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GESTÃO ESTRATÉGICA DA INOVAÇÃO - Tema 06

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AULA 6 
GESTÃO ESTRATÉGICA DA 
INOVAÇÃO
Prof. Ubirajara Morgado 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Observe o que disse o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama: 
A história deve ser nosso guia. Os Estados Unidos lideraram a economia 
mundial no século XX porque estiveram à frente no campo da inovação. 
Hoje, a competição é mais acirrada, os desafios, mais difíceis. Por isso, 
a inovação é mais importante do que nunca e representa o caminho para 
novos e bons empregos no século XXI. Somente assim garantiremos a 
qualidade de vida desta geração e das vindouras. 
CONTEXTUALIZANDO 
Artigo a seguir trata de inovação e do processo criativo enquanto 
diferenciais de organizações no processo mercadológico. Usando como objeto de 
análise a empresa Apple, ele correlaciona os produtos e o sucesso empresarial 
de seu fundador Steve Jobs com suas inovadoras estratégias corporativas. 
É preciso compreender a inovação enquanto fator condicional para criar, 
manter e prosperar em mercados cada dia mais exigentes. Esta ideia, forte e 
condicional, tem constituído elemento fundamental da cultura organizacional das 
grandes empresas, que a cada dia se reinventam e descobrem novas formas de 
se manterem e ampliar sua participação mercadológica. 
O presente texto pretende discorrer sobre isso. Sobre inovação e 
criatividade enquanto componente da inovação, além de relacioná-las com o 
sucesso empresarial enquanto diferenciais competitivos. Num segundo momento, 
pretende estabelecer uma conexão entre o sucesso organizacional da Apple – na 
sua guinada com o retorno de Steve Jobs – e o gênio criativo da empresa. 
Apple 
A Apple é vista como sinônimo de quase tudo isso que falamos até aqui: 
inovação, tecnologia e comunicação. A empresa demonstra desde o nome uma 
intenção estratégica interessante: o que você pensaria de uma empresa de 
tecnologia que se chama maçã? 
A Apple Computer Inc. foi fundada em 1976 por Steve Jobs, então com 21 
anos e Stephen Wozniak, com 26. Ela funcionava na garagem dos pais de Jobs e 
para iniciar suas atividades, contou com investimento vindo da venda de uma 
Kombi. 
Comportamentalmente, Steve Jobs era uma pessoa difícil e a sociedade 
teve de se desfazer dele durante um tempo. Nesse período, Jobs fundou a Pixar 
 
 
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que criou inúmeros e famosos desenhos animados. Em 1997, retornou para a sua 
casa, a Apple, como CEO. 
A grande virada da Apple após muitas situações delicadas se deu com a 
percepção do valor da marca Apple. Que o maior ativo é a própria Apple. Após 
um grande investimento, uma nova estratégia foi alavancada, inclusive 
contemplando uma parceria com a Microsoft. Mas não somente com a Microsoft, 
mas com todas as demais parcerias, beneficiando-a em suas relações com 
fornecedores e parceiros. Enfim, ela redefiniu o seu core business, a sua missão 
para “construir computadores fáceis de usar para consumidores e profissionais 
criativos”. 
Essa segmentação fez parte da sua visão de negócios. Seus produtos não 
são commodities e a importância das vendas está em propiciar experiências 
diferenciadas ao cliente no uso de seus produtos (Fonte: 
<www.administradores.com.br>). 
Foco na inovação simplificada 
Para que inovar complicando? As inovações na empresa de Steve Jobs 
não ficaram apenas na mudança do core business ou nas intervenções 
organizacionais. Era preciso mais: A Apple desenvolveu uma série de produtos 
muito criativa, e chegou a era dos iPods (com os tradicionais, nano, shuffle e 
touch) e destes, para os iPhones, um dos maiores sucessos da telefonia mundo. 
O iPhone é o ápice da nova cultura da empresa, ele demarca um novo paradigma 
nas relações de interação com os telefones e na integração destes com a internet 
e com os computadores. Ele representa segundo a própria Apple um jeito simples 
de usar tecnologia, de forma criativa para um mercado diferenciado. 
A máxima: fazer poucas coisas benfeitas para serem bem vendidas cai 
como uma luva para a nova Apple. Simplicidade e criatividade dão a tônica deste 
novo cenário. Inclusive para Jobs, criatividade é simplesmente “conectar as 
coisas”. 
Os resultados da Apple confirmam que sua estratégia estava certa. Que 
investir em inovação, permitindo a criatividade simplificada, dá certo. O gênio 
criativo da empresa sempre foi sua marca registrada. 
Além disso, a gestão de Jobs acertou em outras dimensões. Focar o 
negócio e segmentar foi inteligente, pois possibilitou a concentração de suas 
forças no seu mercado-alvo, fornecendo um produto com excelência no design, 
 
 
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nas cores e nos formatos, propiciando uma experiência inovadora e 
conceitualmente um produto com tecnologia de ponta. 
Atualmente a empresa emprega mais de 20 mil funcionários no planeta e 
opera em 180 pontos de venda espalhados por todos os continentes, e mostra 
que, ao investir em criatividade e através desta, a inovação será uma marca 
contínua de sua filosofia organizacional, pois já se transformou numa vantagem 
competitiva inestimável e comprovadamente bem-sucedida (Fonte: 
<www.administradores.com.br>). 
TEMA 1 – MAIS SOBRE INOVAÇÃO 
Um mantra que deve ser invocado todos os dias e que traz uma fórmula 
eficaz e sucesso, tanto para o indivíduo quanto para empresas e nações, é a 
inovação. Steve Jobs já disse que “A inovação distingue líderes de seguidores”. 
A inovação no Brasil trata da infraestrutura de inovação brasileira, que vem 
sendo moldada, sobretudo, por políticas de Estado, concebidas com o propósito 
de abrir espaços para o empreendedorismo competitivo, mas que ainda se 
ressentem da ausência de uma cultura inovadora que perpasse o conjunto do país 
e, em especial, de falhas de coordenação nas instâncias superiores do sistema. 
Para refletir 
“Esta modificação histórica e irreversível na maneira de fazer as coisas é o 
que chamamos inovação”. (Joseph Schumpeter) 
“A bem da verdade, a competição perfeita é e sempre foi temporariamente 
suspensa quando se introduz algo novo”. (Schumpeter, 1942 citado por Mccraw, 
op. cit., p. 353.) 
Conscientemente ou não, o homem procurou inovar desde os primórdios 
da civilização, de forma que, embora nem sempre compreendida ou aceita, a 
inovação se impõe como uma constante na história das civilizações. 
Para o norte-americano, em particular, na visão de Tocqueville, “a ideia do 
novo se liga [...] intimamente, em seu espírito, à ideia de melhor”. 
No terreno econômico, porém, foi preciso esperar séculos e séculos até 
que surgissem, na esteira da Revolução Industrial, os primeiros empreendedores 
ou inovadores de peso, que buscavam fortuna e glória por meio da exploração 
sistemática do comércio e da indústria. Se Karl Marx deixou escapar, em sua 
análise do capitalismo, a ascensão desse tipo de protocapitalistas, coube à 
 
 
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sociologia, na figura de Max Weber, o privilégio de procurar definir e compreender, 
pela primeira vez, a figura do empreendedor. Mas o mesmo Weber nunca chegou 
a utilizar o termo inovação e logo se desviou para os aspectos institucionais e 
burocráticos da nova ordem que se desenhava. 
TEMA 2 – INOVAÇÃO, COMPETITIVIDADE E O BRASIL 
 A competitividade internacional tende a ser avaliada pela posição relativa 
de um país, isto é, por seu desempenho nas transações comerciais com o resto 
do mundo, o que envolve desde a existência de uma base produtiva exportadora 
até a capacidade de atração de investimentos estrangeiros diretos. 
 Na visão tradicional das vantagens comparativas ricardianas, a 
competitividade depende de um aumento da produtividade, que se alcançaria por 
meio da especialização em setores nos quais o país tem “vantagens” em relação 
a outros. 
 Por essa interpretação,o Brasil deveria explorar seus vastos recursos 
naturais e investir nas tecnologias agrícolas, como o etanol biocombustível, 
campo em que já ocupa a vanguarda mundial. Mas é possível ver também a 
competitividade sob o prisma da economia interna, como a capacidade de 
enfrentar os desafios do comércio internacional e, ao mesmo tempo, desenvolver-
se – e não apenas crescer – ou seja, gerar benefícios reais – melhor qualidade de 
vida, maior renda, redução do desemprego – para a população. 
 Essa capacidade, ou vantagem competitiva, dependerá por sua vez do grau 
de inovação alcançado. Há que ver, pois, em que consiste esta. 
Segundo Ortiz (2015): 
Não obstante a importância de ampliar a participação do setor privado, 
o Estado continua a cumprir papel decisivo nos sistemas de 
inovação mesmo nas economias mais desenvolvidas. É o Estado que 
articula os atores envolvidos e promove Ciência, Tecnologia e Inovação 
ao financiar a pesquisa e o desenvolvimento científico e tecnológico, e 
manter a infraestrutura de ensino, pesquisa e prestação de serviços 
tecnológicos. 
Além disso, estimula o desenvolvimento tecnológico privado, subsidia o 
processo de inovação, regula e protege os direitos à propriedade 
intelectual, e concede proteção e incentivos diferenciados a tecnologias 
estratégicas e de elevado risco. Cria- se, desse modo, ambiente 
favorável e estimulante à inovação, com suporte direto e indireto 
do setor público. 
Para Sundbo: 
A verdadeira mudança só ocorre quando grande número de membros 
da sociedade começa a imitar a invenção [...] Os primeiros imitadores 
 
 
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são, pois, particularmente importantes; eles determinam se a invenção 
se tornará um sucesso na sociedade. 
TEMA 3 – CRIATIVIDADE 
Na definição clássica de Theodore Levitt, “criatividade é pensar coisas 
novas, inovação é fazer novas coisas”. Em seu artigo “Criatividade não é 
suficiente”, publicado na Harvard Business Review, de 1963, Levitt sustenta que 
a criatividade “não é o caminho milagroso para o crescimento [...] como tantos 
acreditam hoje em dia”, ao confundirem “a formação de ideias com a sua 
implementação”, ou seja, “criatividade no abstrato com a inovação prática”. 
O autor pondera também que a criatividade se torna estéril “sem uma ação 
orientada de follow-through”. O novo prepondera, acrescenta, pois “as ideias são 
em geral julgadas mais por sua novidade do que por seu potencial, seja para os 
consumidores seja para a empresa”. 
Embora escrito mais de 40 anos atrás, o artigo permanece válido e continua 
a servir de referência amplamente utilizada nos meios acadêmicos e de negócios. 
A inovação consiste, pois, num processo, ao passo que a criatividade 
representa uma característica pessoal, que pode e deve ser estimulada, mas que 
varia de indivíduo para indivíduo. A primeira constitui uma externalidade; a 
segunda, uma internalidade. Sua mútua dependência, porém, não deve escapar 
à observação, uma vez que não se pode inovar sem as ideias certas e, por 
definição, novas. 
Estas, por sua vez, precisam da ação inovadora para se concretizar na 
realidade. De certo modo, portanto, a criatividade representa a inovação “em 
estado bruto”. Toda inovação principia com ideias criativas, que constituem assim 
condição necessária, embora não suficiente. Esta tende, então, a agir sobre algo 
existente “ex ante” – o ato criativo – e a estratégia inovadora será aquela que visa 
estimular o processo criativo, por meio da manutenção de ambiente favorável à 
geração e atuação dos melhores talentos. 
3.1 Estratégia 
O termo estratégia traz à baila a ideia de embate ou conflito de natureza 
bélica, o que se coaduna com suas raízes etimológicas, no grego strategos, 
general ou comandante militar. 
A literatura que se desenvolveu em torno do conceito reforça a percepção 
de planejamento minucioso para o combate, que busca tirar o máximo proveito 
 
 
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das próprias vantagens – competitivas – e das fraquezas do inimigo. No plano 
econômico e político, sua aplicação se disseminou, sobretudo a partir dos anos 
1940, por intermédio da teoria dos jogos, campo da matemática aplicada que foi 
tomado de empréstimo por inúmeras disciplinas interessadas em prever com 
exatidão o comportamento do indivíduo em situações “estratégicas”, nas quais 
uma decisão particular depende das escolhas dos demais agentes. 
Todavia, o conceito em si permanece vago – até mesmo por aplicar-se sem 
distinção a variados campos do conhecimento – e incapaz, apesar da ajuda da 
matemática, de superar o princípio de indeterminação que envolve, de forma 
iniludível, a atividade inovadora. Assim, uma empresa deve adotar uma estratégia 
de produção, de vendas, de marketing, de contratação de pessoal, de negociação 
de preços, e assim por diante. 
Também ao Estado apresentam-se, a todo o momento, distintas decisões 
a respeito de estratégias futuras. A estratégia de inovação, por sua vez, será a 
que defina a capacidade de sobreviver, de desenvolver-se e de ajustar-se às 
rápidas mudanças impostas pela competição externa. 
3.2 Pesquisa e desenvolvimento 
A atividade de pesquisa e desenvolvimento (P&D) configura um fator, um 
input da inovação, da mesma forma que o treinamento e a capacitação de talentos 
ou o financiamento de risco. Sendo seu objetivo o de criar conhecimento, 
requererá boa dose de criatividade, 
a qual poderá levar ou não à invenção – segundo o grau de inventividade 
e a qualificação dos pesquisadores –, a qual, por sua vez, chegará ou 
não a traduzir-se em aplicações práticas e concretas na vida de cada 
indivíduo. (Possas, 1989) 
3.3 Ciência e tecnologia 
A ciência representa a tentativa sistemática de estudar e compreender o 
mundo em que vivemos e as leis que o regem. A tecnologia pode ser definida 
como o desenvolvimento, também sistemático, com base nos resultados da 
ciência, de técnicas que produzam coisas, artefatos. A pesquisa representa o 
grande terreno em que se desenrola a ciência. A inovação lançará mão de seus 
resultados, ou seja, 
dos conhecimentos e tecnologias eventualmente gerados, para 
introduzir algo novo e, assim, elevar a competitividade da empresa, da 
 
 
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região ou do país. Isto não impede que a ciência e tecnologia sejam tidas 
amiúde como equivalentes à inovação. (Pavitt, 1984). 
Da mesma forma que se tem uma inovação tecnológica, pode acontecer 
uma inovação organizacional ou metodológica, institucional ou mesmo 
humanística. 
Como diz o professor Glauco Arbix, da Universidade de São Paulo, 
inovação não é mais entendida simplesmente como pesquisa e 
desenvolvimento ou ciência e tecnologia. Isso não quer dizer que 
ciência, tecnologia e investimentos em pesquisa sejam relegados a um 
“segundo plano” [...] Inovação, contudo, é agora vista em um sentido 
muito mais amplo. Assim é vista como o desenvolvimento de novos 
produtos, tecnologias, serviços, processos, modelos de negócios, 
estruturas organizacionais e de logística e estratégias. Igualmente, 
inovação não é mais tratada meramente como componente adicional do 
desenvolvimento econômico e da competitividade empresarial. Melhor, 
é vista como o ponto central por onde as ações governamentais 
(incluindo políticas “tradicionais” como aquelas focadas em 
infraestrutura) e esforços empresariais convergem. 
A ideia de ecossistema diz respeito às sinergias entre uma variedade de 
atores e seus esforços coletivos, variáveis em sua dimensão, composição e 
impacto sobre a sociedade. O conceito foi lançado em 1993 por Richard Nelson, 
que o sintetizou como um conjunto de instituições cujas interações determinam o 
desempenho inovador das firmas nacionais. Tendo em vista que sua formação 
ocorreria de modo espontâneo, logo se recorreuà ideia orgânica de ecossistema, 
que implica interdependências complexas entre as comunidades e o ambiente 
físico onde estas se desenvolvem. 
A inovação, como processo imprevisível – ou indeterminado, como bem viu 
Schumpeter – não pode ser controlado ou administrado em seus aspectos 
menores, sob pena de se restringir a inventividade e a criatividade, as verdadeiras 
forças por trás de novas ideias. 
O caso típico nos Estados Unidos é o do ecossistema do Vale do Silício, 
na Califórnia, que se desenvolveu à margem de quaisquer planos ou projetos 
políticos, desde os idos da Grande Depressão. Morino ressalta que nunca houve 
um programa estruturado de desenvolvimento como o existente no Vale do Silício. 
Em várias regiões, no entanto, os empreendedores se encontram 
desconectados entre si e desprovidos de qualquer apoio financeiro ou estratégico. 
Thomas Friedman faz questão de mencionar a importância de o país contar 
com “um ecossistema de inovação”, no qual existam “milhares de pessoas 
experimentando milhares de coisas em suas garagens”. 
 
 
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O modelo conhecido por tríplice hélice toma sua analogia da Mesopotâmia, 
onde uma estrutura helicoidal, composta por três partes, fora inventada para 
transportar água a níveis mais elevados, o que constituiu a base de sistema 
hidráulico inovador para a agricultura da época, que irrigava não só campos e 
fazendas, mas também uma das sete maravilhas do mundo antigo, os famosos 
jardins suspensos da Babilônia. 
Para Coutinho (1992): 
Segundo esse modelo, não somente ocorrem colaborações entre os 
atores, mas cada um acaba por desempenhar, também, tarefas 
inicialmente reservadas aos demais, gerando organizações híbridas 
como a empresa de capital de risco, a incubadora e os parques de 
inovação. 
Etzkowitz ressalta que 
o modelo permite responder a várias questões fundamentais: como 
aperfeiçoar o papel das universidades no desenvolvimento econômico e 
social da região? Como pode o governo, em todos os níveis, estimular e 
promover a inovação e como podem os cidadãos estimular o governo 
em contrapartida? Como podem as empresas colaborar entre si e com 
universidades e governos para se tornarem mais inovadoras? 
TEMA 4 – CONHECIMENTO EM INOVAÇÃO 
O fato essencial é que a nova onda da microeletrônica, das fibras ópticas, 
da biotecnologia e dos softwares, em vez dos típicos quarenta ou cinquenta anos 
dos ciclos considerados por Schumpeter, move-se agora com velocidade 
inusitada, destruindo negócios e criando novos empreendimentos em ritmo cada 
vez mais acelerado. 
A vida útil de um programa de software, segundo especialistas, dificilmente 
superará os 18 meses. Há uma palavra na raiz desse processo vertiginoso: o 
conhecimento, a nova commodity global, que deslocou do centro da economia os 
recursos naturais, os custos de produção, da mão de obra, transporte e de 
logística. 
A magnitude do processo de acumulação do saber acabou por dar origem 
a um “problema do conhecimento”, antecipado por Friedrich Hayek, para quem 
nenhum agente, nem governo, nem indústria, nem qualquer instituição seria capaz 
de absorver, compreender e utilizar todo o cabedal disponível. Somente o 
capitalismo, acreditava o economista, apresentaria uma solução – ainda que 
imperfeita –, por permitir a multiplicação dos esforços individuais. 
 
 
010 
A ascensão do conhecimento na escala de valor econômico vincula-se 
estreitamente ao aparecimento das tecnologias de comunicação e informação 
(TCIs), que acarretaram declínio acentuado nos custos de processamento da 
informação; deram impulso à convergência entre comunicação e computação; e 
criaram condições para o crescimento vertiginoso e sem fronteiras de redes 
eletrônicas internacionais. 
TEMA 5 – CONSIDERAÇÕES 
O ano de 1776 assistiu a dois eventos marcantes na história: a publicação 
da obra capital em que Adam Smith expõe sua teoria da “mão invisível” do 
mercado e a declaração de independência das 13 colônias inglesas. O filósofo 
escocês decerto não imaginava que o debate sobre as forças de mercado iria 
alterar os rumos da ciência econômica e, muito menos, que reverberaria na 
América até os dias de hoje. 
Conforme se verificou nesta aula, que procurou, também, evidenciar as 
bases teóricas do debate sobre o papel do governo na gestão da inovação, o 
austríaco Joseph Schumpeter foi o primeiro a mostrar, muito mais tarde, que a 
verdadeira força propulsora do mercado reside na ação inovadora de cada 
indivíduo, a qual revoluciona a economia e a sociedade, por meio do processo de 
“destruição criadora”. 
Comentamos também que os Estados Unidos, onde Schumpeter viveu os 
últimos 18 anos de sua vida, forjaram uma das economias mais inovadoras e 
competitivas do mundo, mas, desde cedo, o papel do governo mostrou-se 
ambíguo, oscilando entre a interferência direta, como na época do New Deal, sob 
influência de John Maynard Keynes, e a quase passividade, como durante a 
administração Reagan, que seguiu praticamente à risca o receituário liberal e 
smithiano do economista Milton Friedman. 
Mostrou-se, também, que a inovação começou a ser discutida no terreno 
da sociologia, a qual teve o mérito de identificar o empreendedor como o grande 
motor do capitalismo, conceito retomado por Schumpeter e que perdura até a 
atualidade. 
Em busca de maior rigor semântico, buscou-se diferenciar a inovação de 
conceitos como criatividade, inventividade e empreendedorismo, bem como 
caracterizar sua subdivisão nas categorias incremental e radical. 
 
 
011 
Verificaram-se, em seguida, os tipos de vínculos que podem vir a existir 
entre a inovação e as atividades de pesquisa e desenvolvimento, bem como de 
ciência e tecnologia. A análise do modelo linear de inovação, que pressupõe haver 
uma sequência rígida desde a pesquisa básica até o produto final, sugeriu uma 
atuação precursora do governo dos Estados Unidos, que, mesmo na ausência de 
comprovação teórica ou prática, implementou o modelo ao final da Segunda 
Guerra Mundial, o que terminou por estimular sua aproximação com o meio 
universitário e a posterior superação das barreiras existentes entre a ciência pura 
e sua aplicação comercial. 
Observou-se, ademais, que a linearidade nunca deixou de ser estudada e 
questionada e, com o passar do tempo, cedeu lugar à conceitualização dos 
ecossistemas, inspirados na ideia schumpeteriana de mutações. Por sua vez, o 
modelo da tríplice hélice pressupõe um processo de hibridismo entre governo, 
academia e indústria, no qual cada um assume tarefas antes reservadas aos 
demais. 
Temos o cenário de competição em que o conhecimento assumiu posição 
central, em substituição às antigas commodities, havendo-se tornado o fim e o 
meio dos sistemas de produção. Isto tem criado, conforme enunciado na primeira 
hipótese do trabalho, desafios inéditos, que representam ameaça à liderança das 
nações desenvolvidas, pois países que, num primeiro momento, se limitavam a 
produzir bens de baixo valor agregado, com base em mão de obra barata, vêm 
subindo rapidamente ao topo da escala de desenvolvimento, por meio de 
agressivas políticas de inovação. 
Por outro lado, o acúmulo de conhecimento deu origem ao aparente 
paradoxo, no qual a competição caminha lado a lado com a colaboração, num 
mundo em que os problemas globais exigem soluções conjuntas e o empenho 
concomitante de diferentes países e instituições. 
Assim temos a existência de dois tipos de conhecimento, codificável e 
tácito, o que explica a necessidade de interação do elemento humano e a 
consequente aparição dos arranjos regionais ou clusters como locus essencial da 
inovação. 
Evidenciou-se, desse modo, que a interconexão entreagentes inovadores, 
além das fronteiras político-geográficas, por meio de redes que permitem unir 
sistemas locais e regionais, constitui fator essencial para o sucesso das 
estratégias de inovação, conforme enunciado na terceira premissa deste trabalho. 
 
 
012 
Existe a problemática da proteção ao conhecimento, tema de polêmicas 
nos Estados Unidos e de acirrada competição global, que tende a alijar os países 
em desenvolvimento em nome da segurança da inovação. Isto porque, conforme 
a tese procurou evidenciar, a velocidade adquirida pelas mudanças, ou 
“mutações” schumpeterianas, na era do conhecimento, torna ainda mais premente 
a necessidade de se criar o máximo de valor no menor tempo possível, 
estabelecendo o monopólio temporário identificado por Schumpeter. 
Os Estados Unidos, hoje ameaçados pela emergência de rivais de peso, 
têm usado todos os meios à disposição de seus governos para unir a sociedade 
em torno do objetivo comum de alcançar a competitividade internacional, 
mediante a criação de ambiente propício à inovação. 
As discussões sintetizam com referência ao ecossistema do Vale do Silício, 
modelo que muitas regiões no mundo buscam replicar, e à questão dos 
supercomputadores, que colocou em campos rivais os Estados Unidos e o Japão, 
requerendo ação firme e decidida do governo norte-americano para restabelecer 
a primazia de suas empresas num segmento considerado crucial para a 
segurança do país. 
O país não pode limitar-se a contar com centros isolados de inovação, 
como na área agrícola, aeronáutica e de petróleo, nem se restringir a suas 
vantagens comparativas, conforme o antigo conceito ricardiano, mas deve, ao 
contrário, integrar iniciativas, a fim de construir um ecossistema consistente e 
autossustentável, que lhe possibilite desenvolver e explorar suas vantagens 
competitivas ante as demais nações. 
FINALIZANDO 
Aqui finalizamos um módulo de extrema importância e muito atual. Ainda 
não existe muito material sobre o assunto e, à medida que se avança, cria-se 
doutrina para estudo deste tema. 
 
 
 
 
013 
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014 
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