Prévia do material em texto
1 Sistema Hematopoético 1 Resumo 2 O entendimento da função das células e dos órgãos que compõe o 3 sistema hematopoético são fundamentais para o estudo das lesões que o 4 acometem, compreendendo a produção de eritrócitos, leucócitos e plaquetas. A 5 formação desses componentes é oriunda de células pluripotentes e células-6 tronco presentes na medula óssea. Outros órgãos também envolvidos são os 7 órgãos linfáticos, baço e timo. Alterações no funcionamento desse sistema 8 podem desencadear patologias como anemia, policitemia, coagulopatias, 9 neoplasias, trombocitopatias, hemorragias, imunodeficiências. 10 Palavras-chave: Hematopoese, distúrbios, patologias, celulas 11 Hematopoietic system 12 Abstract 13 The understanding of the function of the cells and organs that make up 14 the hematopoietic system are fundamental for the study of the lesions that affect 15 it, including the production of erythrocytes, leukocytes and platelets. The formation 16 of these components comes from pluripotent cells and stem cells present in the 17 bone marrow. Other organs also involved in hematopoiesis are the lymphatic, 18 spleen and thymus organs. Changes in the functioning of this system can trigger 19 pathologies such as anemia, polycythemia, coagulopathies, neoplasias, 20 thrombocytopathies, hemorrhages, immunodeficiency. 21 Keywords: Hematopoiesis, disorders, pathologies, cells. 22 2 Revisão de Literatura 23 1. Componentes 24 O sistema hematopoético é constituído por células-tronco hematopoéticas 25 (CTH), células precursoras, células sanguíneas morfofuncionalmente maduras e 26 tecido de sustentação da hematopoese (microambiente hematopoético), 27 localizado nas cavidades medulares de ossos chatos e longos, baço, fígado, 28 linfonodos e timo. O sistema hematopoético é uma rede integrada de células que 29 inicia o ciclo contínuo de diferenciação de uma pequena população de CTH, 30 que são pluripotentes, e que dão origem a todas as células heterogêneas 31 funcionais do sangue e do sistema imune, ou seja, um tecido composto de todas 32 as células sanguíneas e seus precursores presentes na medula óssea (Nakage & 33 Santana, 2000). 34 A medula óssea corresponde ao maior e mais importante órgão 35 hematopoiético, constituída por tecidos hematopoiético, adiposo e de 36 sustentação, com a interação desses componentes em um complexo 37 multicelular. É encontrada, em animais adultos, no interior de ossos do esqueleto 38 axial, bem como nas extremidades de ossos longos. Diferenciam-se em medula 39 óssea amarela e medula óssea vermelha, sendo esta ativa, compreendendo as 40 séries eritroide, granulocítica, monocítica, linfoide, megacariocítica, além de 41 componentes celulares não hematopoiéticos (Almeida, 2017). 42 Ainda compondo o sistema hematopoético existem os linfonodos, baço e 43 timo, onde os linfonodos são estruturas discoides ou reniformes, de tamanho 44 variável cuja função é participar tanto da hematopoese quanto da 45 hemocaterese, por participarem da formação dos linfócitos e concentrarem 46 3 grande número de células do sistema monocítico fagocitário. O baço é envolto 47 por uma espessa cápsula de tecido conjuntivo denso revestida por mesotélio, de 48 onde partem trabéculas que dão suporte ao órgão, tem função de defesa pois 49 são ricos em tecido linfóide e também de armazenamento já que possui fibras 50 musculares lisas permitindo que o órgão se expanda, logo podendo armazenar 51 até um terço da volemia. O timo é um órgão linfoepitelial de fundamental 52 importância, pois é responsável por diferenciar as células linfoides imaturas 53 (pró-timócitos), recém-chegadas da medula óssea, em linfócitos T (timócitos), 54 que, posteriormente, irão colonizar os órgãos linfoides secundários (Santos & Alessi, 55 2016). 56 2. Anemia 57 Anemia é uma condição mórbida, causada por uma diminuição da 58 quantidade de glóbulos vermelhos circulantes. Dificilmente a anemia é um 59 distúrbio primário, sendo mais comum manifestações secundárias de uma 60 doença em outro órgão ou sistema. Entre os Sinais clínicos na anemia ocorrem 61 três fenômenos interligados, sendo eles diminuição do eritrócitos, hipóxia e 62 compensação orgânica. A diminuição dos eritrócitos provoca palidez das 63 mucosas, descoloração da pele e perda da viscosidade sanguínea; Este último o 64 mecanismo é observado na forma de murmúrios cardíacos, denominados “sopros 65 anêmicos”. Os achados clínicos relacionados com a hipóxia ocorrem quando a 66 anemia é mais grave e incluem taquipneia, intolerância ao exercício e cianose; 67 Já o principal sinal relacionado com a compensação orgânica é a taquicardia 68 (Garcia- Navarro, 2005). 69 4 A anemia pode ser classificada como relativa ou absoluta, em termos de 70 massa total de eritrócitos. A anemia relativa pode se desenvolver pela expansão 71 do volume plasmático, como em fêmeas gestantes e neonatos ou após 72 fluidoterapia. A anemia absoluta trata-se da forma mais comum de anemia, e é 73 classificada de acordo com a morfologia dos eritrócitos, mecanismos 74 patogênicos e resposta eritróide da medula óssea. O objetivo de se classificar as 75 anemias em vários tipos é determinar possíveis mecanismos patofisiológicos e 76 causas prováveis (Prado et al., 2016). Como exemplo, a anemia ferropriva, é o 77 tipo de anemia por deficiência nutricional mais comum, é causada pela 78 deficiência de ferro, e sua principal alteração é uma anemia microcítica 79 (hemácias pequenas). O ferro é um dos principais constituintes da hemoglobina, 80 responsável pelo transporte de oxigênio do sangue para os tecidos (Paschoal et 81 al, 2008). 82 3. Policitemia 83 A policitemia refere-se ao aumento na contagem de todas as células 84 sanguíneas, portanto é preferível utilizar o termo eritrocitose quando houver 85 apenas aumento na contagem eritrocitária. A policitemia pode ainda ser 86 classificada como relativa ou absoluta. Relativa quando relacionada a algum 87 distúrbio que não seja oriundo da medula, como por exemplo, desidratação e 88 desvios de fluidos corporais, ou, ainda devido à contração esplênica, que ocorre 89 geralmente em animais quando excitados. Já a absoluta corresponde ao 90 verdadeiro aumento da massa eritrocitária decorrente da produção medular, 91 podendo ser primária, decorrente de um distúrbio mieloproliferativo no qual 92 ocorre eritropoiese, independente da concentração de eritropoietina; ou 93 5 secundária que se deve à produção excessiva de eritrócitos devido ao aumento 94 de eritropoietina oriunda a um quadro de hipóxia generalizada, hipóxia renal 95 localizada ou, produção excessiva de eritropoietina estimulada por uma 96 neoplasia (Soto et al, 2008). Outras características dessa doença podem incluir, 97 esplenomegalia, complicações trombo-hemorrágicas, distúrbios vasomotores, 98 prurido e um pequeno risco de progressão da doença para leucemia mielóide 99 aguda ou mielofibrose (Macedo et al, 2015). 100 4. Coagulopatias 101 As coagulopatias são doenças hemorrágicas decorrentes da inibição ou 102 disfunção de um ou mais fatores de coagulação sanguínea, que se caracterizam 103 pela ocorrência de hemorragias de gravidade variável, de forma espontânea 104 e/ou pós-traumática. Como ainda não há cura para essas doenças, os pacientes 105 acometidos necessitam fazer uso frequente de hemocomponentes e/ou 106 hemoderivados (Barca et al., 2010). Essa patologia é caracterizada pela falência 107 do sangue em produzir hemostasia adequada em resposta a uma lesão tecidual, 108 seja esta decorrente de traumatismos, intervenções cirúrgicas ou demétodo 109 diagnóstico invasivo. Nas classes mais graves dessa doença existem perdas 110 significativas de componentes do sangue que, a partir de determinado ponto, 111 resultam inevitavelmente no desenvolvimento de defeitos no processo normal de 112 hemostasia, ativando o consumo de fatores de coagulação e plaquetas. As 113 coagulopatias que se desenvolve nos grandes sangramentos é a principal 114 responsável pelos óbitos que ocorrem nas primeiras 24 horas no tratamento em 115 vítimas com traumatismos (Nascimento & Scarpelini, 2018). 116 117 6 5. Trombocitopenias e trombocitopatias 118 A trombocitopenia pode ocorrer por quatro mecanismos distintos: aumento 119 da utilização secundária a perda de sangue ou coagulação intravascular 120 disseminada (CID); pela lise de plaquetas por fator imunomediado; sequestro 121 secundário a endotoxemia, hipotermia, hepato ou esplenomegalia; redução da 122 produção devido à doença medular (Scott & Jutkowitz, 2010) 123 A trombocitopatia é um distúrbio que pode ser adquirido, tendo como 124 característica a diminuição ou o aumento da função plaquetária; ou pode ser 125 hereditário (Rebar et al., 2003). Na forma adquirida, a atividade plaquetária pode 126 ser inibida pela maioria dos antiinflamatórios não esteróides, por proteínas 127 plasmáticas anormais e proteínas como produtos de degradação da fibrina, 128 autoanticorpos, tranquilizantes fenotiazínicos e produtos residuais que se 129 acumulam no plasma de pacientes com uremia (Thrall, 2007). 130 6. Hemorragia 131 Hemorragia é o escapamento de sangue de um vaso, seja para fora do 132 corpo, para o interior de uma cavidade do corpo, ou para tecidos adjacentes. 133 (Felice et al., 2011). Suas causas podem ser as mais variadas, sendo que podemos 134 destacar como principais os fatores extrínsecos, intrínsecos ou deficiência nos 135 fatores de coagulação (Alves et al., 2008). Os fatores extrínsecos estão 136 relacionados com questões externas ao nosso corpo (traumas). Os fatores 137 intrínsecos estão relacionados com problemas nos vasos sanguíneos ou no nosso 138 próprio corpo, como arteriosclerose, aneurismas e pressão alta. (Alves et al., 2008; 139 Kummar et al., 2008). 140 7 A hemorragia pode ser classificada como externa ou interna. Dizemos que 141 a hemorragia é externa quando a lesão causa perda de sangue na superfície do 142 corpo e é visível ao exame clínico. Na hemorragia interna, não podemos ver a 143 saída do sangue, uma vez que a lesão envolve a parte interna do organismo 144 (MELETTI, 2002). 145 Nas hemorragias arteriais o sangue é vermelho vivo e a perda é pulsátil, 146 esse tipo leva a uma perda rápida de sangue e é particularmente grave. 147 Nas hemorragias venosas o sangue é vermelho escuro e a perda se dá de forma 148 contínua e são menos graves. Nas hemorragias capilares são pequenas as perdas 149 de sangue, elas ocorrem em vasos de pequeno calibre que recobrem a 150 superfície do corpo. (Raiser, 2002; Gaiga, 2004; Valente, 2010) 151 7. Neoplasias 152 As patologias mieloproliferativas são proliferações descontroladas se sem 153 finalidade, de uma ou mais linhagens celulares da medula óssea e/ou do tecido 154 linfático (Garcia-Navarro, 2005). Os distúrbios linfoproliferativos são 155 todas as neoplasias que se originam dos linfócitos e plasmócitos. (Santos & Alessi, 156 2016). 157 Os distúrbios neoplásicos do sistema hematopoético não se restringem 158 apenas as leucemias, linfomas e mielomas. Além disso, tumores originários de 159 células hematopoiéticas podem ter início em outros órgãos, como os 160 mastocitomas, os plasmocitomas e os tumores histiocíticos, que comumente 161 afetam a pele. (Santos & Alessi, 2016) 162 8 As leucemias são neoplasias malignas, que se iniciam sempre na medula 163 óssea, onde as células sanguíneas são produzidas, e posteriormente invadem o 164 sangue periférico, podendo atingir vários órgãos. Os animais com leucemia 165 apresentam um maior número de células imaturas no sangue (blastos). São 166 classificadas em leucemias leucêmicas que apresentam um grande número de 167 blastos na circulação; leucemias subleucêmicas com um pequeno número de 168 blastos circulantes; leucemias aleucêmicas são aquelas quem apresentam blastos 169 circulantes. (Garcia-Navarro, 2005). Na necropsia, os pacientes leucêmicos 170 apresentam palidez das mucosas, descoloração das vísceras e sangue com 171 aspecto aquoso, achados típicos de anemia. Comumente, há múltiplas 172 hemorragias na forma de petéquias e sufusões na pele, nas mucosas oral, ocular 173 e genital, no tecido subcutâneo e na serosa e mucosa de múltiplos órgãos 174 (Santos & Alessi, 2016). 175 O linfoma é a neoplasia hematopoética maligna mais comumente 176 relatada em várias espécies animais, com origem de células linfóides, e se diferem 177 da leucemia linfocítica por se apresentarem na forma de massas tumorais sólidas 178 e se originarem em órgãos hematopoéticos sólidos, como linfonodo, baço, fígado 179 e MALT, ou seja, fora da medula óssea (Santos & Alessi, 2016). 180 8. Imunodeficiências 181 A imunidade pode ser dividida em dois tipos básicos, inata e adaptativa. A 182 imunidade inata, consiste nos mecanismos químicos e celulares capazes de 183 defender o indivíduo de microrganismos invasores, através da fagocitose. A 184 imunidade adaptativa, responde por meio de células e anticorpos contra os 185 agentes agressores, fenômenos denominados de resposta imune mediada por 186 9 células e resposta imune humoral, respectivamente. Distúrbios pela ineficiência 187 desses mecanismos ocorrem de forma hereditária (Santos & Alessi, 2016). 188 As imunodeficiências primárias (IMP) são um grupo de doenças 189 geneticamente heterogêneas que afetam diferentes componentes da 190 imunidade, como neutrófilos, macrófagos, células dendríticas, proteínas do 191 sistema complemento, células natural killer e linfócitos B e T. Acarretam maior 192 suscetibilidade às infecções de repetição, doenças autoimunes e neoplasias 193 (Roxo, 2009). 194 As imunodeficiências hereditárias relacionadas com déficit na imunidade 195 inata afetam basicamente os neutrófilos e podem causar alteração na 196 função Plaquetária. Quando relacionadas com déficit na imunidade adaptativa 197 acometem os linfócitos e podem se manifestar como doenças em que há 198 comprometimento das imunidades celular e/ou humoral. (Santos & Alessi, 2016) 199 200 Referências 201 202 Almeida, T.M, 2017. Alterações citológicas da medula óssea e sangue 203 periférico de gatos (Felis catus) anêmicos naturalmente infectados pelo vírus da 204 leucemia felina. 94f. (tese de mestrado) – UEC. 205 Barca, D. A. A. V. et al. 2018. Hemovida web coagulopatias: um relato do 206 seu processo de desenvolvimento e implantação. Caderno saúde coleta: Rio de 207 Janeiro, v. 18, n. 3, p. 201, 434-440. 208 Garcia- Navarro, C.E.K, 2005. Manual de hematologia veterinária, 2º.ed. 209 Revista e ampliada. São Paulo: Livraria Varela, p. 74-75. 210 10 Júnior, B. N., Scarpelini, S., Rizoli, S., 2018. Coagulopatia no trauma. 211 Medicina: Ribeirão Preto, v. 40, n. 4, p. 200, 509-517. 212 Macedo, J. et al., 2015. Policitemia vera: a propósito de um caso clínico. 213 Nascer e Crescer: Porto – PT, v. 24, n. 2, p. 83-87. 214 Meletti, J.F.A., 2002. Comportamento hemodinâmico e metabólico do 215 choque hemorrágico: estudo experimental no cão. Programa de Pós-Graduação 216 em Anestesiologia: Faculdade de Medicina de Botucatu, Botucatu - SP. 108f. 217 Nakage, A.P.M., Santana, A.E., 2006. Células-tronco hematopoéticas em 218 cães. CiênciaRural, Santa Maria 36: 325-329. 219 Raiser, A.G. Choque. 2002. Patologia cirúrgica veterinária. Santa Maria: 220 UFSM, p.31-72 221 Rebar, A. H. et al., 2003. Guia de hematologia para cães e gatos, 1º.ed. São 222 Paulo: Roca, p.133 – 156. 223 Roxo, J.P., 2009. Imunodeficiências primárias: aspectos relevantes para o 224 pneumologista. Revisão bibliográfica, Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo. 225 p. 1008-1017. 226 Santos, R.L., Alessi, A.C. 2016. Patologia Veterinária. Roca, Rio de Janeiro, 227 Brasil.1346 p. 228 Soto, J. C. H. et al., 2008. Policitemia e eritrocitose em animais domésticos 229 revisão de literatura. Revista científica eletrônica de medicina veterinária: Garça – 230 SP, v. 6, n. 11. 231 Thrall, M.A., 2007. Hematologia e bioquímica clínica veterinária, 1º.ed. São 232 Paulo: Roca, p. 181 – 184. 233 Wardrop K., 2010. Schalm’s Veterinary Hematology, 6ª.ed. Blackwell 234 Publishing Company: Iowa. p.586-595 235