Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Programa de Educação Continuada a Distância Curso de Nutrição Vegetariana Aluno: EAD - Educação a Distância Parceria entre Portal Educação e Sites Associados 2 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Curso de Nutrição Vegetariana MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 3 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores SUMÁRIO MÓDULO I 1. História do Vegetarianismo 2. Vegetarianismo e as religiões 3. Diferentes modalidades de vegetarianismo MÓDULO II 1. Prós e Contras das Dietas Vegetarianas 1.1. Vantagens das Dietas Vegetarianas 1.2. Desvantagens 2. Nutrientes que merecem destaque 2.1. Ferro 2.2. Zinco 2.3. Cálcio 2.4. Vitamina B12 2.5. Vitamina D 2.6. Ácido Graxo ômega-3 2.7. Proteínas 2.8. Fatores antinutricionais 3. Teor dos principais nutrientes nos alimentos 3.1. Fontes de nutrientes de alimentos vegetarianos 3.1.1. Ferro 3.1.2. Zinco 3.1.3. Cálcio 3.1.4. Vitamina D 3.1.5. Riboflavina 3.1.6. Vitamina B12 MÓDULO III 1. Avaliação Nutricional de vegetarianos 1.1. Antropometria 1.1.1. Peso corporal 4 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 1.1.2. Estatura 1.1.3. Índice de Massa Corporal (IMC) 1.1.4. Dobras cutâneas 1.1.5. Circunferência do braço, área muscular do braço e área adiposa do braço 1.2. Avaliação Bioquímica 1.2.1. Ferro, Ferritina e Hematócrito – série vermelha 1.2.2. Hematócrito – série branca 1.2.3. Plaquetas e hemostasia 1.2.4. Proteína 1.2.5. Vitamina B12 1.2.6. Zinco 1.2.7. Cálcio 1.2.8. Perfil Lipídico 2. Benefícios das dietas vegetarianas em condições patológicas 2.1. Câncer 2.2. Doenças Cardiovasculares 2.3. Hipertensão 2.4. Diabetes 2.5. Obesidade 2.6. Osteoporose 2.7. Doença Renal 2.8. Demência 2.9. Doença Diverticular 2.10. Cálculo da vesícula 2.11. Artrite reumatoide MÓDULO IV 1. Cálculo das necessidades nutricionais 2. Ingestão diária recomendada (IDR) 3. Prescrição Dietética e Distribuição dos Nutrientes 4. Prescrição vegetariana 5. Pirâmide Alimentar Vegetariana 5 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 5.1. Orientação Nutricional na Prática 5.2. Mitos 6. Anexos 6.1. Questionário de frequência alimentar 6.2. Recordatório de 24 horas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 6 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO I 1. História do Vegetarianismo Pode-se dizer que o vegetarianismo existe há cerca de 5 milhões de anos. Nosso ancestral, o Australopithecus Anamensis, alimentava-se de frutas, folhas e sementes, vivendo em perfeita harmonia com os animais menores, que poderia facilmente apanhar para se alimentar. Mas estes hominídeos eram pacíficos e não caçavam os animais, e assim continuaram até o aparecimento do Australopithecus Boesei, há cerca de 1 milhão de anos. Com o domínio do fogo e o desenvolvimento das armas, o Homo Neanderthalensis (127.000 - 30.000 anos) caçava em grupos de 10 a 15 animais de grande porte, como os mamutes, e outros menores, como os veados, dos quais tudo era meticulosamente aproveitado. Em épocas posteriores as populações humanas começaram a criar culturas fixas de vegetais, que começaram a atrair animais como porcos selvagens, ovelhas, cães, cabras, aves, ratos e pequenos felinos, que foram sendo domesticados e passaram a fazer parte de sua alimentação. Por volta de 3.200 a. C., o vegetarianismo começou a ser adotado no Egito por grupos religiosos que acreditavam que a abstinência de carne criava um poder kármico que facilitava a reencarnação. Na China e Japão Antigos (por volta do século III, a. C.), o clima e os terrenos eram propícios à prática do vegetarianismo. O primeiro profeta-rei chinês, Fu Xi, era vegetariano e ensinava às pessoas a arte do cultivo das plantas, as propriedades medicinais das ervas e o aproveitamento de plantações para roupas e utensílios. Gishi-wajin-den, um livro de história da época, escrito na China, relata que no Japão não existiam vacas, cavalos, tigres ou cabras e que os povos viviam das plantações de arroz, do peixe e dos crustáceos que apanhavam. Anos mais tarde, com a chegada do Budismo, a proibição da caça e da pesca foi bem recebida pelas populações japonesas. 7 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Na Índia, animais como as vacas e macacos foram adorados ao longo dos anos por simbolizarem a encarnação de divindades. O rei indiano Asoka, que reinou entre 264-232 a. C., converteu-se ao Budismo, chocado com os horrores das batalhas. Ele proibiu os sacrifícios de animais e o seu reino tornou-se vegetariano. A Índia, ligada ao Budismo e Hinduísmo, religiões que sempre enfatizaram o respeito pelos seres vivos, considerava os cereais e os frutos como a melhor forma (mais equilibrada) de alimentar a população. Juntamente com estas práticas religiosas, certos exercícios, como o Yoga, associaram-se ao não consumo de carne, para alcançar a harmonia e ascender a níveis espirituais superiores. Para os povos celtas e astecas, intimamente ligados à natureza, a carne ficava reservada para grandes ocasiões – as festas –, que serviam para estreitar os laços sociais e ligar o mundo humano ao dos deuses pagãos. De resto, quando não estava ligado ao sacrifício, o consumo de carne dependia da caça. Apenas a caça escapava à lógica do sacrifício, mas no sistema de valores da cultura celta era uma atividade marginal, não fazendo parte do dia-a-dia deste povo. Por cerca de 2.500 anos, europeus e americanos chamavam aqueles que seguiam o vegetarianismo de Pitágoras (ou Pitagóricos). O termo vegetariano não era comumente usado até a fundação da Sociedade Vegetariana Britânica em 1847. O argumento de Pitágoras em favor da dieta sem carne tinha três vértices (como um triângulo): veneração religiosa, saúde física e responsabilidade ecológica. E essas razões continuam a ser citadas hoje pelas pessoas que preferem levar a vida sem carne. Enquanto sempre houve vegetarianos na população mundial, vários escolheram esse caminho mais por necessidade do que por preferência. O mundo medieval considerava vegetais e cereais como comida para animais. Somente a pobreza obrigava as pessoas a substituírem a carne com vegetais. Na Grécia e em Roma a ideologia alimentar fundamentou-se sobre os valores do trigo, da vinha e da oliveira, e estevefrequentemente ligado à ideia de frugalidade: o pão, o vinho e o azeite (aos quais eram acrescentados os figos e o mel) eram elevados à categoria de símbolos de uma vida simples, de uma pobreza digna, feita de trabalho duro e de satisfações singelas. Nesta época, estas imagens 8 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores eram a proposta alternativa dos gregos ao luxo e à decadência do povo persa, conforme mostram os textos clássicos. A proeminência do pão na cultura antiga era também decorrente da primitiva ciência dietética, que colocava o pão no topo da escala de nutrição. Os médicos gregos e latinos viam no pão o equilíbrio perfeito entre os “componentes” quente e frio, seco e úmido, conforme os ensinamentos de Hipócrates. Em contraste, o consumo da carne foi sempre problemático. Imagem do luxo, da gula, da festa, do privilégio social, a carne não era considerada pelas civilizações antigas do Mediterrâneo como um bem tão essencial quanto os produtos da terra: o seu preço não era sujeito a um controle político como eram os cereais. Em certas épocas, a venda de carne chegava a ser proibida ao público. O matemático e filósofo grego Pitágoras e o filósofo Platão pregavam a não crueldade para com os animais. Eles observaram que as vantagens de uma alimentação vegetariana eram enormes e que esta era a chave para a coexistência pacífica entre humanos e não humanos, focando que o abate de animais para consumo embrutecia a alma das pessoas. Os argumentos de Pitágoras a favor de uma dieta sem carne apresentavam três pontos: veneração religiosa, saúde física e responsabilidade ecológica. Estas razões continuam a ser citadas hoje em dia por aqueles que preferem levar uma vida mais responsável. Os essênios, antigo povo judeu que viveu durante o segundo século a. C., reagiram ao excessivo abate de animais que eram feitos muitas vezes num só dia. Acabaram por ser perseguidos e mortos pelos romanos. O Cristianismo primitivo, com raízes na tradição judaica, também viu o vegetarianismo como um jejum modificado para purificar o corpo. Tertuliano (155-255 d. C.), Clemente de Alexandria (150-215 d. C.) e João Crisóstomo (347-407 d. C.) ensinaram que evitar a carne era uma maneira de aumentar a disciplina e a força de vontade, necessárias para resistir às tentações. Isto tornou as restrições dietéticas, como o vegetarianismo, muito comuns no comportamento cristão da época. E estas crenças foram transmitidas ao longo dos anos de uma forma ou de outra – por exemplo, a proibição de carne (exceto peixe) da Igreja Católica Romana nas sextas-feiras, durante a Quaresma. 9 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Com o estabelecimento do Cristianismo, ideias de supremacia humana sobre todas as criaturas começaram a surgir, mas muitos grupos não ortodoxos não partilhavam desta visão. Desde então, no decorrer da Idade Média, todos os seguidores das filosofias que eram contra o abate e abuso dos animais eram considerados fanáticos, hereges e frequentemente perseguidos pela Igreja e queimados vivos. No entanto, conseguiram escapar a este terrível destino dois notáveis vegetarianos – Santo David (Santo Padroeiro de Wales) e São Francisco de Assis. O mundo medieval considerava que os vegetais e cereais eram comida para os animais. Somente a pobreza compelia as pessoas a substituírem a carne pelos vegetais. A carne era o símbolo de status da classe alta. Quanto mais carne uma pessoa pudesse comer, mais elevada era a sua posição na sociedade. No início da era Renascentista, a ideologia vegetariana surgiu como um fenômeno raro. A fome e as doenças imperavam, enquanto as colheitas falhavam e a comida escasseava. A carne era muito pouca e um luxo apenas para os ricos. Foi durante este período que a filosofia clássica (greco-romana) foi redescoberta. O Pitagorismo e o Neoplatonismo tornaram-se novamente uma grande influência na Europa. Com a sangrenta conquista de novos territórios, novos vegetais foram introduzidos na Europa, tais como as batatas, a couve-flor e o milho. A adoção destes novos alimentos trouxe imensos benefícios à saúde, ajudando a prevenir doenças dermatológicas, que eram na altura muito frequentes. Com o Iluminismo do século XVIII, emergiu uma nova perspectiva do lugar do Homem na ordem da criação. Argumentos de que os animais eram criaturas inteligentes e sensíveis começaram a ser ouvidos e objeções morais a serem colocadas, à medida que aumentava o desagrado pelo desrespeito e abuso dos animais. Nas religiões ocidentais houve um ressurgimento da ideia de que, na realidade, o consumo de carne era uma aberração e ia contra a vontade de Deus e contra a genuína natureza da humanidade. Nestes dias, os métodos de abate eram extremamente bárbaros. Os porcos eram chicoteados até a morte com cordas cheias de nós para tornar as carcaças mais tenras e os pescoços das galinhas eram golpeados, para depois serem penduradas e deixadas a sangrar até morrer. Alguns vegetarianos famosos deste 10 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores período incluíram os poetas John Gay e Alexander Pope, o médico Dr. John Arbuthnot e o fundador do movimento metodista John Wesley. Grandes filósofos como Voltaire, Rousseau e Locke, questionaram a inumanidade do Homem em relação aos animais; e a obra de Paine, The Rights of Man, de 1791, despertou muitos assuntos a respeito dos direitos dos animais. A influência do Cristianismo radical, no século XIX, ocorreu por conta da grande difusão do vegetarianismo na Inglaterra e nos Estados Unidos. Os fundamentalistas cristãos provieram de grandes congregações existentes na recente e pobre zona urbana. Estes representantes estavam a sair da Inglaterra e a espalhar-se por outros países europeus, e as comunidades vegetarianas nos Estados Unidos eram formadas majoritariamente por Adventistas do Sétimo Dia. Um notável praticante desta religião era o Dr. John Harvey Kellogg, o inventor dos cereais Kellogg`s. Por volta de 1880, os restaurantes vegetarianos eram populares em Londres e ofereciam refeições baratas e nutritivas. Com o virar do século XX, a população britânica encontrava-se ainda num estado de pobreza. A Sociedade Vegetariana, durante a crise de 1926, distribuía alimentos às comunidades. Devido à escassez de alimentos durante a Segunda Guerra Mundial, os britânicos foram encorajados a “Escavar para a Vitória” (Dig For Victory), para cultivarem os seus próprios vegetais e frutas. A dieta vegetariana manteve a população, e com isso a saúde das pessoas melhorou muito durante os anos em guerra. Por volta dos anos 50 e 60 do século XX, muitas pessoas tomaram consciência do que se passava nas unidades de produção intensiva, introduzidas após a guerra. O vegetarianismo tornou-se muito apelativo quando as influências orientais se espalharam pelo mundo ocidental. Durante as décadas de 80 e 90 o vegetarianismo ganhou maior ímpeto, quando o desastroso impacto que a população humana estava a causar no planeta se tornou mais evidente. Os assuntos ambientais dominaram os noticiários e estiveram durante muito tempo em primeiro plano na política. O vegetarianismo foi encarado como parte do processo para a conservação dos recursos. 11 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo destePrograma. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Recentemente, assuntos como as importações de gado foram motivo de oposição ao consumo de carne por parte de muitas pessoas de todo o Reino Unido. Preocupações em relação à saúde surgiram quando elas perceberam que os animais para consumo estavam infectados com doenças como a “doença da vaca louca” (BSE), listeria e salmonelas. Desde os anos 80 do século XX, a humanidade tem-se focado cada vez mais num estilo de vida saudável. O vegetarianismo passou então a ser associado à saúde e alguns estudos apontaram a carne como causa de inúmeras doenças. Consequentemente, o não consumo de carne e outros produtos animais foi associado à não-violência e ao respeito pelos animais. Desde então organizações de defesa animal e promoção do vegetarianismo/veganismo começaram a ganhar cada vez mais força e a desenvolver ações mundiais. Com a população global crescendo progressivamente e os recursos decrescendo de forma assustadora, o vegetarianismo e o veganismo passaram a ser considerados por muitos como a solução para todos os problemas da humanidade e irá influenciar grandemente o futuro das gerações que se seguem. 2. Vegetarianismo e as religiões A grande maioria das religiões defende princípios como a compaixão, a bondade, a abnegação, o respeito pelos outros e também a reverência pela Vida enquanto valor absoluto (em todas as suas formas) e pela integridade da natureza e do planeta Terra como lar e patrimônio herdado do(s) deus (es) criador(es). Só estes têm o poder de decidir sobre o respectivo destino. A prática religiosa deve fazer parte dos mínimos gestos do dia-a-dia e a alimentação não pode ser exceção. Se, por um lado, o respeito por todas as formas de vida induz muitos religiosos a absterem-se de matar e ingerir animais, por outro, o corpo, como templo do espírito, limpo desses resíduos impuros, está pronto para acolher a divindade e 12 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores para se elevar a patamares mais elevados da evolução pessoal. Por todos estes motivos, e embora na sua essência não esteja vinculado a nenhum movimento religioso, o Vegetarianismo encontra expressão em muitos deles, percorrendo caminhos paralelos desde tempos muito remotos. Este não é nem pretende ser um estudo sobre religiões, mas um simples olhar sobre o lugar que o Vegetarianismo ocupa em algumas delas: a) Adventistas do Sétimo Dia: Seu culto nasceu nos EUA e foi fruto do renascer do espírito religioso que insuflou muitas Igrejas Cristãs a partir de finais do século XVIII d. C. Houve um repensar do sentido da vida, do lugar do Homem no universo e dos termos de uma relação mais profunda e genuína com Deus. Os Adventistas do Sétimo Dia acreditam num Deus Justo e Misericordioso, origem de toda a criação, sendo a Bíblia a sua palavra escrita. Acreditam ainda no conceito de Juízo final e na segunda vinda de Jesus a Terra (daí o termo Adventista). O sétimo dia é o Sábado, dia em que, depois da criação, Deus descansou, e assim instituiu que fosse o dia do descanso, adoração e harmonia com as práticas e ensinamentos que transmitiu aos homens. Estima-se que existam mais de 15 milhões de crentes em todo o mundo, animados por forte espírito missionário. Os adeptos desta religião têm regras de conduta próprias: devem vestir-se de forma simples, cultivar um espírito pacífico e tranquilo, preservar o meio ambiente e velar pela sua saúde, através de uma alimentação racional e de um bom equilíbrio entre atividade física e descanso. Por um lado, estas práticas denotam disciplina e contenção; por outro, preservam o corpo enquanto receptáculo do Espírito Santo. Muitos adventistas privilegiam, por isso, o regime vegetariano (o mais generalizado é o ovo-lacto-vegetariano) e a isto não será alheio o contexto histórico-social: é que o advento desta religião deu-se no século XIX, época de grandes reformas na área da saúde e de difusão do movimento Vegetariano. 13 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A alimentação dos Adventistas privilegia os cereais integrais (os famosos cereais matinais Kellogg’s foram criados por John H. Kellogg, um Adventista), fruta, verduras e oleaginosas; evitam as gorduras, a cafeína e os condimentos muito estimulantes. Rejeitam o tabaco, álcool e drogas. Esta comunidade tem sido alvo de centenas de estudos e artigos científicos em matéria de saúde. Com efeito, estão referenciados como uma das comunidades em nível mundial que apresenta maior longevidade, atribuída ao seu regime alimentar. Apresentam uma baixa prevalência de vários tipos de cancro e doença cardiovascular. Dão, de tal modo, importância à educação e à saúde, que criaram em todo o mundo várias escolas (onde as crianças podem seguir uma alimentação vegetariana), incluindo a Universidade de Linda Loma (Loma Linda University Adventist Health Sciences Center) nos EUA, responsável por vários estudos sobre a alimentação vegetariana. b) Jainismo: Esta corrente de pensamento Indiana começou há quase 3.500 anos, mas tomou a forma atual por volta do ano 600 a. C. com o Príncipe Vardhamana Mahavira (apelidado de Jina, O Vitorioso, nome que está na origem da palavra Jainismo). O Jainismo tem muito em comum com o Hinduísmo, pois preconiza a libertação dos laços com o mundo terreno e material. No entanto, rejeita o sistema de castas, as divindades, a realização de sacrifícios e os privilégios dos sacerdotes. Quase contemporâneo de Buda, também Mahavira trocou o seu estatuto de príncipe por uma vida ascética. Os Jainistas acreditam que o mundo não tem princípio nem fim. A sua filosofia tem cinco princípios, começando por Ahimsa, não-violência, que respeita todas as formas de vida (humana, animal ou vegetal), pois crê que todas são sagradas, tendo uma alma eterna potencialmente perfeita e santa. Os outros princípios são: Satya (verdade), Asteya (não roubar), Brahmacharya (castidade) e Aparigraha (desapego das coisas terrenas). Existem cerca de 4 milhões de Jains em todo o Mundo, principalmente na Índia. 14 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Os monges Jains em particular seguem uma vida de ascetismo rigoroso, jejuns, mortificações, meditação e estudo. Muitos não usam mesmo qualquer vestuário, tal o seu grau de desapego. São rigorosamente vegetarianos, como demonstração de respeito por todas as formas de vida. Levam este preceito a tal ponto que cobrem a boca com um lenço sempre que saem para o exterior, filtram a água antes de ingeri-la, não saem à noite e espanam delicadamente todo o local onde se sentam, tudo para evitar matar ou causar danos aos insetos ou animais menores. c) Sikhismo: Sikh significa “Discípulo” ou “Disciplina”. Esta religião, síntese entre o Hinduísmo e o Islamismo, foi fundada no século XV d. C. pelo Guru Nanak, um mestre espiritual indiano que reprovava a hostilidade entre Hindus e Muçulmanos, pois considerava que todos são iguais perante o mesmo Deus único. O Guru Nanak pregava uma doutrina de amor, compreensão e igualdade, independentemente da raça, casta ou sexo. Encorajava a educação, a vida em família, o trabalho duro e honesto, a renúncia à idolatria e aos desejos impuros e a igualdadeentre homens e mulheres. A sua mensagem foi transmitida nos séculos seguintes por dez outros gurus e sobrevive hoje numa compilação de escrituras sagradas, o Guru Granth Sahib, que é venerada no Templo de Ouro, na cidade sagrada para os Sikhs, Amritsar. Existe atualmente cerca de 23 milhões de Sikhs em todo o mundo, a maioria concentrada no Punjab. Um dos preceitos seguidos pelos Sikhs é o que os proíbe de cortarem um único pelo do corpo durante toda a vida, como sinal de submissão à vontade de Deus. Esta religião sem clero prega o serviço comunitário, sendo uma das suas faces mais visíveis os Langar, cozinhas comunitárias instaladas na área 15 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores dos templos e onde são cozidas e servidas gratuitamente milhares de refeições a quem as pedir, sem qualquer discriminação de classe social, religião ou casta. Essas refeições são estritamente vegetarianas, para que as pessoas de todas as religiões, inclusive as que têm regras próprias (como os judeus e os muçulmanos) as possam degustar. Os Sikhs renunciam ao álcool e ao tabaco. Mais de metade é vegetariana. Os restantes abstêm-se de comer carne que não seja de animais abatidos segundo regras estritas. d) Hare Krishna: O estilo de vida e crenças filosóficas praticadas pelos seguidores deste movimento baseia-se nas escrituras milenares Hindus, entre elas o Bhagavad-Gîta, o principal livro do Movimento Hare Krishna. Os preceitos aí incluídos terão sido proferidos há 5.000 anos pelo próprio Krishna ao seu companheiro e discípulo Arjuna. Entretanto, esse conhecimento ter-se-á perdido quase na totalidade, até ao início do século XVI, quando se deu na Índia um grande renascimento espiritual encabeçado por Sri Chaitanya Mahaprabhu. Este grande Mestre fez renascer a devoção a Krishna, granjeando milhões de seguidores em todo o subcontinente Indiano. Mais tarde, em 1966, seria um dos discípulos do movimento, Sri Bhaktivedanta Swami Prabhupada, quem depois trouxe para o mundo ocidental os ensinamentos de Sri Chaitanya. Fundou a Sociedade Internacional da Consciência de Krishna (ISKCON) em Nova Iorque, que rapidamente teve grande acolhimento em toda a América do Norte e Canadá. Na década seguinte, a sociedade tornou-se uma confederação mundial de mais de cem templos, escolas, institutos e fazendas comunitárias. Estima-se que exista atualmente cerca de 1 milhão de praticantes em todo o mundo. 16 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Com base numa passagem do Bhagavad Gîta, os Hare Krishna acreditam que a diferença entre a morte e a vida é relativa, pois a consciência presente no ser humano participa do divino e existe desde sempre e para sempre. Todos os seus atos e pensamentos, até os mais corriqueiros do dia-a-dia, devem ser uma oferenda a Krishna e a maneira mais imediata de obter a consciência de Krishna é recitar o seu nome várias vezes por dia. Ao atingirem esse estado, o ciclo das reencarnações é interrompido e o crente consegue finalmente a união com Krishna. Os Hare Krishna praticam uma dieta lacto-vegetariana. É conhecido o seu programa de distribuição gratuita de refeições lacto-vegetarianas, Food for Life, junto das populações que vivem abaixo do limiar da pobreza. Está disseminado um pouco por todo o Mundo, e foi desencadeado pelas palavras de um Mestre durante um evento religioso: “Ninguém, num raio de 10 milhas de qualquer um dos nossos templos, passará fome”. e) Rastafáris: Segundo a Wikipedia, o rastafarianismo, também conhecido como movimento rastafári ou Rastafar-I (rastafarai) é um movimento religioso que proclama Hailê Selassiê I (Poder da Santíssima Trindade), imperador da Etiópia, a representação terrena de Jah (Deus). Este termo advém de uma forma contraída de Jeová encontrada no salmo 68:4 na versão da Bíblia do Rei James, e faz parte da trindade sagrada o messias prometido. O termo rastafári tem sua origem em Ras ("príncipe" ou "cabeça") Tafari ("da paz") Makonnen, o nome de Hailê Selassiê antes de sua coroação. Segundo Rehen (em pesquisa realizada na PPCIS-UERJ, publicada no site: http://www.neip.info/downloads/texto_lucas.htm), o rastafarianismo teve origem na Jamaica, na década de trinta, como consequência de um forte movimento de consciência negra, autoidentificado como anticolonialista e que lutava contra as péssimas condições dos operários negros nas fábricas e contra certos traços políticos e sociais jamaicanos, entendidos como sendo os resquícios da escravidão. 17 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Este movimento, originalmente chamado de “garveyta”, foi liderado por Marcus Mosiah Garvey, líder sindical e descendente dos maroons – principal comunidade de escravos foragidos (quilombo) e que se tornou impenetrável aos exércitos ingleses no século XIX. Este movimento foi iniciado por uma interpretação da profecia bíblica em parte baseada pelo status de Selassiê como o único monarca africano de um país totalmente independente e seus títulos de Rei dos Reis, Senhor dos Senhores e Leão Conquistador da Tribo de Judah, que foram dados pela Igreja Ortodoxa Etíope. Na mesma pesquisa, Rehen diz que Garvey profetizou o seguinte: “Olhem para a África, onde um rei está para ser coroado e o dia da redenção se aproxima”. A notícia da coroação do rei africano, trazendo títulos bíblicos e sendo reconhecido como o descendente da dinastia do rei Salomão – conforme postulava a Igreja Copta da Etiópia – trouxe uma renovação para a identidade da população negra e rural nas montanhas jamaicanas, que passou a louvar o imperador etíope em suas comunidades autossustentáveis, sendo uma resposta quase imediata para a profecia de Marcus Garvey. Para os rastafaris, Haile Selassie I é também conhecido como “Luz do Mundo”, “Cabeça do Criador” e “Cristo na Terra”. Com a criação e difusão do reggae (cerca de 30 anos após a coroação de Haile Selassie ou Rãs Tafari), que uniu instrumentos convencionais da música pop mundial, como baixo, bateria, teclados e guitarras e os mesclou aos tambores e à estrutura rítmica e melódica dos cantos tipicamente rastafaris, o “rastafarianismo” ganhou força, se expandiu e desde então passou a ser reinterpretado localmente por diversas comunidades espalhadas pelo mundo. O movimento é algumas vezes chamado rastafarianismo, porém alguns rastas consideram este termo impróprio e ofensivo, já que “ismo” é uma classificação dada pelo sistema babilônico, o qual é combatido pelos rastas. O movimento rastafári se espalhou muito pelo mundo, principalmente por causa da imigração e do interesse gerado pelo ritmo do reggae; mais notavelmente pelo cantor e compositor de reggae jamaicano Bob Marley. No ano 2000 havia aproximadamente um milhão de seguidores do rastafarianismo pelo mundo, algo difícil de ser comprovado devido à sua escolha de viver longe da civilização. 18 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores O encorajamento de Marcus Garvey para os negros terem orgulho de si mesmos e de sua herança africana inspiraram os rastas a abraçar todas as coisas africanas. Estar próximo à natureza e da savana africana e seus leões, em espírito (senão fisicamente), é primordial pelo conceito que eles tem da cultura africana. Viver próximo e fazer parte da natureza é visto como africano. Esta aproximação africana com a natureza pode ser vista nos dreadlocks, ganja (droga alucinógena produzida a partir da Cannabis sativa), e comida fresca (comida Ital), e em todos os aspectos da vida rasta. Eles desdenham a aproximação da sociedade moderna com o estilo de vida artificial e excessivamente objetivo, renegando a subjetividade a um papel sem qualquer importância. A ganja pode ser fumada em forma de cigarros, em cachimbos, chamados de “cálices”, e pode ser ingerida sob a forma de chá ou utilizada como alimento: tempero, pastas ou bolos. Usualmente é o único ato de fumá-la (cigarros ou “cálice”) que vem precedido e acompanhado por orações e evocações das palavras “Jah, Rastafari, Selassie I” repetidas por todos os fiéis, conferindo assim um caráter sacramental ao ato. Nos outros casos a cannabis pode ser usada ao longo de conversas, passeios, no desenvolvimento de trabalhos artísticos e em inúmeras situações sociais. Os rastas sentem-se livres para se divertirem enquanto consomem a ganja, mas sentem-se bastante ofendidos quando fumam em companhia de pessoas que falam palavrões (vocabulário classificado como negativo) ou assuntos considerados profanos. Para os rastas, ganja é um “sacramento religioso” que está associado a cantos e rezas rastafaris – entretanto, em contraposição a essa mesma substância, cannabis, quando consumida como recreação por pessoas “não-rastas” e pode então ser chamada pelos próprios rastafaris de “maconha” ou “dagga”. Já o termo “erva” (ou “herb”) é utilizado para designar o aspecto medicinal das supostas propriedades curativas da cannabis e esse é um aspecto que também está ligado à autossuficiência do estilo de vida rastafári, fundamentado na crítica ao modelo de vida moderno. Eles não acreditam na cura através da medicina ocidental e sim através da “erva” em chás ou quando fumada na forma de cigarros ou em cachimbos, consumo que deve estar associado à música e orações. Ainda sobre 19 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores essa noção da “erva” como medicina, os rastas afirmam (apesar de não disporem de estudos que deem suporte a esta crença) que a cannabis pode curar muitas doenças, especialmente pressão alta, stress, glaucoma e aliviar náuseas de pacientes com câncer. As opções por nomenclaturas ligadas à cura ou sacramento religioso reivindicam um lugar divino e “natural” dessa planta, afastando-a de uma possível interpretação pejorativa, tal como “droga”. Além disso, é através da cannabis que os rastafaris defendem uma medicina natural alternativa e contestam a medicina “ocidental”. Com uma só prática eles evocam a natureza e o protesto, alicerces do rastafarianismo. Os rastafáris acreditam que Ras (título de nobreza que pode ser traduzido como “príncipe” ou “cabeça”) Tafari (“da paz”). Makonnen que foi coroado como Hailê Selassiê I, Imperador da Etiópia em 2 de novembro de 1930, é a encarnação do chamado Jah (Deus) na Terra, e o Messias Negro que irá liderar os povos de origem africana a uma terra prometida de emancipação e justiça divina. Porém, algumas correntes rastafáris não acreditam nisso literalmente. Parte porque seus títulos, como Rei do Reis, Senhor dos Senhores e Leão Conquistador da tribo de Judá, apesar de se encaixarem com aqueles mencionados no livro de Judá, também foram dados, de acordo com a tradição etíope, a todos os chamados imperadores salomônicos desde 980 a. C., mas Selassiê foi o único que recebeu, evidentemente, todos os títulos, incluindo os mais sagrados, como Supremo Defensor da Fé e Poder da Santíssima Trindade. Hailê Selassiê era, de acordo com algumas tradições, o ducentésimo vigésimo quinto na linha de imperadores etíopes descendentes do bíblico Rei Salomão e a Rainha de Sabá. O salmo 87:4-6 é também interpretado como a previsão da sua coroação. O rastafarianismo é um movimento filosófico-religioso que preza pela autossubsistência de seus seguidores, enfatizando os aspectos positivos de uma vida rural, de alimentação vegetariana e consumo da cannabis, entre outras condutas identificadas por eles como “essencialmente natural”. Por outro lado, a busca pela naturalidade pode ser compreendida como uma forte crítica aos moldes ocidentais (racistas) de produção, consumo e distribuição da renda. 20 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A maioria dos rastafáris é vegetariana, ou come apenas alguns tipos de carne, vivendo pelas leis alimentares do Levítico e do Deuteronômio no Velho Testamento. O consumo de carne de porco é proibido, assim como o de caramujos, moluscos de conchas e peixes sem escamas. A “comida Ital” é o alimento Rastafári e é o que Jah ordenou que fosse. “Todo o que não tem barbatanas ou escamas, nas águas, será para vós abominação. Melhor é a comida de ervas, onde há amor, do que o boi cevado, e com ele o ódio”. Não consomem alimentos processados ou industrializados. Acreditam que quanto menos cozidos os alimentos, melhor, sem sais, conservantes ou condimentos, pois assim possuem maior quantidade de vitaminas, proteínas e força vital, sendo adeptos da agricultura orgânica. Segundo os preceitos da alimentação Ital, não se utiliza sal ou condimentos no preparo dos alimentos. As bebidas são, preferentemente, herbais, como os chás, e outras bebidas como licor, refrigerante, leite ou café são vistos como pouco saudáveis. f) Judaísmo: Para o judaísmo atividades comuns entre as quais comer, dormir, dirigir os negócios, relacionar-se, etc, são parte do serviço a Deus, não menos que a observação ritual da tefilá, limudei Torá, tsedacá e outras mitsvot. Acreditam que as atividades de nosso dia-a-dia são a ponte através da qual acessamos níveis mais elevados, entre os quais o simples ato de comer. Mais que visar nossa sobrevivência, alimentar-se é um meio de trazer santidade às nossas vidas, observando as leis conforme indicadas na Torá: é permitido que se coma carne, desde que o animal seja de uma espécie permitida pela Torá (Vayicrá cap. 11); ritualmente abatida (shechitá – Devarim 12:21), tenha removidos os elementos não-casher (sangue e determinadas gorduras e nervos - Vayicrá 3:17; Bereshit 32:33); seja preparado sem misturar carne e leite (Shemot 34:26); e as bênçãos 21 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores apropriadas sejam recitadas (Devarim 8:10). Ao alimentar-se conforme a maneira prescrita pela Torá, e com a intenção apropriada, diz o Talmud, a mesa da pessoa torna-se um altar virtual a serviço de Deus. Consta no Talmud que Deus escolheu Moshê (Moisés) como líder do povo judeu observando como ele preocupava-se em carregar o peso de uma única ovelhinha desgarrada, jamais abandonando seu rebanho ou permitindo que um único animal fosse abandonado a sua própria sorte. A Torá enfatiza a compaixão e atenção que devemos nutrir pelos animais, como os exemplos abaixo: 1. É proibido causar sofrimento aos animais – tzaar ba'alei chaim. (Talmud – Baba Metzia 32b, baseado em Shemot 23:5); 2. A obrigação de aliviar o sofrimento de um animal, mesmo se o animal pertencer ao seu inimigo. (Shemot 23:5); 3. É proibido comer antes de alimentar o animal (Talmud Berachot40a, baseado em Devarim 11:15); 4. Nossos animais devem descansar no Shabat. (Shemot 20:10); 5. É proibido usar duas espécies diferentes para puxar o mesmo arado, pois seria injusto para com o animal mais fraco (Devarim 22:10); 6. É uma mitsvá espantar a ave mãe antes de tirar seus filhotes. (Devarim 22:7); 7. É proibido matar uma vaca e seu bezerro no mesmo dia (Vayicrá 22:28); 8. É proibido cortar e comer o membro de um animal vivo. (Bereshit 9:4; faz parte das Sete Leis de Nôach cuidar deste preceito que se aplica tanto a judeus como a não-judeus); Shechitá, o abate ritual conforme a halachá, Lei judaica, deve ser feito com o mínimo de sofrimento para o animal. 9. A lâmina deve ser meticulosamente examinada para assegurar a forma de morte mais indolor possível (Chinuch 451; Pri Megadim – Introdução às Leis de Shechitá); 10. Caçar animais por esporte é proibido pelos nossos Sábios (Talmud - Avodá Zara 18b; Noda BeYehuda 2-YD 10). 22 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Embora a Lei Judaica defenda o tratamento ético aos animais, o Judaísmo também afirma que os animais são feitos para servir ao homem, como está escrito: “Que o homem domine sobre os peixes, as aves e todos os animais” (Bereshit 1:26). Maimônides aponta os quatro níveis na hierarquia da criação e cada criatura deriva seu sustento do nível abaixo do ser: Nível 1 : Domaim - o reino inanimado (terra e minerais) constitui a existência de nível mais baixo, e se autossustenta. Nível 2: Tzomey'ach - da vegetação nutrida pelo nível anterior, a terra. Nível 3: Chai – o reino animal que se alimenta da vegetação. Nível 4: Medaber - seres falantes (humanos) que se sustentam da vegetação e dos animais. Quando o alimento é consumido, sua identidade se transforma naquela do ser que o comeu. Assim o Talmud (Pessachim 59b) considera como moralmente justificado comer animais somente quando estamos envolvidos em atividades sagradas e espirituais. É somente então que o ser humano concretiza seu potencial mais elevado e o animal consumido é também elevado. Na percepção judaica, o nível mais alto que um animal pode atingir é ser consumido por um ser humano e usado para o serviço Divino. Portanto, antes de consumir carne, devemos nos questionar se estamos elevando o animal a um nível superior, santificando-o, se realmente estamos beneficiando este animal. Comer deve tornar-se nossa vida um ato que gera força e energia utilizada para beneficiar o mundo. O cabalista do Século Dezoito, Rabi Moshe Chaim Lutzatto, explica que todas as criaturas possuem uma alma. No entanto, a natureza destas almas é distinta. Os animais têm uma alma que os anima e carrega dentro de si os instintos para a sobrevivência, procriação, etc. Somente os seres humanos, com uma alma Divina, têm a capacidade de manter um relacionamento com Deus, de fazer escolhas mais elevadas. 23 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores No Shabat e chaguim a Torá prescreve o consumo de vinho e carne para celebrar estes dias especiais em nosso calendário de uma forma festiva e que aumente em alegria. Mas para quem não aprecia o consumo de carne, isto é necessário? É uma obrigação? Ou pode tornar-se uma opção não aplicável? Historicamente, Adão e Eva foram vegetarianos, pois está escrito: “vegetais e frutas serão seu alimento” (Bereshit 1:29). Deus somente permitiu carne a Nôach (noé) e seus descendentes após o Dilúvio (Bereshit 9:3; Talmud Sanhedrin 59b). Alguns comentaristas explicam que antes do Dilúvio, o homem estava acima da cadeia alimentar. Após o Dilúvio, o homem caiu de nível e tornou-se ligado à cadeia alimentar, embora no topo dela. A humanidade tinha descido em sua capacidade de influenciar o mundo animal através de ações, e assim foi necessário influenciar o mundo animal mais diretamente: ingerindo-os. Desta forma, a carne foi permitida a Nôach para enfatizar a superioridade do ser humano sobre o reino animal. Alguns citam o precedente de Adão e Eva como uma indicação de que num mundo perfeito os seres humanos retornarão ao vegetarianismo universal. A grande maioria de eruditos rabínicos, no entanto, afirma que as oferendas de animais serão retomadas na Era Messiânica. O Talmud (Baba Batra 75a) de fato declara que quando Mashiach chegar, Deus preparará um banquete baseado em carne para os justos. Em conclusão, o Judaísmo aceita a ideia da dieta vegetariana, embora dependendo da intenção da pessoa. O vegetarianismo baseado na ideia de que não temos o direito moral de matar os animais não é uma opinião aceita pelos judeus. O vegetarianismo é plenamente aceitável embora muitos judeus observantes e que ao mesmo tempo cuidam da dieta vegetariana acabam consumindo carne, abrindo uma exceção somente quando prescrito pela Torá, como Shabat e Yom Tov. Na ordem da Torá que prescreve de nos “guardar cuidadosamente” (Devarim 4:15) exige que prestemos atenção aos assuntos de saúde relacionados a uma dieta baseada em carne. Devemos conhecer sua procedência, se as leis da Torá foram aplicadas em suas minúcias, se os animais foram criados sem administração de hormônios, antibióticos e outras drogas que possam colocar em 24 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores sérios riscos nossa saúde. A consciência judaica exige constante atenção no sentido de preservar e proteger nosso mundo natural. Devemos levar sempre em consideração que tudo que existe na natureza, todas as aves, plantas, cada folha de uma árvore – tudo aquilo que Deus criou neste mundo, possui uma conexão Divina. Se eles forem utilizados como alimento, se tornarão espécies mais elevadas se apropriadamente preparados, ingeridos e tratados com respeito. Porém, causar sofrimento desnecessário a qualquer criatura, mesmo não percebendo o mal causado em um simples ato como arrancar a folha de uma árvore sem motivo é desperdiçar seu potencial. O Judaísmo permite e às vezes, como no Shabat e Yom Tov, até prescreve a ingestão de carne, desde que a intenção de elevar a energia Divina contida dentro dela seja colocada em prática em seu nível mais elevado. Devemos utilizar a energia e potencial existente em cada elemento da natureza a fim de cumprir nossa responsabilidade e obrigação: a de servir a Deus usufruindo da perfeição do mundo ao mesmo tempo em que preservamos seu poder de renovar-se para as futuras gerações. 3. Diferentes modalidades de vegetarianismo As dietas vegetarianas baseiam-se em alimentos de origem vegetal, excluindo animais e produtos derivados. Entretanto, existem algumas subdivisões, de acordo com o maior ou menor rigor de exclusão de alguns alimentos. Os principais tipos de dieta vegetariana são os seguintes: • Vegetarianismo puro, estrito ou veganismo – não há consumo de produtos animais nem de ovos, laticínios, mel, tecidos de origem animal (como seda, lã ou couro); • Lactovegetarianismo – alimentam-se de vegetais e de leite e derivados, como queijo, manteiga e iogurte. • Ovo-vegetarianismo - alimentam-se de vegetais e de ovos. 25 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores • Ovo-lacto-vegetarianismo – Não ingerem carnes, mas consomemprodutos animais como ovos e leite. É o tipo mais comum de vegetarianismo. • Semivegetarianismo – Esporadicamente (até 3 vezes/semana) consomem carne branca e/ou mariscos, entretanto, não são considerados vegetarianos. • Crudivorismo – Consomem todos os alimentos crus, ou aquecidos pelo sol ou, quando isto não é possível, pelo forno bem baixo (até 40ºC). • Frugivorismo – Alimentam-se basicamente de frutas. O veganismo, seguido por algumas pessoas extremistas é também praticado por vegetarianos não veganos, apenas por períodos curtos como forma de desintoxicação do organismo. -----------------FIM DO MÓDULO I-------------------
Compartilhar