemente de kanner, descreveu a sua experiência com um grupo de rapazes que apresentavam sintomatologia idêntica à dos quadros autistas, denominando-o por “Psicopatia Autística”. Este sintoma é descrito de uma forma similar à de Kanner. Contudo, durante alguns anos as contribuições de Hans Asperger não foram completamente reconhecidas, isso apenas veio a acontecer na década de 80 (Wing, 1981). Em 1988, Wing, considera que o quadro do autismo pode variar consideravelmente, pelo que propõe a introdução do conceito “Espectro do Autismo”, que cria uma gama variada de manifestações do comportamento do mesmo distúrbio. Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 8 Os artigos de Kanner foram mais citados na literatura sobre o autismo em relação aos de Asperger, que sendo escritos em Alemão e durante a Segunda Guerra Mundial, foram em grande parte ignorados, segundo relata Frith (1993). Asperger considerava que existia, desde o nascimento, e coincidindo com Kanner, um transtorno essencial que daria origem a diversas alterações muito características. Quando se faz referência à síndrome de Asperger esta costuma estar focalizada num escasso número de autistas que apresentam boas capacidades intelectuais assim como um aceitável desenvolvimento da linguagem. Também Frith (1993) salienta que o termo “Síndrome de Asperger” tende a reservar-se para os poucos autistas quase normais, que possuem boas capacidades intelectuais e bom desenvolvimento da linguagem. Durante os anos setenta, foram levantadas algumas dúvidas sobre os critérios a serem utilizados para a identificação clínica destes pacientes, mesmo com a proposta de vários esquemas, questionários e tabelas. Embora muitas dúvidas persistissem, progrediu-se bastante no que concerne a conhecimentos fundamentais sobre fatores etiológicos, efeitos neuroquímicos, influências genéticas, tratamento farmacológico, entre outros. Em 1978, Ritvo & Freedman criaram a definição desta síndrome, utilizada pela National Society for Autistic children. Ainda no mesmo ano Rutter & Schopler elaboraram critérios que, definindo a Síndrome foram largamente aceites pela comunidade científica. Gallegher & Kirk (1998), referem que Rutter (1978), assinalou quatro critérios para diferenciar as crianças autistas de outras crianças excecionais: 1º Deficiência grave no relacionamento com os pais, membros da família e outras pessoas. 2º Desenvolvimento atrasado e deficiente da linguagem, caracterizado pelo uso inadequado da linguagem. 3º Comportamento estereotipado, variando desde movimentos ritualísticos, com a insistência de alinhar brinquedos ou a mobília numa determinada ordem. 4º Esses comportamentos aparecem cedo e apresentam-se desde o início da vida, geralmente antes dos três anos de idade. Gallagher & wiegerink (1976), citados ibidem (1998:422), ao reverem as estratégias educacionais para a criança autista, resumiram num estudo todos os conhecimentos existentes até à época, sobre a temática do autismo. Como ainda se pode verificar, as suas conclusões continuam adequadas, e compreendem os seguintes pontos: 1º As crianças autistas são educáveis. Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 9 2º As suas características singulares de aprendizagem devem-se a deficiências cognitivas básicas no processamento da informação. 3º Essas deficiências podem ser compensadas, em parte, por programas educacionais cuidadosamente estruturados, com sequências especificadas de aprendizagem e intensificação de estímulos reforçadores. 4º Os programas educacionais estruturados devem começar desde cedo, tendo os pais como primeiros professores. 5º Os programas de Educação Especial para essas crianças são plausíveis e, a longo prazo, menos custosos do que os cuidados institucionais. 6º A oferta de programas educacionais adequados para essas crianças, não é uma manifestação da generosidade pública mas, ao contrário, uma reflexão de que essas crianças também têm direito evidente a uma educação adequada. Segundo Marques (2000), a tendência atual de muitos autores é de utilizarem o conceito de Transtornos do Espetro Autista que inclui o Autismo Clássico Infantil ou Síndrome de Kanner; Síndrome de Asperger; a Perturbação Desintegrativa da Infância; o Autismo Atípico e Traços Autistas. Atualmente e contrariando a perspetiva inicial das conceções sobre a perturbação, não se define o autismo enquanto “psicose” infantil (Rutter, 1972). Esta síndrome é entendida como uma das perturbações contínuas e gerais, designadas de “perturbações globais (pervasivas) do desenvolvimento”. O autismo caracteriza-se pela existência de disfunções sociais, perturbações na comunicação e no jogo imaginativo, tal como por interesses e atividades restritas e repetitivas. O autismo, para ser considerado em termos de diagnóstico, tem de ter presentes estas manifestações, desde o nascimento até aproximadamente aos 36 meses de idade, persistindo e evoluindo de diferentes maneiras, ao longo da vida. O DSM-IV, inclui o autismo na categoria dos distúrbiosgeneralizados do desenvolvimento com o nome de distúrbio autista e compreende os seguintes pontos: Uma alteração qualitativa das interações pessoais; Uma alteração qualitativa da comunicação verbal e não-verbal; Um reportório de atividades e interesses restrito; Surgir na infância. Os sujeitos que possuem autismo, passam por um estádio em que se voltam para si mesmos, perdendo assim o interesse pelo mundo exterior e a tudo o que a ele está inerente. Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 10 Segundo Kanner e Asperger “(…) pode ser definido como uma condição ou estado de alguém que aparenta estar invulgarmente absorvido em si próprio”. (Marques, 2000, p. 25) Como já foi anteriormente referido, Kanner denominou o autismo infantil como condição neuropsicológica, e descreveu-o de forma exímia, numa extensa publicação “Autistic Disturbances of Affective Contact”, onde caracteriza os comportamentos de onze crianças (oito rapazes e três raparigas) que se destacavam pelos seus comportamentos extremamente diferentes daqueles que havia encontrado até esse momento. Kanner pretendia dar uma definição diferenciada ao autismo e diferenciadora das perturbações do desenvolvimento até aí descritas. Em 1994, ou seja, um ano depois da publicação de Kanner, Hans Asperger, publica um trabalho sobre a “ Psicopatologia autista”, esta era a expressão que ele usava para se referir ao autismo, no qual apresentava uma definição mais completa desta síndrome do que kanner, pois os seus estudos eram baseados em indivíduos com lesões orgânicas significativas e indivíduos que se aproximavam da realidade. Porém é de ressalvar que as definições do espetro do autismo por parte de Kanner e Hans Asperger eram muito semelhantes em vários aspetos. A título de exemplo, ambos admitiam que o isolamento social presente no autismo era inato. Frith, U. (1991), identificou entre crianças “deficientes”, algumas que se diferenciavam das demais por um comportamento peculiar caracterizado, entre outros sinais e sintomas, por uma dificuldade em estabelecer relações interpessoais. Para Pennington, B.F. (1997), são afetados todos os níveis de capacidades intelectuais, variando entre dificuldades profundas de aprendizagem e capacidades médias ou superiores. Porém, não é fácil definir o que é o autismo, pois é alvo de algumas controvérsias, uma vez que reúne uma panóplia de fenómenos e sintomas com diferentes quadros clínicos, que têm como condição comum o sintoma autístico. E pode dizer-se que apesar de muitos investigadores se debruçarem sobre o estudo do espetro do autismo, ainda alguns aspetos permanecem por desvendar. Kanner e Asperger analisaram o autismo sob o ponto de vista clínico, tendo fornecido descrições muito rigorosas, tão rigorosas que atualmente ainda não são fáceis de suplantar. Wing, Hermelin e O‟ Connor, em finais dos anos 70 apontaram para a existência de um problema comum a todos os indivíduos que padeciam do espetro do autismo, ou seja, sugeriram uma tríade de incapacidades ao nível da comunicação verbal e não-verbal, da relação com os outros e das atividades lúdicas e imaginativas. Assim, denominaram-se estes três sintomas de “ Tríade de Lorna Wing”. Marques, C. Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 11 (2000), considera a tríade de incapacidades, como sendo o núcleo central de toda a patologia, mas realça a existência de um conjunto de outras características e patologias que, em associação, vão desencadear uma sintomatologia muito específica e peculiar, que se traduz em quadros diferentes em termos de características, capacidades/incapacidades e comportamentos. São estas características, que caracterizam as crianças portadoras do espetro do autismo. “O autismo é uma perturbação do desenvolvimento que afecta muitos aspectos de como a criança compreende o mundo que a rodeia e aprende com as suas experiências. As crianças com autismo não apresentam o desejo natural de contacto social. A atenção e o reconhecimento dos outros não é igualmente importante.” (Marques, 2000, p. 15) 1.2. - DO CONCEITO AO DIAGNÓSTICO 1.2.1.-DEFINIÇÃO DE AUTISMO “ (…) o autismo é uma perturbação do desenvolvimento psicológico que afecta directamente a forma como as pessoas percebem emoções, expressões e acções.” (Marques, 2000, p. 18) O termo autismo deriva do grego “Autos” (de si mesmo) + “Ismo” (orientação ou estado). Autismo é um termo usado para descrever uma doença psiquiátrica grave, caracterizada por perturbações da linguagem, incapacidade para comunicar e se relacionar normalmente com outras pessoas e de apresentar comportamentos ritualistas e estereotipados. Ao nível comportamental as características que distinguem as crianças com autismo das que sofrem de outro tipo de perturbações do desenvolvimento, baseiam- se sobretudo na sociabilidade, no jogo, na linguagem, na comunicação a nível global, a nível de atividade, do repertório de interesses, e as atitudes dos demais não assumem para elas a mesma importância que por norma assume para outras crianças, deste modo as crianças autistas representam um grande desafio para os profissionais, pelas vastas características que reúnem. Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 12 Esta perturbação do desenvolvimento prejudica inúmeros aspetos da forma como as crianças atingidas por esta síndrome vêm o mundo. As crianças com autismo não demonstram interesse pela interação social. Deste modo, o autismo é uma disfunção no desenvolvimento cerebral que tem origem na infância, persiste ao longo de toda a vida e pode dar origem a uma grande variedade de expressões clínicas. Posto isto, acredita-se que: Alguns dos sintomas principais estejam presentes desde o nascimento; Tipicamente, os sintomas começam a manifestar-se até aos três anos; Todo o desenvolvimento da criança vai ser “invadido” pelas características desta condição clínica; Só é possível começar a avaliar um diagnóstico de perturbação no espetro do autismo após os dois anos de idade. A Tríade de Perturbações no autismo: Défices em três áreas do desenvolvimento: Social; Linguagem e comunicação; Pensamento e comportamento. 1.2.2. - CARACTERÍSTICAS DO AUTISMO Nos autistas existem aspetos curiosos e até surpreendentes, ao mesmo tempo que outros se revelam preocupantes. O primeiro caso, trata-se de competências evidenciadas ao nível de desempenhos relacionados com memórias visuais e auditivas e, por vezes, com a forma de aplicação das sequências de regras, acontecimentos ou operações mentais. No que diz respeito a aspetos preocupantes, releve-se um relacionado com comportamentos de auto-mutilação (morder braços, ou bater com a cabeça na parede). Uma das particularidades do autismo é a utilização da sua sensorialidade, ou seja, usam-se os órgãos sensoriais, de um modo particular. Tal facto leva, por vezes, a crer que essas crianças são surdas ou sofrem de divergências visuais, uma vez que há manifestações de estrabismos divergentes ou convergentes. Segundo (Marques, 2000, p. 29) “esta perturbação pode manifestar-se por atraso ou desvio no desenvolvimento de cada umadas três áreas seguintes, antes dos 3 anos de idade: a interação social, a linguagem usada como forma de comunicação social e o jogo simbólico ou imaginativo. Aparentemente não existe nenhum período de desenvolvimento sem problemas”. Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 13 Na criança autista podemos encontrar características tais como: Resiste aos métodos normais de ensino; Ri, chora e grita sem motivo; Não tem medo de perigos reais; Apresenta insensibilidade à dor; Não gosta de ser afagado; Mantém brincadeiras particulares; Não estabelece contacto no olhar; Fica indiferente; Indica necessidades por gestos; Segura objetos inapropriadamente; Ecolália; Reage ao som como um surdo; Grita e faz birras sem razão aparente; Roda objetos; Dificuldade em se misturar com outras crianças; Resistência à mudança; Pode não chutar a bola mas pode empilhar cubos; Desfasamento nas capacidades motoras grossa/fina; Marcada atividade física ou extrema passividade; Mostra indiferença; Só participa se o adulto insistir e ajudar; Interação unilateral; Necessita de usar a mão do adulto; Não brinca com outras crianças; Fala sem parar acerca de um tópico; Tem comportamentos bizarros; Resistência à mudança; Falta de imaginação; No entanto, algumas crianças autistas podem fazer algumas coisas muito bem e rapidamente, contudo essas tarefas não podem envolver interação social. (Retirado de uma adaptação de Carmelina Mota e Paula Bravo) Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 14 “ As características essenciais da perturbação Autística são a presença de um desenvolvimento acentuadamente anormal ou deficitário da interacção e comunicação social e um repertório acentuadamente restritivo de actividades e interesses.” (DSM – IV, p. 70) 1.2.3. – DIAGNÓSTICO DA PERTURBAÇÃO Desde que foi conhecido, que o diagnóstico do autismo tem sofrido inúmeras alterações. Para este facto contribuíram indubitavelmente as diferenças entre os indivíduos com autismo, e é isso que leva ao surgimento das noções de sub-tipos dentro das perturbações autistas. Para os autores Wing e Gould (1979) existe um claro exemplo dessas diferenças, no que concerne à interação social – “enquanto algumas crianças com autismo evitam ou recusam a partilha social e se refugiam no isolamento, como nos casos de Kanner, outras podem ser meramente passivas, aceitar as iniciativas dos outros, ou ainda ser ativamente sociáveis, embora de modo particular”. (Marques, 2000, p. 31) Já em 1988 Wing considerou que o quadro do autismo pode diversificar consideravelmente, pelo que “propõe a introdução do conceito “Espectro do Autismo”, que concebe a ideia de uma gama variada de manifestações do comportamento do mesmo distúrbio.” (Marques, 2000, p. 31) O facto de se reconhecer a existência de um núcleo central de perturbações e características comuns a um conjunto de patologias com uma intensidade e severidade variáveis, vem fortalecer a hipótese de existência de um contínuo de sintomas comuns a este tipo de perturbação. (Pereira M. C., 2005) Em suma, a propensão atual aponta para uma classificação em termos globais de todas as Perturbações do Espetro do Autismo, tais como: Autismo clássico ou Síndrome de Kanner Síndrome de Asperger Perturbação Desintegrativa da Infância Autismo Atípico (PPDNE) Traços Autistas Estas crianças demonstram uma falha no contacto afetivo, parecendo alheias a todo o tipo de afetos, mesmo relativamente aos familiares mais próximos. São fascinadas pelas “ordenações” ou “organizações espaciais” de objetos, manifestando relutância e desagrado em relação às alterações de rotinas diárias. Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 15 Mostram atração ou mesmo obsessão por atividades repetitivas, como movimentos de mãos, braços ou artes do corpo, rotação de objetos, ligar ou desligar interruptores ou encostar portas e janelas de uma mesma forma. (Pereira M. C., 2005). A mesma autora refere que Kanner, nos seus estudos, concluiu também que estas crianças apresentavam uma memória excecional, capazes de reproduzir um repertório de rimas, enunciados, ou mesmo números e nomes. Quando estas crianças são dotadas de linguagem têm grandes dificuldades em iniciar ou manter um diálogo, apresentando um discurso monocórdico, de linguagem repetitiva, com uma incapacidade evidente para entender as frases ou questões mais simples. Falam mecanicamente sendo incapazes de expressar sentimentos relativamente às pessoas mais próximas. Ao nível dos comportamentos verbais verifica-se uma ecolália imediata e tardia visível nas: Repetições de palavras ou frases memorizadas Inversão pronominal detetada quando as crianças se referem a elas próprias utilizando o “tu”, o “ele” ou “ela” e não o “eu” ou a “mim”. É importante salientar que aquelas que são capazes de falar mantêm uma postura pensativa e inteligente, um bom potencial cognitivo para além de um desenvolvimento excecional da memória. (Pereira M. C., 2005). Os piores desempenhos destas crianças relacionam-se com falhas ao nível das relações sociais, revelando uma incapacidade primária para estabelecer relações interpessoais. O autismo é a perturbação melhor conhecida e mais reiteradamente diagnosticada no grupo das perturbações do desenvolvimento, nomeadas de perturbações pervasivas1 do desenvolvimento. Este diagnóstico e a sua demarcação são motivo de alguma discussão e mesmo de algumas contradições, o que tem consequências na intervenção terapêutica realizada, bem como em termos da prevalência estimada. Segundo Gillberg & Coleman (1992) “o autismo é a expressão sintomática final de uma perturbação cerebral provocada por diferentes tipos de lesões, manifestando-se por diferentes graus e sintomatologia, mantendo-se constante a tríade de incapacidade”. (Marques, 2000, p. 34) O diagnóstico desta perturbação tem por base o comportamento, sendo realizado através da interpretação da significação do desvio, da ausência ou do atraso em determinado comportamento. (Frith, 1993) 1 O termo pretende demonstrar a natureza global e abrangente da perturbação. Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 16 A perspetiva clínica do autismo definida por Kanner em 1943, sofreu já sucessivas redefinições ao longo dos últimos 50 anos, contudo e, basicamente, mantêm-se as características por ele discriminadas, sendo estas: 1. Incapacidade para o estabelecimento de um relacionamento social; 2. Falha no uso comunicativo da linguagem; 3. Interesses obsessivos e desejo de se manter isolado; 4. Fascínio por objetos; 5. Boas potencialidades cognitivas; 6. Com inicio antes dos 30 meses. Já por volta de 1945, Kanner reduziu as principais características da síndrome autista a duas, que eram identificativas da motivação dos indivíduos para se relacionarem com os outros e para partilharem o ambiente. 1. Isolamento social e indiferença aos outros; 2. Resistência à mudança e rotinas repetitivas. Na contemporaneidade,a pluralidade dos investigadores usa um dos dois sistemas clínicos de diagnóstico formalmente aceites. O primeiro é alusivo às inúmeras definições formuladas pela Associação Americana de Psiquiatria que são publicadas nas edições do seu Manual de Diagnóstico e de Estatística das Perturbações Mentais (DSM, APA). O segundo sistema clínico formal é o da Organização Mundial de Saúde (OMS), nomeadamente a Classificação Internacional das Doenças (ICD 10, OMS, 1993). Ambos os sistemas assentam que a condição essencial para o diagnóstico do Autismo é a existência de três perturbações principais do desenvolvimento: Limitações na interação social recíproca; Limitações na comunicação recíproca (verbal e não verbal); Limitações da capacidade de imitação. Estas limitações traduzem-se por um padrão ou repertório comportamental restrito, como se pode verificar nos quadros que se seguem relativos aos modelos de diagnóstico clínico do autismo e à evolução do conceito de diagnóstico. Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 17 Quadro 1 - Evolução do conceito de diagnóstico (DSM – APA) 2 DSM – III 1980 DSM – III – R 1987 DSM – IV 1994 NOME DA PERTURBAÇÃO AUTISMO INFANTIL DISTÚRBIO AUTISTA DISTÚRBIO AUTISTA INÍCIO Antes dos 30 meses Durante a 1ª e 2ª infância Inicio antes dos 3 anos e atraso ou desvio em pelo menos uma das áreas: interacção social, linguagem comunicativa e jogo simbólico COMPORTAMENTO Ausência marcante de respostas face aos outros Alteração qualitativa da interacção social (5 critérios de exclusão) Alteração qualitativa da interacção social (pelo menos 2 de 4 critérios) LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Défices notórios no desenvolvimento da linguagem. Fala, quando presente, com padrões peculiares Alteração qualitativa na comunicação verbal e não verbal, e no jogo simbólico Alteração qualitativa na comunicação (pelo menos 1 de 4 critérios possíveis) ACTIVIDADES E INTERESSES Respostas bizarras a vários aspectos do ambiente Repertório de actividades e interesses restrito Padrão de comportamentos, interesses e actividades, restrito e estereotipado (pelo menos 1 de 4 critérios) CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Ausência de delírios, alucinações e incoerência típicas da esquizofrenia Nada estabelecido Síndroma de Rett Perturbação Desintegrativa da infância Síndroma de Asperger 2 (Marques, 2000) – Extraído e adaptado de Trevarthen, 1996; p.13 Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 18 Quadro 2 –Critérios de Diagnóstico para o Distúrbio Autista (299.00)3 1) Alteração qualitativa das interacções sociais (a presença de pelo menos 2) Alteração profunda no uso de diversos comportamentos não verbais como, por exemplo, o contacto visual, a expressão facial, a postura corporal e os gestos que regulam a interacção social e o contacto visual. Incapacidade de criar relações sociais adequadas ao nível do desenvolvimento Incapacidade de partilha de alegrias, interesses ou aquisições com outras pessoas (não mostrar, trazer ou apontar objectos de interesse) Incapacidade para a reciprocidade social e emocional. 2) Alteração qualitativa da comunicação (presença de pelo menos 1) Atraso ou não aquisição da linguagem falada (não compensada através de outros modos de comunicação, como a mímica ou a gestual) Em pessoas com linguagem adequada, existe uma alteração grave na capacidade de iniciar ou de manter uma conversação; Uso repetitivo e estereotipado da linguagem ou de linguagem idiossincrática; Imitação, jogo social e “faz de conta” pobres, inadequados ao nível desenvolvimental. 3) Padrões de comportamento, interesses e actividades repetitivas, restritas estereotipadas (presença de pelo menos 1) Um ou mais padrões de interesse restrito e estereotipado, anormais tanto na intensidade como no objectivo; Adesão inflexível a rituais ou a comportamentos não funcionais; Maneirismos motores repetitivos e estereotipados (ex.: estalar os dedos, movimentos complexos do corpo); Preocupação persistente com partes dos objectos; Exige ainda o atraso ou funcionamneto anormal em, pelo menos uma das seguintes áreas, com início anterior ao terceiro ano de vida: Interacção social Linguagem como forma de comunicação Jogo imaginativo e simbólico 3 (Marques, 2000) – Extraído e adaptado do DSM – IV, 1994; p.70 Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 19 Quadro 3 – Critérios de diagnóstico para o Distúrbio Autista – ICD – 104 Anomalias qualitativas na interacção social recíproca, manifestas em pelo menos 2 dos sintomas seguintes: 1) Incapacidade de usar adequadamente o olhar, expressão facial, gestual e os movimentos corporais nas interacções sociais; 2) Incapacidade de estabelecer relações com os pares que impliquem uma partilha mutua de interesses, de actividades e emoções; 3) Procura raramente ou outros em busca de conforto e afecto em caso de ansiedade, desconforto, ou sofrimento; 4) Inexistência de procura espontânea para partilha de alegrias, interesses ou de sucesso com os outros; 5) Ausência de reciprocidade social e emocional, que se manifesta por respostas perturbadas ou anormais às emoções dos outros, ou ausência de modulação do comportamento em função do contexto social. Problemas qualitativos da comunicação, manifestada em pelo menos um dos sintomas seguintes: 1) Atraso ou ausência total do desenvolvimento da linguagem falada, não acompanhada por uma tentativa de compensação por outras formas de comunicação alternativa, como a gestual ou a mímica; 2) Ausência do jogo espontâneo de “faz de conta” ou do jogo social imitativo 3) Incapacidade de iniciar ou manter uma conversa; 4) Utilização estereotipada e repetitiva da linguagem, utilização idiossincrática das palavras e das frases. Comportamentos, interesses e actividades restritas, repetitivas e estereotipadas, manifestação de pelo menos 1 dos sintomas seguintes: 1) Ocupação obsessiva por um ou vários centros de interesse estereotipados e limitados 2) Adesão aparentemente compulsiva a hábitos e rituais específicos e não funcionais; 3) Actividades motoras estereotipadas e repetitivas 4) Preocupação persistente e não funcional com partes de objectos, elementos ou peças de um jogo. 4 (Marques, 2000) – Extraído e adaptado de Peeters & Gillberg, 1995; p.31 Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 20 2. – DIAGNOSTICO DIFERENCIAL 2.1.-SÍNDROME DE ASPERGER Asperger (1944) apresentou algumas características que eram recorrentes e típicas das crianças observadas: “(…) no que se segue, descrevereium tipo de criança que tem interesse, sob diversos aspectos: as crianças têm em comum uma perturbação básica que se manifesta de maneira muito característica em todos os fenómenos expressivos e comportamentais. Esta perturbação resulta em consideráveis dificuldades, típicas de integração social. Em muitos casos, esta dificuldade é compensada por uma originalidade particular do pensamento e da experiência, que pode bem resultar em desempenhos posteriores excepcionais na vida futura.” (Frith, 1993). A síndrome de Asperger é um conceito que tem sido usado para crianças ou adultos que apresentem algumas características do autismo, como as incapacidades sociais e os comportamentos restritos e repetitivos. A grande diferença entre o autismo infantil e a síndrome de Asperger reside na gravidade dos problemas. Em ambos os casos, as crianças apresentam défices na interação social recíproca, comprometimento das habilidades comunicativas e comportamentos inusuais e até mesmo bizarros. As crianças com síndrome de Asperger são menos comprometidas e, geralmente, não revelam sinais de atraso mental. Estas apresentam, ainda, um desenvolvimento de padrões de comportamentos, interesses e atividades repetitivos. Comparando com a perturbação autista, verifica-se que na síndrome de Asperger não existe um atraso geral da linguagem clinicamente significativo e o funcionamento não apresenta défices. Durante os 3 primeiros anos de vida, não se registam atrasos clinicamente significativos no desenvolvimento cognitivo da expressão de curiosidade sobre o ambiente, ou na aquisição de aptidões de aprendizagem e de comportamentos adaptativos adequados à idade, no desenvolvimento das aptidões de autoajuda próprias da idade, ou no comportamento adaptativo. Pode, ainda, observar-se uma descoordenação motora e uma falta de destreza, ou uma ligeira incidência. Os sintomas de hiperatividade e de desatenção também são frequentes neste tipo de perturbação. Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 21 Trata-se de uma perturbação contínua que se manifesta ao longo da vida e o seu prognóstico parece ser melhor relativamente ao da perturbação autista, uma vez que os estudos realizados revelam que muitos adultos com síndrome de Asperger conseguem empregos remunerados e revelam auto – suficiência. 2.2.-ESQUIZOFRENIA INFANTIL O DSM – IV – R define esquizofrenia infantil como um distúrbio mental com grande tendência à cronicidade, manifestado desde o início da juventude, e que, por regra, conduz à deterioração do funcionamento psíquico pré-mórbido. Este distúrbio é clinicamente manifestado por uma síndrome psicopatológica que se expressa por alterações do pensamento, afetividade e comportamento, na ausência de uma doença cerebral demonstrável ou de atraso mental. A esquizofrenia é um distúrbio do psiquismo e da personalidade que se manifesta com a consciência lúcida; entretanto, ela caracteriza-se por inúmeras alterações nas experiências psíquicas, nos padrões de pensamento e no humor. Observa-se ainda uma rigidez das disposições afetivas, fixação por certos interesses, ausência, ou diminuição da atenção espontânea, inadaptação face ao real, fuga à realidade, acentuada violência das reações de angústia ou defesa, estereotipias no comportamento, nas ocupações, na linguagem e, ainda, fenómenos de perseveração e ecolalia. Contrariamente ao autismo esta patologia pode apresentar períodos de normalidade. 2.3.-SÍNDROME DE RETT Esta síndrome tem uma etiologia genética pelo facto de afetar apenas pessoas do sexo feminino. É por este motivo e pelo seu padrão de défices que a síndrome de Rett diverge do autismo. O desenvolvimento da criança tem um início normal, só gradualmente vai ocorrendo a perda das capacidades adquiridas, comumente perto dos 2 anos de idade. Esta síndrome tem em comum com o autismo a perda de linguagem, fator que pode gerar confusão no diagnóstico. Existem contudo outros sinais característicos desta síndrome que não estão presentes no autismo como é o caso do abrandamento de crescimento do perímetro craniano, a perda de habilidades motoras manuais Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 22 anteriormente adquiridas e dificuldades na coordenação óculo manual. (Marques, 2000) 2.4.-PERTURBAÇÃO DESINTEGRATIVA DA INFÂNCIA As crianças portadoras desta perturbação têm um desenvolvimento precoce normal, sendo este acompanhado de uma desintegração que não está explicada, ocorrendo esta durante os primeiros 5 anos de vida. Nesta desintegração ocorre a perda da linguagem, da necessidade e prazer de estabelecer contacto social, empobrecimento do contacto visual, bem como a perda de outras formas de comunicação não-verbal. (Marques, 2000) 2.5.-PERTURBAÇÃO PERVASIVA DO DESENVOLVIMENTO NÃO ESPECÍFICA Este diagnóstico exige a presença de menos itens e de menor intensidade do que para o diagnóstico do autismo, assim como reflete um menor compromisso cognitivo e consequente atraso mental. Nesta categoria diagnóstica tem surgido alguma controvérsia, pois os defensores da noção de espetro admitem que se trata de uma variação da síndrome do autismo. Porem o DSM – IV refere que esta categoria deve ser usada quando apesar do compromisso nas áreas centrais, o número de critérios encontrados não é o suficiente para se incluir nas Perturbações pervasivas do Desenvolvimento, Esquizofrenia ou Distúrbio da Personalidade. (Marques, 2000) 2.6.-MUTISMO SELETIVO O mutismo seletivo refere-se a uma inibição voluntária da fala e constitui, essencialmente, um problema de interação social, uma resposta afetiva intencional, mais do que uma perturbação da linguagem. Porquanto não será difícil distingui-lo do autismo. As crianças com esta inibição demonstram, geralmente, competências comunicativas adequadas em determinados contextos, o que não ocorre nas crianças com autismo. (Marques, 2000) Telma Morais Modelo TEACCH – Intervenção Pedagógica em Crianças com PEA Escola Superior de Educação Almeida Garrett 23 2.7.-PERTURBAÇÃO DA LINGUAGEM EXPRESSIVA E PERTURBAÇÃO MISTA DA EXPRESSÃO E RECEÇÃO DA LINGUAGEM Neste tipo de perturbação e, consoante o DSM-IV, ocorre uma incapacidade linguística que não está associada à existência de incapacidades qualitativas nas interações sociais, nem tão pouco com os padrões de comportamento repetitivos estereotipados, característicos do autismo. Há contudo autores, como Rapin (1987) que defende a presença de um contínuo entre o autismo e as perturbações específicas da linguagem, principalmente se estiverem relacionados problemas ao nível do processamento central da linguagem. (Marques, 2000) 2.8.-ATRASO MENTAL É por vezes problemático determinar quando é que o diagnóstico de autismo se encontra presente numa pessoa com atraso mental, principalmente quando este é severo ou profundo. Por alusão ao DSM – IV este diagnóstico fica reservado para situações em que ocorra um défice social qualitativo, défice nas competências comunicacionais, e características comportamentais específicas do distúrbio autista. (Marques, 2000) 3. – CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES DOS SÍNDROMES AUTÍSTICOS A psiquiatra Inglesa Lorna Wing, após várias pesquisas
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