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1 de nutrição em pediatria Publicação elaborada pelo Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Pediatria Edição Especial - Ano 2001 temas P at ro cín io NOTA IMPORTANTE AS GESTANTES E NUTRIZES PRECISAM SER INFORMADAS QUE O LEITE MATERNO É O IDEAL PARA O BEBÊ, CONSTITUINDO-SE A MELHOR NUTRIÇÃO E PROTEÇÃO PARA O LACTENTE. A MÃE DEVE SER ORIENTADA QUANTO À IMPORTÂNCIA DE UMA DIETA EQUILIBRADA NESTE PERÍODO E QUANTO À MANEIRA DE SE PREPARAR PARA O ALEITAMENTO AO SEIO ATÉ OS DOIS ANOS DE IDADE DA CRIANÇA OU MAIS. O USO DE MAMADEIRAS, BICOS E CHUPETAS DEVE SER DESENCORAJADO, POIS PODE TRAZER EFEITOS NEGATIVOS SOBRE O ALEITAMENTO NATURAL. A MÃE DEVE SER PREVENIDA QUANTO À DIFICULDADE DE VOLTAR A AMAMENTAR SEU FILHO UMA VEZ ABANDONADO O ALEITAMENTO AO SEIO. ANTES DE SER RECOMENDADO O USO DE UM SUBSTITUTO DO LEITE MATERNO, DEVEM SER CONSIDERADAS AS CIRCUNSTÂNCIAS FAMILIARES E O CUSTO ENVOLVIDO. A MÃE DEVE ESTAR CIENTE DAS IMPLICAÇÕES ECONÔMICAS E SOCIAIS DO NÃO ALEITAMENTO AO SEIO - PARA UM RECÉM- NASCIDO ALIMENTADO EXCLUSIVAMENTE COM MAMADEIRA SERÁ NECESSÁRIA MAIS DE UMA LATA POR SEMANA. DEVE-SE LEMBRAR À MÃE QUE O LEITE MATERNO NÃO É SOMENTE O MELHOR, MAS TAMBÉM O MAIS ECONÔMICO ALIMENTO PARA O BEBÊ. CASO VENHA A SER TOMADA A DECISÃO DE INTRODUZIR A ALIMENTAÇÃO POR MAMADEIRA É IMPORTANTE QUE SEJAM FORNECIDAS AS INSTRUÇÕES SOBRE OS MÉTODOS CORRETOS DE PREPARO COM HIGIENE, RESSALTANDO-SE QUE O USO DE MAMADEIRA E ÁGUA NÃO FERVIDAS E DILUIÇÃO INCOR- RETA PODEM CAUSAR DOENÇAS. OMS - CÓDIGO INTERNACIONAL DE COMERCIALIZAÇÃO DE SUBSTITUTOS DO LEITE MATERNO. WHA 34:22, MAIO DE 1981. PORTARIA Nº. 2051, DE 08 DE NOVEMBRO DE 2001. MS. Publicações científicas inéditas, incentivo à pesquisa, apoio às universidades, o Curso Nestlé de Atualização em Pediatria, apoio estrutural a eventos e o Site Nestlé Nutrição Infantil constituem alguns dos serviços que Nestlé Nutrição Infantil oferece aos Profissionais de Saúde voltados à Pediatria visando colaborar na sua formação e atualização. Uma Equipe de Representantes bem treinada e diferenciada para contatos com Pediatras e Nutricionistas nas mais diversas regiões do País e o Serviço de Atendimento ao Profissional de Saúde, por meio do telefone 0800-7701599, também colocam à disposição informações e serviços que auxiliem o seu dia-a-dia. Produtos nutritivos e seguros para nutrição infantil, resultado de diversas e extensas pesquisas, e a forma ética de atuação também marcam a trajetória da Nestlé no Brasil desde a década de 20, culminando na definição de seu relacionamento com os Pediatras e Nutricionistas em uma verdadeira relação de confiança. A mais completa linha de serviços e produtos para nutrição infantil. 3 de nutrição em pediatria temas Edição Especial - Ano 2001 Publicação elaborada pelo Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Pediatria P at ro cín io 4 trabalho do Departamento Científico de Nutrição, sob a coordenação do Prof. Fernando José Nóbrega, permitiu que a Sociedade Brasileira de Pediatria desenvolvesse esta revista, de grande utilidade para o pediatra e para todos aqueles que trabalham com o estado nutricional das crianças em nosso País. A temática escolhida engloba aspectos fundamentais da alimentação infantil, como o papel do ferro, a anemia ferropriva e as hipovitaminoses. Aborda também a questão da fortificação dos alimentos, assunto hoje de grande discussão em toda a sociedade. A publicação também enfoca, de uma maneira objetiva e prática, a avaliação da condição nutricional, bem como o débito de estatura de causa nutricional e a obesidade, temas sempre presentes no atendimento a nossos pequenos pacientes e a adolescentes. A questão da desnutrição no paciente HIV, a abordagem da criança desnutrida nas zonas urbanas e a intervenção nutricional no recém-nascido de baixo peso, com enfoque nas unidades básicas de saúde, são temas que enriquecem ainda mais este material, elaborado por profissionais do maior valor, e que encerra o seu conteúdo abordando aspectos de prevenção, prevenção esta que deve se constituir na maior preocupação de todo profissional que trabalha com a saúde da população brasileira. Os nossos cumprimentos a todo o Departamento de Nutrição por esta excelente obra e pela grande contribuição que tem dado à SBP. E aos pediatras, a certeza de que muito aproveitarão do conteúdo desta revista. Um grande abraço, Lincoln Marcelo Silveira Freire Presidente da SBP O Prezado(a) Colega: 5 Departamento de Nutrição (DN) da SBP, patrocinado por Nestlé Brasil Ltda, tem duas reuniões anuais, quando são discutidos temas de relevância na área de Nutrição, de interesse do pediatra. Estamos seguindo uma forma de trabalho que propicia atuação ampla, em pouco tempo. A técnica resume-se em convidar especialista na área que será abordada e solicitar que apresente um relatório sobre o tema em pauta. Os componentes do DN recebem o documento com antecedência, levantam suas dúvidas e sugestões e as apresentam por ocasião da discussão dos temas. O relator responde às dúvidas e os componentes do grupo discutem e aprovam, ou não, os relatórios e/ou sugestões. Resulta, portanto, um documento final com a participação efetiva de todos os membros. A Nestlé aceitou a sugestão de publicar os temas que foram aprovados, nas duas reuniões anuais, o que corresponde a duas publicações/ano. Na primeira reunião o presidente sugeriu e foram aprovadas as atuações do DN, apresentadas abaixo: • Atendimento ao Pediatra • Atendimento à SBP • Atuação em conjunto com os Ministérios • Atuação atendendo às Secretarias de Saúde (Estados e Municípios) • Participação em Eventos Nacionais e/ou Regionais • Participação com as Regionais no sentido da criação e desenvolvimento de Departamentos de Nutrição. Quanto ao item Atendimento ao Pediatra foram identificados e selecionados os temas que constam desta publicação: VOLUME 1 • O Papel do Ferro na Alimentação Infantil • Proposta de Atuação no Combate à Anemia Ferropriva na Comunidade • Proposta de Atuação no Combate à Hipovitaminose A na Comunidade • Fortificação de Alimentos e suas Implicações VOLUME 2 • Avaliação da Condição Nutricional • Déficit de Estatura de Causa Nutricional • Obesidade VOLUME 3 • Acompanhamento Ambulatorial de Crianças Desnutridas Portadoras do HIV • Atenção à Criança Desnutrida em Áreas Urbanas • Intervenção Nutricional no Recém-Nascido de Baixo Peso em Unidade Básica de Saúde VOLUME 4 • Prevenção na Infância e na Adolescência das Doenças do Adulto • Prevenção na Infância e na Adolescência das Doenças do Adulto - Osteoporose e Neoplasias • Uso de Flúor na Infância Em relação ao Atendimento às Solicitações Técnicas da SBP, o Departamento de Nutrição encaminhará à Diretoria os pareceres para eventuais publicações nos órgãos de divulgação (Jornal de Pediatria, Boletins, imprensa leiga, entre outros). O Departamento de Nutrição propôs, ainda, atuação em conjunto com os ministérios, sugerindo discussão sobre os temas que seguem: • Projeto de Atenção à Criança Desnutrida, em Áreas Urbanas • Alimentos Infantis • Anemia Ferropriva • Suplementação de Vitamina A Nosso grupo poderá atender, também, às Secretarias de Saúde (Estados e Municípios). Foram sugeridas as seguintes ações: Escolha de seis Estados onde a prevalência de Desnutrição, Anemia Ferropriva e Hipovitaminose A seja grande. Oferecimento de assessoria nestes campos, visando a prevenção e o tratamento das situações acima mencionadas. O Departamento de Nutrição participará de eventos nacionais e/ou regionais elaborando relação de temas de interesse, no campo da nutrição, bem como, estimulando e participando da criação e desenvolvimento de Departamentos de Nutrição das filiadas. Ao divulgaresta introdução não poderia deixar de agradecer à Nestlé Brasil Ltda. pela sua participação na publicação e divulgação desses temas que, acreditamos, serão úteis ao pediatra brasileiro. Prof. Dr. Fernando José de Nóbrega Presidente do Departamento de Nutrição da SBP O 6 Presidente: Lincoln Marcelo Silveira Freire 1º Vice-Presidente: Claudio Leone 2º Vice-Presidente: Luciana Rodrigues Silva Secretário Geral: Ricardo do Rêgo Barros 1ª Secretária: Wânia Mara Del Fávero Góes da Cruz 2º Secretário: Evandro Alves do Prado 3º Secretário: Fernando A. Santos Werneck Côrtes 1ª Tesoureira: Blanca Elena Rios Gomes Bica 2º Tesoureiro: Milton Genes 3ª Tesoureira: Ana Maria Seguro Meyge Assessoria da Presidência: Edward Tonelli José Sabino de Oliveira Nelson de Carvalho Assis Barros Assessor Admin. da Presidência: José Orleans da Costa Diretor de Cursos e Eventos: Dirceu Solé Diretor Geral dos Deptos. Científicos: Nelson Augusto Rosário Filho Diretor de Publicações: Renato Soibelmann Procianoy Diretor de Patrimônio: Eduardo da Silva Vaz Diretor do Curso de Reanimação Neonatal: Alzira Helena Gomes Lobo Editor do Jornal de Pediatria: Jefferson Pedro Piva Diretor do Curso de Reanimação Pediátrica: Paulo Roberto A. Carvalho (coord.) Diretor de Promoção Social da Criança e do Adolescente: João de Melo Régis Filho Diretora de Benefícios: Sara Lopes Valentin Coordenador dos Serões: Edmar Azambuja Salles Centro de Informações Científicas: Olga Penalva V. da Silva (coord.) Centro de Treinamento em Serviços: Eduardo da Silva Carvalho (coord.) DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO NÚCLEO GERENCIAL Presidente Fernando José de Nóbrega (SP) Vice-Presidente Cristina Maria Gomes do Monte (CE) Secretário Domingos Palma (SP) CONSELHO CIENTÍFICO Ary Lopes Cardoso (SP) Alfredo Floro Cantalice Neto (RS) Helenice de Fátima Muniz (ES) Hélio Fernandes da Rocha (RJ) Maria Marlene de Souza Pires (SC) Rosa de Fátima da Silva Vieira Marques (PA) Suzana de Souza Queiroz (SP) Virgínia Resende Silva Weffort (MG) Sociedade Brasileira de Pediatria Rua Santa Clara, 292 - Copacabana - Rio de Janeiro - RJ CEP. 22041-010 Tel.: (021) 548-1999 e-mail: sbp@sbp.com.br Departamento de Nutrição / SBP Rua Traipu, 1251 - Perdizes São Paulo - SP - CEP. 01235-000 - Tel.: (011) 3107-6710 / 3872-1804 e-mail: fjnobrega@sti.com.br - Fax: (011) 3872-1001 Diretor do PRONAP: João Coriolano Rêgo Barros Diretora de Defesa Profissional: Eliane de Souza Diretor de Projetos Especiais: selo Qualidade/Captação de Recursos Mário Santoro Diretor do CEXTEP: Hélcio Vilaça Simões Diretoria de Intercâmbio Internacional: Conceição A. de Mattos Ségre Navantino Alves Filho Diretor do GECHP: José Hugo Lins Pessoa Diretor de Relações Conesul: Pedro Celiny Ramos Garcia Conselho Fiscal: Maria Yeda Siso de Oliveira Fernando José de Nóbrega Reinaldo de Menezes Martins Comissão de Sindicância: Eliane Buarque de Freitas Machado Plínio José Cavalcanti Monteiro Maurício Dias Cardoso Nilzete Liberato Bresolin Armando José Franco Teixeira MEMBROS PARTICIPANTES Claudio Leone (SP) Eneide Quadro de Oliveira Veiga (RJ) Fábio Ancona Lopez (SP) Fátima Maria Doherty (PE) Fernanda Luisa Ceragiolli Oliveira (SP) Hugo da Costa Ribeiro Junior (BA) João Albuquerque Rocha (PE) Luiz Anderson Lopes (SP) Maria Arlete Meil Schmith Escrivão (SP) Mauro Sérgio Toporovski (SP) Naylor Alves Lopes de Oliveira (RJ) Roseli Saccardo Sarni (SP) DIRETORIA - SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (1998-2000) 7 de nutrição em pediatria temas Volume 1 - Ano 2001 Publicação elaborada pelo Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Pediatria P at ro cín io 8 1. INTRODUÇÃO Os sais minerais são fundamentais para o metabolismo humano, desempenhando funções essenciais para a vida. Podem ser classificados em macroelementos, cujas necessidades do organismo são relativamente elevadas como cálcio, cloro, magnésio, fósforo, sódio, entre outros e oligoelementos, cujas necessidades diárias são pequenas, como cobalto, cobre, iodo, flúor, molibdênio, selênio, cromo, ferro, entre outros, sem significar, entretanto, que suas funções sejam menos importantes para o organismo. O ferro é um dos oligoelementos mais estudados e o seu papel para o homem já é conhecido de longa data, diferentemente de outros, cujos conhecimentos, sobre a importância para a nutrição animal, são bastante recentes. Sabe-se que o conteúdo corpóreo de ferro é de 3 a 5g, sendo que parte (70 | | 80%) desempenha funções metabólicas e oxidativas (hemoproteínas) e outra (20 | | 30%) encontra-se armazenada, sob a forma de ferritina e hemossiderina, no fígado, baço e medula. Í N D I C E O Papel do Ferro na Alimentação Infantil pág 8 Proposta de Atuação no Combate à Anemia Ferropriva na Comunidade pág 13 Proposta de Atuação no Combate à Hipovitaminose A na Comunidade pág 18 Fortificação de Alimentos e Suas Implicações pág 22 2. O FERRO E DESENVOLVIMENTO NEUROLÓGICO A fase rápida do crescimento cerebral ocorre nos dois primeiros anos de vida. Desta forma, entre a 20ª semana de gestação e os 24 meses de vida, as membranas do Sistema Nervoso Central são mais permeáveis ao ferro, sendo, portanto, o período mais crítico para a sua utilização. A falta desse elemento entre os 9 e os 12 meses, foi associada com escores baixos de QI, em crianças com 5 anos de vida. 3. REGULAÇÃO DO FERRO CORPORAL De modo geral, o teor de ferro do organismo é mantido dentro de determinados limites, a cada etapa da vida, e é suficiente para a sua adequada utilização. As perdas diárias do ferro chegam a 1 | | 2 mg/dia (urina, suor, descamação celular e fezes) e são compensadas pela absorção do ferro proveniente da dieta. Desta maneira, forma-se um sistema muito bem controlado, de reciclagem do ferro corporal. No intestino, a absorção pode ser modificada, conforme a condição das reservas do organismo: quando baixas, ocorre aumento considerável da sua absorção e, quando há excesso de ferro, ocorre inibição da absorção. A idade desempenha também papel importante, assim, crianças com cerca de 12 meses têm absorção 4 vezes maior do que outras de diferentes grupos etários. O papel do ferro na alimentação infantil Relatora: Suzana de Souza Queiroz 9 4. ABSORÇÃO A absorção do ferro no duodeno é dependente da natureza do complexo do ferro presente no lúmem intestinal, da presença de fatores favorecedores ou inibidores da dieta, além da condição fisiológica do indivíduo: FERRO HEME: é o ligado ao heme e deriva da hemoglobina, mioglobina e outras heme proteínas, presentes em alimentos de origem animal, como carnes em geral. Esta forma tem elevada absorção e não é influenciada por fatores inibidores. FERRO NÃO-HEME: presente principalmente em alimentos de origem vegetal como: feijões, soja, verduras de folhas verdes escuras. Encontra-se sob a forma de complexo férrico que, durante a digestão, é parcialmente reduzido à forma ferrosa, que é mais facilmente absorvida. A presença de ácido clorídrico e outras secreções como bile e bicarbonato, ao reduzirem o ferro, facilitam sua absorção. De modo geral, os agentes facilitadores e inibidores da absorção de ferro, presentes em uma dieta, podem ser assim relacionados: FACILITADORES: ácido ascórbico, carnes em geral (vaca, aves, peixes e miúdos), aminoácidos (histidina, lisina, cisteína), entre outros. As carnes apresentam valor nutricional muito significativo, desde que além de serem fontes de ferro-heme, de alta biodisponibilidade, promovem absorção de ferro não- heme do “pool” comum proveniente da dieta.Na escolha da carne que deve compor uma refeição, deve-se ressaltar o fato da absorção do ferro variar conforme o tipo: a carne bovina é a que apresenta melhor resposta. O preparo da carne também influencia a absorção do ferro, pois o tempo de cocção prolongado aumenta a quantidade de ferro não-heme, em decorrência do processo de desnaturação. Outros nutrientes também são assinalados como facilitadores: alguns ácidos, contidos principalmente nas frutas, como o cítrico e málico potencializam a ação do ácido ascórbico e de outros ácidos orgânicos como o succínico. Açúcares, como a frutose, têm também esta capacidade. 5. RECOMENDAÇÕES A preconização do Departamento de Nutrição da SBP, quanto à suplementação profilática de ferro, é a seguinte: 1. Recém-nascidos de termo, de peso adequado para a idade gestacional: • em aleitamento materno: a partir do 6º mês, ou a partir do início do desmame*, até o 24º mês de vida, receberão 1 mg de ferro elementar/kg peso/dia, ou dose semanal de 45 mg, exceto nas crianças com fórmulas infantis fortificadas com ferro. 2. Prematuros e recém-nascidos de baixo peso: • a partir do 30º dia de vida - ...2 mg/kg peso/dia, durante 2 meses. Após este prazo, mesmo esquema dos recém-nascidos de termo, de peso adequado para a idade gestacional. *nota: considera-se desmame a introdução de qualquer outro alimento em adição ao aleitamento materno. INIBIDORES: fitatos, fibras, sais de cálcio e fósforo, compostos fenólicos. Os fitatos, presentes nos cereais (aveia, farelos de trigo e arroz) e nos isolados protéicos de soja, podem ser considerados dos mais significativos inibidores de absorção do ferro, sendo este efeito já conhecido de longa data. As fibras, também presentes nos cereais, exercem importante efeito inibitório sobre a absorção do ferro não-heme. Os compostos fenólicos (flavanóides, ácidos fenólicos, polifenóis e taninos) também atuam como agentes inibidores na absorção do ferro, em função de formação de complexos ferrofenólicos, prejudicando a sua absorção. Os chás (preto e mate), café e alguns refrigerantes contém elevadas quantidades de taninos. Contrariamente ao que se imaginou por muito tempo, o ferro contido no ovo, apesar do seu alto teor, tem sua absorção prejudicada, em função do tipo de sua proteína. 10 Hemoglobina (Hb) Volume corpuscular médio (VCM) Ferro sérico Ferritina Capacidade de Ligação de Ferro (CLF) Protoporfirina Eritrocitária Livre (PEL) Depleção de estoques 1º estágio Depleção de Ferro sem anemia 2º estágio Depleção de Ferro com anemia 3º estágio normal normal Þ normal normal Þ Þ Þ Þnormal normal Þ Þ Þ Þ normal normal Þ Os níveis de hemoglobina utilizados para a caracterização da anemia variam conforme a idade. Desta forma, segundo critérios da OMS, considera-se: Faixa etária Concentração Hb 6 meses - 5 anos < 11 g/dl 6 - 14 anos < 12 g/dl gestantes < 11 g/dl A n e m i a f e r r o p r i v a 1. FATORES DE RISCO Apesar das amplas possibilidades de oferta adequada de ferro por fonte alimentar, a prevalência da anemia ferropriva em países em desenvolvimento tem se mostrado bastante alarmante, com registros de freqüências muito superiores às encontradas em países desenvolvidos, face a inúmeros fatores que se associam, favorecendo a carência. É claro que a incidência da anemia ocorrerá de forma maior, quanto mais necessária for a oferta de ferro. Assim se entende que o grupo infantil, especialmente aquele que apresenta crescimento mais rápido, e as gestantes, sejam os de maior risco. Entre os fatores de risco associados que favorecem a instalação da anemia, citamos: a injusta distribuição de renda, o baixo nível socioeconômico, o abandono do aleitamento materno sem suplementação de ferro, a desnutrição energético-protéica, as infecções freqüentes, a alta morbidade, dietas pobres em oferta de ferro, o fraco vínculo mãe-filho, a carência de saneamento básico, a prematuridade e a desnutrição intra-uterina. Durante o período gestacional o feto recebe do organismo materno quantidade de ferro relativamente constante, que é estocado no fígado, principalmente no último trimestre de gestação. Esta reserva, formada no período intra-uterino, mais a oferta de ferro proveniente do leite materno, garantirão aporte suficiente até, aproximadamente, 04 a 06 meses. Neste período de vida, a principal fonte dietética de ferro é, realmente, o leite. Embora o leite de vaca, por si, não exerça efeito inibidor de grande importância sobre a absorção do “pool” ferro não heme, a absorção de seu ferro é pequena (10%), em comparação à do leite materno (49%). Desta forma, se o recém-nascido for prematuro ou de baixo peso (cujas reservas estarão prejudicadas) e se receber leite de vaca não fortificado com ferro logo ao nascer ou se não for suplementado com ferro, haverá grande chance de desenvolvimento de anemia. 2. DIAGNÓSTICO 2.1 Diagnóstico clínico Para o diagnóstico da anemia carencial ferropriva, deve-se estar atento a: • antecedentes (gestacional e parto); • anamnese alimentar; • sintomas (anorexia, apatia, irritabilidade, redução da capacidade de atenção, déficits psicomotores). 11 3. PREVENÇÃO A partir de 4 a 6 meses a criança é totalmente dependente da oferta dietética de ferro e que tem que ser suficiente para suprir a velocidade acelerada do crescimento. Neste período da vida torna-se importante a oferta diversificada dos alimentos, com priorização daqueles ricos em ferro. Baseados nos aspectos anteriormente assinalados, alguns cuidados podem ser tomados nas recomendações dietéticas infantis, e que resultarão em grande melhoria na biodisponibilidade do ferro, tais como: manutenção do aleitamento materno exclusivo até o 4º - 6º mês de vida; introdução de nutrientes que contenham agentes facilitadores, como derivados heme (carnes em geral), suco de laranja e frutas; por outro lado, deve-se evitar a oferta de chás e refrigerantes durante as refeições. O ideal é que as carnes sejam cozidas e não fritas, com aproveitamento do caldo da cocção. Deve-se lembrar que a prescrição de alimentos enriquecidos com ferro (fórmulas infantis, cereais, entre outros) deve ser recomendada, sempre que for possível. Fica evidente que pré-natal adequado, de maneira a prevenir recém-nascidos de baixo peso e/ou prematuros; a manutenção do aleitamento materno e a suplementação medicamentosa, no momento adequado, são fatores que contribuem para a prevenção da anemia. Além disso, a escolha correta dos alimentos de desmame de maneira a propiciar dieta diversificada, balanceada e, consequentemente, com alta biodisponibilidade de ferro, acrescidos da introdução de alimentos enriquecidos com ferro, já a partir do desmame, tornam-se também importantes na prevenção da anemia carencial ferropriva. 3. TRATAMENTO O tratamento de escolha consiste na administração oral de sais ferrosos (sulfato, fumarato, gluconato, citrato etc.). Transfusões de sangue somente são indicadas em casos extremamente graves. O tempo de administração de sal de ferro depende da gravidade da anemia. Uma vez corrigida a concentração da hemoglobina é recomendável manter a medição por mais dois a três meses, para repor os estoques de ferro no organismo. A dose diária de ferro recomendada é de 3 a 5 mg/kg/dia. A absorção do ferro é favorecida quando a droga é administrada com o estômago vazio ou no intervalo das refeições. A ingestão concomitante de vitamina C aumenta a sua absorção, pois mantém o ferro em forma mais reduzida e mais solúvel, como já mencionado. 12 Bibliografia consultada Aukett, M.A.; Parks, Y.A.;Scott, P.H.; Wharton, B.A. Treatment with iron increases weight gain and psychomotor development. Arch. Dis. Child. 61: 1986; 849-59. Cook, J.D.; Morck, T.A.; Linch, S.R. The inibitory effect of soy products on nonheme iron absorption in man. Am. J. Clin. Nutr. 34: 1981; 2622-9. Czajka-Marins, D.M.; Haddy, T.B.; Kallen, D.J. Nutrition and social correlates in iron deficiency anemia. Am. J. Clin. Nutr. 31: 1978; 955-60. Dalman, P.R. 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Jaines, J.; Evans, J.; Male, P.; Pallister, C.; Hendrikz, J.K.; Oakhlll, A. Iron deficiency in inner city pre-school children: development of a general practice screening programme. J. R. Coll. Gen. Pract., 38: 1988; 250-2. Katzinan, R.; Novack, A.; Pearson, H. Nutritional anemia in an inner- city community. JAMA, 222: 1972; 670-3. Lanzkowsky, P. Metabolismo do ferro e anemia por deficiência de ferro. In: Miller, D.; Pearson, M.A. Baehner, R.L.; McMillan, C.W. Hematologia Pediátrica. Rio de Janeiro, Guanabara-Kogan, 1982; pp. 97-156. Marder, A.; Nicoll, A.; Polnay, L.; Shulman, C.E. Discovering anaemia at child health clinics. Arch. Dis. Child. 65: 1990; 892-4. Mills, A.F. Surveillance for anemia: risk factors in patterns of milk intake. Arch. Dis. Child. 65: 1990; 428-31. Monsen, E.R.; Hallberg, L.; Layrisse, M.; Heagsted, D.M.; Cook, J.D.; Mertz, W.; Finch, C.A. Estimation of available dietary iron. Am. J. Clin. Nutr., 31: 1978;134-41. Monteiro C.A. & Szaarfarc, S.C. 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A terapêutica com doses profiláticas de sulfato ferroso, como medida de intervenção no combate a anemia carencial ferropriva, em crianças de duas Uni- dades de Saúde do Município de São Paulo. Rev. Saúde Publ. 28: 1994; 410-5. Torres, M.A.A.; Sato, K.; Lobo, N.F.; Souza Queiroz, S. Efeito do uso do leite fortificado com ferro e vitamina C sobre os níveis de he- moglobina e condição nutricional de crianças menores de 2 anos. Rev. Saúde Pública. 1995; 29(1): 301-7. 13 Relatora: Suzana de Souza Queiroz Proposta de atuação no combate à anemia ferropriva na comunidade 1. INTRODUÇÃO A anemia ferropriva (AF) e a hipovitaminose A (HV-A) podem ser consideradas dois grandes problemas de Saúde Pública no mundo, principalmente nos países em desenvolvimento. A OMS estima que cerca de 02 bilhões de pessoas apresentam-se com algum grau de deficiência de ferro, podendo, portanto, tornarem-se anêmicas a qualquer momento. Realmente é difícil de entender esta situação mundial, desde que as necessidades diárias de micronutrientes são pequenas. Além disso, o ferro apresenta-se em vários alimentos tanto nos de origem animal (carnes, ovos, leite) como nos de origem vegetal (verduras de folhas verdes escuras, soja e feijões), embora de baixa biodisponibilidade. Entretanto, as frutas cítricas auxiliam, de maneira importante, a absorção do ferro de origem vegetal. As recomendações de ingestão diária de ferro podem variar dependendo do momento de vida ou de situações como gestação e lactação, cujas necessidades estão aumentadas (anexo 1). Considerando-se uma absorção do sal de ferro de 10%, as necessidades diárias de um lactente chegam a 10mg. Portanto, a oferta diária de alimentos corretos e balanceados poderia suprir as necessidades do organismo. Entretanto, a situação referida no mundo aponta vários fatores responsáveis pela gênese da AF como: dietas inadequadas, problemas na absorção, no transporte e no metabolismo. Outro fator muito importante no desencadeamento destas deficiências é o aumento das necessidades como em períodos de rápido crescimento, gestação e lactação. Além destes fatos, no caso da anemia, a deficiência de ferro também pode ser desencadeada por maiores perdas, como em caso de sangramentos. Além disso, nos países em desenvolvimento, vários outros fatores se associam à gênese da AF, como falta de saneamento, desnutrição, baixo peso ao nascer, prematuridade, infecções, alta morbidade na infância, fatores estes sempre associados ao baixo nível sócio-econômico. O diagnóstico da AF pode ser realizado por meio de inquéritos dietéticos, sinais clínicos e exames laboratoriais como detecção do ferro sérico, ferritina, saturação da transferrina, entre outros. Entretanto, sob o ponto de vista de saúde pública, a avaliação da hemoglobina é considerada, pela OMS, suficiente para caracterização da anemia em populações (anexos 2 e 3). No Brasil, vários trabalhos de detecção de prevalências de AF têm apontado uma situação bastante preocupante em praticamente todas as regiões do país. Em trabalho de revisão de literatura, Sczarfac et al evidenciaram os principais resultados de levantamentos diagnósticos no país, no transcorrer dos últimos anos, em lactentes e pré escolares. Estes dados, somados aos levantamentos de anemia, realizados pelo Grupo de 14 Pesquisa do Núcleo de Nutrição do CRSMNADI, da Secretaria da Saúde, em crianças de 06 a 24meses, usuárias das Unidades Básicas de Saúde do Estado de São Paulo, apontam que as prevalências têm aumentado nos últimos anos e que os índices são alarmantes em qualquer que seja a região estudada, desde Norte, Nordeste, até o Rio Grande do Sul que é o Estado que melhor se apresenta em relação aos índices de Saúde. O Estado de São Paulo pode ser considerado o espelho do restante do país, em função de sua característica migratória. Nosso Grupo de Pesquisa pôde observar, em dois levantamentos diagnósticos desenvolvidos no Estado de São Paulo(1991/92; 1994/5), onde foram estudadas 2.993 e 4.000 crianças de 06 a 24 meses, que as prevalências de crianças anêmicas alcançaram níveis de 59% e 57%, respectivamente, sendo que 25% e 23% eram anêmicas de menor gravidade (Hb menor que 9,5 g/ dl). Resultados não menos preocupantes foram detectados por diversos pesquisadores em escolares, em várias regiões do país. As conseqüências da AF para o organismo, principalmente em crescimento, são inúmeras, podendo em suas formas mais graves, levar à falência cardíaca e morte. Como o ferro faz parte da hemoglobina, suadeficiência compromete a adequada oxigenação de todos os órgãos, acarretando retardo no crescimento e no desenvolvimento, distúrbios neuropsicológicos e déficits de atenção. Como efeitos adversos ao nascer são esperados maiores índices de prematuridade, de baixo peso ao nascer e de mortalidade fetal. Em adultos freqüentemente são referidas reduções nas capacidades física e de trabalho. As opções para a minimização deste grave problema são muitas e a um custo baixíssimo, evitando-se, desta forma, esta situação injustificável. De modo geral, as práticas adotadas por diversos países para o aumento do consumo de micronutrientes abrangem a suplementação medicamentosa, aumento de alimentos ricos em ferro e a fortificação de alimentos. 2. AÇÕES 2.1. Levantamentos Diagnósticos Os levantamentos diagnósticos prévios são bastante desejáveis, pois propiciam o conhecimento da situação inicial, permitem o acompanhamento da população alvo, bem como a avaliação e o controle da intervenção realizada. Normalmente, a dosagem da hemoglobina é suficiente para um bom diagnóstico da situação. A Organização Mundial de Saúde propõe, para caracterização da anemia, pontos de corte, para faixas etárias e grupos populacionais (anexo 3). 2.2. Conscientização da População e dos Profissionais de Saúde Os resultados do levantamento diagnóstico podem ser bem utilizados na conscientização, tanto dos profissionais de saúde (em relação à magnitude, gravidade da situação encontrada, necessidade de colaboração, etc.), quanto da população (informações sobre as causas e conseqüências da carência de ferro na saúde do grupo a ser trabalhado). 2.3. Medidas Preventivas 2.3.1. Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS): Na tentativa de se evitar que, por volta dos 4 aos 6 meses de vida, a criança já venha a se tornar anêmica, algumas medidas são desejáveis como: Pré- Natal: é sempre desejável um bom acompanhamento de pré-natal, onde deverão estar incluídas as seguintes ações: Educação Nutricional; Incentivo ao Aleitamento Materno; Avaliação da Condição Nutricional da Gestante; Incentivo ao Parto Normal; Profilaxia medicamentosa: vários esquemas são propostos para preconização de ferro profilático durante a gestação: o Ministério da Saúde preconiza 40 mg de ferro elementar, por meio do sulfato ferroso, a partir da comprovação da gravidez. Entretanto, outras experiências, como da Escola de Saúde Pública- USP também têm tido resultados muito efetivos como a medicação semanal de 120mg de ferro elementar, na forma do sulfato ferroso, por semana. 15 Parto: Alojamento conjunto; Redução do número de cesarianas; Estímulo ao aleitamento materno Puerpério: Retorno à U.B.S. com no máximo 07 dias de vida, quando deverão ser introduzidas as seguintes atividades: Mãe: Prolongamento da profilaxia medicamentosa com ferro Orientação para a manutenção do aleitamento materno até o 4° ou 6° mês de vida Criança: Desenvolvimento das Ações Básicas de Saúde: acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento, controle das doenças respiratórias e diarréicas, incentivo ao aleitamento materno, vacinações. Lactente e Pré-escolar: Desenvolvimento das Ações Básicas de Saúde: controle das doenças respiratórias e diarréicas; incentivo ao aleitamento materno; acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento; aleitamento materno exclusivo até o 4º- 6º mês de vida, vacinações; Preconização de alimentos ricos em ferro, por ocasião do desmame (anexo 4); Introdução do Esquema Profilático de Suplementação Medicamentosa (anexo 5); 2.4. MEDIDAS DE INTERVENÇÃO 2.4.1. Profilaxia Medicamentosa A profilaxia medicamentosa com sulfato ferroso é uma das medidas de intervenção propostas para o combate à anemia, tanto individual, quanto coletivamente. As dosagens são preconizadas a partir do ferro elementar existente no sal - o sulfato ferroso contém 20% de ferro elementar. Formas de administração: Atuando-se em coletividades como creches, pré-escolas, etc, recomenda-se a dosagem de 10 gotas/dia de sulfato ferroso (12mg/dia de ferro elementar) para todas as crianças, independente do peso e faixa etária. Existem outras propostas de profilaxia medicamentosa já testadas e com bons resultados, a saber: • administração semanal de 45 mg de ferro elementar uma vez por semana, a partir dos 6° mês de vida (ou do desmame) até os 2 anos. • administração através da água de creches, escolas, etc. Para este tipo de intervenção acrescenta-se 20 mg de ferro elementar em cada litro de água existente no filtro utilizado pela instituição. A criança ingere à vontade. 2.4.2. Alimentos Fortificados 2.4.2.1. Alimentos fortificados no local (creche, pré-escola ou escola) O ferro-amino-ácido-quelato pode ser oferecido por meio de um “mix”, preparado por indústrias farmacêuticas e que deve ser acrescentado ao leite oferecido na merenda diariamente. A quantidade recomendada é de 9mg de ferro elementar e 2.000 U.I. de vitamina A por litro, se nenhum outro alimento fortificado estiver sendo oferecido no local. Com estas quantidades, o ideal é associar um aromatizante “sabor leite”. A quantidade de 6 mg de ferro elementar por litro também tem sido utilizada com bons resultados, principalmente se outros produtos fortificados estiverem sendo oferecidos e, nesta dosagem, não há necessidade de ser acrescentado o aromatizante, o que permite que possa ser utilizado, também, em outros produtos como sucos. 2.4.2.2. Alimentos fortificados industrializados Pode-se também optar pela utilização de alimentos fortificados já disponíveis no mercado. O rol de produtos deve alcançar um teor próximo ao recomendável para as faixas etárias. As indústrias já dispõem de vários produtos fortificados como: leite, cereais, bolachas, iogurtes, bolos macarrão, entre outros. Dependendo da prevalência de anemia encontrada no local onde irá ser estabelecido o programa, deve-se escolher uma ou mais propostas apresentadas. Nesta escolha deverão ser ponderadas algumas questões, como: • medicação semanal: deve-se dispor de pessoal bem treinado e motivado a executar o procedimento semanalmente; 16 • sulfato ferroso na talha de água: deve haver um controle muito bem feito da quantidade adicionada diariamente na talha. Além disso, este procedimento é mais adequado para crianças maiores de dois anos; • adição do “mix” ao leite ou suco oferecido na creche: deve-se dispor de pessoal motivado e bem treinado para executar o procedimento diariamente. 2.4.3. Tratamento da Anemia Caso seja detectada a anemia ferropriva em acompanhamento individual, por meio de história alimentar, sinais clínicos, (palidez, falta de apetite, cansaço e retardo no crescimento e no desenvolvimento) e exames laboratoriais (anexos 2 e 3), o tratamento de escolha consiste na administração oral de sais ferrosos (sulfato, fumarato, gluconato, succinato, citrato, etc.). Transfusões de sangue somente são indicadas em casos extremamente graves (com hemoglobinas inferiores a 3,0 g/dl, ressaltando-se situações especiais com repercussões hemodinâmicas ou doenças de base). A velocidade de atividade eritropoiética com o início da administração do ferro está diretamente relacionada com a gravidade da anemia: o incremento da hemoglobina é inversamente proporcional à sua concentração inicial. A absorção do íon ferro é muito maior nas primeiras semanas de tratamento. Estima-se uma absorção de 14% do ferro ingerido durante a primeira semana de tratamento, 7% após 3 semanas e 2% após 4 meses. O primeiro mês de terapia é fundamental para o sucesso do tratamento. Uma resposta positiva ao tratamento pode ser medida com o incremento diário de 0,1 g/dl na concentração da hemoglobina, a partir do quarto dia. O tempo de administração de sal de ferro depende da gravidade da anemia. Uma vezcorrigida a concentração da hemoglobina é recomendável manter a medicação por mais dois a três meses, para repor os estoques de ferro no organismo. A dose diária de ferro recomendada é de 3 a 5 mg/kg/dia. A absorção do ferro é favorecida quando a droga é administrada com o estômago vazio ou no intervalo das refeições. A ingestão concomitante de vitamina C aumenta a sua absorção, pois mantém o ferro em forma mais reduzida e mais solúvel. ANEXO 1 RECOMENDAÇÕES DIETÉTICAS (RDA, 1989) • 6 meses a 3 anos 10 mg/dia • adolescentes masculinos 12 mg/dia • adolescentes femininos 15 mg/dia • adultos masculinos 10 mg/dia • adultos femininos 15 mg/dia • femininos após cessar perdas menstruais 10 mg/dia • nutrizes 15 mg/dia • gestantes 30 mg/dia ANEXO 2 DIAGNÓSTICO CLÍNICO • antecedentes gestacionais, parto • anamnese alimentar • sintomas DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ESTÁGIOS DE DEFIC IÊNCIA DE FERRO Hemoglobina (Hb) Volume corpuscular médio (VCM) Ferro sérico Ferritina Capacidade de Ligação de Ferro (CLF) Protoporfirina Eritrocitária Livre (PEL) Depleção de estoques 1º estágio Depleção de Ferro sem anemia 2º estágio Depleção de Ferro com anemia 3º estágio normal normal Þ normal normal Þ Þ Þ Þnormal normal Þ Þ Þ Þ normal normal Þ 17 ovo (3,1) soja (8,8) far. de soja (9,1) ALIMENTOS BAIXA MÉDIA ELEVADA feijão (3,3 H10,2) lentilha (8,6) espinafre (3,0) aveia (0,6) milho (0,5) arroz integral (2,0) abacate (0,7) banana (0,6 H2,25) maçã (0,3) morango (0,9) pêra (0,3) uva (0,3 H0,7) couve (2,2) couve-flor (0,7) batata (1,0) far. de trigo (3,3) far. de milho (0,9) manga (0,7) abacaxi (0,5) carnes em geral vaca (2,1 H2,7) frango(1,6 H1,9) peixes (0,5 H1,3) beterraba (2,5) brócolis (15,0) abóbora (0,7) laranja (0,2) suco de limão (0,6) Frutas Cereais Vegetais Fontes Protéicas ( ) Teor em ferro (Franco, G., 1992) * De Angelis & Ctenas, 1993 ANEXO 3 ÂMBITO POPULACIONAL: DETECÇÃO DOS NÍVEIS DE HEMOGLOBINA NO DIAGNÓSTICO DA ANEMIA FERROPRIVA ANEXO 4 BIODISPONIBILIDADE* E TEOR EM FERRO (mg/100g) em alguns alimentos crus ANEXO 5 COMITÊ DE NUTRIÇÃO DA ACADEMIA AMERICANA DE PEDIATRIA RNT 1 mg/kg/dia RNPT e RNBP 2 mg/kg/dia DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA 1. Recém-nascidos de termo, de peso adequado para a idade gestacional: • em aleitamento materno: a partir do 6º mês, ou a partir do início do desmame, até o 24º mês de vida receberão 1 mg de ferro elementar/kg peso/ dia, ou dose semanal de 45 mg, exceto nas crianças com fórmulas infantis fortificadas com ferro. 2. Prematuros e recém-nascidos de baixo peso: • a partir do 30º dia de vida 2 mg/kg peso/dia, durante 2 meses. Após este prazo, mesmo esquema dos recém-nascidos de termo, de peso adequado para a idade gestacional. * nota: considera-se desmame a introdução de qualquer outro alimento em adição ao aleitamento materno. Faixa etária Concentração Hb 6 meses - 5 anos < 11 g/dl 6 - 14 anos < 12 g/dl Homens < 13 g/dl Mulheres < 12 g/dl Gestantes < 11 g/dl 18 1. INTRODUÇÃO A hipovitaminose A (HV-A) pode ser considerada um grande problema de Saúde Pública no mundo, principalmente nos países em desenvolvimento. A OMS calcula 05 a 10 milhões de crianças por ano apresentando-se com manifestações clínicas e com deficiência sub-clínica e 124 milhões de crianças menores de 05 anos com risco de deficiência de vitamina A, podendo resultar entre 250.000 a 500.000 novos casos de cegueira irreversível a cada ano. Entretanto, a vitamina A apresenta-se em vários alimentos, tanto nos de origem animal (carnes, ovos, leite e derivados) como nos alimentos de origem vegetal como verduras de folhas verdes escuras que contêm os carotenóides (pró-vitamina A). As hortaliças e as frutas de cor amarelo- alaranjada são excelentes fontes de carotenóides. Para vitamina A, a recomendação diária para lactentes é da ordem de 370 ER; para crianças, de 400 a 700 ER; para adolescentes, de 800 a 1000 ER; para gestantes, 800 ER e lactantes, de 1200 a 1300 ER. Portanto, a oferta diária de alimentos corretos e balanceados poderia suprir as necessidades do organismo. Entretanto, a situação referida no mundo aponta vários fatores como responsáveis pela gênese da HV-A, como: dietas inadequadas, problemas na absorção, no transporte e no metabolismo. Outro fator muito importante no desencadeamento desta deficiência é o aumento das necessidades como em períodos de rápido crescimento, gestação e lactação. Além disso, nos países em desenvolvimento, vários outros fatores se associam à gênese da HV-A, como falta de saneamento, desnutrição, baixo peso ao nascer, infecções, alta morbidade na infância, fatores estes sempre associados ao baixo nível socioeconômico. De acordo com a OMS, a hipovitaminose A é definida como “a existência de reservas tissulares reduzidas e de níveis baixos de vitamina A no soro, que podem ser conseqüências de uma dieta deficiente prolongada e dar origem a graves lesões clínicas oculares”. O diagnóstico da HV-A também pode ser definido por inquéritos alimentares, exames clínicos e laboratoriais. Proposta de atuação no combate à hipovitaminose A na comunidade Relatora: Suzana de Souza Queiroz Os dados da literatura relacionados à hipovitaminose A demonstraram altas prevalências em praticamente em todas as regiões investigadas do país. No Nordeste, Santos et al constataram, por meio de suas pesquisas, bem como de levantamentos da literatura, dados indicativos de problema de saúde pública, em vários Estados do Nordeste. O mesmo foi detectado em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, o que indica que o problema extrapolou a rota considerada de pobreza, ou seja as regiões Norte e Nordeste. Como uma das principais funções da vitamina A é a sua atuação sobre a imunidade, bem como sobre a integridade dos epitélios, a sua deficiência acarreta maior morbimortalidade infantil, além dos problemas oculares conhecidos, que podem levar à cegueira irreversível. Não resta nenhuma dúvida que o país que se encontra sob esta circunstância arca com alto custo social e monetário. As opções para a minimização deste grave problema são muitas e a um custo baixíssimo, evitando-se, desta forma, esta situação injustificável. De modo geral, as práticas adotadas, por diversos países, para o aumento do aporte de micronutrientes abrangem a suplementação medicamentosa, o aumento da ingestão de alimentos ricos em vitamina A e a fortificação de alimentos. A fortificação de alimentos já é uma prática adotada por inúmeros países, há mais de 60 anos. Os sucessos alcançados por diversos países com a fortificação são inúmeros. Por exemplo, a Guatemala conseguiu reduzir as prevalências de HV-A após a utilização de açúcar fortificado. Face a interação do metabolismo da vitamina A e ferro, obteve-se também uma melhoria na deficiência de ferro. Muitos países da América Latina já incorporaram a tecnologia de fortificação e tornaram obrigatória a fortificação pelo menos em um alimento de hábito da população (os mais freqüentemente utilizados são farinha com ferro e açúcar com vitamina A). 19 2. AÇÕES 2.1. - Levantamentos diagnósticos Os levantamentos diagnósticos prévios são bastante desejáveis, pois propiciam o conhecimento da situação inicial, permitem o acompanhamento da população alvo, bem como a avaliação e o controle da intervenção realizada. O diagnóstico da hipovitaminose A pode ser feito por avaliações de: Indicador do Consumo Alimentar: pode ser realizado por meio de dois tipos de abordagem: método qualitativo, quecorresponde a avaliação criteriosa de informações sobre o consumo ou não de fontes alimentares de vitamina A e respectivas freqüências de ingestão, ou método semi-quantitativo que abrange uma avaliação criteriosa da quantidade, da qualidade e da freqüência do consumo alimentar da população estudada. Deve-se seguir três passos para a realização de métodos semi- quantitativos, segundo o IVACG: identificação dos alimentos fontes da vitamina existentes no local estudado; estimativa da quantidade (com base em medidas caseiras ou representações ilustradas de porções alimentares) e freqüência de ingestão, bem como elaboração de uma tabela de composição específica, que possa categorizar os alimentos de acordo com o valor da vitamina A (alto, médio e baixo). Desta forma, pode-se avaliar riscos (baixo, médio e alto) de populações, para a deficiência de Vitamina A e que, entretanto, isoladamente acrescentam muito pouco na avaliação, face à própria limitação do método. Atualmente existem softwares que auxiliam muito nesta questão; Sinais Clínicos: alterações cutâneas (xerose de pele, hiperqueratose folicular); xeroftalmia (comprometimento do fio lacrimal, xerose conjuntival, mancha de Bitot, xerose corneal, perfuração de córnea, ceratomalácia); Indicadores Histológicos: detectadas pela prova de CICO (Citologia de Impressão da Conjuntiva Ocular), que tem três variações, conforme o tipo de coleta, e consiste na retirada de uma camada de células da conjuntiva, com análise posterior das mesmas. Pela facilidade, esta técnica é bastante utilizada em trabalhos populacionais; Indicadores Fisiológicos: em função da cegueira noturna, podem ser realizadas provas relativamente simples que podem comprovar, em análises de populações, o comprometimento da visão, como a prova de Adaptação à Obscuridade, Tempo de Adaptação Rápida ao Escuro (RDAT) e Tempo de Restauração da Visão (VRT). O primeiro caso é o mais simples, desde que basta obter a resposta se o indivíduo tem a dificuldade em questão, entretanto, a dificuldade de comunicação e de expressão, principalmente com crianças, têm colocado de lado esta opção, preferindo a mensuração por meio de técnicas que vão desde as mais simples até as mais sofisticadas. O teste do VRT também não é indicado para < de 4 anos; Indicadores Bioquímicos: • Dose Resposta Relativa • Avaliação Sérica de Vitamina A (Retinol Sérico) • Avaliação da Proteína Transportadora do Retinol (RBP) A OMS definiu pontos de corte para caracterizar a HV-A como problema de Saúde Pública (em crianças acima de 01 ano), por meio de exames de retinol sérico: • Leve: dados inferiores a 20 (mcg/dl em mais de 10% da população; • Moderada: quando dados inferiores a 20 (mcg/dl atingirem mais que 10 até 20% da população ; • Grave: quando dados inferiores a 20 (mcg/dl atingirem mais de 20% da população. A OMS também definiu uma série de indicadores clínicos para as lesões oculares que caracterizam a deficiência de vitamina A como problema de Saúde Pública em crianças de 6-71 meses e que podem ou não estar associadas com os níveis baixos de retinol sérico: • Cegueira Noturna (XN): prevalência > 1.0% • Manchas de Bitot (X1B): prevalência >0.5% • Xerose Corneal / Ulceração / Ceratomalácea (X2; X3A; X3B): prevalência >0.01% • Escaras Correlatas (XS): prevalência >0.05% A situação ideal é que mais de um tipo de avaliação seja feita para caracterizar a deficiência de vitamina A em âmbito de Saúde Pública. Além disso, também torna-se interessante a detecção de risco, na tomada de decisões. 20 2.2. CONSCIENTIZAÇÃO DA POPULAÇÃO E DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE Os resultados dos levantamentos diagnósticos podem ser bem utilizados na conscientização, tanto dos profissionais de saúde (em relação à magnitude, gravidade da situação encontrada, necessidade de colaboração, etc.), como da população (informações sobre as causas e conseqüências da carência de vitamina A na saúde do grupo a ser trabalhado). 2.3. MEDIDAS PREVENTIVAS 2.3.1 Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS): Na tentativa de se evitar que, por volta dos 4 aos 6 meses de vida, a criança já venha a se tornar com deficiência de Vitamina A, algumas medidas são desejáveis como: Pré- Natal: é sempre desejável um bom acompanhamento de pré-natal, onde deverão estar incluídas as seguintes ações: • Educação Nutricional; • Incentivo ao Aleitamento Materno • Avaliação da Condição Nutricional da Gestante (Curva de Rosso) • Incentivo ao Parto Normal • Preconização de Consumo, dentro das recomendações, de Alimentos Ricos Em Vitamina A, ou Fortificados com Vitamina A Parto: • Alojamento conjunto; • Incentivo ao Parto Normal • Incentivo ao aleitamento materno Puerpério: O retorno à U.B.S. com no máximo 07 dias de vida, quando deverão ser introduzidas as seguintes atividades: Mãe: Monitoramento da alimentação da lactante: é de fundamental importância, não só para a saúde da lactante, mas também para a do lactente, que recebe a maior parte do suprimento de suas necessidades para a formação de reservas adequadas de retinol, neste momento da vida. Desta forma, quanto a este aspecto, o período de lactação é mais importante que o da gestação; Suplementação Medicamentosa: caso seja detectada como região de alto risco, preconiza-se vitamina A até 4 semanas após o parto. Criança: Desenvolvimento das Ações Básicas de Saúde: acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento, vacinações, incentivo ao aleitamento materno, controle das doenças respiratórias e diarréicas. Lactente e Pré-escolar: Ações Básicas de Saúde: acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento, vacinações, incentivo ao aleitamento materno até o 6º mês de vida ou pelo menos até o 4º, controle das doenças respiratórias e diarréicas; Por volta do 4º mês, a mãe deve receber orientação quanto aos alimentos para o desmame, com ênfase aos ricos em vitamina A; Esquema de profilaxia com suplementação medicamentosa de vitamina A, caso necessário. 2.4. MEDIDAS DE INTERVENÇÃO 2.4.1.Suplementação medicamentosa A suplementação medicamentosa com vitamina A é uma das medidas de intervenção proposta para o combate à deficiência, tanto individualmente, como coletivamente. As dosagens são preconizadas a partir do conhecimento da situação local, determinada pelos levantamentos diagnósticos. Formas de Administração: A suplementação medicamentosa é considerada uma estratégia quando é necessário tomar medidas urgentes e imediatas para proteger os grupos de risco de deficiência de vitamina A. Caso seja observado que a dieta da população alvo é deficiente e quando forem detectadas altas prevalências de hipovitaminose A, a OMS/ IVACG/UNICEF preconizam o seguinte esquema para a suplementação medicamentosa de Vitamina A: Todas as regiões (Esquema de Tratamento Individual): Deve-se conduzir o tratamento, em hospitais, clínicas pediátricas e salas de desnutridos. Casos de Xeroftalmia (03 doses); Sarampo (02 doses); DEP e Diarréia Crônica (01 dose). 1ª dose de 200.000 UI, no diagnóstico 2ª dose de 200.000 UI, no dia seguinte 3ª dose de 200.000 UI, 4 semanas mais tarde, sendo 1/2 dose (100.000 UI) para crianças de 6-12 meses, ou que pesam menos de 8 kg e 1/4 de dose (50.000 UI) para as crianças de 0-6 meses de idade. 21 Regiões de Alto Risco (Tratamento e Prevenção): Devem ser conduzidos em locais comunitários (creches, favelas) ou acopladas às campanhas de vacinação. A identificação das regiões de alto risco deve se feita por dados de prevalência, entretanto, se esta não for disponível, podem ser considerados os fatores de risco, a saber: desnutrição, zonas ecológicas, regiões áridas, campos de refugiados, grupos de baixa cobertura de programas e de vacinação.Crianças de 6-12 meses: 100.000 UI (1 dose a cada 4-6 meses) Crianças de 12- 72 meses: 200.000 UI (1 dose a cada 4-6 meses) Crianças menores de 6 meses e que são amamentadas devem receber 50.000 UI a cada 4-6 meses. 2.4.2. Alimentos fortificados Não resta dúvida que a fortificação de alimentos com vitamina A tem sido uma boa estratégia para a resolução deste grave problema, principalmente quando se deseja soluções mais à longo prazo, desde que a prática da suplementação medicamentosa é difícil de ser mantida por longos períodos. 2.4.2.1. No Local (Creche, Pré-escola ou Escola) A vitamina A pode ser oferecida por meio de um “mix”, que pode conter outros micronutrientes, preparado por indústrias farmacêuticas e que deve ser acrescentado ao leite ou sucos oferecidos na merenda diariamente. A quantidade recomendada é de 2.000 UI de vitamina A por litro. Conforme o teor de outros micronutrientes é desejável se acrescentar um aromatizante ao “mix”. 2.4.2.2. Alimentos Fortificados Industrializados Pode-se também optar pela utilização de alimentos fortificados já disponíveis no mercado. O rol de produtos deve alcançar um teor próximo ao recomendável para as faixas etárias. As indústrias já dispõem de vários produtos fortificados como: leite, cereais, margarinas, bolachas, bolos, macarrão, entre outros. Para o lactente, quando não for possível o aleitamento materno, recomenda-se as fórmulas infantis em substituição ao leite de vaca. Hoje, uma série de programas de Suplementação Alimentar optaram por contemplar a merenda com alimentos fortificados, para isto bastando acrescentar no Edital de Licitação as especificações desejadas quanto as quantidades de micronutrientes nos produtos selecionados. 22 1. INTRODUÇÃO O Brasil é um país que se apresenta com grandes problemas na área da Saúde. É evidente, muito bem sabemos, que este setor é bastante complexo, a princípio, pela própria dimensão do país. Entretanto, em algumas situações não podemos entender porque o país não avançou como deveria. Uma delas é a questão da fortificação de alimentos, como parte da resolução do problema das deficiências de micronutrientes. As altas necessidades de ferro de alguns grupos populacionais considerados de maior risco para o estabelecimento da anemia (crianças, lactantes, adolescentes e gestantes), associadas ao alto consumo de alimentos lácteos em crianças menores de dois anos, bem como alimentos de origem vegetal que, reconhecidamente apresentam- se com ferro de baixa biodisponibilidade e ainda uma série de outras variáveis como infestações parasitárias, em certas faixas etárias, abandono precoce do aleitamento materno, prematuridade e baixo peso ao nascer, acabam por tornar praticamente impossível alcançar os níveis desejáveis de ferro por meio da dieta habitual, principalmente nas populações vulneráveis anteriormente citadas. A decisão de acrescentar certas vitaminas e minerais a alimentos de consumo massivo, visando o combate de deficiências nutricionais em âmbito de Saúde Pública, é uma das estratégias utilizadas há muitas décadas, nos mais diferentes países, com excelentes resultados, desde que a fortificação não implica em modificações nos hábitos alimentares, assim como sua ingestão independe da adesão da população à proposta, diferentemente da profilaxia medicamentosa. Em 1931, os Estados Unidos introduziu seu programa de fortificação de alimento de maneira voluntária, com a introdução da niacina na farinha de trigo, em função de elevada incidência de pelagra na população. Posteriormente, em 1942, foi criada Fortificação de alimentos e suas implicações Relatora: Suzana de Souza Queiroz uma legislação que determinava a obrigatoriedade da fortificação de todos os cereais habitualmente consumidos e, em pouco tempo, conseguiu-se erradicar a pelagra neste país. Na década de 40, vários países Europeus (Inglaterra, Suécia, Finlândia, Suíça, Áustria e Portugal) já tinham adotado programas de fortificação de alimentos. Na América Central e Sul (Chile, El Salvador, Guatemala, Honduras, Panamá, entre outros) surgiram movimentos políticos que redundaram no estabelecimento da fortificação de alimentos, sendo que a maioria desses países optou pela fortificação compulsória da farinha de trigo com ferro, visando o combate à anemia carencial ferropriva. Entretanto, aqui, há anos discute-se esta questão, sem que resultados realmente efetivos tenham sido obtidos até hoje. Poderíamos indagar se este fato poderia ser decorrente do país apresentar-se com prevalência de anemia ferropriva insignificante. A resposta é não, pois nossos percentuais são vergonhosos, alcançando cifras de 50% a 60% em crianças menores de 02 anos, em praticamente todas as regiões do país. Se esta não é a questão, poder-se-ia supor que a fortificação, se ocorre para resolver problemas de populações que se apresentam com deficiências, comprometeria a outra parte que é sadia. Este é o assunto que gera mais polêmica, entretanto, sem necessidade, desde que as quantidades de micronutrientes adicionadas nos alimentos são tão pequenas que não comprometem em nada a população que é sadia. Além disso, não podemos nos esquecer que a anemia, quando detectada, corresponde à ponta do “iceberg”, ou seja os estoques destes nutrientes estão há muito tempo depletados, fato este que deve ocorrer com o restante da população não anêmica. Evidentemente que em algumas condições patológicas não é indicado nutrientes adicionais, 23 que poderiam agravar a situação. No caso do ferro, em alguns tipos de anemia, a ingestão deste nutriente deve ser muito bem controlada, como é o caso das anemias decorrentes de hemólises. Entretanto, vários trabalhos da literatura científica têm evidenciado que estes casos são próximos de 4 a 6% da população anêmica e, portanto, não seria justo que os 94 a 96% restantes fossem privados de melhores condições nutricionais, principalmente se for considerado que estes outros tipos de anemia exigem tratamento e controle médico, podendo ser preconizada a redução de ingestão de alimentos fortificados com ferro, se for o caso. Por outro lado, é muito mais difícil acompanhar caso a caso os 96% restantes. Segundo a “Codex Alimentarius Commmission” a fortificação de alimentos deve basear-se nos seguintes critérios: • nutriente deve estar presente em níveis abaixo da Dose Diária Recomendada, em dietas de um segmento substancial da população. • o alimento a ser fortificado deve ser consumido pela maior parte dos indivíduos do segmento necessitado da população. • a adição do nutriente específico não deve criar um desequilíbrio nutricional. • nutriente adicionado deve ser fisiologicamente disponível, de forma que seu valor nutricional seja mantido durante a vida de prateleira do produto. • Conseqüentemente, um excesso, dentro de certos limites, é permitido, para compensar as perdas durante o armazenamento. • deve haver uma certeza razoável de uma pessoa não ingerir quantidades excessivas, que possa ser prejudicial. Além destes aspectos, torna-se muito importante que o custo da fortificação seja razoável, sem que venha a redundar em custo adicional significativo para a população alvo. A relação entre o custo da fortificação e o custo final do produto é tanto maior quanto mais barato for o alimento a ser fortificado. Os que se posicionam contrários à fortificação acreditam que o controle da anemia pode ser factível de resolução por caminhos outros como suplementação medicamentosa e educação nutricional, diferentemente do bócio. Entretanto, vários trabalhos da literatura já apontaram o fato de, na suplementação medicamentosa,ocorrer baixíssima aderência da população, ou seja, no caso da criança, a mãe acaba não dando o medicamento. A educação nutricional, com certeza, deve estar associada a todas as propostas na área de nutrição, porém, como ação isolada, os resultados só são esperados à longo prazo. Outro aspecto apontado é que o país não conta com pesquisas suficientes que possam efetivamente respaldar esta opção, entretanto, o Brasil já dispõe de inúmeros trabalhos que comprovam a eficácia da fortificação de alimentos. No Estado de São Paulo alguns municípios já adotaram em seus programas de suplementação alimentar, a fortificação de alimentos que normalmente compõem a merenda de pré- escolares e escolares (leite, pão, leite de soja, suco de laranja, entre outros) e consideraram a fortificação como um dos meios mais eficazes de redução da prevalência de anemia ferropriva, a curto e médio prazos, a custos praticamente irrisórios e com grande sucesso. Além disso, a própria adição de iodo no sal pode servir como exemplo de resultados efetivos na erradicação do bócio endêmico, apesar de alguns problemas administrativos, que têm dificultado a aquisição do sal de iodo. Esse é um exemplo de como uma resolução técnica tem de ser acompanhada de medidas de sustentação, que possibilitem o êxito de um programa. A fortificação compulsória de iodo no sal foi instituída em 1953 (embora a legislação sobre o enriquecimento do sal de cozinha com iodo seja de 1974 (Lei Federal no 6.150.) e, hoje, o bócio na sua forma endêmica foi praticamente erradicado no país. 24 O Departamento de Nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo (1998) recomenda, como outra opção à suplementação profilática medicamentosa de ferro, a utilização de fórmulas infantis, ou pelo menos de leite fortificado, em substituição ao leite de vaca não modificado. Além disso, o Departamento de Nutrição considera que, além do leite, a introdução de outros alimentos fortificados como cereais, contribui para sustentar o crescimento destas crianças, obtendo-se, com este procedimento, a prevenção e até mesmo a redução da prevalência de anemia no país. Outras medidas como educação nutricional, com incentivo à diversificação da dieta, como estratégia para o combate à anemia carencial ferropriva também são importantes. Não resta dúvida que, além da educação nutricional, atitudes como melhoria na atenção ao pré-natal, incentivo ao aleitamento materno e adequado esclarecimento dos profissionais da saúde e da população em geral, contribuem para a redução da prevalência de anemia, assim como redução de sua incidência. Portanto, estas ações devem sempre estar associadas à fortificação, para que as respostas sejam mais efetivas. Apesar dos excelentes resultados obtidos nos mais diferentes países e do conhecimento da grande vantagem da opção da estratégia da fortificação obrigatória, para se garantir o acesso do alimento fortificado em todos os segmentos da população, o Brasil, recentemente, tomou a decisão de não tornar obrigatório a adição de ferro em alimentos de consumo massivo, entre eles a farinha de trigo e milho. Algumas considerações são necessárias em função desta opção: torna-se claro que com a livre escolha, acarretaria maior competitividade comercial, sendo um produto diferenciado do outro em função da fortificação e, portanto, com maiores chances de penetração no mercado, sendo este resultado de grande interesse para a indústria. Além disso, a indústria poderia também optar pela fortificação de apenas parte do produto, como por exemplo aquele que vai para a prateleira (supermercados, mercados, etc). Torna-se evidente que o encontro de alimentos fortificados somente em âmbito de prateleira acarretaria o acesso ao produto, somente pela população mais informada e de nível sócio-econômico mais favorecido. Paradoxalmente, a população de poder aquisitivo baixo e mais desfavorecida não seria tão eficientemente contemplada e, evidentemente, esta seria a que mais necessitaria receber o ferro. Nos últimos dois anos, realmente ocorreu no Brasil uma corrida na direção da fortificação de alimentos. Comercialmente, já há muitos alimentos fortificados com ferro (leite, cereais, iogurtes e certos tipos de queijo) que, entretanto, a população de baixa renda não tem fácil acesso. Os alimentos fortificados devem estar inseridos em programas de merenda escolar e em creches, pré-escolas e escolas estaduais e municipais, bem como em cestas básicas para que haja melhor acesso aos produtos fortificados. Desta forma, há necessidade de medidas mais urgentes e de maior abrangência que venham a ampliar as propostas já existentes para que o país possa resolver, de maneira efetiva e eficiente, este grave problema de saúde pública. 25 Bibliografia consultada ALCENO, P. Q. - Programas governamentais de fortificação de ali- mentos, ações e resultados. Seminário “Fortificação de Alimentos como Parte da Solução Brasileira” Hotel Macksoud Plaza, São Paulo, 1992. Anais, p 19-22. BRADLEY, C.K.; HILLMAN, L..; SHERMAN, A. R.; LEEDY, D.; CORDANO, M. 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( Documento também discutido no Departamento de Nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo, biênio 1997 - 1998 27 de nutrição em pediatria temas Volume 2 - Ano 2001 Publicação elaborada pelo Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Pediatria P at ro cín io INTRODUÇÃO Avaliar a condição nutricional de um indivíduo ou de uma comunidade é essencial para o estabelecimento de atitudes de intervenção. Desta forma é de fundamental importância a padronização da avaliação a ser utilizada para cada faixa etária, uniformizando assim os critérios empregados pela equipe de saúde. Como estratégia para combater a problemática nutricional preconiza-se mundialmente a implantação de um sistema contínuo de coleta de dados constituíndo o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). O SISVAN pode ser definido como “processo permanente e regular de compilar, analisar e distribuir a informação necessária para manter o conhecimento atualizado da produção, qualidade e consumo de alimentos e do estado nutricional da população, identificar suas causas e tendências, prever suas possíveis variações e decidir, oportunamente, as ações preventivas ou corretivas que o caso demande”. A antropometria, pela facilidade de execução e baixo custo tem se revelado como o método isolado mais utilizado para o diagnóstico nutricional populacional, sobretudo na infância. Pela aferição do peso e altura podem ser calculados os três índices antropométricos mais freqüentemente empregados e preconizados pela OMS: peso/idade, altura/idade e peso/altura. O comprometimento do índice altura/ idade indica que a criança tem o crescimento comprometido em processo de longa duração (em inglês, “stunting”, que significa nanismo). O déficit no índice peso/ altura reflete um comprometimento mais recente do crescimento com reflexo mais pronunciado no peso (em inglês, “wasting”, que significa emaciamento). Para se estabelecer uma comparação de um conjunto de medidas antropométricas com um padrão de referência, várias escalas podem ser utilizadas, sendo as mais comuns o percentil e o escore z (GOULART, 1997). O padrão de referência recomendado pela OMS e adotado, oficialmente, pelo Ministério da Saúde é o NCHS (National Center for Health Statistics) (Tabela 1). O escore z significa, em termos práticos, o número de desvios-padrão que o dado obtido está afastado de sua mediana de referência, variando de -6 a +6. Os percentis são derivados da distribuição, em ordem crescente, dos valores de um parâmetro observados para uma determinada idade ou sexo. A classificação de uma criança em um determinado percentil permite estimar quantas crianças, de mesma idade e sexo, são maiores ou menores em relação ao parâmetro avaliado. A distribuição em percentis é a preconizada pelo Ministério da Saúde e AIDPI (Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância) sendo o padrão de referência NCHS: abaixo do percentil 3 as crianças são consideradas como peso muito baixo, entre o percentil 3 e o 10 como peso baixo e nos casos de emagrecimento acentuado e/ou edema de mãos ou pés - desnutrição grave. As classificações antropométricas mais utilizadas e que têm se mantido ao longo do tempo são: Gomez, Waterlow e a da OMS. Avaliação da Condição Nutricional Crianças e adolescentes/método antropométrico Relatora: Roseli Saccardo Sarni Í N D I C E Avaliação da Condição Nutricional pág 28 Déficit de Estatura de causa Nutricional pág 39 Obesidade Exógena na Infância e na Adolescência pág 45 28 1. Critério de Gomez A metodologia proposta por Gomez tinha como função a determinação do prognóstico de morbi-mortalidade de crianças hospitalizadas de acordo com a sua condição nutricional. Entretanto, este critério passou a ser utilizado como classificação nutricional. Apesar das críticas, esta metodologia, por sua simplicidade, tem sido utilizada em vários países, particularmente na América Latina. Baseia-se no índice de peso para a idade (P/I). P/I = peso encontrado x 100 peso ideal (p50) p50 - percentil 50 do padrão de referência (NCHS) Eutrófico: P/I superior a 90 % do p50; Desnutrido de primeiro grau: P/I entre 76 e 90 % do p50; Desnutrido de segundo grau: P/I entre 60 e 75 % do p50; Desnutrido de terceiro grau: P/I inferior a 60 % do p50. 2. Classificação de Waterlow Foi proposta em 1973, possibilitando o estabelecimento de prioridades de intervenção, uma vez que estabelece o tipo de desnutrição Baseia-se nos índices peso a altura (P/A) e altura/idade (A/I). A/I = estatura encontrada x 100 estatura ideal (p50) P/A = peso encontrado x 100 peso ideal para a estatura observada No nosso meio, utiliza-se a classificação modificada por Batista. Eutrófico: A/I superior a 95 % e P/A superior a 90 % do p50 do padrão de referência; Desnutrido atual ou agudo (“wasted”): A/I superior a 95 % e P/A inferior a 90 % do p50 do padrão de referência; Desnutrido crônico (“wasted and stunted”): A/I inferior a 95 % e P/A inferior a 90 % do p50 do padrão de referência; Desnutrido pregresso (“stunted”): A/I inferior a 95 % e P/A superior a 90 % do p50 do padrão de referência. 3. Classificação da OMS Recomenda que a classificação nutricional seja feita a partir do z-escore dos índices de peso/estatura e estatura/ idade. Por esta classificação são consideradas desnutridas as crianças que estiverem 2 desvios-padrão (dp) abaixo do percentil 50 para o índice de peso/estatura, sendo graves aquelas - 3 dp. A análise da relação peso/altura (P/A), com relação aos excessos, permite classificar as crianças em duas categorias: • Sobrepeso: P/A superior a 110 % e inferior a 120 % do p50 do padrão de referência; • Obesidade: P/A igual ou superior a 120 % do p50 do padrão de referência. O diagnóstico nestas situações poderá ser complementado com o cálculo do índice de massa corpórea (IMC). Desta forma, o Departamento de Nutrição da SBP recomenda: O acompanhamento do crescimento com a utilização da curva (gráfico) em pelo menos três mensurações
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