Buscar

DESENHO INDUSTRIAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 40 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 40 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 40 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
DESENHO INDUSTRIAL: POSSIBILIDADE DE DUPLA PROTEÇÃO1 
 
Laura Wolff Pletsch2 
 
Resumo: No mundo moderno, em que o consumidor cada vez mais leva em 
consideração o design aplicado aos produtos, quando da sua escolha, torna-se 
complexa a atividade das empresas que atuam no campo da tecnologia. Tal 
complexidade esta relacionada ao direito de propriedade industrial, uma vez 
que, no mundo globalizado, os desenhos industriais são fatores determinantes 
ao sucesso de uma empresa. No Brasil, a Lei 9.279/96 tratou de regular a 
proteção dos desenhos industriais. Embora haja previsão legal, esta se limita a 
completar o quadro das criações no campo da indústria, sem entrar no mérito 
artístico nem técnico do produto, caso em que, seria necessária a proteção da 
Lei do Direito do Autor, Lei 9.610/98. Assim, surge a polêmica: se é possível, 
em certos aspectos, a cumulação da proteção dos desenhos industriais com a 
do direito do autor sobre a inserção estética que lhe dá origem. Há quem 
defenda que não há possibilidade de dupla proteção sobre o objeto, por não 
haver expressa previsão legal. Há quem defenda que há o direito à dupla 
proteção, uma vez que o rol previsto na Lei de Propriedade Industrial é 
meramente exemplificativo, não existindo nenhum dispositivo que impeça tal 
cumulação. 
 
Palavras-chave: Desenho Industrial. Dupla Proteção. Direito do Autor. 
Propriedade Industrial. 
 
Sumário: 1. Introdução. 2. Um breve referencial histórico do surgimento dos 
desenhos industriais. 3. Desenho Industrial. 3.1 Conceito. 3.2 Requisitos para 
Registrabilidade. 3.3 Desenhos Excluídos da Proteção Legal. 3.4 Formalidades 
para Registro. 3.5 Nulidade do Registro. 3.6 Extinção do Registro. 4. A Dupla 
 
1
 Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à 
obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande 
do Sul, aprovado, com grau máximo pela banca examinadora composta pela orientadora 
Professora. Dra. Helenara Braga Avancini,Me. Álvaro Vinícius Paranhos Severo e Prof. Plínio 
Saraiva Melgaré, em 09 de junho de 2009. 
2
 Acadêmica do Curso de Ciências Jurídicas e Sociais – Faculdade de Direito – PUCRS. 
Contato: laurawpletsch@gmail.com 
2 
 
Proteção e seus Desdobramentos. 4.1 Inter-relação com Outras Áreas. 4.1.1 
Desenho Industrial x Patente (Modelo de Utilidade). 4.1.2 Desenho Industrial x 
Marcas (Figurativas e Tridimensionais). 5. Casos no Brasil e no Exterior. 6. 
Conclusão. Referências. 
 
1 INTRODUÇÃO 
É comum associar a preferência dos consumidores à qualidade, à eficiência ou 
ao custo dos produtos oferecidos, passando desapercebido o design, que é um 
importante fator de diferenciação. 
Cada vez mais, o consumidor, quando faz sua escolha, leva em 
consideração o design dos produtos. Assim, um produto ou uma embalagem 
visualmente diferenciados e atrativos podem trazer uma vantagem competitiva 
significativa sobre os concorrentes. 
Da mesma maneira que produtos tecnologicamente inovadores ou com 
novas funcionalidades podem vir a ser objeto de proteção por patente, esta 
diferenciação ou inovação no design do produto ou da embalagem pode 
também ser protegida por meio de um registro de desenho industrial. 
O registro industrial protege a forma ornamental plástica de um 
produto, seja ele um objeto tridimensional, seja um conjunto de linhas e cores 
bidimensional. Para que esse ornamento possa ser protegido, é necessário que 
ele apresente um resultado visual novo e original, de maneira que o produto 
ornamentado possa ser fabricado em escala industrial e não seja apenas uma 
mera obra de arte. 
No entanto, disso decorre uma grande dúvida: a proteção conferida 
pela patente de desenho industrial pode ser cumulativa com a do direito do 
autor sobre a inserção estética que lhe dá origem? Para responder a essa 
pergunta, deve-se ter em mente que o desenho industrial nada mais é do que a 
junção da técnica com a estética, ou seja, uma obra de arte aplicada, a qual 
pode servir de tipo de fabricação industrial. 
A dicotomia entre os direitos da Propriedade Industrial e os Direitos do 
Autor traz aos juristas a incerteza no enquadramento de certas obras, levando 
o aplicador a pecar por excesso, ampliando a proteção das obras, de modo a 
criar restrições ao avanço tecnológico, ou a pecar por escassez, negando ao 
autor o legítimo direito de sua criação. 
3 
 
Essa matéria não está pacificada e o entendimento sobre ela varia, 
seja no campo legislativo, seja na orientação jurisprudencial, fazendo surgir 
posicionamentos extremistas, como o dos franceses que, ao defender a teoria 
da unidade da arte, outorga um direito de autor a toda e qualquer criação de 
forma. 
No Brasil, há grande necessidade de se firmar um posicionamento a 
respeito da proteção ao desenho industrial, visando-se à proteção do autor 
desse tipo de obra, pois a incerteza produz os mais díspares posicionamentos 
frente aos avanços tecnológicos. 
Portanto, o objetivo do presente trabalho é analisar as condições em 
que o direito autoral poderá ser chamado em garantia aos desenhos industriais. 
Para julgar se a proteção deve incidir unicamente no campo da indústria ou, se 
cumulativamente, deve merecer a guarida mais ampla do direito do autor, 
partindo do pressuposto que a obra é nova e original. 
 
2 UM BREVE REFERENCIAL HISTÓRICO DO SURGIMENTO DOS 
DESENHOS INDUSTRIAIS 
Desde os primórdios da humanidade, sempre existiu a tendência ao 
embelezamento dos objetos de utilidade prática, especialmente na fabricação 
das armas e utensílios, obviamente, que de modo rudimentar. 
Estudos comprovam que os povos primitivos tentavam embelezar os 
objetos de uso prático, por meio do acabamento, ou por meio de ornamentação 
acessória.3 Foi assim que começaram a surgir os desenhos industriais. 
O objeto, além de realizar sua finalidade, deve também, agradar. 
Conforme afirma João da Gama Cerqueira: “É o mesmo princípio que domina 
as indústrias artísticas e a arte decorativa, cujo fim essencial é produzir objetos 
que agradem à vista.”4 
Sabe-se que os povos da antiguidade criavam objetos de luxos e não, 
simplesmente, adornavam os objetos de uso prático. Mas foi na Renascença 
que as artes atingiram o apogeu, passando por inúmeras transformações, de 
acordo com as necessidades de cada época e do cotidiano, até atingirem o seu 
 
3
 CERQUEIRA, João da Gama. Tratado da propriedade industrial. 2. ed. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 1982. v. 1. p. 637. 
4
 Ibid., p. 637. 
4 
 
estado atual, ou seja, a criação artística nos domínios da indústria, com a 
finalidade de agradar o gosto do consumidor.5 
De fato, foi somente com o surgimento da indústria que se estabeleceu 
a diferença entre as obras de arte e os produtos de arte industrial, entre eles os 
desenhos industriais. Até então, o artesão criava os objetos úteis e ao mesmo 
tempo os reproduzia, por não haver uma indústria propriamente dita.6 
Com o surgimento da indústria, as funções de criação, produção e 
venda, que até então estavam reunidas no modo de fabricação artesanal ou 
pré-industrial, se diferenciaram e estabeleceram.7 
Assim, o objeto chamado hoje de desenho industrial não surgiu 
bruscamente, mas sim progressivamente, a partir da revolução industrial.8 
No século XX, o desenho industrial passou a ser considerado um bem 
econômico, de natureza patrimonial, sendo admitido nos ordenamentos 
jurídicos voltados à propriedade industrial.9 
A primeira proteção dos desenhos industriais data da época da 
Revolução Francesa e visava a proteger os direitos dos autores de criações 
artísticas e industriais que se encontravam ameaçados pelo regime da 
liberdade do comércio,da indústria e pelo incentivo à livre concorrência. 
Surgiu, assim, a necessidade de substituir os antigos regulamentos 
corporativos por leis especiais.10 
Em 1806, na França, foi implantada uma norma para as indústrias de 
tecido de Lyon, que mais tarde foi estendida para outras localidades e também 
para as industrias. O dito regulamento visava a proteger e a conservar os 
desenhos industriais.11 
Com as transformações que ocorreram ao longo do tempo e com a 
expansão das indústrias, as leis de proteção aos desenhos industriais 
passaram a defender, pouco a pouco, o direito do autor contra a usurpação e 
contrafação de suas criações. As mudanças ocorridas, ao longo da história 
 
5
 CERQUEIRA, 1982 p. 638. 
6
 Ibid., p. 638. 
7
 SCHULMANN, Denis. O desenho industrial. São Paulo: Papirus, 1994. p. 13. 
8
 Ibid., p. 13 
9
 BARROS, Carla Eugenia Caldas. Manual de Direito da Propriedade Intelectual. Aracaju: 
Evocati, 2007. p. 393. 
10
 CERQUEIRA, 1982, p. 639. 
11
 Ibid., p. 639-40. 
5 
 
determinaram o progresso da legislação especial dos desenhos industriais.12 
No Brasil, até 1934, os desenhos industriais não gozavam de proteção, 
exceto quando apresentavam caráter acentuadamente artístico, sendo então 
protegidos pelo Código Civil da época.13 Foi somente a partir de 1934 que 
surgiram leis regulamentando os desenhos industriais.14 
Atualmente, os legisladores de todas as partes do mundo preocupam-
se com a proteção dos desenhos industriais devido à crescente eliminação de 
barreiras aduaneiras, que liberam diariamente um grande volume de 
mercadorias.15 
Com o advento da atual Lei de Propriedade Industrial (Lei 9.279/1996), 
a proteção aos desenhos industriais, amparados até então pelo registro da 
patente, passou a ser considerada uma categoria própria, com um registro 
especial, visando a acelerar o processo.16 
 
3 DESENHO INDUSTRIAL 
 
3.1 CONCEITO 
O conceito de desenho industrial deve ser entendido como um 
determinado objeto ou coisa que tenha uma finalidade útil e não apenas, como 
define a Lei de Propriedade Industrial, que sirva como um adorno, enfeite ou 
ordenamento, devendo a forma seguir a função.17 No entanto, é importante 
ressaltar que o registro de desenho industrial protege a configuração externa 
do objeto e não o funcionamento do mesmo.18 
Segundo o conceito clássico, o desenho industrial ou design,19 como é 
 
12
 CERQUEIRA, 1982, p. 640-1. 
13
 Decreto 24.507, de 29-6-1034, que aprova o regulamento para a concessão de patente de 
desenho industrial, para o registro do nome comercial e do título de estabelecimento e para 
a repressão da concorrência desleal. 
14
 CERQUEIRA, 1982, p. 641. 
15
 BARROS, 2007, p. 393. 
16
 GARCIA, Germana Fonseca Crespo. Desenho industrial e indicações geográficas na 
ótica da lei de propriedade industrial brasileira. Disponível em: 
<http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/ dint/article/viewFile/6859/6636>. Acesso em: 28 fev. 
2009. 
17
 INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL (INPI). O que é desenho 
industrial. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/menu-esquerdo/desenho/pasta_oquee>. 
Acesso em: 31 mar. 2009. 
18
 FARIA, Adriana Xavier de. O desenho industrial e os direitos de propriedade intelectual. 
Revista da ABPI, n. 87, p. 11-26, mar./abr. 2007. 
19
 DI BLASI JUNIOR, Clésio Gabriel; GARCIA, Mario Augusto Soerensen; MENDES, Paulo 
6 
 
conhecido internacionalmente, é um bem imaterial que expressa a criatividade 
do homem e que se exterioriza pela forma, ou pela disposição de linhas e 
cores, de um objeto suscetível à utilização industrial.20 
Outrossim, de acordo com Código de Propriedade Industrial em seu 
artigo 95, o desenho industrial nada mais é do que a forma plástica ornamental 
de um objeto ou conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado 
a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua 
configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial.21 
O desenho industrial não pode ser confundido com nenhum outro, 
devendo trazer uma configuração nova e específica do produto, mesmo que 
suas partes já sejam conhecidas.22 
Carla Eugenia Calda Barros afirma que o desenho industrial é, em 
princípio, a concepção funcional-estética de um produto, passível de ser 
reproduzido industrialmente em série. A estética está relacionada com a 
imagem final do produto que é oferecida ao consumidor, enquanto que a 
funcionalidade está relacionada com a aplicação e a eficiência.23 
Denis Borges Barbosa define que: 
Se a criação é técnica, teremos uma hipótese de patente de invenção 
ou de modelo industrial. Se a criação é puramente estética, sem 
aplicação a produto industrial, poder-se-á ter a proteção pelo Direito 
Autoral; tendo-se uma obra de arte aplicada, com a qualificação de 
poder servir de tipo de fabricação industrial, estamos no domínio do 
desenho industrial.24 
 
3.2 REQUISITOS PARA REGISTRABILIDADE 
O Registro de Desenho Industrial é um título de propriedade temporária 
sobre um desenho industrial, outorgado pelo Estado aos autores ou a outras 
pessoas físicas ou jurídicas, detentoras dos direitos sobre a criação, regido 
 
Parente Marques. A propriedade industrial: os sistemas de marcas, patentes e desenhos 
industriais a partir da Lei n° 9.279, de 14 de maio de 1996. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 
97. 
20
 “Segundo o conceito clássico, o desenho industrial é um bem imaterial que constitui um meio 
de expressão da criatividade do homem e que se exterioriza pela forma, ou pela disposição 
de linhas e cores, de um objeto suscetível de utilização industrial” (DI BLASI JUNIOR; 
GARCIA; MENDES, 2000, p. 97). 
21
 Artigo 95 da Lei 9.279/1996, (BRASIL. Presidência da República. Casa Civil - Subchefia para 
Assuntos Jurídicos. Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações 
relativos à propriedade industrial. Brasília, Diário Oficial da União, 15 maio 1996. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/l9279.htm>. Acesso em: 20 fev. 2009). 
22
 DI BLASI JUNIOR; GARCIA; MENDES, op. cit., p. 27. 
23
 BARROS, 2007, p. 393-4. 
24
 BARBOSA, Denis Borges. Uma introdução à propriedade intelectual. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2003. p. 577. 
7 
 
pela Lei da Propriedade Industrial.25 
Para efeito de registro, o desenho industrial deve contemplar os 
requisitos da originalidade e da novidade, objetivamente considerados, 
enquanto que as obras protegidas pelo direito do autor têm como único 
requisito a originalidade. 
O que vem a ser um desenho industrial novo? Segundo o artigo 96 da 
Lei de Propriedade Industrial, é aquele que não é compreendido no estado da 
técnica, ou seja, aquele que não se insere entre os conhecidos pelo povo, 
desde que antes da data do depósito do pedido.26 
Para aferição da novidade, o conteúdo completo do pedido de patente 
ou de registro depositado no Brasil e ainda não publicado, será incluído no 
estado da técnica a partir da data do depósito ou da prioridade reivindicada, 
desde que venha a ser publicado.27 
Tal dispositivo tem o objetivo de impedir que dois registros sejam 
concedidos a objetos idênticos, pois pode ocorrer o pedido de dois registros de 
desenhos industriais, sem que o primeiro tenha sido registrado. 
Por essa razão, o dia e a hora do depósito sempre ficam registrados, 
na petição inicial do pedido, por meio de carimbos dos relógios das recepções 
das delegacias e representações do Instituto Nacional da Propriedade 
Industrial (INPI), para determinar quem fica com o privilégio, independenteda 
origem ética e moral do depositante.28 
Não incluem o estado da técnica, os desenhos industriais divulgados: a) 
por iniciativa do autor, durante os 180 dias a contar da data do depósito ou da 
reivindicação de prioridade; b) por iniciativa do INPI, através da publicação oficial 
do pedido sem consentimento do autor, mas com base nas informações por ele 
fornecidas ou atos por ele praticados; c) por iniciativa de terceiros, sustentando 
informações obtidas junto ao autor, direta ou indiretamente, ou por atos por ele 
praticados.29 
 
25
 INFORME FEDERAL ASSESSORIA DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL 
LTDA. Desenhos industriais. 2009. Disponível em: 
<http://www.informefederal.com.br/desenho_industrial.php>. Acesso em: 28 fev. 2009. 
26
 BARROS, 2007, p. 396. 
27
 Art. 96, § 1° e § 2° da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, 1996). 
28
 CUNHA, Frederico Carlos da. A proteção legal do desing. Rio de Janeiro: Lucerna, 2000. 
p. 38. 
29
 Art. 96, § 3° da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, op. cit.). 
8 
 
Pode-se, também, definir a novidade, em sentido subjetivo, como 
sendo um novo conhecimento para o próprio sujeito, enquanto que em sentido 
objetivo, representa um novo conhecimento para toda a coletividade.30 
Na verdade, a novidade tem um caráter especial e relativo, pois como 
afirma Newton Silveira, a novidade consiste não na forma abstratamente 
considerada, mas na forma efetivamente utilizada como modelo.31 
Lembra ainda o autor: 
A novidade de um modelo ou desenho pode consistir na composição do 
conjunto, mesmo que suas partes sejam conhecidas. Segundo Pouillet, 
tais criações quando não despertam nenhum sentimento estético, 
satisfazendo apenas ao gosto da moda, somente podem ser protegidas 
pela lei de desenhos e modelos, caso contrário entram no domínio da 
propriedade artística.32 
A originalidade é outro requisito para obtenção do registro do desenho 
industrial. Segundo o artigo 97 da Lei de Propriedade Industrial, o desenho 
industrial é original quando possuir uma configuração distintiva, diferente de 
outros objetos anteriores, podendo o resultado visual ser decorrente de 
elementos já conhecidos. 
Também são revestidos de originalidade os objetos ou padrões que 
possuam aspectos próprios, exprimam nova tendência de linguagem formal, ou 
que apresentem características peculiares e singulares.33 
Segundo Newton Silveira, em sentido subjetivo a originalidade se 
refere à esfera pessoal do autor, enquanto que em sentido objetivo, é a criação 
ainda desconhecida como situação de fato.34 
Diz Newton Silveira: 
[...] a originalidade é condição tanto para a proteção das invenções, 
quanto das obras artísticas, podendo-se dizer que nas obras de arte a 
originalidade se refere à forma considerada em si mesma, enquanto que 
para os modelos e desenhos industriais a forma em si pode não ser 
original, desde que o seja a sua aplicação, isto é, a originalidade neste 
caso consistiria na associação original de uma determinada forma a um 
determinado produto industrial.35 
Sendo assim, o desenho proposto não pode ser confundido com 
 
30
 SILVEIRA, Newton, A propriedade intelectual e a nova lei de propriedade industrial. São 
Paulo: Saraiva, 1996. p. 9. 
31
 SILVEIRA, Newton. Direito de autor no desenho industrial. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 1982. p. 65. 
32
 Ibid., p. 65. 
33
 INFORME FEDERAL ASSESSORIA DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL 
LTDA., 2009. 
34
 SILVEIRA, 1996, p. 9. 
35
 Id., 1982, p. 80. 
9 
 
objetos conhecidos quando comparados.36 
Quando um desenho industrial tem como objeto unicamente a 
novidade de aplicação, possuindo assim uma originalidade relativa, não 
merece a proteção da Lei do Direito do Autor.37 No entanto, quando sua 
originalidade é absoluta, isto é, aquela em que a forma prepondera e se 
individualiza por si mesma entre as demais,38 essa merece a proteção dos 
direitos autorais, independente de qualquer registro, pois decorre do próprio ato 
da criação. 
Por conseguinte, completa Carla Eugênia Caldas Barros: 
[...] nos casos de desenhos industriais que se revelam com 
originalidade absoluta, devido às formas que lhe são exclusivas, 
independente de suas aplicabilidades, há a hipótese de duplo direito 
de propriedade intelectual. Isso, quando se aplicam, a um só tempo, o 
direito do autor, que encontra fundamento no ato da criação em si, e 
o direito da propriedade industrial, condicionando a sua 
industriosidade e decorrente de pedido de registro do desenho 
formalizado junto ao INPI.39 
A lei não exige que o autor crie obra absolutamente nova ou original, 
ou seja, formas completamente desconhecidas e inéditas, efeitos novos e 
estilos completamente desconhecidos.40 
Deve-se tomar cuidado para evitar confusão entre os requisitos, 
originalidade e novidade, que frequentemente acontece. A novidade de um 
desenho industrial é puramente legal, o que pode variar de uma lei para a 
outra. 
Segundo João da Gama Cerqueira: 
O desenho pode ser novo em si e novo segundo a Lei. Analisando 
sob o primeiro aspecto, teríamos a novidade intrínseca do desenho 
ou modelo, que se aproxima do conceito de originalidade, embora 
não se identifique. Sob o segundo aspecto, teríamos a novidade 
extrínseca, cujo critério nos é dado exclusivamente pela lei positiva.41 
O desenho industrial é fruto da inspiração do próprio autor e será 
considerado original quando não for uma mera cópia ou imitação de outro 
objeto. 
O terceiro requisito do desenho industrial é tratado no artigo 95 da Lei 
de Propriedade Industrial, a saber, servir de tipo de fabricação industrial. 
Além desses requisitos relativos supracitados, Newton Silveira afirma 
 
36
 DANNEMANN, SIEMSEN, BIGLER & IPANEMA MOREIRA. Comentários à lei da 
propriedade industrial e correlatos. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 199. 
37
 SILVEIRA, 1996, p. 10. 
38
 BARROS, 2007, p. 399. 
39
 Ibid., p. 398. 
40
 CERQUEIRA, 1982, p. 663. 
41
 Ibid., p. 663. 
10 
 
que a lei estabelece um requisito absoluto (artigo 100, II, da Lei de Propriedade 
Industrial), a saber: a forma necessária, comum ou vulgar, do objeto é aquela 
determinada essencialmente por considerações técnicas funcionais.42 
 
3.3 DESENHOS EXCLUÍDOS DA PROTEÇÃO LEGAL 
O artigo 98 da Lei de Propriedade Industrial exclui da proteção por 
registro de desenho industrial qualquer obra de caráter puramente artístico; ou 
nas palavras do autor Newton Silveira: “caso determinada criação de forma 
tenha caráter puramente artístico, não poderá ser objeto de uma patente de 
modelo ou desenho industrial [...]. Por outro lado, se carecer de valor artístico, 
não poderá ser tutelada pela Lei do direito do autor.”43 
A Lei brasileira não admite, também, o registro de desenhos industriais 
que sejam contrários à moral e aos bons costumes, bem como o ofensivo à 
honra e à imagem das pessoas ou atente contra liberdade de consciência, 
crença, culto religioso ou ideia e sentimentos dignos de respeito e veneração 
ou, ainda, aquela determinada essencialmente por considerações técnicas ou 
funcionais.44 
Os desenhos contrários a moral e aos bons costumes são aqueles que 
contrariam o entendimento de moral e bom costume da maioria da sociedade. 
Como exemplo, Carla Eugenia Calda Barros cita os objetos eróticos, que 
servem para práticas contrárias às concepções morais e aos bons costumes de 
grande parcela da sociedade.45 No entanto, Denis Borges Barbosa lembra que, 
no caso de ofensa à moral e aos bons costumes, estes não são suscetíveis de 
apropriação por serem, como diz Pontes de Miranda, extra commercium.46 
Os desenhos ofensivos à honra e à imagem das pessoas ou que 
atentem contra a liberdade de consciência,crença, culto religioso ou ideia e 
sentimentos dignos de respeito e veneração, preservam as disposições 
constitucionais relativos à dignidade da pessoa humana e aos indivíduos.47 
Em se tratando da vedação de registro da forma necessária, comum ou 
 
42
 SILVEIRA, 1996, p. 57. 
43
 SILVEIRA, Newton. Direito de autor no desenho industrial. 2003. Disponível em: 
<http://www.newmarc.com.br/novo/index.asp?p=artigos.asp>. Acesso em: 1 mar. 2009. 
44
 Artigo 100, I e II da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, 19 96). 
45
 BARROS, 2007, pág. 401. 
46
 BARBOSA, 2003, p. 580. 
47
 BARROS, op. cit., p. 401. 
11 
 
vulgar, nas palavras de Denis Borges Barbosa: 
[...] indicam, aparentemente, mais uma vez o requisito de novidade 
ou, talvez, o de originalidade. A forma necessária, comum ou vulgar 
já estará no estado da técnica, ou carecerá da distintividade própria à 
proteção. Não há, aí, requisito novo para a proteção. De outro lado, 
evidencia-se aqui uma vez mais a indispensabilidade do elemento 
ornamental: a forma necessária é aquela imposta pelos requisitos 
técnicos, e não será nunca ornamental.48 
Complementando, o aporte de Newton Silveira: 
[...] a forma tecnicamente necessária de um objeto é aquela que se 
acha indissoluvelmente ligada à sua função técnica, de modo que 
outra forma não possa atender à mesma finalidade. Assim, o que 
importa não é que a forma represente utilidade apenas, mas que tal 
efeito técnico só possa ser obtido por meio daquela determinada 
forma. Nessa hipótese, mesmo que tal forma seja dotada de efeito 
estético, não poderá ser objeto da tutela do direito de autor, porque 
esta estaria interferindo no campo da técnica. 
Desde que uma forma não se constitua em forma tecnicamente 
necessária, poderá ser protegida pela lei de direitos autorais, 
subordinando-se aos seus próprios requisitos bem como poderá 
também ser protegida como modelo industrial, sujeita ao requisito de 
caráter industrial. Se a forma for nova e puder servir de tipo de 
fabricação de um produto industrial, se enquadra no conceito do art. 
11 do Código da Propriedade Industrial. Destine-se ou não a ser 
multiplicada, uma nova forma (não tecnicamente necessária) poderá 
ser protegida pela lei de direitos de autor, desde que atenda aos seus 
próprios requisitos, isto é, possua originalidade e caráter expressivo, 
o que se traduz em valor artístico.49 
 
3.4 FORMALIDADES PARA REGISTRO 
Além do próprio autor, terceiros com autorização deste poderão 
depositar o pedido de desenho industrial, ou seja, basta ter legitimidade sobre 
o objeto de criação que poderá ser realizado o depósito (artigo 94 da Lei 
9.279/96).50 
Os requisitos para o pedido de registro de um desenho industrial 
encontram-se elencados no artigo 101 da Lei 9.270/96. São eles: requerimento, 
quando for o caso, relatório descritivo e reivindicações, desenhos ou 
fotografias, campo de aplicação do objeto e, enfim, o comprovante de 
pagamento de retribuição do depósito. Todos estes documentos deverão estar 
escritos em língua portuguesa. 
Depois de entregue ao INPI, essa documentação deve passar por um 
exame formal. Gize-se, os registros de desenho industrial são concedidos sem 
o exame prévio quanto à novidade e à originalidade, ou seja, não há um exame 
prévio do mérito, pois os registros sempre são concedidos desde que não 
 
48
 BARBOSA, 2003, p. 581. 
49
 SILVEIRA, 1982, p. 100. 
50
 FARIA, 2007, p 17. 
12 
 
incorram em nenhuma das proibições legais do artigo 100 da Lei de 
Propriedade Industrial (item 3.3). Isso acontece, porque presume-se que o 
depositante, pessoa jurídica ou física, é legítimo no direito de pleitear o 
privilégio, tendo em vista o caráter constitutivo do registro.51 
Segundo Frederique Carlos da Cunha: 
De fato, não existem vantagens de se requerer um exame de mérito, 
porque um parecer favorável emitido após este exame em nada vai 
influenciar na validade do privilégio, apenas vai manter a concessão, 
não tornando o registro mais forte. E tanto os titulares dos registros 
não vislumbraram vantagens que o número de pedidos desse exame 
é mínimo, praticamente desprezível. O principal levantamento 
apontou para uma incidência de cinco casos nos primeiros 1.000 
pedidos processados, e entre esses cinco casos, dois deles tiveram 
suas petições não conhecidas por não terem sido apresentadas pelo 
titular do registro. Durante o ano de 1999, dos 8.492 pedidos 
examinados, só procedemos 12 exames de mérito, ou seja, 0,14% do 
total, o que pode ser considerado desprezível.52 
 
 
Todavia, isso não exclui a possibilidade de, em qualquer tempo, o 
titular do desenho industrial requerer um exame de mérito que irá avaliar os 
aspectos relativos à novidade e à originalidade. E, uma vez requerido, deverá o 
INPI emitir um “parecer de mérito” que, caso se posicione pela ausência de um 
dos requisitos exigíveis, implicará a nulidade do registro, instaurado de ofício.53 
A afirmação dita por Frederique Carlos da Cunha deve ser entendida 
com restrições, uma vez que o exame de mérito, no qual se discute a 
prevalência do direito conferido pelo título de registro de um desenho industrial 
em face de um terceiro infrator, é extremamente útil e recomendável no caso 
de uma ação judicial. Obviamente, deverá o exame de mérito satisfazer o 
interesse das partes.54 
Na falta da documentação acima referida, existindo dados suficientes do 
depositante, desenho industrial e autor, o pedido deverá ser entregue ao INPI, 
mediante um recibo, devendo o depositante cumprir, no prazo de cinco dias, as 
exigências que forem estabelecidas pelo órgão, sob pena de o pedido ser 
considerado inexistente.55 “Cumprida as exigências, o depósito será considerado 
efetuado na data da apresentação do pedido”56, exceto se o objeto não 
 
51
 BARROS, 2007, p. 408. 
52
 CUNHA, 2000, p. 67. 
53
 Art. 111, § único da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, 199 6). 
54
 FARIA, 2007, p. 19. 
55
 Caput, artigo 103 da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, op. cit.). 
56
 Ato Normativo (INPI) n° 161/2002, 4.4.2 (BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e 
13 
 
corresponder àquele já apresentado, hipótese esta em que a data será a do 
cumprimento das exigências.57 
O INPI estabelece que o relatório descritivo, as reivindicações e os 
desenhos ou fotografias deverão ser entregues em quatro vias, admitindo o 
acréscimo de duas, acompanhadas de um envelope endereçado e selado, para 
que posteriormente sejam restituídas ao depositante depois de autenticadas, 
via correio.58 Quando os objetos forem tridimensionais, os desenhos e as fotos 
deverão ser em perspectiva, revelando vistas frontal, lateral, superior e inferior, 
devendo ser clara e em escala que permita a sua redução, preservando-se os 
detalhes.59 
Em relação à necessidade de relatório descritivo, este será exigido 
quando se verificar variantes configurativas, nomeação de desenhos e 
necessidade de explicações sobre o objeto e seu campo de aplicação.60 O 
campo de aplicação deverá constar no requerimento, se o título do desenho 
industrial ou os registros atinentes no relatório descritivo forem insuficientes 
para a identificação e a compreensão do objeto ou, tratando-se de padrões 
ornamentais, à identificação dos produtos em que eles se aplicam.61 
Segundo o artigo 104 da Lei de Propriedade Industrial, o pedido de 
registro de desenho industrial deverá limitar-se a um único objeto, permitindo 
uma pluralidade de variações, de até, no máximo, vinte, desde que se destinem 
a um único propósito e guardem entre si características distintivas 
preponderantes. Caso não seja atendida esta previsão, o depositante será 
notificando, para que, no prazo de 60 dias,divida o pedido, que ficará 
definitivamente arquivado.62 
O desenho industrial deverá apresentar clara e suficientemente o 
 
Comércio Exterior Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Ato Normativo 161/2002. 
Dispõe sobre a aplicação da Lei de Propriedade Industrial em relação aos registros de 
desenho industrial. 10 jun. 2002. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/menu-
esquerdo/desenho/pasta_legislacao-new-version/ato_161_02_html>. Acesso em: 25 fev. 
2009). 
57
 BARROS, 2007, p. 404. 
58
 Ato Normativo (INPI) n° 161/2002, 4.2. Diz o ato normativo que os desenhos e as fotografias 
deverão ser apresentados “[...] sem assinaturas ou rubricas, em papel flexível, resistente, 
branco, liso, não brilhante, com dimensões de 297 mm x 210 mm (modelo DIN A-4), utilizado 
somente em uma face, sem estar amassado, rasgado ou dobrado” (BRASIL, 2002). 
59
 BARROS, 2007, p. 405. 
60
 Ato Normativo (INPI) n° 161/2002, 11.1.1 (BRASIL, 2002). 
61
 Ato Normativo (INPI) n° 161/2002, 11.3.1(BRASIL, op. cit.). 
62
 Ato Normativo (INPI) n° 161/2002, 7.1 (BRASIL, op. cit.). 
14 
 
objeto e suas variações, de modo que consiga possibilitar a sua reprodução por 
técnico no assunto.63 
O processamento do pedido é simples e breve, pois a lei de desenho 
industrial visa a celeridade do processo. Uma vez recepcionado o pedido pelo 
INPI, deverá desde logo ser publicado e concedido, depois de ter passado pelo 
exame formal (desenhos não registráveis, item 3.3; contenha as peças 
exigíveis - requerimento, relatórios descritíveis e reivindicações, desenhos ou 
fotografias, campo de aplicação do objeto e, enfim, o comprovante de 
pagamento de retribuição do depósito -; e, por fim, refira-se a um único objeto 
com, no máximo, vinte variações). 
O depositante pode requer sigilo do depósito por até 180 dias a contar 
da data do depósito. O pedido pode ser retirado no prazo de 90 dias, contados 
da mesma data. Caso o depósito não gere efeitos, será priorizado o depósito 
imediatamente posterior. Caso o pedido não seja retirado no prazo de 180 dias, 
o processo tramitará normalmente.64 
Realizado o registro, este produzirá efeitos após sua publicação, que 
sempre acontecerá independentemente da decisão final, seja ela concessão, 
indeferimento ou arquivamento definitivo e após a imediata expedição do 
certificado do registro. É importante salientar que a propriedade do desenho 
industrial adquire-se mediante o registro validamente concedido.65 
No caso de concessão, o registro de desenho industrial tem validade 
durante dez anos contados da data do depósito, prorrogáveis por mais três 
períodos sucessivos de cinco anos, até atingir o prazo máximo de 25 anos 
contados da data do depósito. As prorrogações devem ser pedidas no último 
ano de vigência do registro ou até 180 dias após o vencimento do registro, 
mediante pagamento de uma retribuição adicional.66 
Enquanto vigorar o registro, o titular tem o direito de impedir que 
terceiros utilizem o desenho, sem seu consentimento ou contribuam para que 
outros o façam. O desenho industrial poderá ser utilizado por terceiros desde 
que o mesmo seja usado para fins experimentais, direcionados a estudo e 
pesquisas tecnológicas ou científicas. Dessa prerrogativa também se excluí os 
 
63
 BARBOSA, 2003, p. 582. 
64
 Art. 105 e § 1 do art. 106 da Lei n° 9.279/96 (BR ASIL, 1996). 
65
 Art. 109 da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, op. cit.). 
66
 Art. 108 da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, op. cit.). 
15 
 
atos praticados por terceiros desautorizados, de caráter privado sem propósito 
comercial, mas desde que não cause prejuízos ao titular do desenho industrial. 
E, por fim, esta regra não se aplica quando o desenho industrial for colocado 
no mercado por terceiro autorizado pelo próprio titular. Este direito é 
semelhante ao direito concedido aos titulares de patentes e seus limites 
respectivos. Para tal conteúdo, prescreve o acordo sobre os Aspectos dos 
Direitos de Propriedade Intelectual (Trade Related Aspects of Intellectual 
Property Rights - TRIPs): 
Art. 26 - 1 - O titular de um desenho industrial protegido terá o direito 
de impedir terceiros, sem sua autorização, de fazer, vender ou 
importar artigos que ostentem ou incorporem um desenho que 
constitua uma cópia, ou seja substancialmente uma cópia, do 
desenho protegido, quando esses atos sejam realizados com fins 
comerciais. 
No entanto, “à pessoa que, de boa fé, antes da data do depósito ou da 
prioridade do pedido de registro explorava seu objeto no País, será assegurado o 
direito de continuar a exploração, sem ônus, na forma e condição anteriores”,67 
desde que o direito seja cedido juntamente com o negócio ou empresa, ou parte 
deste, que tenha relação direta com o objeto de exploração do registro, por 
alienação ou arrendamento. Mas caso a pessoa tenha tido conhecimento do 
objeto do registro antes dos 180 dias que precederam a data do depósito, não 
gozará deste direito de continuar a exploração, desde que tenha sido depositado 
no prazo de seis meses, contados da divulgação.68 
É importante esclarecer que a proteção do desenho industrial refere-se 
ao seu caráter ornamental e não ao caráter funcional do desenho. 
Segundo Denis Borges Barbosa: 
Assim, ainda que as imagens e especificações do desenho indiquem 
um produto inteiro, a propriedade não abrange a utilidade industrial 
do produto, mas só a feição estética. Quando comparando produtos 
para apuração de eventual contrafação, a consulta ao estado da 
técnica e a avaliação das diferenças de cada um dos produtos 
contrastantes em face daquela é um método logicamente indicado.69 
A Lei de Propriedade Industrial, em seu artigo 187, tipifica como crime 
a fabricação de produto que incorpore desenho industrial registrado, ou 
imitação substancial que possa induzir em erro ou confusão, sem a devida 
autorização. 
Para Denis Borges Barbosa: 
 
67
 Art. 110 caput e § 1° da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, 1996). 
68
 Art. 110, § 2°da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, op. cit.). 
69
 BARBOSA, 2003, p. 583. 
16 
 
[...] a reprodução completa se presume violação, enquanto que - para 
se considerar a existência de violação penal no caso de simples 
imitação, há que se comprovar a confusão real ou potencial, levando-
se em conta, neste último caso, o consumidor a que se destina o 
produto contendo o design.70 
Essa lei, em seu artigo 188, considera crime contra o registro de 
desenho industrial quem exporta, vende, expõe ou oferece à venda, quem tem 
em estoque, oculta ou recebe, para utilização com fins econômicos, objeto que 
incorpore ilicitamente desenho industrial registrado, ou imitação substancial 
que possa induzir erro ou confusão, não se resumindo apenas à imagem ou à 
forma. 
Com a densidade de sempre, diz João da Gama Cerqueira: 
A lei pune não apenas a reprodução integral do desenho ou modelo 
patenteado, isto é, a sua cópia servil, mas, ainda, a reprodução 
parcial, desde que tenha por objeto seus elementos característicos. A 
reprodução parcial pode consistir, também, na imitação do desenho 
ou modelo patenteado [...] 
As condições elementares dos crimes contra os desenhos e modelos 
industriais são as mesmas dos crimes contra os privilégios de 
invenção, de que tratamos anteriormente: a) existência de uma 
patente válida; e b) um fato material que constitua ofensa ao direito 
do concessionário da patente. 
No caso de reprodução, pouco importa o meio ou processo 
empregado pelo infrator. Não excluem também o crime as diferenças 
mais ou menos numerosas entre o desenho ou modelo legítimo e o 
contrafeito, destinando-se essasdiferenças, quase sempre, a 
mascarar a contrafação. Do mesmo modo, não constitui condição 
essencial do crime a possibilidade de confusão entre o desenho ou 
modelo contrafeito e o patenteado, se bem que essa circunstância 
concorra para melhor caracterização do delito.71 
No entanto, José Carlos Tinoco Soares lembra que "desde que haja a 
possibilidade de indução a erro ou confusão, quer seja pela reprodução integral, 
parcial, quer pela imitação do desenho industrial registrado, o crime se realiza e se 
consuma."72 
Independentemente da esfera criminal, o prejudicado poderá ingressar 
com ações na esfera cível no que considerar cabível. As ações de indenização 
no cível, por violação de registro, encontram-se amparadas nos artigos 207 a 
210 da Lei de Propriedade Industrial. Inclusive, há a previsão de concessão de 
liminar para sustação da violação ou do ato. A indenização será calculada com 
base nos benefícios que o prejudicado teria obtido se a violação não tivesse 
ocorrido, e a previsão legal, para o pagamento de lucros cessantes, será 
 
70
 BARBOSA, 2003, p. 583. 
71
 CERQUEIRA, 1982, 711 et seq. 
72
 SOARES, José Carlos Tinoco Soares. Tratado da propriedade industrial: patentes e seus 
sucedâneos. São Paulo: Jurídica Brasileira, 1998. p. 280. 
17 
 
estabelecida. O prazo, para a ação de indenização, prescreve em cinco anos.73 
 
3.5 NULIDADE DO REGISTRO 
Embora não caiba recurso da concessão do registro do desenho 
industrial, a lei prevê a nulidade do registro por via administrativa (artigos 113 a 
117 da Lei de Propriedade Industrial) ou por via judicial (artigo 118, também, da 
Lei de Propriedade Industrial). Além dessas formas de nulidade de registro, o 
verdadeiro criador do desenho industrial, poderá requerer adjudicação do 
registro que lhe foi negado injustamente pelo INPI, propondo ação 
reivindicatória do registro na esfera judicial.74 
O prazo, para a instauração do processo, pela via administrativa, é de 
cinco anos contados da data do registro, sendo devidamente provocado por 
requerimento de terceiro legitimado, exceto em decorrência de exame de 
mérito quando não observados os requisitos definidos nos artigos 95 a 98 da 
Lei de Propriedade Industrial, o qual poderá ser feito em qualquer momento, ou 
podendo ser instaurado de ofício.75 
Tanto o requerimento de terceiro legitimado, quanto a instauração do 
processo de ofício, se feito no prazo de 60 dias da concessão do registro, 
suspenderá os efeitos da concessão.76 
Conforme o artigo 114 da Lei de Propriedade Industrial, depois de 
devidamente publicada a decisão instauradora do processo administrativo, será 
intimado o titular do registro de desenho industrial para se manifestar no prazo 
de 60 dias. Decorrido esse prazo, o INPI deverá emitir um parecer, 
independentemente de ter havido manifestação do titular do registro. Após o 
parecer do INPI, deverão as partes ser intimadas para se manifestarem num 
prazo igual de 60 dias.77 
Decorrido o prazo, o processo será decidido pelo Presidente do INPI, 
havendo ou não manifestação das partes, pondo fim à instância 
administrativa.78 Ainda que extinto o registro, o processo de nulidade 
 
73
 Art. 225 da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, 1996). 
74
 SILVEIRA, 1996, p. 52. 
75
 Art.113, § 1° da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, 1996). 
76
 Art. 113, § 2° da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, op. cit.). 
77
 Art. 115 da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, op. cit.). 
78
 Art. 116 da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, 1996). 
18 
 
continuará.79 
Em relação à ação judicial de nulidade, esta poderá ser proposta a 
qualquer tempo da vigência do registro pelo INPI ou por qualquer outra pessoa 
com legítimo interesse80, podendo a nulidade do registro ser arguida a qualquer 
tempo como matéria de defesa.81 Atendido os requisitos do processo, o juiz, 
preventiva ou incidentalmente, poderá suspender os efeitos do registro do 
desenho industrial.82 
A Justiça Estadual é competente para julgar a ação de nulidade de 
registro de desenho industrial e quando não proposta pelo INPI, este intervirá 
no feito, tendo o réu 60 dias para apresentação da contestação. Após o trânsito 
em julgado, a decisão da ação de nulidade será publicada para a ciência de 
terceiros.83 
 
3.6 EXTINÇÃO DO REGISTRO 
O registro do desenho industrial se extinguirá quando expirar o decurso 
do prazo de vigência, seja pela renúncia de seu titular, ressalvados os direitos 
de terceiros; pela falta de pagamento pela retribuição prevista; ou pela 
ausência de procurador devidamente qualificado e domiciliado no país, com 
poderes para representá-la administrativa e judicialmente, inclusive para 
receber citações, no caso de titular domiciliado no exterior.84 
O registro de desenho industrial depois de extinto passa a ser de uso 
comum, podendo ser explorado livremente. Ao ser concedido o registro sobre 
um desenho industrial, o titular passa a exercer um monopólio sobre o mesmo. 
No entanto, esse monopólio é limitado, podendo atingir o prazo máximo de 25 
anos, ou seja, 10 anos prorrogados por três vezes consecutivas de 5 anos. Ao 
fim deste prazo, extingue-se o registro, por omissão do titular quanto a sua 
prorrogação ou por não serem mais possíveis prorrogações.85 
No caso da renúncia, que é um ato de vontade do titular do registro por 
não possuir mais interesse no objeto registrado, não se admite o prejuízo de 
 
79
 Art. 117 da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, op. cit.). 
80
 Art. 56 da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, op. cit.). 
81
 Art. 56, § 1° da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, op. cit.). 
82
 Art. 56, § 2° da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, op. cit.). 
83
 Art. 57 da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, op. cit.). 
84
 LOBO, Thomaz Thedim. Introducão à nova de lei de propriedade insdutrial. São Paulo: 
Atlas, 1997. p. 71. 
85
 BARROS, 2007, p. 411. 
19 
 
direito e interesses de terceiros, como é o caso do cessionário ou licenciado 
devidamente regularizado pelo INPI. Nesse sentido, no caso de haver terceiro 
interessado, é necessária a anuência do titular para que ocorra a renúncia.86 
 
4 A DUPLA PROTEÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS 
A regulamentação da proteção dos desenhos e modelos industriais tem 
sido há muito tempo objeto de nítida controvérsia. Isso já perdura há vários 
anos em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil. 
A questão da proteção aos modelos e aos desenhos industriais surgiu 
inicialmente na França ainda na fase das corporações de ofício. Os autores 
franceses entendem que os modelos e os desenhos industriais devem ficar 
sujeitos às mesmas leis que regulam a propriedade artística e literária, teoria 
esta denominada de unidade da arte.87 Muitos destes autores são influenciados 
por Pouillet em seu radical ponto de vista: 
Hoje nós pensamos, portanto, como nós pensávamos já no momento 
da primeira edição desta obra, que a melhor lei a ser elaborada em 
matéria de desenhos e modelos industriais seria de assimilar, pura e 
simplesmente, o desenho industrial no desenho artístico e 
os incluir sob uma mesma proteção.88 (tradução nossa). 
Ao defender a unidade de proteção dos desenhos e modelos 
industriais, Pouillet explica a dificuldade de definir claramente a sua natureza e 
suas características: 
Isso que se colocou na cabeça de separar duas coisas, feitas por se 
aliar e se unir, a arte e a indústria, e que se sonhou em estabelecer 
entre elas uma linha de demarcação. É para se tentar uma distinção 
impossível, é para querer admitir a existência do desenho industrial 
ao lado e fora do desenho artístico, é para ter sonhado em separar o 
que a natureza própria das coisas uniu ao ponto de misturar, é por 
isso que o legislador francês, de forma apaixonada, mas sem lógica,não pode, durante mais de 60 anos, levar a um bom resultado os 
desenhos e modelos industriais.89 (tradução nossa). 
Da mesma forma, Achiles Fournier mostra-se contrário à distinção 
entre a arte propriamente dita e a arte industrial e também considera arbitrária 
e impossível a separação da arte e dos produtos das indústrias. Segundo 
 
86
 BARROS, 2007, p. 411. 
87
 CERQUEIRA, 1982, p. 642. 
88
 “Nous pensons donc aujord’hui, comme nous le pensions déjá lors de la prémière édition de 
cet ouvrage, que la meilleure loi à faire em matière de dessins et modèles de fabrique serait 
d’assimiler, purement et simplement, le dessin de fabrique au dessin artistique et de les 
confrondre dans une même protection” (POUILLET apud CERQUEIRA, op. cit., p. 642). 
89
 “Nous pensons donc aujord’hui, comme nous le pensions déjá lors de la prémière édition de 
cet ouvrage, que la meilleure loi à faire em matière de dessins et modèles de fabrique serait 
d’assimiler, purement et simplement, le dessin de fabrique au dessin artistique et de les 
confrondre dans une même protection” (POUILLET apud CERQUEIRA, op. cit., p. 642). 
20 
 
Achiles Fournier “a separação da obra de arte e do modelo industrial é 
juridicamente intraduzível” (tradução nossa).90 
João da Gama Cerqueira vai de encontro a esta ideia, argumentando 
como “é interessante notar que justamente sob o aspecto jurídico é que se 
torna mais fácil a distinção entre as criações artísticas e os produtos da arte 
industrial, sendo mais complexa a questão sob o ponto de vista exclusivamente 
artístico”.91 
Pouillet era completamente contra a possibilidade de o juiz tornar-se 
um crítico da arte e entendia que a Lei do Direito do Autor deveria tutelar todo 
desenho original e toda a forma nova, sem levar em conta o seu destino, a 
qualidade de seu autor ou qualquer julgamento de valor estético por parte do 
juiz.92 
Não obstante, João da Gama Cerqueira afirma que não deixam de ter 
razão os autores que defendem a unidade de proteção legal dos desenhos e 
dos modelos industriais, pois nem sempre é fácil a distinção entre os desenhos 
e os modelos industriais das obras puramente artísticas, como demonstra o 
grande número de critérios propostos na doutrina para estabelecer esta 
diferenciação.93 
Nenhum prejuízo resulta da distinção entre as obras de arte dos 
desenhos e modelos industriais, quando submetidos a regimes diferentes, no 
que diz respeito à proteção dos direitos do autor, pois se o desenho ou o 
modelo industrial possuir um predicado artístico, o autor sempre terá a 
proteção da Lei do Direito do Autor ou da Lei da Propriedade Industrial. 
Dependendo do interesse que se visa a resguardar existe a dupla proteção das 
leis. 
No entanto, nem sempre é possível conferir valor artístico aos 
desenhos e aos modelos industriais, sendo que em alguns casos estes são 
destituídos de cunho de obras de arte.94 
João da Gama Cerqueira entende que “os defensores da unidade da 
arte e da proteção legal situaram mal o problema, colocando-o fora de seus 
 
90
 “La séparation de L’ouvre d’art et du modèle d’industrie est juridiquement intraduisible” 
(FOURNIER apud CERQUEIRA, 1982, p. 643). 
91
 Ibid., p. 643. 
92
 POUILLET apud SILVEIRA, 1982, p. 110. 
93
 CERQUEIRA, 1982, p. 646. 
94
 Ibid., p. 647. 
21 
 
termos”.95 A questão não é de separar a arte da indústria, mas sim distingui-las. 
Segundo o autor: 
Os desenhos e modelos industriais realizam a síntese da arte e da 
indústria, que não se separam, mas também não se confundem. Se 
as artes industriais reclamam pela sua natureza artística, se seus 
produtos se caracterizam pela aplicação da arte à indústria, o que 
traduz na expressão artes aplicadas, é claro que não se podem 
separar duas idéias. Daí não se segue, porém, que não se deva 
distinguir a indústria da arte, que ambas se confundam num mesmo 
conceito.96 
Não é o papel do juiz, nem das autoridades administrativas incumbidas 
da concessão dos privilégios dos desenhos e modelos industriais, resolver as 
questões estéticas, muito menos determinar onde começa a beleza, como 
dizem os escritores que defendem a unidade de proteção. Essas autoridades 
não deverão se basear em critérios abstratos, fundados na filosofia da arte ou 
nos princípios da estética, mas sim guiar-se por critérios positivos. Como diz 
João da Gama Cerqueira, “fornecidos pela própria lei ou indicados na doutrina, 
que permitam verificar, em cada caso, os característicos que distinguem os 
desenhos e modelos industriais”.97 
Os autores franceses, seduzidos pela unidade da arte, colocaram mal a 
questão, quando essa foi trazida para o campo do direito. Deixaram-se 
simplesmente empolgar com a defesa de princípios. Os argumentos por eles 
usados seriam incontestáveis se tratassem de provar que os desenhos e os 
modelos industriais são dignos de proteção legal, sem levar em consideração os 
valores artísticos. 
A proteção dos desenhos e dos modelos industriais não deve assimilar-
se singelamente às obras de arte. Isso se opõe à própria natureza dessas 
criações e ao fim a que se destinam. 
De acordo com João da Gama Cerqueira, há uma diferença essencial 
entre as criações das belas-artes e as produções da arte industrial. Para o 
autor isso é algo inegável, uma vez que a segunda é considerada subsidiária 
da primeira, sendo aquela considerada mais como gênero industrial do que 
como gênero arte.98 
A finalidade das artes industriais é a produção artística de objetos 
 
95
 CERQUEIRA, 1982, p. 647. 
96
 Ibid., p. 648. 
97
 Ibid., p. 648. 
98
 Ibid., p. 649. 
22 
 
industriais e não a produção industrial de objetos de arte. Assim, não é a arte 
que industrializa, mas sim a indústria que se reveste de caráter artístico. Em 
outras palavras, é a aplicação da arte à indústria, ou seja, a criação de um 
gênero industrial. Daí resulta a expressão "arte aplicada", a qual, segundo João 
da Gama Cerqueira, não parece apropriada, uma vez que “não há nenhuma 
arte que possa ser chamada de arte aplicada, mas aplicações da arte à 
industria, como não há ciências aplicadas, mas ciências e suas aplicações”.99 
São inúmeros os aspectos pelos quais as belas-artes e as artes 
industriais se diferenciam. Uma das diferenças é a finalidade de cada uma, 
sendo a primeira a expressão dos sentimentos e emoções, enquanto que a 
segunda está ao prazer ou o chamado regalo dos olhos. Outra diferença é que 
as obras de artes caracterizam-se pela liberdade do artista, independem da 
utilidade que possam ter e expressam a necessidade do artista de criar, de 
exprimir sua personalidade. Ao contrário, as artes industriais se destinam a um 
fim determinado, pré-estabelecido, visando à utilidade.100 
Pode-se notar que, enquanto as obras de arte são espontâneas, os 
desenhos e modelos industriais estão associados ao gosto e às preferências 
da época. João da Gama Cerqueira argumenta que: 
Pode-se aceitar o princípio da unidade da arte para o fim de se 
reconhecer ao autor de desenhos e modelos industriais o mesmo 
direito à proteção legal; mas deve-se repelir o princípio da 
assimilação dessas produções industriais às obras de arte, para o fim 
de submeter umas e outras ao mesmo regime legal, o que só 
inconvenientes pode trazer.101A dualidade de proteção não se justifica 
apenas por motivos teóricos, fundados na diferença entre as obras de 
arte e os produtos industriais, mas fundamenta-se principalmente nas 
razões de ordem prática.102 
A dualidade de proteção não se justifica apenas por motivos teóricos, 
fundados na diferença entre as obras de arte e os produtos industriais, mas 
fundamenta-se principalmente nas razões de ordem prática.103O tipo de proteção a que aspiram os autores dos desenhos e modelos 
industriais é o estabelecimento de privilégios na fabricação e na venda, 
permitindo empregar com segurança os capitais necessários à exploração 
industrial do seu objeto, uma vez que os mesmos precisam ser reproduzidos e 
 
99
 CERQUEIRA, 1982, p. 648. 
100
 Ibid., p. 650-1. 
101
 Ibid., p. 650. 
102
 Ibid., p. 653-4. 
103
 CERQUEIRA, 1982, p. 653-4. 
23 
 
postos no comércio.104 
Um industrial precisa ficar protegido das afrontas aos seus direitos, isto 
é, ele necessita de proteção legal efetiva, a fim de ter exclusividade em sua 
exploração. Essa prova imediata de seu direito, isenta de contestação, só o 
registro pode conceder.105 
Esse privilégio de proteção envolve restrições à liberdade de comércio 
e indústria, acompanhadas de sanções impostas pela lei. Para isso é 
necessário que a lei estabeleça condições para a concessão do privilégio, não 
necessitando o desenho ou modelo industrial ser apenas original, mas também 
possuir o atributo da novidade, como anteriormente já discutido.106 
Em relação à propriedade artística, a proteção dada pelo direito autoral 
é o respeito à moral e o impedimento de que a obra seja reproduzida e 
explorada por terceiros, auferindo assim vantagem econômica.107 
Diferentemente dos desenhos e modelos industriais, os direitos artísticos não 
demandam cautelas especiais, bastando que o autor prove que a obra é sua, 
pois a obra de arte é única e independe de registro. A lei, com intuito de 
fornecer maior segurança ao autor da obra, faculta o registro, embora esse não 
seja essencial para constituição desse direito.108 
Nesse sentido, João da Gama Cerqueira afirma que “sendo 
inteiramente diversos os interesses a proteger, forçosamente deverão ser 
diferentes as leis de proteção da propriedade artística e dos produtos 
industriais”.109 
Diz João da Gama Cerqueira: 
Assim, o legislador, ou submeteria todos os desenhos e modelos 
industriais ao regime da propriedade artística, ou criaria sistema de 
proteção análogo ao dos desenhos e modelos, sujeitando a este 
regime a propriedade artística. No primeiro caso, a proteção do direito 
do autor, sob o ponto de vista comercial e industrial, seria ineficaz ou 
pouco útil. Por outro lado, ficariam desprotegidas as criações comuns, 
destituídas de caráter artístico mais acentuado, em que 
predominasse o aspecto utilitário do objeto, o que redundaria em 
prejuízos das próprias indústrias interessadas. No segundo caso, os 
artistas ficariam obrigados ao registro de suas obras, e a proteção 
destas passaria a depender de certos requisitos legais, o que é 
 
104
 CERQUEIRA, 1982, p. 653. 
105
 Ibid., p. 653. 
106
 Ibid., p. 653. 
107
 Ibid., p. 654. 
108
 Ibid., p. 654. 
109
 Ibid., p. 654. 
24 
 
incompatível com a sua liberdade criadora.110 
Assim, torna-se imprescindível existir duas leis distintas para regular 
institutos e interesses distintos. Isso é tão evidente que, na França, onde o 
princípio da unidade da arte culminou com a assimilação dos desenhos e dos 
modelos industriais, foi preciso a criação de lei especial para a proteção 
destes.111 
Como a criação de lei especial não basta e as convenções não 
amparam os desenhos e modelos industriais que são protegidos pela lei da 
propriedade artística, na esfera internacional os desenhos e modelos industriais 
ficam desamparados.112 
A solução do direito brasileiro, diferente da adotada pelos autores 
franceses, foi a de adotar a dualidade da proteção, não excluindo a 
possibilidade da cumulação das duas leis sobre os desenhos e modelos 
industriais. Os desenhos industriais são cobertos pela Lei de Propriedade 
Industrial e as obras de arte ficam sob a égide da Lei dos Direitos do Autor. 
Não obstante, quando se tem uma obra de arte justaposta a um 
desenho ou modelo industrial, o autor pode invocar ambas as proteções. Não 
se pode negar ao autor o reconhecimento de seu direito, quando sua obra 
puder ser replicada, por meio de processos industriais.113 
João da Gama Cerqueira diz: “são domínios diversos e a proteção se 
exerce em campos diferente, sem incompatibilidades”.114 
Assim, o desenho industrial tem caráter misto de obra de arte, uma vez 
que ele pode ser considerado uma expressão da criatividade do desenhista, 
cumulada com a aplicação industrial. Isso significa que o autor pode ser 
protegido por dois institutos, podendo gozar dos direitos autorais e também dos 
direitos de proprietário do desenho ou modelo industrial assegurados pela Lei 
de Propriedade Industrial.115 
Dessa forma, a distinção entre as obras artísticas dos desenhos 
industriais não impede o reconhecimento dos direitos do autor sobre o objeto a 
ser industrializado. 
 
110
 CERQUEIRA, 1982, p. 654-5. 
111
 Ibid., p. 655. 
112
 Ibid., p. 655. 
113
 Ibid., p. 656. 
114
 Ibid., p. 656. 
115
 Ibid., p. 656 
25 
 
Segundo Newton Silveira, o que interessa “a esta altura, é salientar que 
a expressão desenho industrial não se reduz a uma forma meramente 
ornamental conferida a um produto industrial, podendo ser dotada, ex 
abundantia, de força expressiva”.116 
Lembra ainda o autor: 
Como se vê, a expressão "desenho industrial" não se reduz às formas 
bidimensionais, nem ao caráter meramente ornamental, abrangendo 
esse conceito as formas tridimensionais e, também, as 
bidimensionais e tridimensionais de caráter expressivo, devendo 
incluir até as formas que conferem maior utilidade e conforto para o 
usuário (campo da técnica) e a comunicação visual.117 
Uma das mudanças geradas pela Revolução Industrial foi a 
mecanização das artes, especialmente das artes plásticas, fazendo com que 
houvesse preocupação com a harmonia entre arquitetura e indústria. Assim, o 
objetivo passou a ser melhorar a qualidade dos produtos industriais e educar o 
gosto do público. 
Diz Newton Silveira: 
O desenho industrial compõe dois elementos que no mundo moderno 
não mais se contrapõem: a funcionalidade e a estética. A separação 
lógica entre tais conceitos, além de carecer de aplicação prática, não 
chega nem mesmo a constituir mais uma separação lógica visto o 
novo conceito estético de que o feio é incômodo.118 
Embora o fenômeno industrial moderno denominado design consista 
da união da técnica e da estética, não pode ser reduzido aos critérios 
convencionais da arte e da técnica. As novas criações devem acompanhar a 
evolução da matéria e serem disciplinadas sem dependência da técnica e da 
estética, pois esta é fruto da criatividade do designer.119 
A civilização moderna tem como característica a produção industrial em 
massa, uma vez que as máquinas são cada vez mais aperfeiçoadas, 
permitindo a multiplicação rápida dos produtos, com o objetivo de atender o 
maior número de pessoas. As primeiras leis de proteção aos inventores 
surgiram da utilização das máquinas.120 
O objetivo era estimular a criatividade humana em benefício da 
indústria e proteger tão somente as obras de aplicação industrial, pois, se a 
patente de invenção fosse conferida a todos os criadores, essa seria válida 
 
116
 SILVEIRA, 2003. 
117
 Ibid. 
118
 Ibid. 
119
 Ibid. 
120
 Ibid. 
26 
 
mesmo que os produtos não pudessem ser industrializados.121 
Contrariando tal ideia, a proteção aos autores no campo das artes 
intensificou-se em face da possibilidade de reprodução de suas obras. Um 
exemplo claro são as obras literárias, que foram alvo de preocupação após a 
invenção da imprensa.122 
Conclui-se, assim, que tanto as Leis de Direito do Autor quanto a Lei de 
Propriedade Industrialsão frutos da revolução industrial. Essa breve digressão 
histórica, vista pelo ângulo da produção massificada, serviu para mostrar que não 
há qualquer contraposição entre os direitos de propriedade industrial e os direitos 
do autor.123 
Sendo ambos oriundos do mesmo fenômeno, Newton Silveira salienta: 
“não possuindo qualquer sentido a ideia de que a arte se opõe, como conceito, 
à multiplicação industrial, visto que essa mesma possibilidade de multiplicação 
massificada é que deu origem à proteção do autor.”124 
Assim, não é a quantificação que gera uma linha divisória entre o 
direito do autor e a propriedade industrial, já que na sociedade atual 
 ambas se destinam à reprodução, sendo consumidas pelo maior número 
de pessoas possível.125 
Salienta Newton Silveira: 
Tanto o critério de multiplicação não desqualifica as obras artísticas, 
que as mais conhecidas e que encontram mais severa proteção na lei 
de direitos autorais, são aquelas que se destinam à produção em 
massa por sua própria natureza, como os livros, discos e filmes, 
objetos, respectivamente, das indústrias editorial, fonográfica e 
cinematográfica. Evidentemente o caráter industrial da criação não 
pode servir de elemento diferenciador entre as criações industriais e 
as artísticas, nem a industrialização pode desnaturar o caráter 
artístico de uma obra.126 
Dentro desse contexto, Newton Silveira afirma que “não há como negar 
valor artístico a certas criações no campo da indústria, as quais, 
reconhecidamente, são dotadas de valor estético”.127 Como exemplo, o autor 
cita o design de Raymond Loewy, que apresentou um projeto de carro que se 
revelou mais do que uma ideia artística diferente, mas sim um novo conceito 
 
121
 SILVEIRA, 2003. 
122
 Ibid. 
123
 Ibid. 
124
 Ibid. 
125
 Ibid. 
126
 Ibid. 
127
 CERQUEIRA, 1982, p. 133. 
27 
 
estético.128 
Não há dúvidas a respeito da possibilidade de cumulação entre a Lei 
de Propriedade Industrial e a Lei do Direito do Autor. Entretanto, as chamadas 
obras de artes aplicadas, para receberem a proteção de ambas as leis, 
deverão ter necessariamente a possibilidade de dissociação material entre a 
obra artística e o produto industrial. Como exemplo, pode-se citar o caso da 
pintura da carroçaria de um automóvel, podendo esta ser raspada sem que o 
veículo perca sua integridade, o que não acontece quando a obra é a própria 
forma da carroçaria.129 
Newton Silveira afirma que se a forma estética não puder ser separada 
do resultado técnico, que por sua vez é decorrente de uma determinada forma, 
teremos uma limitação aos direitos do autor e nesse caso existe confronto 
entre os direitos de naturezas diversas, sendo o legislador obrigado a optar por 
aquele que beneficie a coletividade.130 
Em outras palavras, Newton Silveira afirma que “somente deve ser 
negada a proteção autoral a uma forma artística, quando a mesma constitua 
forma necessária para a obtenção de um resultado técnico”.131 
Segundo esse mesmo autor, a par da tutela dos direitos autorais, 
quando uma criação possuir condições de ser industrializada, o autor poderá 
obter também uma patente de modelo industrial, na forma prevista na Lei de 
Propriedade Industrial. Por outro lado, a patente de um modelo de desenho 
industrial poderá ser obtida para novas formas, às quais falte o cunho artístico, 
mas desde que possuam os requisitos da originalidade, novidade e caráter 
industrial. Nesse caso, não será tutelado o direito do autor por faltar o requisito 
do valor artístico.132 
Portanto, um produto de desenho industrial não gozará da proteção do 
 
128
 “O carro foi mais que uma diferente ideia artística. Foi um novo conceito estético 
expressando um sentimento de simplicidade. A representação, com as sua ação recíproca 
de luzes e sombras, a sua fluidez e movimento, foi por si só um conceito novo, em 
contrapartida teve um efeito definitivo sobre a publicidade da indústria automotiva.”(tradução 
nossa). “[...] the car was more than a different artistic idea. It was a new aesthetic concept 
expressing a feeling of simplicity. The rendering, with its Interplay of highlights and shadows, 
its fleetness and motion, was itself a fresh concept, with in turn had a definite effect upon the 
automotive industry’s advertising” (LOEWY, Raymond. Industrial Design. New York, 1979. 
p. 4 apud SILVEIRA, 2003). 
129
 SILVEIRA, 1982, p. 137. 
130
 Ibid., p. 137-8. 
131
 Ibid., p. 138. 
132
 Ibid., p. 138. 
28 
 
direito autoral quando não possuir nível artístico suficiente, podendo assim ser 
tutelado pela Lei de Propriedade Industrial.133 
Assim, após toda está exposição, Newton Silveira conclui: 
Assim entendido, a única diferença entre a aplicação da teoria da 
unidade da arte e a da dissociabilidade consistirá em que, pela 
primeira, a lei de direitos de autor protegerá inclusive a forma de 
produtos industriais de baixo nível estético, enquanto que, pela outra, 
tais criações somente poderão ser tuteladas como modelos 
industriais. As criações industriais de alto nível estético serão 
protegidas tanto numa quanto em outra, exceto quando se tratar de 
forma necessária, caso em que a aplicação da lei de direitos de autor 
estará excluída por ambas, a fim de evitar a interferência do direito 
autoral no campo da técnica.134 
Ainda se faz pertinente mencionar a discussão gerada após a nova 
redação da Lei 9.610/98, a qual suprimiu do seu artigo 7°, o antigo inciso XI do 
artigo 6° da anterior Lei 135. Qual seja: “obras de arte aplicada, desde que seu 
valor artístico possa dissociar-se do caráter industrial do objeto a que estiverem 
sobrepostas”. 
Apesar do fato da patente de desenho industrial poder ser cumulativa 
com a do direito autoral sobre a inserção estética que lhe dá origem gerar 
grande discussão, esta não prospera. Há doutrinadores que consideram este 
artigo taxativo, não podendo assim pensar na cumulação de ambas as leis, 
propriedade industrial e direito autoral. No entanto, há quem diga que a lista 
das obras intelectuais protegidas, elencadas no artigo 7° da Lei do Direito do 
Autor, seja meramente exemplificativa, fazendo com que a supressão do 
dispositivo que tratava especificamente de obras de arte aplicada não a exclui 
do âmbito autoral.136 
Newton Silveira é quem melhor explora o assunto e, conforme já visto, 
diz que mesmo com a alteração de ambas as leis, propriedade industrial e 
direito autoral, existe, sim, a possibilidade de dupla proteção dos desenhos 
industriais. 
Apesar de aparentemente o atual artigo 7° da Lei do Direito do Autor 
ter suprimido a norma do antigo artigo 6°, inciso X I, o qual tutelava as obras de 
arte aplicada, não excluiu expressamente. Assim, continuam tuteladas com 
ressalva do artigo 8°, VII da atual Lei, que consid era que não pode ser objeto 
de proteção da Lei “o aproveitamento industrial ou comercial das idéias 
 
133
 SILVEIRA, 2003. 
134
 SILVEIRA, 2003. 
135
 BARBOSA, 2003, p. 575. 
136
 Ibid., p. 575. 
29 
 
contidas nas obras”. Tal norma não diverge da anterior, que protegia as obras 
de arte aplicada.137 
 
4.1 INTER-RELAÇÃO COM OUTRAS ÁREAS 
Segundo Denis Barbosa, “a proteção dos desenhos industriais é, em 
direito comparado, a mais polimorfa de todos os direitos de propriedade 
intelectual”.138 
No objeto do desenho industrial, encontra-se sob uma proteção sui 
generis, pois combina elementos característicos do direito autoral de marcas 
identificadoras de um produto, distinguindo-o de outro de origem diversa, e de 
patentes com o nível de inventividade e aplicação industrial.139 
Sendo assim, tão complexa a delimitação de um campo específico de 
atuação do desenho industrial,faz-se necessária uma análise mais detalhada que 
permita conhecer melhor a matéria de desenho industrial e outras matérias inter-
relacionadas. 
 
4.1.1 Desenho Industrial x Patente (Modelo de Utilidade) 
Primeiramente cumpre esclarecer que os modelos de utilidade tem por 
objetivo a melhoria do uso ou a utilidade dos produtos, dotando-os de maior 
eficiência ou comodidade na sua utilização, por meio de nova configuração.140 
Considerados os desenhos industriais até a Lei 9.279/96 uma 
modalidade literal de patente, a tutela destes passa a ser objeto de registro. No 
entanto, essa separação não limitou o contato com este instituto. 
No artigo 9° e 95 da Lei de Propriedade Industrial, encontram-se os 
pontos convergentes dos desenhos industriais com as patentes de modelo de 
utilidade, a saber: o requisito da novidade, já estudado. 
Assim, se uma forma deve ser nova para obter proteção, seja ela 
ornamental, como prevê o desenho industrial, seja ela funcional, como prevê o 
modelo de utilidade, um mesmo objeto de desenho industrial poderia ser 
 
137
 SILVEIRA, Newton. Comentários à nova Lei de Direito Autoral n 9.610, de 19/02/98. Revista 
da ABPI, n. 31, p. 35-43, nov./dez. 1997. 
138
 BARBOSA, 2003, p. 575. 
139
 FARIA, 2007, p. 20. 
140
 SILVEIRA, 1982, p. 52. 
30 
 
protegido por ambos institutos.141 
Segundo Adriana Xavier de Faria, a inter-relação entre os institutos vai 
mais longe: 
Ao mesmo tempo, porquanto o UM não proíbe a forma plástica ou 
ornamental, o DI também não proíbe a funcionalidade implícita de um 
objeto, tampouco proíbe que se tenha nele uma melhoria funcional. 
Fica claro, então, que um mesmo objeto pode obter registro como UM 
e como DI. Nesse mesmo sentido, nada impede que um objeto de 
uso prático tenha também uma forma ornamental original. Caso 
contrário, seria o desenho industrial um modelo de “inutilidade”?142 
Nesse sentido, os requisitos do modelo de utilidade, uso prático e a 
melhoria funcional, podem ser pertinentes ao desenho industrial, sem resultar 
prejuízo aos requisitos deste. Adriana Xavier de Faria argumenta que tanto isso 
é verdade que é vedado ao desenho industrial a forma necessária, comum ou 
vulgar do objeto.143 
No entanto, há que se levar em conta, que os requisitos de uso prático 
e de melhoria funcional não serão analisados, embora estejam presentes no 
desenho industrial; em conseqüência, não há proteção para esses. 
Outro aspecto comum entre os desenhos industriais e os modelos de 
utilidade é que para ambos é proibido obras de caráter puramente artístico, 
uma vez que deve haver aplicação industrial. Não obstante, é possível esse 
caráter estar presente no primeiro, pelo requisito originalidade e também no 
segundo, com o requisito do ato inventivo.144 
Adriana Xavier de Faria afirma que é muito tênue a linha que separa os 
institutos da patente do modelo de utilidade e de desenho industrial. Segundo a 
autora, um mesmo desenho pode ser protegido por modelo de utilidade e/ou 
desenho industrial, dependendo do enfoque dado à sua apresentação gráfica e 
como são trabalhados seus elementos descritivos e suas características. Se o 
interesse for proteger a forma, disposição ou melhoria funcional, cabe a 
primeira forma, mas, se o interesse for proteger a forma externa e ornamental 
de um objeto; então, cabe a segunda forma.145 
Um ponto que torna o desenho industrial muito mais atrativo do que o 
modelo de utilidade é a ideia de que a proteção à patente dura apenas 15 
anos, fora o tempo que pode levar para a concessão, enquanto que a proteção 
 
141
 FARIA, op. cit., p. 20. 
142
 FARIA, 2007, p. 20. 
143
 Ibid., p. 20. 
144
 Ibid., p. 20. 
145
 Ibid., p. 20. 
31 
 
conferida ao desenho industrial pode durar até 25 anos, sendo esta quase que 
automática.146 
Segundo pesquisa realizada no banco de dados do INPI, pode-se 
perceber que no período de 1997 a 2001, o número de depósitos de modelos 
de utilidade foi aproximadamente 9,8%, enquanto que o número de depósitos 
de desenho industrial foi de 42,7%.147 
 
4.1.2 Desenho Industrial x Marcas (Figurativas e Tridimensionais) 
Primeiramente, cabe explicar que as marcas são entendidas como o 
conjunto de um ou mais indicativos distintivos capazes de identificar um 
produto e associá-lo a sua origem. 
Segundo Newton Silveira, “considera-se marca de produto ou de 
serviços aquela usada para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, 
semelhante ou afim, de origem diversa.”148 O conceito de marca se expandiu 
muito ao longo dos anos, de tal forma que a proteção alcançou as marcas 
sonoras e tridimensionais. 
Segundo o Dr. Carlos Henrique Fróes, na segunda sessão plenária do 
XVIII Seminário Nacional de Propriedade Intelectual, a introdução das marcas 
tridimensionais foi uma oportunidade para proteger ad eternum de um tipo de 
desenho industrial, uma vez que as marcas podem ser prorrogadas infinitivamente 
a cada 10 anos.149 
A marca tridimensional protege o volume, não que isso já não fosse 
prática comum, por meio de depósitos de apresentação figurativa, como nos 
casos de desenhos de frascos de perfumes e outras embalagens, assim 
explica Adriana Xavier de Faria.150 
Se todo o sinal distintivo, visualmente perceptível, pode ser protegido, 
em princípio, como marca, sem incorrer em proibições legais, será que um 
objeto de desenho industrial pode ser também um “sinal distintivo”? 
Segundo explica Adriana Xavier de Faria: 
Às marcas aplica-se o princípio da especialidade, o qual objetiva a 
proteção de um determinado símbolo para um determinado segmento do 
mercado. Tanto é assim que podemos ver marcas idênticas, de origem 
 
146
 FARIA, 2007, p. 21. 
147
 INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL (INPI) apud FARIA, op. cit., p. 21. 
148
 SILVEIRA, 1996. p. 49. 
149
 FRÓES apud FARIA, 2007, p. 22. 
150
 Ibid., p. 22. 
32 
 
diversa, identificando diferentes produtos, tais como leite de magnésia 
Phillips e televisores Philips, ou jornal O Globo, água sanitária Globo e 
biscoitos Globo.151 
No entanto, este princípio não é aplicado no desenho industrial, que 
não se restringe a um segmento do mercado, podendo um mesmo objeto ser 
aplicado a vários produtos. 
O que torna atrativo a proteção das marcas é que estas podem ampliar 
a validade do objeto de desenho industrial, não limitando-se ao prazo máximo 
de 25 anos, pois a proteção é eterna. No entanto, antes de optar entre uma e 
outra, deve-se sempre levar em conta os objetivos da proteção almejada. E 
como lembra Adriana Xavier de Faria, “o depósito de desenho industrial deverá 
ser priorizado, sob pena de se perder o requisito da novidade, uma vez que o 
titular tem apenas 180 dias para depositá-lo, após sua divulgação”.152 
 
5 CASOS NO BRASIL E NO EXTERIOR 
O objetivo deste capítulo é melhor compreender como é tratada a 
proteção dos desenhos industriais no Brasil e no exterior. E, se há, na prática, 
a possibilidade de cumulação entre a Lei de Propriedade Industrial e a Lei do 
Direito do Autor. Pois como já visto, na teoria, nada impede tal cumulação de 
leis, quando a forma artística não constituir forma necessária, para obtenção de 
um resultado técnico. 
Não se encontra na jurisprudência brasileira, julgado que tenha tratado 
especificamente da questão autoral ao desenho industrial. Não obstante, em 
pesquisa realizada pelo INPI, constatou-se que a preocupação com o registro 
dos desenhos industriais, associado ao direito do autor, tornou-se cada vez 
mais frequente em função da possibilidade destes serem copiados.153 
Antonieta Contini, representante de uma organização não 
governamental entrevistada pelo INPI,

Continue navegando