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Beatriz Garcez ECZ7036 (2018.2) - Fisiologia Animal Comparada RESUMO CAP. 11 - DIGESTÃO (PRINCÍPIOS DE FISIOLOGIA ANIMAL, 2° EDIÇÃO) A fisiologia digestória está relacionada a todos os te- cidos que contribuem para a quebra física e química dos alimentos. Os animais usam combinações de processos mecânicos e sensoriais para adquirir e ingerir alimentos. Assimilação – a sequência dos processos de aquisição e absorção de nutrientes – inicia quando a maquinaria sensorial, que é recrutada para localizar o alimento. Uma vez que o alimento é localizado no ambiente, deve ser capturado. Uma vez adquirido, o alimento é mecanicamente quebrado. Os animais, então, usam processos químicos para converterem grandes itens alimenta res em macromoléculas e pequenas moléculas. A digestão química é primariamente enzimática. Nutrientes essenciais, aqueles químicos que devem ser obtidos na dieta. Nutrientes não essenciais são aquelas substâncias químicas que podem ser produzidas a partir de outras macromoléculas. A energia bruta que pode ser quebrada é a energia digerível e o material remanescente é perdido nas fezes. Desta energia digerível, somente uma fração é a energia metabolizável, com as sobras dos nutrientes absorvidos perdidas na urina. A maioria dos 20 aminoácidos que os animais usam para construir as proteínas pode ser produzida de novo, mas um conjunto de aminoácidos deve ser obtido pela dieta. Se a dieta for persistentemente deficiente em qualquer um dos aminoácidos essenciais, os animais podem apresentar falhas no seu desenvolvimento ou crescimento lento. Já que as proteínas da dieta são a fonte desses aminoácidos, a qualidade das proteínas – o perfil dos aminoácidos nas proteínas da dieta – é uma preocupação nutricional crítica. Tecidos animais fornecem maior qualidade de proteínas na dieta do que tecidos vegetais, pois possuem um perfil de ami- noácidos que se assemelha às necessidades de outros animais. Ao contrário, as proteínas das plantas são frequentemente deficientes em um ou mais de um aminoácido essencial. Enzimas digestórias permitem aos animais converter macromoléculas complexas da dieta em moléculas que possam ser absorvidas pelos animais e processadas em formas utilizáveis. Embora a natureza das dietas seja muito diversa, a maioria dos animais utiliza o mesmo conjunto de enzimas digestórias. Nem todas as macromoléculas ingeridas estão sujeitas ao processo digestivo. Vários animais são incapazes de produzir enzimas digestórias neces- sárias para assimilar macromoléculas da dieta. Por exemplo, vários humanos apresentam uma redução dependente da idade na produção de lactase, a enzima que quebra o dissacarídeo lactose. Quando pessoas intolerantes à lactose consomem leite ou derivados, a lactose pode sair do intestino delgado sem ser digerida, passando para o intestino grosso. A flora intestinal, produtora de me- tano, pode banquetear-se nesta rica fonte energética para o desconforto do indivíduo e desprazer daque- les que estão próximos. Organismos simbióticos contribuem para a fisiologia digestória animal - vários animais beneficiam-se da assistência de organismos simbióticos. Três principais tipos de simbiontes participam da digestão. Enterossimbiontes vivem dentro do lúmen do TGI. Nem todos os simbiontes são bactérias. Fungos são importantes enterossimbiontes em vários tipos de insetos comedores de plantas. Beatriz Garcez ECZ7036 (2018.2) - Fisiologia Animal Comparada Várias espécies de animais são capazes de consumir e digerir combustíveis incomuns por possuírem populações de bactérias simbióticas, frequentemente mantidas no ceco (sacos cegos ramificados do intestino). A celulose é um importante nutriente para vários animais, embora a maioria das espécies necessite de ajuda de organismos simbióticos. Até o momento, em nenhum animal estudado foi encontrado um gene para celulase. A maioria dos animais excreta celulose não digerida, formando uma massa que é geralmente chamada de fibra da dieta. Contudo, alguns herbívoros podem liberar a energia da celulose da dieta com a assistência de organismos simbióticos que vivem dentro do intestino. Esses animais podem absorver parte da glicose gerada pela atividade da celulase, mas a maior parte da glicose é fermentada pelas bactérias para produzir produtos finais anaeróbios. Os animais então absorvem esses produtos da fermentação para uso na biossíntese ou no metabolismo energético. Além da assistência benéfica das bactérias em liberar energia, os animais podem digerir as bactérias. Os animais secretam a enzima lisozima no intestino a qual quebra a parede celular das bactérias. A lisozima dos ruminantes tem se adaptado para funcionar sob as severas condições das câmaras de fermentação dos ruminantes. A fisiologia da digestão é marcada pela natureza física e química da dieta. Algumas estratégias alimentares, como a filtração, dependem de encontros ao acaso. Contudo, a maioria dos animais busca ativamente e com frequência persegue seu alimento. Uma vez encontrado, o alimento deve ser ingerido para iniciar o processo de digestão. Os animais percebem o alimento usando sentidos químicos, elétricos e térmicos. Os animais unem algumas formas de receptores a vias sinalizadoras que levam a respostas comportamentais que alteram a alimentação. Animais simples digerem alimentos dentro de vesículas fagocíticas. Animais simples, como as esponjas, obtêm nutrientes principalmente por fagocitose, da mesma forma que os protistas, como as amebas. A água carrega partículas de alimento que passam através de uma rede de canais e poros das esponjas, em correntes geradas por células flageladas chamadas de coanócitos. Como a água permeia o animal, ela flui através dos filtros biológicos que separam as partículas pelo tamanho. Células que circundam os poros, coanócitos e amebócitos, engolfam as partículas por fagocitose. A digestão ocorre dentro dessas células, nos vacúolos endocíticos. Os produtos desta digestão são liberados para dentro das células, e o material não digerido é exocitado para fora das células. Outros metazoários possuem algo semelhante a uma boca – uma entrada para um compartimento interno onde ocorre a digestão. O desafio para vários animais é conduzir o alimento para a boca. Cnidários, como corais e Hydra, usam tentáculos para capturar pequenas presas. Uma vez que a presa é capturada, os tentáculos curvam-se para a boca para liberar o alimento. A entrada na boca é facilitada por uma camada de muco secretada pelas células epiteliais. As células glandulares enzimáticas da parede da cavidade gastrovascular secretam enzimas digestórias que digerem as presas formando um caldo de nutrientes. As células nutritivas fagocitam as partículas pequenas e processam-nas dentro dos vacúolos alimentares endocíticos, liberando nutrientes. Uma vez que o alimento é digerido, o animal expele o material remanes- cente da cavidade gastrovascular e alimenta-se novamente.Beatriz Garcez ECZ7036 (2018.2) - Fisiologia Animal Comparada As estruturas alimentares são compatíveis com a dieta. A maioria dos animais tem alguma parte da boca especializada para ajudar na alimentação. A estrutura mais importante na alimentação dos vertebrados é a mandíbula (com exceção dos agna tas primitivos). A história evolutiva do sistema digestório é marcada pela crescente especialização anatômica e funcional. Invertebrados que surgiram primeiro na escala evolutiva possuem sacos digestórios simples por onde o alimento entra e sai através de uma única abertura, formando um intestino com duas vias - importante passo evolutivo, pois permitiu que o animal isolasse o ali- mento em um ambiente controlado e bombardeasse esse alimento com enzimas que o degradam até atin- gir a forma que pode ser assimilada. Os platelmintos também têm um intestino de duas vias, onde a digestão se inicia no lúmen dos sacos digestórios. Uma vez que o alimento é quebrado em partículas menores, as células que formam o revestimento do intestino fagocitam as partículas. As células que revestem os sacos digestórios têm sutis diferenças nas funções absortivas e secretoras, o que permite a criação de regiões com processos digestórios especializados, o que aumenta a eficiência da digestão. Com a evolução do intestino de apenas uma via, os animais tornaram-se mais capacitados para criar regiões especializadas. A boca abre-se para dentro da região superior do TGI, chamada de faringe ou esôfago. Essa região superior normalmente participa da degradação mecânica dos alimentos. Segue-se o estômago ou região gástrica; na maioria dos animais este é um compartimento ácido. O intestino superior, ou intestino delgado, neutraliza as soluções ácidas liberadas pelo estômago e é responsável pela maior parte da digestão e absorção dos nutrientes. O intestino delgado também recebe secreções exócrinas das glândulas digestórias: fígado e pâncreas, na maioria dos vertebrados, e hepatopâncreas, na maioria dos invertebrados. O intestino inferior, ou intestino grosso, é responsável pela recuperação de água e sais. Finalmente, o ma- terial não digerido é eliminado pelo ânus. A maioria das espécies tem câmaras laterais que se ramificam para fora do TGI principal. O sistema digestório de animais complexos maximiza a área de superfície. Em um animal menos diferenciado com um intestino de duas vias, a quebra das macromoléculas ocorre principalmente no interior das vesículas, dentro das células. Animais mais diferenciados realizam essas reações dentro do lúmen do trato digestório. O produto final desta digestão extracelular deve então ser absorvido pelas células que revestem o intestino. Animais complexos aumentam a eficiência do transporte construindo intestinos com áreas de superfície muito grandes. Isto pode ser conseguido de duas formas: aumentando o comprimento do intesti no ou aumentando as ondulações da superfície. Animais com dietas de difícil digestão frequentemente apresentam intestinos mais longos para aumentar a eficiência digestiva. Os carnívoros tendem a ter um intestino mais curto do que os herbívoros, porque o alimento é mais facilmente digerido. A superfície do intestino tem uma topografia complexa que serve para maximizar a área de superfície. Como resultado das dobras circulares, vilos e microvilosidades, a área de superfície do intestino é várias centenas de vezes maior do que poderia ser se fosse composta de um epitélio plano de células lisas. Compartimentos especializados aumentam a eficiência da digestão. A eficiência da digestão depende da habilidade do animal de criar regiões de especialização funcional. Até Beatriz Garcez ECZ7036 (2018.2) - Fisiologia Animal Comparada mesmo um TGI simples pode apresentar especiali zações. Especializações regionais são mais desenvolvidas em animais com intestino de uma via. Propriedades regionais são criadas e mantidas por tipos celulares específicos. As células absortivas em cada região também possuem capacidade de transporte especializado. O plano geral do TGI é semelhante entre os vertebrados, mas existem diferenças taxonômicas quanto aos tipos de compartimento. Aves e peixes ósseos possuem um ceco que se ramifica a partir do TGI e contém bactérias que ajudam na digestão. O trato GI superior dos pássaros é mais complexo do que o de outros vertebrados. O papo é uma bolsa entendida do esôfago que permite à ave estocar parcialmente o alimento digerido. Várias espécies de mamíferos possuem modificações elaboradas do TGI que melhoram a digestão do material vegetal. Ruminantes possuem um estômago digástrico modificado que permite a digestão mais efetiva da vegetação. O estômago dos ruminantes é composto por quatro câmaras, divididas em dois grupos funcionais. A vegetação passa através do esôfago para dentro do primeiro par de compartimentos: o rúmen e o retículo. Estas regiões são os locais das bactérias fermentadoras que digerem celulose e produzem ácidos graxos voláteis e gases, como dióxido de carbono e metano. O animal pode regurgitar alimento do rúmen de volta para a boca, onde pode novamente mastigar o material parcialmente degradado (ruminar). O abomaso serve como um estômago glandular, secretando enzimas digestórias. Vários outros grupos de mamíferos pastadores possuem câmaras de fermentação, mas suas câmaras de fermentação ramificam-se do intestino posterior embrionário e são menos eficientes. A digestão depende da secreção de glândulas exócrinas multicelulares que trabalham em conjunto com as células secretoras espalhadas pelo TGI. As glândulas salivares secretam água e enzimas digestórias para a digestão química dos alimentos. Em animais terrestres, a saliva ajuda a lubrificar e a dissolver o alimento, o que permite a solubilização dos nutrientes e sua ligação aos receptores gustatórios. A saliva pode também apresentar propriedades antimicrobianas que ajudam a limpar a boca. Por causa do alto conteúdo de água da saliva, as secreções destas glândulas influenciam no balanço da água. Quando o alimento entra na boca, estímulos mecânicos acionam receptores que enviam sinais para as regiões do encéfalo que controlam a secreção das glândulas. Similarmente, quando quimiorreceptores detectam substâncias químicas específicas no alimento, um sinal é enviado para o encéfalo. Os animais também podem salivar em resposta à visão e a sons que estejam associados ao alimento. A secreção das glândulas salivares também pode ser inibida. Animais desidratados usam o sistema nervoso simpático para restringir o fluxo sanguíneo das glândulas salivares. A superfície epitelial do estômago é composta por células epiteliais colunares. Pontilhadas sobre a superfície do estômago estão as fossas gástricas profundas compostas por quatro tipos de células que secretam ácidos, hormônios e muco. O baixo pH do estômago é ótimo para muitas enzimas gástricas, mas também é forte o suficiente para matar a maioria dasbactérias e parasitas da dieta mas nem todos os vertebrados têm estômago ácido. A maioria dos nutrientes é absorvida no intestino. Enquanto o animais devem se alimentar para sobreviver, o processo de alimentação requer considerável energia e pode expor o animal que está comendo à predação. Estratégias Beatriz Garcez ECZ7036 (2018.2) - Fisiologia Animal Comparada alimentares evoluem para dar ao animal maiores chances de obter nutriente, ao mesmo tempo que minimizam os riscos para sua sobrevivência. Os animais enfrentam um difícil desafio de combinar o que ingerem na dieta com sua demanda metabólica a curto prazo, enquanto garantem uma oportunidade para o desenvolvimento a longo prazo e para a reprodução. Um animal que come com pouca frequência deve manter seu TGI em uma condição que permita funcionar quando necessário. Esquilos do campo hibernantes, que têm estado dormentes por mais de 12 semanas, continuam a expressar as enzimas necessárias para a digestão dos alimentos. Desta forma, esses animais são capazes de comer e digerir um alimento imediatamente após emergirem da hibernação. Contudo, alguns animais reduzem seus custos energéticos entre as alimentações, permitindo que o seu próprio TGI seja digerido. Vários organismos experimen- tam períodos de dormência, nos quais a taxa metabólica é reduzida (hipometabolismo), permitindo ao animal sobre- viver a condições ambientais adversas. Os vários tipos de dormência – torpor, hibernação e estivação – reduzem a demanda nos estoques de combustível. Um dos maiores desafios para animais dormentes é a manutenção da estrutura durante períodos prolongados de inatividade. Embora os animais não cresçam durante a dormência, eles devem recons truir a estrutura das proteínas que naturalmente degradam com o passar do tempo. A maio ria dos mamíferos hibernantes acumula ureia e uri na por todo período de dormência. Os ursos dormentes acumulam pouca ureia - eles são ca pazes de reciclar o nitrogênio da ureia, regenerando os aminoácidos que podem ser usados para recons truir as proteínas. Eles transportam uréia do sangue para o TGI, onde ela pode ser degradada.
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