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Nutrição e oncologia Fisiopatologia da Nutrição e Dietoterapia II Monitora: Vitória Pereira Professora: Ísis Suruagy Introdução “Câncer” é o nome geral dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células que tendem a invadir tecidos e órgãos vizinhos. O processo de carcinogênese geralmente é dividido em três estágios: Iniciação: processo no qual os genes sofrem ação dos agentes cancerígenos; Promoção: processo no qual os agentes oncopromotores atuam na célula já alterada; Progressão: caracterizado pela multiplicação descontrolada e irreversível dessas células. CUPPARI, 2014. Fatores de risco Idade Fumo Exposição prolongada ao sol Infecções Consumo excessivo de álcool Fatores dietéticos Inatividade física Obesidade Radiação Fatores de risco Fatores de risco Pulmão, estômago, cólon e reto, próstata, boca e faringe, são os locais acometidos de maior frequência em homens; As mulheres são mais atingidas pelos cânceres de mama, colo de útero, cólon e reto, estômago e pulmão; Estudos mostram que a perda de peso e a desnutrição são os distúrbios nutricionais mais frequentemente observados em pacientes com câncer (40% a 80% dos casos); 30% dos pacientes adultos apresentam perda ponderal superior a 10%; WONG et al., 2001; HARRISON E BRENNAN, 1995. Quais os fatores que estão associados à desnutrição no paciente oncológico? Consequências da desnutrição O déficit do estado nutricional, principalmente quando evidenciado pela perda de massa corporal magra, está associado ao aumento no tempo de hospitalização e na morbimortalidade. ↑ na perda de massa magra → ↑ fatores de comorbidade Prejuízos no processo de cicatrização Fraqueza muscular Redução da imunidade Má absorção PERDA DE PESO ACENTUADA SÍNDROME DA ANOREXIA CAQUEXIA (SAC) Reação sistêmica desenvolvida no câncer considerada como uma importante causa de diminuição do apetite, perda ponderal, alterações metabólicas e inflamatórias que não pode ser completamente revertida pelo suporte nutricional convencional e leva à incapacidade funcional progressiva. Característica clínica proeminente: perda de peso em adultos ou atraso no crescimento em crianças; ESPEN, 2006. Caquexia no câncer Resposta do hospedeiro ao tumor Alterações metabólicas Podem variar de acordo com o tipo de câncer, condição do indivíduo e localização do tumor; Promovem mudanças no metabolismo de todos os macronutrientes; Os tumores necessitam de grandes quantidades de glicose, ácidos graxos e aminoácidos para proliferação, provocando mudanças importantes no metabolismo do hospedeiro. Alterações metabólicas Caquexia no câncer – diagnóstico Perda involuntária de peso superior a 5% ou 2% (em indivíduos já abaixo dos valores esperados de peso segundo o IMC); IMC < 20 kg/m²; Presença de sarcopenia. Caquexia no câncer – sintomas clínicos Exacerbada perda de peso involuntária (massa magra); Anorexia, disgeusia, êmese, plenitude gástrica e má absorção intestinal; Astenia, fadiga, perda de habilidades motoras, físicas e apatia; Perda da imunocompetência; Caos metabólico e desequilíbrio iônico; Alteração no perfil hormonal plasmático; Disfunção hipotalâmica. Tratamento do câncer Quimioterapia: terapia sistêmica citotóxica utilizada principalmente em neoplasias com metástase ou na redução do risco de recidivas. Ciclos – 3 a 9 meses; Radioterapia: radiação utilizada em neoplasias localizadas; Cirurgia: modo primário de tratamento para lesões malignas do TGI; Imunoterapia: agentes citotóxicos ou estimulantes da defesa imunológica natural; Transplante de medula: utilizado em neoplasias hematológicas (leucemia e linfoma). Efeitos colaterais do tratamento Triagem nutricional Triagem nutricional em pacientes oncológicos Identificar de forma precoce indivíduos sob maior risco de complicações nutricionais e gastrointestinais decorrentes da doença e do tratamento Detecção precoce do risco, podendo garantir uma intervenção nutricional adequada e diminuir o risco do surgimento de sarcopenia, caquexia, ganho de peso excessivo e etc Avaliação do estado nutricional ASG – PPP; NRS 2002 – rastreamento nutricional; Peso; Altura; IMC; Circunferências; Dobras cutâneas. Suplementação nutricional em oncologia As intervenções nutricionais orais são efetivas, promovem aumento da ingestão alimentar e melhora da qualidade de vida do paciente oncológico desnutrido ou em risco nutricional, no entanto, essas intervenções não se mostraram promotoras de reduções de mortalidade entre estes indivíduos. Suplementos orais utilizados na prática Dieta imunomoduladora Dieta imunomoduladora é aquela que possui em sua composição glutamina, arginina, cisteína, glicina, ácidos graxos ômega-3, ácidos graxos de cadeia curta, vitamina A, vitamina E, vitamina C, selênio, zinco e nucleotídeos, devendo ser iniciada, quando possível, antes do trauma cirúrgico. Pacientes candidatos à intervenção cirúrgica de grande porte, devem, no pré-operatório, receber suporte nutricional. Dieta imunomoduladora Uma meta-análise realizada por Waitzberg et al. (2006) aponta melhores resultados com o uso da terapia imunomoduladora (resultados positivos quanto à complicações infecciosas e não infecciosas, permanência hospitalar e custos); A utilização da terapia nutricional no período antecessor à cirurgia não visa unicamente a recuperação total do estado nutricional do paciente, mas também o fortalecimento do sistema imunológico e a recuperação dos múltiplos órgãos, podendo ser conseguida, na maioria das vezes, num período compreendido entre 7 e 14 dias. Dieta imunomoduladora No caso de pacientes desnutridos, a TN deve ser continuada no período pós operatório por mais 5 a 7 dias; Em operações de grande porte para ressecção de tumor, mesmo não havendo desnutrição grave, deve ser utilizada a TN pré operatória com suplementos contendo imunonutrientes por 5 a 7 dias, devendo ser continuada no período pós operatório; Pacientes com o tubo digestivo apto para receber nutrientes e com apetite preservado, devem receber TN com suplementos contendo imunonutrientes no perioperatório. Dieta imunomoduladora W3 em pacientes oncológicos Está associado à diminuição do volume tumoral, melhora do peso corporal e diminuição da anorexia devido à sua ação anti-inflamatória (SILVA, 2006). Por esses e outros mecanismos, o AG W3 pode diminuir as complicações infecciosas após a cirurgia e em pacientes criticamente doentes (Sorensen et al., 2014). Os ácidos graxos ômega-3, especialmente o EPA, parece afetar um número de mediadores potenciais da caquexia e exercer um possível efeito benéfico na SAC induzida pelo câncer (Arends et al., 2006). W3 em pacientes oncológicos Recomenda-se planos alimentares enriquecidos de AGs W3, pois, estes podem ser úteis na terapia nutricional para pacientes com caquexia do câncer avançado de pâncreas ou do trato gastrointestinal alto em cuidados paliativos, desde que avaliada individualmente e baseada em considerações do paciente e família (Consenso Brasileiro de Caquexia,2011). Suplementos com W3 Glutamina em pacientes oncológicos A glutamina é o aminoácido mais abundante da circulação participando em muitos processos fisiológicos e bioquímicos; É um aminoácido não essencial, mas apesar disso, evidências a respeito da sua importância em várias condições fisiológicas e clínicas têm levado à definição da glutamina como um aminoácido “condicionalmente essencial”; No paciente com câncer a glutamina parece estar associada a determinados efeitos benéficos em certos tecidos e órgãos específicos. GARÓFALO, 2013. Glutamina em pacientes oncológicos A utilização da glutamina na prática clínica tem sido recomendada no suporte nutricional de diversas doenças, contribuindo para melhorar a economia de nitrogênio, diminuir a incidência de infecções clínicas e reduzir o tempo de permanência hospitalar, além de promover redução nas infecções pós transplante de medula óssea (Ziegler et al, 1990); Evidências apoiam o uso clínico da suplementação de glutamina em pacientes criticamente doentes, com doenças hematológicas e em pacientes com câncer. A maioria alcança a normalização da concentração de glutamina no plasma com 20 a 25g por dia, sem relatos de efeitos adversos ou negativos atribuíveis a essa suplementação (Wernerman, 2008). Glutamina em pacientes oncológicos A radioterapia abdominal e a quimioterapia podem provocar lesões na mucosa que resultam em dano epitelial e translocação bacteriana para os linfonodos mesentéricos; A glutamina é o principal combustível para os enterócitos, sendo a mucosa intestinal seu maior local de utilização, por isso, o défict de glutamina causa atrofia da mucosa intestinal, enquanto que a suplementação enteral ou parenteral está associada com o aumento na espessura da parede da mucosa e com o número de proteínas e DNA. SOUBA, et al., 1990a; SOUBA et al., 1990b, Glutamina em pacientes oncológicos Doses entre 0,2 a 0,97g/kg/dia ou 20 a 50g/dia têm sido utilizadas nos principais estudos, onde a suplementação com glutamina, seja por via parenteral ou enteral/oral, apresentou benefícios; As doses recomendas são de 5 a 30g por dia e doses seguras em pacientes com câncer não ultrapassam 0,65g/kg/dia, não demonstrando nenhum nível de toxicidade com esses valores. CROWTHER et al., 2009; FRENKEL et al., 2013; WARD et al., 2009. Probióticos em pacientes oncológicos Classifica-se o organismo como sendo probiótico quando atende os seguintes critérios: origem humana, não patogênico, resistente ao processamento na produção de alimentos, permanência viável após contato com suco gástrico e bile, adesão à célula epitelial intestinal e capacidade de persistir no trato gastrointestinal e de influenciar atividade metabólica local; Os probióticos parecem ter efeitos benéficos em alguns aspectos relacionados à toxicidade terapêutica de pacientes oncológicos, principalmente aqueles em RTX. Probióticos em pacientes oncológicos Existem diferenças metodológicas entre os estudos, as pequenas amostras de pacientes estudados e os diferentes tipos de cepas estudados; São necessários maior quantidade de ensaios clínicos randomizados para maior segurança quanto o uso de probióticos em pacientes oncológicos sobretudo aqueles em quimioterapia. Alterações secundárias ao tratamento Alterações secundárias ao tratamento Alterações secundárias ao tratamento Alterações secundárias ao tratamento Alterações secundárias ao tratamento Alterações secundárias ao tratamento Alterações secundárias ao tratamento Alterações secundárias ao tratamento Alterações secundárias ao tratamento Alterações secundárias ao tratamento Alterações secundárias ao tratamento Alterações secundárias ao tratamento Recomendações nutricionais Recomendações nutricionais Recomendações nutricionais Caso clínico 1ª Consulta Paciente: J. A. T. Idade: 36 anos Diagnóstico: carcinoma de nasofaringe localmente avançado Cirurgias e comorbidades: ausentes Tratamento: QTX e RTX Peso habitual: 70kg Peso atual: 63,6kg Altura:1,82m %PP: 9% em 3 meses IMC atual: 19,2kg/m² Intercorrências GI: s/queixas Risco Nutricional Ca de cabeça e pescoço QTX e RTX concomitantes Perda de Peso Grave Conduta Nutricional: dieta de consistência normal, hipercalórica, hiperproteica, com suplemento alimentar sem sabor 1x/dia + orientações gerais p/pctes oncológicos Caso clínico 2ª Consulta (1 mês após) Tratamento: QTX e RTX Peso habitual: 70kg Peso atual: 61,5kg Altura:1,82m (Perdeu 2,1kg em 1 mês) %PP: 3,3% IMC atual: 18,8kg/m² Presença de náuseas, vômitos, dificuldade de deglutição e inicio de mucosite sec à RTX ↑ risco nutricional Conduta Nutricional: Dieta de consistência semilíquida, hipercalórica, hiperproteica, com suplemento alimentar sem sabor + módulo de carboidrato + albumina em pó + óleo vegetal para ↑ densidade energética das preparações e suplementação com glutamina 1x/dia p/melhora da mucosite Caso o paciente persista com perda ponderal, iniciar a TNE por SNG Caso clínico 3ª Consulta (1 mês após) Tratamento: QTX e RTX Peso habitual: 70kg Peso atual: 63,0kg (↑1,5kg em 1 mês) Altura: 1,82m IMC atual: 19,0kg/m2 Melhora dos vômitos e redução das náuseas, ainda com dificuldade de ingestão de alimentos em consistência normal. Risco nutricional, mas com melhora do estado geral e inicio da recuperação do EN Conduta Nutricional: mantida e reforçada. Avaliar a transição de consistência da dieta no próximo atendimento
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