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CONCEPO DIALGICA DE LINGUAGEM FUNDAMENTO DA ATUAO DO PIBID

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CONCEPÇÃO DIALÓGICA DE LINGUAGEM: FUNDAMENTO DA 
ATUAÇÃO DO PIBID 
CharllesTargino da Silva (UFRN) 
Charllestarginodasilva@gmail.com 
Eide Justino Costa (UFRN) 
eidercosta@hotmail.com 
Emanuel Kleiton Souza de Morais (UFRN) 
Kleytontremere805@hotmail.com 
Júlio César Balisa da Silva (UFRN) 
juliobalisa@hotmail.com 
 
Orientadora: Prof.ª Dra. Maria da Penha Casado Alves (UFRN) 
penhalves@msn.com 
 
 
 
RESUMO 
 
Este artigo tem como objetivo apresentar a concepção de linguagem que norteia o 
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), mais precisamente, 
do subprojeto de Língua Portuguesa, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
(UFRN), Campus Natal. Nessa perspectiva, temos como público alvo, os discentes do 
Ensino Médio Regular, dos turnos vespertino e noturno, das Escolas Estaduais José 
Fernandes Machado e Berilo Wanderley. Para esse trabalho, orienta-nos a concepção de 
linguagem como uma prática sócio-interacional e, consequentemente, constitutiva de 
um sujeito ativo e crítico, que pensa, age, participa e faz uso dessa linguagem nos mais 
diversos estratos da sociedade e nas mais diversas situações sócio-comunicativas. 
Portanto, acreditamos em um ensino de Língua Portuguesa calcado em uma concepção 
de linguagem que possibilite e desenvolva, nos alunos, a criticidade e as aptidões 
necessárias para tal. Concomitantemente, este trabalho compreende que, apenas indo 
além do tradicional ensino de Língua Materna, será possível desenvolver as ferramentas 
capazes de propiciar a formação multilinguística desses sujeitos, otimizando uma 
utilização dinâmica dos métodos didático-pedagógicos voltados para o ensino, a fim de 
situar o aluno no contexto atuante de sua própria aprendizagem. Desse modo, a 
concepção de linguagem adotada nesse trabalho rompe com uma compreensão 
gramaticalizante de linguagem adotada em muitas práticas escolares. Também pretende-
se desconstruir falsos mitos que envolvam a incapacidade do alunado das escolas 
públicas de fazerem leituras críticas e de produzirem textos relevantes. Portanto, este 
trabalho é embasado nos pressupostos teóricos de Mikhail Bakhtin (2003) sobre 
linguagem, assim como, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e nos 
documentos oficiais que orientam o ensino de Língua Portuguesa no Brasil. 
Palavras-chave: PIBID – Linguagem – Ensino de Língua Portuguesa. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
No cenário atual das escolas em todo o Brasil, podemos constatar uma crise no 
sistema de ensino brasileiro, desde os problemas de infra-estrutura até o baixo nível de 
desempenho em relação à interpretação e à produção de textos em sala de aula, tanto na 
forma escrita quanto na oral por parte dos alunos. Essa realidade é visível, de maneira 
generalizada, em praticamente todos os sistemas de ensino da Língua Materna no ensino 
básico. 
Com base nessa preocupação de desfazer o mito de que o processo pedagógico 
na sala de aula de Língua Portuguesa ocorre em “moldes” normalistas e 
gramaticalizantes, o PIBID faz opção por concepções de linguagem, de leitura e de 
escrita que procuram considerar o sujeito em sua historicidade e incompletude. Indo de 
encontro a uma concepção de linguagem como expressão do pensamento e a que pensa 
a linguagem apenas como instrumento de comunicação, a concepção de linguagem de 
linguagem sempre considera a historicidade do processo e o sujeito como construído 
nas relações intersubjetivas situadas. 
Assim, este trabalho apresenta a linguagem como uma prática sócio-interacional 
e, consequentemente, responsável por um sujeito ativo e constituído pela linguagem 
que lhe permite agir na sociedade, fazendo uso dessa linguagem nas mais diversas 
situações comunicativas. 
 
O PIBID E A REALIDADE DO PROFISSIONAL DOCENTE 
 
Nos últimos vinte e cinco anos, a Educação brasileira passou por consideráveis 
transformações em busca da universalização do ensino, em consequência dos altos 
índices , como o e o IDEB que sempre foram bastante significativos na representação 
situacional do ensino. No entanto,houve um aumento nos investimentos e uma tentativa 
de qualificação do quadro docente, embora, percebamos diariamente que é preciso 
muito mais para se ter no Brasil um ensino digno e de qualidade para todos. 
Diante de tudo isso, é altamente observável a descredibilidade da escola pública 
no cenário nacional da educação. A maioria das escolas estão sucateadas, sem qualquer 
estrutura que garanta um bem-estar ao aluno que a freqüenta, os professoreo 
desestimulados com os baixos salários e amedrontados com o quadro de violência que 
avançou sobre os muros da escola. 
A fim de atuar neste cenário, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à 
Docência (PIBID), programa este, do Ministério da Educação, gerenciado pela 
Fundação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), objetiva o 
incentivo à formação de professores para a educação básica e buscar uma melhoria na 
qualidade das escolas públicas. 
Sendo um programa de iniciação à docência, os participantes são graduandos em 
cursos de Licenciatura das Instituições Formadoras de professores que, inseridos no 
cotidiano de escolas da rede pública, planejam e participam de experiências 
metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter dinâmico, inovador e 
interdisciplinar, e que buscam a superação de problemas identificados nas diversas fases 
do processo de ensino-aprendizagem. 
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) reconhece a 
importância deste programa, acreditando em uma formação inicial e continuada de 
professores, principalmente, no que diz respeito à interface com a educação básica, 
sendo este, um esforço institucional de todos os subprojetos que formam o PIBID. 
Neste contexto, o subprojeto de Língua Portuguesa atua nas Escolas Estaduais 
José Fernandes Machado e Berilo Wanderley, situadas em Ponta Negra e Pirangi, 
respectivamente, em Natal/RN. Nesses campos de atuação, procura desenvolver 
atividades na área de linguagem que contemplem as competências de leitura, de escrita 
e de análise lingüística que permitam compreender o funcionamento da língua na vida e 
nos textos produzidos por sujeitos em diferentes espaços/tempos. 
O ensino da Língua Materna sempre é visto como algo “complicado” quando se 
trata da leitura e da escrita, incluindo o mito de que o aluno, principalmente da rede 
pública, independente do nível escolar, não possui capacidade para ler e produzir bons 
textos. A partir dessa ideia, o PIBID – Língua Portuguesa lança novas ações que tenham 
o objetivo de despertar o interesse dos alunos para o mundo da leitura e da escrita crítica 
e consciente, tornando-os seres atuantes do próprio processo de assimilação de 
conhecimentos, consequentemente, efetivando-os como seres ativos no processo de 
ensino-aprendizagem. 
Através de ações diagnósticas desde o seu espaço físico às condições didático-
pedagógicas das escolas em que atuamos, planejamos um conjunto de atividades que 
extrapolem o pré-conceituoso mundo da sala de aula, tida como espaço destinado às 
regras e normas. Empreendemos um planejamento para o ensino da Língua Portuguesa 
que contemple o ensino da leitura, da produção de textos e, principalmente, da análise 
linguística, configuradas como práticas indispensáveis para a compreensão do 
funcionamento da Língua Materna, não deixando de lado, a promoção do letramento 
digital e visual, apresentando aos alunos da rede pública as diferentes linguagens, 
considerando suas especificidades e suas esferas de circulação. Incentivamos também, a 
participação dos alunos das escolas em vestibulares e no Enem, além de realizarmos 
plantões de“tira-dúvidas” sobre a língua, entre outras atividades de acompanhamento e 
estímulo às superações de dificuldades no aprendizado, como também, em busca da 
socialização escolar. 
 
CONCEITUANDO A LINGUAGEM QUE NOS ORIENTA 
 
Antes de elucidar a questão acima, entendemos que é necessário abrir um 
parêntese para expor um breve histórico sobre os estudos que envolvem a linguagem 
humana, como forma de situar o leitor no tempo e espaço. 
A linguagem humana foi, durante muito tempo, motivo de inquietações desde os 
primórdios da humanidade, na tentativa de compreender melhor suas peculiaridades e 
seus pormenores. Nesse sentido, concordamos com Petter ao afirmar que: 
 
O interesse pela linguagem é muito antigo, expresso por mitos, lendas, 
cantos, rituais ou por trabalhos eruditos que buscam conhecer essa 
capacidade humana. Remontam ao século IV a.C, os primeiros estudos. 
(PETTER, 2008, p 12.) 
 
Vários povos, com o passar do tempo, foram dedicando estudos visando avançar 
nas descobertas de mais particularidades concomitantes à linguagem. Dentre eles 
destacam-se, segundo Petter: os hindus descrevendo sua língua, os gregos definindo 
relações entre o conceito e a palavra, no qual se destacam Platão e Aristóteles. O 
primeiro preocupou-se em tentar responder ao questionamento sobre se haveria ou não 
uma relação necessária entre a palavra e o seu significado, dúvida que seria levada por 
ele até o Crátilo, já o segundo, colaborou ao elaborar uma teoria da frase, distinguir as 
partes do discurso e a enumerar as categorias gramaticais. 
Houve, ainda, outros povos que corroboraram na evolução dos estudos 
linguísticos, porém não vamos nos deter neles, tendo em vista que isto demandaria um 
estudo mais aprofundado, que não caberia aqui. Nossa intenção foi apenas 
contextualizar os estudos da linguagem, no tempo, de forma bastante breve e resumida, 
conforme mencionamos acima. 
Posto isso, é preciso evidenciar o início do século XX como marco no que diz 
respeito aos avanços nos estudos linguísticos, pois a linguística surge com o status de 
ciência, logo após a publicação do Curso de Linguística Geral de Ferdinand Saussure. 
Respaldamo-nos, mais uma vez, em Petter. 
 
É no início do século XX, com a divulgação dos trabalhos de Ferdinand de 
Saussure, professor da Universidade de Genebra, que a investigação sobre a 
linguagem – a Linguística – passa a ser reconhecida como estudo científico. 
Em 1916, dois alunos de Saussure, a partir de anotações de aula, publicam o 
Curso de Linguística geral, obra fundadora da nova ciência. (PETTER, 2008, 
p 13.) 
 
Quanto à questão “o que é linguagem?” destacamos que, após a linguística surgir 
com o rótulo de ciência, surgiram várias teorias e respostas para essa questão conforme 
alguns teóricos foram debruçando-se nestes estudos. Dentre eles, destacam-se o próprio 
Saussure, que foi conivente com a teoria da análise linguística, e que futuramente 
recebeu o nome de estruturalismo, Noam Chomsky com a teoria gerativista e Mikhail 
Bakhtin e sua concepção dialógica/interacionista de linguagem. 
Vale salientar, no entanto, que, adotamos a concepção de linguagem adotada por 
Bakhtin, e que nos deteremos, essencialmente, nela, de agora em diante. As primeiras 
ideias sobre linguagem para Bakhtin surgiram em meados da década de 20. Voloshinov, 
certamente, foi um dos mais ativos colaboradores desses estudos junto a Bakhtin, 
trazendo consideráveis contribuições na elaboração e no desenvolvimento da teoria 
bakhtiniana. 
Para Bakhtin/ Voloshinov, a linguagem é, necessariamente, fruto das relações do 
eu com o outro, portanto, o outro exerce papel fundamental nesse processo. Assim, 
segundo o autor: 
 
Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através da 
palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação 
à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os 
outros. Se ela se apóia sobre mim numa extremidade, na outra apóia-se sobre 
o meu interlocutor. (BAKHTIN, 1981, p.113) 
 
A palavra, nesse sentido, é como uma espécie de elo condutor que vai 
estabelecendo as relações sociais entre os sujeitos e que constrói uma teia comunicativa 
entre eles.Tal acepção já demonstra a principal diferença do pensamento de Bakhtin em 
divergência com as outras teorias relacionadas a estudos sobre a linguagem. Nessa ótica, 
a concepção de linguagem adotada por esse teórico é embasada em estudos que 
contemplam, indispensavelmente, as relações dialógicas e sociais desses sujeitos, já que 
para ele, a linguagem é essencialmente “interação verbal”. 
Um dos principais pilares da teoria da interação verbal gira em torno do 
entendimento do autor sobre a “expressão”, pois ao contrário dos seguidores da teoria 
do subjetivismo individualista, que compreendem a atividade mental como algo que 
independe ao meio social, para Bakhtin não existe atividade mental dissociada desse 
meio. 
 
Qualquer que seja o aspecto da expressão-enunciação considerado, ele será 
determinado pelas condições reais da enunciação em questão, isto é, antes de 
tudo pela situação social mais imediata. (BAKHTIN, 1981, p. 112). 
 
Cabe, ainda, dizer aqui, que a enunciação para Bakhtin é parte do processo de 
interação verbal, pois é através dela que se desenvolvem tais situações dialógicas. A 
enunciação é uma espécie de instância que promove os diálogos interacionais entre os 
usuários da linguagem. Melhor dizendo, a enunciação é a junção do material linguístico 
com o social. 
A enunciação é, em sua totalidade, única e exclusiva, pois um enunciado que é 
proferido em determinado momento, jamais se repetirá, ou seja, é um evento marcado 
historicamente. Por mais que a pergunta: “Como vai você?” seja feita por uma 
infinidade de pessoas em diversos lugares do mundo, e que o significado seja o mesmo, 
os enunciados são diferentes, pois acontecem em cenas enunciativas distintas e em 
instâncias diferentes. A palavra, portanto, é exclusiva em cada evento enunciativo no 
qual é deflagrada. 
Desse modo, entendemos que o processo interacional é um processo que 
necessita do contato dos sujeitos com o meio em que estão inseridos, e mais ainda, das 
relações estabelecidas nesse meio, pois só assim serão feitas as adequações do uso da 
palavra. Em suma, falamos adequando nossa fala para quem iremos falar e em que 
situação comunicativa iremos falar. Fala, aqui, não necessariamente implica o sentido 
oral, ou seja, adequamos nossa linguagem, seja oral, escrita, para o auditório que 
teremos acesso. 
Nesse aspecto, cabe a fala do próprio autor quando diz: 
 
A palavra dirige-se a um interlocutor: ela é função da pessoa desse 
interlocutor: variará se se tratar de uma pessoa do mesmo grupo social ou 
não, se esta for inferior ou superior na hierarquia social, se estiver ligada ao 
locutor por laços sociais ou mais ou menos estreitos (pai, mãe, marido, etc.). 
(BAKHTIN, 1981, p. 112) 
 
Pensando assim, para a teoria da interação verbal, a linguagem não deve ser 
compreendida como algo exacerbadamente formal, já que ela é uma atividade 
sociocultural e, portanto, um jogo de práticas discursivas que acontecem em diversos e 
complexos conjuntos interacionistas. Como bem disse Faraco interpretando Bakhtin 
“[...] a linguagem verbal não é vista primordialmente como sistema formal[...]” 
(FARACO, 2003, p. 105). 
É pertinente, também, citar o que interessa com relação ao dialogismo entre os 
sujeitos dessa linguagem. Não interessa, tão somente, os diálogos em si, mas o que 
ocorrem neles, as relações dialógicas propriamente ditas, os posicionamentos desses 
sujeitos frente às situações em que estão envolvidos. Embora a noção de diálogoseja, 
em larga escala, compreendida como uma comunicação frente a frente, não podemos 
reduzir o entendimento apenas a esse olhar. É claro que, ela é uma das formas 
dialógicas, quiçá das mais profícuas, porém não é exclusiva. Assim: 
 
O diálogo, no sentido estrito do termo, não constitui, é claro, senão uma das 
formas, é verdade que das mais importantes da interação verbal. Mas pode-se 
compreender a palavra “diálogo” num sentido amplo, isto é, não apenas 
como a comunicação em voz alta de pessoas colocadas face a face, mas toda 
comunicação verbal, de qualquer tipo que seja. (BAKHTIN, 1981, p. 123). 
 
Outro aspecto relevante na teoria bakhtiniana diz respeito aos sujeitos da 
linguagem. Os sujeitos são compreendidos como seres que possuem posicionamento 
ideológico e que estão inseridos em determinadas culturas e sociedades organizadas 
previamente, portanto, comportam-se como tal. São sujeitos pensantes e que carregam 
valores e, além disso, são constituídos de uma heterogeneidade global. Não são, 
portanto “[...] entes autônomos e pré-sociais[...]” (FARACO, 2003, p. 106). Ora se a 
linguagem é construção social, não há como os sujeitos dessa linguagem serem de outra 
forma. 
Outro ponto importante e passível de ser mencionado trata do aspecto 
heteroglótico da linguagem. Isso nos leva à proposição de que ela é carregada de 
diversas vozes e valores sociais, tendo em vista que os sujeitos dessa linguagem 
transitam e participam dos diversos estratos sociais e, consequentemente, trazem 
consigo inúmeras vozes. São como representações da voz do outro presentes na minha, 
que se misturam resultando em um emaranhado de múltiplas vozes. Nesse aspecto, 
citamos Faraco ao dizer que: 
 
Todo o dizer, por estar imbricado com a práxis humana (social e histórica), 
está também saturado dos valores que emergem dessa práxis. Essas diferentes 
“verdades sociais” (essas diferentes refrações do mundo) estão materializadas 
semioticamente e redundam em diferentes vozes ou línguas sociais que 
caracterizam a realidade da linguagem como profundamente estratificada 
(heteroglótica) e atravessada pelos contínuos embates entre essas vozes – a 
infinda heteroglossiadialogizada. (FARACO, 2003, p. 107). 
 
 
Em tempo, a concepção de linguagem bakhtiniana não pode ser compreendida 
sem que se leve em consideração os aspectos sociais envolvidos nela. Muito embora o 
autor não rechace a linguística como instrumento de entendimento dos fatos 
linguísticos. Para ele, os estudos sobre a linguagem devem ser transpostos a um nível 
que diferencie as estruturas da palavra e da linguagem como representação social. Daí 
surge a ideia de uma bifurcação nos estudos que compreendem tal acepção; a linguística 
tratando dos aspectos formais e a translinguística; dos aspectos sociais. 
 
 
A FUNÇÃO SOCIAL DA LINGUAGEM 
 
O mundo é construído pela linguagem, uma vez que é a representação do 
pensamento por meio de signos que permite a interação entre as pessoas. Essa é uma 
definição, a primeira vista, primária, mas com sua validade – não do ponto de vista do 
subjetivismo individualista -, diferentemente do que diz Bakhtin (1981), pois segundo 
ele, a linguagem caminha nos campos simultaneamente “físico, fisiológico e psíquico”, 
tal qual o “domínio individual e ao domínio social”, tendo por seu movimento de 
interação constante, uma “determinação indeterminada” na sua unidade. O signo verbal 
(oral ou escrito) reflete a realidade com certo grau de proximidade com a mesma, mas 
também a refrata, pois também distorce a realidade sempre em um ponto de vista da 
própria realidade – daí o ato político, não neutro e indiferente, mas ato responsável, 
apoiado em determinada posição 
A linguagem é uma prática social que constitui o sujeito. Por meio dela, as 
pessoas se comunicam, interagem, negociam, discutem, refutam ideias ou as 
desenvolvem, seja no campo cientifico, artístico, político, etc. Para tanto, é interessante 
enfatizar que tal forma de representar o meio social se torna possível a partir da 
percepção de fatores externos – igualmente constituídos na linguagem – com os quais 
nos relacionamos, para que possamos desenvolver a partir da atividade mental. A 
atividade mental que se desenvolve no processo dialógico é primeiramente no 
reconhecimento do sujeito sobre certa circunstância, seguido da expressão desse sujeito 
de maneira variada. A linguagem é o elemento que enuncia o ato ético, ato resultante de 
ações realizadas pelos sujeitos, indivíduos, em sua existência concreta, carregada de 
valores e posicionamentos. 
Ainda assim, mesmo não possuindo uma determinação absoluta de si, a 
linguagem possui um sistema, não do ponto de vista Saussuriano, através do qual nos 
comunicamos, nos relacionamos uns com os outros, na interlocução, ao contrario da 
enunciação monológica, defendida pelo subjetivismo individualista, que encara a 
linguagem como ato puramente individual. Para o subjetivismo individualista se o 
“indivíduo pensa, ele se expressa”. Essa visão da expressão do pensamento, como sendo 
monológico foi criticada por Bakhtin, uma vez que o sujeito não pode ser constituído de 
maneira isolada. Tal crítica pode ser verificada por Freire (2003), afirmando que o 
espaço social onde o sujeito está inserido - o suporte – e se reconhece como um ser 
histórico e social em constante movimento, em constante mudança, é o que o torna um 
“sujeito” em exercício de interação com o mundo. Isso ocorre no campo da linguagem, 
uma vez que, seres reconhecidos como presenças no mundo, não somos alheios a ele. 
Sua própria presença torna-se linguagem, sendo o mundo linguagem e o ser humano 
parte desse mundo. Por meio de ações expressas (pela palavra, por gestos, por tomadas 
de decisão ou pontos de vista) os sujeitos agem no mundo, modificando-o ou a si 
próprios. Em verdade, o próprio diálogo na percepção do sujeito com si mesmo – o 
“outro” que é o “eu” - como ser histórico, social, ou seja, como ser ético, ocorre em sua 
percepção com o externo que se torna interna, e não o contrário que é pensamento do 
senso comum. 
Ainda que o sujeito realize um diálogo com ele próprio, não está falando 
sozinho, uma vez que o diálogo que se realiza se torna interno, mas ocorre entre o 
sujeito (o falante) com o ouvinte (ele mesmo), o que é muito comum em momentos de 
reflexão ou simplesmente quando o indivíduo se encontra “conversando com os seus 
botões”. Assim, é possível perceber que, no mundo, além de constituir um processo 
dialógico com outros interlocutores, o sujeito pode constituir um diálogo sozinho, mas 
ainda assim, não se encontra isolado, uma vez que ele está inserido em um mundo 
cercado por enunciados e o seu diálogo interior é apenas mais um dessa corrente. 
A partir do momento em que se percebe o espaço – no caso, o contexto -, é 
possível se perceber como ser ético, e essa percepção é interna, individual, mas partindo 
de uma coletividade. O contexto social se faz no espaço quando esse se faz mundo e a 
vida, existência, na medida em que o indivíduo, ao invés de passivo, receptor, se faz 
consciente. Essa tomada de consciência se dá na palavra, sendo esse signo ideológico – 
dirigindo-se sempre a um interlocutor, seja um dialogo interior ou exterior. 
Comportando duas faces – de quem procede e para quem procede – a palavra constitui o 
produto da interação, no jogo entre falantes e ouvintes, jogo que se joga na sociedade, 
na interlocução, onde as regras se estabelecem no lugar das relações sociais. Aqui, o 
sujeito se posiciona, utiliza a linguagem para se comunicar e interagir com o outro. 
 
 
A LINGUAGEM NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA E OS PCN 
 
Os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) são os documentosoficiais que 
parametrizam o ensino nos ciclos fundamental e médio da Educação no Brasil. No final 
da década de 90, apresentaram as concepções e os pressupostos que poderiam orientar 
os conteúdos a serem ministrados durante tais ciclos. Particularmente, o ensino de 
Língua Portuguesa foi contemplado por significativas mudanças nos aspectos que 
envolvem a linguagem e sua utilização nas aulas de Língua Materna. Essas mudanças 
ecoam em uma ressignificação no trato dado à forma como os professores devem tratar 
os aspectos linguísticos em suas práticas docentes. Nesse sentido, um ensino de língua 
materna eficiente e comprometido com a qualidade, deve primar pela transmissão de 
conteúdos que contemplem a linguagem como manifestação social e como instrumento 
de ascensão, por parte dos alunos, nas mais diversas esferas da sociedade. 
 Por isso, as práticas de ensino descontextualizadas, o ensino de nomenclaturas e 
regras gramáticas são compreendidas como obsoletas e ineficientes, tendo em vista que 
não possibilitam, nos discentes, um aprendizado eficaz no sentido de fazerem uso dessa 
linguagem nas suas práticas sociais corriqueiras. O uso de frases deslocadas e que não 
fazem sentido é entendida como equivocada e superficial nos citados documentos 
educacionais. 
Assim, o ensino dos aspectos gramaticais deve ser posto em prática, apenas, e 
tão somente, se for atrelado ao texto. Os alunos devem compreender o valor dessas 
formas em uso prático, real, pois o texto é linguagem posta em prática. Para tal, as aulas 
de língua portuguesa devem elencar atividades que possibilitem, no alunado, reflexões 
sobre os mais diversos tipos e gêneros textuais, pois somente assim será possível 
alcançar objetivos que possibilitem resultados satisfatórios no sentido de promover, 
neles, os mecanismos necessários para a utilização dessa linguagem, de maneira 
satisfatória e coerente. 
Nesse aspecto, os alunos do Ensino Médio, devem desenvolver habilidades 
críticas em interpretações textuais, bem como na produção de textos dos mais diversos 
estilos e gêneros a fim de tornarem-se sujeitos ativos e que se reconhecem neles, 
sujeitos sociais e formadores de opiniões. Ainda, a leitura de textos deve ser centrada 
nas inúmeras possibilidades de interpretação e no entendimento que há nas entrelinhas, 
ou seja, o que está além da superfície do texto. Somente nesse viés a escola formará 
alunos capazes de fazerem leituras relevantes e eficientes e, consequentemente, capazes 
de compreender a língua portuguesa como instrumento de alcance ideológico. Dessa 
maneira, a postura do professor deve ser a postura de um facilitador desse 
conhecimento, sugerindo, apontando e criando situações que contemplem tais leituras 
por parte dos alunos, e descontruindo os mitos que envolvem a incapacidade deles 
serem bons leitores e produtores de textos interessantes. 
Sabemos, no entanto, que o ensino de língua materna ainda é ineficiente em 
muitas instituições brasileiras, muito embora os PCN estejam em vigor há mais de duas 
décadas. Há, ainda, uma resistência por exercer uma prática docente “gramaticalizante”, 
que sufoca e reprime os alunos diante daquela linguagem que não é a língua que eles 
usam no cotidiano em contrapartida a um ensino que tenha o texto como objeto de 
ensino. Dessa maneira, alunos que são contemplados com uma visão de linguagem 
como representação social e como relação dialógica, são alunos mais bem preparados 
para a vida, pois são capazes de fazer uso dessa linguagem e adequá-la as mais diversas 
situações sócio-comunicativas, pois não estarão fadados a um ensino da norma e da 
nomenclatura que não redunda em uma escrita e em uma leitura mais proficiente de 
textos para o mundo da vida. 
 
CONCLUSÃO 
 
Partindo do pensamento bakhtiniano, em que o objeto de estudos das ciências humanas 
é o homem social, o ser expressivo e falante e, de linguagem, sendo o seu modo de 
produção de conhecimento sempre dialógico, pois, é um conhecimento que se produz na 
troca entre responsíveis e responsáveis. 
Assim, acreditamos em uma educação da Língua Materna voltada para o caráter 
sócio-comunicativo e dialógico em seus diversos níveis de linguagem. E o PIBID – 
Língua Portuguesa atua, neste sentido, na teoria/prática de que é o texto um instrumento 
capaz de deixar-nos estudar e analisar o ser humano, pois é um ser de linguagem, além 
disso, produz textos que sejam de acordo com a sua realidade, desde que, sejam 
orientados e direcionados a um determinado gênero discursivo. O projeto defende que o 
ensino de Língua Portuguesa deve ter como unidade de análise o texto e o gênero 
discursivo como instrumento organizador das atividades em sala de aula, para tanto, 
somente uma concepção dialógica de linguagem pode subsidiar esse trabalho na escola 
pública. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
BAKHTIN, Mikhail; VOLOSHINOV. a interação verbal. Marxismo e filosofia da 
linguagem: problemas fundamentais no método sociológico da linguagem. 2ª ed. São 
Paulo: 1981, Hucitec,p. 110-127. 
 
_________, Mikhail. Estética da criação verbal. 5ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins 
Fontes, 2010. 
 
FARACO, Carlos Alberto. A filosofia da linguagem. Linguagem & Diálogo: as ideias 
linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: 2003, criar edições, p. 87-131. 
 
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática educativa. São 
Paulo: Paz e Terra, 2003. 
 
GERALDI, João Wanderley. Almeida, Milton José de. (organizadores). O texto na sala 
de aula: leitura & produção, Cascavél/ PR, Editora Assoeste, 2ª edição, 1991. 
 
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (ENSINO MÉDIO). 
Conhecimentos de língua portuguesa. 2000, p. 15-23. 
 
PETTER, Margarida. Uma breve história do estudo da linguagem. In: Fiorin, José Luiz 
(org). Introdução à linguística: I objetos teóricos. São Paulo: 2008, contexto, p. 12-13.