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Roberto Padilha Moia Trade marketing, B2B e relacionamento Roberto Padilha Moia 03 Sumário CAPÍTULO 1 – Entendendo o Trade Marketing ...................................................................05 Introdução ....................................................................................................................05 1.1 Conceito e evolução do Trade Marketing ....................................................................05 1.1.1 Trade Marketing como área de integração .........................................................07 1.1.2 Objetivos do Trade Marketing ...........................................................................10 1.1.3 Trade Marketing e a interação com o marketing mix ............................................11 1.2 Trade Marketing e a cadeia logística ..........................................................................13 1.2.1 Cadeia logística e suas atividades .....................................................................13 1.2.2 O canal de distribuição e a integração com o Trade Marketing ............................16 1.2.3 Principais atividades do Trade Marketing na cadeia logística .................................18 Síntese ..........................................................................................................................22 Referências Bibliográficas ................................................................................................23 05 Capítulo 1 Introdução Você sabe como os produtos e os serviços agregados são disponibilizados para os consumido- res? Se você imaginou que essa tarefa é realizada por uma empresa de distribuição, lembre-se de que alguém precisa produzir, armazenar, distribuir, vender e entregar esses produtos e servi- ços. Portanto, você precisa escolher muito bem quais canais de distribuição precisam ser utiliza- dos para abranger todo esse processo. Dias (2011, p. 126) menciona que distribuição “[...] é o fluxo de bens e/ou serviços de um produtor a um consumidor ou usuário final.”. Se o fluxo de bens e serviços é algo importante para que uma empresa possa melhorar o pro- cesso de distribuição, como garantir que esse processo seja feito de maneira correta? Você pode utilizar-se de um canal de distribuição ou canal de marketing. Para Kotler (2000, p. 510), “[...] canais de marketing são conjuntos de organizações independentes envolvidas no processo de disponibilização de um produto ou serviço para uso ou consumo.”. Isso significa que várias orga- nizações, sem nenhuma dependência mútua, trabalham na distribuição de produtos e serviços ao cliente final. Mas você sabe como garantir um processo eficiente e eficaz, com organizações que são independentes, sem comprometer a qualidade do produto ou interferir na sua distribuição? Veja que surgiu aí, exatamente nesse ponto, o conceito de Trade Marketing, que tem por objetivo interligar essas organizações que atuam no processo de distribuição. Neste capítulo, você conhecerá os principais conceitos de Trade Marketing identificando sua evolução no mercado. Você perceberá como a identificação das estruturas de Trade Marketing ajuda as empresas a combinarem suas atividades com a cadeia logística. Agora, mãos à obra, pois você tem muito conhecimento para adquirir e aplicar sobre a utilização das estratégias de Trade Marketing. 1.1 Conceito e evolução do Trade Marketing A decisão pela escolha correta dos canais de distribuição de produtos e serviços sempre foi um desafio para os gestores de empresas. Porém, desafio maior ainda é a integração das relações e operações entre esses canais. O mercado observou, ao longo das últimas décadas, a evolução de fabricantes, varejistas e atacadistas nesse contexto. Veja que, até então, a responsabilidade pela movimentação de produtos e serviços era dividida, e não havia a mínima colaboração entre eles, ou seja, o fabricante não só ficava responsável exclusivamente pela sua operação, como tampouco importava, para ele, o que acontecia no canal varejista (Javier, 2008). Desta forma, para o fabricante, a movimentação e a comercialização do produto no varejo era de responsabilidade exclusiva do varejista. O que era entregue ao consumidor final (shopper) não era alvo de preocupações para o fabricante, atacadista ou intermediário, acarretando apenas ao varejista a decisão sobre o que seria melhor para o cliente final. Esse pensamento vem mudando com o tempo, evoluindo para um conceito mais voltado para a integração das operações entre os canais de distribuição, ou seja, todo mundo cuida de todo mundo. De acordo com Cônsoli e D’Andreia (2011, p. 32), essa evolução “[...] desenvolve-se conjuntamente, originando conflitos internos e externos que culminam no surgimento do trade marketing como área nas empresas.”. Entendendo o Trade Marketing 06 Laureate- International Universities Trade marketing, B2B e relacionamento Na visão de Javier (2008, p. 30-31), em razão do aumento da competitividade mundial por mercados, as relações entre fornecedores, clientes e consumidores finais passam por mudanças que afetam os modelos de gestão das empresas, as demandas, o comportamento de compra dos consumidores e a própria forma de conceber a gestão de marketing e vendas. Essas mudanças trouxeram muitos desafios para a indústria. Os dois principais desafios a serem enfrentados foram: 1) com a padronização de produtos e serviços, os consumidores passaram a ter dificul- dades em perceber diferenças entre produtos e marcas; e 2) o fortalecimento das grandes redes varejistas, que, por sua vez, valorizaram seus espaços em função da alta demanda de produtos e marcas, enfraquecendo a indústria. Você sabe qual foi o resultado disso? O deslocamento do poder de negociação, que passou para as mãos do varejo. A partir dessa nova realidade, a indústria precisou reinventar-se e aprimorar sua concepção de negócios. Cônsoli e D’Andreia (2011) fazem uma condensação da evolução histórica da indústria, que você vê no Quadro 1, buscando compreender os principais fatos que justificaram a introdução do conceito de Trade Marketing no mercado. Essa evolução colaborou para que a indústria entendesse que a integração com os demais canais de distribuição era vital para que ela pudesse voltar a ter condições de negociar de igual para igual com o varejo. Período Evolução da Indústria 1930-1945 Introdução da indústria manufatureira e ampliação da base do mercado do- méstico, diminuindo o peso da agricultura na economia brasileira. 1946-1962 Grande salto na industrialização moderna, determinado por políticas prote- cionistas à indústria doméstica, e investimentos estatais em infraestrutura de transportes e energia. 1963-1973 Expansão da indústria manufatureira, abertura do país ao exterior, crescimento das exportações e aumento da demanda por bens duráveis. 1974-1989 Grande instabilidade gerada pela inflação e “superaquecimento” do comércio mundial. 1990-1994 Abertura comercial e financeira, estabilidade de preços, privatização e moder- nização tecnológica do parque industrial. 1994-1999 Redução da inflação, valorização do câmbio, expansão da demanda interna e déficit na balança comercial. 1999-2006 Retomada do crescimento da indústria. Quadro 1 − Expansão da indústria. Fonte: Adaptado de Cônsoli e D’Andreia (2011). De acordo com Mota (2008, p. 8), “[...] o trade marketing, assim como outras inovações em marketing, tem sua origem na indústria de bens de consumo não duráveis”. De acordo com Churchill (2012, pág. 244), “[...] bens duráveis são produtos usados por um longo período de tempo, geralmente três anos ou mais e, bens não duráveis são produtos usados por um breve pe- ríodo de tempo, em geral menos de três anos”. Para Cônsoli e D’Andreia (2011), muitos foram os fatores que condicionaram o surgimento doTrade Marketing como departamento nas empresas. Dentre eles, podem ser citados: o excesso de marcas e produtos (e a consequente falta de espaço para a exposição deles no ponto de venda), o fortalecimento dos intermediários (concentração dos varejistas, acesso à informação do shopper, automatização das lojas, práticas de Resposta Eficiente ao Consumidor – ECR – e gerenciamento por categorias), a especialização dos canais de vendas e a infidelidade do consumidor. 07 Para entender melhor o conceito de ECR, sugerimos a leitura do Capítulo 1 – Organi- zação da Logística na Empresa, do livro de Fabiano Caxito mencionado nas referências bibliográficas. NÃO DEIXE DE LER... O que você pode observar é que esses fatores estão diretamente relacionados às estratégias de marketing das empresas, fazendo com que se chegue a uma definição mais clara de Trade Marketing. De acordo com Javier (2008, p. 73), seria “[...] o planejamento e controle das ações de venda e de mercado e dos benefícios oferecidos ao consumidor final (Marketing), por meio da verificação das relações de vendas estabelecidas com os varejistas (TRADE)”. Esse conceito remete a uma relação mais estreita e direta entre varejo e consumidor final, tendo como apoio, nesse processo, a indústria. As relações entre o varejo, o atacado e a indústria devem favorecer a decisão de compra no ponto de venda pelo consumidor. Todos os esforços devem, sempre, estar direcionados para esse objetivo. Do ponto de vista da integração dos canais de distribuição, Cônsoli e D’Andreia (2011, p. 44) apontam outra definição de Trade Marketing, mencionando que ele pode ser definido [...] como conjunto de práticas de marketing e vendas entre fabricantes e seus canais de distribuição com o objetivo de gerar valor através da satisfação das necessidades e melhoria da experiência de compra dos shoppers, podendo beneficiar mutuamente fabricantes e seus clientes conforme as relações de poder entre ambos. Nesse contexto, o Trade Marketing oferece uma série de ferramentas e ações que visam alavancar resultados financeiros de vendas para todos os elos da cadeia, da indústria ao ponto de venda. A busca pela rentabilidade na cadeia de distribuição passou a ser tarefa de todos os envolvidos: se um sair prejudicado, a cadeia toda perde. NÃO DEIXE DE VER... O filme A fantástica fábrica de chocolate, em que o personagem Willy Wonka abre as portas de sua fábrica permitindo que os clientes conheçam o processo de produção do chocolate. O filme trabalha a difícil interação da fábrica com seus consumidores finais. 1.1.1 Trade Marketing como área de integração O Trade Marketing, de acordo com Cônsoli e D’Andreia (2011) atua, em resumo, como área de integração entre fabricantes, varejistas e consumidores, interligando os departamentos de marke- ting, merchandising e comercial. Para entendermos melhor o conceito de merchandising, Blessa (2001, p. 18) o define como “[...] qualquer técnica, ação ou material promocional usado no pon- to de venda que proporcione informação e melhor visibilidade a produtos, marcas e serviços.”. Quanto ao Trade Marketing, seus papéis são: desenvolver estratégias para melhorar a experiên- cia de compra dos shoppers com a marca, criar estratégias e políticas comerciais para os canais de vendas, ser especialista em shopper insights, e desenvolver práticas internas que estimulem as estratégias de canais e o ponto de venda. Cônsoli e D’Andreia (2011), explicam que shopper insights “[...] são pesquisas aplicadas ao gerenciamento de categorias e à efetividade de lança- mentos, embalagens e comunicação de ponto de venda.”. 08 Laureate- International Universities Trade marketing, B2B e relacionamento O objetivo final do Trade Marketing é, portanto, estabelecer alavancas de volume no ponto de venda por intermédio do gerenciamento de sortimento, preço, espaço e planograma, publicida- de, ponto extra e promoção. A Figura 1, a seguir, ilustra essa relação da área de Trade Marketing com as demais áreas das empresas para impulsionar os resultados junto aos shoppers, consumi- dores e varejistas. Shopper/ consumidor Trade marketing Fabricante Varejista PDV Marketing Merchandising Comercial Figura 1 − Trade Marketing como área de integração. Fonte: Cônsoli e D’Andreia (2011). O que você pode interpretar a partir da Figura 1 é que a interação entre as áreas ajuda a explicar claramente a função do Trade Marketing. De acordo com Javier (2008, p. 76), [...] a função de Trade Marketing lida com diversas áreas da gestão de negócios, interagindo com distintos setores, sejam eles internos ou relacionados aos clientes. Demanda também uma série de atividades de amplo envolvimento que a reveste de certa complexidade no processo de interação com a organização. Em síntese, há uma multidisciplinaridade na função de Trade Marketing, ou seja, vários depar- tamentos e setores da empresa interagem direta ou indiretamente com as atividades que ala- vancam produtos do fabricante até o consumidor final. Conheça as principais interações entre o Trade Marketing e os departamentos da empresa na Figura 2. 09 Agências promoção Finanças Vendas Marketing Logística Gerência loja Finanças Compras Marketing TRADE MARKETING EMPRESA CLIENTE Logística Figura 2 − Interações internas e externas de Trade Marketing. Fonte: Javier (2008). Saiba que essas interações, ainda de acordo com Javier (2008), representam a multidisciplina- ridade do Trade Marketing, evidenciando que sua principal função é integrar departamentos e funções, tanto do fabricante como do varejo, para que, juntos, atendam às demandas e necessi- dades dos clientes. Essas interações podem ser internas e externas, veja a seguir: a) Interações internas (na empresa) = a área de marketing procura entender as necessidades e lacunas não preenchidas por nenhuma ou por poucas empresas no mercado. Na área de vendas, tratam-se das práticas comerciais que serão adotadas pela empresa; na área de finanças, são abordados os principais custos da operação para atender ao cliente; na logística, a principal preocupação é controlar o abastecimento dos produtos no ponto de venda; por último, mas não menos importante, a área de promoção cuida das ações promocionais e de sua aplicação no mercado. b) Interações externas (no cliente) = o marketing é responsável pelo entendimento e aplicação do planejamento elaborado pelo fabricante. O setor de compras tem a preocupação de desenvolver uma política de compras que favoreça tanto o fabricante quanto o varejista; a área das finanças define as políticas de preços para o consumidor final; a gerência da loja viabiliza a movimentação e o giro dos produtos no ponto de venda; e a logística cuida do giro de estoque e da alocação dos produtos nas gôndolas. Perceba que todas as áreas envolvidas, internas ou externas ao fabricante, interagem e depen- dem do correto planejamento de Trade Marketing. Se as tarefas não forem executadas de forma coordenada e integrada, todos perdem – fabricante, distribuidor, varejista e, principalmente, o consumidor final. As empresas envolvidas nesse processo de interação precisam definir cla- ramente quais são os objetivos que o Trade Marketing deve atingir para garantir um resultado satisfatório para todos. 10 Laureate- International Universities Trade marketing, B2B e relacionamento 1.1.2 Objetivos do Trade Marketing Para que uma empresa trabalhe a sua área de Trade Marketing, é necessário que tenha definido com propriedade quais são os objetivos que ela pretende atingir com suas ações. Gestores que não tenham um direcionamento claro do que devem fazer podem confundir as atividades e, ao invés de melhorar o desempenho da distribuição da empresa no mercado, acabam por gerar conflitos entre os canais de distribuição, o que comprometeráo resultado da empresa. De acordo com Cônsoli e D’Andreia (2011, p. 44), [...] o contexto para desenvolvimento do trade marketing foi marcado pela existência de três fatores: o ponto de venda como restrição ao número de marcas, o shopper superestimulado e confuso, e objetivos antagônicos entre varejistas (preços baixos, otimização da categoria) e fornecedores (valor agregado). Essa definição valida que o Trade Marketing tem por objetivo principal reduzir os conflitos entre os canais de distribuição. Ao desenvolver a área de Trade Marketing, você precisa entender os objetivos que sua empresa pretende trabalhar no mercado. De acordo com Javier (2008, p. 74), [...] o principal ambiente de atuação do Trade Marketing é a área de vendas do varejista diante de shoppers e buyers (compradores), integrando ações de suprimento e motivação de demanda aos consumidores finais e interagindo com o varejista e outros diversos setores da própria empresa. A partir dessa afirmação, Javier (2008) aponta os principais objetivos do Trade Marketing. Veja: • promover a atratividade do produto no ponto de venda; • ocupar o maior espaço possível no ponto de venda; • garantir a visibilidade da estratégia de marketing da empresa; • apoiar e orientar os novos lançamentos de marketing; • apoiar e orientar a força de vendas, desenvolvendo o potencial dos clientes; • desenvolver o relacionamento de longo prazo com os clientes; • estabelecer objetivos de presença, giro e rentabilidade por cliente e por canal; • acompanhar e controlar os custos de servir os clientes e os canais. Sob o ponto de vista da indústria, Cônsoli e D’Andreia (2011, p. 44), mencionam que, nesse caso, “[...] deseja-se administrar o grau de concentração de vendas (evitando dependência) e garantir que as estratégias de marca sejam preservadas no ponto de venda (alinhando as ações de marketing aos canais de distribuição).”. Ou seja, a grande preocupação da indústria está justamente na busca de esforços para não ficar refém de um varejista específico, além de garan- tir que suas marcas ganhem mais destaque no ponto de venda. No caso dos intermediários, os mesmos autores mencionam, ainda, que [...] objetiva-se assegurar a rentabilidade dos principais clientes individualmente e adaptar o portfólio de produtos, preços, promoções, táticas de merchandising e logística segundo as necessidades e especificações de cada distribuidor. (CÔNSOLI; D’ANDREIA (2011, p. 44). Entenda que a indústria, o varejo e os intermediários têm por objetivo direcionar seus esforços ao atendimento das necessidades dos consumidores no ponto de venda, procurando influenciar o máximo possível suas decisões de compra. 11 1.1.3 Trade Marketing e a interação com o marketing mix Definidos os objetivos do Trade Marketing, o próximo passo é inseri-los no desenvolvimento do composto mercadológico de marketing, ou marketing mix. De acordo com Gioia (2013, p. 138), [...] o marketing mix é a combinação de variáveis estratégicas controláveis pela organização, basicamente os 4 Ps (produto, preço, praça e promoção), orientada para a criação de valor para o cliente e o atingimento dos objetivos da organização ofertante. O composto de marketing, desse modo, guarda uma relação de compatibilidade e conexão com o mercado-alvo. Nesse contexto, a atividade de Trade Marketing é fundamental para que as ações planejadas dentro do mix de marketing atendam, de maneira integrada, às necessidades do mercado-alvo. Veja que o Trade Marketing passa a ser pautado por pilares que garantam essa interação com o mercado. Conforme a figura 3, a interação do mix de marketing cria uma sinergia entre as ações dos 4ps, desde o produtor até o mercado-alvo, garantindo que essas ações possam ter os efeitos planejados. Figura 3 − A interação do mix de marketing: produto, preço, promoção e praça. Fonte: Shutterstock, 2015. De acordo com Cônsoli e D’Andreia (2011, p. 50), “[...] são três os pilares de trade marketing: sortimento, preço e promoção. Entretanto, as grandes empresas de bens de consumo de alto giro têm introduzido um quarto pilar, que agrupa variáveis relacionadas à visibilidade de seus produ- tos no ponto de venda.”. Como exemplo para consumo de alto giro, podemos citar a indústria de bebidas, que diariamente movimenta um grande número de produtos em função do seu alto giro, ou seja, da venda rápida do produto. Para esses três pilares, entenda que a definição dos autores sobre o sortimento de produtos, a princípio, é de responsabilidade do varejista, porém os fabricantes, para interferirem em escolhas convenientes apenas para o varejo, com o tempo, sugeriram a introdução do mix de produtos de acordo com o potencial de demanda da região, e dos preços praticados em que o varejo estivesse instalado. 12 Laureate- International Universities Trade marketing, B2B e relacionamento No caso da estratégia de preço, compreenda que o varejo precisa adaptar as suas necessidades para que o preço praticado possa garantir uma rentabilidade mínima e a cobertura dos custos operacionais. O que vale ressaltar é que, ao mesmo tempo em que o preço deve cobrir os custos da operação, ele não pode ser maior do que os praticados pelos concorrentes, pois o consumi- dor registra em sua memória um preço-base ou padrão para determinado produto ou marca. Nessa situação, o Trade Marketing auxilia fabricantes e varejo na determinação do preço que será praticado no mercado de forma a atender às expectativas dos consumidores. O último pilar, a promoção, tem por objetivo agregar valor ao produto para chamar a atenção do consumidor e, por consequência, garantir o giro rápido do produto no ponto de venda. Geralmente, essas ações são integradas com o mix de produtos oferecidos pelo varejista com o objetivo de garantir que nenhum produto falte ou “encalhe” na gôndola. Em síntese, e de acordo com Cônsoli e D’Andreia (2011, p. 51-52), “[...] as ações de trade marketing devem estar integradas com as estratégias e decisões do composto de marketing, tanto do ponto de vista dos fabricantes, intermediários de canais e varejistas.”. Várias atividades de Tra- de Marketing são aplicadas às estratégias e decisões do composto de marketing. Para cada um dos itens do composto, os autores apresentam algumas atividades de Trade Marketing, a seguir: a) Produto ou serviço − decisões que envolvem linhas de produtos, marcas, embalagens, entre outras decisões. Nesse caso, “[...] as atividades de trade marketing apoiam a execução dessas decisões mais amplas, sendo que o pilar de sortimento é o que tem maior relação com as decisões de produtos.” (CÔNSOLI; D’ANDREIA, 2011, p. 51). b) Comunicações − nesse quesito, a empresa precisa se comunicar com o consumidor final por meio de ações promocionais. “Os pilares de trade marketing que envolvem a promoção e visibilidade devem estar alinhados com as estratégias de comunicação e posicionamento das empresas, com importantes reflexos em vendas.” (CÔNSOLI; D’ANDREIA, 2011, p. 52). c) Distribuição − são decisões que envolvem canais de distribuição, intensidade e escolha de parceiros de canal. Nesse caso, o trade marketing atua por meio de “[...] ações de marketing para os agentes de canais, com execução de ações para melhor atender aos consumidores finais.” (CÔNSOLI; D’ANDREIA, 2011, p. 52). d) Força de vendas − no que se refere ao Trade Marketing, a integração com a força de vendas é de extrema relevância, dado que muitas das informações dos clientes varejistas (visão da indústria) são obtidas e transmitidas pelas equipes de venda (CÔNSOLI; D’ANDREIA, 2011, p. 52). e) Preços − empresas de ponta têm colocado as decisões de preços como um dos focos das ações de Trade Marketing, garantindo o estabelecimento de padrões de preços (bandas de decisão, nem muito barato, nem muito caro) entre seus produtos e os daconcorrência. (CÔNSOLI; D’ANDREIA, 2011, p. 52). Como foi contextualizado, o mix de marketing depende diretamente de uma correta gestão de Trade Marketing focada nas atividades necessárias para o bom desempenho junto ao consumidor final. Na sequência, a principal preocupação do Trade Marketing é a sua associação com a ca- deia logística, mais especificamente com as operações de armazenagem, estocagem, transporte, entre outras. Você verá esses temas no capítulo a seguir. 13 Onde a atividade de Trade Marketing se enquadra nas decisões de Marketing? O Trade Marketing faz parte das estratégias do composto mercadológico “praça”. São as decisões de onde, quando e como o produto deve ser disponibilizado para o cliente final. Essa preocupação dentro da área de marketing é de competência do planejamen- to ligado ao composto “praça”. NÓS QUEREMOS SABER! 1.2 Trade Marketing e a cadeia logística Como o Trade Marketing interage com a área de logística das empresas envolvidas (fabricante, atacado e varejo)? Será que deixar de preocupar-se com a cadeia logística na distribuição de um produto interferirá nas escolhas do consumidor no ponto de venda? Para essas questões, a resposta mais indicada é a de que a integração do Trade Marketing com toda a cadeia logística é de extrema e vital importância para qualquer empresa. Você verá, na sequência, a importância da relação do Trade Marketing com a cadeia logística. 1.2.1 Cadeia logística e suas atividades Para que você entenda a interação da cadeia logística com o Trade Marketing, primeiro, precisa conhecer mais profundamente as principais atividades contempladas pela cadeia logística, seus principais conceitos e aplicações. Muitas vezes, as empresas deixam em segundo plano a ges- tão da cadeia logística, o que compromete todo o planejamento e eficácia do Trade Marketing (Cônsoli e D’Andreia (2011). De acordo com Ballou (2011, p. 25), “[...] a logística é um conjunto de atividades funcionais (transportes, controle de estoques, etc.) que se repetem inúmeras vezes ao longo do canal pelo qual matérias-primas vão sendo convertidas em produtos acabados, aos quais se agrega valor ao consumidor.”. A atividade logística começa no planejamento da demanda do produto e vai até a sua entrega física para o consumidor final, quando muitas vezes ainda não há a neces- sidade da logística reversa, ou seja, de retornar os produtos ao fabricante, por exemplo, itens danificados, vasilhames retornáveis ou até mesmo o descarte de materiais que causem danos ao meio ambiente, como as baterias de aparelhos celulares. As principais atividades da cadeia logística são: planejamento da produção, administração de compras, gestão de estoques, armazenagem e distribuição. Conheça, a seguir, as principais fun- ções de cada uma dessas atividades que, de alguma maneira, interagem com o planejamento de Trade Marketing das empresas envolvidas. A primeira atividade da cadeia logística que você estudará é o planejamento da produção. Toda empresa que vai produzir algum produto precisa elaborar o planejamento de produção para que possa ter o que entregar ao seu cliente final. Para Caxito (2007, p. 61), “[...] seja em uma empresa de manufatura ou em uma empresa que presta serviços, para alcançar os objetivos traçados pela estratégia adotada, é necessário desen- volver planos para atingi-los.”. Para elaborar o planejamento da produção, a empresa necessita avaliar quais são os recursos necessários – humanos, de conhecimento ou físicos – para a imple- mentação do planejamento da cadeia produtiva. Após essa definição, as próximas etapas do fluxo de planejamento devem ser: o planejamento das vendas e operações, que deve apresentar o seu potencial estimado; o Planejamento Mestre de Produção (PMP), que define as quantidades, os prazos e a viabilidade do processo produtivo; 14 Laureate- International Universities Trade marketing, B2B e relacionamento o planejamento dos materiais requisitados (Material Requirements Plan – MRP), que converterá a previsão de demanda em itens a serem solicitados; e o controle das atividades do processo de compras, em que tudo o que será adquirido para o processo produtivo deve passar pelo controle de como serão feitas essas aquisições. Quanto à atividade de compras, para Ballou (2011, p. 29), “[...] as compras e programação de produtos podem ser consideradas, em geral, uma pre- ocupação mais de produção do que de logística.”. Para entender melhor o conceito de MRP, sugerimos a leitura do Capítulo 10 – Decisões de compras e de programação dos suprimentos, do livro do Ronald Ballou, mencionado nas referências bibliográficas. NÃO DEIXE DE LER... Complementando sua definição de gestão de cadeia de suprimentos, Ballou (2011, p. 24) men- ciona que [...] a cadeia de suprimentos abrange todas as atividades relacionadas com o fluxo e transformação de mercadorias desde o estagio da matéria-prima (extração) até o usuário final, bem como os respectivos fluxos de informação. Materiais e informações fluem tanto para baixo quanto para cima na cadeia de suprimentos. Após o planejamento, a gestão da cadeia de suprimentos se faz necessária para integrar todas as atividades. A gestão da cadeia de suprimentos, ou supply chain management, tem como função específica, de acordo com Ballou (2011, p. 23), destacar “[...] as interações logísticas que ocorrem entre as funções de marketing, logística e produção no âmbito de uma empresa, e dessas mesmas interações entre as empresas legalmente separadas no âmbito do canal de fluxo de produtos.”. Perceba que a função da cadeia de suprimentos iguala-se ao conceito de Trade Marketing. A sua gestão tem a responsabilidade de olhar para toda a cadeia logística da empresa e facilitar, e por que não dizer garantir, que nada impeça que o consumidor final tenha seu produto em mãos no tempo certo, da maneira correta e no momento em que ele deseje o produto. Você pode, então, entender que o Trade Marketing e a cadeia de suprimentos são parceiros es- senciais para que o produto consiga transitar pelos canais de distribuição e chegar efetivamente nas mãos do consumidor final. Portanto, outra atividade essencial da cadeia logística é a gestão dos canais de distribuição. Na visão de Caxito (2007, p. 114), “[...] os canais de distribuição representam a transferência de posse das mercadorias que ocorre no fabricante, passando pelos varejistas e/ou atacadistas até chegar ao consumidor final.”. De acordo com Campos (2010, p. 74), “[...] o canal de distribuição é formado pelas empresas por onde fluem os produtos desde os fornecedores até o cliente final, incluindo o retorno do produto quer seja após o consumo ou após a venda.”. O autor complementa mencionando que existem diversas formas de se estruturar um canal de distribuição: ou a empresa fatura o produto acabado para o atacadista, que o fatura para o varejista e, por fim, o cliente adquire o produto; ou a empresa fabricante fatura o produto diretamente para o varejista e o cliente o adquire; ou, outra maneira ainda é quando o fabricante o vende diretamente para o consumidor final. A Figu- ra 4 explicita os elos de ligação entre fabricante e varejista e, entre varejista e consumidor final: essa sequência de ligações é o que configura o canal de distribuição. 15 Figura 4 − Canais de distribuição: fabricantes, varejistas e consumidor final. Fonte: Shutterstock, 2015. Não menos importantes, outras duas atividades da logística são a armazenagem e o estoque dos produtos. De acordo com Caxito (2007, p. 134), a atividade de armazenar produtos “[...] para os profissionais que convivem e atuam no segmento das operações logísticas, representa um verdadeiro complexo de atividades inerentes ao conjunto de operações logísticas.”. O autor aponta, ainda, que a armazenagem é, muitas vezes, uma função esquecida pelos gestorese que, pelo contrário, ela é de suma importância para o bom desempenho da cadeia de suprimentos justamente porque quanto menos produtos armazenados, menores serão os custos com merca- doria parada. Uma cadeia produtiva integrada com as demandas do mercado pelos produtos gera uma necessidade cada vez menor de armazenagem, o que irá colaborar com a redução de custos, que poderá ser repassada para os demais integrantes da cadeia de distribuição. Por fim, Ballou (2011, p. 259), menciona que os estoques “[...] são acumulações de matérias- -primas, suprimentos, componentes, materiais em processo e produtos acabados que surgem em numerosos pontos do canal de produção e logística das empresas.”. Para muitos gestores, a palavra estoque é assustadora, pois significa que seus produtos estão parados aguardando pela compra, muitas vezes sem previsão. Esses gestores mencionam, ainda, que uma gestão correta das demandas de mercado evitaria a necessidade da função de estoques (Caxito, 2007). Porém, a presença do estoque físico, principalmente no ponto de venda, pode garantir a conclusão do processo de compra por parte do consumidor final, isso porque muitos produtos com baixo valor agregado não interferem tanto nas decisões do consumidor a ponto de ele deixar de comprar um similar, ou mesmo dirigir-se a outro ponto de venda com o intuito de comprar aquele determina- do produto (Javier, 2008). Então, você deve estar se perguntando: afinal devemos ou não manter estoques? A decisão de manter ou não estoques depende de alguns fatores, que segundo Caxito (2007) são argumenta- dos da seguinte forma: a) Argumentos em favor do mantimento de estoques: • Realizar um bom atendimento ao cliente é manter o produto disponível para satisfazer as necessidades do cliente no momento do atendimento. • Equacionar a demanda com a capacidade de atendimento principalmente para produtos sujeitos à sazonalidade (procura pelo produto em períodos específicos), mantendo um estoque em períodos já conhecidos de grande procura. 16 Laureate- International Universities Trade marketing, B2B e relacionamento • Reduzir os custos de aquisição e transporte, pois muitas vezes a compra de grandes lotes de produtos gera uma economia muito grande oriunda de grandes descontos por quantidades compradas ou barateamento do transporte, justificando assim, a formação de estoques. • Abastecer os canais de distribuição. No caso do fabricante, manter o estoque pode ser estratégico para garantir a disponibilidade de produtos aos demais integrantes da cadeia de distribuição (atacadista e varejista). b) Argumentos contra o mantimento de estoques: • Aumento de custos. Manter estoques gera alguns custos muitas vezes “invisíveis” aos olhos dos gestores, por exemplo, custo financeiro da mercadoria parada; seguro da mercadoria; perdas e danos pelo tempo em estoque, entre outros custos conforme as características de cada produto. • Ineficiência na resolução de problemas. Muitas vezes, os itens em estoque ficam obsoletos se não consumidos em um determinado prazo, por exemplo, uma peça para determinado tipo de aparelho eletrônico que já saiu de linha. Essa peça, além de ficar sem giro no estoque, é ineficiente caso o consumidor precise de uma para um aparelho mais recente. O que você pode observar até agora com relação à cadeia logística é que ela é composta por diversas atividades que são essenciais na vida de uma empresa. Cada uma dessas atividades tem seus desdobramentos em outras atividades menores, porém não menos importantes, que acabam por interagir com toda a cadeia e, por consequência, com as atividades do Trade Marketing. No entanto, uma atividade estratégica da logística que interage com o Trade Marketing é a gestão dos canais de distribuição de produtos, também conhecida como canais de distribuição em marketing. 1.2.2 O canal de distribuição e a integração com o Trade Marketing A cadeia logística é composta por diversas atividades que também interagem com o Trade Marke- ting. O que você vai conhecer agora é como essa integração acontece. Cônsoli e D’Andreia (2011, p. 67) relacionaram [...] as atividades de trade marketing com um conjunto mais amplo de conceitos e iniciativas, que envolvem a gestão da cadeia de suprimentos e a gestão de canais de distribuição, como forma de integrar processos, melhorar o desempenho dos fluxos de marketing nos canais, reduzir conflitos e incentivar o envolvimento e desempenho dos parceiros de canal. Os autores complementam, ainda, mencionando que a atividade da gestão da cadeia de supri- mentos também tem por objetivo integrar os processos logísticos visando agregar valor para os consumidores finais. O objetivo de agregar valor também é uma função da área de marketing das empresas. Vali- dando essa afirmação, Cônsoli e D’Andreia (2011, p. 67) apontam que “[...] as ações de trade marketing serão consideradas no âmbito das ações de marketing direcionadas aos canais, de modo a alinhar as iniciativas e atividades (fluxos de marketing e processos) para criar valor e satisfazer os consumidores finais.”. A partir dessas ideias, também adotaremos essa “fusão” do marketing com a logística como sendo a norteadora para o Trade Marketing. A atuação da ges- tão de Trade Marketing dá-se diretamente sobre os canais de distribuição em marketing. 17 Para você entender melhor esse conceito, Javier (2008, p. 31) menciona que [...] os canais de distribuição em marketing são, portanto, processos ativos, não apenas de disponibilização de produtos, mas, principalmente, de motivação e de facilitação do processo de compras do consumidor final, e que são realizados por organizações independentes, com objetivos próprios. O que você deve lembrar sempre é que não importa qual é a organização envolvida no proces- so, quem deve validar se os canais de distribuição de marketing estão funcionando corretamente é sempre o consumidor final. Para você conhecer melhor esses canais, Javier (2008, p. 31-32) aponta que [...] os participantes de um canal de distribuição são os consumidores finais; os intermediários compostos por atacadistas, distribuidores e varejistas; os produtores, fornecedores e os facilitadores são compostos por empresas de transporte, armazenamento, logística, agencias de propaganda, agencias de promoção, bancos e instituições financeiras em geral. Note que existem diversos canais para se entregar um produto ao consumidor final. A empresa precisa avaliar como será feita a gestão dessa malha de distribuição para garantir resultados melhores, sendo essa uma função primária do Trade Marketing. Entenda que a escolha correta do canal de distribuição é um fator crucial para que uma empresa tenha sucesso no mercado em que atua, trazendo aos seus clientes vantagens que, quando com- paradas às que os concorrentes oferecem, só ela as tenha. Para um mercado cada vez mais com- petitivo, o desdobramento dos gestores para buscar diferenciais capazes de convencer o cliente a escolher a empresa em detrimento de outras passa pela melhoria contínua e pela eficácia dos canais de distribuição escolhidos. De acordo com Junior (2007, pág. 26), “[...] melhoria contínua significa efetuar pequenas e constantes melhoras sempre.”. Por outro lado, uma escolha equivocada pode fazer com que a mercadoria fique estocada em algum armazém, ou em alguma loja de varejo, distante do acesso do consumidor final. Como exemplo, veja a seguinte situação: uma empresa não se importou com a gestão dos seus canais de distribuição e centralizou os estoques em um armazém especí- fico, que por sua vez, ficou distante de uma região na qual a demanda era maior, acarretando na falta e na sobra na região com menor demanda de consumo. Tornar os produtos disponíveis para o consumidor final é o grande objetivo que precisa ser per- seguido pelos gestores de Trade Marketing e logística.Esse desafio é o ponto de equilíbrio para a garantia de que o produto será encontrado no momento em que o cliente desejar. Isso mostra para a empresa a necessidade da criação de processos logísticos eficientes de forma a levar os produtos ao consumidor final. Nesse sentido, Javier (2008, p. 32) aponta que “[...] os processos de tornar os produtos disponíveis ao consumidor, de facilitar a negociação e de estimular a com- pra, que são realizados pelo canal, exigem uma série de atividades.”. Essas atividades, ainda de acordo com o autor, são: a) Propriedade e posse física dos produtos: há uma troca efetiva de propriedade e posse entre os membros do canal através de processos de compra, venda e transferência física das mercadorias por meio de promoções e negociações entre os membros dos canais. b) Riscos financeiros: os riscos assumidos estão relacionados à obsolescência dos produtos com o alto estoque, com a redução da demanda, com a má aceitação de um produto ou marca específicos e com o financiamento das vendas. As atividades que podem aumentar esses riscos são o estoque muito alto e o fluxo de pagamento não condizente com as entradas e saídas de produtos. 18 Laureate- International Universities Trade marketing, B2B e relacionamento A escolha correta do canal de distribuição é importante, e deve ser feita de acordo com o tipo de produto que a empresa comercializa. O princípio da escolha correta está justamente em adequar o produto ao canal certo. Como vimos anteriormente, diversos são os canais e, muitas vezes, para garantir que os produtos cheguem mais rapidamente ao consumidor final, a empresa utiliza intermediários. Ao tratar do conceito de canal intermediário, Farias (2015, p. 147) menciona que “[...] grande parte das empresas opera seus negócios usando intermediários para disponibilizar seus produtos e serviços aos clientes. Nada mais é do que delegar tarefas e responsabilidades para intermediários.”. O que vale ressaltar nessa relação dos canais de distribuição com o Trade Marketing é a impor- tância de não faltar o produto no mercado. Conforme o tipo de compra, o canal de distribuição tem níveis de influência diferentes. De acordo com Javier (2008, p. 33), [...] a compra por conveniência, que ocorre para os produtos de consumo contínuo para os bens não duráveis, e que é fortemente influenciada pela ampla presença e pela atratividade da exposição no ponto de venda, favorece o impulso de compra e, em razão disso, vendas adicionais são geradas, incentivadas pelos varejistas e pela abrangência de distribuição. O autor complementa que, quando a compra é feita para os bens duráveis ou semiduráveis, o canal tem influência média, pois o consumidor fará uma comparação entre produtos e pontos de venda e, dessa maneira, ao contrário da compra por conveniência, nem sempre ele comprará por impulso. Por fim, existe a compra por especialidade, em que o canal tem baixa influência em relação à presença geográfica, pois o consumidor não se importará com locomover-se para encontrar o produto desejado. Agora que você já conhece a importância da escolha dos canais de distribuição na integração com o Trade Marketing, veja, na sequência, as principais atividades do Trade Marketing dentro da cadeia logística. O correto entendimento dessas atividades colaborará, em muito, com a me- lhoria da distribuição de produtos e serviços por meio dos canais de distribuição em marketing. Alexandre Tadeu da Costa foi quem fundou a franquia da Cacau Show. No início das atividades da empresa, ele teve muitos problemas com a integração da cadeia logísti- ca, pois era muito comum faltarem produtos nas lojas. Com o tempo, ele investiu nas ações de integração da fábrica com a rede de franquias, o que acabou por colaborar com a melhoria dos processos logísticos e com a integração dos canais de distribuição. VOCÊ O CONHECE? 1.2.3 Principais atividades do Trade Marketing na cadeia logística Para que você entenda melhor as principais atividades do Trade Marketing dentro da cadeia lo- gística, Cônsoli e D’Andreia (2011, p. 66) as definem como [...] um conjunto mais amplo de conceitos e iniciativas, que envolvem a gestão da cadeia de suprimentos e a gestão de canais de distribuição, como forma de integrar processos, melhorar o desempenho dos fluxos de marketing nos canais, reduzir conflitos e incentivar o envolvimento e desempenho dos parceiros de canal. 19 Perceba que a cadeia logística é a responsável por unificar a operação com todos esses canais que, por sua vez, são responsáveis por diversas atividades que compõem as estratégias de Trade Marketing. Dentre os canais, um que representa grande parte dessas atividades é o canal in- termediário. Conheça as principais funções básicas de um intermediário, de acordo com Farias (2015): a) Transferência de propriedade − transferência do produto físico para o consumidor final. b) Disponibilidade de informações − o intermediário deve abastecer o fabricante de informações, como características do mercado de consumo, concorrência, tendências e mudanças de mercado. c) Promoções − responsabilidade na disseminação das campanhas promocionais dos produtos. d) Financiamento − alocar fundos para financiar os estoques e viabilizar o parcelamento dos pagamentos para o consumidor final. e) Risco − o intermediário assume parte do risco da operação de distribuição dos produtos ao mercado. De acordo com a Figura 5, Cônsoli e D’Andreia (2011) reforçam que o fluxo dos canais de distri- buição e as atividades de Trade Marketing dos intermediários são detalhados da seguinte forma: Produtores Processadores A linha tracejada nos intermediários indica que os �uxos podem ser desempenhados do produtor para o intermediário, do intermediário para o consumidor, do produtor para o consumidor oou compartilhado entre eles. Intermediários Varejistas Atacadistas Distribuidores Consumidores industriais e domiciliares Posse física Propriedade Promoção Negociação Informação Financiamento Risco Pedido Pagamento Serviços Posse física Propriedade Promoção Negociação Informação Financiamento Risco Pedido Pagamento Serviços Figura 5 − Fluxos dos canais de distribuição em marketing. Fonte: Cônsoli e D’Andreia (2011). • Fluxo de produtos (propriedade e posse física) − refere-se ao movimento físico dos produtos, desde o produtor até o consumidor final. As atividades de Trade Marketing para esse fluxo são: decisões de sortimento de produtos, exposição de produtos e determinação do espaço a ser utilizado visando à melhoria do giro dos produtos e à redução de avarias e perdas. 20 Laureate- International Universities Trade marketing, B2B e relacionamento • Fluxo de promoção (comunicações de marketing) − pode acontecer por meio da venda pessoal ou por uma força externa de vendas, propaganda na mídia, promoções de vendas, publicidade e outras atividades de relações públicas. As atividades de Trade Marketing para esse fluxo são: melhoria da visualização dos produtos em exposição e uso de materiais e ações promocionais para alavancar as vendas de curto prazo. • Fluxo de negociação − relacionamento que leve a novas negociações no futuro e que mantenha, ou melhore, o contato entre as partes envolvidas. As atividades de Trade Marketing para esse fluxo são: desenvolvimento de programas de incentivo e relacionamento com fabricantes, varejistas e clientes. • Fluxo de informações − a competitividade no mercado gera a necessidade de informações. As atividades de Trade Marketing para esse fluxo são: troca de informações entre varejo e indústria, captação de informações de mercado e de clientes para a tomada de decisões. • Fluxo de financiamento − financiamento como condição de venda, que envolve a captação e alocação de fundos. As atividadesde Trade Marketing para esse fluxo são: recompensa para os canais de distribuição que alcancem os objetivos estipulados pelo fabricante e alternativas de pagamentos e financiamentos para os distribuidores e varejistas com o objetivo de aumentar a presença dos produtos no ponto de venda. • Fluxo de risco − envolve obsolescência, riscos de incêndio, inundação, perdas, crédito, problemas econômicos, aumento da competição, redução de demanda, aceitação do produto, problemas de recall, garantias etc. As atividades de Trade Marketing para esse fluxo são: redução dos riscos de quebra de estoque por meio da melhoria na reposição e melhor exposição de produtos; redução de roubos, furtos, produtos vencidos e limpeza do ambiente em função de ações planejadas em conjunto entre fabricante e varejista. • Fluxo de pedidos e pagamentos − atividades de venda cuja intenção é efetuar o pedido, e que envolvem a confirmação de intenção do comprador em adquirir os produtos do membro a montante. As atividades de Trade Marketing para esse fluxo são: a automatização dos processos de pedidos, que pode otimizar e agilizar a reposição dos produtos; a disponibilização para o cliente das opções de pagamento e financiamento disponíveis no ato da compra; e a informatização dos meios de pagamento para agilizar o atendimento ao cliente. • Fluxo de serviços − serviços para as estratégias de diferenciação, agregação de valor, fidelização e satisfação dos clientes. As atividades de Trade Marketing para esse fluxo são: inserção e ampliação de serviços ao cliente com o objetivo de gerar fluxo e vendas por impulso; serviços oferecidos pelo fabricante para o varejo visando à melhoria do negócio e dos relacionamentos. • Fluxos de marketing e gestão dos canais de distribuição − fornece uma estrutura útil para o entendimento do escopo e complexidade da gestão de canais, assim como apoia o desenvolvimento das ações de Trade Marketing para diferentes níveis de agentes nos canais de distribuição. A atividade de Trade Marketing para esse fluxo é garantir que todos os demais fluxos sejam pautados pelas estratégias de marketing definidas por fabricantes e varejistas. A partir da análise desses fluxos, você pode concluir que a atividade de Trade Marketing interage diretamente com a cadeia logística, passando pelo estoque, canais de distribuição, armazena- gem e distribuição, entre outras atividades. Agora que você já conheceu os conceitos e a evolu- ção do Trade Marketing, vamos seguir com novos conhecimentos. 21 Em qual estágio da cadeia logística o Trade Marketing tem maior influência? Na realidade, a melhor resposta para essa questão é: em praticamente todos os es- tágios. Porém, a interferência maior é a partir do momento em que o produto sai da fábrica até chegar às mãos do cliente final. Em outras palavras, a empresa precisa ter o produto para acionar as ações de Trade Marketing. NÓS QUEREMOS SABER! Um exemplo: um fabricante de iogurtes naturais sabe que seu produto é perecível e, entre sair da produção e ser consumido, ele tem 30 dias de validade. Após esse prazo, o produto fica impró- prio para consumo, devendo ser descartado, gerando um prejuízo para o varejista. Para que ele não tenha problemas de relacionamento com os varejistas em função do vencimento do prazo de validade do iogurte, o presidente da empresa fabricante propôs o uso da gestão dos canais de distribuição utilizando atividades de Trade Marketing integradas com as funções da logística. Agindo desta forma, o fabricante passou a trabalhar de modo integrado aos seus canais de distribuição, entre eles o varejista, e iniciou o acompanhamento dos pedidos, observando a mo- vimentação dos estoques dos varejistas, e programando a remessa de pedidos de acordo com essas informações. Além disso, disponibilizou ações promocionais no ponto de venda com o objetivo agilizar o giro do produto nas prateleiras, diminuindo os estoques. Os resultados dessas ações colaborou com a redução do descarte do iogurte, reduzindo as perdas, além de favorecer a integração do fabricante com o varejo. Todos esses resultados foram obtidos pelo uso correto do conceito de Trade Marketing. 22 Laureate- International Universities Síntese • A atividade de Trade Marketing passou a ganhar força nas estratégias das empresas em razão do aumento da competitividade mundial de mercado, alterando as relações entre fabricantes, canais de distribuição e consumidores finais. O Trade Marketing tem sua origem na indústria de bens de consumo não duráveis e evoluiu para as práticas de marketing e vendas entre fabricantes e seus canais de distribuição, sempre com o objetivo de atender e satisfazer aos desejos e às necessidades dos consumidores. • Entre os principais objetivos do Trade Marketing destacam-se: a promoção da atratividade do produto no ponto de venda; o desenvolvimento do relacionamento de longo prazo com clientes; o estabelecimento de objetivos de presença, giro e rentabilidade por cliente e por canal de distribuição; e o acompanhamento e controle dos custos de servir os clientes e os canais. • Os canais de distribuição interagem com o Trade Marketing buscando agregar valor através da escolha correta da estratégia de canal. A disponibilização de produtos para o consumidor final é o maior desafio do Trade Marketing e a escolha do canal de distribuição deve levar em consideração os tipos de produtos comprados, separados em compra comparada, compra de bens duráveis ou semiduráveis ou compra por especialidade. • As principais atividades do Trade Marketing na cadeia logística passam pelos fluxos dos canais de distribuição em marketing. Esses fluxos são classificados em propriedade e posse física de produtos, promoção, negociação, informações, financiamento, risco, pedidos e pagamentos, serviços, marketing e a gestão de canais de distribuição. Síntese 23 Referências A FANTÁSTICA Fábrica de Chocolate. Direção: Tim Burton. Los Angeles: Warner Bros, 2005. 1 DVD (115 min.). BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos/Logística Empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2011. BLESSA, Regina. Merchandising no ponto de venda. São Paulo: Atlas, 2001. CAMPOS, Antônio Jorge Cunha. 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Trade Marketing: teoria e prática para gerenciar os canais de distribuição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. Bibliográficas
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