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CONCEPÇÃO DIALÓGICA DE LINGUAGEM: FUNDAMENTO DA ATUAÇÃO DO PIBID CharllesTargino da Silva (UFRN) Charllestarginodasilva@gmail.com Eide Justino Costa (UFRN) eidercosta@hotmail.com Emanuel Kleiton Souza de Morais (UFRN) Kleytontremere805@hotmail.com Júlio César Balisa da Silva (UFRN) juliobalisa@hotmail.com Orientadora: Prof.ª Dra. Maria da Penha Casado Alves (UFRN) penhalves@msn.com RESUMO Este artigo tem como objetivo apresentar a concepção de linguagem que norteia o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), mais precisamente, do subprojeto de Língua Portuguesa, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Campus Natal. Nessa perspectiva, temos como público alvo, os discentes do Ensino Médio Regular, dos turnos vespertino e noturno, das Escolas Estaduais José Fernandes Machado e Berilo Wanderley. Para esse trabalho, orienta-nos a concepção de linguagem como uma prática sócio-interacional e, consequentemente, constitutiva de um sujeito ativo e crítico, que pensa, age, participa e faz uso dessa linguagem nos mais diversos estratos da sociedade e nas mais diversas situações sócio-comunicativas. Portanto, acreditamos em um ensino de Língua Portuguesa calcado em uma concepção de linguagem que possibilite e desenvolva, nos alunos, a criticidade e as aptidões necessárias para tal. Concomitantemente, este trabalho compreende que, apenas indo além do tradicional ensino de Língua Materna, será possível desenvolver as ferramentas capazes de propiciar a formação multilinguística desses sujeitos, otimizando uma utilização dinâmica dos métodos didático-pedagógicos voltados para o ensino, a fim de situar o aluno no contexto atuante de sua própria aprendizagem. Desse modo, a concepção de linguagem adotada nesse trabalho rompe com uma compreensão gramaticalizante de linguagem adotada em muitas práticas escolares. Também pretende- se desconstruir falsos mitos que envolvam a incapacidade do alunado das escolas públicas de fazerem leituras críticas e de produzirem textos relevantes. Portanto, este trabalho é embasado nos pressupostos teóricos de Mikhail Bakhtin (2003) sobre linguagem, assim como, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e nos documentos oficiais que orientam o ensino de Língua Portuguesa no Brasil. Palavras-chave: PIBID – Linguagem – Ensino de Língua Portuguesa. INTRODUÇÃO No cenário atual das escolas em todo o Brasil, podemos constatar uma crise no sistema de ensino brasileiro, desde os problemas de infra-estrutura até o baixo nível de desempenho em relação à interpretação e à produção de textos em sala de aula, tanto na forma escrita quanto na oral por parte dos alunos. Essa realidade é visível, de maneira generalizada, em praticamente todos os sistemas de ensino da Língua Materna no ensino básico. Com base nessa preocupação de desfazer o mito de que o processo pedagógico na sala de aula de Língua Portuguesa ocorre em “moldes” normalistas e gramaticalizantes, o PIBID faz opção por concepções de linguagem, de leitura e de escrita que procuram considerar o sujeito em sua historicidade e incompletude. Indo de encontro a uma concepção de linguagem como expressão do pensamento e a que pensa a linguagem apenas como instrumento de comunicação, a concepção de linguagem de linguagem sempre considera a historicidade do processo e o sujeito como construído nas relações intersubjetivas situadas. Assim, este trabalho apresenta a linguagem como uma prática sócio-interacional e, consequentemente, responsável por um sujeito ativo e constituído pela linguagem que lhe permite agir na sociedade, fazendo uso dessa linguagem nas mais diversas situações comunicativas. O PIBID E A REALIDADE DO PROFISSIONAL DOCENTE Nos últimos vinte e cinco anos, a Educação brasileira passou por consideráveis transformações em busca da universalização do ensino, em consequência dos altos índices , como o e o IDEB que sempre foram bastante significativos na representação situacional do ensino. No entanto,houve um aumento nos investimentos e uma tentativa de qualificação do quadro docente, embora, percebamos diariamente que é preciso muito mais para se ter no Brasil um ensino digno e de qualidade para todos. Diante de tudo isso, é altamente observável a descredibilidade da escola pública no cenário nacional da educação. A maioria das escolas estão sucateadas, sem qualquer estrutura que garanta um bem-estar ao aluno que a freqüenta, os professoreo desestimulados com os baixos salários e amedrontados com o quadro de violência que avançou sobre os muros da escola. A fim de atuar neste cenário, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), programa este, do Ministério da Educação, gerenciado pela Fundação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), objetiva o incentivo à formação de professores para a educação básica e buscar uma melhoria na qualidade das escolas públicas. Sendo um programa de iniciação à docência, os participantes são graduandos em cursos de Licenciatura das Instituições Formadoras de professores que, inseridos no cotidiano de escolas da rede pública, planejam e participam de experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter dinâmico, inovador e interdisciplinar, e que buscam a superação de problemas identificados nas diversas fases do processo de ensino-aprendizagem. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) reconhece a importância deste programa, acreditando em uma formação inicial e continuada de professores, principalmente, no que diz respeito à interface com a educação básica, sendo este, um esforço institucional de todos os subprojetos que formam o PIBID. Neste contexto, o subprojeto de Língua Portuguesa atua nas Escolas Estaduais José Fernandes Machado e Berilo Wanderley, situadas em Ponta Negra e Pirangi, respectivamente, em Natal/RN. Nesses campos de atuação, procura desenvolver atividades na área de linguagem que contemplem as competências de leitura, de escrita e de análise lingüística que permitam compreender o funcionamento da língua na vida e nos textos produzidos por sujeitos em diferentes espaços/tempos. O ensino da Língua Materna sempre é visto como algo “complicado” quando se trata da leitura e da escrita, incluindo o mito de que o aluno, principalmente da rede pública, independente do nível escolar, não possui capacidade para ler e produzir bons textos. A partir dessa ideia, o PIBID – Língua Portuguesa lança novas ações que tenham o objetivo de despertar o interesse dos alunos para o mundo da leitura e da escrita crítica e consciente, tornando-os seres atuantes do próprio processo de assimilação de conhecimentos, consequentemente, efetivando-os como seres ativos no processo de ensino-aprendizagem. Através de ações diagnósticas desde o seu espaço físico às condições didático- pedagógicas das escolas em que atuamos, planejamos um conjunto de atividades que extrapolem o pré-conceituoso mundo da sala de aula, tida como espaço destinado às regras e normas. Empreendemos um planejamento para o ensino da Língua Portuguesa que contemple o ensino da leitura, da produção de textos e, principalmente, da análise linguística, configuradas como práticas indispensáveis para a compreensão do funcionamento da Língua Materna, não deixando de lado, a promoção do letramento digital e visual, apresentando aos alunos da rede pública as diferentes linguagens, considerando suas especificidades e suas esferas de circulação. Incentivamos também, a participação dos alunos das escolas em vestibulares e no Enem, além de realizarmos plantões de“tira-dúvidas” sobre a língua, entre outras atividades de acompanhamento e estímulo às superações de dificuldades no aprendizado, como também, em busca da socialização escolar. CONCEITUANDO A LINGUAGEM QUE NOS ORIENTA Antes de elucidar a questão acima, entendemos que é necessário abrir um parêntese para expor um breve histórico sobre os estudos que envolvem a linguagem humana, como forma de situar o leitor no tempo e espaço. A linguagem humana foi, durante muito tempo, motivo de inquietações desde os primórdios da humanidade, na tentativa de compreender melhor suas peculiaridades e seus pormenores. Nesse sentido, concordamos com Petter ao afirmar que: O interesse pela linguagem é muito antigo, expresso por mitos, lendas, cantos, rituais ou por trabalhos eruditos que buscam conhecer essa capacidade humana. Remontam ao século IV a.C, os primeiros estudos. (PETTER, 2008, p 12.) Vários povos, com o passar do tempo, foram dedicando estudos visando avançar nas descobertas de mais particularidades concomitantes à linguagem. Dentre eles destacam-se, segundo Petter: os hindus descrevendo sua língua, os gregos definindo relações entre o conceito e a palavra, no qual se destacam Platão e Aristóteles. O primeiro preocupou-se em tentar responder ao questionamento sobre se haveria ou não uma relação necessária entre a palavra e o seu significado, dúvida que seria levada por ele até o Crátilo, já o segundo, colaborou ao elaborar uma teoria da frase, distinguir as partes do discurso e a enumerar as categorias gramaticais. Houve, ainda, outros povos que corroboraram na evolução dos estudos linguísticos, porém não vamos nos deter neles, tendo em vista que isto demandaria um estudo mais aprofundado, que não caberia aqui. Nossa intenção foi apenas contextualizar os estudos da linguagem, no tempo, de forma bastante breve e resumida, conforme mencionamos acima. Posto isso, é preciso evidenciar o início do século XX como marco no que diz respeito aos avanços nos estudos linguísticos, pois a linguística surge com o status de ciência, logo após a publicação do Curso de Linguística Geral de Ferdinand Saussure. Respaldamo-nos, mais uma vez, em Petter. É no início do século XX, com a divulgação dos trabalhos de Ferdinand de Saussure, professor da Universidade de Genebra, que a investigação sobre a linguagem – a Linguística – passa a ser reconhecida como estudo científico. Em 1916, dois alunos de Saussure, a partir de anotações de aula, publicam o Curso de Linguística geral, obra fundadora da nova ciência. (PETTER, 2008, p 13.) Quanto à questão “o que é linguagem?” destacamos que, após a linguística surgir com o rótulo de ciência, surgiram várias teorias e respostas para essa questão conforme alguns teóricos foram debruçando-se nestes estudos. Dentre eles, destacam-se o próprio Saussure, que foi conivente com a teoria da análise linguística, e que futuramente recebeu o nome de estruturalismo, Noam Chomsky com a teoria gerativista e Mikhail Bakhtin e sua concepção dialógica/interacionista de linguagem. Vale salientar, no entanto, que, adotamos a concepção de linguagem adotada por Bakhtin, e que nos deteremos, essencialmente, nela, de agora em diante. As primeiras ideias sobre linguagem para Bakhtin surgiram em meados da década de 20. Voloshinov, certamente, foi um dos mais ativos colaboradores desses estudos junto a Bakhtin, trazendo consideráveis contribuições na elaboração e no desenvolvimento da teoria bakhtiniana. Para Bakhtin/ Voloshinov, a linguagem é, necessariamente, fruto das relações do eu com o outro, portanto, o outro exerce papel fundamental nesse processo. Assim, segundo o autor: Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através da palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apóia sobre mim numa extremidade, na outra apóia-se sobre o meu interlocutor. (BAKHTIN, 1981, p.113) A palavra, nesse sentido, é como uma espécie de elo condutor que vai estabelecendo as relações sociais entre os sujeitos e que constrói uma teia comunicativa entre eles.Tal acepção já demonstra a principal diferença do pensamento de Bakhtin em divergência com as outras teorias relacionadas a estudos sobre a linguagem. Nessa ótica, a concepção de linguagem adotada por esse teórico é embasada em estudos que contemplam, indispensavelmente, as relações dialógicas e sociais desses sujeitos, já que para ele, a linguagem é essencialmente “interação verbal”. Um dos principais pilares da teoria da interação verbal gira em torno do entendimento do autor sobre a “expressão”, pois ao contrário dos seguidores da teoria do subjetivismo individualista, que compreendem a atividade mental como algo que independe ao meio social, para Bakhtin não existe atividade mental dissociada desse meio. Qualquer que seja o aspecto da expressão-enunciação considerado, ele será determinado pelas condições reais da enunciação em questão, isto é, antes de tudo pela situação social mais imediata. (BAKHTIN, 1981, p. 112). Cabe, ainda, dizer aqui, que a enunciação para Bakhtin é parte do processo de interação verbal, pois é através dela que se desenvolvem tais situações dialógicas. A enunciação é uma espécie de instância que promove os diálogos interacionais entre os usuários da linguagem. Melhor dizendo, a enunciação é a junção do material linguístico com o social. A enunciação é, em sua totalidade, única e exclusiva, pois um enunciado que é proferido em determinado momento, jamais se repetirá, ou seja, é um evento marcado historicamente. Por mais que a pergunta: “Como vai você?” seja feita por uma infinidade de pessoas em diversos lugares do mundo, e que o significado seja o mesmo, os enunciados são diferentes, pois acontecem em cenas enunciativas distintas e em instâncias diferentes. A palavra, portanto, é exclusiva em cada evento enunciativo no qual é deflagrada. Desse modo, entendemos que o processo interacional é um processo que necessita do contato dos sujeitos com o meio em que estão inseridos, e mais ainda, das relações estabelecidas nesse meio, pois só assim serão feitas as adequações do uso da palavra. Em suma, falamos adequando nossa fala para quem iremos falar e em que situação comunicativa iremos falar. Fala, aqui, não necessariamente implica o sentido oral, ou seja, adequamos nossa linguagem, seja oral, escrita, para o auditório que teremos acesso. Nesse aspecto, cabe a fala do próprio autor quando diz: A palavra dirige-se a um interlocutor: ela é função da pessoa desse interlocutor: variará se se tratar de uma pessoa do mesmo grupo social ou não, se esta for inferior ou superior na hierarquia social, se estiver ligada ao locutor por laços sociais ou mais ou menos estreitos (pai, mãe, marido, etc.). (BAKHTIN, 1981, p. 112) Pensando assim, para a teoria da interação verbal, a linguagem não deve ser compreendida como algo exacerbadamente formal, já que ela é uma atividade sociocultural e, portanto, um jogo de práticas discursivas que acontecem em diversos e complexos conjuntos interacionistas. Como bem disse Faraco interpretando Bakhtin “[...] a linguagem verbal não é vista primordialmente como sistema formal[...]” (FARACO, 2003, p. 105). É pertinente, também, citar o que interessa com relação ao dialogismo entre os sujeitos dessa linguagem. Não interessa, tão somente, os diálogos em si, mas o que ocorrem neles, as relações dialógicas propriamente ditas, os posicionamentos desses sujeitos frente às situações em que estão envolvidos. Embora a noção de diálogoseja, em larga escala, compreendida como uma comunicação frente a frente, não podemos reduzir o entendimento apenas a esse olhar. É claro que, ela é uma das formas dialógicas, quiçá das mais profícuas, porém não é exclusiva. Assim: O diálogo, no sentido estrito do termo, não constitui, é claro, senão uma das formas, é verdade que das mais importantes da interação verbal. Mas pode-se compreender a palavra “diálogo” num sentido amplo, isto é, não apenas como a comunicação em voz alta de pessoas colocadas face a face, mas toda comunicação verbal, de qualquer tipo que seja. (BAKHTIN, 1981, p. 123). Outro aspecto relevante na teoria bakhtiniana diz respeito aos sujeitos da linguagem. Os sujeitos são compreendidos como seres que possuem posicionamento ideológico e que estão inseridos em determinadas culturas e sociedades organizadas previamente, portanto, comportam-se como tal. São sujeitos pensantes e que carregam valores e, além disso, são constituídos de uma heterogeneidade global. Não são, portanto “[...] entes autônomos e pré-sociais[...]” (FARACO, 2003, p. 106). Ora se a linguagem é construção social, não há como os sujeitos dessa linguagem serem de outra forma. Outro ponto importante e passível de ser mencionado trata do aspecto heteroglótico da linguagem. Isso nos leva à proposição de que ela é carregada de diversas vozes e valores sociais, tendo em vista que os sujeitos dessa linguagem transitam e participam dos diversos estratos sociais e, consequentemente, trazem consigo inúmeras vozes. São como representações da voz do outro presentes na minha, que se misturam resultando em um emaranhado de múltiplas vozes. Nesse aspecto, citamos Faraco ao dizer que: Todo o dizer, por estar imbricado com a práxis humana (social e histórica), está também saturado dos valores que emergem dessa práxis. Essas diferentes “verdades sociais” (essas diferentes refrações do mundo) estão materializadas semioticamente e redundam em diferentes vozes ou línguas sociais que caracterizam a realidade da linguagem como profundamente estratificada (heteroglótica) e atravessada pelos contínuos embates entre essas vozes – a infinda heteroglossiadialogizada. (FARACO, 2003, p. 107). Em tempo, a concepção de linguagem bakhtiniana não pode ser compreendida sem que se leve em consideração os aspectos sociais envolvidos nela. Muito embora o autor não rechace a linguística como instrumento de entendimento dos fatos linguísticos. Para ele, os estudos sobre a linguagem devem ser transpostos a um nível que diferencie as estruturas da palavra e da linguagem como representação social. Daí surge a ideia de uma bifurcação nos estudos que compreendem tal acepção; a linguística tratando dos aspectos formais e a translinguística; dos aspectos sociais. A FUNÇÃO SOCIAL DA LINGUAGEM O mundo é construído pela linguagem, uma vez que é a representação do pensamento por meio de signos que permite a interação entre as pessoas. Essa é uma definição, a primeira vista, primária, mas com sua validade – não do ponto de vista do subjetivismo individualista -, diferentemente do que diz Bakhtin (1981), pois segundo ele, a linguagem caminha nos campos simultaneamente “físico, fisiológico e psíquico”, tal qual o “domínio individual e ao domínio social”, tendo por seu movimento de interação constante, uma “determinação indeterminada” na sua unidade. O signo verbal (oral ou escrito) reflete a realidade com certo grau de proximidade com a mesma, mas também a refrata, pois também distorce a realidade sempre em um ponto de vista da própria realidade – daí o ato político, não neutro e indiferente, mas ato responsável, apoiado em determinada posição A linguagem é uma prática social que constitui o sujeito. Por meio dela, as pessoas se comunicam, interagem, negociam, discutem, refutam ideias ou as desenvolvem, seja no campo cientifico, artístico, político, etc. Para tanto, é interessante enfatizar que tal forma de representar o meio social se torna possível a partir da percepção de fatores externos – igualmente constituídos na linguagem – com os quais nos relacionamos, para que possamos desenvolver a partir da atividade mental. A atividade mental que se desenvolve no processo dialógico é primeiramente no reconhecimento do sujeito sobre certa circunstância, seguido da expressão desse sujeito de maneira variada. A linguagem é o elemento que enuncia o ato ético, ato resultante de ações realizadas pelos sujeitos, indivíduos, em sua existência concreta, carregada de valores e posicionamentos. Ainda assim, mesmo não possuindo uma determinação absoluta de si, a linguagem possui um sistema, não do ponto de vista Saussuriano, através do qual nos comunicamos, nos relacionamos uns com os outros, na interlocução, ao contrario da enunciação monológica, defendida pelo subjetivismo individualista, que encara a linguagem como ato puramente individual. Para o subjetivismo individualista se o “indivíduo pensa, ele se expressa”. Essa visão da expressão do pensamento, como sendo monológico foi criticada por Bakhtin, uma vez que o sujeito não pode ser constituído de maneira isolada. Tal crítica pode ser verificada por Freire (2003), afirmando que o espaço social onde o sujeito está inserido - o suporte – e se reconhece como um ser histórico e social em constante movimento, em constante mudança, é o que o torna um “sujeito” em exercício de interação com o mundo. Isso ocorre no campo da linguagem, uma vez que, seres reconhecidos como presenças no mundo, não somos alheios a ele. Sua própria presença torna-se linguagem, sendo o mundo linguagem e o ser humano parte desse mundo. Por meio de ações expressas (pela palavra, por gestos, por tomadas de decisão ou pontos de vista) os sujeitos agem no mundo, modificando-o ou a si próprios. Em verdade, o próprio diálogo na percepção do sujeito com si mesmo – o “outro” que é o “eu” - como ser histórico, social, ou seja, como ser ético, ocorre em sua percepção com o externo que se torna interna, e não o contrário que é pensamento do senso comum. Ainda que o sujeito realize um diálogo com ele próprio, não está falando sozinho, uma vez que o diálogo que se realiza se torna interno, mas ocorre entre o sujeito (o falante) com o ouvinte (ele mesmo), o que é muito comum em momentos de reflexão ou simplesmente quando o indivíduo se encontra “conversando com os seus botões”. Assim, é possível perceber que, no mundo, além de constituir um processo dialógico com outros interlocutores, o sujeito pode constituir um diálogo sozinho, mas ainda assim, não se encontra isolado, uma vez que ele está inserido em um mundo cercado por enunciados e o seu diálogo interior é apenas mais um dessa corrente. A partir do momento em que se percebe o espaço – no caso, o contexto -, é possível se perceber como ser ético, e essa percepção é interna, individual, mas partindo de uma coletividade. O contexto social se faz no espaço quando esse se faz mundo e a vida, existência, na medida em que o indivíduo, ao invés de passivo, receptor, se faz consciente. Essa tomada de consciência se dá na palavra, sendo esse signo ideológico – dirigindo-se sempre a um interlocutor, seja um dialogo interior ou exterior. Comportando duas faces – de quem procede e para quem procede – a palavra constitui o produto da interação, no jogo entre falantes e ouvintes, jogo que se joga na sociedade, na interlocução, onde as regras se estabelecem no lugar das relações sociais. Aqui, o sujeito se posiciona, utiliza a linguagem para se comunicar e interagir com o outro. A LINGUAGEM NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA E OS PCN Os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) são os documentosoficiais que parametrizam o ensino nos ciclos fundamental e médio da Educação no Brasil. No final da década de 90, apresentaram as concepções e os pressupostos que poderiam orientar os conteúdos a serem ministrados durante tais ciclos. Particularmente, o ensino de Língua Portuguesa foi contemplado por significativas mudanças nos aspectos que envolvem a linguagem e sua utilização nas aulas de Língua Materna. Essas mudanças ecoam em uma ressignificação no trato dado à forma como os professores devem tratar os aspectos linguísticos em suas práticas docentes. Nesse sentido, um ensino de língua materna eficiente e comprometido com a qualidade, deve primar pela transmissão de conteúdos que contemplem a linguagem como manifestação social e como instrumento de ascensão, por parte dos alunos, nas mais diversas esferas da sociedade. Por isso, as práticas de ensino descontextualizadas, o ensino de nomenclaturas e regras gramáticas são compreendidas como obsoletas e ineficientes, tendo em vista que não possibilitam, nos discentes, um aprendizado eficaz no sentido de fazerem uso dessa linguagem nas suas práticas sociais corriqueiras. O uso de frases deslocadas e que não fazem sentido é entendida como equivocada e superficial nos citados documentos educacionais. Assim, o ensino dos aspectos gramaticais deve ser posto em prática, apenas, e tão somente, se for atrelado ao texto. Os alunos devem compreender o valor dessas formas em uso prático, real, pois o texto é linguagem posta em prática. Para tal, as aulas de língua portuguesa devem elencar atividades que possibilitem, no alunado, reflexões sobre os mais diversos tipos e gêneros textuais, pois somente assim será possível alcançar objetivos que possibilitem resultados satisfatórios no sentido de promover, neles, os mecanismos necessários para a utilização dessa linguagem, de maneira satisfatória e coerente. Nesse aspecto, os alunos do Ensino Médio, devem desenvolver habilidades críticas em interpretações textuais, bem como na produção de textos dos mais diversos estilos e gêneros a fim de tornarem-se sujeitos ativos e que se reconhecem neles, sujeitos sociais e formadores de opiniões. Ainda, a leitura de textos deve ser centrada nas inúmeras possibilidades de interpretação e no entendimento que há nas entrelinhas, ou seja, o que está além da superfície do texto. Somente nesse viés a escola formará alunos capazes de fazerem leituras relevantes e eficientes e, consequentemente, capazes de compreender a língua portuguesa como instrumento de alcance ideológico. Dessa maneira, a postura do professor deve ser a postura de um facilitador desse conhecimento, sugerindo, apontando e criando situações que contemplem tais leituras por parte dos alunos, e descontruindo os mitos que envolvem a incapacidade deles serem bons leitores e produtores de textos interessantes. Sabemos, no entanto, que o ensino de língua materna ainda é ineficiente em muitas instituições brasileiras, muito embora os PCN estejam em vigor há mais de duas décadas. Há, ainda, uma resistência por exercer uma prática docente “gramaticalizante”, que sufoca e reprime os alunos diante daquela linguagem que não é a língua que eles usam no cotidiano em contrapartida a um ensino que tenha o texto como objeto de ensino. Dessa maneira, alunos que são contemplados com uma visão de linguagem como representação social e como relação dialógica, são alunos mais bem preparados para a vida, pois são capazes de fazer uso dessa linguagem e adequá-la as mais diversas situações sócio-comunicativas, pois não estarão fadados a um ensino da norma e da nomenclatura que não redunda em uma escrita e em uma leitura mais proficiente de textos para o mundo da vida. CONCLUSÃO Partindo do pensamento bakhtiniano, em que o objeto de estudos das ciências humanas é o homem social, o ser expressivo e falante e, de linguagem, sendo o seu modo de produção de conhecimento sempre dialógico, pois, é um conhecimento que se produz na troca entre responsíveis e responsáveis. Assim, acreditamos em uma educação da Língua Materna voltada para o caráter sócio-comunicativo e dialógico em seus diversos níveis de linguagem. E o PIBID – Língua Portuguesa atua, neste sentido, na teoria/prática de que é o texto um instrumento capaz de deixar-nos estudar e analisar o ser humano, pois é um ser de linguagem, além disso, produz textos que sejam de acordo com a sua realidade, desde que, sejam orientados e direcionados a um determinado gênero discursivo. O projeto defende que o ensino de Língua Portuguesa deve ter como unidade de análise o texto e o gênero discursivo como instrumento organizador das atividades em sala de aula, para tanto, somente uma concepção dialógica de linguagem pode subsidiar esse trabalho na escola pública. REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail; VOLOSHINOV. a interação verbal. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais no método sociológico da linguagem. 2ª ed. São Paulo: 1981, Hucitec,p. 110-127. _________, Mikhail. Estética da criação verbal. 5ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. FARACO, Carlos Alberto. A filosofia da linguagem. Linguagem & Diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: 2003, criar edições, p. 87-131. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2003. GERALDI, João Wanderley. Almeida, Milton José de. (organizadores). O texto na sala de aula: leitura & produção, Cascavél/ PR, Editora Assoeste, 2ª edição, 1991. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (ENSINO MÉDIO). Conhecimentos de língua portuguesa. 2000, p. 15-23. PETTER, Margarida. Uma breve história do estudo da linguagem. In: Fiorin, José Luiz (org). Introdução à linguística: I objetos teóricos. São Paulo: 2008, contexto, p. 12-13.